A Sirene - Ed. 45 (Janeiro/2020)

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A SIRENE

PARA NÃO ESQUECER | Ano 4 - Edição nº 45 - Janeiro de 2020 | Distribuição gratuita


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Aconteceu na reunião COMENDA MILTON CAMPOS 6 de dezembro, Ponte Nova

O Dr. Helder Magno da Silva, Procurador Federal da República, recebeu uma merecida homenagem das mãos do prefeito da cidade de Mariana, Duarte Jr., por serviços prestados aos(às) atingidos(as) pela barragem de Fundão, de propriedade da Samarco e de suas controladoras, Vale e BHP Billiton. O prefeito Duarte Jr. e o presidente da Associação dos Municípios da Microrregião do Vale do Piranga (AMAPI) homenagearam, na ocasião, várias personalidades com a comenda Milton Campos.

ATINGIDOS(AS) DE MARIANA AGRADECEM AS CARTAS RECEBIDAS Dezembro, Mariana

Os(As) atingidos(as) de Mariana agradecem as cartas recebidas de diversos lugares do Brasil desde o momento recente ao rompimento da barragem de Fundão até hoje. Estão especialmente agradecidos as cartas enviadas pela comunidade de Guarapari, no Espírito Santo, neste mês. Gestos assim fortalecem os(as) atingidos(as) e dão esperanças para continuar na luta. Em nome dos(as) atingidos(as) de Mariana, desejamos um Feliz Ano Novo a todos.

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EXPEDIENTE Realização: Atingidos(as) pela Barragem de Fundão, Arquidiocese de Mariana | Conselho Editorial: Expedito Lucas da Silva (Kaé), Genival Pascoal, Letícia Oliveira, Pe. Geraldo Martins, Sérgio Fábio do Carmo (Papagaio), Simone Maria da Silva | Editores-chefe: Genival Pascoal e Sérgio Fábio do Carmo (Papagaio) | Jornalista Responsável: Wigde Arcangelo | Diagramação: Júlia Militão | Reportagem e Fotografia: Genival Pascoal, Joice Valverde, Júlia Militão, Juliana Carvalho, Sérgio Fábio do Carmo (Papagaio), Simone Maria da Silva | Apoio: Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) | Revisão: Elodia Lebourg | Impressão: Sempre Editora | Foto de capa: Joice Valverde | Tiragem: 3.000 exemplares | Fonte de recurso: Termo de Ajustamento de Conduta entre Arquidiocesse de Mariana e Ministério Público de Minas Gerais (1ª Promotoria de Justiça de Mariana).


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APARASIRENE NÃO ESQUECER Foto: JOICE VALVERDE

Opinião:

Papo de Cumadres: Mais um ato da peça contaminação Consebida e Clemilda estão apavoradas por saber que toda a bacia pode estar contaminada. Mariana, Barra Longa e Linhares já estão confirmadas. Por Sérgio Papagaio

- Cumadre Clemilda, nunca na vida minha, dispois da barrage istorada que fiquei tão apavorada. - Cumadre minha fia me fale desta agunia eu sei que ni mim oçê confia. - Cê vil falá da tar contaminação? - Vi sim, mais nun sei u que é istu não, se oçê sabe me dê logu uma ispricação. - Cumadre minina de Deus, segura foute que lá vai u gorpe, ta tudu cotaminadu com u tar metá pesadu conformi dissi a Dulce professora lá da UFOP. - Cruz ave Maria credu, deste terçu num intindi nem um mstério. - Intonse vô te ispricá dum geitu mais sério, u regeitu que desceu de Fundão fez nu seu caminho uma ispeci de pré ceminteriu, dexô a terra a água u peixe e u ar tudu contaminadu, nois vive hoje num lugar marvadu, parece aquelas cidade du Japão onde uma bomba na segunda guerra ês jogaru. - Se a terra tá contaminada e a água num dá pra bebê e as pranta num pode cumê, cumé que nois vai vivê, e u leite dus minim mamá cume que tá? - Tá contaminadu também, nois de Barra Longa manda leite pra tanta população, então comu disse cumpadre Eder nois ta ixportanu contaminação. - Se u ar tá contaminadu com este tar metá pesadu se nois num respirá morre asfixiadu se respirá fica contaminadu, a qui distinu marvadu só num é atigidu em Barra Longa quem num faz usu du ar pamode respirá. - Foi istu que eu quis te falá, e u istudu da Dulce e otrus tantus istudu veiu confilmá, tem até um que a Renova pagô que num consiguiu disminti aquilu que já era sabidu nois de Barra Longa, Mariana e de toda a bacia semos tudu atigidu.

