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De Bebedouro para o mundo, grupo InSenso movimenta a cena do hip-hop local e da Inglaterra
S
e a música de Bebedouro ganha contornos de inovação, Rafael Alonso (Pastel), Breno Peixe (Rasta) e Raul Borges (Ralves), os três integrantes do grupo InSenso, são dos principais responsáveis pelo feito, colocando a cidade no mapa do rap nacional. O grupo começou de uma forma inusitada em 2009. Rafael, de 28 anos, e Breno, de 32, eram praticantes do le parkour – modalidade esportiva na qual o atleta usa de saltos e equilíbrios para se deslocar sobre obstáculos, como bancos, rampas, escadas e árvores. Entre um movimento e outro no esporte, Breno começou a usar o freestyle (versos livres) para fazer rimas em alusão ao novo amigo.
Arquivo pessoal
Trio composto por artistas multifacetados recorre a influências distintas e defende valores como a solidariedade entre artistas Breno, Rafael e Raul
Eu acredito que o rap não pode perder nunca essa veia intensa de denúncia de tudo o que consideramos injusto.
As influências e o processo criativo “Eu coloquei na minha cabeça que queria fazer música. Ajudou muito no início o fato de o meu primo ser produtor de house (vertente de música eletrônica), o que fez com que eu pesquisasse bastante e começasse a experimentar alguns samplers (mix de sons a partir de um aparelho) e batidas que pudessem se encaixar com o que a gente pretendia”, recorda Rafael, estudante de educação física, budista, vegano e praticante de artes marciais. B-boy ao longo da juventude, Breno trouxe do perfil dançarino dos desafios de break a malemolência que o InSenso transparece nos shows. Adepto da religião rastafári, tatuador profissional e capoeirista, ele expressa muito da sua arte utilizando a melodia do berimbau e a voz que despeja versos fortes e decididos, como nas canções “INSS” e “Poesia denuncia”.
O consenso que deu origem ao nome InSenso só veio, no entanto, quando o caçula Raul, o Ralves, de 25 anos, passou a dividir os vocais e a composição das letras com a dupla. O estudante de direito afirma que bebeu na fonte do punk rock e considera-se defensor da luta política que o rap promove nos palcos contra o preconceito racial e a desigualdade social. “Eu acredito que o rap não pode perder nunca essa veia intensa de denúncia de tudo o que consideramos injusto. Jamais podemos nos acomodar. Até para manter a tradição de um som e de uma cultura que sempre lutou contra a discriminação de toda ordem e que, infelizmente, ainda existe contra o próprio rap”, constata.
Novos projetos Reticências (2010) foi o primeiro álbum de estúdio gravado pelo trio. Agora, De Tom Sério, Sátira carece de alguns ajustes antes do lançamento, que deve acontecer até junho. Enquanto isso, as apresentações não param em festivais e eventos musicais de todo Estado. Mas se fechar dentro de si nunca foi a opção dessa rapaziada que preza pela solidariedade como grande fim. As dificuldades comuns das bandas independentes para conseguir gravar incentivaram o InSenso a aglutinar artistas da região em torno de uma ideia. Foi assim que Rafael montou, dentro do seu fusca, um projeto itinerante de gravação. Microfones e outros equipamentos foram instalados no carro do ano de 1983, dando a
possibilidade dos músicos montarem e mixarem suas músicas de graça. O apuro técnico das canções e a pluralidade dos versos chamou a atenção do rapper britânico Conor Nutt, que os convidou para gravar uma mixtape com outros 12 artistas, no ano passado, já lançada na Inglaterra. A música Reflexão Cotidiana faz parte da coletânea lançada pela banda The Peregrine Falcons. O InSenso foi o único grupo latino-americano a participar. E a parceria não para. Um novo som já vem sendo costurado com Nutt e, ao que parece, Bebedouro vai ficar pequena para tantas novas melodias e experimentações. Até onde o InSenso vai chegar? Pela quantidade de combustível na mente do trio, o fusca ainda tem muitos quilômetros a percorrer.