Bragança Paulista
Sexta
24 Setembro 2010
Nº 554 - ano IX jornal@jornaldomeio.com.br
jornal do meio
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Para Pensar EXPEDIENTE
A esperteza dos bons MONS. GIOVANNI BARRESE
“Os cidadãos deste mundo são mais astutos com os seus colegas do que os cidadãos da luz” (Lucas 16, 8b). Não há como fechar olhos e ouvidos à propaganda política. Ela nos atinge pelos jornais, revistas, rádio, tv, carros de som, bandeirolas agitadas pelas ruas, cartazes em cavaletes, flips, folders, “santinhos” de todo tipo. No quadro da propaganda acumulam-se denúncias. Como disse, em artigo anterior, mais se denuncia do que se propõe. Não que a denúncia dos malfeitos não seja necessária. É obrigatória. A questão é ver se o embasamento não está no oportunismo. Isto que está vindo à tona não era já sabido ou não se desconfiava que algo não ia bem? Os fatos que envolvem os escândalos do Amapá e da Casa Civil foram “descobertos” só às vésperas das eleições? Creio que não estarei afirmando heresia se disser que, com boa probabilidade,
se esperava a “hora certa”, de acordo com o interesse eleitoral. Parece que o jogo dos que erram e dos que descobrem os erros se iguala em alguns momentos. É necessário que a descoberta ou desconfiança de que algo não anda bem devem levar à imediata denúncia. Não cabe esperar o momento “oportuno”, quando se pode ganhar dividendos. Olhando esse panorama veiome a frase que abre estas linhas. E que me faz recordar frase de Gerson excelente jogador do Flamengo e da Seleção Brasileira. Citada muitas vezes – eu mesmo a recordei recentemente – a propaganda de uma marca de cigarro (Mistura Fina) - dizia que “É preciso levar vantagem em tudo! Certo?” Estamos na antevéspera das eleições e vamos observando como os candidatos caminham no vale tudo de muita coisa que não poderiam prometer porque o cargo pleiteado não lhes dará competência para executar
as promessas. Candidatos que estão à sombra daqueles que serão meras iscas a engordar o número de votos para siglas que elegerão os seus donos. A sopa de letrinhas que os acordos partidários esdrúxulos põem no prato quotidiano da pregação insossa e sem chance de digestão. Partidos que se ligam e desligam dependendo do Estado ou da região. Que situação! Onde é que o cidadão correto pode manifestar, de verdade, o que pensa? Como superar essa bagunça que mascara os verdadeiros interesses de pessoas e grupos? Não estará havendo, por parte de muitos, a esperança utópica de que é possível mudar o quadro? Falando das orientações da Igreja Católica: são aderentes à realidade? Não estará faltando certa esperteza na condução das reflexões? Condivido a orientação de que os ministros ordenados não devem imiscuirse na política de partidos. Mas
os cristãos leigos deveriam ser mais bem organizados e muito mais atuantes na escolha e no apoio àqueles que julgassem mais aptos à disputa do serviço ao bem comum. No meio católico ainda existe um grande distanciamento do comprometimento concreto. Não para que se vote em católico. Mas para que se vote em quem apresenta possibilidade de desempenhar com honestidade o mandato pleiteado. Parece que existe ainda um grande pudor em envolverse. Pode haver, sim, a tentação de candidaturas proselitistas, assumidas para privilegiar esta ou aquela denominação religiosa. Mas é nesse mar revolto dos interesses de toda ordem que a rede deve ser lançada. A omissão e o desinteresse chocam os ovos da corrupção. Olhando os escândalos dos desvios de dinheiro não fica difícil perceber que tamanho estrago só se realiza pela conivência e concordância
Jornal do Meio Rua Santa Clara, 730 Centro - Bragança Pta. Tel/Fax: (11) 4032-3919 E-mail: jornal@jornaldomeio.com.br Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli Jornalista Responsável: Alexandra Calbilho (mtb: 36 444)
As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão. As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Jornal do Meio Ltda.
concatenadas de um bocado de gente. E que se conta com o desinteresse da maior parte das pessoas. Que se contentará com seus interesses imediatos atendidos. Caindo no conformismo do “rouba, mas faz!” Temos que ser mais espertos! Para fazer o bem! E para, com competência, vencer os assaltantes das esperanças populares, no seu próprio campo! Falta-nos agilidade? Faro? Vontade? Deve-nos incomodar a consciência saber que a cada atitude não tomada alguém poderá pagar com a vida. E vida não tem preço!
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Histórias Ilustradas
A arte de transformar traços em desenhos criativos colaboração SHEL ALMEIDA
Existem muitos nomes para se definir a arte das histórias em quadrinhos. No Brasil o estilo é mais conhecido como HQ ou gibi, aqueles para crianças. De qualquer forma se trata de combinar desenho e imagem com a intenção de narrar histórias e podem ser publicados em formato de revistas, livros ou em tiras, nos jornais. Os artistas mais reconhecidos no país são Maurício de Souza, que escreve e desenha para crianças, Henfil, famoso por suas tiras políticas e os da geração de 1980, como Glauco, Adão, Angeli, Laerte e Miguel Paiva, famosos por suas tiras diárias em jornais como Folha e Estadão. Em Bragança três artistas se mantêm ativos na arte da HQ. Conhecidos no meio cultural bragantino são eles Charles Oliveira, André Almeida e Hilton Mercadante.
