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Braganรงa Paulista

Sexta 12 Marรงo 2010

Nยบ 526 - ano VIII jornal@jornaldomeio.com.br

jornal do meio

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Para Pensar

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EXPEDIENTE Jornal do Meio Rua Santa Clara, 730 Centro - Bragança Pta. Tel/Fax: (11) 4032-3919 E-mail: jornal@jornaldomeio.com.br

QUEM É NOSSO DEUS E QUEM SOMOS NÓS?

Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli Jornalista Responsável: Alexandra Calbilho (mtb: 36 444)

MONS. GIOVANNI BARRESE

Estamos caminhando no tempo simbólico da quaresma. Como se sabe, o número 40 na Bíblia tem o significado de um tempo largo, onde coisas importantes acontecem. Os cristãos marcam com esse tempo a preparação para a festa da Páscoa. Recordando momentos finais da vida terrena de Jesus - a traição sofrida, a prisão, a tortura e a morte – olham a certeza da Ressurreição como fato fundante do sentido da Vida. Nesta perspectiva, aninhada no terceiro domingo quaresmal, surge a partir da experiência de Moisés, a pergunta: “Quem é nosso Deus?” Moisés estava vivendo no deserto. Tornara-se pastor ao entrar para a família de Jetro, casando-se com uma de suas filhas. Tomou esse rumo porque fugira do Egito após a denúncia de ter morto um egípcio que agredia a um judeu. Mesmo estando longe e numa vida pacata não esquecia as agruras do seu povo. Deus vai buscá-lo. Para fazer dele o condutor para fora da terra da escravidão. Moisés aceita a missão, mas coloca a pergunta: “Se

me perguntarem quem me enviou o que devo dizer? Qual é o nome de Deus por quem sou enviado?” E Deus lhe responde: “Dirás “Eu sou” me enviou”. O nome de Deus, repetido mais de 6000 vezes na Escritura, afirma a sua fidelidade. Deus quis para si um povo e o quis livre. Se o povo, por sua infidelidade, vai traindo o Senhor este não desanima e continua com seu projeto de amor. Incansável, fiel. Corroborando a afirmação da fidelidade de Deus o trecho da carta de São Paulo afirma que não basta crer (aceitar Jesus como hoje muito se fala) em idéias. É preciso que a vida traduza a crença. Que a fé declarada seja fé vivida. E não é difícil cair no perigo de dissociar crença e ato. A última leitura proposta, o evangelho de Lucas, coloca narrativa de duas situações que foram marcadas pela morte: a primeira levada a Jesus - o assassinato de galileus no templo -, a segunda narrada por ele - a queda de uma torre que causou morte também. Na interpretação dos rabinos as mortes eram consequência de pecados cometidos.

Segundo a sua visão doutrinária as desgraças recaem sobre quem tem mais pecados que os outros. Jesus rebate essa interpretação, mas não entra na questão do “porquê” dos acontecimentos. Ele aproveita para dizer que quem não corresponde aos dons divinos perecerá como aqueles que são marcados pelas desgraças, tidos como mais pecadores. Vamos procurar explorar isso. Jesus faz comparação com uma figueira que há três anos não produz frutos. A figueira é conhecida em terras palestinas pelo fato de dar fruto quase o ano todo. Ora, três anos sem nada é um sinal de que o melhor destino é o fogo. O dono manda cortá-la. Intervém um serviçal e pede um pouco mais de tempo. Vai cuidar melhor da planta para ver se as coisas mudam. Se não mudarem... Ao olhar essa parábola me veio em mente a situação vivida no Haiti e no Chile atingidos por terremotos. E a situação de muitas cidades do nosso país marcadas pelas enchentes. Não bastasse o sofrimento de ver barracos e casas ou inundados ou destruídos, as pessoas tiveram que

lidar com os saques. Impressionoume especialmente a situação do Chile. O povo chileno era tido em alta estima pela sua cordialidade. A própria sociedade chilena se considerava já num patamar que não mais previa o que aconteceu. De repente os noticiários anunciam os roubos. E não só de pobres assim agindo. A tal ponto que li o depoimento de um engenheiro, residente em bairro nobre, que viu gente de bom padrão econômico a roubar seus visinhos. Dizia ele que não sabia como iriam recompor-se as relações sociais depois de tal comportamento. O fato próximo dos terremotos e das enchentes nos ajuda a entender a palavra de Jesus. As desgraças naturais ou provocadas não atingem pessoas mais pecadoras. Todos estão sujeitos a elas, pecadores ou não. Quando nossa vida, porém, não é marcada pela fidelidade a Deus que nos quer como filhos e filhas, brotam do fundo do coração as raízes de maldade que carregamos. E na maldade que provocamos, nos igualamos aos que consideramos

As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão. As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Jornal do Meio Ltda.

castigados pelas desgraças. Os saques ocorridos mostram o quanto de malignidade pode se esconder atrás de sorrisos, de expressões de serenidade, de cortesia. E até, infelizmente, da expressão exterior de religiosidade. Nunca o sofrimento e as perdas alheias poderiam ser motivo de aproveitamento para os outros. Lembro-me da frase de empreiteiros italianos quando do terremoto em Áquila, linda cidadezinha perto de Roma. Diziam, rindo, num telefonema gravado pela polícia: “È l’ora di guadagnare soldi!” (é hora de ganhar dinheiro). Infelizmente sempre haverá os que querem tirar proveito do sofrimento dos outros. Nós temos que tomar cuidado para não fazer a mesma coisa!


