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Empresários do setor avaliam tendências para o futuro do Mercado Bioenergético

Executivos do setor avaliam tendências para o futuro do Mercado Bioenergético

As usinas elevam sua importância sócio econômica e planejam ações de crescimento

Diante do atual cenário de ten− dências mundiais na área de ecologia, sustentabilidade, transição energética, mudanças climáticas e até mobilidade inteligente, quais são as perspectivas de futuro que se podem vislumbrar para o mercado bioenergético.

Quem acompanha o setor, viu ce− nário semelhante em meados de 2004/2005 quando o segmento pas− sou por uma enorme transformação. Com entrada de grandes players in− ternacionais, muitas usinas se alavan− caram para crescer e talvez até pela empolgação e falta de prudência, muitas enfrentaram problemas e fica− ram pelo caminho.

Se ficar pelo caminho não é uma das perspectivas mais atraentes, quais são as alternativas e possibilidades que permitam as usinas prosseguirem a passos largos em seus projetos de cres− cimento e expansão. O assunto foi te− ma do 6º CEO Meeting promovido pelo JornalCana na quarta−feira, dia 18 de agosto, com patrocínio das em− presas Autojet from Spraying Systems, AxiAgro, Netafim e S−PAA Soteica.

Sob a condução do jornalista e diretor do ProCana, Josias Messias, o webinar contou com a participação de Gustavo Henrique Rodrigues, CEO da Clealco, Jean Gerard Lesur, diretor superintendente Usinas na Viterra e Walfredo Linhares, CEO do Ingenio Valdez no Equador.

Gustavo Henrique Rodrigues, CEO da Clealco, destaca o papel so− cioeconômico das usinas e comenta que há duas décadas, o grande desafio era a questão ambiental, com a elimi− nação da queimada, o que obrigou as usinas a se reinventarem nesse aspecto. “Hoje nosso destaque é socioeconô− mico, e as usinas têm uma influência muito grande nos locais onde estão instaladas. Nós, por exemplo, influen− ciamos diretamente 27 municípios ” , afirmou, comentando ainda o benefí− cio da volta das operações da Unidade Clementina, na última safra, que gerou 700 novos empregos na região.

Para o executivo, o momento é de aproveitar as oportunidades de mer− cado e se fortalecer em termos de ca− pacidade financeira, de estrutura de capital e fazer investimentos em me− lhorias operacionais. “O grande passo é estar preparado, assim como um maratonista tem que se preparar para correr 42km, a gente tem que se pre− parar a cada momento para os desafios que o crescimento nos impõe ” , argu− mentou.

Para Jean Gerard Lesur, diretor su− perintendente Usinas na Viterra, é preciso olhar mais atentamente para a área agrícola, onde estão concentrados 75% dos custos.

“Temos que concen− trar ações no plantio, no desenvolvi− mento de novas variedades mais resis− tentes à seca, ampliar o uso de defen− sivos biológicos em detrimento dos produtos químicos, com a ampliação do uso racional da vinhaça ” , disse. Le− sur também defende o investimento em treinamento dos colaboradores, para que eles se sintam parte inte− grante de todo o processo. Ele acredi− ta que o setor pode ampliar sua atua− ção no segmento de cogeração de energia e também na produção do biometano, através da vinhaça.

Segundo o diretor, o setor passou muito tempo apenas tentando “ man− ter a cabeça acima da água ” e agora chegou o momento de investir em tecnologias para conseguir se perpe− tuar no mercado.

Walfredo Linhares, CEO do Inge− nio Valdez, localizada no Equador, fa− lou sobre a perspectiva na comunida− de Andina das Nações, que reúne Equador, Colômbia, Peru e Bolívia. Segundo ele o setor sucroalcooleiro na região apresenta números bem mais modestos se comparados aos do mer− cado brasileiro.Estamos falando de uma produção de 600 a 700 mil toneladas de açúcar ao ano e de 150 milhões litros. Walfredo acredita que o grande desafio para o setor é a busca pela eficiência com suporte tecnológico.

“Se você tem um desafio de cada vez ser mais eficiente, acho que é efi− ciência na transformação dessa matéria− prima nos produtos finais nos cobra a fazer um investimento, nos cobra ser dedicados para cada vez mais levar pro− dutos aos consumidores.E podemos es− tar bastante orgulhosos de ter uma pe− gada de carbono super baixa ” , acredita

Com relação à mobilidade urba− na,Walfredo entende que já existe um caminho pela eletrificação, principal− mente em veículos e ônibus urbanos. Mas segundo ele, isso ainda está longe de acontecer, principalmente pela fal− ta de infraestrutura e pelo alto valor de aquisição dos veículos elétricos.

