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Segunda pele
from CDM 60
Arquivo pessoal/ Mariana Munaretto
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Eduardo Veiga, Giovana Bordini, Mariana Alves e Mariana Toneti
Mais conforto e simplicidade, características que podem não ser passageiras e resultantes de um grande impacto
Postagens antes dedicadas à divulgação de sapatos agora promovem pantufas “para andar na rua”, como a proprietária define. Entre fotos de exemplares e vídeos com modelos posando, a rede social da loja de vestuário de Cláudia Inkote exibe as tendências adotadas pelo comércio durante a pandemia e expostas nas vitrines, que ficam no centro de Pinhais.
“Mudou o padrão do vestuário no sentido de que entrou na moda essa
‘linha conforto’. Acabaram os eventos: vestido de festa, brilho, roupa para balada, casamento, formatura, tudo isso deixou de vender”. Além das pantufas, os conjuntos de malha ganharam espaço no último ano.
Oferecendo seus serviços desde 1997, Cláudia diz que nunca foram necessários tantos esforços para que as vendas não tivessem uma grande queda. Porém, essa situação não se repetiu em todo o mundo. Uma análise da consultoria americana Bain & Company constatou uma retração de 25% a 30% no mercado da moda. A indústria também sofreu forte impacto e pode alcançar um cenário similar ao pré-pandemia apenas em 2023, de acordo com estudo da McKinsey & Company.
Apesar de vestuário ter sido segmento o mais afetado pela pandemia da Covid-19 no Brasil, segundo FecomercioSP, o setor já alcançou alta de 36% na produção acumulada de janeiro até maio deste ano, conforme levantamento da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). Isso pode ser explicado, em parte, pela retomada gradual da economia como um todo.
Porém, o principal motivo deve estar na volta ao convívio social. O aumento da circulação de pessoas nas cidades aumenta o interesse dos consumidores em comprar novas peças de vestuário. Isso ocorre pela necessidade de atender a certos padrões estéticos, como explica a professora de Design da PUCPR e consultora de moda, Gabriela Duarte. “Normalmente teríamos regras normativas para não irmos trabalhar com calça de moletom, às vezes podendo pelo menos optar por uma calça jeans, se for uma atividade menos protocolar. Em casa ninguém nos impõe essas regras, que mesmo não sendo colocadas em palavras, sabemos que existem. Então, somos mais propensos a optar pelo que nos agrada, sem precisar ter que passar uma roupa para ficar em casa sentado na frente do computador”. A professora comenta que estudos da área de moda analisam formas de unir a modelagem de roupas mais formais, como ternos, com tecidos mais confortáveis, como moletom e neoprene.
“A partir do momento que as pessoas voltarem a trabalhar presencialmente elas vão voltar a querer se arrumar mais, prezando o conforto, porém de uma maneira mais caprichada”, comenta a Camila Teixeira, professora de Design da PUCPR e especialista em moda e gestão. Segundo ela, itens que tiveram destaque durante a pandemia, como moletons e chinelos, devem ser substituídos por novos tipos de roupas. Para Teixeira, “as pessoas passaram a se acostumar com esse conforto, com
Gabriela Garcez Duarte, professora de Design da PUCPR
tecidos mais confortáveis de algodão e malha”, por exemplo.
Graciele Saurin, lojista de Curitiba que vende artigos de moda para todo o país, conta que clientes que antes “usavam calça alfaiataria passaram a usar uma calça jeans com elastano, estilo jegging, por exemplo, para se manter arrumada dentro de casa, porém confortável. Ela, por outro lado, entende que os hábitos de consumo pré-pandemia retornarão cada vez mais. “As clientes já não querem mais se vestir com conjuntos de moletom,
elas querem roupas mais elegantes para saírem, como calças flare para usar com salto e vestidos estampados”. Saurin relaciona essa nova mudança ao avanço da vacinação da população contra a Covid-19.
Porém, olhando de forma mais ampla, os brasileiros, de fato, devem seguir comprando menos. A crise econômica brasileira agravada pela pandemia, que elevou o desemprego à casa de 14 milhões, como aponta o IBGE, está ligada à busca por um vestuário mais barato. “A tendência é que cada vez mais as pessoas escolham artigos mais baratos para que consigam pagar os custos da vida cotidiana. Isso veio para ficar por um bom tempo”, afirma a professora Duarte.
A inflação do setor de moda, calculado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e que engloba vestuário, calçados e acessórios, jóias e bijuterias e tecidos e armarinhos, subiu 0,53% em julho. No mês anterior, o segmento teve alta de 1,21%, a maior taxa do ano. Se as tendências de moda novamente se modificam com a melhora da pandemia no Brasil e no mundo, o consumo reduzido deve seguir como uma constante. Ao menos, até que a economia - não mais o vírus - permita o retorno às lojas.
