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Bragança Paulista

Sexta

10 Setembro 2010

Nº 552 - ano IX jornal@jornaldomeio.com.br

jornal do meio

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Para Pensar

EXPEDIENTE Jornal do Meio Rua Santa Clara, 730 Centro - Bragança Pta. Tel/Fax: (11) 4032-3919

Vicente e Luisa

E-mail: jornal@jornaldomeio.com.br Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli

MONS. GIOVANNI BARRESE

Vicente nasceu por volta de 1580 na França. Seu pai, impressionado com sua inteligência, o colocou sob os cuidados dos padres franciscanos. Estudou na universidade de Toulouse e, com apenas vinte anos, foi ordenado padre. Ambicioso, tornou-se capelão da rainha Margarida de Valois. No ambiente da corte foi acusado, falsamente, de roubo por um amigo. Teve que aguentar seis meses de comentários desairosos a seu respeito até que a verdade surgisse. Deixando a corte, em Paris, começou a atender os condenados às galeras. Uma benfeitora ofereceu-lhe uma verba para a fundação de uma missão perpétua entre os empobrecidos. Em 1633 recebe o convento de São Lázaro que se tornou a sede dos chamados Padres da Missão ou Lazaristas ou vicentinos. Morreu em 1660. Luisa de Marillac, também francesa, é praticamente contemporânea de Vicente. Queria ser freira. Acabou casando e tendo filhos. Quando o

marido adoeceu chegou a pensar que era uma espécie de castigo de não ter ido para o convento. Prometeu que, se ficasse viúva, não mais se casaria e entraria para a vida em obra religiosa. Conhece Vicente. Entusiasma-se por sua obra de cuidar das pessoas que viviam na miséria. Com outras jovens funda as “Damas da Caridade” que são o início das irmãs vicentinas. Morre, também, em 1660. Como os leitores já devem ter percebido estou falando de São Vicente de Paulo e Santa Luisa de Marillac, fundadores do belíssimo trabalho dos vicentinos pelo mundo. Por que escrevo sobre eles? Porque nestes dias suas relíquias estarão em algumas cidades de nossa diocese. Estarão, neste dia sete de setembro, na igreja matriz de São João Batista, em Atibaia. Nesta paróquia há um belo trabalho inspirado por esses santos. Um grupo não muito grande. Formado por jovens e adultos. Assistem, atualmente, perto de cem famílias carentes.

Visitam, cadastram, orientam. Com auxílio da comunidade fornecem alimentos, roupas, etc. Tem, também, um sonhador trabalho com moradores de rua. Às sextas feiras, à noite, preparam uma boa sopa e saem à procura dos sem teto para oferecer-lhes alimento e conversa. Parte do sonho dos vicentinos daqui é a construção de uma casa onde possam ajudar os que querem sair da rua a integrar-se na convivência da cidade. Aprendendo algum trabalho. Da paróquia receberam um terreno onde há uma antiga capelinha. Batalham junto ao poder público para ter o projeto aprovado. São incansáveis na busca de recursos: bingos, barracas de salgados e doces, bazares. Vão conseguir! Lembrei dos santos e dos vicentinos (e não me esqueço dos de Bragança com suas diversas conferências e os trabalhos do Lar São Vicente e da Vila São Vicente) porque, nestes domingos que vivemos, a Palavra de Deus nos chamava a viver a Justiça (Lucas 13,25-

30 e Mateus 25,31-46), a incluir os marginalizados no banquete da vida (Lucas 14,12-14) e a sermos capazes de renunciar aos nossos amores, aos nossos bens, à nossa vida e a tomar a cruz e seguir Jesus (Lucas 14, 25-33). Os santos lembrados fizeram isso de modo exemplar. Eles iluminam o caminho daqueles que, em nossos dias, vão continuando a sua obra. Eles e os vicentinos ajudam a perceber como podemos viver o Evangelho indo ao encontro daqueles que só têm na ação dos cristãos a possibilidade de viver com alguma dignidade. Na luz deles, lembrava, igualmente, entre tantos, Madre Teresa de Calcutá. Que deu sua vida pelos mais miseráveis e desamparados. Lembrei, também, de São Maximiliano Kolbe que, no campo de concentração de Auschwitz, se ofereceu para morrer em lugar de um pai que estava para ser fuzilado. E brota sempre no meu coração a alegria de ser igreja com eles: os que já estão

Jornalista Responsável: Alexandra Calbilho (mtb: 36 444)

As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão. As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Jornal do Meio Ltda.

no céu e os que estão por aqui na lide diária. E vou firmando sempre a resposta do que os leva, os do passado e os de hoje, a serem capazes de amar e servir àqueles de quem se tira a esperança e a oportunidade de viver. Sem dúvida gente com o coração marcado pelo imenso amor Daquele que a todos ama com amor incansável! Que bom conviver com gente que descobre que o Amor pelos que sofrem é a chave da realização da Boa Nova de Jesus! Que bom que no passado e no presente houve e há gente capaz de sair de si mesmo para os outros! Seja seu exemplo semente de futuro com mais esperança!


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O mundo pelo olhar feminino Fotografar é interagir com o momento

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Thichi em auto-retrato. Um de seus trabalhos foi selecionado entre 7.500 concorrentes para o Festival Paraty em Foco, maior da América Latina

colaboração SHEL ALMEIDA

Tirar fotos é fácil. Em reuniões de família, passeios, viagens, sempre dá pra “quebrar um galho” e deixar várias imagens como recordação. Difícil é fazer com que essas fotos fujam do básico e diferenciem pelo enquadramento, luz ou qualquer detalhe que traga alguma sutileza artística. Algumas jovens garotas de Bragança – entre 17 e 24 anos - usam a fotografia como meio de expressão e conseguem deixar sua marca em cada novo trabalho. Cada uma delas começou por um motivo e hoje todas tem seu estilo próprio.

Show de rock

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

que estimula Thichi. Desde que começou a fotografar ela retrata jovens e ela própria como finalidade de manter um registro de sua geração, através da cena cultural, como fez Bob Gruen com a cena rock. O trabalho de Thichi é bem particular e segundo ela “é pra fazer as pessoas pensarem, gosto de deixá-las confusas”. Para ela fotografar é como pintar uma tela, onde a fotografia é o esboço. “Eu edito, mexo na cor, só para causar o efeito que quero”. Seu trabalho começa com a criação de um conceito sobre aquilo que quer retratar, numa espécie de sinestesia: “Música me estimula. Quero transpor em imagem o som que ouço”, fala. Thichi diz que é importante criar uma identidade própria para que isso seja a referência do seu trabalho. Para ela, a fotografia é um escape, se não fotografasse seria “doidinha”, segundo suas palavras. Atualmente faz um curso técnico na área e sonha em fazer um curso de especialização. Já expôs no Festival Cardápio Underground e também registrou momentos peculiares do evento, aqueles que só mesmo uma boa fotógrafa consegue captar. Um dos trabalhos foi escolhido na mais recente edição do Festival Paraty em Foco, maior da América Latina. Dos 7.500 trabalhos enviados apenas 150 foram selecionados.

