Braganรงa Paulista
Sexta
20 Agosto 2010
Nยบ 549 - ano IX jornal@jornaldomeio.com.br
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Para Pensar
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EXPEDIENTE
A assunção de Maria. Vitória sobre a morte!
E-mail: jornal@jornaldomeio.com.br Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli
MONS. GIOVANNI BARRESE
No domingo que passou foi celebrada a festa da Assunção de Maria. Ela é vivida na diocese de Bragança com os títulos de Nossa Senhora do Bom Parto (bairro do Taboão, em Bragança), Nossa Senhora do Perpét¬¬uo Socorro (cidade de Socorro). Pelo Brasil afora como Nossa Senhora da Boa Viagem (Belo Horizonte), Nossa Senhora da Abadia (Campo Grande), Nossa Senhora da Ponte (Sorocaba), Nossa Senhora da Vitória (Ilhéus), Nossa Senhora da Glória (São Félix, Valença, Rubiataba, Lorena, Cruzeiro do Sul), etc. Por antiga tradição, desde os primórdios, no meio das comunidades cristãs sempre se pensou que a Mãe de Jesus Cristo, Filho de Deus, não podia passar pela mesma situação dos demais pecadores. Como mãe do Salvador ela não poderia estar sujeita ao pecado. Em 1854 o papa Pio IX proclamou a sua Imaculada Conceição. Esse dogma quer afirmar que Maria, ao ser concebida no ventre materno, não foi submetida à herança do pecado da origem. Conseqüência desse modo de crer, no ano de 1950, o papa Pio XII declarou como fé católica o crer que Maria não passou pela morte
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do mesmo jeito que os demais pecadores. Esse é o dogma da Assunção de Maria. Sendo ela toda pura teria, naturalmente, um tratamento diverso. Onde estariam as raízes bíblicas desses dogmas, dessas verdades de fé católica? Porque na Bíblia não há nada que fale explicitamente nem de “imaculada” e nem de “assunção”. Aqui entra uma diferença entre os católicos e os protestantes: a questão da aceitação ou não da Tradição. Quando a Reforma Protestante propugnou pela Escritura Sagrada (“sola Scriptura”) como fonte única da fé, criou-se uma dificuldade no caminhar teológico comum. A meu ver a afirmação da Bíblia como fonte única da fé deve ser entendida e vista no contexto da situação eclesial da Idade Média e do Renascimento. Com todos os abusos, que a história da Igreja nos mostra, e com afirmações teológicas que colocavam a Jesus Cristo num lugar que não era o seu e promoviam devoções à Maria e aos santos, muito mais marcadas pela superstição e pela ganância dos bens e do poder, não é estranho que os reformadores fincassem o pé naquilo que literalmente a Escritura dizia. Creio que
superadas as dificuldades vividas naqueles tempos é hoje possível ter diálogo sereno e franco. Que possa aprofundar o saber teológico. Mesmo porque nenhuma proposta de fé pode contrariar a Bíblia. Mas não vejo que se possam negar passos de fé que não tenham forma literal bíblica, mas possam ser intuídos a partir das verdades que a Bíblia propõe. Neste sentido existe hoje, também no Brasil, um grande esforço para que as igrejas cristãs se conheçam melhor. Vejam o que há em comum. Saibam a razão das diferenças. Se respeitem. E colaborem na busca da verdade e da concretização daquele que é o maior mandamento: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. Fica subjacente ao pensar religioso o agir prático que deve ser conseqüência natural. A fé deve iluminar as atitudes concretas. No canto de Maria (“Magnificat”, no evangelho de Lucas, 1,46-55) na visita a Isabel, há toda uma proclamação da ação libertadora de Deus. E da justiça que ele quer para o seu povo. Se Maria cantou isso há mais de dois mil anos, como se explica a demora da realização do plano de
Deus? Sabemos que a demora não é de Deus. Uma vez que Ele é fiel. A demora é nossa. Tendo a proclamação do sonho de Deus e nos afirmando seus filhos, crentes Nele, a questão é de coerência da nossa parte. Porque a corrupção e suas nefastas conseqüências estão em nosso meio? Por que noventa por cento da população brasileira se declara cristã e convive com realidade que nada tem de cristianismo? Isso nos remete a refletir sobre a responsabilidade de cidadãos nesta hora em que as campanhas políticas entram na reta oficializada e final... A responsabilidade do que vai acontecer é, também, de quem elege deputados, senadores, governadores e presidente. Cabe analisar de forma atenta quais são as propostas apresentadas. Ver o que é mais necessário para o conjunto da sociedade. Olhar especialmente a larga margem dos despossuídos... Não é uma tarefa fácil. A tentação de pensar que muito pouco se pode fazer é grande. Mas temos uma riqueza que é capaz de debelar qualquer tentação de conformismo: a Fé. Ela alicerça a capacidade de revolucionar. Não adianta celebrar verdades da fé religiosa se estas não
Jornalista Responsável: Alexandra Calbilho (mtb: 36 444)
As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão. As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Jornal do Meio Ltda.
nos levam a viver de forma mais perfeita a projeto divino da Salvação. Celebrar a plenitude de vida da Mãe de Jesus Cristo, nosso Deus e Senhor, significa ver a realização projetada para todo ser humano. Todos fomos criados para experimentar em nossa limitada existência terrena o início da vida imersa no Amor que Deus é. Morte não teve a última palavra sobre Maria. Não terá, igualmente, sobre nós. Nessa verdade iluminadora não podemos nos conformar que fome, falta de saúde, de trabalho, de moradia e outras faces da morte possam imperar sobre nós. A libertação para a Vida é vislumbrada na Assunção de Maria. Que bom que podemos crer nisso!