Zé Leitão
André Almeida também desenha desde criança, e reitera o que Charlão disse: “Toda criança desenha. Eu, continuei”. Apesar de também receber encomendas para ilustrações se considera mais quadrinista do que ilustrador, porque é com os quadrinhos que deixa à vontade sua veia artística. “Sou essencialmente um contador de história”, se define. André é muito observador e por isso costuma desenhar em qualquer lugar, seja na rua, seja dentro do ônibus. “Estou sempre desenhando”, ele conta. “Pra praticar o desenho tem que manter a mão trabalhando”, afirma. Suas tiras sempre falam do comportamento humano e têm o humor inteligente como marca registrada. “Faço pra quem não lê quadrinho”, Caricaturas diz, explicando que quem lê é estereotiCharles Oliveira, o “Charlão” desenha pado como leitor de mangá (quadrinhos desde criança. Para ele não existe apenas japoneses) ou de histórias de heróis. Por o talento, mas principalmente a técnica, tratar de aspectos mais comportamentais que é aprimorada com o passar do tempo. seu trabalho se assemelha aos chargistas “Toda criança desenha”, ele diz. Começou a da geração de 1980, já citados. Para André desenhar profissionalmente na adolescên- destes, o que ele coloca num “pedestal” é cia, quando publicou em jornais da cidade, Laerte, criador dos “Piratas do Tietê”, por seu humor ácido. Mas sua como o BJD. Nessa época, grande fonte de inspiração aos quinze anos, começou Se a história for é a literatura: Fraz Kafka e a ficar conhecido, graças a fraca não funciona. Charles Bukowski são as um processo que recebeu Se a história for boa o maiores referências. “Se contra o personagem “Batdesenho pode até ser o a história for fraca não Tatu”, criado para uma tira homem palito funciona. Se a história política. Ele exibe orgulhoso for boa o desenho pode o recorte do jornal que André Almeida até ser o homem palito”, notifica o fato: “Achavam explica. No momento que eu era um cara de quaAndré está retomando as histórias do “Zé renta anos e não um moleque de quinze,” Leitão”, personagem que criou aos doze ri. O caso ficou por isso mesmo e Charlão anos de idade. A intenção é continuar a abandonou o personagem. Posteriormente sequência de tiras do personagem, que já criou com amigos os fanzines “Lingüiça foi publicado no BJD. Para isso André está Bragantina” e “O Mensalinho”, a fim de criando um site onde publicará as novas abrir espaço para novos artistas e divulgar histórias. “As histórias do Zé Leitão são a cultura local. Como quase todo artista, contadas como fábulas. Ele é um humaCharlão não consegue viver de sua arte e nóide”, afirma. “São histórias coloquiais hoje deixa os desenhos para as horas vagas. com fundo comportamental.” Recebe muitas encomendas de empresas Crônicas da Pindahyba para ilustrações mas não ganha o suficiente Hilton Mercadante, o “Tio” Merca, tem para abandonar o trabalho formal. “É um a arte como profissão desde os dezesmercado muito inconstante”, analisa. Das sete anos. Formado em artes gráficas muitas encomendas que recebe, de amigos é professor em uma escola particular e inclusive, a maioria é de caricaturas, arte na FESB. Conta que na época da escola que Charlão desenvolveu e se destaca. “Faço desenhava tanto no caderno que a mãe, o esboço ao vivo ou com uma fotografia. também artista, passou a lhe comprar Depois redesenho com técnica e digitalizo.” cadernos de desenho ao invés de os Como bom caricaturista, ele consegue com linha. Entre os artistas bragantinos destacar a característica mais marcante Merca é a maior referência, seja para os do modelo. Para praticar, ele desenha quadrinistas, como André, seja para os caricaturistas como Charlão, ou para “mulheres de revista”, o que também lhe os artistas plásticos, muitos deles seus inspirou a fazer telas eróticas. Charlão usa ex-alunos. Este ano ensinou crianças a a história da arte como referência para arte da história em quadrinhos durante seus trabalhos. Seu artista preferido é o Festival de Inverno da cidade, em uma Mondrian. “Mas uso a referência histórica, “Oficina de HQ”. Merca está há 25 anos na carreira artística. Nesse período nunca não do desenho”, explica.
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
Charles desenhou os freqüentadores do Bar da Vera
parou com as ilustrações. Entre as revista para qual já desenhou estão “Passatempo” e “Recreio”. “Sempre ilustrei para a Abril”, ele conta. Quando a editora resolveu criar a exposição “Ilustrando em Revistas”, que passou por quinze cidades do país, Merca foi um dos artistas selecionados. Sempre criando “seres elementais”, como o “Terrível Catoto”, que foi selecionado para a 44° Bienal de Belgrado, na Sérvia, Merca se tornou referência quando o assunto é folclore. Seu último projeto, o livro “Crônicas da Pindahyba”, que fala de várias cidades da região, foi selecionado para o edital do ProaC, da Secretaria de Estado da Cultura. O livro poderá ser encontrado em bancas de revistas e livrarias da cidade, no entanto é desaconselhável para menores de 16 anos. Merca prefere desenhar em preto e branco já que a cor influencia no desenho, tirando o enfoque da trama. Para ele Bragança tem tudo para se tornar pólo regional de histórias em quadrinhos, mas como em todo o país, os produtores de quadrinhos locais ainda pecam no roteiro.
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
Tira de André Almeida: foco no cotidiano FOTO: ARQUIVO PESSOAL
“Crônicas da Pindahyba” de Hilton Mercadante
Para entrar em contato com os artistas: Charles Oliveira: omensalinho@gmail.com André Almeida: www.flickr.com/andrejr Hiton Mercadante: www.flickr.com/tiomerka A Festa de Lançamento do livro “Crônicas da Pindahyba”, de Hilton Mercadante, será dia 22 de outubro no Galpão Busca Vida.
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Casa & Reforma
Test-Drive de móveis Demonstração e consignação de objetos sem custo são diferenciais das lojas de decoração
por CAROLINE PELLEGRINO/FOLHAPRESS
Se nem roupa nem carro se compra sem experimentar, por que a decisão por um sofá ou por um tapete deve ser feita na base da trena? Para ajudar na escolha do que cai melhor na casa do cliente e, claro, aumentar as vendas, lojas de decoração de São Paulo começam a oferecer demonstração e consignação de peças. A quem sente dificuldade em imaginar como ficará o ambiente, elas emprestam móveis e objetos para serem testados em casa. “Eu não conhecia o serviço, mas ajudou muito a decidir. Não dá para ficar trocando os tapetes só porque não gostei”, afirma a professora Karina Zalasar Saiçal, 35. Além do “empréstimo”, as lojas ainda se encarregam do transporte.”Oferecemos a consignação, levamos e buscamos os itens sem custos para o cliente”, explica Marcílio Marques, gerente da Casa Fortaleza.