A mais jovem delas, Stephanie Marino, de 17 anos, começou desenhando e pintando, sempre incentivada pelos pais. Dali para a fotografia foi rápido. Mas apenas há quatro anos, quando pode comprar um equipamento profissional é que começou a se dedicar mais profundamente. Durante um ano fez um curso numa escola especializada em Campinas, levada toda semana pela mãe, Luciana. Logo os amigos começaram a chamá-la para trabalhos. Primeiro foi a banda Luno que a convidou para fotografar os shows. Depois, um grupo de amigas, todas fãs da Lipstick, quis participar de uma promoção do site UOL e chamou Luz e sombra Stephanie. Para isso era preciso tirar uma foto de cinco meninas caracterizadas como as inte- Ariela Bueno, 24 anos começou a perceber os grantes da banda. Ela topou ajudar as amigas efeitos que luz e sombra causam numa imagem despretensiosamente, pois nem conhecia o quando estudou teatro. Apesar se sempre se grupo. Resultado: a fotografia de Stephanie foi interessar pela fotografia foi ali que sentiu o escolhida. “Quando a moça da UOL ligou, eu despertar por essa arte. Para ela muitas vezes achei que era trote. Só conseguia pensar “Não o momento ideal, com a luz ideal surge em é possível”’, ela conta rindo. “Minhas amigas sua frente, por isso quando começou fazia ficaram felizes porque iam muito auto-retrato. “Não conhecer a banda. Eu fiquei tinha mais ninguém ali e A fotografia é feliz pelo trabalho” fala, eu não podia perder aquele uma expressão, é o cheia de orgulho. Stephanie momento”, diz. Depois seu registro daquele também já fez o álbum de passou a criar personacasamento para um casal gens, influenciada pelo segundo no mundo teatro. “Gosto de deixar as de amigos e diz que ficou Ariela Bueno pessoas à vontade. Quero “mais nervosa que a noiva”. Mas o que gosta mesmo de que esqueçam que estou fazer é fotografar shows de ali. Fico só observando rock. “Em show dá pra brincar. É legal pegar a com a câmera”, conta. “A fotografia é uma galera curtindo” analisa. Sempre que pode leva expressão, é o seu registro daquele segundo a máquina para os shows que vai, nem que seja no mundo”, analisa. Para Ariela o fato de ter preciso esconder os pedaços do equipamento formação de palco colabora no olhar. Muitas entre suas coisas, para não ser barrada pela vezes, quando vai a um espetáculo, o assiste segurança. Foi assim que conseguiu a foto do pela câmera esperando o momento ideal. Foi guitarrista da banda japonesa Dir En Grey, assim com a apresentação do Ballet Stagium quando o grupo se apresentou no Festival durante o Festival de Inverno. “Esse espetáMaquinária em São Paulo. culo em si foi muito dinâmico. Quando estou fotografando é como se estivesse atuando com eles.” Uma dessas fotografias, tirada durante Registro de geração Letícia Senciani, a Thichi, 21 anos, começou a a peça “A história de muitos amores”, ganhou fotografar aos 14, inspirada por editoriais de um prêmio do site Catraca Livre, e um de seus moda e fotos de bandas em revistas. Começou auto-retratos foi selecionado pelo Estadão com câmeras pequenas em casa, montando para figurar entre outros numa homenagem cenários conforme sua imaginação. Depois ao dia da fotografia comemorado em 19 de passou a acompanhar amigos músicos para agosto. Suas referências vêm de todos os canregistrar através de imagens a atmosfera dos tos: filmes, amigos, material que encontra na shows. Hoje ela é profissional da área. Já internet. Ela acha engraçado os comentários fotografou para grifes e fez book de modelos. que suas fotos recebem no flickr (site para Na ocasião uma mãe estranhou uma menina postar imagens): “As pessoas ficam tentando como ela ser a fotógrafa. “Mas as modelos ficam adivinhar como consegui tal imagem. Mas mais descontraídas por eu ser uma mulher e é com perguntar pra um mágico qual a da mesma geração delas.” Aliás, geração é algo segredo do seu truque”, enfatiza.

Ariela Bueno em divertido auto-retrato, escolhido pelo Estadão para lembrar o dia da fotografia FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Stephanie Marino gosta de fotografar shows e bandas. Ganhou um concurso da UOL

Para conhecer o trabalho dessas fotógrafas acesse o flickr: Stephanie Marino: http://www.flickr.com/photos/ninymarino/ Thichi: http://www.flickr.com/photos/thichi/ Ariela Bueno: http://www.flickr.com/photos/arielabueno/


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Casa & Reforma

Consorciado perde poder de compra Reajuste da carta de crédito não acompanha mercado imobiliário

por ADRIANA CHAVES/FOLHAPRESS

Quando contratou um consórcio imobiliário, há mais de cinco anos, o microempresário Rogério Sollis, 39, pretendia comprar um sobrado de dois dormitórios na zona norte de São Paulo essa foi a referência para o valor de sua cota. Percebendo a valorização imobiliária, Sollis comprou uma segunda cota do consórcio. Há dois meses, foi contemplado com duas cartas de crédito. “Mas já não consigo comprar nem um imóvel usado do mesmo tipo”, afirma. Assim como o microempresário, quem contratou um consórcio antes do boom imobiliário iniciado em 2006 tem esse problema. “Ninguém previa que os preços fossem chegar a esse ponto”, afirma o presidente-executivo da Abac (Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios), Paulo Roberto Rossi. De acordo com a Embraesp (Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio), de 2006 a 2009, o preço médio do metro quadrado de imóveis de dois dormitórios na capital paulista teve aumento de 39,4%. Enquanto isso, os consórcios são reajustados pelo INCC (Índice Nacional de Custo da Construção) ou, mais raramente, pelo CUB (Custo Unitário Básico) -indicador de inflação da construção civil. O acumulado do INCC no período é de 28,8%. “Quando o mercado estava em baixa, ninguém pensou em manter uma folga em relação ao valor do imóvel desejado”, considera.

