Braganรงa Paulista
Quinta 01 Abril 2010
Nยบ 529 - ano VIII jornal@jornaldomeio.com.br
jornal do meio
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Para Pensar
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EXPEDIENTE
PÁSCOA! MONS. GIOVANNI BARRESE
Vocês devem estar sempre prontos para dar as razões de sua esperança! (1 Pedro 3,15). Esta afirmação de São Pedro é uma das provocações mais instigantes ao testemunho de vida que a Escritura nos apresenta. Pedro chama ao testemunho competente, continuado, entusiasta e cheio de esperança. Podemos imaginar isso no ambiente de perseguição do império romano no qual as comunidades cristãs viviam. Como viver a fé com o olhar mergulhado na esperança se a realidade era de tortura, sofrimento, dor, perseguição e morte? Sem dúvida a razão estava alicerçada Naquele que vencera a tortura da cruz e ressuscitara. Estava vivo. Era Senhor e Vencedor. Essa é a fé que a Igreja sempre proclamou. E que proclama. Fé pela qual a Igreja viveu e vive! Sem a ressurreição, sem a vitória sobre a maldade e todas as
suas faces não haveria nenhuma esperança e nenhum sentido em viver (1 Coríntios 15, 12ss). Por isso é que faz parte da Tradição da Igreja, de sua vida vivida ao longo dos séculos, celebrar a Quaresma e, nela, a Semana Santa. O recordar, o fazer memória dos passos sofridos do Cristo (os Dele inocentes) nos leva a perceber os passos sofridos de todos os seres humanos (os nossos ocasionados por nossos erros ou erros dos outros). As quedas sob a cruz (as Dele por nossa causa) nos recordam nossas quedas (as nossas por nossas fraquezas e limitações). As cusparadas recebidas por Ele recordam as cusparadas que damos ou tomamos (porque Ele só as sofreu). Os xingamentos recebidos por Ele são frutos da ignorância e da ingratidão. Os sofridos por nós (ou dados por nós) acumulam as mesmas causas recheadas dos
desejos de vingança, ganância, egoísmo, violência... Houve uma Verônica para aliviar sua dor. Há Verônicas em nossos tempos. Capazes de enfrentar a sanha dos torturadores. Cruz, cravos, coroa de espinhos, nudez. Marcas do Seu sofrimento. Marcas que se repetem em nossos dias. Uma sepultura. De outros. Apressada. Igual a de tanta gente sem nome. Tudo isto seria somente uma grande tragédia. Revivida a cada ano. Se não houvesse a certeza da Ressurreição. Nós recordamos o caminhar sofrido do Cristo à luz de sua Vitória. Porque o seu caminho é o nosso caminho. E se temos certeza que a luz da Vida brilha sobre o aparente absurdo de tantas dores, Nele ressuscitado encontramos a força para não desanimar e caminhar na Missão até as últimas conseqüências. Páscoa, nós todos sabemos, recorda o
caminho de libertação que Deus traça para seu povo escravizado. Porque Deus nos criou livres. Se recordamos a Páscoa histórica de Israel, é porque ela é tipo da nova Páscoa: a libertação do pecado, de seus frutos. Sabendo que a última palavra sobre a nossa vida é sempre a palavra da Vida que Deus nos dá, vamos encontrando forças no Cristo e na sua Igreja para viver com fidelidade a escolha de sermos cristãos. De termos assumido o compromisso de continuar a missão do Senhor: o anúncio da Boa Nova. A verdade da paternidade divina sobre todos. A afirmação da vontade de Deus para que sejamos filhos e filhas. Um dado da fé que nos empurra a nunca desanimar. A ser capazes de enfrentar as estruturas de destruição da dignidade humana. E a proclamar com toda a força a realeza-serviço do Senhor do
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Universo. Para que a sua glória seja vista na realização do projeto de Amor de Deus sonhado quando da criação do ser humano à sua imagem e semelhança. A obra da criação continua hoje na luta para restituir a todas as pessoas o rosto brilhante de Deus que é Amor. Um rosto que está desfigurado por tanta maldade e injustiça. Um rosto que devemos limpar. Para essa missão o Senhor nos convoca. E seu apóstolo Pedro nos diz que devemos ser competentes e estar sempre atentos! Feliz Páscoa!
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Vida nova
Páscoa cristã comemora ressurreição de Jesus, e mostra que esse também pode ser um recomeço para todos nós Frei Carlos afirma que a Páscoa é um momento de união da família, oração e alegria
por MARIANA VIEL
Considerado o evento religioso mais celebrações litúrgicas que lembram a imporimportante do calendário cristão, a tância e o significado desse período. Páscoa celebra a ressurreição de Jesus Domingo de Ramos e a promessa de uma vida nova. Mais do que apenas um momento especial para nos reunir- As celebrações da Páscoa começam no Domos com nossos familiares e amigos, a Páscoa mingo de Ramos com a chegada de Jesus merece ser compreendida como um momento Cristo a Jerusalém. Ele é aclamado pelo povo como o Messias. Para saudar sua presença as de reflexão, resignação e transformação. Para o frei responsável pela casa de acolhi- pessoas agitam ramos de palmeiras. Segundo mento e recuperação de Bragança Paulista os Evangelhos, Jesus foi para Jerusalém para da Fraternidade Franciscana São Francisco celebrar a Páscoa Judaica com seus discípude Assis, Frei Carlos Pierezan explica que os los. Ele entrou na cidade como um rei e foi cristãos devem trazer para a própria vida o aclamado pela população como o Messias, o significado da Páscoa. “Assim como Jesus Rei de Israel. A multidão o aclamava: “Hosana ressuscitou para uma vida nova, a Páscoa ao Filho de Davi!”. também significa a nossa ressurreição para Quinta-feira uma vida nova”. Santa Ele diz que a celebração É um momento para Este dia é marcado pela pode ser compreendida termos mais fraternidade, celebração da Última Ceia como uma espécie de misericórdia, compartilhada entre Jesus chamado para mudarmos condenarmos menos e seus 12 apóstolos. O Nonossas condutas de vida. e perdoarmos mais as vo Testamento narra que “É um momento para pessoas Jesus pegou um pedaço de termos mais fraternidade, pão, deu graças e disse aos misericórdia, condenarmos Frei Carlos discípulos: “Este é o meu menos e perdoarmos mais corpo que será entregue as pessoas”. Ele afirma que também é importante trazermos as a vós”. Do mesmo modo, ao fim da ceia, Ele mensagens e os ensinamentos de Cristo pegou o cálice em suas mãos, levantou ao alto e disse: “este é o meu sangue, o sangue para os dias atuais. “Devemos entender quais são os problemas da vida que será derramado por vós.” de hoje e onde estão as causas, para refletir- Essa cerimônia foi denominada e reconhecida mos sobre o que devemos e podemos fazer pelos cristãos como Eucaristia. Esse dia tampara colaborar com as melhorias do mundo. bém é marcado pela Missa de Lava-pés, onde Essas mudanças devem acontecer na política, os cristrãos relembram o gesto de humildade na economia, na educação, nos meios de de Jesus ao lavar os pés dos discípulos. Ainda durante essa noite que Jesus é traído por comunicação”. As celebrações da Páscoa acontecem durante Judas Iscariotes, por 30 moedas de prata, e a Semana Santa e são iniciadas no Domingo é preso e interrogado. de Ramos, com a entrada triunfal de Jesus Sexta-feira da Paixão Cristo em Jerusalém. Seu término é marcado É a data em que os cristãos relembram o pela ressurreição de Jesus Cristo, que ocorre no domingo de Páscoa. Ao longo de toda a julgamento, a paixão, a crucificação, a morte Semana Santa, os cristãos participam de e o sepultamento de Jesus Cristo. Segundo
o texto bíblico, quando Jesus foi acusado pelos sacerdotes judeus, perante Pôncio Pilatos, o governador da Judéia não encontrou motivos para sua condenação. Pressionado pela população que assistia ao julgamento, o governador mandou trazer um condenado à morte, tido como ladrão e assassino, chamado Barrabás. Valendo-se de uma tradição judaica, concedeu ao povo o direito de escolher qual dos dois acusados deveria ser solto. Então, o povo manifestou-se pela libertação de Barrabás e crucificação de Jesus. Para os católicos a Sexta-feira Santa não representa apenas um dia de tristeza pela morte do Salvador, mas significa o reconhecimento do gesto de quem ofereceu a própria vida para salvar a humanidade.