Ver para crer Os itens que mais causam insegurança são aqueles com maior valor e que, em geral, marcam a decoração. O grande risco neste caso é o de comprar mais do que o planejado. Se o cliente optar pela demonstração, as lojas costumam enviar também peças menores que componham o ambiente, como lustres, tapetes e esculturas. “É como se fosse uma garantia do produto, de que vai ficar bom”, considera a arquiteta Karina Afonso. A tentação de ficar com todas as peças não é pequena, mas o cliente não é obrigado a ficar com nada, nem a pagar pelo “empréstimo”.
Regras Para usar o serviço, é necessário fazer um pedido provisório, que inclui vistoria das peças. O cliente deixa um cheque caução como garantia da devolução. Já o tempo para que o móvel ou objeto fique com ele pode variar de um dia a um mês. “As pessoas ficam tempo suficiente para mostrar à família e aos amigos”, diz a diretora da Secrets de Famille, Bettina D’Archemont. Apesar das vantagens que o serviço proporciona, é preciso ter alguns cuidados ao aceitar a consignação. O Procon-SP recomenda que seja feito um documento em duas vias, para o consumidor e para a empresa, em que esteja claro o prazo para devolução, a quantidade e as características dos objetos. Também deve estar especificado o valor cobrado em caso de danos aos produtos. Para quem contratou um arquiteto, a demonstração é feita sem necessidade de garantia em lojas parceiras do profissional. Nesse caso, fique atento aos preços para saber se são os melhores.
FOTO: SILVIA ZAMBONI\FOLHAPRESS
Claudia Borelli e sua arquiteta Karina Afonso (blusa branca) mostram alguns itens de decoraçao que foram consignados antes da compra
Projeto de decoração pode ser incluído na compra da mobília Uma das tarefas de quem está montando ou mudando a casa é planejar os cômodos com equilíbrio entre arquitetura, mobília e peças. Para resolver isso, algumas lojas oferecem o projeto de decoração, que tem opções de cores de parede e acessórios decorativos. “Qualquer cliente da loja ganha o planejamento de interiores. É feito um projeto em 3 D por um profissional”, diz o diretor da loja Forthouse, Rafael Branco. O benefício não é um compromisso de compra tampouco significa que todas as peças são da loja. Itens como pia, vidros e peças de decoração também fazem parte do desenho, que é enviado digitalmente para o cliente. O profissional precisa das medidas do cômodo e dos objetos que devem continuar no ambiente , um armário já existente por exemplo. A partir desses dados e da descrição do que se quer naquele local, será feito o projeto.
Praticidade Na hora de montar a cozinha, o empresário Emerson Selarim, 37, acabou levando mais do que imaginava da loja de móveis. “Fui em busca apenas da mobília e ganhei o projeto de decoração incluso”, conta. Famosa pelas lojas de decoração, a alameda Gabriel Monteiro da Silva (zona oeste) agora tem um portal em que se pode obter o projeto pela internet (www. gabrielonline.com.br). Basta enviar fotos do cômodo a ser modificado e um profissional de arquitetura ou decoração envia uma proposta de projeto.
FOTO: ADRIANO VIZONI/FOLHAPRESS
A empresaria e designer Nicia Monteiro, 59, diante do espelho e sentada no sofa que foram comprados depois de seren experimentados FOTO: SILVIA ZAMBONI\FOLHAPRESS
Claudia Borelli e sua arquiteta Karina Afonso (blisa branca) mostram alguns itens de decoraçao que foram consignados antes da compra. Nesse caso o lustre
Onde emprestar objetos e fazer projetos www.anamariavieirasantos.com.br www.botteh.com www.breton.com.br www.casacenario.com.br www.casafortaleza.com.br www.doural.com.br www.espacomm.com.br www.forthouse.com.br www.helvetiahouse.com.br www.marleneenxovais.com.br www.montenapoleone.com.br www.gruposantahelena.net www.secretsdefamille.com.br www.trousseau.com.br www.uniquedecor.com.br www.zull.com.br Projetos www.forthouse.com.br www.gabrielonline.com.br www.ritmoveis.com.br
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Informática
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&
Tecnologia
Pai de Gates conta histórias de família
No livro ‘Desperte para a Vida’, William Henry Gates II busca ensinamentos, lições e dicas de comportamento
por RODOLFO LUCENA/FOLHAPRESS
Fracassou a primeira demonstração de um produto criado por Bill Gates, então um jovem estudante. Foi na casa da família, e o futuro homem mais rico do mundo saiu correndo para pedir que a mãe dissesse aos potenciais clientes que a geringonça funcionava, sim... Essa é uma das histórias de família reveladas por William Henry Gates II, pai do cofundador da Microsoft, no livro ‘Desperte para a Vida’, em que relata experiências vividas por ele e pelos filhos, buscando sempre um ensinamento, uma lição, uma dica de comportamento pessoal ou empresarial. O livro, recém-lançado no Brasil, se soma a dezenas de outros do gênero, que focam as carreiras de empresários da alta tecnologia para construir um gênero que poderia ser chamado de autoajuda empresarial.
