Braganรงa Paulista
Sexta 25 Junho 2010
Nยบ 541 - ano VIII jornal@jornaldomeio.com.br
jornal do meio
(11) 4032-3919
sexta 25 • junho • 2010 Jornal do Meio 541
Para Pensar
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EXPEDIENTE Jornal do Meio Rua Santa Clara, 730 Centro - Bragança Pta. Tel/Fax: (11) 4032-3919
MONS. GIOVANNI BARRESE
A CRUZ DE CADA DIA
E-mail: jornal@jornaldomeio.com.br Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli Jornalista Responsável: Alexandra Calbilho (mtb: 36 444)
Retomo um tema muito
evangelho de Lucas (9,18-24) há
tava e interpreta esta “cruz de cada
que os caminhos de Deus são outros.
presente quando temos
uma indicação de como encarar
dia” como uma forma conformada
Não passam mais pelo templo. Nem
que lidar com as dificul-
as cruzes. Sabemos que uma das
de aceitar as limitações, doenças,
pelo domínio dos sacerdotes. Essa
dades que cercam nossa vida: se
maiores dificuldades de Jesus foi
dores, sofrimentos. De certa forma
realidade vivida por Jesus e pelos
Deus nos chamou a sermos seus
fazer os discípulos entenderem que
se crê que Deus envia dores para
discípulos aponta para a realidade
filhos e filhas, por que temos que
tipo de messias ele era. Na época a
“provar a fé”. A cruz, no Evangelho,
de todos os tempos onde as estru-
enfrentar dores e dificuldades? No
expectativa do Messias libertador
não tem nada a ver com dores. Ela
turas da dominação não permitem a
fundo essa questão envolve o desejo
era intensa. A opressão dos romanos
significa a participação na missão
vida plena e digna. Essas estruturas
de compreender a origem do Mal.
criava um desejo profundo de mu-
de Jesus. O Senhor será crucificado
devem ser denunciadas e combati-
De onde ele vem? Para alguns o
danças radicais. O Messias esperado
porque enfrentou os donos do poder
das. Por isso assumir a “cruz cada
Mal representa o lado escuro do
chegaria com poder. Expulsaria os
político-religioso, desmascarando
dia” é participar da mesma missão
da doação da vida. Para que, no
Criador que seria, necessariamente,
invasores e restauraria o esplendor
a estrutura que oprimia o povo e
de Jesus. É colocar a vida no seu
desprendimento total, se encontre
a sua origem. Há um pensamento
e a glória do povo de Israel. Apoia-
mantinha a visão do Deus a quem
seguimento e realizar as ações que
a razão fundamental da existência
clássico que desenvolve essa teoria
dores desta visão os discípulos não
era impossível obedecer (baste
ele realizou. Isso leva à “salvação” da
humana: o Amor! E quando o Amor
que chamamos de maniqueísmo: a
compreendiam as atitudes pacíficas
lembrar a multiplicação dos man-
vida, isto é, à vida plena. “Perder a
é encontrado não se precisa de mais
mesma origem para o Bem e para
do Senhor. Até pensavam que Jesus
damentos). Quem conhecia a Lei
vida” significa assumir valores que
nada! Cruz deve ser encarada como
o Mal. Para os cristãos o Mal tem
estava usando de uma estratégia.
eram uns poucos. O restante era
passam. Colocar como meta realidades
caminho de plenitude. Caminho
origem no coração do homem. Não
No momento certo ele apareceria
formado pela massa de pecadores
limitadas. A cruz continua sendo,
que conduz à descoberta que na
poderia vir de Deus, o sumo Bem.
com todo o potencial bélico para
que dependiam do Templo e dos
portanto um desafio. E não é difícil
limitação dos nossos corações, na
Todavia, quando surgem momen-
derrotar os inimigos. Não bastavam
sacerdotes para não serem con-
buscar um cristianismo sem cruz.
fragilidade de nossas decisões, na
tos difíceis, mesmo os que crêem
as advertências que ele fazia. Uma
denados. Jesus mostra a mentira
Para ficar com o Cristo “glorioso”.