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Mente brilhante Jovem professor quebra recorde brasileiro de memória mais rápida
por JANAÍNA AVOLETA
Aos 6 anos de idade ele já memorizava mapas e capitais, sempre atento às reportagem que assistia na tv, aos 14 anos conheceu o xadrez, daí para frente os desafios impostos para o cérebro do professor de matemática e enxadrista, Gilson Sousa da Silva, 24 anos foram cada vez maiores. O ápice do desenvolvimento mental do jovem morador da cidade de Pinhalzinho aconteceu recentemente, quando foi certificado pelo Ranking Brasil – Livro de Records, como o brasileiro de memória mais rápida baseado nas regras internacional de Speed-Memory. Imagine memorizar o maior número de dígitos em questão de segundos, foi esse o desafio. Parece simples, mas não quando se fala em memorizar uma seqüência numérica nas categorias meio segundo, um segundo e quatro segundos. Numa seqüência o recordista Gilson atingiu em: 0,5 segundos: 12 dígitos; 1 segundo: 14 dígitos e 4 segundos: 18 dígitos! A mente brilhante do jovem recordista foi lapidada com muito treino, há 2 anos ele treina a memória, autodidata Gilson conta que existem técnicas de memorização, mas elas só funcionarão se a pessoa tiver uma motivação, um objetivo maior. Durante a entrevista, o cuidado era sempre o mesmo: não atrelar os verbos: Decorar e Memorizar. Como professor, ele sabe do que está falando. “quando se decora esquece, com a memorização é diferente, exige-se envolvimento com o tema, a partir disso existem diversas técnicas, o cérebro é treinado a fazer associações, com isso o aprendizado não é mais esquecido”, explica. Em sala de aula o desafio é duplo: levar motivação e aplicar a técnica que faz com que jovens e crianças construam conhecimento através do desafio de solucionar problemas. “Todo problema tem uma fórmula para se chegar ao resultado, só que para alguém ter chegado nessa fórmula foi preciso raciocínio, é ai que apresento a história, a geografia. Tentamos entender quais foram os métodos utilizados pelos cientistas para se chegar aquela fórmula, quais caminhos foram percorridos, o que foi observado. Isso é estimulante, e quando descoberto, jamais é esquecido, garante. Além disso, Gilson quebra paradigmas ao desafiar seus alunos a buscar novas fórmulas para uma mesma questão.
São Longuinho, São Longuinho... Na prática fica assim: lembrar os nomes de pessoas, a placa de seu carro, o número do celular do chefe, a data de aniversário do primeiro encontro com a namorada ou até mesmo onde você deixou a chave do carro, passam a ser tarefas simples quando algumas técnicas são aplicadas ao cotidiano, lembrando que tudo vai depender dos 4 ‘ãos”: motivação, organização, atenção e concentração. O recordista nacional de memória mais rápida dá algumas dicas de como não passar por saias justas como as citadas acima “Para se
FOTO: RANKING BRASIL
recordar de nomes ao ser apresentado a várias pessoas, antes de tudo é necessário ouvir, geralmente nós nos preocupamos mais em saber se as pessoas entenderam nosso nome, e não atentamos ao que ela nos disse”. Outras dica é sempre associar mentalmente a pessoa à alguma característica pessoal, procurar durante a conversa citar uma ou duas vezes o nome do interlocutor faz com que o cérebro grave a informação também. Com relação às chaves e outros objetos a dica é simples e passa longe de pulinhos dedicados ao Santo dos esquecidos: “Sempre guardá-las no mesmo local. Quando o seu cérebro duvidar de onde elas estão, você vai buscar na memória o último lugar que estavam, e se ninguém as tirou dali, é provável que as encontre no mesmo lugar de sempre”, sorri. Para quem pensa que tanta facilidade lógicamatemática tornou o jovem um pseudo-intelectual, bitolado e sem vida social engana-se. Em seu círculo de amigos e na vida profissional muitas gargalhadas já foram dadas em razão da capacidade do rapaz. “Dias desses, minha diretora pediu para que preenchesse uma ficha, observei que ela colocou o documento entre os penúltimos da lista; dias depois ela me perguntou sobre eles, dizendo que não os encontrava, eu disse à ela que estavam dentro do armário e era o penúltimo documento de baixo para cima, e é claro, estava lá. Impressionada com minha observação, rimos do fato depois. ’, conta.