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Opinião:

Contaminação e negação da realidade Ao encerrar sua visita ao Brasil, o relator especial das Nações Unidas para direitos humanos e resíduos tóxicos, Baskut Tuncak, ao se referir aos desastres decorrentes dos rompimentos das barragens de Fundão, em 2015, e da mina do Córrego do Feijão, em 2019, afirmou: “após anos de negação por parte do governo e das empresas envolvidas, os impactos da exposição à lama tóxica enxurrada no desastre de 2015 agora são visíveis e demonstram ligação com o adoecimento daqueles que foram expostos. No entanto, as empresas responsáveis continuam abusando do seu poder ao impedirem que informações de saúde e segurança sejam publicadas”. Estive com o relator especial em 5 de dezembro, na visita à Aldeia Naô Xohan, no município de São Joaquim de Bicas, ao distrito do Parque da Cachoeira e a outros territórios contaminados, em Brumadinho, bem como, no dia seguinte, na reunião com a sociedade civil, em Belo Horizonte, na sede do Ministério Público Federal, que contou com a presença de acadêmicos, pesquisadores e atingidos vindos da bacia do rio Doce e de outros locais. Pessoas atingidas relataram casos de adoecimento e do já conhecido descaso da Fundação Renova. Pesquisadores apresentaram dados, a partir de estudos distintos, sobre contaminação por metais. Talvez o exemplo mais atual de que a Renova tenha, na verdade, a finalidade de defender interesses das empresas que a criaram seja o fato de que a fundação persiste em ocultar ou em negar as conclusões de estudos que apontam para a contaminação por metais pesados em pontos diversos da bacia do rio Doce. Para mencionar um deles, a Câmara Técnica de Saúde do Comitê Interfederativo (CIF) contratou a empresa Ambios para realizar, em três fases, um estudo de avaliação de risco à saúde humana. A primeira fase foi executada, em Minas Gerais, nos municípios de Mariana e de Barra Longa e, no Espírito Santo, no município de Linhares. Em Barra Longa e em Mariana, as devolutivas para apresentação dos estudos à população finalmente ocorreram, depois de muitos questionamentos por alguns órgãos, entre os quais o MPF, nos dias 15 e 16 de novembro. Com relação ao município capixaba, a Renova, que recebeu o estudo ainda no primeiro semestre deste ano, não o enviou à Câmara Técnica (procurando escudar-se em interpretação equivocada de deliberações do CIF). Por esse motivo, não se conhece o teor de tal pesquisa, mas, caso ela confirme, no município de Linhares – incluída a região estuarina –, a contaminação por metais pesados, a fundação terá mantido em risco a saúde de milhares de pessoas, o que é mais do que suficiente para que seus administradores possam ser responsabilizados em mais de uma esfera. A Renova também tem buscado descontinuar o estudo da Ambios, pretendendo que não sejam levadas adiante as fases 2 e 3 do trabalho inicialmente contratado. Estudos e pesquisas sobre contaminação e avaliação de risco à saúde são instrumentos para conhecimento da realidade. Atrasá-los ou impedi-los são meios de obstar a implementação das medidas necessárias, de prolongar danos que, infelizmente, podem se tornar intergeracionais e de atuar para limitar a responsabilidade civil das empresas causadoras do desastre. Diante da omissão e dos equívocos da atuação da Renova, a própria fundação deve ser responsabilizada, seja pelos novos danos que cause, seja pelo descumprimento das finalidades previstas em seu estatuto.

Por Edmundo Antonio Dias Netto Junior, Procurador regional substituto dos direitos do cidadão em Minas Gerais e membro das forças-tarefa Rio Doce e Brumadinho do Ministério Público Federal


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As férias não são mais as mesmas

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fotos: Wigde Arcangelo

Na edição especial do Mês das Crianças, produzida com os adolescentes das escolas de Paracatu de Baixo e de Bento Rodrigues, falamos sobre a saudade dos espaços, das brincadeiras e das histórias que as crianças compartilhavam nas comunidades. Hoje, em Mariana, essas relações mudaram completamente. Estar junto dos amigos, agora, é mais difícil e a escola tornou-se o ponto de encontro principal. No período de férias escolares, promover essa união é algo ainda mais custoso. O crime do rompimento da barragem de Fundão, controlada pela Samarco, Vale e BHP Billiton, se faz presente no cotidiano dessas crianças, que precisam se adaptar à falta de possibilidades de lazer com seus amigos nas férias. Por Eliana Silva e José Geraldo Marcelino Com apoio de Júlia Militão