Sem fórmulas No seu livro, William H. Gates II, que passou a se chamar Bill Gates Sênior (ou Gates Sr.), para se diferenciar do Bill Gates mais mundialmente conhecido, não ensina como criar filhos para serem multimilionários nem como encaminhar a criança para o mundo da tecnologia nem muito menos apresenta o passo a passo do pai de sucesso em dez simples lições. Ao contrário, demonstrando capacidade de humor, de rir de si mesmo, lembra que, logo que Bill, o filho, estourou com a Microsoft, ele passou a ser procurado por todos, desde repórteres da revista ‘Fortune’ até o padeiro da esquina, que queriam saber qual o segredo para criar um filho como o cofundador da Microsoft. ‘O segredo? Pois é, deve ser mesmo um segredo,
pois nem eu mesmo sei qual é’, pensava ele consigo mesmo, conforme revela no livro. O que não o impede de buscar alguma explicação para a formação de seus rebentos. Fala dos jantares em família, quando ele e a mulher conversavam com os filhos sobre o trabalho e sobre a participação na vida da comunidade, além de outras tradições familiares. E resume: ‘Acredito firmemente que as crianças aprendem mais pelo exemplo, pelo que veem seus pais fazendo, do que pelo que ouvem deles’. Fundador da Microsoft era ‘respondão’ e ‘cabeça-dura’. Para o leitor que foi atraído à obra pelo nome do autor, o mais interessante mesmo são as histórias de família. Quem era o pequeno Bill Gates, como ele cresceu para se tornar o dono da Microsoft? Ainda que não traga o segredo da criação de um multimilionário, Gates Sr. revela momentos da vida da família. Logo no primeiro texto, ele revela que o filho tinha o apelido doméstico de Trey, referência ao número três de seu nome (William Henry Gates III), e era fanático por leituras, mas também apreciava ficar quieto em seu canto, sem ser incomodado. ‘Trey, o que você está fazendo aí?’, perguntava a mãe quando ele passava muito tempo em seu quarto. Certa vez, provocou: ‘Estou pensando, mãe. Você nunca pensa?’. Essa cena é o mais próximo de algo mais dramático da vida familiar relatada por Gates Sr., que passa ao largo de um episódio menos agradável, citado pelo ‘Wall Street Journal’. Diz o texto que o garoto Gates era um bom cabeça-dura e respondão. Numa noite, durante o jantar, o menino
teve uma discussão mais ácida com a mãe, o que levou o pai, irritado, a atirar um copo d”água gelada no rosto dele. ‘Obrigado pelo banho’, devolveu na lata o jovem Bill. Em contrapartida, o texto fala bastante dos bons momentos de convívio familiar e lança luz sobre as atividades de duas moças discretas: as irmãs de Gates, Kristianne, a mais velha, e Libby, caçula da família, nascida quando Kristi já tinha dez anos e Trey quase nove.
Aprendizado ‘Desperte Para a Vida’ é feito de pequenos textos, retalhos da vida desse advogado ativista e filantropo. Tanto os capítulos sobre a convivência familiar quanto os que revelam encontros com personalidades como o líder sul-africano Nelson Mandela e o ex-presidente norte-americano Jimmy Carter sintetizam algum aprendizado. O trecho em que Gates Sr. narra o fracasso daquela pioneira demonstração feita pelo filho, por exemplo, não abre espaço para a galhofa nem para o desânimo. Ao contrário, conclui que o episódio pode ensinar que ‘todo sucesso envolve alguns tropeços iniciais’. A julgar pela carreira de Trey, está coberto de razão.
filantrópica Bill & Melinda Gates. Advogado, teve militância em prol dos direitos civis. No livro, aponta as desigualdades sociais do mundo de hoje, e a necessidade de que governos, empresas e cidadãos tomem medidas para reduzir o fosso que separa os ricos dos pobres. Defende a atividade filantrópica e a taxação de heranças. Gates Sr. comenta ainda os problemas de saúde e educação que vive o mundo, conta um pouco sobre o que tem sido feito e o muito que falta a fazer para diminuir o sofrimento de grande parte da humanidade. Desperte para a Vida Reflexões sobre a Bênção de Existir Bill Gates Sr. com Mary Ann Mackin EDITORA BestSeller TRADUÇÃO Gabriel Zide Neto QUANTO R$ 24,90 (208 págs.)
O pai de Bill Gates, fundador da Microsoft, relata experiências vividas por ele e pelos William Gates II defende filhos, sempre buscando um ensinamento, redução da desigualdade Com quase 85 anos, Gates Sr. é responsável uma lição ou uma dica de comportamento pelo comando da multibilionária fundação pessoal ou empresarial.
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Teen
Teste do sofá
Couch surfing reúne 2 milhões de viajantes que conhecem novas culturas dormindo num sofá por IURI DE CASTRO/ELISÂNGELA ROXO/FOLHAPRESS
“Participe da criação de um
“Não é só conseguir um canto para
hospedados pelo Couch Surfing na casa de
mundo melhor, um sofá de cada
dormir de graça, mas, sim, ter a ex-
uma família em Cartagena, na Colômbia.
vez.” Essa é a ideia do Couch
periência de conhecer uma cultura de
Conversei e contei o que tinha acontecido,
Surfing (surfe de sofá), rede on-line que
verdade”, diz Novozhilov.
mas não tinha como saber quem roubou,
reúne mais de 2 milhões de membros
Por meio do CS, Leandro Provença, 23,
nem dava para acusar ninguém.
em 77 mil cidades.
conheceu um professor nos Estados
Foi uma situação chata. A filha, com
Como? Ofereça o sofá para um viajante.
Unidos, deu aulas para crianças por um
quem eu tinha feito contato para pedir
Ou peça um. No Couch Surfing (ou CS,
dia e até jogou futebol com elas.
o sofá, ficou arrasada.
para os íntimos) não há cobrança de
“Não é o tipo de coisa que acontece com
Eu também não sabia o que dizer. Sei
diária, como em hotéis.
quem viaja e fica em hotel, né?”
que, em cinco anos de CS, foi a única
O sistema é baseado na confiança. Referências positivas ou negativas são
Depoimento positivo
postadas nos perfis de viajantes e hos-
Hóspede especial na Itália
pedadores, que não podem alterá-las.
“O trem saiu de Ventimiglia com destino
Mais do que um cantinho para largar
a Gênova sem que eu tivesse ideia de
seu mochilão, o bacana é a troca cultu-
onde dormiria naquela noite na Itália.
ral, dizem os surfistas de sofá ouvidos
Ainda na estação, conheci um casal
pela reportagem.
de ingleses. Tínhamos o destino em
Rodrigo Oliveira, 18, já recebeu nove
comum. Eles perguntaram se o dono
gringos. “Ver que você fez parte da jornada
do sofá teria lugar para uma terceira
de uma pessoa não tem preço.”
surfista: eu!