Novos desafios O fato mesmo é que o jovem quer ir longe, e entre os desafios propostos a ele e por ele mesmo está em aprender a linguagem de Braile até o final do ano. “Minha meta é aprender em 6 meses”, adianta-se nas necessidades do seu dia a dia profissional. A técnica da memorização rápida também é utilizada por Gilson em avaliações como processos seletivos e concursos públicos (no último processo seletivo para professor da cidade de Pinhalzinho ele ficou em 1º lugar, acertando 43 de 50 questões). Em casos como esse a memorização rápida é um diferencial, já que segundo Gilson um concursando tem em média apenas 3 minutos para ler e resolver cada questão. Segundo pesquisas a média de memorização de palavras de um aluno ‘normal’ é de 250 por minuto. Atrelando a técnica da memorização rápida com leitura dinâmica não há dúvidas que pode sair à frente. Seguro de si e de seu potencial o recordista brasileiro adianta que já está treinando para bater um novo recorde brasileiro, desta vez de calculo mental. O desafio é somar no menor tempo possível 10 blocos de 10 dígitos numéricos. Totalizando 100 dígitos. Para quem em menos de 1 minuto, e em meio a um bate papo informal soluciona um misterioso quebra-cabeças, originalmente batizado de ‘cubo mágico’, nada mais pode nos surpreender.
Gilson com o troféu Ranking Brasil
A TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS Se você assim como eu se sentiu um pouco frustrado em saber que não é tão bom na resolução de problemas matemáticos, experimentos práticos, previsões, organização, memória, e às vezes (confesse!) tem uma certa preguiça em pensar, não se sinta menos inteligente! Howard Gardner, psicólogo da Universidade de Hervard, baseou-se em novas pesquisas para questionar a tradicional visão da inteligência, uma visão que enfatiza as habilidades lingüística e lógico-matemática. Segundo Gardner, todos os indivíduos normais são capazes de uma atuação em pelo menos sete diferentes e, até certo ponto, independentes áreas intelectuais. Ele sugere que não existem habilidades gerais, dúvida da possibilidade de se medir a inteligência através de testes de papel e lápis e dá grande importância a diferentes atuações valorizadas em culturas diversas. Finalmente, ele define inteligência como a habilidade para resolver problemas ou criar produtos que sejam significativos em um ou mais ambientes culturais. Segue abaixo as características dos 7 tipos de inteligência defendidas por Gardner, não duvide, pelo menos em alguma dessas você deve se enquadrar. Inteligência lingüística - É a habilidade para usar a linguagem para convencer, agradar, estimular ou transmitir idéias. Gardner indica que é a habilidade exibida na sua maior intensidad e pelos poetas. Inteligência musical - Inclui discriminação de sons, habilidade para perceber temas musicais, sensibilidade para ritmos, texturas e timbre e habilidade para produzir e/ou reproduzir música. Inteligência lógico-matemática É a habilidade para lidar com séries de raciocínios, para reconhecer problemas e resolvê-los. É a inteligência característica de matemáticos e cientistas. Inteligência espacial - È a inteligência dos artistas plásticos, dos engenheiros e dos arquitetos. Inteligência sinestésica -. É a habilidade para usar a coordenação em esportes, artes cênicas ou plásticas no controle dos movimentos do corpo e na manipulação de objetos com destreza. Inteligência interpessoal - Esta inteligência pode ser descrita como uma habilidade pare entender e responder adequadamente a humores, temperamentos motivações e desejos de outras pessoas. Psicoterapeutas, professores, políticos e vendedores bem sucedidos geralmente possuem essa inteligência. Inteligência intrapessoal - Esta inteligência é o correlativo interno da inteligência interpessoal, isto é, a habilidade para ter acesso aos próprios sentimentos, sonhos e idéias, para discriminá-los e lançar mão deles na solução de problemas pessoais.
SUGESTÃO DE FILME:
“Em Busca da Felicidade”
No filme baseado em uma história real, Will Smith faz o papel de Chris Gardner. O protagonista tenta conseguir um estágio numa firma de São Francisco e resolve o “mistério” do cubo mágico para um dos diretores, mostrando que apesar de ser pobre e sem recursos, é inteligente e capaz. Foi essa cena, passada em um táxi, que fez com que o cubo mágico voltasse ao mercado e caísse no gosto popular.
DICA DE SITE: www.rachacuca.com.br No site você encontra diversos jogos e desafios em diferentes graus. De maneira divertida fará com que você treine seu cérebro e adquira novas habilidades. Vale a pena!
