Braganรงa Paulista
Sexta
26 Janeiro 2018
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Jornal do Meio 937 Sexta 26 • Janeiro • 2018
Expediente Jornal do Meio Rua Santa Clara, 730 Centro - Bragança Pta. Tel/Fax: (11) 4032-3919
Não faltam riquezas.
Falta distribuição equilibrada.
E-mail: jornal@jornaldomeio.com.br Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli Jornalista Responsável: Carlos Henrique Picarelli (MTB: 61.321/SP)
Em virtude das férias do Mons. Giovanni Barrese, a coluna Para Pensar terá a colaboração do Desembargador Miguel Ângelo Brandi Jr. por Miguel Ângelo Brandi Jr
Vários são os indicadores de rendas e de distribuição, elaborados por inúmeros institutos de pesquisas, bancos e outras organizações. Esses dados me parecem importantes para se aferir o nível de concentração de riquezas, fator que está diretamente ligado ao combate da miséria e da pobreza. Com esses indicadores é possível conhecer as desigualdades econômicas e sociais mundo afora, concluir pelo desiquilíbrio dos atuais sistemas sócio-econômico-políticos e denuncia-los. Encontrar caminhos de superação fica como desafio permanente. Pensando em tema para este artigo, encontrei em meus arquivos duas matérias recentes sobre índices/ indicadores de riquezas e de concentração delas. Os dois são do site UOL/notícias. Vamos a elas. A primeira, de 15.01.2017, tem o título “oito pessoas têm a mesma riqueza que os 50% mais pobres, diz Oxfam”. A Oxfam é uma confederação integrada por 17 organizações e mais de 3000 parceiros, que atua em mais de 100 países na busca de soluções para o problema da pobreza e da injustiça, através de campanhas, programas de desenvolvimento e ações emergenciais. A entidade produziu estudos e divulgou o tal relatório objeto da primeira matéria por ocasião da realização do Fórum Econômico Mundial, cuja edição 2018 se inicia
logo mais, em Davos, Suíça. Davos é uma comunidadena Suíça, no Cantão denominado Grisões, com cerca de 11.000 habitantes. Estende-se por uma área de 283,98 km². De acordo com esses estudos (2016/2017), os oito empresários, todos homens, acumulavam a mesma riqueza que a metade da população mundial mais pobre, 3.6 bilhões de pessoas. Nessa ocasião, afirmou a diretora-executiva da Oxfam, Winniw Byanyima, que “quando uma em cada dez pessoas no mundo sobrevive com menos de US$2 por dia, a imensa riqueza que acumulam apenas alguns poucos é obscena”. Em 17.01.2017, uma segunda matéria foi publicada, agora sob o título “6 homens têm a mesma riqueza que 100 milhões de brasileiros juntos, diz ONG”. A mesma Oxfam, com base nos estudos que realizou e que levaram em conta dados (de 2016) da revista Forbes e do banco Credit Suisse, as seis pessoas mais ricas do Brasil concentrariam a mesma riqueza que toda metade mais pobre da população do país. A fortuna então somada dessa meia dúzia de brasileiros foi estimada em US$79,8 bilhões, cerca de R$258 bilhões de reais ao câmbio da época (2016), segundo a revista Forbes, concluiu o estudo da Oxfam. A edição de hoje da Folha de São Paulo (22.01.18, caderno Mercado, pag. A17), traz matéria sob o
