749 Edição 20.06.2014

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Braganรงa Paulista

Sexta

20 Junho 2014

Nยบ 749 - ano XII jornal@jornaldomeio.com.br

jornal do meio

11 4032-3919


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Para pensar

Jornal do Meio 749 Sexta 20 • Junho • 2014

A festa do

por Mons. Giovanni Baresse

Corpo de Cristo

Expediente Jornal do Meio Rua Santa Clara, 730 Centro - Bragança Pta. Tel/Fax: (11) 4032-3919 E-mail: jornal@jornaldomeio.com.br Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli Jornalista Responsável: Carlos Henrique Picarelli (MTB: 61.321/SP)

Escrevo esta reflexão às

origem como resposta à negação ou

tempo eterno de Deus (onde tudo

frutuosa e consciente para superar

vésperas da Festa de Cor-

imcompreensão da herança deixada

é presente). A missa não renova a

o risco da mera assistência ao culto.

pus Christi. Festa de antiga

pelo Senhor na celebração da Ceia

morte de Cristo, o seu sacrifício.

Já houve época que a celebração

tradição entre nós, trazida para

que precedeu sua prisão, tornou-se

Ele morreu uma vez por todas.

era mais dos ministros ordenados

nossa terra pelos colonizadores.

cada vez mais consciencia de que

De uma vez por todas ofertou o

do que da comunidade. Mas já faz

Vale a pena recordar suas origens.

a Igreja viveu e vive da Eucaristia,

sacrifício perfeito, como fala a car-

muito tempo que o Magistério da

Ela remonta ao século XIII. Movi-

como nos recordava o Papa João

ta aos Hebreus. Por isso mesmo a

Igreja redirecionou caminhos e

mentos negavam a presença real

Paulo II numa carta enviada para

celebração eucarística é sempre a

comportamentos. A celebração da

de Jesus no pão e no vinho. Essas

a Quinta Feira Santa, há alguns

celebração da Páscoa do Senhor.

Festa da Eucaristia é ocasião para

idéias desembocaram, depois, na

anos. A celebração da Eucaristia

Não é celebração da sua morte. È

testemunhar o que cremos e o que

nhamos recebido a herança da fé na

afirmação protestante da presença

é o centro e o ápice da vida cristã,

celebração da vida dada e repartida.

procuramos viver. Ao recebermos o

presença real de Jesus na Eucaristia!

simbólica. O Magistério da Igreja

ensina o Concílio Vaticano II. São

Isso nos deve fazer pensar sobre

Corpo e Sangue de Cristo mostra-

Isso nos conforta. Nos dá coragem.

sentiu necessidade de realçar a

Lucas no livro “Atos dos Apósto-

a maneira como participamos do

mos nosso desejo de que sua vida

E nos deve fazer testemunhar que

presença real do “Cristo todo” no

los” nos recorda que a primeira

nosso culto. Celebrar a Eucaristia

seja nossa vida, de que seus gestos

desejamos a mesma vida para

pão e no vinho consagrados. O papa

comunidade reunia-se no Dia do

não é um dever legal. É um dever de

sejam nossos gestos, suas palavras

todos. E que nos empenharemos

Urbano IV, na época o cônego Tiago

Senhor para celebrar o que Jesus

amor derivado do mandato de Jesus.

nossas palavras. Se a Eucaristia

para que todos tenham vida e vida

Pantaleão de Troyes, arcediago

disse que deveria ser feito em sua

Faz parte dos sinais que identificam

é necessariamente participação,

plena. Finalizo recordando que a

do Cabido Diocesano de Liège,

memória. Temos como afirmação

os discípulos do Senhor chamados

a sua festa deve manifestar esse

bela tradição dos tapetes pode ser

na Bélgica, recebeu o segredo das

de fé que a celebração da Eucaris-

a segui-lo e a formar comunidade.

desejo de compartilhar nossa vida

uma forma de testemunhar a fé no

visões da freira agostiniana Juliana

tia é o memorial da Redenção do

Penso que a dificuldade de muitos

com todos, sem exceção. E ao fazer

Cristo feito alimento e remédio. O

de Mont Cornillon, que afirmava ter

Senhor Jesus sobre todo o criado.

cristãos em relação à Eucaristia é a

nossa demonstração pública de fé,

trabalho solidário e alegre, que vai

tido visões de Cristo demonstrando

A categoria de memória (zikarón)

de não se preocuparem em conhe-

que se possa ver o empenho em

desde o armazenamento do que

desejo de que o mistério da Eucaristia

na Bíblia não quer dizer renovação.

cer mais e melhor o sentido desse

tornar este mundo melhor a partir

será usado até ao auxílio daqueles

fosse celebrado com destaque. A

Quer dizer tornar presente. Uma

sinal da Graça de Deus para nós.

de uma vida alicerçada na presença

que vão dando suporte, pode ser um

Festa foi aos poucos se estendendo

coisa é renovar (fazer de novo)

Há uma enorme responsabilidade

de Jesus Cristo em nossas vidas e

belo testemunho nestes nossos

para toda a Igreja. Se a festa teve

outra coisa é entrar na categoria do

em buscar uma participação ativa,

comunidades. Quem bom que te-

tempos tão carentes.

