A Sirene - Ed. 42 (Outubro/2019)

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A SIRENE

PARA NÃO ESQUECER | Ano 4 - Edição nº 42 - Outubro de 2019 | Distribuição gratuita


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Aconteceu na reunião AUDIÊNCIA PÚBLICA DISCUTE TAC SOBRE PATRIMÔNIO 12 de setembro, Mariana

Os(as) atingidos(as) foram surpreendidos(as) por um documento, apresentado à Comissão de Atingidos pela Barragem de Fundão de Mariana (CABF), que previa um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) sobre o patrimônio. O Termo previa, dentre outros pontos, o descomissionamento do Dique S4, que aloja os rejeitos da barragem, e a desapropriação de Bento Rodrigues para a criação do circuito turístico “Estrada Parque Caminhos da Mineração” no território. O tema foi discutido em audiência entre os(as) atingidos(as) e representantes do Ministério Público Federal (MPF), do Ministério Púbico de Minas Gerais (MPMG) e da prefeitura de Mariana. As autoridades desmentiram a informação de que haveria um acordo para assinatura do TAC. No entanto, o MPF não descartou a possibilidade de criação de um museu a céu aberto no território atingido pelo rompimento da barragem da Samarco, em 2015, mas assegurou que as decisões sejam tomadas com o conhecimento e participação dos(as) atingidos(as).

AUDIÊNCIA PÚBLICA SOBRE REASSENTAMENTO 17 de setembro, Mariana

Na audiência do mês de setembro, as mineradoras (Samarco, Vale e BHP Billiton) pediram para que o marco temporal dos novos núcleos familiares seja o mesmo do fim do cadastramento, no caso, janeiro de 2019. Isso significa que, até essa data, alterações nas famílias, como nascimentos, divórcios, casamentos e mortes, não seriam consideradas na reparação dos(as) atingidos(as). Diante disso, o Ministério Público insistiu que o marco temporal para as formações dos novos núcleos familiares seja o último dia da entrega do reassentamento, conforme foi decidido em assembleia dos(as) atingidos(as). As mineradoras apresentaram uma proposta resumida de restituição de área faltante, testada e declividade, em relação ao reassentamento, para as famílias de Bento Rodrigues e Paracatu. A proposta vai ser analisada pelos(as) atingidos(as). Em relação ao prazo final dos reassentamentos familiar e coletivo, os(as) atingidos(as) também vão analisar as propostas. As respostas dos(as) atingidos(as) devem ser apresentadas na audiência do dia 29 de outubro.

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EXIBIÇÃO DO DOCUMENTÁRIO "O AMIGO DO REI" 23 de setembro, Mariana

O documentário “O amigo do Rei”, produzido e dirigido por André D’Elia, foi exibido no dia 23 de setembro à comunidade atingida no Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA) com o apoio da Assessoria Técnica Cáritas Brasileira. No filme, o maior crime ambiental do Brasil mistura-se entre ficção e documentário, explorado pelas perspectivas dos(as) próprios(as) atingidos(as) e de pesquisadores(as) da área. Além disso, o deputado fictício Rey Naldo, personagem interpretado pelo ator Luciano Chirolli, demonstra como política e mineração se relacionam e nos apresenta a ganância e a negligência da mineradoras e dos órgãos públicos em relação à população que vive próxima a barragens. De acordo com os(as) atingidos(as) presentes na exibição, o produto é importante e necessário para que ninguém se esqueça do crime, para que a população entenda a proporção dos danos causados ao longo de toda a bacia do rio Doce e as consequências que carregaremos por gerações.

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EXPEDIENTE Realização: Atingidos(as) pela Barragem de Fundão, Arquidiocese de Mariana | Conselho Editorial: Expedito Lucas da Silva (Kaé), Genival Pascoal, Letícia Oliveira, Pe. Geraldo Martins, Sérgio Fábio do Carmo (Papagaio), Simone Maria da Silva | Editores-chefe: Genival Pascoal e Sérgio Fábio do Carmo (Papagaio) | Jornalista Responsável: Wigde Arcangelo | Diagramação: Júlia Militão | Reportagem e Fotografia: Joice Valverde, Júlia Militão, Juliana Carvalho, Sérgio Fábio do Carmo (Papagaio), Simone Maria da Silva | Apoio: Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) | Revisão: Elodia Lebourg | Parceria Institucional: Programa de Extensão Sujeitos de suas histórias, da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Equipe: Atineia Novais, Beatriz Melo, Giovanna Giaretta, Jaciara Lima, Karina Peres, Karine Oliveira, Lavínia Torres, Mariana Ferreira, Victória Oliveira. Responsáveis: professora Karina Gomes Barbosa, professor André Luís Carvalho e técnica Luana Viana | Agradecimentos: Escola Municipal de Bento Rodrigues, Escola Municipal de Paracatu de Baixo, Larissa Pinto e Tainara Torres | Impressão: Sempre Editora | Foto de capa: Victória Oliveira | Tiragem: 3.000 exemplares | Fonte de recurso: Termo de Ajustamento de Conduta entre Arquidiocesse de Mariana e Ministério Público de Minas Gerais (1ª Promotoria de Justiça de Mariana).