título “Ascenção de bilionários foi recorde em 2017”. Diz a matéria, de autoria de Fernanda Mena, que, “no ano passado, 233 pessoas entraram para o clube dos bilionários do mundo, onde já se espremiam 1810 ultrarricos. Dessa lista, 43 são brasileiros. Diz ainda a autora da matéria que o fenômeno tem várias causas: melhor desempenho da economia global, alta histórica das bolsas, distribuição de lucros e dividendos cada vez mais vultosos, isenções fiscais, sonegação e a captura de políticas públicas pelas elites econômicas”. Relata Fernanda Mena que, no Brasil, dos 43 ultrarricos, 5 acumulam riqueza igual à da metade da população brasileira, o que implica em maior concentração, já que o estudo anterior dizia que 6 concentravam essa riqueza. Segundo ela, e sabemos todos, o país foi apontado por diversos estudos como um dos mais desiguais do mundo. As três matérias me estimularam a escrever sobre a questão da concentração de riquezas, não para nutrir ódio entre as pessoas. Longe disso. Mas para, a partir dos dados que se tem, provocar o tema em cada leitor, chamando-os à reflexão. Tenho sempre o cuidado de analisar estudos, relatórios e pesquisas com olhar voltado para o risco de leituras parciais ou descontextualizadas de seus conteúdos. Isso pode
remeter e geralmente remete o leitor a entendimentos parciais e perigosos sobre os temas. Mas aqui se extrai dos estudos referidos conclusões primeiras e inafastáveis, megadados, que resumem os longos trabalhos. Penso não haver dúvidas sobre a concentração de riquezas no mundo, inclusive por aqui. Penso também não haver dúvidas sobre a imoralidade do quadro que se constata e das consequências dele. Riquezas existem, mas não há distribuição, há concentração delas. Uma pergunta que não pode calar: nossos sistemas sócio-políticos e econômicos estão assentados em bases honestas, razoáveis, que levam a um viver saudável ? Dirão alguns: mas isoladamente o que posso fazer? Que podem fazer minha família, meus amigos, minha comunidade ? De fato, enfrentar o quadro mundial de concentração de riquezas e de falta de mecanismos de distribuição não é tarefa pequena, nem fácil. Mas talvez isso nos remeta à necessidade de rever conceitos e práticas do que fazer no “mundo” ao nosso redor. Rever as escolhas pessoais de vida, rever conceitos de valores, de opções. Rever lutas em favor de uma melhor distribuição de riqueza (rendas) a partir de nossas realidades próximas. Rever conceitos e lutas de superação de dificuldades. Isso pode me levar, por exemplo, a rever orçamentos
As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão. As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Bragança Jornal Diário.
pessoal e familiar e o destino de valores. Isso pode me levar, também, a assumir compromissos perante a sociedade, como por exemplo, o de acompanhar o destino do orçamento da minha cidade (para abordar apenas a realidade que me cerca mais de perto). Os orçamentos das cidades são peças legislativas importantes. Por elas, se destinam os recursos públicos (riquezas de todos) às ações dos Governos locais. É uma ferramenta de distribuição de riquezas que, arrecadas de muitos, serão destinadas a todos. A depender das opções orçamentárias (políticas públicas efetivas), essas destinações implicarão em distribuição de “riquezas”. Recentemente participei de uma audiência pública, na Câmara Municipal, sobre o projeto de lei orçamentária. Éramos menos de 10 pessoas (excluídos os funcionários da Casa e os Vereadores). Quase nada, frente a uma população superior a 150 mil habitantes. Uma temática oportuna para pensarmos e agirmos. Miguel Ângelo Brandi Júnior
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PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS
www.coquetel.com.br
Alcoólicos Anônimos (sigla) Superior de ordem religiosa (Catol.)