Sábado de Aleluia
PÁSCOA JUDAICA A celebração da Páscoa (que em hebraico significa passagem) antecede a morte de Cristo. Para os judeus a Páscoa (ou Pessach) marca a libertação e fuga do povo de Israel do Egito. Segundo o Livro do Êxodo do Antigo Testamento, Deus mandou dez pragas sobre o Egito. A última praga falava da passagem do anjo da morte que iria exterminar todos os primogênitos egípcios. Para poupar os primogênitos do povo de Israel, cada família sacrificou um cordeiro e passou o sangue do animal nas portas de suas casas. À meia-noite, um anjo enviado por Deus feriu de morte todos os primogênitos egípcios. Nessa mesma noite Moisés guiu os judeus pelo deserto para a libertação. Uma das passagens mais marcantes desse relato é o momento em que encurralados pelo exército egípsio, os judeus vêm o Mar Vermelho se abrir. Logo depois de atravessarem o mar em segurança até a margem oposta, a água volta a tomar conta do local e soldados ficam presos do outro lado mar.
É o dia que antecede à ressurreição de Jesus Cristo, dia dedicado a oração junto ao túmulo do Senhor Morto. Nesta noite, é celebrada a Vigília Pascal onde acontecem a benção do fogo novo, a Proclamação da Páscoa e a Renovação das Promessas do Batismo. Com o fogo novo se acende o Círio Pascal, que representa a vida nova em Jesus Cristo.
Domingo de Páscoa É o dia da ressurreição de Jesus, e das comemorações mais importantes do cristianismo, que celebram a vida, o amor e a misericórdia de Deus. Segundo Frei Carlos a Páscoa é um momento de alegria porque celebra a vitória de Jesus. Ele diz que é importante que os cristão participem da Eucaristia. “Não dá para celebrar a Páscoa de uma forma cristã
sem participar da Eucaristia, que significa para nós a Páscoa por excelência”. Ele fala ainda que em casa é importante que as famílias comemorem unidas a ressurreição de Jesus. “As celebrações do Natal e da Páscoa são sempre festas muito bonitas porque são momentos de união familiar. Seria muito bom também que ao redor da mesa fossem ditas algumas palavras ou até mesmo feita a leitura de algum trecho da Bíblia”. Frei Carlos ressalta que esse deve ser um dia de comemorações e festa, mas lembra que os pensamentos devem estar sempre voltadas ao amor de Jesus.
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Informática
&
Tecnologia FOTO: DIVULGAÇÃO
Em ponto de bala Programas fazem limpeza nos intestinos do computador, deixando a máquina mais afinada e pronta para o trabalho
Speedtest
por AMANDA DEMETRIO /FOLHAPRESS
Agora não há mais desculpa, o ano precisa começar. Há que deletar arquivos e programas que já não são mais usados e atualizar algumas funções do computador. Para isso, reunimos uma lista de programas que ajudam na faxina. Também é tempo de organizar aqueles arquivos que foram direto para a pasta de downloads. Conheça nesta matéria um programa que organiza os arquivos em pastas específicas. Em 2011, a limpeza pode ser menos trabalhosa. Para facilitar o uso diário do computador, confira serviços que aumentam a produtividade do usuário. Conheça sites que prometem fazer o diagnóstico da velocidade da sua internet. Se você tem computador da Apple, veja pequenos truques para administrar melhor o seu Mac.
Limpe e organize o computador Eliminar arquivos que não estão sendo usados é um dos passos da faxina em seu PC. Para fazer a limpeza, um programa indicado pelos especialistas consultados pela reportagem foi o TuneUp Utilities (bit.ly/tuneupdownload). ‘Ele tem várias ferramentas para limpar o registro do Windows, desfragmentar discos, melhora a velocidade da abertura do sistema, deletar arquivos permanentemente e é bem fácil de ser usado’, explica Stéphane Ruscher, editor de software do site francês Clubic.com. Segundo Ruscher, o programa inclui assistentes que ajudam o usuário a fazer a limpeza e dão conselhos para aumentar a velocidade do micro. EDITORIA DE ARTE\FOLHA IMAGEM
Também é possível desfazer algumas ações, se o resultado bom. O programa custa US$ 49,95. Quem não quiser gastar poderá optar pelo gratuito Glary Utilities (www.glaryutilities. com), semelhante ao TuneUp. Ele corrige erros, desinstala softwares que você não precisa mais e controla programas que abrem junto com o Windows. O CCleaner (www.ccleaner.com) é outro gratuito, porém é mais focado em remover arquivos que não estão sendo usados e os rastros de sua navegação na internet. Já o Revo Uninstaller (www. revouninstaller. com) remove programas do Windows e se certifica de que todos os traços do software tenham sido deletados. Veja mais programas de manutenção do Windows em bit.ly/ manutencaowindows. Também é recomendado fazer a desfragmentação do disco rígido, já que os dados são lidos e gravados em pequenas partes na sua máquina. Essas partes ficam ‘espalhadas’ pelo disco, o que pode comprometer o rendimento. Um programa para isso é o Smart Defrag (bit.ly/smartdefragdownload). Máquinas da Apple têm especificações diferentes em relação a esse processo. Nos computadores Mac, a limpeza pode ser feita por meio do OnyX (bit.ly/onyxdownload). Para a desinstalação de softwares, é indicado o App Cleaner (bit.ly/appcleanerdownload). ‘O App Cleaner também deleta as “sujeiras’ que uma desinstalação convencional pode deixar’, diz Ruscher. No Windows 7, Paulo Couto, do Fórum PCs,
diz preferir o Disk Cleanup, nativo dessa versão do sistema. Couto também recomenda as ferramentas desenvolvidas por Marcos Velasco (www.velasco.com.br). Para organização de arquivos, Adam Pash, editor do Lifehacker, indica o Belvedere (bit. ly/belvederedownload). Ele monitora arquivos novos e os arquiva segundo as configurações do usuário.
Sites fazem diagnóstico do estado da máquina e da rede Além de limpar a máquina e organizar seus arquivos, é importante usar serviços de diagnóstico para saber o que mais pode ser feito em prol do melhor desempenho da máquina. Para saber sobre a sua conexão de rede, uma opção é o site www.speedtest.net. Ele avalia a velocidade da banda larga sem cobrar nada e a compara seus números com outros ao redor do mundo. O www.pingtest.net, da mesma empresa, avalia a qualidade da rede para serviços como vídeos em streaming e jogos on-line. ParaBarryMahfood,doBarry’sBestComputerTips (www.barrysbestblog.com), o PC Pitstop (www. pcpitstop. com) é um site confiável de diagnósticos. Em relação à segurança, uma dica é o Symantec Security Check (bit.ly/ diagnosticoseguranca), que promete verificar se seu computador tem vírus e se está seguro contra as ameaças. É importante lembrar que alguns sites de diagnóstico trazem vários anúncios e que nem sempre é recomendado clicar em propagandas com promessas boas demais para ser verdade. ‘Quando falamos de sites gratuitos
de diagnóstico, é importante ter em mente que eles estão tentando vender o produto deles’, alerta Mahfood.