condição pecadora de nossas vidas
num Deus bom procuram nele a
delas traz a expressão concreta da
deste tipo de forma religiosa. Num
Crendo que se chega à glória sem
resplandece Aquele que é tudo em
causalidade do sofrimento. Esta
cruz: “Quem quiser ser meu discí-
confronto que vai se acirrando pela
passar pela cruz. Pode-se, igualmen-
todos! E que nos deve fazer dizer:
maneira de reagir está enunciada
pulo, renuncie a si mesmo, tome a
denúncia continuada de Jesus feita
te, ficar parado no Cristo da cruz.
“Bendita cruz, que pesada e cheia de
em frase do tipo “Deus quis assim”,
sua cruz cada dia e siga-me”(texto
de atitudes e palavras. O anúncio do
Se assim for morre a esperança.
farpas, nos faz ver o esplendor
“É a vontade de Deus”, etc. No
citado acima). Muita gente interpre-
Evangelho libertador vai mostrando
A cruz é a passagem obrigatória
da Vida!”
As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão. As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Jornal do Meio Ltda.
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“Criando Campeões” Criado há um ano o projeto sócioeducativo leva disciplina, respeito e garra aos jovens e crianças do bairro da Vila Aparecida
por JANAINA AVOLETA
Idealizado pelo professor de educação Vila Aparecida e vi muitos amigos meus física e faixa preta em Judô, Filipe serem presos e envolvidos com drogas, vejo Luccas Vergara, o projeto sócioeduca- ainda hoje crianças de 12 anos utilizando tivo “Criando Campeões” teve inicio no ano drogas, se destruindo, eu estou tentando de 2009 no bairro da Vila Aparecida. A idéia construir, assim eles não vão se perder”, era trazer para dentro dos tatames crianças e emociona-se. jovens que não possuíssem recursos e opções Além das aulas que são ministradas por dois de lazer, proporcionando o desenvolvimento voluntários (professor Filipe e professor psíquico, físico e social dos mesmos, de lá para Tiago Reis) os alunos que participam do cá o que parecia sonho de um idealizador, se projeto são constantemente monitorados no tornou a mais pura realidade. desempenho escolar (aumento da freqüência Hoje, treinam na quadra da Escola de Samba e manutenção das médias), numa parceria Acadêmicos da Vila (cedido para o projeto), com a escola. 70 crianças, de faixa Filipe conta com alegria etária entre 5 e 17 anos, Mostramos que aqui um de um caso especial, um todos estudantes e que precisa do outro para garoto que tinha sérios graças ao judô tem tido treinar, incentivamos o problemas de desesevoluções mensais não só companheirismo, a ajuda, trutura familiar, o que sem rivalidade e vemos que desencadeava problemas no boletim escolar, como isso tem se estendido para o de desempenho escolar e nas relações familiares cotidiano deles falta de disciplina. A mãe e sociais. do garoto, entre tantas O judô, um esporte Filipe Luccas Vergara vezes, foi chamada mais oriental tem entre várias PROFESSOR DE JUDÔ E IDEALIZADOR DO PROJETO uma vez à escola e espeatribuições a capacidade de melhorar a concentração, proporcionar rando mais um reclamação, espantou-se com autoestima e disciplina. Muito mais que o que a diretora havia dito: “A mãe contou golpes e posições marciais, busca-se fortalecer que a diretora disse que estava espantada o caráter e possibilitar que adultos ou jovens com a melhora do aluno”, alegra-se Filipe. A fortaleçam seus conceitos morais e sociais. surpresa foi maior quando ao chegar a casa “Eu fui uma criança hiperativa e aos 6 anos o adolescente estava estudando, indagado ingressei no judô, mudando minha vida”, pela mãe o motivo da mudança, o jovem conta Filipe, formado em educação física, respondeu: “Estou fazendo lição porque professor de judô e idealizador do projeto. senão perco a vaga no judô”. Aos 17 anos, o jovem já era faixa preta em Essa é apenas uma história de mudança de judô. “Cresci e moro até hoje no bairro da perspectiva, entre tantas que o tatame tem presenciado. Enfileirados, lutando com garra e ética, dando as mãos para o companheiro se levantar é difícil imaginar que aquelas crianças uma dia estivessem do lado oposto da disciplina. “Mostramos que aqui um precisa do outro para treinar, incentivamos o companheirismo, a ajuda, sem rivalidade e vemos que isso tem se estendido para o cotidiano deles”, explica Filipe, emendando que “nem sempre foi assim, no inicio havia Tiago Filipe e Ariel, aluno promessa