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Avaliação de imóvel ouve porteiro Para liberar FGTS, comprador paga até R$ 1.000 por uma perícia da unidade que leva cerca de dez minutos por EDSON VALENTE /FOLHAPRESS
Quanto vale uma informação passada pelo porteiro ou pelo zelador do prédio? Na hora de definir o preço de um apartamento que será financiado ou comprado com recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), ela pode ser estratégica. A avaliação do imóvel é obrigatória para contratar financiamento ou pedir liberação do saldo do FGTS para adquirir o bem. É um engenheiro ou arquiteto do banco, ou de uma empresa indicada por ele, quem faz essa avaliação. “A Caixa [Econômica Federal] tem um quadro fixo de engenheiros e uma rede de credenciados”, diz o gerente regional de Habitação Nédio Rosselli Filho. Além de verificar características da unidade (como metragem e estado de conservação), o perito baliza o cálculo por preços de imóveis similares de 16 a 20, em geral no mesmo condomínio e na mesma região. A vistoria do imóvel costuma ser apenas visual e leva cerca de dez minutos. Na pesquisa de unidades semelhantes entram dados fornecidos por empregados do condomínio como zelador e porteiro acerca do preço de venda de outros imóveis do prédio. Esses dados nem sempre são checados. “Toda informação é importante. Usamos todos os meios para correr o menor risco possível”, relata o engenheiro Eduardo Burger, dono da Avaliar Perícias e Avaliações Ltda., credenciada pela Caixa Econômica Federal. “Mas o engenheiro descarta a informação que percebe ser mentirosa. [O descarte] vai muito do seu “feeling”.” Os bancos cobram de R$ 339 a R$ 1.000 pelo laudo, pagos pelo tomador do crédito ou solicitante do fundo. Se ele não concorda com o valor auferido para o imóvel, pode pedir uma reavaliação, pela qual em geral pagará de R$ 250 a R$ 350 (o Santander diz, por meio de sua assessoria de imprensa, que não cobra por ela).
Norma revista A avaliação é regida por uma norma, a NBR 14653, que está sendo revista pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). A revisão deve ser votada até 30 de agosto e, se aprovada, entrará em vigor em setembro. “As alterações tornam a norma aplicável em regiões com poucas informações para pesquisa”, frisa Eduardo Rottmann, vicecoordenador da Câmara de Avaliações do Ibape-SP (Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de São Paulo). “Para a avaliação de imóveis em grandes centros, não haverá grandes mudanças.”
Vistoria técnica da unidade leva cerca de dez minutos Perito observa defeitos como trincas e manchas de umidade, estado de conservação do imóvel e seus padrões de acabamento. “Demorou cerca de dez minutos. Achei que o engenheiro iria abrir as torneiras, mas ele só olhou”, relata a jornalista Aline Ferreira, 26, sobre a avaliação feita em seu apartamento em Santa Cecília (centro de São Paulo). “A vistoria é feita visualmente”, confirma o engenheiro Eduardo Burger, da Avaliar, que realizou o procedimento no apartamento de
Ferreira. Verificam-se defeitos como trincas e presença de umidade nas paredes, diz. “Consideramos a idade aparente do imóvel. O prédio pode ter 40 anos, mas a unidade pode ter cara de cinco ou de dez se foi reformada.” Ao coletar dados para a análise comparativa, Burger, que afirma fazer esse trabalho há mais de 20 anos, diz que, “a princípio”, o porteiro é tido como uma “fonte fidedigna, séria”. “Às vezes você ignora a informação se vê que a pessoa fala bobagem”, pondera. “Há, por exemplo, o porteiro doutrinado por quem quer comprar o imóvel, para passar um certo valor. Com os anos de experiência, você percebe a malandragem.” Quando o cliente pede uma reavaliação, o trabalho demora mais, de cinco a dez dias na primeira, são de três a cinco. É feito um laudo mais complexo, com um maior número de elementos. Discordâncias na avaliação geralmente surgem quando o preço do bem se aproxima de valores que dividem linhas de crédito. Para se enquadrar no SFH (Sistema Financeiro da Habitação), que viabiliza juros menores, o imóvel não pode valer mais que R$ 500 mil o mesmo teto se aplica para obter a liberação do FGTS. “Há mais divergências no caso de imóveis usados, em que os acabamentos e o estado de conservação variam mais”, observa o advogado Marcelo Manhães, presidente da Comissão de Direito Urbanístico da OAB-SP.
Cliente pode pedir relatório da avaliação Os bancos permitem que o cliente tenha acesso ao laudo completo feito pelo avaliador do imóvel.
“É um documento interno, mas não é restrito. Se a pessoa quiser ver, não haverá impedimento”, afirma Nédio Henrique Rosselli Filho, gerente regional de Habitação da Caixa Econômica Federal. O que as instituições não aceitam é uma avaliação feita por empresa que não seja indicada por elas. “Consideramos só o laudo que a Caixa faz”, determina Rosselli. “Se houver algum tipo de litígio, o que nunca acontece, o cliente poderá eventualmente apresentar o laudo de uma outra empresa como parâmetro ou justificativa.” Sobre os critérios usados na obtenção do valor do imóvel, Rosselli comenta que o avaliador “anota todas as placas de venda e os telefones das imobiliárias da região” na busca de parâmetros comparativos. “Se não há oferta [na região], ele pode se basear nos preços de um bairro similar. Para um imóvel no Itaim [zona oeste], ele pode considerar valores de Moema [zona sul] na comparação”, exemplifica. “O porteiro e o zelador também funcionam como um agente de informação, pois há prédios que não colocam placas de venda. O engenheiro não pode se basear só nesse dado, tem que ter outras amostras. A rigor ele deveria confirmar essa informação com o vendedor ou o comprador da unidade.” Marcelo Manhães, da OAB-SP, lembra que uma referência “muito próxima do preço de mercado” do imóvel é o seu valor, definido pela prefeitura, para a cobrança de ITBI (Imposto Sobre Transmissão de Bens Imóveis). Ele pode ser consultado, para propriedades localizadas na cidade de São Paulo, no endereço www3.prefeitura.sp.gov.br/tvm/ frm_tvm _consulta_valor.aspx.
