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Duplamente atingidas
Em 8 de março é celebrado o Dia Internacional da Mulher. Apesar da romantização, essa data é, acima de tudo, política. Cada mulher sofre, de alguma forma, com o machismo enraizado na sociedade. As mulheres vítimas da Samarco, Vale e BHP, além de lutarem contra o patriarcado, lutam por justiça diante de um dos maiores crimes socioambientais que já aconteceram no país. Neste ano, elas se reuniram mais uma vez, por meio do movimento Frente Mineira de Luta das Atingidas e dos Atingidos pela Mineração (FLAMa-MG), na Praça Tiradentes, em Ouro Preto. Durante as mobilizações, as ativistas denunciaram as empresas controladoras de barragens, como é o caso da Vale, da BHP e da Samarco. Os atos também reivindicaram a reparação a todas as vítimas de crimes cometidos por companhias que controlam as barragens no Brasil, além da proteção das pessoas atingidas por eventos relacionados às mudanças climáticas.
“Eu tô na luta pelo direito de todos, de todas as pessoas atingidas. Como hoje é o Dia das Mulheres, nós, mulheres, temos que estar firmes na luta, lutar pelos nossos direitos e, principalmente, pelo fim das mercadorias caras, da conta de luz com o preço muito alto. Então nós temos que lutar por tudo. As mulheres são atingidas de todas as formas. As mulheres atingidas sofrem, muitas vezes, com depressão, sofrem com injustiça, sofrem com carestia… Por isso, nós estamos aqui na luta. A gente vive em luta aqui, a vida inteira. Nós não somos atingidos só por uma coisa, mas por várias coisas. E se nós pararmos com a luta, aí vai ficar pior. Muitas mulheres, muitas famílias foram atingidas pela barragem, mas estão sendo atingidas também de outras formas. A lama destruiu uma parte da comunidade de Gesteira, que é o município de Barra Longa, que está destruído até hoje. Nossas casas não estão prontas, nossa igreja está destruída. Nós sofremos muito com a lama e estamos sofrendo com a poeira, poeira que não vai acabar nunca. Muitas pessoas ficaram com problemas de saúde, tiveram problemas mentais. Então isso são coisas que estão prejudicando, atingindo todas as famílias. E nós precisamos ir à luta, nós não podemos ficar paradas para adquirirmos nossos direitos.”
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“A gente tem batalhado. Nós e várias organizações, inclusive a FLAMa, as mulheres de Antônio Pereira. E todos os grupos que se formaram para combater a privatização da água pela Saneouro. Então a gente está nessa batalha pela reafirmação dos nossos direitos. A água é um direito, né? A privatização da Vale, ela veio com discurso de que a Vale não era produtiva, não era lucrativa. E, no entanto, o que está saindo daqui são toneladas e toneladas de minério, e esse dinheiro, que fica boa parte nas mãos de acionistas, acionistas estrangeiros, custa muito caro para as populações locais, porque elas não foram consultadas sobre a questão da mineração. Então a gente não é contra a mineração, porque realmente é um ativo econômico muito importante para a região, mas a gente é contra esse modelo privatista, porque Bento Rodrigues e Brumadinho só comprovam que essas privatizações visam o lucro, e não o atendimento das reais necessidades tanto das mulheres, como dos homens da nossa região. Os empregos são mínimos e precarizados, não há um investimento muito grande por parte da empresa em nada no que toca a todas as organizações da sociedade. Há uma briga judicial inclusive para que eles paguem os seus impostos corretamente para as prefeituras. A população paga triplamente uma coisa que é dela, porque a riqueza está no nosso subsolo. O subsolo é da população, não é do governo A ou X, muito menos de uma pessoa A ou B.”
Tânia de Fátima Arantes, professora, militante do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) e organizadora do movimento Mulheres em Luta
Com o mote: “Mulher, água e energia não são mercadorias”, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) protestou no Dia Internacional da Mulher
Fotos: Tatiane Análio