Circuito Municipal de Judô
brigas dentro e fora, mas hoje já vemos os frutos”. Mateus Dias de Oliveira, 18 anos é um desses frutos, morador do bairro e atleta de judô há um ano, ele conta que além da disciplina, a atividade proporcionou o encontro com pessoas que hoje são referencias para sua vida. “Os professores são exemplos positivos para nós, dentro e fora do tatame”, afirma. Cidadania não é o único objetivo do projeto, apesar do projeto ser sócio educativo alguns talentos tem sido notados nas aulas e as competições já começam a fazer parte da rotina dos alunos. Apesar de tantos frutos, e pela importância dos mesmos, o projeto “Criando Campeões” não para de receber pais e jovens interessados em participar, no entanto, as dificuldades são muitas: o tatame, por exemplo, foi comprado pelos professores; o local das aulas não tem bebedouro para os alunos, os uniformes, que são caros, são doados por pais de alunos de escolas particulares onde os professores também ministram aulas, por isso, quem quiser fazer parte do Projeto, patrocinando ou colaborando com algum item pode entrar em contato com o coordenador, Filipe, através do telefone: 7426-4118. Já pais que tiverem interesse em oferecer a oportunidade da prática desse esporte à seus filhos podem procurar os professores as segundas-feiras, das 9h00 às 10h00; quartas-feiras, das 1800 às 19h30; quintas, das 15h00 às 16h00 e aos sábados das 17h30 às 19h30. Lembrando que o projeto é gratuito!
Campeões da Categoria masculina infantil
Idealizadores André, Douglas, Filipe e Tiago
Equipe de competição do projeto
O lutador Fabio dá golpe em adversário
Treino na quadra da Vila
Campeãs da Categoria feminina infantil
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Comportamento
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FOTO: CAIO GUATELLI/FOLHAPRESS
Cada um no seu redondo Entre os vários benefícios, as danças circulares estimulam a cooperação, relaxam e aumentam a capacidade cardiorrespiratória
Workshop das Danças Circulares dos Bálcãs, orientado pela professora Betty Gervitz no Espaço10X21
por IARA BIDERMAN/FOLHAPRESS
Dança de roda, todo mundo sabe, é aquela brincadeira de criança ou manifestação folclórica presente em qualquer canto do planeta. Quando recebe o nome de dança circular, acrescida ou não do adjetivo “sagrada”, ganha ares de coisa alternativa, restrita a iniciados e à turma que tem um pé na lama de Woodstock (e idade para ter visto isso). Só que a ciranda já botou seu pezinho no mundo dos modernos do século 21. Em algumas baladas, gente de 20 a 30 anos está dando as mãos para dançar em rodas ou espirais com a base coreográfica e musical de danças circulares tradicionais. A tradição, nesse caso, é a dos países balcânicos (no Leste Europeu). A balada é a festa Go East, criada no Rio de Janeiro, onde acontece todo mês, e replicada em São Paulo, onde ocorre com menos regularidade, mas com a mesma animação. Ao som de ritmos típicos de povos eslavos e ciganos, mixados com música eletrônica como drum”n’bass e dub ou até mesmo rock, o povo da noite também resolveu cair na dança circular. “Nas festas, sempre tem o momento roda. Até quem não sabe do que se trata entra”, diz Maria Tereza de Almeida, 25, DJ e produtora dessas baladas. “É sempre o ápice da festa. Em balada tem muito a atitude “você com você”, cada um dançando sozinho. Na roda, a vibração é outra, é a de compartilhar”, defende Maria Tereza. Um dos benefícios mais citados da dança circular é o aspecto inclusivo e coletivo, capaz de criar vínculos e relações de solidariedade entre os praticantes. Não é pouco, em uma época em que a competitividade (e o estresse que ela gera) tomou conta até das atividades voltadas ao bem-estar.