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Direito de entender

A destinação dos locais atingidos

Por Guilherme de Sá Meneghin, Promotor de Justiça

As comunidades centenárias de Bento Rodrigues e de Paracatu de Baixo foram as mais atingidas pelo crime da Samarco, ocorrido no dia 05 de novembro de 2015 e foram, praticamente, devastadas pelos rejeitos de mineração. Mesmo assim, diversas estruturas resistiram. No decorrer da Ação Civil Pública no. 0400.15.004335-6, ajuizada pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), notou-se que as empresas Samarco, Vale e BHP queriam se apossar dos terrenos atingidos em troca dos reassentamentos (“permuta”). Com apoio imprescindível das comunidades, conseguimos impedir essa tentativa criminosa mediante acordo judicial. Dessa maneira, os terrenos continuam pertencendo aos atingidos, o que se configura, sem dúvida, uma grande vitória. Tanto que o ajuste feito entre a Vale e a Defensoria Pública, no caso de Brumadinho, permitiu que a mineradora se apoderasse dos terrenos dos atingidos, o que causou muita polêmica em razão do tratamento desigual. Em meados de 2019, se intensificaram os debates sobre a destinação das áreas atingidas, sobretudo em razão das questões que envolvem o Dique S4, que alagou parte das propriedades de Bento Rodrigues. Como é de conhecimento público, sabe-se que o prazo de requisição da citada estrutura encerrou-se no dia 21 de setembro de 2019. Nesse sentido, é importante destacar a complexidade da questão, que envolve a Prefeitura de Mariana, o Estado de Minas Gerais, órgãos relacionados ao patrimônio cultural, o Ministério Público Federal (MPF), o MPMG e os proprietários dos terrenos. Além disso, há de se destacar a nova Lei de Segurança de Barragens de Minas Gerais (Lei no. 23.291/2019), que proíbe estruturas na chamada “zona de autossalvamento” relacionada a uma barragem. A montante de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo existem estruturas desse tipo e, assim, essas normas devem ser consideradas na solução a ser construída. Ressalte-se que nenhuma decisão será tomada sem a efetiva participação dos atingidos. O MPMG, pela 1ª Promotoria de Justiça de Mariana, não assinará qualquer ato sem o consentimento da comunidade. A forma como foi realizada a requisição administrativa para o Dique S4 não pode ocorrer novamente, visto que foi feita à revelia dos atingidos e sem ciência prévia dos demais órgãos. Essa situação gerou mais uma Ação Civil Pública proposta pelo MPMG para corrigir as indenizações medíocres pagas pelas requisições. De fato, o MPMG tomará todas as providências cabíveis para garantir plena participação das vítimas nas decisões acerca do futuro dos locais atingidos.


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Celebrar no nosso território

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fotos: Joice valverde, juliana carvalho, larissa pinto e wigde arcangelo

Neste mês de setembro, a fé e a união estiveram presentes na Festa do Menino Jesus, em Paracatu de Baixo, e na Festa de Nossa Senhora das Mercês, em Bento Rodrigues. Em ambas as festividades, foram celebradas missas nas igrejas tradicionais das comunidades e, depois, os fiéis seguiram em procissão carregando as imagens santas pelas ruas atingidas. Apresentações de Congado, de Folia de Reis e Associações Musicais, formados por atingidos e religiosos de outras comunidades da região, entoaram um canto de resistência e força. Ao continuarem acontecendo nos territórios atingidos, os encontros reforçam não só a manutenção da tradição religiosa, como também simbolizam pertencimento. Por: Maria da Cruz Gonçalves e Simária Quintão Com apoio de: Joice Valverde, Juliana Carvalho e Wigde Arcangelo.

A importância de nós estarmos aqui é de pertencimento. Bento é nosso e a gente quer continuar as nossas festas aqui, não tem sentido ser em outro lugar. Igual o padre falou na igreja, né: “várias formiguinhas juntas derrubam um elefante”. Nós somos as formiguinhas e a empresa é o elefante, e ela tenta nos esmagar de todas as formas. Não conseguiu e, agora, tenta tirar isso da gente. A gente ama esse lugar, vem todos os fins de semana, e é daqui que a gente encontra paz e tira força. Simária Quintão, moradora de Bento Rodrigues As festas não são mais como antigamente, mas é muito importante voltar, porque é a nossa comunidade e queremos todo mundo unido. Antes, todos os anos, eu participava, ajudava a cozinhar. Quando estávamos indo na procissão, eu até comentei: “que saudade de quando tinha festa e a gente ficava até de tarde aqui. Depois, íamos para nossas casas, para, mais tarde, voltar. A gente ia para o bar do Carlinhos, da Tia Laura”. Hoje, acabou, temos que ir embora. Maria da Cruz Gonçalves, moradora de Paracatu de Baixo


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Fotos: Lucielly aparecida lopes marcelino, Maria Emília de Sousa Silva, Raquel Luciana Felipe, Samantha Fernandes, Victória Oliveira e Wigde Arcangelo