Na verdade, eles se encontram mais na escola. Quando tá de férias, eles não se veem, pouco se veem e ficam mais presos, né? Na minha casa, na casa da minha mãe, da minha mãe pra minha casa, não tem, assim, outros amigos pra poder sair, pra conversar, não encontram com os amiguinhos deles que são da mesma comunidade, lá de Paracatu. Não tem uma atividade pra que possa fazer, pra que não fique em casa. Na maioria das vezes, eu fico preocupada, porque é só internet, só o telefone, o tempo todo enfiado dentro dos quartos, em jogo... Às vezes, eu fico nervosa, mas eu vejo que é o meio que eles arrumam pra ocupar um pouco a cabeça. É muito ruim, porque eu trabalho e eu fico preocupada com eles, né? Eliana Silva, moradora de Paracatu de Baixo Para a minha filha, teve uma diferença grande, pois, aqui em Mariana, ela não encontra muito os amigos, então ela passa as férias mais é mexendo no celular e na televisão, uma hora ou outra que sai. Na roça era diferente, moravam uns perto dos outros, podia ficar até tarde na rua sem perigo, sempre estavam brincando de alguma coisa. Aqui não brincam muito e, à noite, aqui, é perigoso e, sempre que ficamos sabendo de eventos, já passou a data. José Geraldo Marcelino, morador de Paracatu de Baixo

Lá em Paracatu, a gente tinha tudo, né, não precisava ser da forma e do jeito que é hoje, aqui em Mariana. Então é muito complicado, porque fica sem motivação. Nas férias é muito confuso, porque não tem o que fazer, não tem pra onde ir. Eles ficam sem rumo e eu também. Eliana Silva, moradora de Paracatu de Baixo


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E agora, para onde vamos? foto: juliana Carvalho

Na edição anterior, trouxemos as divulgações dos estudos sobre a contaminação do ar, da água e do solo nas regiões atingidas pela lama de rejeitos da Samarco, Vale e BHP Billiton. Agora é o momento de cobrar das instâncias responsáveis pela saúde da população. A Fundação Renova/Samarco deve arcar com os custos que o município terá com as ações voltadas para a saúde, bem como se responsabilizar pela retirada da lama de rejeitos nos territórios, a fim de eliminar a exposição das pessoas ao risco. Por isso, a responsabilidade não se limita às mineradoras criminosas e deve ser cobrada também do município, do Estado e do Governo Federal. Lamentavelmente, a Fundação Renova/Samarco tem divulgado um vídeo no qual um profissional da saúde afirma não haver riscos à saúde da população atingida. Contraditoriamente, ainda em 2015, o mesmo profissional alertava, na mídia, para os perigos dos metais e de uma possível contaminação das áreas cobertas por lama tóxica. Por Carmen Ildes Rodrigues Fróes Asmus, Dulce Maria Pereira e Lineu Viana de Oliveira Ribeiro Com o apoio de Juliana Carvalho

Além do atendimento da saúde, é preciso capacitar os profissionais para que eles saibam o que é níquel, o que é cádmio. Tem que ter uma articulação com a população, para tirar as dúvidas, para tirar as preocupações, para encaminhar os resultados. É preciso um programa para pensar isso. Um programa de atenção de vigilância da saúde dentro do SUS. Carmen Ildes Rodrigues Fróes Asmus, pesquisadora da AMBIOS, durante o lançamento da devolutiva dos estudos de contaminação É muito importante entender que, se não há controle da contaminação, a gente não tem controle da dispersão da contaminação. Se você não faz controle, esse processo de bioacumulação vai aumentando. Então, por exemplo, os animais podem, de muitas formas, entrar em contato com esse ambiente contaminado. Qualquer pessoa pode, porque tem contaminação inclusive no ar. Então o problema é que um ambiente contaminado tem que ser controlado. E não controlar é crime. Por isso é que nós vamos viver um embate, vão tentar desqualificar todos os nossos trabalhos. Dulce Maria Pereira, professora e pesquisadora da Universidade Federal de Ouro Preto Esses estudos trouxeram uma gama importante de informações sobre questões relacionadas à saúde das pessoas e do ambiente. Bem como fizeram recomendações relevantes ao setor de saúde, tais como: recuperação e monitoramento ambiental, necessidade de acompanhamento da saúde física e mental da população, melhoria do sistema de notificação e registro de informações no município e a nível estadual, treinamento específico e continuado dos agentes do setor de saúde, especificamente no trato com as populações atingidas, entre outras recomendações. Lineu Viana de Oliveira Ribeiro, assessor técnico da AEDAS, em coletiva de imprensa As questões do sofrimento emocional não são para serem tratadas com remédio de psiquiatra. Esse deve ser o último recurso. O