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Nas entranhas do
Autor de livro que deu base a filme sobre a rede social comenta papel do brasileiro que participou da criação do serviço por AMANDA DEMETRIO/FOLHAPRESS
Um nerd quase socialmente inapto de Harvard se torna dono de um império nas redes sociais. No caminho para o estrelato, cria inimigos e dizem engendra traições. As aventuras do dono do Facebook, Mark Zuckerberg, 26 anos e bilhões de dólares, tinham mesmo de virar filme. Trata-se de ‘A Rede Social’, que chega ao Brasil em dezembro e traz o slogan ‘você não chega a 500 milhões de amigos sem fazer alguns inimigos’. O filme é baseado no livro ‘Accidental Billionaires’ (Bilionários Acidentais, em tradução livre), de Ben Mezrich, lançado nos Estados Unidos em 2009. Mezrich teve como uma de suas principais fontes o brasileiro Eduardo Saverin, que se diz traído pelo hoje magnata. Os dois foram colegas em Harvard e, juntos, fundaram o Facebook. Saverin entrou com o dinheiro e o tino com os negócios; Mark, com o seu conhecimento de computadores. O Facebook cresceu assustadoramente o site deve anunciar nesta semana que chegou ao meio bilhão de usuários. Mas surgiram desavenças. Zuckerberg foi colocando Saverin para fora da jogada, segundo o livro. A briga foi parar na justiça. O brasileiro não foi o único inimigo feito por Zuckerberg. Antes de lançar o Facebook, ele havia sido contratado por dois irmãos de Harvard, os gêmeos Winklevoss, para colocar em prática uma ideia de rede social, que colocaria a vida social de Harvard on-line. Zuckerberg não apenas não fez o trabalho, como lançou o Facebook, algo extremamente parecido com a ideia dos gêmeos, segundo eles. Os Winklevoss apelaram para a Justiça, e Mark chegou a ser condenado a lhes pagar US$ 65 milhões. Apesar disso, o dono do Facebook não leva jeito para vilão pelo menos, no livro em que se baseia o filme. Ele é retratado como um excêntrico, desajeitado, sem tato social e que quer ser aceito. Não por acaso, a música que embala o trailer de ‘A Rede
Social’ é ‘Creep’, do Radiohead. ‘Eu queria era ser especial’, diz a letra. O livro de Mezrich não foi bem aceito pelo Facebook. Ao contrário de ‘O Efeito Facebook’, de David Kirkpatrick, que chega a comparar Zuckerberg a Che Guevara. No Brasil, menos de 2% da população usa a rede, mas o crescimento parece estar acelerado, segundo o Inside Facebook (insidefacebook. com). Talvez por isso o site ainda seja difícil para alguns.
‘O Efeito Facebook’, de David Kirkpatrick, diz que o brasileiro Saverin ‘nunca fez nada pelo Facebook’ por FERNANDA EZABELLA
O Facebook está mudando o mundo. Mark Zuckerberg é um gênio de calças curtas (e chinelos). Ele é um doce, e não usa drogas. Imagens do tipo correm soltas pelo livro ‘The Facebook Effect’ (O Efeito Facebook), do autor David Kirkpatrick, claramente um admirador entusiasmado do jovem cofundador do site de relacionamentos. O tom chapa branca do livro serve de defesa para duas outras iniciativas que ‘mancham’ a imagem do site e seu criador: o filme ‘A Rede Social’ e o livro ‘Bilionários Acidentais’. ‘Se o filme for retratar Zuckerberg como um excêntrico, e o livro de Mezrich já o trata como um cara arrogante, mesquinho, obsessivo, que fez o Facebook só para catar mulher, então sim, meu livro pode ser considerado um contraponto, que traz a verdade’, disse Kirkpatrick, em entrevista à reportagem. Seu livro começa com a história de um colombiano que criou uma comunidade no Facebook contra as Farc e conseguiu levar 10 milhões para passeatas de diversas cidades do país. Isso porque Kirkpatrick, ex-editor sênior de tecnologia da revista ‘Fortune’, acredita piamente no poder político do Facebook, assim como também na ideia de que Zuckerberg está mais interessado na felicidade dos
usuários do que em dinheiro. Questões como privacidade dos usuários ou processos jurídicos são secundários. ‘Zuckerberg é um revolucionário social que está usando as ferramentas da tecnologia para atingir seus objetivos, da mesma forma que, no passado, alguém como Che Guevara iria para a floresta organizar os camponeses.’ Exageros à parte, o livro tem dois pontos interessantes. O primeiro é o surgimento de uma empresa de internet de sucesso e o segundo é a participação do brasileiro Eduardo Saverin, amigo de Harvard de Zuckerberg e jovem investidor. Ele foi primeiro a colocar dinheiro Mark Zuckerberg no projeto e a cuidar da parte financeira e publicitária. Porém, pouco depois do lançamento do site, Saverin entrou numa batalha jurídica com Zuckerberg, chegando a ‘sequestrar’
FOTO: DIVULGAÇÃO
os bens da empresa, segundo o livro, por desavenças nos negócios. ‘Saverin nunca fez nada pelo Facebook, nunca acreditou’, disse o autor.