Nossa brincadeira é coisa séria

Brincar não é apenas uma forma de entretenimento e lazer, é uma ação essencial para que as crianças desenvolvam habilidades motoras, compreendam o mundo, as relações sociais, aprendam regras e desempenhem certa autonomia sobre seus corpos e suas emoções. As brincadeiras, diversas vezes, são utilizadas pelas crianças como forma de expressão. As crianças atingidas de Bento Rodrigues e de Paracatu de Baixo nos contam um pouco sobre as suas brincadeiras preferidas e como elas precisam se adaptar aos diferentes espaços da cidade de Mariana para continuar brincando. Por Lídice Maya da Silva, Lucielly Aparecida Lopes Marcelino, Marcela da Silva, Maria Eliza Alves da Silva, Maria Emília de Sousa Silva, Pâmela Eduarda Anacleto, Rafaela Kecia da Silva, Raquel Luciana Felipe, Samantha Fernandes, Weuller de Sousa Cota Com apoio de Jaciara Lima*, Joice Valverde, Júlia Militão, Juliana Carvalho, Lavínia Torres*, Victória Oliveira* e Wigde Arcangelo *Programa de extensão da UFOP "Sujeitos de suas histórias"

Eu brincava na rua de verdade e desafio, queimada de meia, futebol descalço e pique-esconde à noite. Não tenho uma brincadeira preferida, sempre gostei de todas. Agora, não brinco mais, porque não tem espaço e meus amigos moram todos longe. Se meus amigos morassem perto, ainda brincaria. Teve uma vez que fiquei agarrada no arame brincando de pique-esconde, fiquei com a minha testa ralada. Maria Eliza Alves da Silva, 14 anos, moradora de Bento Rodrigues Eu gosto de brincar de futebol, de vôlei, peteca, pingue-pongue, olho-de-boi e panelinha. Eu costumo brincar com meus amigos da escola. Brinco de futebol todos os dias. Fora da escola, não brinco muito. A gente mora longe, não tem como a gente se encontrar, senão no futebol. Mas, antes, a gente tinha o costume de se encontrar. Marcela da Silva, 13 anos, moradora de Paracatu de Baixo Eu gosto de brincar de Barbie, de boneca e futebol também. Também gosto de brincar de escolinha. Brinco com meus amigos, de futebol, no campinho da escola. Fora da escola, a gente se encontra no futebol para jogar. Lá em Paracatu, quando a gente se encontrava, brincava de pique-cola, pique-esconde, piquecorrente... Pâmela Eduarda Anacleto, 13 anos, moradora de Paracatu de Baixo

Aprendi a brincar de pique-corrente com os meus amigos mais velhos. Era a minha brincadeira favorita, porque movimenta, eu gosto de me movimentar, não gosto de ficar parado, não. Ficar parado é muito chato. Weuller de Sousa Cota, 15 anos, morador de Paracatu de Baixo Dependendo da pessoa que estivesse comigo, jogava belisca, pique-pega… Belisca é uma brincadeira que a gente brinca com 12 pedras ou 12 sementes de olho-de-boi e joga entre duas pessoas. Lucielly Aparecida Lopes Marcelino, 14 anos, moradora de Paracatu de Baixo As brincadeiras que eu mais brincava era futebol, queimada e pique-esconde. Aqui, não tem muito espaço para a gente brincar, aí, com isso, a gente brinca de futebol na escola e, de vez em quando, em frente de casa. Futebol era a minha brincadeira favorita, porque a gente se juntava com os amigos e podia se divertir e brincar, a gente se juntava na praça para ficar jogando futebol. Lídice Maya da Silva, 14 anos, moradora de Bento Rodrigues No Bento, eu brincava de futebol e queimada. Às vezes, muito raro, eu ainda brinco dessas brincadeiras aqui em Mariana. Jogo mais futebol, porque é mais fácil de praticar. Eu vou para a escolinha de futebol e jogo lá. Samantha Fernandes, 13 anos, moradora de Bento Rodrigues


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As brincadeiras que eu mais gostava eram futebol, queimada de meia e pique-esconde à noite. Eu não brinco mais, porque aqui não tem espaço. Mesmo que tivesse espaço, ia faltar amigos, porque estão longe. Raquel Luciana Felipe, 14 anos, moradora de Bento Rodrigues Hoje, não brinco mais, porque as amizades que a gente tinha se separaram, se distanciaram, não tem como a gente brincar. Isso é ruim, porque não tem com quem a gente brincar. Com quem a gente vai brincar? Com quem a gente não conhece? Sinto falta de brincar. Rafaela Kecia da Silva, 16 anos, moradora de Paracatu de Baixo Eu brincava quase sempre, não era todo dia. Às vezes, a gente brincava quando saía da escola e, às vezes, no final de semana. Hoje, não brinco mais de nenhuma dessas brincadeiras. Lucielly Aparecida Lopes Marcelino, 14 anos, moradora de Paracatu de Baixo Hoje em dia, eu não brinco de nada. Cresci e ficou tudo chato. Sinto falta de brincar de pique-corrente. Não brinco mais, porque não tem espaço, não tem pessoas para brincar. Gostaria de voltar no tempo para refazer essas brincadeiras. Mas eu acho que não é possível, porque a gente já perdeu o contato. Eu vou ensinar as brincadeiras que eu brincava para os meus filhos, para saberem como foi a minha infância, cultura… Weuller de Sousa Cota, 15 anos, morador de Paracatu de Baixo Eu gostaria de passar essas brincadeiras adiante, é importante. Por exemplo: brincar pode fazer meu filho se distrair um cado, vai ficar alegre... Não tem como brincar sem aprontar, fazer arte. Eu brinquei, eu aprontei. Por que meu filho, um dia, não vai poder aprontar? É importante para a criança, faz desenvolver rápido: cai, machuca, amanhã tá lá de novo. Rafaela Kecia da Silva, 16 anos, moradora de Paracatu de Baixo


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Fotos: Alessandro dos Santos Paschoal, Joice Valverde, Juliana Carvalho, Keila de Fátima Gonçalves e Victória Oliveira

Os pés de frutas da roça

A infância na roça possibilita o desenvolvimento de muitas habilidades e uma relação com a natureza que faz com que se alimentar das frutas seja mais divertido e prazeroso. Em Bento Rodrigues e em Paracatu de Baixo, nos pés de goiaba, jabuticaba, acerola, manga e de muitas outras frutas, as crianças se deliciavam ao mesmo tempo em que brincavam subindo nas árvores e “roubando” frutas dos vizinhos. As árvores também ofereciam abrigo quando as crianças fugiam das broncas dos pais. Lá no alto era como se nada pudesse lhes acontecer.