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Lembranças do tempo Comerciante fala dos hábitos e costumes de uma Bragança rural que começava a se modernizar por MARIANA VIEL

As lembranças do comerciante Nestor as plantas para fazer o lago”. Rodrigues são capazes de nos transNegócio de família portar para um passado que muitos Para abastecer as famílias dos colonos que bragantinos sequer chegaram a conhecer. Filho de imigrantes (pai espanhol e mãe moravam e trabalhavam nas fazendas da italiana), ele se mudou ainda criança com a região, o pai de Seu Nestor construiu uma família para uma casa na esquina das ruas pequena mercearia na entrada da própria casa. Ele conta que no começo a Mercearia Teixeira e Guarani, no Lago do Taboão. Mais do que apenas um dos primeiros mora- comercializava apenas alguns itens que não dores do bairro, Nestor é testemunha viva das eram produzidos nas fazendas como açúcar, principais mudanças geográficas e culturais sal e farinha. “Essas coisas como verdura, que uma das mais importantes regiões da legumes e ovos nós não vendíamos. Tudo isso cidade sofreu ao longo dos últimos 50 anos. era produzido nas fazendas, eles procuravam Das ruas de terra batida e paralelepípedos ao coisas que não existiam”. fluxo intenso de veículos da principal via de Também era uma prática comum da época a acesso da cidade. Nenhuma transformação comercialização de porta em porta de parte passou impune pelo olhar do comerciante. da produção excedente dos colonos. “Eles vendiam os frangos de casa Ele se lembra que durante em casa. Penduravam as a infância brincava com os filhos dos colonos das Era tudo muito calmo. aves de cabeça para baixo fazendas, onde atualmente, Nós não tínhamos nem em um pedaço de madeira estão os bairros São José, vizinhos. Pra se ter uma e saiam andando. Quando Jardim Nova Bragança e ideia a rua Guarani chegavam lá pra baixo já Santa Helena. “Na minha tinha apenas duas casas tava tudo vendido”. infância, não sabia o que quando nos mudamos. Nestor diz ainda que eram era sapato. Passava o dia Lá pra cima do São José vendidos alguns tipos de inteiro pra cima e pra baixo não tinha nada doces tradicionais e cachaça – os produtos mais brincando com a molecada. Nestor consumidos na mercearia. Antigamente não existia O local pode, inclusive, ser nenhuma dessas casas que você vê, toda essa área era fazenda. Tinha considerado a “balada” mais antiga do Lago apenas a estrada de ferro que passava logo do Taboão. “Na época era só a gente e uma outra mercearia da esquina debaixo, onde aqui em baixo”. O clima bucólico também se refletia na vida hoje funciona uma sorveteria. No final do tranquila dos moradores. Seu Nestor afirma dia os colonos vinham pra cá e ficavam só que ao contrário do barulho dos bares e restau- na cachacinha”. rantes, apenas o som dos cavalos e das carroças Tempo de mudanças predominavam sobre o silêncio. “Era tudo muito calmo. Nós não tínhamos nem vizinhos. Pra se Depois da morte do pai, em 1964, Nestor ter uma ideia a rua Guarani tinha apenas duas teve que assumir o negócio da família para casas quando nos mudamos. Lá pra cima do continuar sustentando a mãe e as irmãs. Ele confessa que no começo a intenção era São José não tinha nada”. O próprio Lago do Taboão – o cartão postal ficar apenas provisoriamente na mercearia. mais admirado da cidade – construído em “Pensei em ficar apenas um tempo e depois meados da década 1960, foi um dos primeiros passar a mercearia pra frente. Com o tempo sinais das mudanças que a região sofreria. fui acostumando com o serviço e acabei “Antigamente era tudo Taboa (planta aquática decidindo ficar”. típica de brejos e várzeas). Com o tempo os Além da necessidade de continuar cuidando funcionários da estrada de ferro foram tirando da mãe e de duas irmãs, Seu Nestor fala que também começou a gostar das tardes animadas de bate papo com os colegas na mercearia. “O pessoal se reunia e nós passávamos a tarde conversando. Até hoje tem uns colegas meus que vêm aqui”. Uma das primeiras mudanças que Seu Nestor promoveu no antigo comércio do pai foi acabar com a venda fiada Ao longo dos anos, o comerciante foi ampliando o estoque e a variedade de produtos de mercadorias.

“Na época do meu pai era tudo feito na base da confiança porque eram todos conhecidos dele”. Ele se lembra que o movimento na mercearia diminuiu quando ele implantou a obrigatoriedade do pagamento à vista, mas afirma que aos poucos foi conseguindo reorganizar as coisas.

Desde 1964, Seu Nestor trabalha na mercearia construída pelo pai

Modernidade e tradição Com o passar do tempo ele começou também a alterar e ampliar o estoque e a variedade de produtos oferecidos. “À medida que os fregueses iam pedindo, eu procurava os produtos e trazia para vender. Fui fazendo tudo devagar”. Atualmente, a mercearia possui uma grande diversidade de produtos alimentícios, de higiene pessoal e utilidades para a casa. Nestor diz que a clientela da mercearia é composta, principalmente, por pessoas que estão de passagem pela rua e moradores de casas vizinhas. A mercearia é uma opção para os produtos que acabam no dia a dia. Muitas pessoas recorrem ao comércio de Seu Nestor quando precisam de apenas um ou dois produtos que estão fazendo falta. “É uma opção quando falta uma lata de massa, uma cebola ou uma batata para o almoço. O movimento aqui é lento, mas toda hora entra uma pessoa para comprar alguma coisa”. Mesmo depois de ampliar a variedade de produtos, o comerciante afirma que o grande campeão de venda continua sendo a boa e velha cachaça. Nestor diz que ao longo de tantos anos trabalhando no comércio aprendeu a não se aborrecer ou incomodar com os clientes que acabam exagerando um pouco na bebida. “É como em toda a profissão, a gente acaba aprendendo a ter paciência. Os clientes também me respeitam muito e eu nunca tive nenhuma amolação”. Junto com as mudanças também nasceu a vontade de manter os móveis antigos, da época em que a mercearia foi inaugurada. As prateleiras e os produtos pendurados no teto parecem fazer parte da própria decoração. Apesar de quase todos os produtos vendidos por Seu Nestor, também serem facilmente encontrados nas grandes redes de supermercados, a combinação com os móveis de madeira maciça reproduzem uma forte atmosfera de passado.