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Exercício de concentração Não dá mais para viver sem ter a atenção disputada por ‘n’ tarefas e informações. Mas dá para treinar a capacidade de se concentrar e gerenciar os fatores de dispersão
por RACHEL BOTELHO /FOLHAPRESS
É difícil se concentrar em uma tarefa quando os e-mails não param de chegar, o celular apita e ainda está havendo uma discussão interessante no Twitter, certo? Mais ou menos. Em vez de atrapalhar, a exposição frequente a situações em que é preciso se concentrar para resolver uma tarefa poderia até melhorar essa capacidade. Segundo o neurofisiologista Gilberto Xavier, professor do Instituto de Biociências da USP, isso ocorre porque, ao desempenhar diferentes tipos de ação, o sistema nervoso estabelece novas conexões entre diversas microrregiões nervosas. A manutenção dessas conexões torna-se útil quando é preciso manter a concentração em outras coisas. “Além disso, há também uma melhora no fluxo sanguíneo encefálico, o que garante melhor oferta de glicose e oxigênio e, portanto, maior disponibilidade de energia para o funcionamento das
células nervosas”, diz. Mesmo assim, a sensação da maioria é que há um crise de concentração, causada em grande parte pelas novas tecnologias que mesclaram o trabalho e a diversão. A percepção de que estamos mais dispersos se deve à crença de que é possível ou necessáriodar conta de tudo ao mesmo tempo.
Tudo ao mesmo tempo
A secretária Patrícia Lopes Felipe, de 32 anos, afirma seguir essa cartilha. “No trabalho, enquanto falo ao telefone, estou respondendo um e-mail ou vou escaneando ou mandando fax de algum documento. Eu acho que ganho tempo assim, não espero terminar uma coisa para fazer outra.” As pessoas comuns têm cada vez mais obrigações. Antes, o caixa do banco recebia as contas a pagar; hoje, qualquer um faz isso pela internet. O mesmo ocorre com o planejamento das férias. O resultado dessa sobrecarga é uma falha no processamento neural. “É impossível ver tudo e fazer tudo perfeitamente. O cérebro não consegue processar nem tem atenção para ouvir iPod, trabalhar, falar ao telefone ao mesmo tempo. A pessoa acaba cometendo erros grosseiros”, diz o psiquiatra Fábio Barbirato, da Santa Casa do Rio de Janeiro. Patrícia não chegou a tanto, mas já teve seus deslizes. Certa vez, enviou um relatório por e-mail pedindo reembolso do serviço de um carro como se fosse de outro. “Quando a pessoa recebeu, não entendeu nada. São erros pequenos, mas fazem perder tempo”, reconhece.
Absurdo
Para o psiquiatra Paulo Mattos, professor da Faculdade de Medicina da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a publicidade vende a ideia de que é bom estar sempre conectado e fazer várias coisas de uma vez. O professor faz uma comparação com a Revolução Industrial, no século 18, quando os operários eram submetidos a uma carga horária de trabalho extenuante. “Estamos chegando perto disso. As pessoas não podem desligar o celular em uma consulta, nem no fim de semana, têm que estar sempre disponíveis”, critica. Apesar desse diagnóstico, ele é otimista. “Aos poucos, as pessoas começam a se dar conta do absurdo disso.” O bom é que a capacidade de se concentrar pode ser treinada. E está ligada à motivação. Por isso, é mais fácil ficar horas no Facebook do que preenchendo planilhas. É possível treinar a capacidade se fixar em tarefas chatas, diz Barbirato. “Mas, se a pessoa não consegue, pode ser sinal de depressão, ansiedade ou deficit de atenção.” Para diferenciar a dificuldade normal da patológica, é bom avaliar as causas da dispersão, o prejuízo que gera e desde quando ocorre. Em casos normais, estratégias ajudam a manter o foco. Estabelecer horários para checar o e-mail e as mensagens do celular é uma delas. Páginas da internet não relacionadas ao projeto da vez, sem falar em redes sociais, devem ser visitadas em intervalos pré-definidos. Além de inibir esses fatores de desatenção, ter metas para resolver as pendências é um bom recurso. Mas a capacidade de manter o foco não é ilimitada. Ao primeiro sinal de que o sistema está “fundindo”, bater papo, dar uma olhada nas notícias ou enviar mensagem a um amigo pode ser bom.