Por Ana Luiza Euzébio, Keila de Fátima Gonçalves, Laisa Gonçalves Marcelino, Lídice Maya da Silva, Lucielly Aparecida Lopes Marcelino, Maria Eliza Alves da Silva, Pâmela Eduarda Anacleto, Rafaela Kecia da Silva, Raquel Luciana Felipe, Samantha Fernandes e Weuller de Sousa Cota Com o apoio de Jaciara Lima*, Joice Valverde, Júlia Militão, Juliana Carvalho, Lavínia Torres*, Victória Oliveira* e Wigde Arcangelo *programa de extensão da ufop "sujeitos de suas histórias"

Na minha casa, tinha pé de manga, de goiaba, laranja, mexerica, mamão que apareava na cerca...

Na casa da minha avó, era cheio de pé de jabuticaba. A gente ficava conversando, eu, lá no pé da árvore, e Aninha, em outro, lá na casa da tia dela.

Ana Luiza Euzébio, 13 anos, moradora de Bento Rodrigues

Maria Eliza Alves da Silva, 14 anos, moradora de Bento Rodrigues

No meu quintal, tinha pé de limão, jabuticaba, mexerica, laranja e manga... Manga, não. Manga eu “roubava” do vizinho.

Raquel Luciana Felipe, 14 anos, moradora de Bento Rodrigues

Nunca caí de árvores, sempre tive cuidado para subir e descer. Antigamente, minha mãe vinha entregar em Mariana: ovo, merenda, queijo, essas coisas que ela fazia lá. Aí, ela falou que era para eu ir buscar couve na casa da minha avó. Enquanto minha avó pegava as coisas, eu subi no pé de goiaba e achei uma goiaba grandona, peguei para ir comendo. Demorei por ter subido no pé, minha mãe brigou comigo por causa da demora.

De casa, eu não gostava de nada, não. Eu gostava de “roubar” dos outros.

Laisa Gonçalves Marcelino, 15 anos, moradora de Paracatu de Baixo

Lídice Maya da Silva, 14 anos, moradora de Bento Rodrigues Lá em casa, tinha laranja, jabuticaba, goiaba, abacate, limão...

Maria Eliza Alves da Silva, 14 anos, moradora de Bento Rodrigues Morava em Paracatu. Eu subia nas árvores, mas não levava as frutas para casa, comia debaixo do pé mesmo. Os pés de árvore que eu subia ficavam na casa da vizinha. Às vezes, quando a minha tia mandava a gente fazer alguma coisa, fugíamos para o pé de goiaba, até ela ir buscar a gente. Víamos os outros caindo, se machucando… Eu não caía, só os outros. A gente costumava subir nas árvores para correr de cachorro, de bicho, de vaca. Meu pé de fruta favorito era o pé de goiaba do vizinho, porque era uma goiaba grande e vermelha. Rafaela Kecia da Silva, 16 anos, moradora de Paracatu de Baixo Um dia, eu estava na casa da minha avó e ela juntou um monte de pedaço de corda para jogar fora. Eu peguei e arranjei um pedaço de pau qualquer, fui num pé de manga e montei um balanço. Outro dia, quando voltei na casa da minha avó, não achei o balanço, porque ela tinha pegado e jogado fora. Fui lá no lixo pegar as cordas, falei para ela não tirar. Todo dia que eu ia lá, eu balançava e, depois, comia manga do pé. Keila de Fátima Gonçalves, 13 anos, moradora de Paracatu de Baixo

A fruta que eu mais gostava de Paracatu era jambo. Eu não pedia para subir nos pés de fruta, mas não era roubo, pegava emprestado. Um dia, eu fui subir no pé de jambo de um vizinho da minha vó, só que ele não estava lá, não. Quando ele chegou, ele me viu lá no alto da árvore e me xingou, porque eu não tinha pedido a ele para subir. Pâmela Eduarda Anacleto, 13 anos, moradora de Paracatu de Baixo Quando eu fazia coisa errada, vinha minha mãe xingando e me batendo, aí eu corria pra cima da árvore. “Desce daí!” Eu respondia: “eu não”. Aí, na hora que ela ficava menos brava, eu entrava em casa, saía de fininho pra ver se ela estava dormindo e ia comer manga verde com sal. Ana Luiza Euzébio, 13 anos, moradora de Bento Rodrigues Pior foi uma vez: eu fui na casa da minha tia para apanhar jabuticaba, a sacola tava quase cheia, o galho foi lá e quebrou. Tudo no chão! Maria Eliza Alves da Silva, 14 anos, moradora de Bento Rodrigues