primeiro é usar formas de tratamento da terapêutica que existem, das mais diferentes ordens, que se adequem àquela pessoa. Tem pessoas que gostam da psicoterapia, tem outras que preferem atividades como o yoga. Tem várias formas de enfrentamento dessa questão do sofrimento emocional. Não é botar só médico e enfermeiro, a equipe precisa ser maior, melhor constituída. Carmen Ildes Rodrigues Fróes Asmus, pesquisadora da AMBIOS, durante o lançamento da devolutiva dos estudos de contaminação Uma das possibilidades é assegurar o atendimento de saúde de qualidade dentro do SUS. Os próprios atingidos desenharam uma forma de atendimento. Eu acho que essa é uma projeção importante para o futuro, ter um atendimento específico, como tem o atendimento à saúde da mulher, da pessoa com determinadas necessidades especiais, do homem, ter também a saúde da pessoa atingida. Eu acho que isso é uma forma de você reduzir os impactos. Além disso, os atingidos decidiram, com consultores internacionais, que é possível e necessária a retirada da lama com resíduos. Eu acho que essa é uma medida muito importante. Dulce Maria Pereira, professora e pesquisadora da Universidade Federal de Ouro Preto


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A luta por água em Degredo

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Foto: Sérgio Papagaio

Os(As) moradores(as) da comunidade quilombola de Degredo enfrentaram uma disputa no Comitê Interfederativo (CIF) pelo direito de receberem água potável da Fundação Renova/Samarco, Vale e BHP Billiton. A mineradora recorreu da decisão que a obrigava a abastecer o território quilombola e teve decisão favorável. Os(As) atingidos(as) não se conformaram com esse resultado e conseguiram que a decisão fosse revertida. A forma como as mineradoras atuaram nesse caso é muito semelhante aos outros casos do processo: utilizam estudos inconsistentes para fazer manobras jurídicas prejudiciais aos(às) atingidos(as). Por Mônica Silva de Jesus e Paulo Henrique Camargos Trazzi Com o apoio de Wigde Arcangelo

O envio da água seria diminuído gradativamente até fevereiro, quando seria cortada de vez. Segundo eles, estavam atendendo a uma liminar da justiça. Mônica Silva de Jesus, moradora de Degredo-ES No caso do abastecimento de água para a comunidade quilombola do Degredo, a Fundação Renova valeu-se de um estudo que entendemos ter várias inconsistências técnicas. Como exemplo, a empresa contratada coletou 32 amostras de peixes, mas perdeu 21. Quanto às medidas judiciais, consideramos uma tentativa de desconsiderar todo o trabalho do Comitê Interfederativo (CIF), desestruturando o acordo de governança firmado com as instituições de justiça. No momento em que as decisões do sistema de governança não agradam, busca-se a revisão no judiciário, em atitude contraditória com quem afirma buscar soluções consensuais por meio do diálogo. Paulo Henrique Camargos Trazzi, procurador da República do Ministério Público Federal no Município em Linhares-ES Agora, no último CIF, foi aprovada uma nota técnica pela manutenção da água. A Fundação Renova esteve no nosso território e disse que vai manter a água até a ETA [Estação de Tratamento de Água] ficar pronta. Mônica Silva de Jesus, moradora de Degredo-ES Por diversas vezes, as mineradoras e a Fundação Renova adotam posturas perante o poder judiciário que não se harmonizam com a ideia de autocomposição e solução consensual dos conflitos. Porém, as instituições de justiça continuam dispostas e no esforço conjunto para manter o diálogo e buscar as respostas mais efetivas para os direitos dos atingidos e para a recuperação ambiental. Exemplo disso foi o recente acordo assinado com a Fundação Renova para indenizar os camaroeiros da Enseada do Suá, no Espírito Santo, em um árduo trabalho de negociação que durou dois anos. Esperamos amadurecer e melhorar o diálogo com a Fundação Renova para acelerar os processos de reparação. Paulo Henrique Camargos Trazzi, procurador da República do Ministério Público Federal no Município em Linhares-ES

Atingidos vítimas ou réus Por Sérgio Papagaio

Homens e mulheres, brancos, brancas, indígenas, negros, negras, pobres... pobres Atingidas e atingidos, esquecidos, marginalizados, violados, violentados, estuprados, abandonados, maltratados, com o jogo virado, criminalizados, de inocentes à culpados,de hostilizados e vítimas dos rompimentos diários, passam a ser autores meu senhor, de hostilização e réu, destino cruel, apenas por exigir reparação neste plantel. E o juiz infeliz nunca viu fome e dor, meu doutor, nasceu no berço d’ouro, não reconhece o mal vindouro, nem ouve o povo pedindo socorro… Delibera em cifras, o mal da pobreza explícita e a macabra fundação faz de tudo uma apresentação da peça exclusão, dando à cegueira da justiça, o protagonismo, e todos os atos adiante fazem da história do rompimento e dos atingidos meros coadjuvantes.