Hardware Para saber se seu computador tem os requisitos para receber o Windows 7, use o Windows 7 Upgrade Advisor (bit.ly/ upgradeparawin7). O Auslogics System Information (bit.ly/ auslogicssys tem) é outra opção para saber mais do seu hardware. Em Mac Nos computadores da Apple, algumas ferramentas do sistema ajudam no diagnóstico da situação do sistema. Se você inserir o disco de instalação do sistema operacional e pressionar a tecla D, o programa abre uma janela que faz o diagnóstico do seu hardware. ‘Ele checa se fatores como processador e memória estão ok’, diz Fábio Ribeiro, engenheiro de sistemas da Apple Brasil. Para saber sobre a rede, é possível acessar direto do navegador Safari o Diagnóstico da Rede. No programa de e-mails, a função Verificador de Conexão checa problemas na conexão das contas de e-mail configuradas.
Depois da faxina, mude alguns hábitos de uso do seu aparelho Terminada a faxina, você pode tentar mudar alguns hábitosemrelaçãoaocomputador,paraqueoestrago seja menor no próximo ano. Um bom começo é não ter medo de deletar arquivos e checar sempre o seu disco rígido e suas pastas de download. ‘Temos discos cada vez maiores, então sempre pensamos “tudo bem, ainda tenho 50 Gbytes’, e, quando você menos espera, ele está cheio’, diz Stéphane Ruscher, editor de software do site francês Clubic.com. Já Barry Mahfood, do blog Barry’s Best Computer Tips, recomenda que, antes de instalar um programa novo, o usuário consulte se ele é recomendado por sites confiáveis. ‘Faça uma pesquisa e veja o que as pessoas estão falando sobre o programa’, indica. ‘A maioria das pessoas que estão com os computadores lentos devem ter instalado aplicações defeituosas ou maliciosas.’ Para Adam Pash, do blog Lifehacker (lifehacker.com), manter o micro em ordem tem um princípio: ‘Comprometer-se a manter as coisas limpas.’ Para ele, é preciso estabelecer um sistema de arquivamento em pastas que seja confortável e que você realmente use.
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Doce
tentação
Símbolos da páscoa, os ovos de chocolate convencionais, são proibidos para pessoas com intolerância à lactose por MARIANA VIEL
Os cristãos incorporaram em suas celebrações o hábito de presentear amigos e familiares com ovos – símbolos do renascimento de Jesus. Ao longo dos séculos, os ovos de galinhas ocos pintados com cores fortes e alegres, evoluíram para os atuais ovos de chocolates. Produzidos em tamanhos e sabores cada vez mais atraentes, os tradicionais ovos são quase unanimidade durante o período da Páscoa. O proprietário da Choc Art Chocolates Artesanais, Éssio Zecchin Maiolino explica que o período da páscoa pode ser considerado o natal de quem trabalha com chocolates. Um dos segredos para garantir boas vendas nessa época do ano é a criatividade. Além dos tradicionais ovos, as casas de chocolates também apostam em produtos com formatos e cores variados e exclusivos. “Buscamos sempre aquilo que o mercado ainda não está oferecendo no momento. O mais importante é ter um diferencial, algo especial que os nossos clientes saibam que só vão encontrar aqui”. Entre as novidades que conquistam clientes de todas as idades e gostos estão os ovos em formato de coração, coelhinhos e cestas de chocolates. Mas se para muitas pessoas os chocolates são sinônimos de páscoa, para outras, eles podem significar problemas de saúde. Para a professora de Educação Física, Débora Bedran Amaral a tentadora atração pelos tão desejados ovos de Páscoa, tem reações diretas no bem estar. Com cerca de um ano
Empresário explica que custos para a fabricação de ovo à base de soja inviabilizam a produção
de idade ela recebeu o diagnóstico de intolerância à lactose. As primeiras manifestações ao leite de vaca aconteceram por volta dos seis meses, logo depois do fim do período de amamentação. No começo, as reações ao leite se apresentavam como fortes infecções de ouvido. “Naquela época não se falava muito em intolerância à lactose. Os médicos só conseguiram diagnosticar o problema quando eu já estava com quase um ano idade. As infecções eram tão graves que cheguei a correr o risco de perder a audição”. A intolerância à lactose (popularmente denominada de alergia ao leite) é a incapacidade que algumas pessoas possuem de digerir a lactose. A intolerância é resultado da deficiência ou ausência intestinal da enzima lactase. Esta enzima é responsável pela decomposição do açúcar presente no leite, em carboidratos mais simples para a absorção.
Restrições e dietas
Depois que vamos ficando mais velhos é mais complicado, parece que a vontade é maior”.
Deliciosas tentações
A professora explica que as reações em seu organismo variam de acordo com a concentração de leite. No caso dela, bolos e pães que possuem quantidades menores de leite na massa podem ser consumidos com certa segurança. Para manter o bem estar e ao mesmo tempo aproveitar alguns dos seus alimentos preferidos ela segue uma dieta orienta por um especialista. “Me controlo ao máximo durante a semana, Débora fala das restrições que a intolerância ao principalmente, por causa do leite de vaca impõe em sua alimentação trabalho. No sábado e domingo quem possui a intolerância.“Ainda é muito minha médica libera pequenas quantidades. De qualquer forma tenho que difícil encontrar produtos sem lactose. Os comer durante o dia, porque supermercados possuem apenas algumas quanto mais tarde mais tem- opções, e os preços desses produtos são É muito difícil porque po vai demorar para fazer a muito elevados”.