Oliveira só não tem boas recordações de
Fui aceita e recebida por um senhor italiano
um hóspede inglês “bastante folgado”, que
e sua esposa. Ela cozinhou um banquete.
não lavava as próprias louças e atrapalhava
Ele perguntou: gostam de vinho?
a rotina da casa, por ser baladeiro.
Com o sim, se levantou e voltou com uma
Talita Torres, 23, calcula ter conhecido
garrafa de vinho guardada há 30 anos
70 novos amigos pelo Couch Surfing,
para “hóspedes especiais”, que, naquela
na Turquia e na Europa.
noite, éramos nós, surfistas de sofá.
Para maiores
Depoimento negativo
Por motivos de segurança, a comuni-
“Fui roubado no CS”
dade não permite usuários menores
Gabriel Gaspar, 26, embaixador de São
de 18 anos.
Paulo no Couch Surfing, conta uma
Mesmo assim, os jovens são maioria: 40%
experiência negativa no surfe de sofá.
dos surfistas têm entre 18 e 24 anos.
“Uma hora antes do voo de volta, percebi
Russo, Vadim Novozhilov, 24, teve sua pri-
que meu iPod tinha sido roubado.
meira experiência no CS em São Paulo.
Eu e um casal de franceses estávamos
FOTO: ADRIANO VIZONI/FOLHAPRESS
Viajantes hospedados na casa de outros membros, sem pagar nada
vez em que fui roubado. Em albergues, isso aconteceu muitas vezes.”
Pequeno manual do surfista 1 - Couchsurfing não é só um jeito de viajar de graça. Reserve um tempo para conhecer bem a pessoa que está lhe hospedando 2 - Leia com atenção o perfil de quem vai hospedar você para ver as referências de outros hóspedes e checar se vocês têm gostos parecidos. Quem é mais tranquilo não precisa ficar na casa de um baladeiro, por exemplo 3 - A hospedagem é de graça, mas pega bem levar um presente, tipo uma lembrancinha do Brasil 4 - Para saber as regras da casa, não tenha vergonha de conversar com o dono, e siga o combinado 5 - Não seja bagunceiro na casa dos outros. Dobre os seus lençóis e se ofereça para lavar a louça 6 - Se a estadia no sofá foi boa, deixe uma referência no site sobre a sua experiência.
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Comportamento
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O que aperta cura?
Cada vez mais justa, moda esportiva feita com tecidos que comprimem os músculos promete reduzir a fadiga e acelerar a recuperação pós-treino por RODRIGO GERHARDT/FOLHAPRESS
As roupas de compressão voltam à cena. Depoisdeseduziratletascomacontroversa promessa de aumentar o rendimento no esporte, elas caíram novamente no gosto de esportistas profissionais e amadores. Peças em tecidos elásticos, que ficam praticamente coladas ao corpo, ressurgem associadas a outros benefícios: o de reduzir a fadiga depois da atividade física e o de acelerar a recuperação da musculatura nos momentos de descanso. Omercadotemmeias,polainas,leggings,bermudas, camisetas, tops e macacões em tecidos especiais. Agora é moda, mas o princípio é antigo. São roupas desenvolvidas a partir do conceito daquelas meias de compressão medicinais para varizes, que atuam sobre o sistema circulatório periférico, aumentando o retorno do sangue venoso e promovendo uma maior oxigenação celular nos músculos. A influência das roupas compressivas no desempenho esportivo começou a ser estudada em bermudas, e entre os jogadores de vôlei, basquete e futebol. Logo depois vieram polainas, leggings e macacões para atletas de endurance, como triatletas, ciclistas e corredores. Agora, já estão circulando nas academias. Após uma sessão de exercício intenso, sempre vem aquele desconforto que os especialistas chamam de dor muscular tardia, porque se manifesta de 24 a 48 horas depois da atividade. Esse desconforto é um sintoma dos microtraumas causados nas fibras musculares que foram trabalhadas no exercício físico. Pois o que essas vestimentas fazem é colocar ainda mais pressão sobre o corpo enquanto ele se movimenta, com a promessa de aliviar a dor muscular que virá depois e apressar a recuperação. “Noventa por cento dos ciclistas do Tour de France já adotam essas roupas. No triatlo, o uso também é cada vez mais frequente”, diz o triatleta Ricardo Hirsch, também diretor técnico da assessoria esportiva Personal Life. O próprio Hirsch tem uma meia compressiva, importada: “Suo para colocar, mas depois passo o dia inteiro com ela sob a calça e nem percebo. Sinto uma melhora na fadiga”, afirma.
Mais sustentação
Um estudo que avaliou esse efeito foi feito pelo Cemafe (Centro de Medicina da Atividade Física e do Esporte), ligado à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a pedido da Santaconstancia - empresa brasileira de desenvolvimento de tecnologia têxtil, que está investindo nesse filão. “Durante a atividade física, a compressão dá maior sustentação à musculatura, o que reduz a sua vibração, preservando mais as fibras dos microtraumas”, explica o fisiologista do esporte Turíbio Leite de Barros, que coordenou o estudo. Para conseguir esse efeito, a recomendação é, depois deumahoradeintervalodoexercício,ousocontínuo da peça de roupa por seis a oito horas por dia. “A compressão ajuda a conter um tipo de edema que se forma na musculatura em função do processo inflamatório, diminuindo assim o desconforto pela maior circulação sanguínea na região. A compressão reduzodiâmetrodasveiassuperficiais,aumentando o fluxo”, afirma o fisiologista. Para chegar a essa conclusão descrita por Turíbio Barros, o estudo monitorou, em cinco ciclistas vestindo bermudas compressivas, a concentração de creatina-quinase (CK) - enzima decorrente do processo inflamatório, que funciona como um marcador da fadiga muscular. Os ciclistas foram levados à exaustão em 30 minutos. Nos testes de sangue realizados 24 horas, 48 horas e 72 horas depois da atividade, verificou-se uma redução de 26% na concentração de CK.