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Hoje eu não faço isso em Mariana, porque, aqui, a gente não tem o tipo de liberdade que tínhamos lá na roça, de já chegar entrando no quintal dos outros. Aqui é diferente, a gente não conhece os vizinhos e não costuma ter as árvores que tinha lá. Sinto falta, claro. Eu não tinha medo de cair, porque, se caísse, levanta e subia de novo. Rafaela Kecia da Silva, 16 anos, moradora de Paracatu de Baixo Parece que a fruta é mais gostosa quando a gente come em cima do pé. Samantha Fernandes, 13 anos, moradora de Bento Rodrigues É raro comprar, por exemplo, chuchu... A gente não comprava chuchu lá no Bento, sabe? A gente pegava do pé que tinha em casa. Agora, tem que comprar, essa é a diferença, que, antes, pegava de graça… Ana Luiza Euzébio, 13 anos, moradora de Bento Rodrigues Aqui em Mariana, eu pedi a uma pessoa uma goiaba, a pessoa disse que eu podia pegar. Enquanto eu subia, as ramas da árvore iam para o lado, ela disse que era para eu pegar a fruta e não quebrar a árvore. Como ela ficou me xingando, não quis pegar, fui embora. Goiaba era a minha fruta favorita. Laisa Gonçalves Marcelino, 15 anos, moradora de Paracatu de Baixo

Ocasiões infrutíferas Eu nem sei como eu caí do pé de goiaba, só sei que caí. Estava lá em cima e, de repente, estava no chão. Eu tinha uns oito anos, era muito nova. Minha mãe ficou muito preocupada, tiveram que me trazer em Mariana para tirar o pedaço de pau que ficou na minha perna e poderia complicar, tive que fazer cirurgia.. Depois, eu não subi mais nas árvores, mas, quando o pessoal subia, eu ficava lá embaixo para comer as que jogavam para mim. Onde eu morava, era um terreno grande, minha avó morava lá também, então, tinha muitos pés de frutas. Minha prima morava perto, aí a gente ia junto subir nas árvores. Lá tinha pé de goiaba, pé de acerola, pé de jabuticaba… Eu sinto mais falta do pé de acerola, porque é mais difícil achar, já jabuticaba, mexerica, manga dá para achar na feira. Lucielly Aparecida Lopes Marcelino, 14 anos, moradora de Paracatu de Baixo Eu não gostava de subir em árvore, porque, onde eu morava, só tinha árvore alta, aí, quando eu subia, eu caía, isso foi me dando medo de subir. Ficava com o braço ralado e falava: “ah, não vou subir em árvore nada”. Mesmo eu não subindo, comia as frutas. Nos pés de manga, que eram mais baixos, eu subia. Antigamente, eu gostava de goiaba. Hoje eu não como muita fruta, as frutas da roça são diferentes das daqui. A goiaba que você pega na roça é muito melhor da que você compra aqui, a goiaba de lá era muito boa. Weuller de Sousa Cota, 15 anos, morador de Paracatu de Baixo

A gente sente falta de tudo, não tem como sentir falta só de uma coisa, não. Maria Eliza Alves da Silva, 14 anos, moradora de Bento Rodrigues

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As conversas de calçada

As calçadas de Bento são uma das coisas que as crianças do subdistrito têm sentido mais falta. As várias calçadas ocupadas por Ana Luiza, Isabela, Maria Eliza e Raquel têm uma porção de histórias pra contar. As meninas, com outras crianças, trocavam segredos, conversavam, contavam piadas e faziam bagunça nesses espaços. Ainda que a tecnologia possibilite, hoje, outras formas de contato, elas afirmam que não há nada que possa substituir um cotidiano marcado pela amizade e pela cumplicidade nas calçadas de Bento. Aqui, elas relembram, entre risadas, algumas coisas que aprontaram em Bento e têm aprontado em Mariana. Por Ana Luiza Euzébio, Isabela Raquel de Souza, Maria Eliza Alves da Silva e Raquel Luciana Felipe Com apoio de Atineia Novais*, Giovanna Giaretta*, Joice Valverde, Juliana Carvalho e Lavínia Torres* *Programa de extensão da UFOP "Sujeitos de suas histórias"

Na calçada, era mais emoção. Dava pra ver as reações das pessoas [com quem estávamos conversando] ao vivo. Ana Luiza Euzébio, 13 anos e Raquel Luciana Felipe, 14 anos, moradoras de Bento Rodrigues

As casas que a gente via que tinha campainha, a gente ia tocando e saía correndo. As que não tinha, a gente batia palma, gritava o nome e saía correndo. Ana Luiza Euzébio, 13 anos, moradora de Bento Rodrigues

Cada dia era em um ponto diferente. Ou era na porta casa dela [Maria Eliza], ou na porta da minha casa, ou na porta do moço lá. Ia rodando o Bento, o Cascalho ali… Nós falávamos de um monte de coisa. Planejava pra “roubar” fruta, como que a gente ia cercar galinha...

Eu treinava na Chácara [Mariana], eu e Samantha. Nós estávamos jogando no time e ela morava perto da minha casa. Nós descíamos juntas todos os dias. Até um dia que eu dei ideia de tocar a campainha e saí tocando a campainha da rua inteira.

Maria Eliza Alves da Silva, 14 anos, e Ana Luiza Euzébio, 13 anos, moradoras de Bento Rodrigues

Maria Eliza Alves da Silva, 14 anos, moradora de Bento Rodrigues

No Bento, podia contar quantas casas tinham campainha e quantas casas tinham dois andares.