As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão. As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Bragança Jornal Diário.


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Jornal do Meio 749 Sexta 20 • Junho • 2014

por Shel Almeida

Para que as crianças se tornem adultos que saibam apreciar arte e cultura é preciso incentiva-las desde cedo. Assim como só terá o hábito da leitura quem for motivado a ler desde pequeno, só terá o hábito de frequentar espetáculos de teatro quem for motivado a assisti-los desde pequeno. Levar as crianças ao teatro é mais do que entretê-las por alguns minutos. É apresentar a elas um mundo de sonhos, transportá-las à outra dimensão. E é justamente sobre o mundo da imaginação que fala a peça “O Senhor dos Sonhos”, da Cia Truks - Teatro de Bonecos, que será apresentada pela primeira vez em Bragança Paulista neste sábado, dia 21 de junho, às 15h, na Casa de Cultura. De acordo com a companhia, a história discute o conflito em que se encontram as crianças ao terem que se equilibrar entre a fantasia e a realidade, mesclando momentos lúdicos e poéticos. Além disso, a peça também fala da importância da participação de pais e educadores na vida dos pequenos, como orientadores e condutores, usando de compreensão, carinho e cumplicidade. Para o produtor Joca Cunha, que está trazendo a peça à cidade, a intenção é oferecer aos pequenos bragantinos a oportunidade de ter contato com o teatro de bonecos e com a riqueza do conteúdo. “Essa peça me encantou pela qualidade, e o histórico do grupo me atraiu muito. Eles têm um repertório diferenciado e não se limitam a só fazerem bonecos. Estão sempre se aperfeiçoando e também dão cursos e oficinas sobre manipulação de bonecos. Já ganharam diversos prêmios na área, são especialistas em teatro de bonecos. As peças não têm nada de fantoche, cada boneco é manipulado por pelo menos três atores, que estão o tempo todo no palco. Eles estão ali, mas vestidos de preto. O interessante é que para as crianças, é como se eles não estivessem, porque elas se entregam totalmente à imaginação, pra elas são apenas os bonecos. E elas interagem, falam, perguntam, mas só com os bonecos, ignoram os atores. E no final, elas acham que conversaram com um menino.”, diverte-se.

entram na história, elas também esquecem dos atores e conversam com os bonecos. Isso só é possível por causa da qualidade do espetáculo, é tudo muito bem feito, tanto na parte técnica, de manipulação dos bonecos, quanto na artística, de interpretação. A condução da peça faz com que a crianças entrem no clima e esqueçam que estão no teatro”, fala Joca. Para ele, Bragança precisa formar público para espetáculos elaborados, oferecer cultura e arte de qualidade. “Tem público, sim, para esse tipo de espetáculo. O problema é que, para crianças, são poucos os espetáculos que são realmente de qualidade. E a criança precisa aprender a diferenciar, precisa ter acesso e frequentar peças de teatro para saber apreciar e escolher, saber dizer o que é bom e o que é ruim, o que tem qualidade e o que não tem. Isso é formar público”, fala. Como enfatiza Joca, é preciso, sim, dar opção às crianças, não apenas oferecer espetáculos, mas que sejam espetáculos que agreguem valor. É preciso formar público, mas um público crítico, e não apenas consumidor.