Apenas percepção
Alguns desses novos produtos apregoam uma capacidade de prevenir ou diminuir as cãibras, mas isso é mais que improvável: não é verdade. “As cãibras têm origem metabólica, muitas vezes são causadas pela desidratação”, afirma o fisiologista. A compressão parece ser mais eficaz em atividades de longa duração. “Corri 24 km com o macacão e, no dia seguinte, não tinha dor na panturrilha”, testemunha o triatleta Marcelo Butenas. Sua assessoria esportiva, voltada para a praticantes amadores que buscam alta performace, é patrocinada pela marca Speedo, que fornece aos
300 alunos os macacões de compressão. “Da experiência desses usuários, coletamos as informações para o desenvolvimento e o aperfeiçoamento das roupas”, informaodiretordamarca, Renato Hacker. Apesar da constatação de alguns benefícios da compressão e do aumento do mercado dessas roupas, os parâmetros para seu uso ainda são pouco claros. Não há, por exemplo, um padrão entre as marcas ou a definição sobre qual o nível mais adequado de pressão para cada caso ou regiãodocorpo.Aescolhae o uso das roupas supostamente terapêuticas ainda são baseados na percepção de quem as veste. Pura subjetividade. Uma dificuldade é a variação nas medidas corporais de cada pessoa, como a circunferência da perna, por exemplo. Quem tem uma coxa mais grossa sofrerá uma compressão maior. “Umatendênciaparabrevedaindústriadevestuário esportivo é uma oferta mais ampla de tamanhos e formatos, para se aproximar mais da realidade de cada usuário”, afirma o consultor e engenheiro têxtil da Santaconstancia José Favilla.
Só pressão
Nos tecidos, a medida de pressão é feita em milímetros de mercúrio (mmHg). “Até 20 mmHg, a compressão é considerada terapêutica e não precisa ser informada nos produtos, diferentemente do caso das meias medicinais, que chegam a 40 mm Hg”, informa Favilla. As peças esportivas fabricadas no Brasil são de baixa compressão: situam-se na faixa que varia de 6 mmHg a 15 mmHg. “Não há interesse em produzir roupas mais fortes por uma questão estética. Os moldes são
FOTO: CAIO GUATELLI/FOLHAPRESS
Ricardo Hirsch, personal trainner, usa meias de compressao do sistema circulatorio.
menores, elas marcam muito no corpo, fica feio. Em função disso, não há restrição ou risco de segurança no uso dessas roupas para os consumidores”, afirma o engenheiro têxtil. Muitos esportistas brasileiros, no entanto, trazem do exterior peças com nível de compressão bem mais alto, isso quando não usam as próprias meias medicinais. No mercado, também já há uma oferta maior de roupas de compressão importadas, como as da marca americana CX-W, que têm nível de compressão de 20 mmHg. A nutricionista Luciana Bruno, 37, trouxe um par de meias compressivas dos EUA, depois de ver uma amiga usando. Comprou para experimentar nos seus treinos longos, mas diz que nem sabe o nível da pressão. “A meia não mudou em nada o meu rendimento, mas sinto menos dor, ficou mais gostoso treinar”, afirma. O doutor em cirurgia vascular pela USP Guilherme Yasbek diz que uma pressão acima de 30 mmHg só é indicada para quem tem problemas circulatórios. “O excesso de pressão tem o efeito de um garrote e pode causar prejuízos para a recuperação, ao invés de benefícios”, diz.
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Matrícula Escolar GUSTAVO ANTÔNIO DE MORAES MONTAGNANA/ GABRIELA DE MORAES MONTAGNANA
Com a proximidade do final do ano aproxima-se o momento em que as escolas iniciam a temporada de re-matriculas dos alunos já matriculados e matriculas dos novatos para o ano de 2011. Esse é o momento em que o contratante assina um novo contrato de prestação de serviço, com vigência para o ano escolar seguinte. Em razão disso deve se atentar para várias disposições contratuais, dentre elas as que tratam sobre material e transporte escolar. Muito se divulga, em todos os meios de comunicação, dicas sobre como economizar na hora da compra e aquisição desses produtos e serviço, sendo que a mais usual refere-se à pesquisa dos preços em diversos pontos de vendas. Pois bem, nesse artigo nos restringiremos a darlhes dicas jurídicas sobre esse assunto. Realmente será extremamente proveitoso ao consumidor que, antes de efetuar a compra do material escolar, uniforme ou contrate o serviço de transporte, faça uma pesquisa que envolva preço e qualidade dos mesmos. Ocorre que muitos estabelecimentos de ensino retiram do contratante essa faculdade. Quando celebrado o contrato de prestação de serviço educacional é comum que a escola nele preveja que os serviços acima referidos somente poderão ser adquiridos nos estabelecimentos por ela indicados, ou mesmo no seu próprio. Ou, ainda que não haja em contrato disposição expressa nesse sentido, exigem verbalmente que isso ocorra, acabando por obstruir as possibilidades de escolha por parte do consumidor, não aceitando a entrada de outra empresa de
transporte escolar no seu estabelecimento ou mesmo não fornecendo a lista de material escolar aos pais, que somente a encontraram no ponto de venda indicado pela escola. Todas essas atitudes dos estabelecimentos de ensino são abusivas, sendo nula a cláusula contratual que nesse sentido estipula. Isso porque tal atitude configura venda casada. Das muitas maneiras possíveis de induzir o consumidor a uma compra, a venda casada é a mais disfarçada delas. Essa prática acontece quando o fornecimento de um produto ou serviço é condicionado à compra de outro produto ou serviço. A lei proíbe expressamente essa conduta, definida como crime contra a ordem econômica e contra as relações de consumo. Esta prática supõe a obtenção de algum tipo de vantagem pela escola, frustrando o direito do consumidor de pesquisar preços. Toda escola tem a obrigação de dar o direito de ir e vir, de consumir e pesquisar no mercado, ao contratante. Contudo, a regra não vale para artigos que não são vendidos no comércio, como é o caso de apostilas pedagógicas próprias do colégio. Com relação à reutilização de um livro usado por um irmão mais velho, por exemplo, a escola só poderá proibir tal prática se o material estiver desatualizado. Caso o conteúdo esteja adequado, não há problema algum em reaproveitar o material. É permito às instituições de ensino realizar a venda de produtos escolares, no entanto não pode haver a exigência de que o consumidor adquira obrigatoriamente o material junto à própria escola. Deve ser entregue ao aluno a lista do material, para que este possa fazer uma
pesquisa e efetuar a compra no estabelecimento de sua preferência. Quanto aos uniformes, a vedação também não existe quando há reserva de marcas ou patentes, por exemplo. Pais de alunos matriculados em escolas podem, segundo o Código do Consumidor, adquirir uniforme escolar na loja que desejarem, desde que sejam respeitadas as regras definidas pela escola, em relação a cores e eventuais símbolos, devendo verificar no caso da marca se a loja possui autorização para utilizá-lo. Lembrem-se de que, mesmo se a escola possuir algum tipo de convênio com algum prestador do serviço, os pais não são obrigados a escolher o mesmo, tendo o direito de optar por qualquer outro que esteja dentro das normas já mencionadas. Caso passe por uma situação que configure a venda casada, o consumidor pode registrar reclamação contra a empresa fornecedora de produtos ou serviços por intermédio de carta em postos de atendimento do Procon. Além disso, o consumidor que for obrigado a adquirir produto ou serviço mediante aquisição de outra mercadoria deve pedir judicialmente a devolução do valor pago à empresa. O fornecedor que insistir na prática estará sujeito a multa. O contratante deve estar atento também a outros detalhes do contrato de prestação de serviço escolar como as cláusulas que se referiram a forma de pagamento, principalmente no que concerne à multa por inadimplemento, que conforme dispõe o CDC não pode ser superior a 2% do valor do débito, bem como aos juros moratórios que não podem ultrapassar 1% ao mês.