Fluxo de Movimento Dançar em círculo leva a um ritmo diferente daqueles criados por comportamentos ansiosos, na visão do psiquiatra Paulo Toledo Machado Filho, que é coordenador do curso “Jung e Corpo”, do Instituto Sedes Sapientae, em São Paulo. “A dança circular relaxa, alterando os neurocircuitos do estresse”, diz ele. Por essência, a roda não cria nada competitivo, já que não há quem fique na frente ou atrás. Como o importante é manter o ritmo e a forma circular, quem erra o passo é imediatamente ajudado pelo colega, para que o fluxo do movimento seja mantido. Pode ser, em outras palavras, o que chamam de “fluxo de energia” gerado por essa prática. Além disso, é uma atividade artística, que não requer prática nem habilidade para ser realizada. O que não quer dizer que seja pouco refinada em termos de movimentos ou uma prática isenta de desafios. A fisioterapeuta e professora de danças Betty Gervitz, que dá aulas de danças étnicas em São Paulo, afirma que o trabalho neuromotor da dança circular é bastante requintado. A roda desenvolve a bilateralidade (controle motor dos lados esquerdo e direito do corpo) e exige que o cérebro processe a informação sobre o movimento de forma diferente da que está habituado. “Normalmente, quando aprendemos um passo ou uma coreografia, imitamos quem está à nossa frente, como um espelho. Em uma roda, você tem que fazer o movimento contrário do feito por quem está na sua frente”, explica Gervitz. Ao mesmo tempo, é preciso regular o passo, respeitar o espaço do outro e seguir ritmos pouco óbvios - as músicas não são exóticas
apenas por virem de culturas diferentes, mas também porque têm padrões rítmicos com contagens de tempo diferentes das usuais. A mágica é que tudo isso pode ser complexo, mas basta entrar na roda para tudo acontecer naturalmente. “A roda é um facilitador, ela te leva; como os passos se repetem, o corpo vai assimilando essas novas informações gradualmente”, diz Gervitz. O fator prazer também ajuda. A alegria da música, a animação do grupo e o fato de não ser preciso sofrer para atingir um determinado objetivo colaboram para aumentar a produção de neuro-hormônios ligados à sensação de bemestar, como por exemplo as endorfinas. E claro, também há um considerável trabalho aeróbico que, além de estimular as endorfinas, aumenta a capacidade cardiorrespiratória, queima calorias e ajuda no controle da pressão arterial, entre outras coisas.
