JG_259 Janeiro / Fevereiro de 2020

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Jornal da Golpilheira • Janeiro / Fevereiro de 2020

entrevista

Pedro Carreira Henriques, primeiro médico natural da Golpilheira

“Vale a pena investir na educação e formação”

Entrevista de Manuel Carreira Rito

Sentiu logo na altura a vocação e o sonho de ser médico?

Não! Como estava no meio rural…. foi já no 6.º ano do Liceu, onde tinha de fazer a opção entre ciências e letras. Optei por ciência, para a qual tinha mais apetência. Mas… também fui sensibilizado pela minha mãe, que cuidou durante muitos anos de um tio que tinha um “nascido”, suponho que “cancro”. Ela dizia muitas vezes que lhe custava fazer aquele trabalho, mas que não havia mais ninguém que o fizesse.

Como foi o ensino secundário?

DR

Pedro Carreira Henriques, conhecido pelo nosso povo como “Pedro do Joaquim do Paço”, nasceu no dia 3 de Julho de 1947, na Golpilheira, então uma pequena, mas bonita, aldeia sobranceira ao vale do Lena, no concelho da Batalha. É o nono dos dez filhos de Joaquim Henriques e Júlia Carreira Soares, família pobre e humilde, mas séria e trabalhadora, como a maioria das famílias daquela época. Naquele tempo, era muito difícil os filhos das famílias pobres conseguirem chegar à universidade, quanto mais fazer o curso de medicina. O escritor brasileiro Augusto Cury aconselha “nunca desista dos seus sonhos”, pois, como bem canta Manuel Freire, “eles não sabem nem sonham que o sonho comanda a vida”. Assim fez o jovem Pedro e, com muito sacrifício, esforço, dedicação, inteligência, persistência e outros nobres adjectivos, conseguiu concretizar o seu sonho de ser vir a ser médico de clínica geral. De baixa estatura, mas com uma inteligência acima da média, demonstrou, como normalmente se diz, que “os homens não se medem aos palmos”. É casado há 34 anos com a enfermeira Maria Henriques e têm uma filha, Júlia, também ela médica, a concluir a especialidade de Patologia Clínica, no hospital de S. Francisco Xavier, em Lisboa. Vive em Castelo Branco há 35 anos, mas vem com frequência à sua Golpilheira”, nomeadamente, nas ocasiões festivas. Na verdade, nunca esqueceu a sua terra natal, onde construiu uma residência. Para conhecermos um pouco melhor a história deste ilustre golpilheirense, fomos entrevistá-lo.

Foram 30 anos de exercício médico

Nasceu numa família numerosa…

Sim, naquela altura, em finais da II Guerra Mundial, as famílias eram quase todas muito numerosas. Nasceram sete rapazes todos seguidos; eu sou o 9.º, fiquei no intervalo de duas raparigas.

Como recorda a sua infância?

Até ir para a escola, estive sempre em casa e apenas brincava com os vizinhos na rua. Não havia creche nem infantário como hoje. Sentia-me bem com o amor da minha mãe e o carinho dos meus irmãos. Eramos muitos lá em casa e todos unidos. Sentia-me protegido por todos. Ao atingir os 7 anos, entrei na Escola Primária e foi aí que comecei a ter mais convívio com colegas de outros lugares. Nas férias escolares, ajudava os meus pais na fazenda, porque havia trabalho para todos: ir à fruta, regar a horta, levar o jantar (almoço) na quinta do Sr. Pereira ao meu pai, ou aos meus irmãos à Cerâmica do Vale Gracioso. Havia coisas que gostava de fazer, outras não...

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Frequentou cá o ensino primário…

Sim. O ensino primário já era obrigatório até à 4.ª classe e era na “escola velha”: uma sala muito ampla que acolhia duas classes no mesmo turno. A escola não reunia condições de conforto e outras…. era o possível; apesar de tudo, tínhamos escola, professor e aprendíamos.

Os professores eram duros e exigentes... recorda alguma história?

O senhor professor Ferreira algumas vezes colocava os alunos mais velhos a ensinar os mais novos e a corrigir os trabalhos de casa. Um dia, fui eu encarregado de ir corrigir as contas de casa (TPC) no quadro aos alunos da 2.ª Classe. O colega estava a fazer tudo certinho e os restantes à volta do quadro a corrigir. Mas na conta de multiplicar, lá me distraí e o colega acabou por errar a conta. Conclusão, tive eu de fazer a conta e, no fim, a paga foi um par de reguadas. A distracção saiu-me dolorosa.

Foi feito no Colégio dos Maristas, em Leiria, onde hoje estão as instalações da Polícia Judiciária. Mas os exames de ciclo eram realizados no Liceu de Leiria. O 6.º e 7.º anos já foram em Lisboa, em Carcavelos, também no Colégio dos Maristas-Externato com Internamento. Eu era um aluno médio. Gostava de estudar e de saber mais e foi assim que cheguei a médico.

Mas não era normal um jovem ir para Lisboa, sobretudo de famílias pobres…

Poi não. Tive a sorte de o meu irmão José Casimiro se interessar por mim e pedir à tia Isabel, uma irmã do meu pai que vivia em Leiria, que me ajudasse nos estudos. A tia lá conseguiu que eu fosse para o Colégio dos Maristas e pagava a mensalidade. E foi assim que consegui sair da Golpilheira.

E depois qual foi a estratégia e preparação para entrar na universidade?

Após conclusão do 7.º ano liceal, alínea “F” da área de ciências, o passo a seguir era concorrer à Universidade; no meu caso, à Faculdade de Medicina de Lisboa, no Hospital de Santa Maria. Tinha de se fazer exame de admissão às disciplinas de Química Orgânica e Biologia. Fui admitido com dispensa de exame oral.

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