Nós falávamos sobre tudo. Agora, a gente não se vê, então, não tem como mais. E também não dá pra poder conversar na calçada de Mariana, porque não é seguro. É arriscado ficar ali na rua até tarde conversando.

Maria Eliza Alves da Silva, 14 anos, moradora de Bento Rodrigues

Isabela Raquel de Souza, 17 anos, moradora de Bento Rodrigues Foto: Joice Valverde


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Contos de Paracatu

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As lendas e as histórias de terror dizem muito sobre as regiões onde foram criadas. Moral, costumes e medos de um determinado grupo são expressos nesses contos e partilhados pelas gerações. É possível encontrar pessoas que dizem que esses relatos não são inventados e juram que já presenciaram alguns desses momentos sombrios. Não podemos provar o que essas pessoas dizem, mas podemos afirmar que essas histórias fazem parte da cultura das comunidades que as partilham. Os(As) estudantes da Escola Municipal de Paracatu nos contaram algumas das histórias que já ouviram sobre a localidade. Por Keila de Fátima Gonçalves, Laisa Gonçalves Marcelino, Lucielly Aparecida Lopes Marcelino, Rafaela Kecia da Silva e Weuller de Sousa Cota Com apoio de Júlia Militão, Victória Oliveira* e Wigde Arcangelo *Programa de extensão da UFOP "Sujeitos de suas histórias"

Uma visita indesejada Minha avó me contou essas histórias há muito tempo. Uma vez, a mula sem cabeça foi até a casa dela e pôs fogo na casa da minha avó. Na época, o telhado da casa dela era de palha, não era esse telhado comum. Por causa disso, pegou fogo em tudo. Minha avó contou que a mulher que se envolve com o padre vira a mula sem cabeça. Ela me contou do caso de duas mulheres que eram apaixonadas pelo padre, elas se envolveram com ele. Uma se transformou na parte da frente do animal e a outra a parte traseira. Se isso é verdade ou não, eu não sei. A doença misteriosa Contam que, há muito tempo, houve uma mulher em Paracatu que teve uma doença que era transmitida pelo ar, ninguém podia chegar perto dela. Os médicos decidiram que o melhor a fazer seria enterrar a mulher viva. Eles disseram, para a família, que ela não podia ficar viva, pois qualquer um poderia pegar aquela doença, que não tinha cura. Os familiares deixaram que a enterrassem viva. Colocaram uma pedra grande em cima do túmulo dela. Até hoje, a pedra está lá e não podem mexer em nada. O choro do brejo Minha avó conta que, antigamente, em Paracatu, os costumes eram muito severos, então, quando as filhas engravidavam fora do casamento e perdiam as crianças, jogavam os bebês em um brejo. Minha avó falou que pessoas escutavam choros naquele lugar durante as Quaresmas. Estrela do ouro Perto de onde eu morava, em Paracatu, viveram, antigamente, umas pessoas que tinham muito ouro, eles escondiam o ouro por lá. Em uma determinada época do ano, uma espécie de estrela fica se movendo sobre aquela região. Nem tudo é o que parece Meu avô acordava umas cinco horas da manhã e ia moer milho para fazer fubá. Ele viu uma vela acesa descendo pelo caminho, parecia ser um homem todo de branco. Meu avô tentou acompanhar para ver o que era, mas não conseguiu descobrir, a coisa desapareceu. No outro dia, ele disse, para a minha avó, que tinha visto uma pessoa andando com uma vela acesa, minha vó disse que poderia ser alguém andando por aí. No outro dia, meu avô viu a pessoa de novo, correu para chamar a minha avó. Quando ela chegou, não tinha mais ninguém. Quando meu avô dormiu, minha avó saiu da casa e viu a pessoa vestida de branco e segurando uma vela do lado de fora, ela correu em direção à pessoa. Ela conseguiu chegar perto, era um conhecido deles que estava bêbado.


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O que quero ser

Ilustração: Estudantes do 1º e 2º ano da Escola Municipal de Paracatu de Baixo

Quando somos crianças, os adultos costumam nos questionar sobre o que gostaríamos de fazer no futuro. Geralmente, temos inúmeras respostas na ponta da língua. Falar sobre o futuro permite que crianças e adolescentes formem seus conceitos de mundo e tomem conhecimento das diversas possibilidades que podem seguir. Conversamos com os(as) estudantes das escolas de Paracatu e Bento sobre as profissões que conheciam e quais delas eles(as) pretendem seguir, o resultado foi de professora de balé até engenharia e medicina. Por Alessandro dos Santos Paschoal, Ana Luiza Euzébio, Keila de Fátima Gonçalves, Lídice Maya da Silva, Lucielly Aparecida Lopes Marcelino, Marcela da Silva, Maria Eliza Alvez da Silva, Maria Emília de Sousa Silva, Pâmela Eduarda Anacleto, Rafaela Kecia da Silva, Raquel Luciana Felipe, Samantha Fernandes e Weuller de Sousa Cota Com apoio de Giovanna Giaretta*, Joice Valverde, Júlia Militão, Juliana Carvalho, Karina Peres*, Lavínia Torres*, Victória Oliveira* e Wigde Arcangelo * Programa de extensão da UFOP "Sujeitos de Suas Histórias"