Oscar (?), polêmico escritor do século XIX, autor de "O Retrato de Dorian Gray" Habitante da cidade Afrontar; enfrentar
Perdido, em inglês
Promessas Local do pagode de mesa
Discursam em público Bárbaro
Patativa do (?): o Poeta do Sertão
(?) livre: estilo de redação escolar
(?)-estar: conforto
Sufixo de "saudosa"
Iguaria espanhola Bolsa de viajantes 62
Solução L A A W O
V I O L A R
N I D O R I E M A S S E A D E P C J U R A B A N I T A V O RA R E A R L T A T R F E R O B I M A Z E N A P M AL
O S A S A M P A G A L A
BANCO
Álvaro Alvim, médico brasileiro "(?), o que Querem as Mulheres", série da Rede Globo
Estilo de música dos Racionais MCs
Organismo como o bacilo Mercearias
Sucesso de Caetano Veloso (MPB)
A S S A R E
Pedro Marcelo Galasso - cientista político, professor e escritor. E-mail: p.m.galasso@gmail.com
Adotar; cumprir
M U L T I F U N C I O N A L
transformação da tendência anterior em ato da vontade humana em constituir as sociedades políticas. O Estado é, portanto, uma criação da inteligência humana, de sua arte e vontade, da organização e ação conjunta da razão e da vontade. Ainda que, forçosamente, façamos parte da família, da qual nos emancipamos, e mesmo escolhendo outras sociedades ou instituições para fazermos parte, de forma voluntária, do Estado nunca nos emancipamos, pois este é uma rede de laços inflexíveis e a mais importante das organizações. Em seu território, o Estado pretende ser a instituição suprema que pode, por isso, permitir ou proibir o que lhe aprouver para a garantia de sua manutenção, unidade e valores sociais e culturais, além de predispor quais as diretrizes das ações econômicas. O Estado é o poder de mando, como governo e dominação, sendo coativo e geral, ou seja, ele deve se impor a todos que habitam seu território; tem como objetivos a ordem e a defesa social, não se confundindo com a Sociedade, particular ou geral, pois atua na direção ou na perspectiva do bem público. Tal postura lhe garante a autoridade e a força, que nada mais é que a manifestação concreta do poder. No Estado, a autoridade é o direito de mandar e dirigir, bem como poder como a força por meio da qual se obriga alguém a obedecer. Como a autoridade é um elemento essencial do Estado, ela faz parte do seu modo de ser e, aqui, o Estado tem o monopólio da força que efetiva sua autoridade. Por isso, somente ao Estado é permitido o uso da força física, pois ele pretende usar esta força em razão e como o proposito para o bem público e as normas para alcançar tal objetivo máximo constituem o Direito.
A maior e mais pesada ave brasileira
L
A sociedade nasce de uma associação entre pessoas, instituições e costumes criados pela necessidade de desenvolvimento de suas aptidões físicas, morais e intelectuais, segundo normas de parentesco que foram se tornando mais complexas com a passagem do tempo e com o aumento dos grupos sociais. Aqui, foram criadas, sancionadas e aceitas algumas normas que seguem costumes, a moral ou a lei. Além disso, a sociedade nasce com a família, a língua, as instituições religiosas e, depois, as instituições do mundo adulto, como organizações profissionais, econômicas ou morais. Logo, são criados laços de obrigações que envolvem a cada um de nós e cuja construção e sanção é coletiva, algo que chamamos de Estado, a sociedade política. Vale ressaltar que nem todo grupo humano é uma sociedade. Por exemplo, a plateia de um espetáculo não é uma sociedade por possuir um objetivo efêmero e, portanto, não permanente. A sociedade é, segundo Giddings, “uma coletividade de indivíduos reunidos e organizados para alcançar uma finalidade comum”, ou seja, a sociedade é uma organização permanente e com um objetivo comum. Jolinet escreve que a sociedade é uma união moral de seres racionais e livres, organizados de maneira estável para a realização de um objetivo comum e conhecido por todos. Como sociedade política, o Estado é organizado segundo as normas do direito positivo que nada mais é que a hierarquia entre governantes e governados cuja finalidade é o Bem Público. Como traços fundamentais do Estado, temos a sociedade natural; a necessidade da vida social e aspiração do bem comum; obra da inteligência e da vontade de membros de um grupo social e com influência e exercício do governo; o bem comum como um regime de ordem, de esforços coordenados e cooperação organizada; a causa da existência do Estado é a natureza humana, racional e perfectível;
51, em romanos Forma de defesa das vias respiratórias contra engasgos
Traje de (?): é usado em cerimônias solenes She-(?), a irmã de He-Man (TV)
A
por pedro marcelo galasso
Impressora (?): esca- Designa a neia, imprime e copia pessoa Abrir a corresDigno de pondência alheia ambição
2/ra. 4/lost. 5/sampa — wilde. 6/paella. 8/urbanita. 9/anaeróbio — ouvidoria.