Desvalorização é risco da modalidade

Contratante deve se preparar com outras fontes para suplementar o crédito no momento da compra do imóvel

A perda do valor de compra é o principal problema do consórcio. O crédito leva em conta um montante de dinheiro, e não o valor do bem. Em um cenário de valorização do imóvel maior do que a inflação, o contratante perde poder de compra. Ser contemplado depois de muitos meses implica ainda em uma segunda desvantagem, de acordo com o consultor financeiro Gustavo Cerbasi. “A ineficiência econômica por trás do processo de pagar por algo de que ainda não desfrutamos”, explica. “Isso não acontece no financiamento.” Para quem já tem o consórcio, a alternativa mais simples é usar a carta de crédito defasada como entrada e usar outras reservas disponíveis: o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), por exemplo.

Outras fontes A educadora física Nadja Figueiredo, 44, usou três fundos distintos para adquirir o imóvel desejado no Morumbi (zona oeste). “Aproveitei o valor da venda de outro imóvel e o

FOTO: EDUARDO ANIZELLI

Lavor Araujo, 30, dona de casa, que após ter feito um consórcio no valor de 70 mil, precisou complementar com poupanca e empréstimo de amigos, o dinheiro de sua casa que custou 150 mil

FGTS para completar o valor”, conta. Para ela, o consórcio funcionou como uma poupança programada. Para Cerbasi, o consórcio não deve ser considerado um tipo de investimento, pois “seria mais eficiente poupar por meio de aplicações programadas ou previdência”. Outra possibilidade é pedir um financiamento complementar no momento da aquisição do bem, mas essa opção só pode ser usada por quem chegou à parcela final. É possível ainda adquirir novas cotas. “O cliente pode comprar outra cota e antecipar a valorização, somando as duas cartas”, explica o presidente-executivo da Abac, Paulo Roberto Rossi.

FOTO: CARLOS CECCONELLO

Cuidado A educadora física, Nadja Figueiredo, 44 anos, utilizou o consórcio como Para o especialista em crédito imoinvestimento e quando foi contemplada teve de usar duas fontes para biliário Marcelo Prata, a solução complementar o valor para comprar o imóvel no Morumbi, Zona Sul não passa nem pelo financiamento Em um financiamento de imóvel pronto, é complementar nem pela aquisição de nova cota do consórcio. Prata é cauteloso e casa nova já. A poupança é uma boa opção para quem não paga aluguel e pode esperar recomenda uma “mudança no leme”. “Se a pessoa planejava comprar um imóvel pelo imóvel. Nada como ter os maiores com uma carta de R$ 200 mil e hoje ele vale juros do mundo trabalhando a favor da R$ 400 mil, talvez seja o caso de comprar um gente. O risco é de os preços dos imóveis imóvel de padrão inferior e alugar”, indica. dispararem novamente. Dessa forma o comprador usa o bem como O consórcio é uma das operações financeiras fonte de renda para o pagamento das parcelas mais difíceis de entender, pois é uma mescla de financiamento, poupança e loteria. restantes, enquanto poupa. Desde março, os trabalhadores podem usar O resultado financeiro do consórcio depende o fundo de garantia para dar lances, pagar da sorte. Se a pessoa é contemplada logo, prestações ou quitar dívidas de consórcios. o consórcio equivale a um financiamento barato. Se a pessoa é contemplada do meio para o final, é uma poupança em que a pessoa Análise Consórcio vale a pena para paga juros ao invés de recebê-los. quem é sorteado no começo O risco aqui é o mesmo da poupança, de os preços dispararem mais uma vez e a pessoa não conseguir comprar o bem tão desejado. por ROY MARTELANC

As pessoas perguntam o que é mais vantajoso: consórcio, financiamento de imóvel ou poupança para comprá-lo mais tarde. A resposta depende de quanta pressa a pessoa tem para se mudar para a nova casa e de quanto pode dar de entrada.

ROY MARTEL ANC é professor de finanças da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (Universidade de São Paulo)


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Informática

&

Tecnologia

3G em teste balanço Velocidade não atinge 60% do contratado

por ALEXANDRE ORRICO/FOLHAPRESS

A reportagem testou os serviços de banda larga móvel das quatro maiores operadoras do país (Claro, Oi, TIM e Vivo) e constatou o que reclamações de usuários do serviço já indicavam: a velocidade real de conexão fica bem abaixo da vendida. Nos testes, o download (recebimento de dados) não ultrapassou 60% da velocidade contratada. Em dias úteis, isso fica pior, com velocidade média inferior à metade da contratada. No domingo, a situação melhora, mas em nenhum dos testes a conexão chegou à velocidade do plano comprado, de 1 Mbps (veja quadro ao lado). No caso de upload _dados que você manda para a rede, como e-mails ou vídeos para o YouTube, a velocidade ficou sempre abaixo de 30% do tal 1 Mbps. É preciso considerar, porém, que a velocidade de upload é sempre menor que a de download, mesmo em serviços internacionais de altíssima qualidade. Além da velocidade, outro problema percebido nos testes, já constatado pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e por órgãos de defesa do consumidor, é o da instabilidade do serviço. É enorme a variação da velocidade, e a qualidade do serviço muda rapidamente. Uma página que apareceu em segundos, minutos depois fica parada sem razão aparente. Quedas de conexão também são frequentes. Parte da culpa é da natureza da tecnologia 3G, sensível a inúmeros fatores, como condições climáticas, quantidade de pessoas conectadas numa mesma região e posição geográfica. Os contratos afirmam isso, procurando isentar as operadoras de responsabilidade por garantir a integralidade da velocidade contratada. Em geral, as empresas garantem um mínimo de 10% da velocidade estabelecida. Tais contratos têm gerado debates em órgãos de defesa do consumidor, e a Anatel está procurando estabelecer uma regulamentação geral para o setor. As operadoras, porém, são obrigadas a cumprir o Código de Defesa do Consumidor, afirma o Procon. Claro, Oi, TIM e Vivo adotam diferentes estratégias para tentar diminuir o número de reclamações e melhorar a qualidade do serviço de banda larga móvel.

Desde o final do mês passado, algumas passaram a vender planos desvinculados de promessa de velocidade, passando a comercializar o serviço por tempo. Mesmo assim, a velocidade de referência, como nos testes feitos pela reportagem, é a de 1 Mbps.