FAST FASHION X SLOW FASHION
As mudanças que impactaram a indústria da moda durante os períodos mais intensos da pandemia reverberam no contraste entre fast fashion e slow fashion. Enquanto o fast fashion está ligado ao modo de produção industrial de roupas, que serão posteriormente vendidas com preços menores e em larga escala, o slow fashion busca ir na contramão, atribuindo maior valor às peças e promovendo um consumo mais consciente. Essa é a visão de Mariana Munaretto, dona de brechó que obteve os primeiros lucros com roupas de segunda mão entre janeiro e março de 2020. Na época, ainda como um hobby. Em maio ela abriu sua loja e hoje vende peças que variam de R$ 15 a R$ 300. Desde o início, a escolha das roupas a serem vendidas no brechó foi reflexo do isolamento social. “Essas roupas mais confortáveis que a pandemia trouxe foram base para todas as tendências de agora. Na hora de fazer o garimpo eu sempre procuro por peças que estejam em tendência, pois elas não são difíceis de se encontrar.”
Apesar de os preços do slow fashion praticado em brechós não serem necessariamente mais baixos que do fast fashion, seu consumo tem impacto positivo na indústria da moda. “A compra e o descarte [de fast fashion] causam muita poluição também, na parte social tem condições análogas à escravidão na produção principalmente em países com Bangladesh e Vietnã. É injusto que os grandes empresários e marcas lucrem em cima disso”, aponta a professora Duarte. Segundo dados de 2019 da ONU Meio Ambiente, a indústria da moda é responsável por cerca de 9% das emissões globais de gases-estufa, parcela superior às emissões de aviões e transportes marítimos juntas. Além disso, por ano, cerca de RS$ 500 bilhões são perdidos com o descarte de roupas que não são recicladas.
Apesar de incentivar o consumo sustentável através do seu brechó, Munaretto admite que o “sistema capitalista que vivemos ainda nos pauta”. Ainda é preciso superar esse tipo de modelo de produção e venda, segundo ela. “O jeito que nos vestimos reflete o período em que estamos e o seu sistema”.
RIQUEZA É APROVEITAR UM PÔR DO SOL
De acordo com dicionários online, a definição mais precisa para o minimalismo é um estilo de vida que é baseado em diminuir drasticamente os níveis de consumo, comprando apenas o necessário. Para Silvia Henz, influenciadora digital com o lema “menos coisas, mais feliz”, ser minimalista é focar na vida. A experiência voltada no consumo e não na vivência é algo que passou a sufocar Silvia,
já que as dívidas e o excesso de coisas são sempre priorizados.
Foi em uma reforma no quarto da casa em que a influenciadora costumava morar com sua mãe que o estilo de vida começou a aflorar. Ela precisava passar duas semanas fora, portanto, devia separar apenas o necessário para viver durante os 14 dias; o resto, ficaria numa caixa para quando a reforma acabasse. Passou muito mais do que duas semanas e Silvia não sentiu falta do que estava na caixa. Foi nesse caso que ela percebeu o exagero de roupas e repassou para brechós e bazares. Depois que saiu da casa materna, ela foi apresentada para o armário cápsula e o adotou.
Os benefícios são inúmeros, desde mais dinheiro no banco até menos preocupações no cotidiano. “Qualidade de vida, em primeiro lugar, é dizer não para um trabalho que lhe exige 14h por dia de dedicação, é saber que riqueza não é material, riqueza é aproveitar um pôr do sol, tomar um banho de mar, dormir bem, não ter dores de cabeça, não ter um burnout.” Silvia ainda enfatiza que não adianta ganhar milhões e não ter tempo para nada.
Por outro lado, os malefícios são poucos. A influenciadora que já acumula mais de 9 mil seguidores no Instagram vê, principalmente, o julgamento como algo ruim. Para o público que não reconhece o estilo de vida, a falta de necessidade de mudança é vista como uma doença. Ela ainda enfatiza: “tudo é impermanente, eu tento prolongar o máximo dos prazeres por saber disso.” Acima de tudo, o minimalismo é um ato de conscientização em todos os âmbitos.
Em questões sociais, de acordo com a Global Footprint Network, se todos tivessem o mesmo pensamento de uma das nações mais consumistas do mundo - os Estados Unidos - seria necessário quase cinco planetas para aguentar o consumo exacerbado e a poluição da sociedade. Ser minimalista é pensar, principalmente, no coletivo.
Os dois conceitos caminham juntos em diversos momentos. O minimalismo, como explica Silvia, é a prática; o slow living é o conceito. “Menos coisas para mais vida, mais vivências, viver a vida devagar, saborear os momentos... Minimalismo é o meio, slow living é o fim, o porquê.” O termo traduzido do inglês para “vida lenta” é uma filosofia pautada em desacelerar o cotidiano, sair do chamado piloto automático e aproveitar os momentos.
“Qualidade de vida, em primeiro lugar, é dizer não para um trabalho que lhe exige 14h por dia de dedicação, é saber que riqueza não é material, riqueza é aproveitar um pôr de sol.” Silvia Henz, infl uenciadora digital
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