Pretendo fazer Odontologia e Medicina Veterinária, porque é meu sonho desde a infância. E ser cirurgiã, porque eu gostaria de salvar vidas e ajudar as pessoas que precisam. Ana Luiza Euzébio, 13 anos, moradora de Bento Rodrigues Eu quero ser professora de balé. Porque o meu sonho é ser bailarina. Desde pequena, eu danço, é uma paixão. O que mais me encanta são as danças na sapatilha de ponta. Maria Emília de Sousa Silva, 11 anos, moradora de Mariana Eu quero ser médica, porque eu acho bonito ver os médicos salvando as vidas. Quando eu crescer, quero ser um exemplo disso. Marcela da Silva, 13 anos, moradora de Paracatu de Baixo Quero ser professora de História ou psiquiatra, porque pode ajudar muita gente. Lídice Maya da Silva, 14 anos, moradora de Bento Rodrigues Ainda não tenho nada em mente. Quando a gente forma, todo mundo já vem perguntar: o que você vai ser? Isso incomoda um pouco, porque eu ainda não sei e quero que seja uma coisa que eu goste, pra fazer com dedicação. Lucielly Aparecida Lopes Marcelino, 14 anos, moradora de Paracatu de Baixo

Eu pretendo fazer Engenharia Civil ou Educação Física. Maria Eliza Alves da Silva, 14 anos, moradora de Bento Rodrigues

Pediatria e Psicologia. Psicologia, pra ajudar as pessoas... As duas profissões é para ajudar as pessoas.

Quero ser policial, pra mudar a vida das pessoas e defender a cidade.

Raquel Luciana Felipe e Samantha Fernandes, 14 e 13 anos, moradoras de Bento Rodrigues

Keila de Fátima Gonçalves, 12 anos, moradora de Paracatu de Baixo Quero ser médico, pra salvar vidas. Tenho que estudar muito, mas não tô preparado. Alessandro dos Santos Pascoal, 11 anos, morador de Paracatu de Baixo

Eu quero ser policial, sei que é uma profissão perigosa, mas não me dá medo. O que mais me chama atenção são os carros. Pâmela Eduarda Anacleto, 13 anos, moradora de Paracatu de Baixo

Advogada, mas não sei dizer a área que eu quero. Só sei que advogado entra em processo, mexe com prisão, direitos humanos…

Quero ser médico, porque eu gosto da profissão e o que mais me chama atenção é poder salvar vidas. Penso em ser cirurgião.

Rafaela Kecia da Silva, 16 anos, moradora de Paracatu de Baixo

Weuller de Sousa Cota, 15 anos, morador de Paracatu de Baixo


APARASIRENE NÃO ESQUECER

Outubro de 2019 Mariana - MG

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Todo dia é dia Por: Ana Luíza

Com o apoio Roziny Santos Silva

Dia de brincar Dia de sonhar Seus sonhos mais belos E falar que Seus desejos foram realizados É nunca desistir É saber se divertir É encarar a tristeza É se libertar de corpo e alma Criança não é apenas Quem não tem idade Mas sim quem sabe Ser feliz Ser grato pela vida E ajudar sem esperar Nada em troca É sentir-se bem Pela felicidade alheia É saber que mesmo Com um sorriso triste Você não irá desistir A verdade é que todos nós Podemos ser crianças Só precisamos de sorrir e sonhar Pois assim Todo dia é dia De ser uma criança Ana Luíza é estudante do 6º ano da Escola Estadual Maria Amélia, mora em Rio Doce


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A SIRENE PARA NÃO ESQUECER

Outubro de 2019 Mariana - MG

Assessoria Técnica de Mariana Por Ellen Barros (Assessora de Comunicação)

No mês de outubro, quando a Cáritas Minas Gerais completa três anos de atuação como assessoria técnica das atingidas e dos atingidos pela Barragem de Fundão, em Mariana, o Jornal A SIRENE inaugura uma nova seção. Aqui, você vai encontrar, mensalmente, temas de interesse das comunidades atingidas, abordados pela Assessoria Técnica, que reafirma seu principal compromisso: “garantir a participação ampla e informada nos processos decisórios e a efetivação plena da reparação das perdas e danos sofridos pelas famílias atingidas”. A comunicação e a informação são ferramentas poderosas nas mãos do povo! A parceria entre o Jornal A SIRENE, que se destaca como uma experiência única de comunicação popular, e a Cáritas Minas Gerais é mais um passo na direção da garantia de informações qualificadas para as pessoas atingidas pelo maior crime socioambiental da história desse país.

Assessoria Técnica Territorial: é o acompanhamento das necessidades e das demandas das pessoas atingidas por território (Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo e zona rural). Esse trabalho é feito por uma equipe multidisciplinar, a partir de encontros e Grupos de Base, além de ser organizado por eixos temáticos e áreas técnicas, como Agrárias, Arquitetura e Patrimônio, Mobilização e Comunicação, Jurídico e Psicossocial. Atendimento Psicossocial: essa equipe faz o acolhimento dos casos em que os auxílios emergenciais (cartão e aluguel) foram negados indevidamente pela Fundação Renova/Samarco. Esses casos são encaminhados à justiça, via Ministério Público. A equipe do Psicossocial faz, ainda, o acolhimento de casos sensíveis e, sempre que necessário, os encaminha para a rede pública de saúde e/ ou para a assistência social do município. Processo de cadastramento: desde fevereiro de 2018, a Cáritas conduz um processo de cadastramento inédito para que todas as pessoas que tiveram suas vidas alteradas pelo rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana, possam dizer sobre as perdas e os danos sofridos e, assim, cobrar, das empresas responsáveis, a reparação.