Durante cerca de três anos as coisas mais gostosas a professora manteve uma levam leite. Hoje em digestão e maiores são os dieta 100% restritiva ao leite dia, quando como riscos de me sentir mal”. alguma coisa que não Quando pode se deliciar com e seus derivados. Por volta devo, sei que vou pagar algum dos produtos “proibidos quatro anos de idade um preço por isso dos”, Débora afirma que dá ela iniciou, lentamente, um processo de readaptação, preferência aos chocolates. Débora e pôde voltar a consumir Ela diz que alguns tipos produtos como leite, queijos e chocolates. Cerca de queijos, por exemplo, mesmo quando de cinco anos mais tarde a intolerância voltou consumidos pela manhã, produzem fortes apresentar reações adversas no organismo. reações. “Hoje em dia, quando como alguma “Na verdade vou sentindo coisa que não devo, sei que vou pagar um os sintomas e tentando me preço por isso”. adaptar às restrições. Sinto dores no ouvido, inchaços na Opção pela soja barriga, dores de estômago e Especialistas calculam que cerca de 25% da de cabeça”. população adulta desenvolva, em diferentes Débora admite que, apesar dos níveis, alguma intolerância à lactose. O tipo desconfortos, não consegue mais comum da doença que atinge a população se manter totalmente longe é conhecido como deficiência primária ou dos alimentos. “É muito difícil ontogenética. Seu aparecimento é atribuído porque as coisas mais gostosas a uma tendência natural do organismo de levam leite”. Mesmo tendo diminuir a produção da lactase com o passar passado por longos períodos dos anos. de vida sem poder consumir Os maiores desafios das pessoas que dea maioria dos produtos deri- senvolvem a intolerância ao leite de vaca e vados de leite, ela diz que não seus derivados é procurar alternativas para se lembra de sofrer por causa substituí-los. Atualmente a soja é considerada das restrições. “Quando somos a melhor opção nesses casos. Mesmo com o criança é mais fácil, porque aumento na variedade de alimentos à base do acabamos nos distraindo com grão, a professora de educação física afirma outras coisas e parece que que ainda é muito difícil achar similares de a vontade acaba passando. soja para atender a todas as demandas de
Novos chocolates Seja por intolerância à lactose ou por restrição ao açúcar, quem não pode consumir os chocolates tradicionais já possui novas opções. O proprietário da Choc Arte explica que a loja possui uma linha de bombons e trufas diets que é mantida durante todo ano. Segundo ele, o chocolate diet é muito procurado pelas pessoas que realmente têm restrições ao açúcar. Éssio explica que a quantidade de calorias do diet é quase a mesma que a do chocolate convencional. Ele diz que a diferença está essencialmente no açúcar, e que o produto não é o mais indicado para quem quer apenas emagrecer. “Se nós colocarmos uma barra de chocolate comum e uma diet, você não consegue identifica-las apenas pelo sabor”. No caso das pessoas que não podem consumir produtos à base de lactose, a situação é um pouco mais complicada. Apesar do número de consumidores ter aumentado muito nos últimos anos, o valor elevado do chocolate de soja tem atrapalhado o sucesso do produto. “Do ano passado, para esse ano o preço do chocolate de soja subiu tanto que ficou inviável produzir o ovo para vender”. Apesar de possuir uma lista de espera com o nome de pessoas interessadas em comprar o ovo sem lactose, esse ano será impossível atender a esse público específico.
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CRÍTICA/ ‘CRÔNICAS DE BUSTOS DOMECQ E NOVOS CONTOS DE BUSTOS DOMECQ’
Antenado
Borges e Bioy satirizam a Argentina por JOSÉ GERALDO COUTO/FOLHAPRESS
Bustos Domecq, como se sabe, é um autor inventado, um heterônimo criado pelos escritores argentinos Jorge Luis Borges (1899-1986) e Adolfo Bioy Casares (1914-99) para satirizar a vida
cultural e política argentina. Dos anos 40 aos 70, Borges e Bioy se divertiram escrevendo crônicas, contos, artigos de crítica e histórias policiais sob a assinatura de Domecq. A editora Globo lança agora no Brasil, agregados em um volume, dois livros dessa produção heterônima, um de crônicas e outro de contos. O primeiro reúne textos de crítica literária e estética e é uma faca de dois gumes: um voltado para o ranço beletrista, provinciano e vazio de certa intelectualidade portenha, representado na própria linguagem cheia de firulas de Bustos Domecq; o outro ferindo sem piedade a impostura das vanguardas literárias e visuais. São textos divertidíssimos, em que o ‘autor’, com disposição bajuladora, exalta produções como a de um escritor que se limita a grafar, em cada
um de seus livros, uma única palavra; ou a do arquiteto cuja ‘obra’ consiste no espaço entre edifícios, árvores, objetos e seres já existentes. Os retorcidos argumentos de que Bustos Domecq lança mão para valorizar os artistas abordados e fulminar seus detratores são uma impagável aula de retórica barroca. No segundo livro, o de contos, persiste a mordacidade da crítica, mas com uma volta a mais do parafuso, uma vez que Bustos Domecq cria outras vozes (as de seus personagens), obrigando Borges e Bioy a exercer todo o seu virtuosismo. Nessas ficções criadas por um personagem fictício (Domecq), a vida argentina aparece duplamente refratada. Em meio a histórias cômicas, vividas por personagens patéticos, cujas grandes ambições contrastam com as patifarias do dia-a-dia, destaca-se como um corpo estranho um conto terrível em sua violência, ‘A Festa do Monstro’. Trata-se do relato em primeira pessoa, por um participante, do linchamento de um jovem judeu por militantes peronistas que se dirigem a um comício de seu líder.
Nos detalhes sórdidos relatados, na psicologia boçal do narrador e sobretudo na exacerbação da italianada gíria popular portenha, Borges e Bioy parecem expressar todo o seu horror pelo populismo truculento e obscurantista de Juan Domingo Perón (1895-1974). Como observa Davi Arrigucci no prefácio, muito desse horror provém da postura aristocrática e conservadora dos autores, assustados diante da emergência das massas trabalhadoras urbanas que vinham corromper a velha Argentina. Que importa? Mesmo os grandes artistas são tributários de seu tempo e de suas origens. Mas sua arte segue nos encantando e assombrando.
CrônicasdeBustosDomecq e NovosContosdeBustosDomecq Autores: Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares Tradução: Maria Paula Gurgel Ribeiro Editora: Globo Quanto: R$ 42 (253 págs.) Avaliação: ótimo
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Casa & Reforma
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Garantia limitada Projeto de lei quer proibir penhora de bem do fiador
por EDSON VALENTE /FOLHAPRESS
Não é fácil encontrar fiador para um contrato de aluguel. A incumbência geralmente é aceita por um parente ou um amigo muito próximo, pois, em caso de ação judicial que recaia sobre suas costas, ele poderá perder até seu único imóvel. Isso ocorre porque o fiador de uma locação é a única exceção à lei federal que estabelece a impenhorabilidade do chamado bem de família. Mas poderá vir a não ser mais, se for aprovado o projeto de lei nº 6.413/09, de autoria do deputado Vicentinho Alves (PR - TO) e que tramita na Câmara dos Deputados. O projeto sugere justamente proibir que o bem de família do fiador seja penhorado para pagar dívidas referentes a aluguel. E causa polêmica entre atuantes do mercado imobiliário. Grande parte das opiniões aponta para um atravancamento no uso desse tipo de garantia, que hoje responde por mais da metade dos contratos de locação na cidade de São Paulo. Outro efeito esperado da aprovação do projeto é a maior substituição do fiador por outras modalidades de garantia de aluguel, como seguro-fiança. “Vai ser mais difícil proprietários aceitarem fiadores que tenham um imóvel só”, analisa a advogada Emanuela Veneri, sócia da consultoria Arbimóvel. “A alteração [na legislação] traria desequilíbrio ao mercado.” Veneri lembra que a questão já constitui divergência entre juízes e advogados. “A lei ratificaria parte da jurisprudência existente hoje, que defende a impenhorabilidade do bem de família do fiador.”
Ônus gigante É o parecer da advogada Flávia Baldoíno Costa, da Baldoíno Costa Sociedade Civil de Advogados. “Perder o bem de família é um ônus gigante”, argumenta. “Não é justo. O fiador tem de responder pela locação, mas não com esse imóvel.” Quem é a favor da penhorabilidade lembra que “ninguém é obrigado a ser fiador”, como diz o presidente da Comissão de Direito Imobiliário da OAB-SP, Marcelo Manhães. “O credor tem de receber o dinheiro dele”, sentencia. “Não pode haver uma subversão de valores - achar que está certo quem está devendo.”
