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Papo de Cumadres: a cruz vazia

Por Sérgio Papagaio

Concebida e Clemilda se emocionam ao ver no salão paroquial da cidade de Barra Longa a cruz vazia, sem o cristo crucificado e, com apenas um olhar de uma para a outra, elas dizem sem falar, que sabem onde Jesus foi morar.

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– Clemilda minha fia, só docê mi oiá dispois de pra cruz vazia ter oiadu, eu possu compriendê pelas lágrima du seu oiu a rolá, que assim comu eu, nois duas sabemu onde Jesus foi morá.

– E lá de cima, cumadre minina de Deus, a sua ressurreição é a força que nois tem, pra nois duas, uma locomotiva só, puxando este trem, que tá pesadu prá daná, mas u fiu do Altissimu é força e combustível pra nois esta carga agüentá.

– U que me dá força é lembrá que a páscoa está a se aproximar, que era antes du nascimentu de Cristu, um geitu de festeijá a libertação du povo hebreu das garras du faraó, 400 anus de escravidão manejada contra us fius de Jacó.

– É issu mesmu cumadre, dispois que pregaru Jesus na cruz, mais um fiu de Jacó, o Soberano em nome de toda humanidade tornou libertá, pois Jesus descende da tribu de Judá, que de Leão o povo passou a chamar. Judá, um dos doze fius de Jacó irmãos de Diná, a única fia de Jacó que a bíblia achou de citar, que para o Egito foram um dia povoá.

– Ah! Cumadre, issu tudu me faz alembrá dus 388 anus de iscravidão que us mais de, 4.8 milhão dus fius da África trazidu pra cá tiveru que agüenta, e pra completá só de Ouro Preto a Barra Longa 163 mil pretos e pretas nu trabaio escravu em função du garimpo de ouro e pedras preciosas pudia se contá, para o sistema euro cristão e a monarquia enricá, e mesmu dispois da Lei Áurea, essa terra roubada dus indígenas continua us fius humilde du ceus a escravizá.

– Agora arrumaru uma palavre difíci de falá pamode a escravidão ês suavizá, uma tar de análoga, que pra mim, arrumá pra lá, é só u mesmu jeitu doentio de u pobre escravizar. Até o vinho que u sangue libertador de Jesus Cristo, que sempre selviu pra representá, foi uma arma nas mãos imunda de Satanás, prá mais uma vez u povo sufridu escravizar.

– Mas nu dumingo de páscoa devemos nossas mágoas lavar.

– Sim, cumadre, irmã e cumpanheira, mais sem largar a luta derradeira, contra a Renova, as mineradoras, as fazediras de vinho e toda e quarquer forma de o povo de Deus escravizar, pois a páscoa significa libertá.

Foto: Sérgio Papagaio

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