Banda larga fixa 11,8 milhões Usuários no Brasil no primeiro trimestre de 2010 Pela primeira vez, o número é inferior ao de usuários de banda larga móvel (11,9 milhões, no mesmo período). Os dados são de um balanço realizado pela Huawei em parceria com a Teleco

Banda larga móvel 18 milhões Estimativa de usuários no Brasil até dezembro A projeção do estudo da Huawei e da Teleco é para a quantidade de assinantes de serviços de internet 3G até o fim do ano no país, superando os 13 milhões esperados para a banda larga fixa

Consulta para regras de 3G A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) realizou uma audiência pública sobre a revisão da qualidade do serviço pessoal móvel para impor regras mais rígidas à telefonia celular e criar metas de qualidade para a banda larga móvel. A audiência será realizada na zona sul de São Paulo, na sede da Amcham (Câmara Americana de Comércio). Foram criados três indicadores para a internet 3G: a taxa de conexão ao acesso, que é o indicador relativo à disponibilidade do sistema; a taxa de queda do acesso, que vai avaliar a estabilidade da conexão, e o monitoramento da garantia de velocidade contratada, estabelecendo percentuais mínimos de entrega da conexão. Pela proposta, nos horários de maior uso, a prestadora terá de garantir uma velocidade mínima de 30% do valor máximo previsto no plano, tanto para download quanto para upload. Nos horários de menor tráfego, o percentual será de 50%. Haverá ainda o aumento gradativo dos

percentuais exigidos. Um ano depois da implementação do novo regulamento, a operadora terá de garantir, no mínimo, 50% do valor máximo nos horários de maior movimento e 70% nos outros períodos. A definição da faixa horária considerada de pico será feita pela Anatel, antes que as regras passem a valer no começo do ano que vem, segundo a própria agência. Atualmente, as operadoras só se comprometem a entregar o mínimo de 10% da velocidade comercializada, o que tem sido alvo de constantes reclamações não só na Anatel, mas também nos órgãos de defesa do consumidor. O documento prevê ainda que as tentativas de conexão à banda larga móvel devem ser estabelecidas em 98% dos casos no mês.

Sugestões O texto completo da proposta permanecerá em consulta pública. As sugestões podem ser enviadas por e-mail, fax ou carta. Depois da consulta pública, o regulamento voltará para a agência para análise dos comentários. Mais informações no site da Anatel (www. anatel. gov.br)

Sinal de 3G não chega a 86,8% dos municípios Ainda há 86,8% de localidades nacionais sem cobertura 3G. A informação é do Balanço Huawei da Banda Larga Móvel, feito em parceria com a Teleco, divulgado em junho deste ano. A pesquisa mostra também que houve um

aumento de 4,9 milhões de acessos móveis no país no primeiro trimestre de 2010. Com isso, a banda larga móvel já superou a fixa em número de assinantes 11,9 milhões contra 11,8 milhões. Estima-se que até dezembro o país chegue a 18 milhões de assinantes na banda larga móvel e 13 milhões na banda larga fixa. Segundo dados da pesquisa, as quatro operadoras concorrem diretamente em apenas 1,2% dos municípios brasileiros. A cobertura 3G está concentrada nas grandes capitais e nas cidades com mais de 500 mil habitantes. Em relação aos planos de serviço no Brasil, os pacotes com consumo de dados mensal de 500 Mbytes e 1 Gbyte custam, em média, R$ 69,90 e R$ 84,90, respectivamente. Na Argentina, é possível pagar o equivalente a R$ 31,65 por 500 Mbytes. No Reino Unido, um plano de 3 Gbytes equivale a R$ 39,94.


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Teen

FOTO: MARISA CAUDURO

Jovens em campanha A reportagem apresenta os jovens que abraçaram cada campanha

por FABIANA GODOY/FOLHAPRESS

Existe uma turma que, nos próximos meses, vai ralar muito, ter vida social restrita, namorar pouco, gastar a garganta para convencer pessoas com opiniões diferentes das suas e, por incrível que pareça, estará feliz com isso. É a galera que vai arregaçar as mangas para ajudar nas campanhas dos candidatos à Presidência Nas eleições deste ano. Alguns vão contribuir de maneira simples, divulgando as propostas dos candidatos nas escolas ou mesmo tentando convencer os amigos a darem a eles os seus votos. Os mais engajados, no entanto, vão fundo no lance. É o caso do estudante João Antônio Cardoso, 17. Membro da Juventude do PSDB, durante toda a campanha ele vai bater cartão no comitê central do partido, em São Paulo. E o expediente não é para qualquer um. “Saio direto da escola e venho para cá. Se precisar virar a noite aqui, tudo bem”, diz.

DILMA

Dilmistas têm propostas na ponta da língua Não existe pergunta difícil para a turma de jovens ligados à campanha de Dilma

Rousseff (PT) à Presidência. Eles falam com desenvoltura sobre as propostas tanto da candidata como de seus concorrentes. Leram, na íntegra, os programas de governo de todas as coligações. Agora passam o dia em blogs de política e em redes de contatos no Twitter e no Orkut. “Faço isso porque gosto e não por obrigação”, diz Gustavo Pina, 16. Neste grupo, ele é, disparado, o que se interessou mais cedo pela causa política. “Minha mãe conta que eu era chorão e que a única coisa que me fazia sossegar era o horário eleitoral da TV.” “Mas a televisão é o método antigo de fazer campanha. Não oferece o diálogo”, diz Matheus Ribas, 16. “O debate está muita mais acessível agora, com a internet”, diz Graziela Drago, 17. A maioria deles é hoje filiada ao PT. “É fácil dizer que, em política, tudo é feio e roubalheira. É um discurso vazio”, diz Maira Pinheiro, 19. “A política precisa do nosso espírito jovem”, diz Gustavo. Além da admiração pelo partido, esses jovens nutrem grande simpatia pelo presidente petista e revelam que choraram ao assistir “Lula, o Filho do Brasil”. Eles reconhecem que são minoria. “Tenho muitos amigos que vão votar nulo”, diz Gustavo. Apesar de engajados, eles não querem ser políticos no futuro. “A política tem que caber em qualquer profissão”, conclui Graziela.