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Além do rejeito: preconc Nunca foi fácil ser negro no Brasil, mas, antes do crime da Vale, Samarco e BHP Billiton, eu não precisava me preocupar com o racismo. Eu não sentia essas coisas na pele, porque eu vivia no meu mundo, quietinha no meu cantinho, lá no meu alto de morro. Após o crime, eu precisei ocupar espaços que, até então, não eram meus. Desde então, eu tenho sentido, na pele, no corpo e na alma, a chicotada da elite. A cada passo que eu dou, eu vejo o preconceito e o racismo. A Fundação Renova nos persegue por sermos negros(as), sermos do alto do morro e militantes. Isso não tem sido fácil.

Por Adriano Felipe da Silva, Aline Monteiro Fraga Mol, Carmem Lúcia Cardoso da Silva, Eder Felipe da Silva, Gilda Maria Cardoso, Mirella Lino, Wagner Eduardo da Silva (Marreta), Verônica Viana e Vera Lúcia Aleixo Silva Com o apoio de Joice Valverde, Júlia Militão, Juliana Carvalho, Simone Silva e Wigde Arcangelo

Meu objetivo, aqui, é saudar a organização popular que, hoje, faz esse movimento histórico aqui na cidade de Barra Longa, que é a gente colocar e trazer, de forma clara, com a voz e os sentimentos dos atingidos, um processo histórico de racismo e violação, perpetuado pela mineração e que, hoje, é reforçado pelo processo de reparação na figura da Fundação Renova. Verônica Viana, assessora técnica da AEDAS A gente é analfabeto, mas a gente enxerga. A gente é pobre, mas tem a mesma dignidade que o rico. E quanto a pôr um contra o outro, lá no Gesteira, o que tá acontecendo é isso aí. A Renova tá colocando os vizinhos uns contra os outros. As pessoas que são militantes, eles deixam de lado. Porque, quem não frequenta essas reuniões, é porque não está entendendo o processo. Vera Lúcia Aleixo Silva, moradora de Gesteira


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ceito e racismo

Há algumas semanas, a Fundação foi à minha casa pra fazer um atendimento sobre moradia provisória, com um questionário de coisas tipo: “está bem? Está atendendo? Tem que reformar alguma coisa?”. E, lá no finalzinho, quando a gente já estava cansada, tinha a seguinte pergunta: “você é de algum partido político?” O que tem a ver, pra Fundação Renova, que é algo que teria que ter interesse em reparar um crime horrendo que aconteceu, saber se um atingido é ou não filiado a algum partido político? Então é fato que há, sim, uma perseguição a militantes, uma perseguição a negros e uma perseguição à luta. Mas, como ficou bem claro aqui, nós não estamos dispostos a desistir. Mirella Lino, moradora de Ponte do Gama

Estou aqui representando o São Gonçalo, onde eu e minha família moramos. Eu não sou negra, mas senti um pouco de discriminação, porque lá tem deficientes, crianças, idosos que já caíram. Não recebemos nada, apenas umas quatro famílias receberam. As outras não tiveram direito a nada, nem respostas. Eu cansei de ultrapassar essa lama para buscar remédio nesses quatro anos. Cadê nosso respeito? Nós não estamos tendo, é isso que pedimos: respeito e dignidade. Aline Monteiro Fraga Mol, moradora de São Gonçalo

APARASIRENE NÃO ESQUECER Fotos: Joice Valverde e Sérgio Papagaio

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O que eu tenho para dizer, infelizmente, todo mundo já sabe: o racismo, aqui em Barra Longa, é pesado. Vou começar pela rua Primeiro de Janeiro, que é uma rua escondida. O que pega em Barra Longa é que a Samarco, infelizmente, é cruel com todos. Entre nós, barralonguenses mesmo, pecamos por discriminar o próprio colega. Isso não é coisa que se faça, não, gente. Quando nós ficamos 11 dias na BR, no sol quente, tomando água quente, tendo comida com doações nossas mesmo, um sofrimento, e o povo de Barra Longa nos criticava, dizendo que nós éramos vagabundos. Nós não estávamos procurando só por nós, se hoje tem médico ali na UPA, agradeçam a nós, porque lutamos por isso. Adriano Felipe da Silva, morador de Barra Longa A Renova, na hora de mandar a lama, mandou, na hora de acabar com o serviço da gente, que é preto e pobre, o engenho lá onde a gente trabalhava, ela cortou os nossos cartões. Agora, a gente que mora no alto do morro, a Renova não teve a dignidade de vir aqui explicar porque estava cortando o cartão. Ligaram ou mandaram uma carta, mas não tiveram a dignidade de vir aqui dar uma explicação, porque, se ela visse a situação de como a gente vive, todo o serviço de roça que a gente tinha, veio a lama e acabou com tudo. Os ricos, fazendeiros, estão lucrando, porque a turma vem e traz os trabalhadores de fora para o serviço de roça. Nós somos pretos, cabelo ruim, é por causa disso? Vocês não dão serviço para nós, mas trazem gente de fora. Os pais de família daqui vão fazer o quê? Gilda Maria Cardoso, moradora de Barra Longa