Devagar e sempre Seu Nestor ainda divide a casa com uma das irmãs. É ela que o ajuda na limpeza da mercearia. Mais de 40 anos depois de assumir o negócio da família, ele fala que não existe uma única coisa que ele não goste de fazer na mercearia. “Não tem nada no serviço que me incomoda”. O comerciante explica que apesar de abrir a

Comércio está localizado na rua Teixeira, 126

Nestor explica que um dos produtos mais vendidos são os doces

mercearia quase todos os dias, inclusive aos finais de semana, não segue muito à risca um horário de funcionamento. “Não tenho muita hora para abrir, nem para fechar. Quando tenho algum compromisso e preciso resolver alguma coisa fecho tudo e abro depois. Não tenho mais porque correr tanto. Hoje em dia é tudo muito mais devagar”. Ele explica que faz todas as compras da mercearia direto dos representantes das marcas. Sempre que tem oportunidade, Seu Nestor explica que gosta de comprar novidades para oferecer aos clientes. “Tomo muito cuidado porque coisas como salgadinhos e produtos de luxo não têm saída”.

Saudades Aos 70 anos de idade e depois de resistir a tantas mudanças, Seu Nestor afirma que a coisa que mais lhe dá saudades é a própria mocidade. “Gostaria de ter vinte e poucos anos, e toda a experiência que eu tenho hoje. A vida vai ensinando muitas coisas para gente”.


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Responsabilidade social Empresários unem esforços para arrecadar doações para pacientes de câncer

por MARIANA VIEL

No começo do mês de fevereiro, a posto, da Esso ou dos próprios clientes”. Associação Bragantina de Combate ao Para Sylvia as principais características de Câncer (ABCC) recebeu uma doação de ações sociais desse tipo são a mobilização 6 mil reais, fruto de uma parceria entre a Esso, e a união de todos os envolvidos. “É muito o Rotary Clube de Bragança e as redes Tasca satisfatório porque na verdade essa não é uma e Sabella de postos de gasolina. Participaram coisa compartimentada do posto. Sentimos do evento de entrega do chegue membros do como que fosse um mutirão trabalhando Rotary, parceiros da ABCC, proprietários e em prol de uma coisa maior. Isso é muito funcionários dos postos e representantes gratificante e impulsiona a vontade de todos da Cosan – empresa detentora dos ativos participarem”. de distribuição de combustíveis e produção Ela explica ainda que antes do início da e lubrificantes da Esso no Brasil. campanha os funcionários dos quatro postos A doação aconteceu através de uma campanha envolvidos receberam orientações sobre os realizada entre 1º e 31 de dezembro de 2009 diversos tipos de câncer, tratamentos da em quatro postos – dois da Rede Sabella e dois doença e importância do trabalho da ABCC. da Rede Tasca. Ao longo do mês, dois centavos “Eles estavam muito preparados e conscientes (R$ 0,02) de cada litro de do espetacular trabalho gasolina aditivada vendida que fariam. Ouve um ennos postos foram destinaAcho que a Esso e volvimento muito grande dos à entidade. “Pode até os proprietários dos postos dos funcionários”. parecer que dois centavos deram um exemplo que é Projeto piloto é pouco representativo possível fazer alguma coisa. Há cerca de 20 anos o como doação, mas como Nesse primeiro momento, movimento de Responsatrabalhamos com um mais importante do que lucro de centavos por litro o valor arrecadado foi a bilidade Social Empresarial extremamente baixo esse questão da mobilização do ganhou força no mercado valor torna-se bastante segmento empresarial em brasileiro. Atualmenconsiderável”, explica a adotar medidas que tragam te mais do que apenas sócia gerente da Rede benefícios para entidades o preço e a qualidade Tasca, Sylvia Maluf. sociais do município dos produtos, o público também tem voltado seu Ela diz que a iniciativa da Rita Valle olhar para as boas práticas campanha surgiu durante sociais e ambientais das uma conversa entre o empresas. gerente de território da Esso, Mauro Carneiro e o proprietário da A presidente da ABCC, Rita Valle explica Rede Sabella, João Sabella. “A ideia partiu que a ação fez parte de um projeto piloto deles, mas assim que tomei conhecimento da da Cosan para análise de uma possível nova proposta decidi participar”. Todo o material estratégia de marketing social. “Acho que a publicitário para divulgação da campanha foi Esso e os proprietários dos postos deram um exemplo que é possível fazer alguma coisa. feito pela Esso. O acordo entre a Esso e os postos previa que Nesse primeiro momento, mais importante cada uma das partes iria ceder um centavo do que o valor arrecadado foi a questão da (R$ 0,01) por cada litro de combustível mobilização do segmento empresarial em vendido – totalizando R$ 0,02 por litro. Ao adotar medidas que tragam benefícios para todo a Rede Tasca arrecadou 4,8 mil reais e entidades sociais do município”. os Postos Sabella 1,2 mil reais. O histórico Ela exemplifica que a prática do marketing de venda dos combustíveis em cada posto social está cada vez mais presente no dia a influenciou bastante a arrecadação. “Todos dia do consumidor. Ações relacionadas direos quatro postos se esforçaram muito. Essa tamente ao meio ambiente, aos funcionários não foi simplesmente uma ação isolada de um e à comunidade têm sido reconhecidas. “Esse

retorno pode ser comprovado na prateleira do supermercado. Quando o consumidor se depara com a embalagem de algum produto que é responsável socialmente e está trazendo algum benefício para a sociedade, ele tende a privilegiar essa marca. O consumidor já está tendo esse olhar diferenciado”.