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Por debaixo dos panos
Proibição do uso de véus em público divide França e jovens muçulmanas por CHICO FELITTI/FOLHAPRESS
Desde que se casou, aos 17 anos, Yamina Drider, 23, não tirou mais o véu. Só que, no caso dessa noiva, ele não acompanhava grinalda e buquê: Yamina só sai de casa envolvida por uma faixa de 4 m2de tecido que lhe cobre o rosto todo, menos os olhos. É um niqab, primo mais próximo da burca. Para ela, a peça é “sinal de respeito e de humildade a Deus e a meu marido”. Em breve, Yamina poderá ser obrigada a mostrar a cara: foi aprovado pela Assembleia francesa, há 13 dias, um projeto de lei que proíbe o cidadão do país de cobrir o rosto
inteiramente em ruas, escolas, prédios do governo ou qualquer lugar público.
FOTO: GÖKÇE ALGAN/FOLHAPRESS
Outros países Brasil: não há proibição do uso de véu ou outros adornos religiosos Síria: o niqab está proibido em universidades do país Bélgica: primeiro país da Europa a proibir o véu em lugares públicos Fonte: Anistia Internacional; “Le Monde”; “Le Figaro”
Para o retrato de Yamina, 23, o marido exigiu uma fotógrafa mulher e muçulmana
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Antenado
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CRÍTICA CONTOS
‘Os Anões’ mistura formatos e traz o que não deveria estar ali Terceira obra da escritora gaúcha Veronica Stigger tem personagens de violência lúdica em pequenos textos por THALES DE MENEZES /FOLHAPRESS
Anões costumam ser pequenos e atarracados. Com 60 páginas em papel cartonado, bem grosso, e medindo 16 cm de altura e 12 cm de largura, ‘Os Anões’ bebe na fonte do livro-objeto. É um volume pequeno e atarracado. Sua singularidade, porém, vai além do formato. Os textos de Veronica Stigger não se parecem com nada que você leu antes. O livro de estreia dessa gaúcha que vive em São Paulo foi lançado primeiro em Portugal, em 2003, saindo no Brasil no ano seguinte. ‘O Trágico e Outras Comédias’ já impactava com textos tão curtos quanto contundentes. Já ‘Gran Cabaret Demenzial’, de 2007, mostrava a escritora ainda mais solta. Entre fábulas e poesia, a violência desembestava, fluida. ‘Os Anões’ segue, digamos, a mesma linha. É reconhecidamente um parente bem próximo dos livros antecessores, mas dizer isso não deve ser confundido com uma insinuação de que a autora fez mais do mesmo. Nada seria tão descabido. Trata-se de uma escritora que nunca se repete. Seus textos podem ser poemas, microcontos, roteiros, peças, recados. Uma
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brincadeira com os gêneros. Se existe alguma regra, é a da imprevisibilidade. O cotidiano é distorcido, deformado até. Rompe os padrões das ações dos personagens. Sua coleção de tipos esquisitos e/ou deslocados é extensa. Anões linchados em um supermercado, canibais que só não devoram turistas porque sabem que esses são fonte de renda, uma camponesa que leva um tiro nas nádegas na temporada de caça, uma mulher que se suicida na festa que chamou em seu apartamento novo. Em outras épocas, a literatura de Veronica Stigger seria chamada de experimental. Um rótulo datado, mas justo. Ler o que ela escreve é esperar sempre pela surpresa, pela linha seguinte que não deveria estar ali. Uma delícia.