A sociedade e o Estado
© Revistas COQUETEL
Setor de uma empresa para reclamação
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Jornal do Meio 937 Sexta 26 • Janeiro • 2018
Treino e amizade Crianças do Clube de Campo aprendem sobre futebol e amizade
por Shel Almeida
Desde que o Educador Físico
Nossa ideia, para o futuro, é também ter
Alison França teve a ideia de criar
futebol feminino”, conta.
uma escolinha interna de futebol
Hoje são cinco categorias, divididas por
society no Clube de Campo de Bragança
faixa etária, para crianças a partir de seis
Paulista, a dinâmica de interação entre
anos de idade. Alison tem como parceiro
pais e filhos está diferente, principalmen-
nos treinos o também Educador Físico
te entre as mães e as crianças. Se antes
Wilson Santos.
elas costumavam deixar as crianças em uma aula específica enquanto iam para
É pela diversão, mas não é recreação
outra, agora elas acompanham o treino e já sonham em também começarem a
“A interação tem sido algo bem interessan-
aprender o esporte.
te. No futsal, os pais deixam as crianças
Tudo começou em 2015 quando ele, que
e vão para a academia. Ali, eles ficam
no clube já era professor de natação e
acompanhando os treinos. E no clube não
spinning, teve a ideia de trazer para o lo-
tem essa cultura de disputar campeonato
cal sua experiência em outras escolinhas
fora. Mas as famílias estão curtindo muito.
de futebol da cidade. No espaço já havia
Fizemos um uniforme para as crianças e
um campo próprio, que era pouco usado.
os pais também quiseram. Vários vieram
Só faltava mesmo a adesão das crianças.
me dizer que não gostavam de assistir
“No início eram apenas as crianças de 11
futebol, mas como o filho gosta, está
e 12 anos. Para os menores só havia os
acompanhando também, para aprender.
treinos de futsal. Desde o ano passado,
E a participação é bem maior de mães em
eles já podem começar a aprender direto
relação aos pais. Outra coisa bem bacana
no society. Este ano passou de 100 alunos,
que estou percebendo é que a postura das
inclusive meninas. Ainda não consegui-
famílias é bem educativa, de não intrometer
mos formar um time só com elas, mas
no trabalho dos treinadores. Ali não tem
em cada categoria temos duas ou três
aquela coisa de ‘meu filho jogou pouco’.
garotas treinando também, junto com os
E parte de nós também, claro, envolver
meninos, participando do campeonato.
todas as crianças da mesma forma, jo-
Mesmo focando apenas no aprendizado do esporte e não em resultados, crianças do Clube de Campo se tornaram vice-campeãs
Alison França é Educador Físico. Ele trouxe para o Clube de Campo aulas de futebol society para crianças
Alison com o parceiro Wilson Santos e os irmãos Gabriela e Rafael Aro. Meninas também participam dos treinos.
Jornal do Meio 937 Sexta 26 • Janeiro • 2018 gando a mesma quantidade de tempo.
não têm muitos amigos, depois de um mês
Até porque a nossa escolinha não é de
treinando mudam completamente, de eu
alto rendimento, não buscamos título.
precisar explicar que tem hora de falar
Aconteceu de sermos vice-campeões
e tem hora de prestar atenção, porque
ano passado, mas foi consequência do
falam o tempo todo”, brinca. .
trabalho, não a meta. Por outro lado,
Diferente de escolas de futebol que visam
não é recreação. Buscamos trabalhar os
o alto rendimento e onde só permanecem
fundamentos e ensinar o esporte para as
aqueles que se destacam, os treinos no
crianças”, explica.