Assessoria Jurídica: a equipe de assessores jurídicos da Cáritas faz o acompanhamento das pessoas atingidas na Fase de Negociação Extrajudicial (FNE) para as indenizações por danos materiais e imateriais causados pela Barragem de Fundão. Essa mesma equipe faz, ainda, a junção e análise de todos os produtos que resultam do processo de cadastramento, e é responsável por finalizar o dossiê, que é entregue às famílias atingidas. Plantão de Atendimento da Cáritas. Para qualquer informação sobre os serviços prestados pela Assessoria Técnica em Mariana, ligue ou vá ao Plantão de Atendimento da Cáritas. Rua Alphonsus Guimarães, nº. 62, Centro, MarianaMG. Telefone: (31) 3557-2488.


APARASIRENE NÃO ESQUECER

Outubro de 2019 Mariana - MG

Assessoria Técnica de Barra Longa União, organização, entendimento e conquista de direitos Por Leando Borges Raggi (Mobilizador Social) e Verônica Medeiros Alagoano (Coordenadora Local)

A Assessoria Técnica em Barra Longa foi proposta pelos(as) atingidos(as) ao Ministério Público Estadual em janeiro de 2016. A população do município, após ampla discussão, escolheu a Associação Estadual em Defesa Ambiental e Social (AEDAS) como responsável pela execução do projeto. O trabalho da Assessoria, em Barra Longa, foi iniciado no dia 28 de agosto de 2017, e tem o objetivo de informar, fortalecer e ampliar a participação dos(as) atingidos(as) no processo de reparação integral dos danos causados pelo rompimento da Barragem de Fundão, em novembro de 2015. A equipe é composta por 13 profissionais, dentre eles: duas advogadas, duas arquitetas, um assistente social, uma psicóloga, um agrônomo, um assistente administrativo, um coordenador local e quatro mobilizadores. Para a organização do trabalho da Assessoria Técnica e para a garantia da participação dos(as) atingidos(as) na construção das propostas de reparação, os(as) atingidos(as) podem participar dos Grupos de Base distribuídos em 22 localidades, o que cobre toda a área urbana e rural do município. Para um melhor acompanhamento dos Grupos de Base, os atingidos indicam três coordenadores de cada localidade, que também são acompanhados pela Assessoria. Além disso, acontecem reuniões periódicas com a Comissão de Atingidos e Atingidas, nas quais todos os assuntos são tratados. E é nas assembleias que os(as) atingidos(as) garantem os encaminhamentos das discussões e das propostas construídas com ampla participação nos Grupos de Base, que são, então, negociadas diretamente com a Fundação Renova. O Grupo de Base é central para o trabalho da Assessoria Técnica, pois garantiu aos(às) atingidos(as) a construção da pauta de reivindicações após o rompimento, e, atualmente, orienta o trabalho. Para a Assessoria, o(a) atingido(a) é o coração do trabalho, o pulsar dos Grupos de Base e a centralidade do processo de reparação. Para se informar sobre qual grupo de base participar, os atingidos podem procurar a sede da AEDAS em Barra Longa, localizada na Avenida Beira Rio, número 93. Foto: Leandro Borges Raggi

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EDITORIAL A infância é uma fase da vida que não pode ser repetida. É nessa fase que acontecem as primeiras interações e descobertas do mundo, que está ligado diretamente ao ambiente em que essas pessoas estão inseridas. As infâncias são sempre diferentes, cada criança vive a sua de uma maneira. No dia 5 de novembro de 2015, várias crianças tiveram suas infâncias atravessadas pelo crime da Samarco, Vale e BHP Billiton. Precisaram sair de suas comunidades e se adaptar ao alvoroço da cidade e, por isso, a forma como viviam suas infâncias foi alterada. Hoje, muitas delas não são mais crianças, são adolescentes ou estão entrando nessa nova fase. Mas guardam marcas e saudades da infância em suas comunidades. Nesta edição de outubro, em comemoração ao mês das crianças, trouxemos adolescentes para construírem essa nova edição da forma que sentissem vontade. Desde as pautas, passando pelas entrevistas, até as fotos. Todo o processo de produção foi pensado por eles(as). Contamos com a ajuda do programa de extensão “Sujeitos de suas histórias”, do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto, coordenado pelo professor André Carvalho e pela professora Karina Gomes Barbosa. O programa desenvolve oficinas com a Escola Municipal de Paracatu de Baixo e a Escola Municipal de Bento Rodrigues, ao ensinar técnicas jornalísticas e trabalhar memória com os(as) estudantes. Assim, o programa nos auxiliou com oficinas nessas escolas. Nas próximas páginas, você lerá sobre a relação de uma geração com os pés de frutas de suas comunidades, as brincadeiras que deixaram saudades e, também, as calçadas que assumiam outros papéis, além de serem um espaço para se locomover. Todas essas matérias mostram a importância dos locais atingidos para esses(as) adolescentes atingidos(as). São textos que revisitam e que preservam a memória, mas que também denunciam as reverberações causadas pelo crime da Samarco, Vale e BHP Billiton na infância dos(as) atingidos(as).


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