Modelo de Ordem Aos efeitos físicos, somam-se os benefícios extracorporais das danças circulares. “O círculo é o modelo organizador para a psique e realizá-lo fisicamente ajuda a pessoa a se organizar internamente”, afirma o psiquiatra Paulo Machado Filho. A psicóloga Glaucia Rodrigues, coordenadora do Centro de Estudos Universais, que promove cursos de danças circulares, diz que a roda ou qualquer movimento circular, como girar sobre o eixo do próprio corpo, ajuda a pessoa a se autocentrar e a se equilibrar. “Na roda, a pessoa precisa estar presente, inteira naquela situação. Ela precisa estar o tempo todo conectada com o espaço e com o seu corpo”, diz a bailarina Rosane Almeida, que ensina danças brasileiras no Instituto Brincante, em São Paulo. Essa conexão é entendida por muitos como
uma forma de meditação ativa. Para várias culturas, é uma oração em movimento - daí a concepção de dança sagrada. Danças circulares vinculadas a rituais religiosos estão presentes em diversas tradições. Aparecem no candomblé, em cerimônias indígenas ou no giro dos sufis, que são os místicos do islã. Nessas situações, os praticantes costumam passar por algum tipo de iniciação, que os integra ao sistema de crenças em questão e os prepara para lidar com pequenas alterações de consciência, segundo Paulo Machado Filho. “Na relação com o ritmo e com o movimento, o praticante tem uma percepção diferente da realidade. Em termos psicológicos, deixa de tomar o próprio “eu” como referência, consegue ver as coisas em uma esfera maior”, diz o psiquiatra. O bailarino egípcio Mohamed El Sayed, que em abril deu um workshop de giro sufi em São Paulo, acredita que a dança sagrada “supera a materialidade”, usando o corpo como uma conexão entre o céu e a terra. Simbolicamente, as danças circulares reproduzem o movimento dos astros celestes, como o de rotação (sobre o próprio eixo) e de translação (ao redor de um centro). Algumas correntes restringem essa prática aos iniciados. “As alterações de consciência causadas pela dança podem levar a estados descritos como êxtase, e nem todo mundo sabe lidar com esses efeitos. Por isso a exigência de uma preparação”, pondera Machado Filho. Para Sayed, porém, a essência da dança e a funcionalidade dos movimentos circulares permitem que o giro seja feito de forma mais solta e por qualquer pessoa. Basta estar disposto a se deixar levar, ser levado pela música e pelo grupo, se concentrar no aqui e agora. E girar.
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Casa & Reforma
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Compactos crescem no preço Compradores das unidades privilegiam localização, serviços no prédio e acabamento de padrão mais elevado por ADRIANA CHAVES /FOLHAPRESS
Aos olhos de construtoras e incorporadoras, o filão de imóveis compactos, de até 40 m e localizados em bairros de classes média e média alta, tem se agigantado no mercado paulistano. Só neste ano foram sete lançamentos desse tipo, contra oito em todo o ano passado. O preço médio subiu de R$ 90,8 mil para R$ 166,5 mil nesse período; há unidades de mais de R$ 300 mil. Diferentemente das antigas quitinetes, os novos apartamentos pequenos - entre os quais se destacam os estúdios, sem paredes - se sustentam nos conceitos de estilo e de funcionalidade. “O perfil desse cliente é moderno, urbano, de quem não faz conta do valor por metro quadrado, mas do que pode pagar”, determina o vice-presidente de desenvolvimento da Fernandes Mera Negócios Imobiliários, Vinícius Leite. “Até porque o m dessas unidades custa mais por causa da localização e de tudo o que oferecem [como serviços no condomínio].” Em geral, esses imóveis são comprados por quem quer morar em localidades mais centrais, perto do trabalho. “Há alguns anos, quando se falava em 40 m , era só em regiões afastadas e para renda mais baixa”, caracteriza o sóciodiretor da Innovar Estratégia Imobiliária, Diego Silveira Corrêa. “Imóveis no estilo do Villagio di Firenze [Perdizes, zona oeste], pequenos mas com o m muitas vezes mais caro que o de outros bem maiores, são muito procurados como uma primeira moradia que confere status por estar em regiões nobres”, ressalta. “Atraem principalmente jovens e casais na faixa de 25 a 30 anos”, reforça Leite. “Querem modernidade, um prédio com lavanderia,
FOTO: RODRIGO CAPOTE/ FOLHAPRESS
Maria do Socorro Fernandes, 58, professora, em seu apartamento no Jabaquara
espaço gourmet e decoração diferenciada, mas sem a rotatividade de um flat.”