Representantes da Cosan e dos postos de gasolina comemoram com os frentistas o bom resultado da campanha

ABCC Fundada em abril de 2003, atualmente a ABCC tem cerca de 300 pacientes de câncer cadastrados – com prontuário de atendimento direto. A captação de recursos da entidade acontece através do Bazzar da ABCC e de doações periódicas e pontuais. Rita também explica que a entidade recebe uma subvenção anual do Poder Público Municipal no valor de 8 mil reais. Apesar da valorização do conceito de marketing social, Rita afirma que as doações de pessoas jurídicas ainda são pouco representativas. Ela diz que atualmente, o número de parcerias consolidadas entre a entidade e empresas de diversos setores ainda é maior. “Ao invés de colaborarem com dinheiro, muitas empresas nos oferecem serviços ou produtos que necessitamos. São parcerias importantes porque, muitas vezes, conseguimos evitar alguns gastos”.

Impactos sociais O trabalho de entidades e organizações não governamentais têm ainda impactos diretos na administração pública. Elas atuam no suporte de tratamentos e que poderiam gerar altas despesas para o Estado. “Tanto empresários, quanto o Poder Público precisam se conscientizar que o trabalho de entidades como a ABCC ameniza gastos com mão de obra, atendimentos e em alguns casos medicamentos e equipamentos”.

Sylvia Maluf explica que mobilização foi um esforço conjunto dos postos de gasolina, da Cosan, do Rotary e dos consumidores

Rita Valle afirma que ações de responsabilidade social são cada dia mais valorizadas por consumidores

Atualmente a ABBC conta com a colaboração de cerca de 25 voluntários que se dividem entre o trabalho no bazar e no ambulatório de oncologia do Hospital Universitário São Francisco (HUSF). “Diariamente uma de nossas voluntárias está disponível no ambulatório para acolher os pacientes que estão em tratamento. Aquilo que o Sistema Único de Saúde (SUS) também não consegue cobrir é repassado para a ABCC e nós mantemos”.

BAZAR

Representantes da Cosan, dos postos e do Rotary Bragança entregam cheque para a presidente da ABCC

Voluntários da ABCC e frentistas compartilham a alegria de colaborar com os trabalhos desenvolvidos pela entidade

Recentemente o bazar realizado pela entidade mudou para o endereço: Rua Santa Clara, 79 – Centro. A entidade ressalta que o contato para parcerias e doações à entidade podem ser realizadas através do telefone: 4033-3845. A ABCC não realiza nenhum tipo de telemarketing solicitando contribuições.


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Casa & Reforma

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Furtos dentro do condomínio Moradores sofrem com desaparecimentos; circuito de segurança interno é indicado

por MARIANA DESIMONE /FOLHAPRESS

Para muitos, a preocupação com a segurança é um dos motivos para morar em condomínio. Os muros e a portaria protegem de perigos externos, mas, em alguns casos, a ameaça está dentro desses limites. Ao dividirem a área comum, moradores podem ser surpreendidos com furtos em seu depósito ou na garagem. O bicicletário foi a fonte de dores de cabeça para a dona de casa Adriana Pereira da Silva, 39. A bicicleta do filho desapareceu do espaço reservado. “Conversei com o porteiro e ele disse que outra criança havia saído do prédio com uma bicicleta com a mesma descrição”, explica Silva. As administradoras reconhecem que nem sempre é fácil resolver esses casos. “Se o morador não contribui financeiramente com segurança, não poderá exigir que o condomínio seja guardião de suas coisas”, diz Gabriel Souza Filho, da administradora Prop Starter. Assim, se o prédio não tiver uma estrutura de segurança, o condômino não pode, a princípio, cobrar algo para o qual não tem de colaborar. “Sem um circuito interno de televisão, fica difícil provar quem cometeu o ato”, pontua Renê Vavassori, diretor da administradora Itambé. No caso de Silva, a solução foi simples. Quando o garoto retornou com a bicicleta “emprestada”, sua mãe já havia sido avisada e deu razão à vizinha. Entretanto, essa é uma exceção. “Claro que o condômino prejudicado poderá buscar a restituição do seu bem em juízo”, diz Souza. José Roberto Iampolsky sugere: “Há sistemas de segurança cujos preços vão de R$ FOTO: EDUARDO ANIZELLI/FOLHA IMAGEM

Adriana Pereira da Silva posa para foto com o filho Diego Antonio Pereira da Silva, em São Paulo, SP

1.500 a R$ 15 mil, dependendo do que a assembleia aprovar”.

Com seguranças, morador deve receber indenização Condomínio pode ser responsabilizado se houver funcionário na função

A chance de reaver algo que foi furtado é maior se houver algum funcionário destacado para a função -como um responsável pela garagem, contra possíveis furtos noturnos de objetos dentro dos automóveis. “Nesse caso específico, demonstrada imperícia, negligência ou imprudência por parte dos funcionários do condomínio, é possível obter êxito em juízo”, observa o advogado Bernardo Gonçalves. Ele pondera que a responsabilidade do condomínio em relação aos furtos deve estar expressa na convenção. Se isso não estiver claramente previsto no documento “os condomínios não devem arcar com prejuízos dessa natureza”, diz José Roberto Iampolsky, da Paris Condomínios. Sem um bom sistema de circuito fechado de TV, depois que o furto acontece os moradores têm pouco a fazer. “Furtos são muito suscetíveis a fraudes. Se o morador se sentir lesado, pode entrar com ação no Tribunal de Justiça Especial. Mas é muito difícil provar que o furto ocorreu dentro do prédio e que foi o condomínio o responsável pelo furto”, argumenta. Esse tipo de juizado, porém, só aceita causas com valor máximo de 40 salários mínimos. Quando o montante julgado for maior, a ação deverá correr na Justiça comum.