OS ANÕES
Autor: Veronica Stigger Editora: Cosac Naify Quanto: R$ 37 (60 págs.) Avaliação: ótimo
Veronica Stigger, que lança agora o livro “Os Anões”
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Jornal do Meio 549 sexta 20 • agosto • 2010
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Seus Direitos e Deveres colunadoconsumidor@yahoo.com.br
Discriminações positivas GUSTAVO ANTÔNIO DE MORAES MONTAGNANA/ GABRIELA DE MORAES MONTAGNANA
A Constituição Federal, consagra no seu artigo 5.o, “caput”, inciso I, como garantia fundamental de todo cidadão o direito à igualdade. Dispõe serem todos iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza. Trata-se de um comando dirigido a todos, consubstanciando-se em direito e dever. Contudo, o que se deve buscar não é apenas essa aparente igualdade formal, mas, principalmente, a igualdade material. A busca pela igualdade material ou substancial deve ser presente, especialmente no plano prático, já que buscar a igualdade na lei, apenas, sem que ela seja concretizada na prática é o mesmo que jogar por terra o comando constitucional. Essa busca por igualdade substancial eterniza-se na sempre lembrada Oração dos Moços, de Rui Barbosa, inspirado na lição secular de Aristóteles: tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na medida de suas desigualdades. Isso significa dizer que não basta garantir apenas na letra fria da lei a todos, indistintamente, os mesmos direitos, sem qualquer diferenciação. Não há como se negar que vivemos em uma sociedade cheia de contrastes, onde pessoas com características diferentes convivem. Mais do que isso, vivemos em uma sociedade, resultado de grandes transformações. Modelos passados foram se modificando a partir de lutas e revoluções em prol de uma sociedade mais justa e igualitária, até chegar ao que existe hoje. Mas, é certo, também, que há muito ainda que se fazer, até que o comando constitucional mencionado seja substancialmente cumprido. Para tanto, o próprio constituinte estabeleceu alguns tratamentos desiguais, como por exemplo para propiciar a igualdade entre homens e mulheres em direito e obrigações, nos termos da constituição, destacando-se os seguintes: condições às presidiárias para que possam permanecer com os seus filhos durante o período de amamentação (Art. 5.o, L); licença-maternidade e licença-paternidade (art. 7.o, XVIII e XIX); serviço militar obrigatório (art. 143, parágrafos primeiro e segundo); normas sobre aposentadoria (art. 40); atento para as disparidades salariais no mercado de trabalho, determinou, ainda, no art. 7.o, XX, a proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos na forma da lei. O mesmo foi feito com relação às pessoas portadoras de deficiências físicas, a fim de lhes garantir uma representa-
tividade mínima nos serviços públicos (art. 37, VIII), iniciando uma política distributiva, resgatando-as do processo histórico de exclusão. Trata-se da descriminação positiva, destinada a suprir a situação de desvantagem imposta historicamente a indivíduos por causa do gênero, sua origem étnica, sua religião, compleição física ou nacionalidade. Seria hipocrisia, acreditar que uma simples norma, ainda que constitucional, cujo conteúdo determina que todos sejam tratados de forma igual, sem qualquer distinção, bastaria para que seguimentos da sociedade, compostos por pessoas descriminadas durante um longo período da história em razão das características acima apontadas, passassem a ser tratados de forma igualitária. Para que esse tratamento igualitário realmente ocorra é essencial que o Estado proporcione condições reais aos sujeitos marginalizados e deixados ao relento por muito tempo, sem que lhes fosse conferida qualquer oportunidade. Dizer que a mulher, oprimida e afastada da vida em sociedade por tanto tempo, possui os mesmos direitos que o homem e que por isso deve ser tratada com respeito e igualdade, não basta para proporcionar a sua inclusão em todas as camadas da sociedade. Tendo em vista as suas peculiaridades e diferenças, deve ser-lhe despendido tratamento desigual, apto a gerar-lhe iguais oportunidades. A omissão do Estado na implementação de políticas públicas capazes de reverter o quadro de exclusão de oportunidades gera a naturalização das desigualdades que passam a sequer ser notadas, conduzindo a uma discriminação inconsciente. Pode-se afirmar que essas ações afirmativas trazidas pelo próprio texto constitucional são meramente exemplificativas e decorrem, automaticamente, do comando maior e geral insculpido no seu art. 5.o, “caput”e inciso I. Ao legislador infraconstitucional cabe a tarefa de concretizar os mandamentos constitucionais, o que deve fazer ao estabelecer outras espécies de ações afirmativas, destinadas a garantir oportunidades em igualdade de condições a outros seguimentos da sociedade, igualmente marginalizados, como o é a população negra, por exemplo. Muitos destes grupos foram objetos de discriminação pretérita e necessitam de um auxílio do Poder Público, ou seja, de um tratamento diferenciado, para que possam, no presente, se igualar aos demais.
Pode-se, por outro lado, afirmar que andou bem o constituinte ao não prever na Carta Magna, norma rígida de alteração dificultosa, todas as formas de ações afirmativas. Isso porque essas ações devem ser temporárias, aplicáveis até o momento em que a discriminação cesse e que o grupo, marginalizado no passado, esteja, no presente, inserido em todos os segmentos sociais ao lado dos demais, não sendo mais necessário tratamento diferenciado para igualá-los. Assim, o princípio da igualdade substancial fundamenta as ações afirmativas. Estas têm por objetivo que o legislador trate de proteger certos grupos que a seu entender merecem tratamento diverso. Trata-se de medidas de compensação, aplicadas tendo em vista uma realidade histórica de marginalização social ou de hipossuficiência decorrente de outros fatores, que buscam concretizar, ao menos em parte,
uma igualdade de oportunidades com os demais indivíduos, que não sofrem as mesmas espécies de restrições. Vê-se que essas medidas devem ser buscadas em obediência ao comando constitucional. E a sociedade como um todo deve estar preparada para recebê-las e aplicá-las, entendendo o seu real papel. Estar-se-á, com isso, fazendo com que se impere o verdadeiro sentido de democracia (“governo do povo e para o povo”). Porque, “mudar o futuro depende da maneira como se pensa o presente”. (Herbert de Souza). Até o Próxima! Advogados Gabriela de Moraes Montagnana OAB/ SP 240.034 Gustavo Antônio de Moraes Montagnana OAB/ SP 214.810
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