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Outra coisa que Renova mais gosta de fazer é criar briga entre vizinhos, porque, quando eu falo em discriminação, eu falo por parte de pele e também a maneira de se tratar o atingido. O fazendeiro tem um direito X: “ah, não, aquele ali é pobre, o direito dele vai ser outro e vai ser pago mais para frente”. É isso o que eu escuto. Inclusive, vou deixar bem claro que aconteceu comigo também, eu sou militante, toda a manifestação que faz, eu tô dentro. Me falaram: “você quer ter os direitos reconhecidos? Sai fora da BR, sai fora dessa luta”. Eu falei que não, no dia em que vocês pagarem todo mundo, vocês me param. Eu jamais vou permitir que um irmão meu fique sem nada, não vou ser egoísta a esse ponto. Wagner Eduardo da Silva (Marreta), morador de Barra Longa Eu acho muito errado o jeito deles falarem, né, eu só quero saber se nós temos direito ao cartão, porque, desempregada, como eu vou ficar? E as pessoas que vão lá são maltratadas. Sempre que vou lá, tratam a gente com ignorância, com grosseria, com falta de educação. Desse jeito, como vamos viver sem trabalhar, sem o cartão, parado, todo mundo desempregado? Carmem Lúcia Cardoso da Silva, moradora de Barra Longa Outra coisa, gente, foi acordado um documento desse no CIF, falando que todos os atingidos que foram deslocados de suas casas tinham direito a 20 mil reais de deslocamento, aí eles fizeram uma reunião com a gente e falaram: “Fulano, Fulano e Cicrano têm direito”, que era os quatro pretos que estavam na sala, pra não falar que eram preconceituosos. Mas os quatro pretos, até hoje, nunca receberam um real desse dinheiro, e eu cansei de perguntar. Vocês não respeitam documento? Isso é um direito do atingido, mas eles passam em cima de tudo. Então, gente, se isso não for preconceito, se isso não for perseguição, eu não sei o que nós estamos fazendo aqui nessa terra contaminada que, até hoje, eles continuam falando que a nossa terra não tá contaminada. É muito triste falar isso, porque hoje, no mundo em que nós estamos vivendo, o preconceito é a coisa que mais mata o cidadão, porque dói no fundo da alma, dói lá dentro, porque você jamais pode ser julgado pela cor da sua pele. Pelos seus atos sim, mas pela cor da pele não. Eder Felipe da Silva, morador de Barra Longa

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Quase imbatíveis A vinda para Mariana fez com que o time masculino de futebol, o União São Bento, tivesse de se readaptar. O técnico Onésio Isabel de Souza nos contou as histórias e os desafios enfrentados pelo time. Por Onésio Isabel de Souza Com o apoio de Joice Valverde e Wigde Arcangelo