PREVINA-SE - Sempre deixe o carro trancado na garagem - Instale alarme na unidade - Coloque corrente e cadeado nas bicicletas deixadas no bicicletário do condomínio - Apoie mudanças que melhorem o nível de segurança nas áreas comuns do prédio, como a instalação de câmeras e de sensores de presença - Respeite as normas de segurança do edifício - Não deixe pertences sem supervisão na área comum Fonte: administradoras

Hubert Gebara, vice-presidente da área de condomínios do Secovi-SP (sindicato de administradoras e imobiliárias), defende a responsabilidade dos moradores com seus próprios bens mesmo em área comum. “O síndico não pode querer ser benevolente, caso não tenha 100% de certeza de que o furto ocorreu dentro do prédio”, considera.

Funcionários No prédio da programadora Renata Moreira, 39, muitos moradores desconfiavam que o garagista da noite furtava gasolina dos carros. “Um dia, o síndico ficou escondido dentro do carro para ter certeza de que era mesmo o funcionário quem estava pegando o combustível. Ele viu e conseguiu filmar a ação. Dispensamos o funcionário por justa causa”, relata. Os moradores não pediram reembolso, pois era impossível ter certeza da quantia de combustível roubada de cada um. “Só queríamos que isso não acontecesse mais. Depois desse episódio, colocamos câmeras com sensores de presença na garagem”, diz Moreira. Na dúvida sobre a autoria do furto, é importante não acusar ninguém sem provas. “Para denunciar uma pessoa por ter cometido furto é importante que o condomínio tenha como base algum vídeo, ou flagrante do delito, sob pena de a pessoa que acusar o outro, sem provas, ser indiciado por calúnia”, pontua o advogado Leonardo de Castro Dunham. Para Dalton Pereira, diretor de operações do grupo GR, uma possibilidade de prevenção contra furtos praticados por funcionários ou terceiros é realizar uma revista periódica. “Mas isso deve ocorrer de forma a não constranger as pessoas, deve ser feito com muito respeito e pedido com educação”, explica.


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Teen

Quero ser Guga Eles largam a família, abrem mão de namorar e treinam seis dias por semana; tudo para ser o número 1 do tênis mundial

por TARSO ARAUJO /FOLHAPRESS

O calor chega perto dos 40ºC em Camboriú (SC). No centro de treinamento, uma dezena de adolescentes faz exercícios e corre sob sol escaldante, durante quase uma hora. A poucos quilômetros, jovens de férias curtem o verão na praia, enquanto eles seguem para as quadras de tênis. Cercados de bolinhas amarelas, sacam por horas a fio, sem parar. Em uma das quadras, há um pôster de Gustavo Kuerten sorrindo. Ele já treinou ali. É a inspiração desses garotos e garotas para viver uma adolescência de abdicação e muita ralação. Só assim eles poderão ir tão longe quanto seu herói. ‘Essa safra viu um ídolo jogar, entrou na quadra por conta própria’, diz Larri Passos, no centro de treinamento onde prepara novas promessas do tênis brasileiro. O primeiro de seus novos pupilos a conquistar um resultado expressivo foi o maceioense Tiago Fernandes, 17, que em janeiro tornouse o primeiro brasileiro campeão juvenil de um Grand Slam, principal tipo de torneio de tênis. Mas a rotina de Tiago e dos jovens que querem se tornar tenistas profissionais é feita de muito mais suor e de sacrifícios do que de louros da vitória. A maioria deles começou a praticar o esporte em escolinhas, com menos de dez anos, e a disputar os primeiros torneios com cerca de 12 anos. ‘Com essa idade eles já têm de saber ler o jogo’, explica Larri. Para se tornar profissional, no entanto, é necessário muito mais. E a vida precisa

mudar perto dos 14, quando eles deixam as escolinhas para treinar mais seriamente. Até completarem 18 anos, eles estudam de manhã e treinam cerca de quatro horas por dia, de segunda à sábado. Nas férias, são oito horas diárias. ‘Alguns se assustam quando veem o quanto é preciso trabalhar para ser profissional’, diz Fernando Roese, um dos quatro treinadores do IGT (Instituto Gaúcho de Tênis), onde treina Guilherme Clezar, o 13º do ranking juvenil. ‘Tem que abrir mão de muita coisa. Para começar, na sexta-feira os amigos vão para festas e nós vamos dormir’, diz Bruno Semenzato, 18, que divide apartamento com Tiago. Como eles viajam muito, passam mais de metade do ano em competições no Brasil ou no exterior, também fica difícil engatar um namoro. ‘Namorar aqui é difícil. Mas beijinho pode e é até bom’, diz André Baran, 18, aluno de Larri. Fábricas de Gugas Para se tornarem profissionais, esses tenistas precisam, desde cedo, de um treinamento de alto nível, com treinadores experientes e torneios difíceis, além de quadras, fisioterapia, musculação, psicólogos etc. Hoje, existem poucos lugares assim no Brasil, que só treinam jovens convidados por se destacarem em campeonatos mirins. Dois deles são a academia de Larri Passos, onde se paga mensalidade (os preços variam conforme o tenista), e o IGT, bancado por um patrocinador. Dos cinco atletas brasileiros entre os 150 melhores juvenis do mundo, quatro vêm

FOTO: MARCELO JUSTO

Andriele

desses dois lugares, o quinto treina no Rio com Ricardo Acioly, ex-técnico de Fernando Meligeni. A esperança de jogadores e de técnicos é que vitórias como a de Tiago Fernandes atraiam mais investimentos para o esporte. E façam crescer no país o número de bons centros de treinamento e de bons tenistas. Quem sabe se no futuro o país da bola não vira, também, o país da bolinha?