Fiador com imóvel barato é recusado Há casos em que a imobiliária e o proprietário não se restringem à exigência de um imóvel em nome do fiador. “Disseram que o meu apartamento não servia por ter valor venal baixo e área inferior a 70
FOTO: BRITO JR./FOLHA IMAGEM
m2”, conta o cenógrafo Fernando Rolim, 31. “Para ser aceito como fiador, precisei apresentar um extrato de três meses de minha conta bancária.” É comum a solicitação de que o bem do garantidor esteja localizado na mesma cidade do imóvel locado, para facilitar procedimentos jurídicos. Isso dificultou bastante a acomodação da estudante de moda Coraline Sabourin, 19, que se estabeleceu em São Paulo há sete meses. “Meu pai mora na França, e minha mãe, em Natal. A imobiliária não os aceitou como fiadores.” A alternativa que Sabourin encontrou foi a contratação de um seguro-fiança. “Custou supercaro, e é um dinheiro que não vai voltar”, considera. O cenógrafo Paulo Rolim, que precisou apresentar em Negar um fiador com base nas uma imobiliária seu extrato com a movimentação características do imóvel que ele bancária dos ultimos três meses, como parte de um processo de aceitação de seu nome como fiador possui não é um procedimento ilegal. “A lei não caracteriza o Gebara se refere às recentes alterações na que é preciso para ser fiador”, explica o Lei do Inquilinato, que permitem desalojar advogado Marcelo Manhães. “Trata-se de o locatário devedor por meio de liminar em uma análise de crédito que subjetivamente algumas situações. se faz”, diz. Uma delas ocorre justamente quando, ao “Mas definir critérios para o bem do fiador final do prazo do contrato, o fiador pede não é a melhor estratégia”, comenta. “Um exoneração da obrigação. O inquilino então candidato pode ser dono de uma cobertutem 30 dias para apresentar nova garantia ra na Vila Nova Conceição, por exemplo, para a continuidade do acordo ou poderá vendê-la logo após a celebração do contrato ser despejado . e gastar o dinheiro. Outro pode nem ter imóvel, mas ser alto funcionário público Lei agora possibilita com estabilidade de emprego.”
Dimensões Na Lello Imóveis, o costume é “verificar a dimensão da responsabilidade” do garantidor, define a diretora Roseli Hernandes. “Não adianta um fiador com um imóvel de R$ 100 mil para um aluguel de R$ 10 mil mensais, considerando esse valor de locação, mais IPTU e encargos, multiplicado por 30 meses”, exemplifica. Para Hubert Gebara, diretor do Grupo Hubert e vice-presidente de administração imobiliária e condomínios do Secovi-SP (sindicato do setor), essas exigências são “um direito do proprietário ou da imobiliária”. “O que pesa mais, na verdade, é a idoneidade do inquilino”, avalia, “sua receita financeira, se já foi despejado de outro imóvel.” Hoje, diz ele, “o fiador é menos importante, é possível despejar um inadimplente em um prazo de 90 a 120 dias. Antes o débito acumulado era de um ano e meio ou dois.”
exoneração
Algumas mudanças na Lei do Inquilinato, que entraram em vigor em janeiro, fazem com que o fiador fique menos amarrado ao contrato de locação. “Terminado o prazo contratual, que geralmente é de três anos, ele pode comunicar que não quer mais responder pela garantia, mesmo havendo uma cláusula [na lei] que determina a obrigação até a efetiva entrega das chaves”, esclarece Hubert Gebara, do Secovi-SP. Dessa forma, se ele não pede essa exoneração, continua responsável. “Havia uma discussão se o fiador se responsabilizava pelas obrigações vencidas a partir da data em que o acordo passava a vigorar por prazo indeterminado”, contextualiza o advogado Marcelo Manhães. “A discussão não existe mais. As garantias continuam a valer [até a efetiva devolução das chaves].”
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Comportamento
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FOTO: MARISA CAUDURO/FOLHA IMAGEM
Reaprendendo a
viver
Reabilitação melhora recuperação após AVC Jose Ribeiro, 68, que teve um derrame em 2005 e hoje participa de um grupo de teatro especial para quem fica com seqüelas na fala por FLÁVIA MANTOVANI /FOLHAPRESS
O AVC (acidente vascular cerebral) é a doença que mais mata no Brasil, responde por 10% dos óbitos, matando aproximadamente 90 mil brasileiros por ano (estima-se que 450 mil sejam afetados). Mas, mesmo entre os sobreviventes, costuma haver pouco a comemorar: a doença é, também, a principal causa de incapacidade no mundo. Se cerca de 20% dos pacientes que sofrem o problema (chamado popularmente de derrame) morrem, sobra um enorme contingente de pessoas que, em muitos casos, ficam com sequelas, segundo dados internacionais, é o que acontece com 70% dos pacientes inadequadamente tratados, que acabam não retornando ao trabalho, afirma a neurologista Sheila Martins, presidente da Rede Brasil AVC. Metade deles fica dependente de outras pessoas para as atividades diárias. São dezenas de milhares de brasileiros que precisam lidar, do dia para a noite, com dificuldades para realizar tarefas tão básicas quanto andar, mexer o braço, falar, comer, escrever. Felizmente, há diversas modalidades de reabilitação que tornam a recuperação mais fácil. As opções vão de fisioterapia na água a terapia com música e teatro e botox. ‘Nos últimos dez, 15 anos, a reabilitação evoluiu muito. É indiscutível que, com esse auxílio, todos os pacientes conseguem algum grau de recuperação’, afirma Mirto Prandini, chefe da neurocirurgia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Segundo a fisiatra Cristiane Isabela de Almeida, gerente médica de reabilitação do hospital Albert Einstein, há muitas novas ferramentas que ajudam esses pacientes. Uma delas é a neuropsicologia. Ainda difícil de ser encontrada, a modalidade ajuda na recuperação principalmente de sequelas como
deficit de atenção, de memória, na resolução de problemas e na realização de funções executivas (manejar várias informações ao mesmo tempo). Almeida diz que os neuropsicólogos oferecem, simplificadamente, uma espécie de treinamento cerebral. ‘É como fazer exercícios com o cérebro’, resume. Outro recurso novo, ainda em fase de pesquisa, é a estimulação magnética transcraniana, que usa um campo magnético para estimular neurônios. ‘Se um braço está fraco, tentamos estimular uma área do cérebro que facilite sua recuperação’, exemplifica Adriana Conforto, neurologista do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo). Ela diz, porém, que, apesar de estudos com pessoas parcialmente paralisadas terem mostrado benefícios, eles são pequenos e não são suficientes ainda para que a técnica se torne um procedimento clínico. A robótica também já está sendo usada a favor desses pacientes no exterior. Almeida, do Einstein, visitou recentemente, no MIT (Massachusetts Institute of Technology), nos EUA, um centro que usa essa tecnologia para a reabilitação. ‘São máquinas que auxiliam em todos os movimentos. Estamos tentando trazer para o Brasil’, diz. Também têm sido feitas experiências com ferramentas que usam a realidade virtual. ‘Temos que lembrar que a tecnologia ajuda, mas o trabalho tradicional também tem ótimos resultados’, diz. Opte-se pelos métodos tradicionais ou inovadores, os especialistas são unânimes em dizer que, quanto antes procurar a reabilitação, melhor. ‘A velocidade de recuperação de um AVC é maior nos primeiros meses’, diz Eli Faria Evaristo, professor de neurologia na USP. Além disso, quanto mais o tempo passa, mais o paciente reforça padrões errados de movimento e fica mais difícil se livrar deles depois.
O tipo de sequela decorrente do AVC depende da área cerebral afetada. Uma das mais comuns é a hemiplegia (paralisia de um lado do corpo), assim como dificuldades na linguagem. Há pacientes ainda que ficam com sequelas visuais, comportamentais, de equilíbrio ou de memória, entre outras. O grau das sequelas depende da gravidade do AVC, e esta, por sua vez, é influenciada pelo tempo que demora para o paciente ser socorrido, até três horas é o ideal. O tempo e o grau de recuperação desses problemas dependem do tipo de sequela e de características individuais.