SERRA

Para teens tucanos, “política é destino” “Somos um pouco loucos. Na nossa idade, quantos jovens estão fazendo o que a gente faz?”, pergunta o estudante Paulo Mathias, 19. A “loucura” que tomou conta dessa turma foi entrar de cabeça na campanha do candidato José Serra. O estudante João Antônio Cardoso, 17, por exemplo, não

tem dúvida sobre a que se dedicará mais neste ano: à campanha ou à preparação para o vestibular. “Se eu não passar no vestibular neste ano, tento no ano que vem. Já com o Serra, a hora é agora.” A dedicação dessa turma tem história. Aos 16 anos, Gabriel Carmona já está na sua quarta campanha. “Comecei aos oito anos distribuindo material de uma candidata.” Eles dizem que a opção pelo PSDB desperta críticas de colegas. “Jovens de partidos de extrema esquerda às vezes querem discutir, não na ideia, mas na mão”, diz João. Apesar disso, Paulo avalia que “a ideologia de todos os partidos é bem semelhante”. Além de saber de cor a biografia de Serra, Vinícius Caruso, 17, cita sempre frases de expoentes do PSDB. “Como dizia Montoro, o futuro é agora e se chama juventude.” Eles revelam que é difícil influenciar um jovem no voto. Entre os argumentos que usam para isso está a crítica ao governo de Lula. “O grande trunfo dele foi continuar reformas iniciadas no governo FHC”, diz João. Eles também concordam em outro ponto: “Como dizia Tancredo: política é destino”, resume Vinícius.

MARINA

“O mundo precisa de Marina”, dizem jovens engajados no PV A estudante Danielly Sampaio, 16, virou “workaholic” por causa da política. Todos os dias, ela cumpre uma agenda apertada para participar de eventos da campanha de Marina Silva (PV). Com um laptop com conexão à internet sem fio e um celular, Danielly faz jornadas madrugada adentro, usando Twitter, MSN e Orkut para falar com amigos, com simpatizantes do PV e com indecisos políticos. “Política é se preocupar com o próximo”, diz. Além de militar na Juventude do PV e no Movimento Marina Silva, ela sempre fez política estudantil. Hoje, é diretora da União Municipal dos Estudantes Secundaristas (Umes). “Agora estou devota à campanha da Marina. O problema dela não é rejeição, é não ser conhecida.”

Adolescentes voluntarios posam com mascaras dos candidatos a presidencia 2010 na escadaria da Gazeta

Segundo ela, “os jovens estão participando muito da campanha”. Amigos de Danielly acabaram entrando na onda. “Marina tem uma visão diferente de como administrar o país”, diz Carlito Severino de Oliveira, 16. “Vamos ajudar no Twitter, no Orkut, como der”, diz Nicholas Perez Dias, 15, que, mesmo sem poder votar, abraçou a causa. “O Brasil e o mundo precisam da Marina. Ela tem uma visão de mudar as coisas. É simples e tem um jeito guerreiro”, finaliza Danielly.

PLÍNIO

Cabos do PSOL contribuem para a campanha até com dinheiro Os resultados nanicos do candidato do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, nas pesquisas de intenção de voto não assustam os jovens engajados em sua campanha. “Por ser um partido pequeno, somos nós que fazemos a campanha e contribuímos para ela até financeiramente”, conta o estudante Vinícius Moraes da Cunha, 20. A ajuda dos jovens militantes inclui sair às ruas para divulgar a candidatura do PSOL e até virar funcionário da campanha. É o que vai fazer a estudante Ana Morbach de Lima, 20, que foi contratada para a produção de panfletos do candidato. “Nosso partido tem muitos jovens. Somos protagonistas da campanha nas redes sociais e nas ruas”, conta. “O jovem vem sem aquele resquício de achar que todo político é corrupto.” Essa galera lida numa boa com a possibilidade de deixar um pouco de lado a vida pessoal durante a campanha. “Meu namorado sente minha falta, mas entende. Esta [campanha] é uma prioridade na minha vida”, revela a estudante Marília Pereira Bueno, 20 anos. Mas será que tudo é tão sério assim? “A gente abre mão de certas coisas em nome do bem coletivo. Mas, mesmo no círculo de militância, pode rolar uma paquera”, entrega Vinícius.


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Comportamento

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A tataravó das massagens Terapia mais remota da tradicional medicina chinesa, a vigorosa tui-na (‘empurra’ e ‘puxa’) é boa para quando o corpo pede revisão completa, combustível extra, funilaria e pintura

por MARCOS DÁVILA/FOLHAPRESS

No dia em que recebi o convite para fazer uma reportagem sobre a massagem milenar chinesa tui-na, fui acometido por uma dor nas costas. Foi um desses episódios tragicômicos que acontecem na vida dos sedentários: travei as costas ao espirrar. Fiquei um pouco mais tranquilo depois de marcar a sessão para o dia seguinte. Só um pouco. As informações que tinha levavam a crer que a massagem era mais dolorida que shiatsu. No dia, fui atendido pela fisioterapeuta Nana Liu, 36, na Associação Tai Chi Pai Lin, na Vila Madalena. Tive sorte: Nana é neta do mestre taoista Liu Pai Lin, um dos introdutores do tai chi no Brasil, com o qual ela aprendeu a fazer tui-na aos 12 anos. Já na sala de massagem, Liu disse que ali funcionava uma oficina mecânica. Não há vestígios, o espaço foi reformado e ganhou arquitetura funcional. Agora consertam gente. Aparentemente, o defeito na minha lataria não era grave, era reflexo de um excesso de esforço físico nos últimos dias, segundo ela. Deitei de bruços numa cama alta e ela começou esfregando minhas costas com as palmas das mãos em movimentos circulares leves. O que parecia uma carícia logo ganhou velocidade e pressão, como se suas mãos fossem enceradeiras. Lembrei da oficina mecânica. O vigor e a rapidez das manobras são impressionantes. O vocábulo tui-na significa “empurrar” (tui) e “puxar” (na). São os movimentos básicos da massagem, que conta com 37 tipos de manobras. Poderiam acrescentar ao nome: beliscar, pressionar, amassar, cutucar, torcer e por aí vai. É difícil descrever todos os movimentos que se alternam com rapidez. Curiosamente, o lugar mais sensível não foi a parte dolorida das costas, mas os músculos na base do pescoço. Ali, pressões com as pontas dos dedos me fizeram acreditar naqueles filmes de kung fu em que o mocinho faz o bandido desmaiar com apenas um dedo. Quando as mãos chegaram à lateral das minhas costelas, deu muita vontade de rir. Liu também usava os braços e cotovelos. Em uma das manobras, seu braço parecia um rolo de macarrão deslizando sobre as panturrilhas. Os braços firmes de Liu finalmente pararam alguns segundos. Com uma mão sobre a outra, ela fazia uma pressão quente e gostosa na base da minha coluna. Virei com a barriga para cima, e a terapeuta atacou meus pés. Nessa virada, me dei conta de que a coriza que às vezes me ataca de manhã tinha passado. Meu nariz destapou e experimentei uma sensação boa de relaxamento. Um dos pontos que ela tocou entre os dedos do meu pé esquerdo era bem dolorido (me arrependi de não ter perguntado que ponto era aquele, pois o tui-na também se baseia na reflexologia, na qual existe um ponto nos pés para cada órgão do corpo). Ela também massageou a cabeça e os braços, fez pequenas torções no tórax e movimentos circulares na barriga nos sentidos horário e anti-horário. Suas mãos pararam de novo no meio da barriga e no centro do peito, onde a massagem terminou. Liu me deixou sozinho na sala, depois de alertar

FOTO: LETICIA MOREIRA

que alguns pontos poderiam ficar sensíveis nos próximos dois dias. Não tive vontade de dormir, o que acontece com frequência quando recebo massagem. Pelo contrário, me sentia disposto e revigorado. A dor havia passado.