Quando eu era criança, morava numa roça mais pra baixo do Bento. Eu sempre jogava bola no campo de lá. Com 16 anos, eu vim para o Bento e entrei no time de lá. Quando o time de Bento parou, eu estava com uns 40 anos. Retornar o time, na época, foi muito difícil. Agora, mudou muito. Eu não queria nem mais mexer com time, não. Eles arrumaram o campo, que estava puro mato, precisavam de alguém de comando para mexer, aí me convidaram, eu entrei e nós formamos o time de novo. A importância no começo foi que, quando acabou o time, os meninos não tinham nada para fazer, só aprontar. Jogar bola é uma forma de tirar a molecada da rua. Na época, foi bom, todo mundo abraçou o time. Nós éramos quase imbatíveis. No segundo ano em que remontamos o time, passamos o ano inteiro sem uma derrota, tanto faz torneio quanto amistoso. Pelo papel social, ganhei um troféu de Gente que Faz, ele era de pedra. Ele desapareceu com o rompimento da barragem. Lá era bastante luta; hoje, aqui, a gente chega e encontra tudo arrumado, mas lá eu arrumava o serviço sábado, ia para o campo limpar, cortava uma grama, fazia marcação, lavava vestiário para jogar domingo de manhã. Nós chegávamos no campo depois do almoço de sábado e só íamos embora às 19 horas, 20 horas. No retorno, com jogador foi até tranquilo, o difícil foi o financeiro. Tivemos dificuldade com os uniformes, tivemos que comprar tudo de novo. Tinha um homem que nos emprestava uniformes, ele mexia com igreja. Um dia, marcamos um jogo na mesma hora da missa, aí, por isso, ele falou que não ia emprestar. Para jogar bola nesse dia compramos os uniformes. Depois, fomos comprando e ganhando outros uniformes, mas o primeiro foi doído. A gente jogava mais torneio. Em Bento, os troféus ficavam na minha casa. Aqui, cada um leva um para sua casa. Lá, o campo era no caminho para a minha casa, todo mundo passava e via os troféus na minha sala e aqui não tem como. Aí, aqui, a gente divide. Hoje, a cara do time mudou muito, até porque, em cidade, é assim: um dia um tá, o outro não tá. Alguns até desistiram de jogar bola. Hoje, aqui em Mariana, precisamos reforçar com outras pessoas de fora de Bento. Se ainda fosse lá na roça, podia garantir que o time seria o mesmo de antes e estava bom demais. Mas, na cidade, muda muito. Aqui, às vezes, o cara sai para a festa e não aparece para jogar no dia; na roça, não tinha disso. Hoje, aqui, nós temos uma facilidade na parte financeira, mas, na parte disciplinar de jogador, piorou. Temos a união que tínhamos na roça, mas o compromisso mudou. Aqui, quando o jogo tá quase começando, chega um atrasado correndo. Temos uma vitória especial, quando fomos jogar lá no Mineirão, nosso time contra o de Paracatu. Ganhamos deles de 2 x 1. Aqui na cidade é muito difícil fazer isso, mas, quando voltarmos para o Bento, pensamos em fazer umas três categorias (principal, júnior e juvenil) para não deixar acontecer o que hoje está acontecendo com o time: aqui só tem uma categoria e, se sair uma ou duas pessoas, você não tem como repor. Onésio Isabel de Souza, morador de Bento Rodrigues


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Fotos: Joice Valverde

Acima, foto do time União São Bento, em Mariana. Ao lado, Onésio segurando um dos troféus do time.


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Estudo revela contaminação no ecossistema atingido pela Barragem de Fundão Por Gladston Figueiredo, Crislen Machado, Jéssica Augusta e Ellen Barros Com informações de Dulce Maria Pereira e Mirella Lino Foto: Cáritas

Participaram da coletiva Simone Silva, atingida de Barra Longa e militante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB); Mirella Lino, atingida da comunidade de Ponte do Gama, em Mariana, e estudante da UFOP; Marino D’Angelo, atingido da comunidade de Paracatu de Baixo e integrante da Comissão de Atingidos pelo Rompimento da Barragem de Fundão (CABF), em Mariana; Helder Magno da Silva, procurador da República de Minas Gerais; Lineu Vianna de Oliveira Ribeiro, engenheiro agrônomo e assessor técnico dos atingidos pela Aedas, em Barra Longa.


