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“A Mônica de hoje é a Mônica que as empresas transformaram”
Mulher, atingida pela mineração, lutadora. Mônica corre atrás, todos os dias, há quase oito anos, dos seus direitos e de toda a comunidade atingida pelo rompimento da barragem de Fundão em Mariana. Sua história é um símbolo do desastre-crime de 5 de novembro de 2015. Sua vida tomou um rumo diferente; ela se graduou em Direito. Ela precisou se adaptar, criar uma “armadura” para conseguir lutar por si e pelos outros. Mônica é uma das pessoas atingidas à frente da Comissão dos Atingidos pela Barragem de Fundão (CABF), já recebeu muitos “nãos”, já conquistou direitos para a comunidade e nunca desistiu, mesmo com o caminho sendo mais dificultado por seu rosto ser associado à luta.
Com toda essa história, Mônica foi escolhida como a primeira convidada para a roda de conversa presencial do projeto de extensão Flor de Anahí, coordenado pela professora do curso de Serviço Social da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e integrante da Frente Mineira de Luta das Atingidas e dos Atingidos pela Mineração (FLAMa), Kathiuça Bertollo. O projeto foi iniciado no período da pandemia de COVID-19 e agora, em seu terceiro ano de atividades, as conversas passaram a ser presenciais e a contar também com a parceria da Cáritas.
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O evento aconteceu no dia 22 de junho, no auditório do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA-UFOP). Estiveram presentes estudantes do curso de Serviço Social, participantes do projeto organizador, a professora Kathiuça e representantes da Cáritas.
“É uma posição [liderança da CABF] muito pesada, porque a gente está lidando com as três maiores empresas da mineração, as três maiores empresas assassinas, que constituíram a fundação e, ao invés de ela fazer a função para qual ela foi constituída, vem renovando o crime a cada dia, porque, a cada reunião, a cada momento, são vários direitos sendo violados. Eu sei que, com essa minha posição, minha busca por justiça, eu, minha família e quem está mais próximo a mim estamos pagando caro como uma consequência dessa minha posição. Mas, ao mesmo tempo, é gratificante, porque teve situações de eu encontrar com pessoas da comunidade me agradecendo por eu ter ajudado a conseguir um direito, sabe? A gratificação que eu tenho é quando essas pessoas chegam para mim agradecendo e pedindo ajuda, como se eu fosse a pessoa que fosse solucionar todos os problemas. Eu sei que não é assim. Eu sei que cada direito que a gente conquistou foi através de muita luta, muita renúncia, né? Porque posso falar que são oito anos do crime, oito anos que eu vivo por isso, para isso. Eu costumo falar que a Mônica de hoje não é a Mônica que a minha mãe fez, a mesma Mônica que a minha mãe criou. A Mônica de hoje é a Mônica que as empresas transformaram.”
Mônica Santos, moradora de Bento Rodrigues
“Não tem como a gente não pautar o enfrentamento e a luta à mineração, às mineradoras e à atuação da Fundação Renova, enfrentamento protagonizado por mulheres aqui da região. É esse o debate, é sobre essa questão de estar entre as nossas companheiras e dar visibilidade à luta que elas protagonizam. A essência desse projeto é no sentido social, político e coletivo.”