“Mão sabe, mão sabe” Depois de me identificar como jornalista, fui apresentado ao médico Yau Chong, 52, que também faz massagens e ministra cursos. Com experiência de 25 anos em hospitais na China, ele está há dois anos aqui e fala com sotaque bem carregado. Segundo Chong, tui-na é sinônimo de massagem. “Não é só pele e relaxar. Tem músculos, nervos e ossos. Precisa mão saber (sic)”. Na sequência, ele fez uma pequena demonstração. Tocou por segundos meus ombros e meu pescoço e disse que dois ossos da minha coluna vertebral não estavam bem encaixados. Pediu para eu relaxar e, segurando minha cabeça, repetiu: “Não medo, não medo” e “mão sabe, mão sabe”. De sopetão, girou minha cabeça para um dos lados, torcendo meu pescoço. Ouço um “clec”. Pronto, o osso voltou ao lugar. Felizmente, as mãos do doutor Yau sabiam.

FOTO: LETICIA MOREIRA

Dor gostosa “Lembro do mestre Liu Pai Lin dizendo que a medicina do futuro é baseada na transformação de energia, e realizada nas práticas de movimento e serenidade do tai chi, assim como no tui-na”, diz Jerusha Chang, 55, fundadora da associação Tai Chi Pai Lin, ao lado de Lucio Leal, 61, e do próprio mestre, que morreu em 2000, aos 93. O tui-na é a mais remota terapia da medicina tradicional chinesa e deu origem a outras como shiatsu, reflexologia, quiropraxia e do-in. A fisioterapeuta e acupunturista Denise Harari, 31, que atende no Espaço Biosfera, estudou tui-na na Universidade de Pequim. Ela diz que, na China, os hospitais sempre têm uma ala de tui-na. “Pacientes que precisam de reabilitações do sistema musculoesquelético, com lesões e sequelas de acidente vascular encefálico, eles mandam para o tui-na.” A técnica, diz ela, também ajuda em casos de depressão, disfunções de estômago e intestino, hipertensão e problemas respiratórios. A professora Luciana Carvalho, 33, procurou o tui-na para reequilibrar o seu corpo depois da gravidez. “Quando um ponto está tenso, dói mais. Mas é uma dor gostosa, que logo é dissipada”, diz. De acordo com fisioterapeuta Nana Liu, a massagem também trabalha o lado emocional. Algumas pessoas choram, outras riem, umas conversam, outras acessam memórias. “Depois de um tempo, a pessoa desabrocha. Tem paciente que estava apagada e começou a colocar brinco e pintar a unha depois de algumas sessões”, diz Liu. TAI CHI PAI LIN ESPAÇO LUZ R. Fradique Coutinho, 1.434, Vila Madalena, tel. (11) 3031.1324, SP, www. taichipailin.com.br FUNDAÇÃO HO

A massagista Jerusha Chang realiza uma sessão de massagem chinesa Tui Na, na clínica Tai Chi pai lin na Vila Madalena

Av. Engenheiro Armando de Arruda Pereira, 1.558, Jabaquara, tel. (11) 5011.0739, SP, fundacaoho.com.br ESPAÇO BIOSFERA R. Inácio Pereira da Rocha, 499, Pinheiros, tel. (11) 3814.9045, SP, www.espacobiosfera.com.br

Errata Com relação a publicação campanha eleitoral 2010 veiculada no Jornal do Meio edição nº 550 do dia 27 de agosto de 2010, página 11 do candidato a Deputado Federal Alexandre Leite (PSDB/DEM / PSDB/DEM/PPS CNPJ CAND: 12.155.976/000112) por um erro involuntário no momento de transferir o arquivo para a diagramação acabou cortando as informações do: CNPJ do Fornecedor 05.786.103/0001-42 e valor de R$ 600,00.


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Antenado

Jornalista reescreve o Brasil de modo juvenil Leandro Narloch faz associações históricas provocativas, mas por vezes inadequadas e de frágil argumentação

por OSCAR PILAGALLO/FOLHAPRESS

Os tomates que o jornalista Leandro Narloch jogou na historiografia brasileira de viés marxista lhe renderam um prêmio. Lançado no ano passado, o seu ‘Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil’ permanece na lista dos livros mais vendidos. Alguns tomates, para ficar na metáfora do autor, acertam o alvo. A Guerra do Paraguai é retratada sem as distorções que, nos estertores da ditadura militar, transformaram o Brasil em impiedosa potência imperialista. Aleijadinho é corretamente visto como personagem cuja construção, em bases frágeis, perdurou por ter servido aos propósitos dos modernistas. Nos dois casos, o mérito do autor foi ter se baseado em obras que fizeram revisões da história: ‘Maldita Guerra’, de Francisco Doratioto, e ‘Aleijadinho e o Aeroplano’, de Guiomar de Grammont.

De esquerda O livro é todo assentado na bibliografia dos últimos anos que desfaz mitos, em geral os que promovem a leitura da história a partir de uma perspectiva de esquerda. O jornalista, porém, pisa em alguns tomates.