Importante disposição contratual é ainda aquela que trata sobre o uso da imagem do aluno beneficiário, deve o contratante estar atento e solicitar a retirada desta cláusula do contrato caso não concorde em autorizar o uso da imagem do seu filho pela escola. As escolas, prestadoras de serviço devem estar atentas as regras operacionais que incidem sobrem os contratos, de forma geral e que lhe conferem validade e força executiva. O contrato e um poderoso instrumento de proteção de direitos, sendo para escola, além disso, um instrumento de cobrança dos inadimplentes. Por isso, deve-se verificar se todas as suas folhas estão rubricadas pelo contratante e contratado e ainda se há assinatura de duas testemunhas, pois somente assim terá o contrato força executiva, que corresponde ao direito de as partes exigirem que cada qual cumpra com as obrigações assumidas, judicialmente, através de um procedimento simplificado e célere. Por fim, importante frisar que de suma importância é que as escolas no momento de celebração do contrato solicite ao contratante os dados de ambos os pais do alunos, ainda que com ele não conviva, pois até mesmo o pai que não possui a guarda de seu filho tem o direito de receber informações sobre o desempenho pedagógico do aluno. Fiquem atentos! Até a próxima! Advogados Gabriela de Moraes Montagnana OAB/ SP 240.034 Gustavo Antônio de Moraes Montagnana OAB/ SP 214.810
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“Deus de Caim” revela talento literário ferozmente original
Ricardo Guilherme Dicke compõe denso mosaico de inspiração bíblica por MARÇAL AQUINO/FOLHAPRESS
Bons escritores contam (boas) histórias; grandes escritores criam mundos. O mato-grossense Ricardo Guilherme Dicke (1936-2008) integrou, sempre com modéstia e extremo rigor, o seleto grupo de autores que estabelecem universos próprios para o transcurso de sua ficção, como a Macondo, de García Márquez ou a Yoknapatawpha, de Faulkner. O reino mítico de Dicke chama-se Pasmoso, lugarejo de localização incerta nos confins do Mato Grosso, onde se passa ‘Deus de Caim’, seu romance de estreia. Poucos escritores foram tão aclamados, e ignorados com igual fervor, quanto Dicke. ‘Deus de Caim’ recebeu o Prêmio Walmap, atribuído por um júri do qual faziam parte Jorge Amado e Guimarães Rosa. Publicado em 1968, o romance não apenas fincou os marcos geográficos da literatura de Dicke, mas também seus marcos estéticos.
Estilo vigoroso Na trama, que remete de forma direta à história de Caim e Abel, os gêmeos Jônatas e Lázaro Amarante, seres primitivos do sertão do Pasmoso, entram em conflito quando se apaixonam pela
mesma mulher, Mirina. Um mundo bruto vem à tona, temperado por intolerância e preconceito. Na verdade, é a linguagem o maior personagem da prosa de Dicke. Com um estilo vigoroso e enganosamente simples, que não esconde em nenhum momento seu alto grau de elaboração, ele conduz o leitor para um território de incertezas. E compõe um denso mosaico que, aos poucos, revela os segredos da família Amarante e seus desvios. Romance de linhagem regionalista, porém a partir de uma sofisticada operação de linguagem. Literatura destinada a paladares exigentes. Depois de uma temporada no Rio, na década de 1960, Dicke recolheu-se a Cuiabá, onde até o final da vida dividiu seus interesses entre a literatura e a pintura. A fidelidade ao seu projeto literário fez com que o escritor nunca chegasse a grandes públicos. Nem por isso ele concedeu. Ao contrário: radicalizou ainda mais seus procedimentos e construiu uma obra que é uma sequência de narrativas caudalosas e invariavelmente premiadas (e negligenciadas), como ‘Caieira’, ‘Último Horizonte’ e ‘O Salário dos Poetas’, este um catatau de 500 páginas de uma prosa quase impenetrável.
FOTO: MARCOS BERGAMASCO/FOLHAPRESS
O autor mato-grossense Ricardo Dicke, que foi descoberto pelo escritor Guimar‹es Rosa durante um concurso de literatura em 1968
Por fim, uma menção de louvor à Letra Selvagem, valente editora de Taubaté, pela ousadia de recolocar ‘Deus de Caim’ em circulação, oferecendo, a leitores que busquem um pouco mais do que mero entretenimento, grande oportunidade de (re)descoberta de Ricardo Guilherme Dicke e de sua literatura ferozmente original.