Jovens e crianças Quanto mais velho é o paciente, mais chance de ter um AVC, mas estudos têm mostrado um aumento no número de pessoas mais jovens afetadas, por estarem mais expostas a fatores de risco como obesidade, hipertensão e tabagismo. Uma pesquisa divulgada no último mês na conferência da American Stroke Association, por exemplo, mostrou que, de 1993 até 2005, a idade média dos pacientes caiu cerca de três anos. A porcentagem de pessoas com idade entre 20 e 45 anos que tem derrame subiu, no período, de 4,5% para 7,3%. O que muita gente não sabe é que, apesar de ser raro, mesmo crianças podem ser atingidas. Dados da Secretaria do Estado da Saúde de São Paulo mostram que, em 2009, foram 177 casos de crianças de até 14 anos. Segundo Paulo Breinis, neuropediatra do Hospital Infantil Darcy Vargas e do hospital São Luiz, em geral esses pacientes são portadores de cardiopatias congênitas, doenças renais e outros problemas de saúde, mas, em 30% dos casos, a causa não é descoberta.
Ele observa que é difícil identificar os sintomas em crianças muito pequenas. ‘Elas não falam, não andam, fica mais difícil perceber problemas nessas funções. Só um exame neurológico vai tirar a dúvida’, afirma.
EM CENA CONTRA AS SEQUELAS Ele diz que conseguiu se manter tranquilo algo difícil de acreditar em uma circunstância como aquela. José Ribeiro, 68, tinha acabado de acordar quando percebeu que estava com o lado direito paralisado. Caiu na mesa e lá ficou, sem falar nem se mexer, esperando que alguém acordasse foi socorrido pelo filho, meia hora depois. ‘Fiquei calmo. Era tabagista, pensei: “Chegou minha vez’.É pior para o parente, que vê a pessoa com olho e boca caídos, um monstro’, diz o aposentado. Isso foi em 2005. José teve que reaprender a andar, a comer e a tomar banho. Hoje, tem só um pouco de dificuldade para fazer as coisas com a mão direita. Também teve problemas de linguagem tem dificuldade de concatenar palavras, mas só quando fica nervoso. Há um ano e meio, entrou para o Ser em Cena, grupo de teatro para afásicos (pessoas com deficiência na linguagem). ‘Nunca tinha feito teatro, mas gosto muito’, diz. Nem sempre foi fácil. Quando recebeu alta da fisioterapia e viu que ainda restavam dificuldades, José teve depressão. ‘Eu achava que iria voltar à normalidade. Só pensava: vou ser um peso morto’, lembra. Após se tratar com psiquiatra e psicoterapeuta, está melhor e até brinca com sua condição. ‘Aceito minhas limitações e me considero bem. Aprendi a cozinhar: afinal, com um marido em casa sem fazer nada, minha mulher já teria me mandado embora.’
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RECUPERANDO AS FUNÇÕES Conheça algumas das técnicas mais usadas na recuperação de pessoas com AVC 1.Fisioterapia É o tratamento mais conhecido para as sequelas motoras do AVC. Com ou sem o auxílio de apetrechos como bolas, o profissional trabalha com exercícios para melhorar rigidez, paralisia e outros problemas comuns. Caso a pessoa sinta dor (muito comum no ombro, por exemplo), podem ser usadas técnicas de analgesia, como tens (estimulação elétrica nervosa transcutânea), um tipo de eletroterapia. Nessa mesma linha, são utilizados outros tipos de corrente para auxiliar na realização dos movimentos ou para fortalecer os músculos. Alguns fisioterapeutas trabalham com o biofeedback, que usa um computador e eletrodos para ajudar no reaprendizado motor. 2.Hidroterapia A água, aquecida a cerca de 30ºC, provoca um relaxamento muscular que ajuda a soltar a rigidez típica das sequelas de AVC. Mas o que mais ajuda a desenvolver o potencial motor é a falta de gravidade o peso corporal fica reduzido em 50% e é possível trabalhar movimentos que o paciente não consegue fora da água. A falta de impacto reduz o risco de lesões e o peso trazido pela água cria uma barreira que aumenta a força feita no exercício, tonificando os músculos. Não substitui a fisioterapia convencional, mas é um bom complemento a ela. ‘A sensação de liberdade ajuda na realização dos movimentos. E tudo o que é feito na piscina auxilia na independência fora da água’, diz Carla Nardelli, fisioterapeuta da Water Fisio.
3.Musicoterapia e teatro Pouco difundidas, essas modalidades podem ajudar na reabilitação de movimentos e da fala e, de quebra, melhoram a autoestima, abalada por causa da doença. Therezinha Jardim, chefe do setor de musicoterapia da ABBR (Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação), no Rio, explica que, com a música, os pacientes executam movimentos de forma mais prazerosa e menos repetitiva do que no trabalho de reabilitação convencional. ‘A prioridade é a parte emocional, mas a musicoterapia ajuda na parte motora também. Eles se movimentam naturalmente: mexem a mão, o pé, o corpo, começam a cantar.’ Instrumentos musicais também ajudam a treinar os movimentos, e o canto auxilia pessoas que sofrem com problemas na fala. De fato, um novo estudo apresentado no encontro da Associação Americana para o Avanço da Ciência sugere que alguns pacientes que não se expressam verbalmente conseguem se comunicar por meio do canto, que pode, por isso, ser uma ferramenta de reabilitação. Isso provavelmente ocorre porque a música é processada no lado do cérebro oposto ao da linguagem. Outra ferramenta que pode ajudar pessoas com sequelas na fala é o teatro. Em São Paulo, existe um grupo voltado só para afásicos quem perde a linguagem, o Ser em Cena. Baseado em uma experiência canadense, ele já inspirou um projeto parecido em Portugal. Segundo Saliba Filho, diretor teatral da organização, as repetições usadas no teatro ajudam no reaprendizado da fala. Entre as ferramentas usadas, o grupo utiliza também o canto. A maioria dos participantes sofreu um AVC.
Comportamento 4.Terapia ocupacional Essa modalidade de reabilitação lida com a recuperação das funções do dia a dia perdidas após o derrame. É o terapeuta ocupacional que vai ajudar o paciente a retomar atividades como comer sozinho, trocar-se, tomar banho, cozinhar e lavar roupa. ‘Ele vai criando, com o paciente, adaptações para que ele consiga retomar a independência. Enquanto o fisioterapeuta trabalha basicamente com atividades motoras, o terapeuta ocupacional lida com função’, diferencia Cristiane de Almeida, do hospital Albert Einstein. É esse profissional também que confecciona objetos adaptados para ajudar na vida prática do paciente, como talheres que a pessoa com dificuldades motoras consiga segurar na hora de comer. 5.Tratamento psicoterapêutico ou psiquiátrico Não é de se estranhar que o AVC, com as frequentes limitações que traz, tenha forte impacto emocional no paciente. Mas novos estudos mostram que esses problemas também podem ser decorrentes de fatores biológicos. ‘Uma pesquisa europeia revelou que muitos pacientes de AVC, mesmo tendo se recuperado das principais sequelas, tinham depressão, terror noturno e insegurança de voltar ao trabalho’, afirma Mirto Prandini, da Unifesp. Estatísticas de países desenvolvidos mostram que 45% dos pacientes têm depressão grave após o AVC. Essa sequela psicológica comumente demora a ser detectada, mas o tratamento pelo psicólogo ou psiquiatra, quando necessário é fundamental para o bem-estar e até para o sucesso da reabilitação física da pessoa.