clube visam, acima de tudo, a interação
Pelo que Alison conta, o ambiente para
social, algo que tem se perdido no esporte,
que as crianças aprendam o esporte é leve,
sobretudo no futebol, vide as violentas
sem disputas internas e de apoio mútuo.
brigas entre torcidas que sempre tomam
Todos estão ali para aprender e não para
os noticiários. Boa parte dessas crianças
se destacarem ou gerar disputadas des-
que treinam hoje não terão o esporte co-
necessárias entre si. “Ali no clube, o que
mo profissão. Mas o que aprenderem ali,
eu percebo também é que, apesar das
levarão para a vida toda, independente
crianças estarem amando o futebol, elas
da profissão que seguirem. O respeito às
não gostam só de futebol. Elas praticam
diferenças e a união não são fundamentos
outros esportes também, tênis, judô,
importantes dentro do esporte à toa.São
natação, o que é muito importante para
os que fazem toda a diferença. Se todos
o repertório motor delas. Quanto mais
quiserem ser o artilheiro, quem será o
diversidade de esporte a criança praticar,
goleiro? Trabalhar em equipe é o básaico
melhor será sua coordenação motora.
do futebol. E isso os alunos de Alison têm
Quem só pratica futebol, por exemplo, não
entendido muito bem.
desenvolve tão bem a coordenação dos
“Uma das coisas que mais me chamou a
braços, como na natação e no tênis.”, fala.
atenção foi quando fomos disputar um
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campeonato extra clube e, em um jogo Sociabilidade
super equilibrado, assim que acabou
Outro benefício que os treinos de futebol
o primeiro tempo eu perguntei para o
têm trazido para a garotada é no que se
grupo: ‘vocês querem que todos joguem,
refere à sociabilidade. De acordo com o
arriscando perder o jogo, ou preferem
professor, muitos pais o procuram a fim de
tentar ganhar mantendo os melhores
melhorar o convívio dos filhos com outras
e mais preparados em campo?. Ainda
crianças. “Aqueles meninos que chegam
faltavam quatro crianças para participar.
quietos, calados, e que os pais contam que
Todas jogaram.”
Clube de Campo no momento tem cinco categorias, a partir dos seis anos.
Todos participam dos jogos, não apenas o com mais aptidão para o esporte. O convívio e o aprendizado é mais valorizado no time do que o rendimento.
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Eventos corporativos Plataformas para organizar eventos de pequeno porte crescem na rede
por FLÁVIA G. PINHO/FOLHAPRESS
Há algo de novo no universo dos workshops, palestras e lançamentos de produtos. Duas start-ups paulistanas desenvolveram plataformas para organizar eventos corporativos sem que o cliente precise sair do escritório. Fundada em 2016 pelo publicitário Marcelo Moreira, com investimento inicial de R$ 1,5 milhão, a Evnt realizou cerca de cem eventos no primeiro ano de operação. Funciona assim: o usuário, que deve ser pessoa jurídica, se cadastra no site e escolhe o local onde quer realizar o evento -são 150 hotéis registrados, em oito Estados. Depois, define a infraestrutura necessária, desde telões até comida. Ao final, paga pela própria plataforma, usando boleto ou cartão de crédito. “Como exploramos o conceito do ‘faça você mesmo’, nos concentramos nos eventos de baixa complexidade, como treinamentos e workshops”, afirma Moreira. Neste ano, a Evnt recebeu aporte de R$ 1 milhão, que vai viabilizar a fase dois da plataforma. Metade veio de um investidor-anjo, e o restante, de recursos próprios. “Vamos passar a oferecer hospedagem”, diz Moreira. A empresa, que já tem 11 funcionários, espera faturar R$ 4 milhões em 2018. Para o publicitário, a organização de pequenos eventos corporativos representa um nicho enorme que ainda carece de exploração. “Uma grande indústria farmacêutica, por exemplo, chega a programar 3.500 eventos de pequeno porte por ano.” MUDANÇA DE RUMO Em novembro de 2016, quando lançou a Celebrar, a empresária Camila Florentino, 28, planejava se concentrar na organização de festas de formatura. Formada em lazer e turismo, ela queria eliminar os intermediários da cadeia para oferecer orçamentos até 50% mais baratos. “Via que 94% dos fornecedores contratados eram micro e pequenas empresas. Eles recebiam valores bem abaixo do que o dono da festa efetivamente pagava. A maior parte ficava com os intermediários”, afirma. Aos poucos, porém, a vocação da Celebrar foi mudando. Florentino e as sócias, Patrícia Cella e Monna Santos, entenderam que havia maior potencial de crescimento nos eventos corporativos. E para um tipo de público muito específico: empresas da área de tecnologia. As demandas do setor não chegam a ser muito diferentes: clientes desse perfil também precisam de estrutura de audiovisual, coffee break, brindes. A diferença está nos prazos. “É um nicho mais dinâmico, quase frenético.