FOTO: VICTOR MEIRELLES/WIKIMEDIA COMMONS/REPRODUÇÃO

Ao escrever sobre os índios, embora registre com acerto que eles também se beneficiaram do contato com os portugueses, argumenta que o massacre de que foram vítimas começou nas guerras entre tribos. Mesmo que mais nativos tenham morrido nessas lutas, a afirmação é descabida. Uma coisa é matar e morrer em conflitos entre iguais, outra é sucumbir diante de uma civilização tecnologicamente mais avançada. As aproximações inadequadas são um problema. É muita ligeireza, até para quem se pretende provocador, associar, mesmo indiretamente, a ALN ao PCC (Primeiro Comando da Capital). A ALN, grupo guerrilheiro dos anos 60 e 70, nada tem a ver com o banditismo contemporâneo, por mais que se queira criticar a luta armada. É igualmente inapropriado o paralelismo entre quilombo e máfia, mesmo que só para dizer que de ambos é quase impossível sair. Narloch tem uma técnica: exagera os escorregões da historiografia ‘politicamente correta’, que subsistem sobretudo em certos livros escolares, para valorizar as novas interpretações. Nessa toada, mistura argumentos sólidos e afirmações tão peremptórias quanto débeis (‘os militares recorreram à tortura porque eram pouco experientes na arte de investi-

Obra de Victor Meirelles

gar’), escudando-se na ressalva de que quer apenas enfurecer leitores. De qualquer maneira, o autor presta um serviço ao remeter o adolescente o público-alvo, a julgar pela linguagem às obras em que se abasteceu. OSCAR PILAGALLO é jornalista e autor de ‘A História do Brasil no Século 20’

GUIA POLITICAMENTE INCORRETO DA HISTÓRIA DO BRASIL Autor: Leandro Narloch Tradução: aaaaa Editora: Leya Quanto: R$ 39,90 (320 págs.) Avaliação: regular


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‘Bel-Ami’ resgata lições enérgicas de Maupassant

Com sensualismo, francês traça vasto quadro social da belle époque

por ALCINO LEITE NETO/FOLHAPRESS

‘Ó espírito de Maupassant, venha

escritores, a leitura dos dois vale um curso

os gozos e traumas da

em meu auxílio!’, implorou Henry

inteiro de ‘escrita criativa’.

belle époque, as intrigas

James (1843-1916), no domingo de

‘Bel-Ami’ foi publicado originalmente na

políticas do alvorecer

11 de março de 1888, em seu ‘notebook’.

forma de folhetim, entre 6 de abril e 30 de

da Terceira República

Que coisa desejava o gigantesco escritor

maio de 1885, no jornal ‘Gil Blas’, o mesmo

(1870-1940) e a denún-

americano, então com 44 anos, de seu

em que Zola difundiu ‘Germinal’.

cia da especulação.

confrade francês, na época com 38 anos?

É a história da escalada social do bonitão,

O sensualismo de

Aspirava a um pouco mais de ‘robusta e

ambicioso e calculista Georges Duroy, o

Maupassant também

vívida concisão’ na escrita, queria ‘algo tão

Bel-Ami. Em intensas 368 páginas, ele

está a todo vapor. Pessi-

admiravelmente compacto e seletivo quanto

escapa da vida miserável, faz carreira no

mista, mas firmemente

[a prosa de] Maupassant [1850-1893]’.

jornalismo e alça ao topo da exclusivista

antirreligioso, ele vê

Toda vez que uma literatura se distrai com

sociedade parisiense.

o sexo e o amor como

subjetivismos toscos, imprecisões retóricas e

Para tanto, recorre ao seu charme matador

as únicas compensa-

‘palhaçadas da linguagem’ (Flaubert), que perde

que arrebata mulheres que podem ajudá-lo

ções ao sem sentido

a força da imaginação, o gosto da observação,

na ascensão e utiliza sem melindres o jornal

da existência.

do rigor e da objetividade, uma das evocações

panfletário ‘La Vie Parisienne’ a fim de se

‘Cada um logo se ani-

é sempre a do espírito de Maupassant.

pôr ao lado da elite política e financeira.

quila por inteiro no estrume dos novos

BEL-AMI

germes’, diz Bel-Ami num dos mais terríveis

Autor: Guy de Maupassant Tradução: Leila de Aguiar Costa Editora: Estação Liberdade Quanto: R$ 51 (368 págs.) Avaliação: ótimo

Por isso deve ser um bom sinal o lançamento no Brasil de ‘Bel-Ami’, pela ed. Estação Liberdade, menos de um ano após a publicação de ‘125 Contos de Maupassant’, pela Companhia das Letras. Para jovens

Belle époque O livro não se esgota aí. Estamos no auge do romance realista, e ‘Bel-Ami’ é também um vasto quadro social do período, com

trechos desta obra-prima, em que, estranhamente, o niilismo devastador segue ao lado de uma enérgica e incondicional afirmação da vida.

O escritor francês Guy de Maupassant


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Jornal do Meio 552 sexta 10 • Setembro • 2010

Seus Direitos e Deveres

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colunadoconsumidor@yahoo.com.br

LEI DA FICHA LIMPA GUSTAVO ANTÔNIO DE MORAES MONTAGNANA/ GABRIELA DE MORAES MONTAGNANA

No dia 04 de junho de 2010, foi publicada e entrou em vigor a Lei Complementar 135/2010 que alterou a Lei Complementar 64/99, responsável por disciplinar as causas de inelegibilidades. A LC 135/2010 recebeu o apelido de “Lei da Ficha Limpa”. O apelido decorreu do fato de prever em seu texto ser inelegíveis os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, desde a condenação até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento da pena, pelos crimes: 1. contra a economia popular, a fé pública, a administração pública e o patrimônio público; 2. contra o patrimônio privado, o sistema financeiro, o mercado de capitais e os previstos na lei que regula a falência; 3. contra o meio ambiente e a saúde pública; 4. eleitorais, para os quais a lei comine pena privativa de liberdade; 5. de abuso de autoridade, nos casos em que houver condenação à perda do cargo ou à inabilitação para o exercício de função pública; 6. de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores; 7. de tráfico de entorpecentes e drogas afins, racismo, tortura, terrorismo e hediondos; 8. de redução à condição análoga à de escravo; 9. contra a vida e a dignidade sexual; e 10. praticados por organização criminosa, quadrilha ou bando. A lei foi elaborada diante do clamor popular por ética na política, tendo em vista os reiterados atos de corrupção que assolam o País. Tem como objetivo sedimentar os valores da moralidade, boa fama e boa conduta que

devem existir e ser prestigiados no seio da sociedade. O projeto ficha limpa surgiu da iniciativa do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), que reuniu mais de 1,6 milhão de assinaturas de eleitores desde o lançamento da proposta, em setembro do ano passado. Não há dúvida de que todo cidadão espera ser representado por políticos honestos, íntegros, que não tenham infringido o ordenamento jurídico, principalmente o penal, o qual estabelece quais as condutas são tidas como criminosas. Isso porque a norma penal possui o papel de proteger os bens jurídicos mais caros à sociedade. Desrespeitá-la significa ofender esses bens, como, por exemplo, a vida, a liberdade, a honra, a probidade administrativa e o patrimônio, entre outros. Inegável, por isso, que andou bem o legislador ao elaborar a novel legislação. Contudo, desde a sua publicação, muitas foram as dúvidas sobre a sua validade e adequação jurídica, em especial sobre a possibilidade de aplicação já nas eleições de 2010. Esse questionamento surgiu porque o art. 16 da Constituição Federal anuncia que lei que altera o processo eleitoral não pode ser aplicada à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência, prevendo o princípio da anualidade. Assim, em tese, a “Lei da Ficha Limpa” somente poderia ser aplicada para as próximas eleições, no ano de 2012. Com a finalidade de que essa dúvida fosse sanada, o senador Arthur Virgílio (PSDB/ AM) tratou de questionar a sua validade