Custos são altos para quem quer se tornar profissional Visto como um esporte de elite, o tênis sai mesmo caro para a maioria dos brasileiros que sonham em ser o próximo Gustavo Kuerten. Para quem quer só brincar, o esporte é relativamente acessível. ‘Qualquer um pode praticar. Para competir é que sai caro’, diz

Marcus Vinícius Barbosa, o Bocão, treinador que acompanha Tiago Fernandes em suas viagens. ‘O investimento inicial é mais caro. Uma raquete boa custa de R$ 500 a R$ 700, e é bom ter duas’, diz o empresário Fábio de Souza, de Itajaí (SC). ‘Eu amo o tênis. Estou aqui porque quero competir’, diz sua filha Andriele de Souza, 14, no intervalo de um treino na academia de Larri Passos. ‘Se não der, quero ser médica.’ Enquanto ela não se decide, seu pai paga R$ 700 reais por mês com as aulas particulares de tênis , mais caro que a escola, que custa R$ 400. Se ela for boa e seguir em frente, os custos aumentam ainda mais, com viagens e bons treinadores, uma semana de pré-temporada com Larri, por exemplo, custa R$ 2.000. Como prêmios em dinheiro são proibidos até os 18 anos, vem tudo do ‘paitrocínio’.


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Comportamento

Cuide dos dentes na gravidez Grávidas precisam cuidar bem da saúde bucal

por THATIANA MENDES /FOLHAPRESS

Se durante a gestação os bebês compartilham as sensações de suas mães, imagine como se sentem quando elas têm uma forte dor de dente. Mas há mais motivos para os cuidados com a saúde bucal serem redobrados durante a gravidez. Além do estresse que o desconforto da mamãe causa no feto, especialistas apontam outros riscos. O problema mais grave que as doenças dentárias podem provocar nos bebês é o parto prematuro. ‘Há estudos que mostram uma relação entre as infecções bucais durante a gestação e o nascimento prematuro dos bebês. Um hormônio associado à defesa nos processos infecciosos, a ocitocina, também aparece no momento das contrações do parto’, afirma Aylton Valsecki Júnior, professor de odontologia preventiva da Unesp (Araraquara). Sobre as possíveis causas para o aumento das doenças dentárias durante a gravidez, Valsecki destaca que a ideia de que é natural que os dentes enfraqueçam durante a gestação é um mito. ‘O que acontece é que a grávida fica mais suscetível a algumas enfermidades, por isso, o pré-natal odontológico é importante. Mas, por receio de que os procedimentos possam afetar o bebê, muitas mulheres sofrem por meses com dor de dente esperando o filho nascer para iniciar o tratamento’, diz. Rosana de Fátima Possobon, professora de psicologia aplicada da faculdade de odontologia da Unicamp (Piracicaba), concorda

FOTO: STOCK

com Valsecki. ‘A gravidez não enfraquece os dentes. A mulher deve procurar um especialista assim que souber que está grávida. Nesse período, ela passa por alterações físicas e comportamentais que influenciam sua saúde bucal’, explica. Seg undo Rosana , as gestantes têm predisposição maior a doenças periodontais (da gengiva) e a cáries. Além disso, nessa fase, elas se alimentam muitas vezes ao dia, o que favorece a formação da placa bacteriana. ‘ Todo m u n d o te m p l ac a b ac te r i a n a , m a s a g rávid a fica muito mais sensível a e l a . E s e u s h á b i to s i n f l u e n c i a m bastante. Se ela acorda com fome de madr ugad a , não vai escovar os dentes depois de se alimentar ’, analisa Rosana , que recomend a pelo menos três higienizações completas por dia, com escovação e uso de fio dental. ‘ Também há outras medidas, como a limpeza e a aplicação de flúor, além de medicações que podem diminuir a incidência de infecções e cár ies.’

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Seus Direitos e Deveres colunadoconsumidor@yahoo.com.br

A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS MÉDICOS GUSTAVO ANTÔNIO DE MORAES MONTAGNANA/ GABRIELA DE MORAES MONTAGNANA

É comum a veiculação de informações a respeito de danos causados a pacientes, em virtude do chamado “erro médico”, através dos noticiários, contudo, pouco se fala sobre suas conseqüências jurídicas. Pois bem, trataremos aqui desta questão, as conseqüências jurídicas do erro médico. A relação de consumo pode ser conceituada como aquela em que um profissional fornece um produto ou presta um serviço a um destinatário final, denominado consumidor, mediante uma remuneração direta ou vantagem indireta. A maioria das relações jurídicas, hoje, são relações de consumo, inclusive entre prestadores de serviços, como os profissionais liberais (médicos, dentistas, advogados, corretores) e os respectivos contratantes. O Código de Defesa do Consumidor dispõe que o consumidor tem direito de ser ressarcido, integralmente, pelos prejuízos materiais, morais e estéticos causados pelo fornecimento de produtos, prestação de serviços ou má informações a eles relacionados. Haverá a responsabilidade objetiva e solidária dos prestadores e fornecedores, com exceção da pessoa física que age como profissional liberal nesta relação. Isso quer dizer que os fornecedores e prestadores, em geral, responderão pelos danos que seus produtos ou serviços causarem ao consumidor, independentemente de culpa, bastando a este provar que o dano existe e que ele adveio da relação consumerista. Contudo, em se tratando de danos causados por profissionais liberais, a sua culpa no evento deverá estar presente. Desta forma, os médicos, em regra, somente responderão pelos danos que causarem aos