Já organizamos um evento em apenas sete horas”, conta a empreendedora. Ao mudar o foco, a Celebrar acertou em cheio. Desde maio, já foram realizados 150 eventos. A cartela de clientes inclui empresas como Google, a rede de coworkingWeWork e as aceleradoras Startup Farm, Liga Ventures, Darwin Starter e B2Mamy. “Faturamos R$ 100 mil em outubro de 2017, contratamos uma pessoa e já estamos pensando em aumentar a equipe”, diz Florentino. Para continuar crescendo, porém, a empresária prevê investimento pesado em tecnologia -por enquanto, os negócios são iniciados pelo site, mas o processo de personalização e o pagamento são fechados por e-mail. “Ainda não saímos em busca de investidores, mas estamos abertas a isso. Sabemos que, sem um aporte de peso, não temos como atingir o nível que pretendemos.” O setor de organização de festas e eventos deve se preparar para mudanças profundas nos próximos anos. Essa é a opinião de Marcelo Flores, coordenador dos cursos de gestão de eventos da ESPM. “Alguns segmentos já funcionam muito bem na base do ‘faça você mesmo’. É fácil, por exemplo, criar e imprimir convites e folhetos de forma remota. As pessoas se viram com a menor equipe possível”, afirma. Para o professor, marketplaces de fornecedores têm potencial para extrapolar os eventos corporativos e conquistar outros públicos. “Esse modelo é viável até mesmo para os casamentos. A noiva que não tem verba para contratar uma empresa formal de organização pode assumir tudo sozinha, por que não? Vai faltar apenas alguém para gerenciar tudo no dia, mas acho que as plataformas podem evoluir nesse sentido”, diz Flores. A predominância de empresas de pequeno porte no setor também é um fator que favorece a inovação, afirma Ana Claudia Bitencourt, presidente da Abeoc Brasil (Associação Brasileira de Empresas de Eventos). Segundo ela, “em nenhum segmento dessa área há uma grande empresa dominante. Existe espaço para inovação e criatividade, especialmente em nichos específicos.” Em parceria com o Sebrae, a Abeoc Brasil vai lançar um programa de qualificação para empresas de eventos em 2018. O objetivo é capacitar os empreendedores no conjunto de normas técnicas criadas pela Abepc, em parceria com a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e o Sebrae. “Começar a atuar com qualidade, dominando as normas técnicas, é uma grande vantagem competitiva”, diz Bitencourt.
(Foto: Patricia Stavis/Folhapress
Marcelo Moreira, 53, sócio da Evnt, plataformaparaorganizareventos, no escritório da empresa, em SP.