para as eleições de 2010, formulando uma consulta ao Tribunal Superior Eleitoral. No dia 10 de junho do corrente ano, o TSE respondeu que a lei é válida para as eleições desse ano. O presidente do TSE, ministro Ricardo Lewandowski, anotou em seu voto que o prazo de um ano para a aplicação de lei só se justifica nos casos em que há deformação do processo eleitoral e que como a “Lei da Ficha Limpa” é linear, ou seja, se aplica para todos indistintamente, não se pode afirmar que ele interfere no processo eleitoral. Logo, sua aplicação é imediata. Outro questionamento lançado sobre a referida lei disse respeito à possibilidade de a lei se aplicar àqueles que já tivessem contra si alguma decisão penal condenatória transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, antes da sua publicação. Contudo, a questão foi fácil de ser solucionada, bastando a análise do §º 10 do art. 11 da Lei n. 9.504/97, para se verificar que as causas de inelegibilidade devem ser aferidas no momento da formalização do pedido de registro da candidatura. Dessa forma, condenado antes ou depois da lei, isso não interessa, o que vale é a situação presente quando da protocolização do registro. Desta forma, pode-se concluir que a referida lei é válida para as eleições de 2010, nas quais não haverá candidatos para quaisquer dos cargos em disputa que tenham contra si condenação criminal transitada em julgado ou mesmo ainda pendente de recurso, porém proferida por órgão colegiado, ou seja, por um dos Tribunais que compõe o nosso Poder Judiciário.

Descartada está também a possibilidade de atacar a norma sob o fundamento de que ela é inconstitucional por ofender o princípio da presunção da inocência. Esse princípio reza que ninguém poderá ser considerado culpado e, por isso, sancionado, pela prática de um crime antes que a sentença penal condenatória transite em julgado, ou seja, contra ela não caiba mais recurso. A alegação não pode prosperar, pois, a norma trata de critérios de inelegibilidade, que não se confundem com punição ou pena. Trata de condições exigidas para o registro de candidatos, podendo a lei, estabelecer, aquela que acreditar ser a mais eficiente para a proteção da coletividade, desde que não seja discriminatória. Pode-se afirmar que a “lei da ficha limpa” veio em boa hora e é merecedora de aplausos. Tendo em vista que inúmeros são os candidatos aos cargos eletivos em disputa, torna-se extremamente difícil aos cidadãos obter informações precisas sobre a vida pregressa de cada um. Com a nova disposição legal o processo eleitoral se torna ainda mais democrático, na medida em que todos passam a ter acesso a essa tão valiosa informação. Até a próxima! Advogados Gabriela de Moraes Montagnana OAB/ SP 240.034 Gustavo Antônio de Moraes Montagnana OAB/ SP 214.810

Em tom satírico, Henry James retrata vilania exacerbada Nova edição de ‘Pelos Olhos de Maisie’ traz resenhas, além de anotações e prefácio do autor, com um pequeno deslize

por MARCELO PEN/FOLHAPRESS

Em uma resenha não assinada, o periódico conservador ‘The Spectator’ acusa o escritor Henry James (1843-1916) de ter retratado, no então recém-lançado romance ‘Pelos Olhos de Maisie’ (1897), ‘meia dúzia de almas das mais repugnantes e esquálidas [...] que já tivemos a infelicidade de encontrar em toda a ficção moderna’. O crítico escreve certo por linhas tortas. De fato, em poucas de suas ficções o autor foi tão claro sobre a vilania dos motivos de seus personagens, sobre os pecados da sociedade moderna, sobre o papel deletério do dinheiro (que move, desde o princípio, a trama), ou investiu tanto na veia satírica, na farpa, no veneno. A menina Maisie é submetida pela vara da família a uma ‘solução digna de Salomão’; com o divórcio dos pais, ela passa a ficar seis meses, alternadamente, com cada querelante. E, para que não restem dúvidas sobre a

razão da disputa, o narrador logo nos diz que os pais a queriam ‘não pelo bem que pudessem fazer a ela, mas pelo mal que, com a ajuda inconsciente dela, pudessem fazer ao outro’. Ela serve de mensageira inocente de insultos e xingamentos, além de, desde cedo, habituar-se à queda dos pais para a infidelidade pendor que não diminui com as segundas núpcias deles. E, enquanto vê os verdadeiros pais agora se esmerando nas artimanhas para não ficar com ela, Maisie se afeiçoa pelos pais postiços, cujo caráter, posto que em menor grau, acaba por mostrar-se igualmente falhado.

Toque de Mestre

Mas o toque de Henry James não está no imbróglio em si, e sim na maneira como ele nos é revelado. A história se desenrola à medida que ela se apresenta diante da perspectiva, ao mes-

mo tempo confusa e inteligente, vívida e pasmada, da criança. Todas as inferências do leitor se formam através desse olhar e também ‘apesar’ dele. O leitor não vê só o que Maisie vê; vê mais, graças às pinceladas irônicas do autor. Parece simples, mas não é. Fez os ‘8 ou 10 pequenos capítulos’ pretendidos transformarem-se em 31. São as exigências impostas pelo método que o autor chamaria de ‘cênico’; ele usa o termo em seus cadernos quando já escrevia ‘Pelos Olhos de Maisie’. Sua malograda experiência teatral e as peças de Ibsen são influências diretas. O modo como James desenvolve seu processo de criação pode ser apreciado nesta edição. Com uma nova versão revista pelo tradutor, ela vem guarnecida com resenhas da época, cronologia de vida e obra do autor, introdução e comentários de Christopher

Ricks, da Universidade de Boston, além dos apontamentos contidos nos cadernos de James e do prefácio que ele elaborou para a edição de Nova York a qual, num dos raros senões deste volume, aqui é chamada, de modo mais pedestre e menos significativo, de ‘edição nova-iorquina’. MARCELO PEN é professor de teoria literária da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP

PELOS OLHOS DE MAISIE

Autor: Henry James Tradução: Paulo Henriques Britto Editora: Penguin/Companhia das Letras Quanto: R$ 26 (416 págs.) Avaliação: ótimo


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