seus pacientes quando agirem com a intenção de causarem-lhes com culpa. Age com culpa o médico que prevendo o resultado danoso e podendo evitá-lo não o faz por imprudência (agir com descuido), negligência (deixar de adotar as providências recomendadas) ou imperícia (descumprimento de regra técnica da profissão). Essa diversidade de tratamento decorre do fato que os médicos, assim como os advogados, possuem obrigação de meio, ou seja, se obrigam a empregar com perícia e cuidado toda sua técnica e conhecimento visando restabelecer a saúde do paciente, mas não a esse resultado, qual seja, o restabelecimento. Isso porque, suas ações não dependem somente deles, mas de uma série de fatores externos como, por exemplo, a assepsia do local (sala de cirurgia), os medicamentos, a própria reação do paciente, etc. A culpa, assim, deve estar presente, contudo, não precisa ser provada pelo consumidor. É certo que tradicionalmente, o ônus da prova incumbe a quem alega. Todavia, com o advento do Código de Defesa do Consumidor, esse quadro mudou, a regra hoje é que o médico deve provar que não agiu com culpa, quando acusado, num processo civil, de haver cometido erro médico. Por isso, é extremamente importante que os médicos, de qualquer especialidade, procurem municiar-se de elementos que demonstrem a correção do seu proceder, zelando diligentemente pela veracidade e boa ordem dos prontuários médicos; registrando em vídeo cirurgias mais complexas ou de maior risco; reportando aos colegas complicações que possa haver nos tratamentos, decorrentes de fatos que escapem à esfera de poder do médico (os colegas e auxiliares, em processos

de reparação, podem freqüentemente prestar, como testemunhas, depoimentos de grande valia) etc. Há, todavia, uma exceção a essa regra da responsabilidade subjetiva, em que o médico somente será responsável pelo dano que acarretar ao seu paciente se agir com culpa. A exceção está na cirurgia meramente estética, ou como são popularmente chamadas, as “plásticas”. Ao contrário do que acontece normalmente, nesses casos o que existe é um paciente saudável que por vaidade ou qualquer outro motivo, resolve alterar características de seu corpo. Não há, assim, uma intervenção para salvamento de vidas ou eliminação de dor. O médico, então, se compromete a atingir determinado objetivo, qual seja, a aparência desejada pelo cliente. Aqui a obrigação assumida pelo médico é de resultado e não de meio. E por essa razão, nesses casos, incide a regra geral e o prestador do serviço responde pelos danos que causar ao consumidor mesmo que não tenha culpa. Caso o médico não alcance o resultado prometido será por esse fato responsabilizado na esfera cível. Alguns médicos têm firmado contrato escrito com seus pacientes, o qual traz uma cláusula em que doente se compromete a não mover qualquer ação contra o profissional. Essa cláusula é nula. Os danos a serem reparados pelo médico que agiu com culpa em determinada situação, podem ser classificados em físicos, materiais e morais. Os danos físicos dizem respeito à perda total ou parcial de órgão, sentido ou função, bem como do estado patológico do doente, que

pode ter sido piorado em virtude de uma intervenção mal feita. Os danos materiais ou patrimoniais geralmente decorrem dos danos físicos, ou seja, lucros cessantes, despesas médico-hospitalares, medicamentos, viagens, contratação de enfermeiros, etc. Os danos morais, se subdividem em danos estéticos e danos puramente morais. O dano estético fica caracterizado quando há uma lesão duradoura à beleza física de uma pessoa. Já, o dano moral é todo aquele dano não patrimonial, ou que não seja possível demonstrar seu valor, quais sejam, honra, dor, sofrimento, saudade, vergonha, humilhação, etc Não há como negar que a responsabilidade civil dos médicos é tema que no Brasil é encarada pela maioria da população como um tabu. Seja pela total desinformação dos meios para garantir a reparação do dano sofrido, seja principalmente por inação dos consumidores, sem excluir o corporativismo que ainda nos dias atuais, encontra-se presente. Importante frisar, todavia, que, todo profissional é passível de erros. O que na realidade deve ser rechaçado é aquele profissional que notadamente não exerce o seu mister de maneira competente, responsável, humanitária, preocupando-se apenas em cuidar de órgãos e não do ser humano. Além de serem responsabilizados na esfera cível ainda é possível a responsabilização criminal desses profissionais. Lutem por seus direitos!! Até a próxima! Advogados Gabriela de Moraes Montagnana OAB/ SP 240.034 Gustavo Antônio de Moraes Montagnana OAB/ SP 214.810

Andam Dizendo roberto@espacorenovo.org.br

ROBERTO FERREIRA

No filme a Era do Gelo, encontramos um esquilo que está atrás de uma noz. Ele usa de todos os mecanismos possíveis, vivência todos os riscos, inclusive alguns desnecessários, porque ele está obcecado pela noz. Enquanto isso o mundo a sua volta está de pernas pro ar. A Era Glacial está se encerrando e todos os animais estão buscando desesperadamente e sistematicamente a sobrevivência. O esquilo ensimesmado tem olhos e disposição apenas para o seu objetivo pessoal: a noz. A criação é um ato de doação. O Deus que é uma comunidade de pessoas (Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo) decide compartilhar um pouco da sua sabedoria, da sua criatividade e do seu amor. O universo é um presente de Deus para nós. Uma doação. Não é o objetivo do artigo, mas fato é que no último século todos os movimentos colaboraram grandemente para a construção de uma sociedade ensimesmada. Na contra-mão desses movimentos a criação realizada por Deus é um convite para perceber a presença do outro. Esse convite ocorre de três formas: Hoje conversaremos sobre a primeira. 1. No ato do Deus criador. No principio criou