6.Fonoaudiologia Trabalha distúrbios de fala, comunicação e deglutição, comuns em quem sofreu um derrame. A atuação do fonoaudiólogo começa na UTI, com testes que medem o grau de consciência e comunicação que o paciente tem e medidas para auxiliar na deglutição, caso haja esse problema. Se ele não consegue falar, são estabelecidos sistemas alternativos como piscar o olho ou levantar a mão para expressar sim ou não. ‘Isso diminui a angústia pela falta de comunicação’, diz a fonoaudióloga Ana Paula Mac Kay, vice-diretora do curso de fonoaudiologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. No dia a dia, o profissional faz exercícios com o paciente e o ajuda a reorganizar sua fala. O tempo de recuperação depende do grau da sequela e de cada paciente. ‘Quanto mais conhecimento a pessoa tinha antes do AVC, mais reserva cognitiva ela tem para a linguagem e melhor é a recuperação.’ 7.Botox Mais conhecida por seu uso estético, a toxina botulínica tipo A também é indicada para o alívio de uma sequela comum de AVC: a espasticidade (tônus muscular aumentado que faz com que os músculos permaneçam continuamente contraídos, principalmente os flexores do braço e os extensores da perna). O problema, inclusive, dificulta a fisioterapia, que fica mais fácil após o uso da toxina. O botox tem efeito porque bloqueia, na superfície da fibra muscular, o estímulo nervoso que dá o comando para a contração exagerada do músculo. ‘Ele não atua na causa do problema, mas traz alívio por atuar no receptor, impedindo que a mensagem de contração chegue ao músculo’, diz Cristiane de Almeida, do Einstein.
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Festas de arromba
Sexo, drogas, rock’n’roll: sem ninguém para ditar as regras, jovens fazem farra na ausência dos pais por DIOGO BERCITO/CHICO FELITTI /FOLHAPRESS
CRESCIMENTO DESCONTROLADO Quando Mateus*, 17, soube da viagem a trabalho de seus pais, comentou com alguns colegas que queria fazer um encontro entre amigos em sua casa. “Mas aí a notícia se espalhou pela escola”, conta o garoto. E a festinha virou festão. “Comecei a ficar com medo, porque não paravam de chegar pessoas!” Pagando R$ 5 para entrar na casa, cerca de 40 convidados participaram do evento. Misturaram vodca com suco, fizeram caipirinha, pediram pizza e ouviram bastante música eletrônica e funk. Segundo o rapaz, o boato é de que uma garota transou naquela noite -”mas eu nem conhecia ela”, afirma. Na época, tinham 16 anos. Seus pais até hoje não sabem da algazarra, que durou até a madrugada. Como teve dois dias para arrumar a casa, o garoto “soube esconder os fatos e as provas”. * Todos os nomes são fictícios FOTO: FOLHAPRESS/IMAGE SOURCE/GREG WHITE
A PROVA DO CRIME Fazer farra em casa na ausência dos pais hoje é rotina para o gaúcho Roberto, 22. Agora que é maior de idade, só precisa avisá-los. Mas já fez também festinha às escondidas, quando tinha 16 anos. Em uma delas conta que tomou o maior cuidado para ficar “na camufla”, mas foi delatado pelo quadro de natureza morta pintado por sua mãe -derrubado por algum de seus dez convidados. “Meus pais, que estavam no interior, ficaram bastante chateados, porque tinham confiado em mim”, diz. No cardápio da festa, massa carbonara cozinhada por ele com os amigos. E caipirinha liberada. “Rolou pegação, era bem na época em que as coisas começaram a esquentar”, conta. “Mas minha primeira vez não foi nessa festinha!”, avisa. Jogaram videogame, falaram sobre música e conversaram um bocado. Mas até que horas
foi a bagunça? “Não sei”, confessa o rapaz. “Só sei que acordei no sofá.” CALOR HUMANO A bagunça de Felipe, 21, começou com uma brincadeira. “O que você quer de aniversário de 18 anos, uma festa no apartamento?”, perguntou-lhe sua mãe. E ele gostou da ideia. De comum acordo, os pais foram dormir fora, a irmã foi para a balada e o garoto amontoou 30 amigos em um apartamento de 60 metros quadrados. “Você não tem ideia de como estava apertado!”, diz o estudante. O espaço pequeno tinha a vantagem de deixar tudo ao alcance da visão do rapaz, que conta que nada foi quebrado na festança. “Mas tomaram algumas bebidas dos meus pais que estavam no armário.” BAIXANDO O NÍVEL Sonolenta, Vera, 21, nem queria sair de casa na noite em que fez sua festa mais de arromba. Na época, tinha 18 anos e tinha ido para a balada na noite anterior, motivo de seu cansaço. O incentivo para a bagunça veio, curiosamente, de uma algazarra na casa vizinha, às 21h. “Começaram um culto, colocaram cadeiras na calçada e uma caixa amplificadora, um monte de gente gritando, cantando e orando ao mesmo tempo...”. Como a mesma vizinha era a primeira a reclamar de suas festas, decidiu se vingar. “E sempre fui rápida no gatilho!” Ligou para um amigo e pediu que ele trouxesse o carro de caixas de som potentes. Colocou o automóvel na garagem, ligou a música no último volume e convidou a galera para a festa -cerca de 15 convidados. Segundo a garota, o “nível econômico” da festa foi caindo ao longo da noite. Começaram com uísque, passaram para a cerveja e
terminaram com rum de baixa qualidade. Às 2h, a polícia bateu no portão e pediu que abaixassem o som. Abaixaram e logo aumentaram de novo. Enquanto isso, seus amigos mais animados começavam a nadar na caixa d’água. Foi só às 4h, na segunda visita da polícia e já com a sensação de ter se vingado, que a garota interrompeu a farra. “Foi hora de parar”, confessa. ESFUMAÇADA A festa de Joana, 21, já tinha fugido ao controle quando seus cinco convidados se transformaram em 25. “Tinha copo em cima do rack novo, lata de cerveja em cima do som, um colchão jogado na sala...”, lembra-se. Na época, tinha 20 anos. Além das bebidas alcoólicas, a garotada aproveitou o ensejo para fumar maconha e cheirar cocaína. Em um dos banheiros Joana conta que seus amigos fizeram “sauna” -reuniram-se em um espaço pequeno para fumar maconha juntos. Às três horas da madrugada a garota se irritou. “Desceu o espírito de mãe em mim e mandei metade da festa embora!”, diz. Um rapaz que não conhecia a agarrou, começando uma briga. Depois de chorar, tomar banho e colocar o pijama, Joana dormiu. Quando acordou, ainda encontrou alguns convidados dormindo pelos cantos, mas a bagunça tinha sido organizada por uma amiga. Apesar de não fazer mais festas grandes, Joana não abre mão de reunir os amigos na ausência dos pais. Tem até um truque: faz bagunça nos primeiros dias de viagem dos genitores, para ter tempo de arrumar tudo. “E digo a eles que foi uma festa cristã”, brinca.