MARÇAL AQUINO é autor de ‘Cabeça a Prêmio’ e ‘O Invasor’ DEUS DE CAIM AUTOR Ricardo Guilherme Dicke EDITORA Letra Selvagem QUANTO R$ 40 (400 págs.) AVALIAÇÃO ótimo
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Antenado Antenado
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Yehoshua alterna ação entre Israel e África em romance
Autor israelense contrapõe os berços do judaísmo e da humanidade no livro colaboração ALCIR PÉCORA
‘Fogo Amigo - Um Dueto’, romance do escritor israelense A. B. Yehoshua (1936), passa-se durante os oito dias de Hanukah, festa judaica de refundação do Templo, quando é costume acender, num candelabro próprio, uma vela para cada dia. Um casal sexagenário tem, então, o seu convívio alterado: a mulher decide ir à Tanzânia, a fim de partilhar com o cunhado, antigo diplomata, o luto pela irmã falecida, enquanto o marido fica em Tel Aviv, a cuidar dos negócios e do restante da família. Todo o livro se dispõe como uma alternância de capítulos entre o que se passa em Israel e África, como contraponto entre os berços do judaísmo e o da humanidade. As duas séries têm interesse, mas suscitam narrativas de tons bem diversos. O marido engenheiro, homem prático, está às voltas com problemas de sua empresa de projetos de elevadores: o barulho dos ventos que penetram os fossos de um arranha-céu recém-construído; a
garantia eterna dada por seu velho pai ao elevador privado da antiga amante; a encomenda de um elevador secreto pelo Ministério da Defesa. A mulher, mais intelectualizada, lida com assuntos íntimos: a retomada do sentimento de luto pela perda da irmã, diluído no dia-a-dia de professora, mulher e avó; a revolta do cunhado contra Israel e os profetas bélicos de sua religião, causada tanto pela morte do filho por ‘fogo amigo’ _isto é, pelas próprias tropas israelenses, durante uma emboscada fracassada nos territórios ocupados_, como pela consequente perda de sexualidade e da vontade de viver de sua mulher. A pontuar o percurso doloroso há uma irônica missão arqueológica de ‘scholars’ africanos em busca de um ramo interrompido na escala evolutiva entre o macaco e o homo sapiens.
taumatúrgicas até. Pelo lado israelense, é a especialista em ouvir barulhos nos elevadores e identificar suas causas: quase anã, órfã, sem idade definida; da parte africana, uma sudanesa alta, enfermeira e motorista da expedição, cujos parentes foram todos assassinados num massacre de civis. São mulheres sem sexo e sem pertença, mas são as únicas que exorcizam os ventos e os espíritos revoltos _referidos pelo mesmo termo hebraico_ que assombram as duas séries narrativas. Afora tais simetrias, não há muito em comum nas duas histórias. O ‘dueto’ entre elas não chega a se afinar, a menos que se force a ponto de produzir o que é ruim para Exorcizar os espíritos ambas: sacrificar os acontecimentos, Nas duas histórias existem duas persona- minuciosamente descritos, em favor gens envoltas em mistério e sofrimento, as de elementos simbólicos de uma tese quais guardam propriedades terapêuticas, pouco desenvolvida.
FOTO: LETICIA MOREIRA/ FOLHAPRESS
Escritor Abraham B. Yehoshua, na pousada Marquesa, que esta participando da 8a FLIP (Feira Literaria Internacional de Paraty)
ALCIR PÉCORA é professor de teoria literária na Unicamp FOGO AMIGO AUTOR A. B. Yehoshua EDITORA Companhia das Letras TRADUÇÃO Davy Bogomoletz QUANTO R$ 54,50 (400 págs.) AVALIAÇÃO bom
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Movimento pela reforma tributária Neste sábado na praça Raul Leme, “Feirão do Imposto” alerta população para a carga de impostos e taxas embutida nos produtos e serviços
Assessoria de Comunicação Corporativa - CIESP
Quanto o Governo arrecada em impostos num pacote de açúcar? Qual a parcela recolhida aos cofres públicos na compra de um medicamento ou de um eletrodoméstico? Estas perguntas, que escapam ao conhecimento do cidadão comum, serão respondidas no Feirão do Imposto, evento que se realiza No próximo sábado, 25 de setembro, em 13 cidades paulistas concomitantemente. “Faremos esse grande mutirão pela cidadania, a uma semana das eleições”, observa Carlos Frederico Faé, diretor-titular do Núcleo de Jovens Empreendedores do Ciesp. “É um recado direto aos candidatos. Para que não se esqueçam de promover a reforma tributária”, acrescenta. O movimento, concebido por jovens empresários catarinenses, está sendo encampado pelo NJE do Ciesp, pelo Comitê de Jovens Empresários (CJE) da Fiesp e outras instituições. “Vamos mostrar uma feira de produtos onde as tabuletas, em vez do preço, trarão a porcentagem de imposto e taxas que pesa sobre o preço final dessas
mercadorias”, alerta Faé, do NJE/Ciesp. “Quando se fala em imposto, as pessoas associam logo com IPVA e IPTU. Mas a maioria desconhece a carga de tributos que está embutida nos alimentos, eletrodomésticos, medicamentos e até no custo da casa popular”, frisa o jovem empresário do Ciesp, entidade que mantém núcleos em 26 das suas 42 unidades na rede estadual. Durante o Feirão, os visitantes receberão tabela que mostra o peso dos impostos em 84 itens de consumo. A lista mostra a carga que incide numa passagem aérea, que é de 8,63%, e também na dose de cachaça (de 83%), a mais alta da lista. “Na média, o consumidor recolhe mais de 45% em impostos em cada produto ou serviço que adquire”. Outra estatística recente mostra que a carta tributária incidente sobre a renda, o consumo e patrimônio equivale a 180 dias de trabalho do brasileiro, acrescenta Frederico Faé. “Com este movimento, esperamos que o eleitor vote com mais consciência. E que os futuros governantes não se esqueçam do clamor dos contribuintes”, completa.
O evento será realizado neste sábado 25.09 simultaneamente em Bragança (praça Raul Leme) e Atibaia das 9h as 14h. Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP)
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