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Paciente de CTI
Não tem nutrição adequada, estudo mostrou que 40% das pessoas internadas não recebem uma dieta calórica apropriada para sua condição. Especialistas afirmam que falta atenção para a terapia nutricional e que pacientes devem cobrar seus médicos por PHILLIPPE WATANABE/FOLHAPRESS
O centro de tratamento intensivo (CTI) é um dos lugares com maior vigilância e assistência médica dentro de um hospital. Mesmo assim, a desnutrição e a ausência de ingestão calórica adequada são problemas nessas unidades, de forma semelhante ao que ocorre em outras alas de unidades de saúde. Ao analisar os CTIs de 116 hospitais (públicos, privados e hospitais-escola) da América Latina, pesquisadores descobriram que 70% dos 1.053 pacientes estudados apresentavam desnutrição moderada ou grave mesmo recebendo terapia nutricional –procedimento que auxilia na nutrição do paciente internado. Além disso, em cerca de 40% dos pacientes a ingestão calórica era inadequada. “Eles recebiam a nutrição, mas havia um deficit. Ela era dada, mas não era suficiente para atingir o que o paciente precisava”, afirma Maria Isabel Correia, médica especialista em nutrição da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e uma das autoras da pesquisa, publicada na revista “CriticalCare”, que analisou a situação nos hospitais. Quadros de desnutrição que não recebem os cuidados necessários podem agravar o risco de morte, diminuir a eficácia e aumentar o tempo de tratamento dos pacientes, além de elevar a chance de reinternações –e, consequentemente, os custos hospitalares. Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, os cuidados com o estado nutricional dos pacientes –tanto os que chegam quanto os que já estão nos hospitais– costumam ser considerados secundários. “A equipe de saúde dá muito mais importância para outros medicamentos, coisas ligadas à sobrevivência aguda dos pacientes do que propriamente à dieta”, diz Paulo Ribeiro, coordenador da equipe de terapia nutricional do Hospital Sírio-Libanês. No caso dos CTIs, contudo, há outro fator agravante –que, pelo menos em parte, pode explicar o elevado nível de desnutrição encontrado pela pesquisa. Ribeiro, que não participou do estudo, diz que pacientes com quadros graves de inflamação ou doenças agudas têm uma resistência sistêmica que dificulta a recuperação de massa muscular e tecidos. De forma geral, o corpo destina a nutrição recebida à defesa imediata do organismo. O especialista afirma que, nesses casos, há dificuldades em balancear a carga calórica que o paciente recebe. “Conhecemos muito pouco desses mecanismos para poder burlá-los de forma efetiva.” De toda forma, “a doença mais prevalente nos hospitais brasileiros se chama desnutrição”, diz Correia, que tem repetido esse alerta há anos. REALIDADE HOSPITALAR A pesquisadora da UFMG demonstrou, em outro estudo publicado em 2016, a elevada prevalência –de 40% a 60%– da desnutrição em pacientes internados. O quadro, embora preocupante, não é recente. Há quase duas décadas a publicação do Inquérito Brasileiro de Avaliação Nutricional Hospitalar (Ibranutri) já demonstrava a situação de desnutrição entre pessoas internadas. Para Correia, é importante a disseminação de equipes de terapia nutricional, além do monitoramento, a partir de auditorias, do seu funcionamento. “A terapia não pode ser vista como algo a mais, mas, sim, como parte integral do cuidado do paciente.” Segundo José Aguilar do Nascimento, presidente da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral, a formação nas faculdades de medicina pode ser um dos caminhos para que se preste mais atenção aos aspectos nutricionais durante internações. Além disso, os pacientes e seus familiares devem ficar vigilantes sobre a situação nutricional e, quando
necessário, cobrar atenção quanto ao assunto. “A nutrição no hospital é um direito do doente”, afirma Dan Waitzberg, professor da faculdade de medicina da USP. Procurado pela reportagem, o Ministério da Saúde afirma que, no Brasil, há 424 hospitais habilitados para terapia nutricional, que devem contar com um
grupo multiprofissional composto por, no mínimo, um médico, um nutricionista, um enfermeiro e um farmacêutico. “Além do custeio, o Ministério da Saúde tem desenvolvido ações que visam o fortalecimento da terapia nutricional no âmbito hospitalar”, como a realização de cursos de capacitação, afirma a pasta em nota. Arte: Folhapress
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