Deus céus e terra... Gênesis 1:1. Gladys Kober, analista de dados da NASA fez algumas afirmações sobre a leitura da ciência moderna ao pesquisar o universo que precisam ser percebidas para você compreender o meu argumento: • Todo o universo na sua imensidão existe por uma razão. Dar equilíbrio a algum lugar onde a vida seja viável. Ou seja, todas as Galáxias que existem são necessárias para que a vida aconteça em algum lugar do universo criado. • BIG BANG – É possível chegar hoje com toda a tecnologia disponível à 43 segundos pós explosão. Os primeiros 42 segundos, no entanto, é um mistério. • Uma explosão que propaga luz e massa. A quantidade, a velocidade e o tempo dessa explosão é uma equação precisa. Qualquer mínima alteração nessas três variáveis tornaria a vida inviável. • As leis da física – A lei da gravidade (Se pudéssemos suspender a lei da gravidade por um segundo sabe o que aconteceria?) O sol se explodiria como uma bomba atômica. Entre os cientistas que reconhecem a complexidade, a beleza, o sincronismo, a

perfeição e a excelência do universo registro o testemunho de: a. Stephen Hawking (Matemático e Físico): O fato marcante é que os valores destes números parecem ter sido finamente ajustados para que o desenvolvimento da vida fosse possível. b. Steven Weinberg (Prêmio Nobel de Física): A vida, como nós a conhecemos, seria impossível se qualquer uma das constantes físicas tivesse valores ligeiramente diferentes. Percebe o que está sendo dito. Diferentemente de nós, que muitas vezes doamos o que não nos é mais útil, importante, que não mais possui valor, Deus ao se doar, criando o universo, o faz com excelência. A razão: Deus nos dá o melhor. Mas o que mais me chama a atenção nessas informações da Gladys não é apenas a beleza, perfeição e complexidade do universo. O que me encanta é que o universo foi criado por um Deus que não precisava ter criado o universo porque por toda a eternidade ele sempre foi pleno, realizado, na relação que tem na família Trinitária. Você pode então reagir: “Por que ele, então,

decide criar?” A resposta é que a criação é um ato de doação. O Deus que é uma comunidade de pessoas (Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo) decide compartilhar um pouco da sua sabedoria, da sua criatividade e do seu amor. O universo é um presente de Deus para nós. Uma doação. Na próxima semana, mostrarei a você que o convite de Deus a não vivermos ensimesmados, passa também pela interdependência das coisas criadas por ele. Durante a semana quero desafiar a você a refletir no que leu e a praticar através desse exercício: Existe alguém a quem eu possa, no dia de hoje, fazer o bem e/ou demonstrar amor através: • De um telefonema, • De uma visita e/ou encontro, • De um presente e/ou doação, • De um ato de consideração.

Roberto Ferreira Teólogo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie–SP, é pastor da Comunidade Presbiteriana Renovo, em Bragança Paulista-SP.


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Antenado

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Artificialismo marca antologia de poesia por NOEMI JAFFE /FOLHAPRESS

N o ar, antes de mergulhar, é o tempo comum em que respira a poesia de Ana Cristina César, de Cacaso, de Paulo Leminski, de Torquato Neto e de Waly

Salomão, agora reunidos na antologia ‘Destino: Poesia’, selecionada e prefaciada por Italo Moriconi. Fora com o passado, refúgio sagrado da poesia de todos os tempos, e mesmo com

o futuro, outro gancho escapista. O não lugar dessa poesia é o agora, e nem mesmo o agora do presente, mas algum outro ainda mais inagarrável: o agora-já, a véspera do salto do trapezista, quando o risco e o prazer estão tão juntos que é impossível identificá-los. O manifesto de Ana Cristina resume-se a um segura a bola. O coração de Cacaso segue cego e feliz como uma carta extraviada, na alegria insegura da desorientação. Em vez dos percalços, terreno difícil, mas de certa forma confortável, Leminski prefere os espasmos. Na mesma tocada, Torquato Neto pede a quem perdeu a guerra, que agradeça aos vitoriosos. Perder, para quem habita esse tempo nodal, é certamente melhor do que ganhar, pois o tempo da vitória é calcado no futuro, em planejamentos e em progressões lineares. E Waly Salomão não dá sopa, orgulha-se de ser preso por vadiagem, ama a algazarra, essa amante da balbúrdia cavalga encostada ao meu sóbrio ombro e odeia a saudade, uma palavra a ser banida do uso corrente. Realmente, há um repertório comum na poesia entregue destes cinco poetas. Embora os cinco tenham mesmo vivido poeticamente, no sentido de dedicarem-se de forma vital à poesia e também porque

viveram do lado de fora do esquema utilitarista e mercantil da vida ‘normal’, e embora todos eles tenham morrido precocemente, há algum artificialismo nesta reunião. A utopia de suas vidas e de sua poesia e seu destino poético não são suficientes para agregar linguagens tão diferenciadas. Como comparar Ana Cristina, tão possuída pelo que vive e escreve, e Waly Salomão, tão lúcido do teatro de ser o outro de si? E o poema breve de Leminski, precioso e nipônico, ao poema breve de Cacaso, brincadeira à la Oswald de Andrade? Da mesma forma, os poemas selecionados, além de chamarem atenção para o que é a poesia destes cinco poetas, acabam também por gritar pelo que ficou de fora. A palavra antologia, na verdade, tem uma derivação do ramo da botânica e referia-se, originalmente, ao gesto de colher flores. E até hoje, quando já não se refere mais às flores, fica a pergunta: como não escolher só as mais bonitas ou aquelas que servem ao arranjo desejado? ‘Destino: Poesia’ caminha nesse fio de navalha.

DESTINO: POESIA Organização: Italo Moriconi Editora: José Olympio Quanto: R$ 28 (160 págs.) Avaliação: bom FOTO: DIVULGAÇÃO

Waly Salomão


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