Janeiro de 2020 Mariana - MG

APARASIRENE NÃO ESQUECER

Uma pesquisa realizada pelo Laboratório de Educação Ambiental, Arquitetura, Urbanismo, Engenharias e Pesquisa para Sustentabilidade (LEA-AUEPAS), da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), constatou a presença de contaminantes no solo, na água, no ar e nos alimentos das localidades atingidas pelo rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana e em Barra Longa. Após quatro anos do crime das empresas Samarco, Vale e BHP Billiton, em Mariana, ainda não haviam estudos aprofundados sobre os riscos diante da exposição aos rejeitos de minério. A pesquisa, encomendada pelas assessorias técnicas dos(as) atingidos(as) de Mariana, por meio da Cáritas Minas Gerais, e de Barra Longa, executada pela Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (AEDAS), contraria o que foi extensivamente divulgado pela Fundação Renova a respeito dos resíduos depositados nas localidades como um material inofensivo. Destaca-se também que os resultados corroboram estudos similares realizados por outras instituições independentes. “Essa lama, depois de algum tempo, libera poeira, vai pro ar e as pessoas respiram ela. As pessoas estão em contato com a água do rio, por onde a lama passou, elas estão comendo o peixe do rio e estão em contato com aquilo que a Renova diz que não faz mal algum, o tempo todo.” Mirella Lino, atingida de Ponte do Gama e membro da Comissão de Atingidos pela Barragem de Fundão, em Mariana (CABF) Em Mariana, a análise do solo destaca a presença de elementos como arsênio, cromo e mercúrio em índices maiores do que é permitido por lei. Na água, foram detectados arsênio, chumbo, ferro, manganês, mercúrio e níquel, todos em concentração superior à permitida pela legislação. A pesquisa pode complementar dados apresentados por representantes do Ministério da Saúde às comunidades atingidas, que revelou “perigo urgente para a Saúde Pública” em diversos pontos no caminho dos rejeitos. A contaminação pode acontecer por meio da ingestão, inalação ou absorção pela pele das partículas de solo e da poeira domiciliar que contenham esses elementos tóxicos. Em dezembro, moradores das comunidades atingidas de Mariana e de Barra Longa convocaram uma coletiva de imprensa para denunciar a contaminação. A coletiva aconteceu em Belo Horizonte, no dia 6, mesmo dia em que o relator especial sobre substâncias e resíduos perigosos (tóxicos) do Conselho de Direitos Humanos da ONU, Baskut Tuncak, esteve na capital mineira. Ele participou de uma reunião com as organizações da sociedade civil sobre a contaminação das áreas atingidas pelo crimes das empresas Samarco, Vale e BHP Billiton, em Mariana, e da Vale, em Brumadinho. Durante a coletiva, Mirella Lino expôs sua indignação sobre a forma como as empresas têm agido diante da contaminação. “O que as empresas fizeram foi maquiar aquela lama com algumas espécies de plantas exóticas” e completa, “o fator causador de todos os males ainda está no território, maquiado, mas está. O que as empresas estão fazendo agora é reestruturar a comunidade em cima da lama”. De acordo com a pesquisadora que coordenou o estudo desenvolvido pela UFOP, Dulce Maria Pereira, os danos provocados pelos elementos tóxicos identificados na pesquisa são severos e podem causar desde conjuntivite até infertilidade. No entanto, a pesquisadora destaca que há precedentes na forma de lidar com realidades similares em outros países e que o Brasil pode aprender com a experiências internacionais no trato com a mineração. Com a constatação da contaminação no ecossistema atingido, cabe aos responsáveis pelo crime e aos poderes públicos agirem de modo a reduzir os danos à saúde das pessoas e ao meio ambiente como um todo. Para tanto, é fundamental a escuta atenta e a participação efetiva da população atingida para que a gestão do risco aconteça sem que acarrete novas violações de direitos.

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EDITORIAL Os(As) atingidos(as) pelo crime cometido pelas empresas mineradoras Samarco, Vale e BHP Billiton lidam, há quatro anos, com grandes mudanças estruturais, físicas e psicológicas em suas vidas. Obrigados(as) a se encaixarem em uma rotina exaustiva de reuniões, audiências, conversas, preenchimento de documentos, formulários, encontros, manifestos e a luta diária em busca da reparação, o cotidiano se torna cada vez mais duro. Como se não bastasse, a comunidade atingida ainda enfrenta casos de racismo, de perseguição e de discriminação. Na matéria especial deste mês, trazemos alguns depoimentos da Audiência Pública que aconteceu em novembro, em Barra Longa, em que os(as) atingidos(as) denunciaram a perseguição política aos militantes, racismo institucional e discriminação por parte da Fundação Renova/Samarco. Nas denúncias, fica evidente que o processo de reparação se dá de forma desigual e que a população negra atingida e dos bairros periféricos (onde a lama de rejeito foi depositada) está desassistida, sem auxílio financeiro, sem o conserto de suas casas e sem direito de escolha. Além disso, nos questionários de visita da empresa criminosa, a Renova questiona a posição política dos(as) atingidos(as). A troco do quê? Também trazemos, nesta edição, uma segunda parte da matéria sobre a toxicidade da lama de rejeitos e a contaminação dos territórios atingidos. As perguntas que ficam para todos nós é: e agora? Para onde iremos? Após a divulgação dos estudos, ainda não é possível saber ao certo qual caminho seguir. Infelizmente, a certeza que os(as) atingidos(as) carregam é a de que sua saúde está em risco. É preciso lembrar que os(as) atingidos(as) são atingidos(as) porque o rejeito percorreu toda a bacia do rio Doce e ainda gera inúmeras consequências à vida em dezenas de territórios. A Fundação Renova/ Samarco se aproveita de manobras judiciais para atuar de forma negligente e prejudicial às comunidades. Diante de todas essas questões, é preciso continuar na luta. É preciso abraçar aquilo que traz esperança, como o time União São Bento, de Bento Rodrigues. Nesta edição, o técnico Onésio conta um pouco das dificuldades enfrentadas pelo time com a mudança para Mariana e as suas expectativas em relação ao futuro, quando o reassentamento de Bento estiver pronto.


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