Tamanhoéinferiorao estipuladoparafavelas
Aos olhos de seus compradores, pouco espaço de apartamentos é vantagem na hora de cuidar do imóvel Unidades valorizadas em regiões nobres, como Vila Andrade (zona sul) e Vila Olímpia (zona oeste), são menores que o estipulado pela Prefeitura de São Paulo para moradias em áreas de urbanização de favelas. Segundo a Sehab (Secretaria Municipal de Habitação), essas habitações devem ter ao menos 45 m , maiores que alguns pequenos apartamentos paulistanos, cuja área útil é de 24 m - entre os lançamentos desde 2006. Mas o pouco espaço está relacionado a uma vantagem desses imóveis aos olhos de seus
FOTO: FRED CHALUB/FOLHAPRESS
Ambiente Studio Feminino no Casa Cor 2010, no Jockey Club, em São Paulo
compradores: a praticidade de manutenção. A professora Maria do Socorro Fernandes, 58, mudou-se para um estúdio de cerca de 40 m na Vila Mariana (zona sul) após ficar viúva e suas três filhas saírem de casa. “Eu vivia em um apartamento de 100 m, com dois quartos, sacada e áreas enormes. Precisava de faxineira de duas a três vezes por semana, agora é a cada 15 dias.” “Eu saio de manhã e volto à noite, quero coisas funcionais”, afirma a fisioterapeuta Eva Movalier Dias, 52. O técnico em acrílico Reginaldo Santos de Andrade, 30, cita a localização como fator decisivo para a aquisição de um apartamento de 36 m na Vila Mariana. “Paguei R$ 87 mil [pelo imóvel], mas, mesmo que me ofereçam R$ 200 mil, eu não vendo.”
Investidores Alguns lançamentos se dirigem a investidores que adquirem unidades para alugar para o público corporativo. Fábio Bertonha de Moura, gerente de produto da Elite Brasil Inteligência Imobiliária, afirma que eles pagam até R$ 400 mil por imóveis de 40 m a 60 m , com rendimento de cerca de 0,8% mensais. O valor do condomínio fica bem acima da média de mercado. “Enquanto em um apartamento nos Jardins ou no Itaim [zona oeste] o condomínio normal varia de R$ 11 a R$ 12 por m , nesses imóveis fica em R$ 18 por m , chegando a cerca de R$ 1.000 em um apartamento de 60 m “, calcula Moura. Vinícius Leite, da Fernandez Mera, diz que o aluguel de um estúdio de 27 m na região da avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini (que concentra sedes de empresas na zona oeste) atinge R$ 1.800 ou R$ 2.000 por mês.
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Teen
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Juventude dourada Para paulistanos classe AAA, querer é poder; círculo restrito é considerado uma ‘Bolha’
por ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER /GUILHERME GENESTRETI / FOLHAPRESS
Com um cartão de crédito na mão e uma ideia na cabeça, os jovens paulistanos de classe AAA compram sem olhar o preço na etiqueta, têm motorista à disposição para nunca precisar pegar ônibus e cultivam hábitos como velejar, participar de leilões de arte e viajar para o exterior duas vezes ao ano. Vida boa? Pode ser. Em compensação, os teens super-ricos temem amizades por interesse, dizem que são julgados mais pela marca da roupa que vestem do que pelo que são e vivem pensando em segurança. Tanto que ocultar sobrenomes foi condição para as entrevistas da reportagem. João, 17, não reclama dessa vida, que sustenta hábitos e vaidades. “Tenho mais gravatas do que meu pai!”, diz. Bebida preferida? Um vinho Château Mouton-Rothschild, safra 1982, cuja garrafa não sai por menos de R$ 3.000.
Recentemente, o estudante tomou gosto por leilões de arte. No Jockey Club de São Paulo, arrematou uma vaquinha da Cow Parade por R$ 5.000. Naquela noite, estava com a irmã, Victoria, 18, que adora bolsas Gucci mas elege “Havaianas e pijama” sua combinação perfeita. Para João, os super-ricos são “uma minissociedade”, em que dinheiro nem sempre é sinônimo de felicidade. “Você vai à prova da Fuvest de motorista e é um choque!”
