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Comunidade de Gesteira busca solução para casas trincadas
A comunidade de Gesteira continua sendo atingida diretamente todos os dias pelas atividades da Renova. Vários moradores e moradoras precisaram deixar suas casas por conta do risco que as trincas estão gerando. O enorme tráfego de caminhões e máquinas causa rachaduras nas paredes, o que abala a estrutura das construções.
O Ministério Público Federal (MPF), representado pelo Procurador da República Carlos Bruno Ferreira da Silva, assinou o acordo com a Renova sem antes consultar as pessoas atingidas, que se sentiram traídas por não terem sido ouvidas por quem, na teoria, está ao lado delas. Para resolver essa situação, aconteceu uma reunião na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), no dia 19 de maio, a fim de denunciar a discordância da comunidade em relação aos valores oferecidos para a reforma das casas. Houve reclamações também em relação à lista de pessoas contempladas, pois muitas pessoas que moram na comunidade não foram incluídas.
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A deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT) encaminhou três ofícios para instituições do Judiciário pedindo a revisão do acordo, a reconsideração dos valores estipulados, novas vistorias, a retomada do projeto de assessoria técnica aos atingidos de Barra Longa e a garantia de custeio de moradia provisória por parte da Renova.
No dia 16 de junho, Beatriz foi a Gesteira ouvir os moradores e as moradoras. A deputada, com sua equipe, visitou a casa de Dona Chica e a escola da parte alta da comunidade, que está desativada por conta de problemas com vazamentos (que A SIRENE já denunciou em outubro de 2022). Beatriz voltará a Gesteira neste mês de julho para visitar mais casas com trincas.
“Deixar claro, após essa decisão, após esse acordo que o Ministério Público Federal, os ministérios e a Defensoria assinaram, que nós não reconhecemos eles mais como porta-voz dos atingidos. A Bacia do Rio Doce num todo declara que ele não representa mais, o Ministério Público e a Defensoria não representam mais os atingidos. Se é para falar, se é para saber sobre nós, se é para decidir sobre nós, nós precisamos estar presentes, porque eles não nos representam mais.”
Simone Silva, moradora de Barra Longa
“Eu falei com meu marido: ‘esse rolo [máquina de rolo de asfalto] vai atrapalhar essa casa, porque, na hora que chega, a casa chega a tremer’. Aí ele falou: ‘vou pedir pra eles colocarem mais longe’. Ele pediu, mas entrou aqui [num ouvido] e saiu cá [no outro]. Cê lembra? Tirando o óleo das máquinas nas estradas. ‘Se um não deixar abrir acesso pra passar, como é que vai arrumar?’ Aí eu calei. Isso durou dois meses. Todo dia o mesmo arranco, todo dia o mesmo arranco. Saí correndo de casa e esqueci o laudo pra trás, procê ver. Se tivesse me dado o dinheiro do laudo, eu arrumava minha casa. No laudo, tá falando que o material dela é fraco, me pedindo as notas do cimento que construiu ela, a nota do arquiteto. No tempo, não existia o arquiteto. Meu pai que era o pedreiro e nós, os serventes. E ainda falou que minha casa é ruim, que minha casa é fraca. Deu zero pra mim. Não recebi nada.”
Adelina Coelho, moradora de Gesteira
“Nós estamos precisando de reforço. A situação nossa não está bonita não. A Renova tá num preconceito danado com Barra Longa. Barra Longa é a cidade mais atingida pela lama e a lama está lá até hoje. Fizeram um parque de exposição maravilhoso, mas esconderam a lama debaixo lá, tá tudo lá. E a minha casa… Eles demoliram a minha casa, porque a lama passou nela. Ela rachou toda, demoliu ela. Construiu um trem que não tem nada a ver. E a construção que eles fizeram… As paredes estão rachando, estão quebrando. E agora colocou a nossa casa na trinca, sendo que é reassentamento. Nossa casa não pode ter trinca, nossa casa tem que ser reassentamento e lá é área de risco. Não tem como. Eu não volto pra lá não. Saí de lá vai fazer oito anos e eu não consegui voltar lá mais. Perdi meu pai chorando, querendo voltar pra casa e não tinha como. Perdi uma sobrinha de 13 anos que morreu também por causa da poeira. E eu tô correndo atrás de um reassentamento para Barra Longa.”
Maria Aparecida Silva, moradora de Gesteira