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Seus Direitos e Deveres colunadoconsumidor@yahoo.com.br
A FUNÇÃO DE JURADO DO TRIBUNAL DO JÚRI GUSTAVO ANTÔNIO DE MORAES MONTAGNANA/ GABRIELA DE MORAES MONTAGNANA
O Tribunal do Júri é um órgão jurisdicional composto por um Juiz de Direito, que o preside, e sete jurados leigos, isto é, por pessoas do povo, escolhidas por meio de sorteio em procedimento regulamentado em lei. Ele possui a competência para julgamento dos crimes dolosos contra a vida e dos crimes que forem praticados com algum tipo de ligação com aqueles. É certo que no nosso ordenamento jurídico a regra é que os delitos sejam julgados por um juiz togado, que integra a magistratura por meio de concurso público. Contudo, a nossa Constituição Federal prevê uma exceção a essa regra prevendo que o julgamento dos delitos considerados os mais graves da nossa legislação, sejam julgados por leigos. Muito se questiona o porquê desta regra. A resposta é simples, trata de manifestação de um dos princípios mais caros que rege toda a nossa sociedade, qual seja, o princípio do Estado Democrático de Direito. Esse princípio prega a participação efetiva da população no processo de manutenção de uma sociedade. O Tribunal do Júri submete o homem ao julgamento de seus pares e faz com que o Direito seja aplicado segundo sua compreensão popular e não segundo a técnica dos tribunais. Por essa razão inexiste o dever de motivação dos julgados. A resposta à quesitação pelo Conselho não exige qualquer fundamentação acerca da opção, permitindo que o jurado firme seu convencimento segundo lhe pareça comprovada ou revelada a verdade. É nesse ponto que muitos questionam a eficácia deste órgão jurisdicional. Esse é realmente um risco de grandes proporções, pois, preconceitos e idéias pré-concebidas podem influenciar na escolha a ser feito pelo julgador leigo, tudo a depender da eficiência retórica dos órgãos de acusação e defesa. Contudo, bom ou ruim, o júri tem previsão constitucional e não se pode negar, trata-se de uma grande oportunidade para que a população insatisfeita, na sua maioria, com as decisões ju-
diciais, ocupem o lugar dos magistrados e façam valer o direito, ou seja, façam Justiça! O jurado exerce função relevantíssima e tem natureza pública. A lei estabelece, com relação a ele, presunção de idoneidade moral, assegurando-lhe prisão especial até o julgamento definitivo, nos crimes comuns. Garante-lhe, ainda, preferência em licitações públicas e no provimento de cargo ou função pública, bem como nos casos de promoção funcional e remoção voluntária. Por isso tudo, a função de jurado é obrigatória e não pode ser recusada, imotivadamente, sob pena de multa de 1 (um) a 10 (dez) salários mínimos. Apenas aos maiores de 70 (setenta) anos o exercício desse encargo é facultativo. Contudo, a relevância da função de jurado além dos aludidos privilégios impõe ônus e obrigações. Assim, por exemplo, nenhum desconto será feito nos vencimentos do jurado sorteado que comparecer às sessões do júri. Não se pode negar que o exercício do encargo de jurado é uma oportunidade de o cidadão comum “fazer justiça” contribuindo para a prevenção e repressão da prática dos crimes graves, responsáveis por desfacelar a sociedade, já que retira dela o que lhe dá origem, ou seja, o próprio ser humano. Trata-se do exercício do papel de cidadão. Contudo, a previsão da norma que coage ao cumprimento desse relevante papel social, se impõe, haja vista que na prática, quando efetivamente são chamados a contribuir, os cidadãos acabam procuram se esquivar ao cumprimento do encargo. O individualismo, reinante no sistema capitalista que rege nossa sociedade, sobrepõe-se à satisfação de exercer o relevante papel de jurado no palco da existência humana. É certo que a vida é o bem mais valioso que possuímos não havendo que se fazer distinção qualquer entre um ser humano e outro. A mesma importância que possui a vida de alguém que tem os olhares da mídia sobre si recaídos, possui a vida de um ser humano que por ela passa desapercebido. Em todos os casos a sociedade, em geral, deve se
empenhar para ver a Justiça reinar e o autor de um delito doloso contra a vida punido. Interessante observar, ainda, quanto aos jurados que como exercem a função jurisdicional a eles deverá ser exigido o compromisso da imparcialidade, apesar de ser-lhes dispensada a obrigação de fundamentar as suas decisões. Assim, não podem ser jurado o marido ou mulher, ascendentes e descendentes, irmãos e cunhados, tio e sobrinho, padrasto, madrasta e enteado, companheiro (a) das partes. Também não poderá ser jurado aquele que tiver funcionado em julgamento anterior do mesmo processo ou que tiver manifestado, previamente, disposição para condenar ou absolver a acusado. Por esses motivos os jurados poderão ser recusados tanto pela defesa quanto pela acusação. Também é possível a recusa imotivada de 3 (três) jurados para cada parte, sendo possível, assim, o afastamento de pessoas tendenciosas e com idéias pré-concebidas. A verificação desses critérios é possível tendo em vista que entre o 15° e o 10° dia antecedente à sessão de julgamento far-se-á o sorteio de 25 jurados. No dia do julgamento pelo menos 15 desses jurados sorteados deverão estar presentes, quando se fará novo sorteio para a escolha de sete jurados para compor o conselho de sentença. Somente poderá ser jurado o cidadão que contar com mais de 18 anos e notória idoneidade. Cidadão é aquele nascido no Brasil ou naturalizado brasileiro e que se encontra no gozo de seus direitos políticos. OS poderão ser responsabilizados pela prática de crimes tais quais os juízes togados, como o de concussão, corrupção ou prevaricação. Isto porque, embora transitoriamente e sem remuneração, exerce a função pública, sendo considerado funcionário público para os fins penais E deverão permanecer incomunicáveis a partir do sorteio de seus nomes, sob pena de exclusão do Conselho de Sentença e multa de 1 (um) a 10 (dez) salários mínimos.
Contudo, é preciso que se aplique de forma razoável esse preceito, evitando o excessivo rigor naquilo que se interpreta como incomunicabilidade. A própria lei não decreta uma incomunicabilidade absoluta ao permitir que o jurado formule perguntas às testemunhas ou ao réu, examine os autos, etc.. O que visa o legislador, em verdade, é impedir o jurado de exteriorizar o seu voto, influindo na convicção dos demais. O jurado pode, é certo, conversar com os outros sobre temas variados quando recolhido na sala secreta ou outro local qualquer, mas jamais sobre fatos envolvendo o processo. É o jurado, em termos jurídicos, o leigo do Pode Judiciário, investido, por lei, na função de julgar em órgão coletivo a que se dá o nome de Júri. Os jurados são alistados anualmente pelo Presidente do Tribunal do Júri em número de 300 a 700 nas comarcas com mais 1000.000 (cem mil) habitantes, como é caso de Bragança Paulista. A lista geral dos jurados, com a indicação das respectivas profissões, será publicada na imprensa, onde houver, e afixada à porta do Edifício do Fórum, até o dia 10 de outubro de cada ano. Esta fase é de grande relevo, por fixar para o ano seguinte o corpo de jurados que decidirão nos julgamentos dos crimes dolosos contra a vida, na comarca. Essa lista poderá ser alterada, de ofício ou mediante reclamação de qualquer do povo ao juiz presidentes até o dia 10 de novembro, data de sua publicação definitiva. O Jurado que tiver integrado o Conselho de Sentença nos doze que antecederem a publicação da lista geral fica dela excluída. Exerçam a cidadania! Lutem pelo direito de todos a uma convivência harmônica em sociedade! Até a próxima!! Advogados Gabriela de Moraes Montagnana OAB/ SP 240.034 Gustavo Antônio de Moraes Montagnana OAB/ SP 214.810
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