Querer é poder Caroline, 16, queria um baile de máscaras para seus 15 anos. Como querer, para ela, é poder, um vestido incrustado de cristais Swarovski foi logo encomendado. Humberto Carrão, um dos galãs de “Malhação”, rodopiou com a debutante no salão da Daslu, para-raios das grifes caras em São Paulo. Sua mãe ainda contratou acrobatas do Cirque du Soleil
FOTO: FILIPE REDONDO/FOLHAPRESS
e cantores líricos. Um ano depois, paramentada com jóias Tiffany, Caroline diz que dinheiro faz diferença, mas não é tudo. “ Tem muita gente interesseira.” As coisas costumam chegar às suas mãos antes mesmo que ela as deseje. “Tudo o Andre veleja na tarde de sábado que sai, não dá nem na represa Guarapiranga tempo de ela querer: iPhone, iPod...”, diz a mãe. Mas a garota diz não gostar do comportamento dos “esbanjões”. “Odeio gente fútil”, diz. André, 17, recebe mesada de R$ 200, apesar de ter passe livre do pai para usar o cartão de crédito em “emergências”, quando o dinheiro acaba. Ele complementa a renda vendendo o que não quer mais no Mercado Livre, como camisetas de marca e notebooks e iPods ultrapassados. O adolescente prefere levar os amigos para o iate da família a cair na balada. Para chegar à praia, tem como opção o helicóptero do pai.
FOTO: FILIPE REDONDO / FOLHAPRESS
FOTO: MARISA CAUDURO/ FOLHA IMAGEM
Fora da bolha
Caroline posa com vestido de cristais Swarovski que usou em seu aniversário de 15 anos no ano passado na Villa Daslu, local onde foi feita esta foto
André reconhece que há outra realidade atrás dos muros que o cercam. “Sei que vivo numa bolha, mas é aqui que estão os meus amigos.” Já Adriano, 17, diz que estourou a bolha. Vai de ônibus ao colégio e decidiu sair da antiga escola por achá-la “playboy demais”. Para ele, tudo mudou aos 11 anos, quando fez intercâmbio e conheceu gente do mundo inteiro. “Uns eram negros, outros, asiáticos. A gente
Vitoria, 18 e João,16. Os dois irmãos possuem a vaca da Cow Parede na varanda de seu apartamento
aprende que ter diferenças é importante.” Sentado no sofá de casa, André fala sobre a vida de um super-rico. “É bem mais fácil, e isso é uma desvantagem. Posso não aprender os problemas do mundo real.”
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Seus Direitos e Deveres colunadoconsumidor@yahoo.com.br
PROPAGANDA ELEITORAL GUSTAVO ANTÔNIO DE MORAES MONTAGNANA/ GABRIELA DE MORAES MONTAGNANA
É chegado o ano das eleições e de mais uma oportunidade para que se exerça a cidadania e o poder de eleger que representará a sociedade por mais quatro anos nos cargos que integram os Poderes Executivo e Legislativo da República Federativa do Brasil. É chegada à hora de agir para mudar o quadro político do país e sair do cômodo lugar de críticos e expectadores para ocupar o lugar de autores da história da nação. Nas eleições de 2010, além do presidente da República, também serão eleitos governadores, senadores e deputados federais, estaduais e distrital. O primeiro turno ocorrerá no dia 3 de outubro. Caso nenhum dos candidatos obtenha a maioria absoluta dos votos válidos, haverá segundo turno para a escolha de presidente e governadores, que ocorrerá em 31 de outubro. O registro dos candidatos escolhidos pelos partidos e coligações deve ser feito até o dia 5 de julho, quando se inicia o período de campanha eleitoral. A partir deste dia se permite aos partidos, coligações e candidatos valer-se da propaganda eleitoral como meio de captação de votos. Contudo, a propaganda eleitoral possui algumas limitações que devem ser observadas como forma de garantir o direito à igualdade entre os candidatos e partidos políticos e um processo eleitoral hígido e democrático. Assim, é expressamente proibida a propaganda eleitoral, sujeitando o infrator à multa: • antes do dia 05 de julho; • em bens públicos, ou cujo uso dependa de cessão ou permissão, como ônibus, táxis,