Questão climática

Gustavo Henrique, da Clealco, lembrou do impacto das questões cli− máticas e sua interferência nas macro− tendências. “Não tem como a gente não associar toda a questão climática vivida exatamente nesse momento. Tanto no hemisfério Sul no inverno, como no verão no hemisfério Norte, com severas e significativas mudanças, que preocupam de maneira acentua− da toda a população global. Então o grande caminho a ser seguido, é a busca pelas energias limpas ” , disse.

O CEO da Clealco ressalta ainda que o setor que por natureza, é alta− mente sustentável na questão da pro− teção ambiental e isso é absolutamen− te uma macrotendência muito impor− tante e positiva. “As usinas passaram a ter um papel mais relevante na matriz energética devido à biomassa. E temos potencial para entregar muito mais do que estamos disponibilizando no mo− mento ” , disse, completando “Então analisando a questão do dos fatores macros, acredito que o contexto das mudanças climáticas, a necessidade de energia limpa e o posicionamento histórico de êxito que o Brasil desen− volveu, tanto no etanol quanto na co− geração de energia, podem ser ampla− mente majorados no seu uso e na sua disponibilidade de forma a equilibrar sua matriz energética ” , enfatizou.

O executivo ressaltou também que a melhoria de performance, re− dução de custo, e condições de se− gurança está ligado a capacitação das lideranças. “Então sempre focado nisso, em fazer mais com menos e a cada dia poder fazer um pouco me− lhor do que a gente fez no dia an− terior ” , disse.

Para assegurar a perpetuidade das usinas Walfredo Linhares, defende a simplicidade de gestão buscando o máximo rendimento agrícola com máximo rendimento industrial. As ferramentas para isso vão desde a tecnologia, é inevitável estar falando hoje de transformação digital nas empresas. “É inevitável falar de redu− ção de mão−de−obra diante de cada vez mais processos automáticos, cada vez mais processos inteligentes. E a incorporação desta tecnologia inte− ligência e vai nos levar a eficiência que precisamos ” , afirmou.

Segundo ele, vivemos um mundo vestido de incertezas. “Com mais vo− latilidade tanto do ponto de vista cli− mático, com o ponto de vista de comportamento do consumidor e você conseguir diversificar o seu ne− gócio a partir do conhecimento e agrícola adquirido placar a partir do conhecimento industrial e de gestão de negócios possibilita a perpetuação ” , defende Walfredo.

Uso do etanol para gerar eletricidade ajuda a criar um novo Proálcool, afirma pesquisador da Unicamp

Confira entrevista com Hudson Zanin, que está à frente de estudo que emprega células a combustível de terceira geração para gerar eletricidade a partir do biocombustível

Que os veículos com motores elétricos ganharão modelos econo− micamente acessíveis, isso é apenas questão de tempo. As montadoras correm contra o tempo nessa direção e o Brasil, com frota de pouco mais de 57 milhões de automóveis, oferece vigorosa oportunidade para o merca− do de eletrificação.

Entretanto, o tão falado fim dos motores a combustão está longe de significar a aposentadoria do etanol, seja o hidratado (motores flex) ou o anidro (misturado em 27% à gasoli− na). Isso porque o biocombustível é fonte estratégica para uma tecnologia que alimenta os motores elétricos com o veículo em movimento.

Essa tecnologia atende pelo no− me de célula a combustível a etanol, que o JornalCana já tratou em edi− ções anteriores por meio de entre− vistas com Gonçalo Pereira, profes− sor de Biologia da Unicamp; Jaime Finguerut, diretor do Instituto de Tecnologia Canavieira (ITC); e com Pablo Di Si, CEO da Volkswagen América Latina.

Entre outras informações rele− vantes, esses especialistas atestam, em coro, que a eletrificação dará sobrevi− da ao etanol justamente por ele ser âncora da célula a combustível.

No entanto, é preciso destacar que essa tecnologia está em fase de desen− volvimento seja por iniciativas de montadoras, seja por instituições liga− das a universidades. Mas um fato é certo: não dá para saber quando ela chega ao mercado.