sinalização de tráfego, parada de ônibus, ruas, praças, pontes, postos de saúde, etc.. • em bens de uso comum, tais como cinemas, clubes, lojas, templos, estádios, ainda que de propriedade privada; • através de camisetas, bonés, chaveiros, canetas, brindes e broches; • no rádio e na TV, mediante pagamento; • por meio showmício e evento assemelhado, bem como a apresentação, remunerada ou não, de artistas com a finalidade de animar comício e reunião eleitoral; • com a utilização de trios elétricos, exceto para a sonorização de comícios. Por outro lado, permite-se a propaganda eleitoral: • em bens particulares, desde que não excedam a 4 m2 e seja espontânea e gratuita, sendo vedado qualquer tipo de pagamento em troca do espaço para essa finalidade; • através de folhetos, volantes, “santinhos”; • até a antevéspera das eleições, mediante pagamento, na imprensa escrita, devendose obedecer o limite de até 10 anúncios de propaganda eleitoral, por veículo, em datas diversas para cada candidato. Nesses casos, deverão constar do anúncio, de forma visível, o valor pago pela inserção; • no rádio e na TV, em horário gratuito; • através de carro de som e alto-falante das 8 às 22 horas; • por meio de comício com aparelhagem de som das 8 às 24 horas; • por meio cavaletes, bonecos, cartazes e bandeiras ao longo das vias públicas, desde que móveis e que não dificultem o bom andamento do trânsito, entre as 6 e às 22 horas;
• na internet, em site do partido ou da coligação; por meio de mensagem eletrônica para endereços cadastrados gratuitamente pelo candidato; por meio de blogs, redes sociais e assemelhados. É vedado qualquer tipo de propaganda eleitoral paga e em sites de pessoas jurídicas, com ou sem fins lucrativos, bem como oficiais. Quando a propaganda eleitoral é realizada na internet por meio de mensagens eletrônicas, o candidato, partido ou coligação deverão dispor de mecanismos que permitam seu descadastramento pelo destinatário, obrigando o remetente a providenciá-lo no prazo de quarenta e oito horas. As mensagens eletrônicas que forem enviadas após esse prazo sujeitam os responsáveis ao pagamento de multa no valor de R$ 100,00 por mensagem. No dia das eleições a propaganda eleitoral conhecida como “boca de urna” é vedada. Ela é definida pelo TSE como uma espécie de coação que inibe a livre a escolha do eleitor, considerada como crime pelo Código Eleitoral. Permiti-se apenas a manifestação individual e silenciosa da preferência do eleitor por partido político ou candidato, revelada exclusivamente pelo uso de bandeiras, broches e adesivos. Todavia, é vedada, até o término do horário de votação, a aglomeração de pessoas portando vestuário padronizado, broches ou bandeiras. A propaganda eleitoral possui uma importante missão, a de informar aos eleitores quais são os candidatos que estão concorrendo aos cargos eletivos e as suas propostas de governo. Somente assim possibilita-se o pleno exercício da cidadania.
Contudo, ela não pode ocorrer de forma indiscriminada, devendo observância aos limites acima mencionados, como forma de evitar que qualquer partido político ou candidato seja beneficiado em proveito dos demais. A escolha do candidato pelo eleitor deve ocorrer de forma consciente e cuidadosa, pois, aquele o representará durante todo o exercício do mandato. Muitas vezes as informações que se obtém a respeito de um candidato são aquelas por ele próprio ou por seu partido difundidas na imprensa, por meio da propaganda eleitoral. Por isso, é de muita valia a análise do comportamento deste candidato durante o período de campanha eleitoral. Certamente um candidato que desrespeita as regras e limites impostos nesta fase, age sem ética e respeito para com os seus adversários políticos, não sendo possível dele esperar um comportamento diferente durante o exercício do mandato para qual for eleito. Fiquem atentos e não se esqueçam de que o poder pertence ao povo, poder esse que em virtude da inviabilidade de ser exercido por todos o é através de representantes por ele eleitos. Utilizem, adequadamente, o poderoso instrumento de cidadania que possuem à disposição, o voto! Até a próxima!
Advogados Gabriela de Moraes Montagnana OAB/ SP 240.034 Gustavo Antônio de Moraes Montagnana OAB/ SP 214.810
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