Mas chegará logo, isso é certo.Até porque as montadoras que patrocinam tais iniciativas correm contra o tem− po. No mais, tem o Programa Rota 2030, criado em 2018 como parte da estratégia elaborada pelo Governo Federal em um contexto no qual o setor automotivo sinaliza profundas transformações, seja nos veículos e na forma de usá−los, seja na forma de produzi−los.

O Rota 2030 investe no desen− volvimento de tecnologias e tem programas prioritários de investi− mentos, caso do FINEP 2030. Pois em julho deste ano foi aprovado pro− jeto do Programa de Armazenamen− to Avançado de Energia (AES), do Centro de Inovação em Novas Ener− gias (CINE), que une indústria e aca− demia. No caso, o projeto contem− plado se propõe a desenvolver uma solução para veículos elétricos com geração embarcada de eletricidade a partir do etanol.

Em outras palavras, essa solução ajuda a criar um novo Proálcool, co− mo afirma Hudson Zanin, pesquisa− dor principal no CINE no AES. É que a tecnologia que está ‘ no forno ’ é es− tratégica no universo da célula a com− bustível a etanol. E, sendo assim, o biocombustível será a âncora e a razão de viver da solução em estudo.

Para entender mais sobre o que é essa nova tecnologia, JornalCana en− trevista Zanin, também professor na Faculdade de Engenharia Elétrica da Unicamp, onde atua na pesquisa e no desenvolvimento de armazenadores de energia. Entusiasta do desenvolvi− mento nacional, ele é o fundador da primeira manufatura de baterias e su− percapacitores do hemisfério sul.

Antes da entrevista,vale explicar que o novo projeto desenvolverá duas clas− ses de baterias, além de células a com− bustível de terceira geração com refor− mador de etanol interno e externo.

No sistema proposto, as células a combustível vão gerar eletricidade a partir do etanol, enquanto as baterias de lítio−enxofre funcionarão como armazenadores e fontes de alta densi− dade de energia, e baterias de lítio ri− cas em níquel farão o papel dos siste− mas de potência.

Jo or rna alC Cana − C Como o f funci iona esse sist tema a em fa as se e de des sen nv vo olvimento?

Hudson Z Zani in − O veículo usará a infraestrutura do Brasil do jeito que está. Ou seja, vai ao posto e carrega com etanol, como se faz hoje em dia. A diferença é que o veículo será ele− trificado, com o motor não mais a combustão, quando o etanol vai lá dentro e queima.

O etanol fará outro processo. En− trará na célula a combustível, que tem um reformador acoplado. Esse, que pode ser de diversas formas, faz a má− gica: transforma o etanol em hidro− gênio e monóxido de carbono (CO). Esses são os combustíveis da célula a combustível.

Aí, na hora que entra em contato com o íon (átomo) de oxigênio, que é transformado dentro da célula, o hi− drogênio e o CO viram água e dióxi− do de carbono (CO2). Daí, tem−se a produção de eletricidade.

A célula a combustível gera ele− tricidade, que roda o motor elétrico, o faz girar. Mas às vezes ela demora pa− ra aquecer, porque precisa funcionar a 650 graus. Por isso usa−se um con− junto de baterias menores, na compa− ração com o carro elétrico conven− cional, e um conjunto de capacitores.

A bateria dará a partida fria, aquela força inicial, quando o carro está frio ou quando se quer fazer ultrapassagem. Irá gerar potência extra no começo. Já o capacitor irá trabalhar com frenagem regenerativa, então se você tem um freio no motor na descida, tipo a ser− ra, colocará o motor para frear, sobre− carregar os freios, sobreaquecer, e ge− rar energia. O motor elétrico é muito mais eficiente: sua eficiência fica por volta de 70%, enquanto o motor a combustão fica no máximo em 45%.

Onde essa as baterias e a célula fi− − carã ão dentro do veíc culo?

A bateria, por exemplo, fica em− baixo do assoalho. Podem ser duas: uma de baixa e outra de alta potência. Pode−se ter capacitor.A voltagem irá depender da montadora.

As células a combustível também ficarão no veículo, mas fora do tanque de combustível.Você enche o tanque com etanol e ele será bombeado para as células. Depois vem a situação elé− trica citada anteriormente.

Do tanque se vai para a célula de combustível. É como se fosse o es− quema da injeção eletrônica. Não se tem isso mais.Você deixa de ter que enviar combustível para queimar.

Como ficam os tamanhos?

A gente já produz baterias do ta− manho de um smartphone, assim co− mo os capacitores. Agora iremos co− meçar a montar as células a combus−

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