Teatro de Bonecos

A Cia. Truks – Teatro de Bonecos foi criada em 1990, e desde então apresenta seus espetáculos de repertório em teatros, escolas, instituições ou espaços alternativos de todo o Brasil, além de participar de mostras, festivais de teatro e teatro de animação em países do exterior. Paralelamente, ministra cursos e oficinas sobre técnicas de animação de bonecos, objetos e figuras, além de cursos sobre procedimentos dramatúrgicos para esta arte específica. Eventualmente atua na área publicitária, criando roteiros, bonecos e animações diversas para filmes e eventos afins. A Cia. Truks tornou-se bastante conhecida do público ao participar, em alguns casos, de forma pioneira, de programas de TV que “não somente consolidaram a imagem dos bonecos do grupo, manipulados totalmente à vista da plateia, como, sobretudo, dignificaram a arte do teatro de bonecos, ao mostrar, para grandes audiências, elaboradas formas O espetáculo “O Senhor dos Sonhos” conta deste trabalho, até então desconhecidas a história de Lucas, um velho e bem suce- no Brasil”. dido escritor, que relembra os tempos de A intenção de Joca é firmar uma parceria sua infância. época em que era um menino com a Cia Truks e trazer, sempre que criativo, engraçado, simpático e sonhador. possível um espetáculo do repertório deles para ser apre “Se não estava a navegar sentado em Bragança pelos sete mares, cere região. O próximo já tamente era por estar tem data marcada. O a pilotar alguma nave espetáculo “Zoo Ilógiespacial em planetas co” será apresentado longínquos. E, como no dia 20 de julho em sempre, atrasado para ir Serra Negra, durante o à escola ou esquecido de Festival de Inverno da suas lições e obrigações. Joca Cunha cidade. O espetáculo Lucas, assim, estará frente apresenta uma idéia a frente com a necessidade de ‘ajustar-se’ às regras sociais”, explica o aparentemente simples, mas de fundaprograma da peça. “E é a cumplicidade e mental importância para as crianças: o carinho que tinha com a mãe, que Lucas, estímulo ao processo criativo. A partir de já idoso, relembra com emoção. Foi desse simples objetos do cotidiano, desfilam afeto que nasceu a segurança para exercer pela cena mais de uma dezena de diversua arte de contar e escrever as histórias tidas e inusitadas criaturas animadas. que o consagrariam como escritor de “Meu desejo é ter vínculo com a Cia Truks sucesso pelo resto de sua vida”. A peça e criar uma continuidade de espetáculos explora a riqueza e sabedoria do universo em Bragança e na região. O repertório infantil, fazendo de Lucas um verdadeiro deles é grande e bem diferenciado. Quem ícone de todas as crianças, ao materializar sabe não conseguimos trazer uma das o anseio destas pela liberdade de viverem oficinas de manipulação de bonecos pra cá também?”, fala. os seus sonhos. “A peça fala do amigo invisível, que toda Serviço: criança tem, e do dilema dos pais em en“O Senhor dos Sonhos” tenderem esse universo infantil. E também remete muito à figura do avô, aquele senhor Cia Truks - Teatro de Bonecos que adora lembrar as histórias da infância Dia 21 de junho, às 15h para contar aos netos. É uma peça que Casa de Cultura preza muito o relacionamento entre pais Informações: 11 9 6381 - 3020 e filhos. E mesmo as crianças mais velhas www.truks.com.br

Joca quer criar um vínculo com a Cia Truks e trazes sempre um novo espetáculo à cidade.

Sonhos

A peça fala do amigo invisível, que toda criança tem, e do dilema dos pais em entenderem esse universo infantil

“O Senhor dos Sonhos” trata do universo da imaginação e é um espetáculo para crianças de todas as idades

Os bonecos encantam tanto as crianças que elas esquecem que os atores estão no palco.


antenado

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Machado pra burro Escritor vira alvo de debate em redes depois da divulgação de projeto para simplificar ‘O Alienista’

por FOLHAPRESS

Machado de Assis virou assunto nas redes sociais. O autor de “Dom Casmurro” esteve no centro de intensos debates depois que a coluna “Cidadona”, da Folha, revelou que a escritora Patrícia Secco lançará, em junho, uma versão simplificada de “O Alienista”, obra de Machado lançada em 1882. Secco coordena um projeto que visa “descomplicar” os clássicos para o leitor não acostumado a lê-los. Autorizada pelo Ministério da Cultura, ela captou cerca de R$ 1 milhão, via leis de incentivo, para a empreitada --além do conto de Machado, também adaptou”A Pata da Gazela”, de José de Alencar. Os dois terão juntos tiragens de 600 mil exemplares e serão distribuídos de graça pelo Instituto Brasil Leitor. No caso de “O Alienista”, a equipe de Secco suprimiu algumas vírgulas, deixou as frases mais diretas e trocou palavras (por exemplo, “filhos da nobreza” virou “filhos de nobres”; “reproche” virou “censura”). A notícia alvoroçou (ou seria melhor dizer “agitou”?) as redes sociais. Uma petição on-line com mais de 6.500 assinaturas contesta o endosso do Ministério da Cultura. “O foco do projeto é a doação de livros para pessoas que não tiveram oportunidade de estudar, constantemente excluídos do acesso à cultura”, diz Secco. “Trata-se de uma disputa entre o purismo e a democratização da leitura.” Adaptações de textos clássicos existem aos montes, mas a proposta de Secco dividiu escritores e acadêmicos. “Eu sou contrária”, diz Noemi Jaffe, escritora e doutora em literatura brasileira. “Quando você adapta uma obra para adequá-la a um novo gênero, como uma HQ, tudo bem. Mas, no caso de O Alienista’, o formato é o mesmo, mas a linguagem foi sequestrada. A literatura não é só conteúdo, é principalmente linguagem.” A escritora Ruth Rocha, embora já tenha adaptado para o público infantil obras do porte de “Odisseia” e “Ilíada”, considera Machado intocável. “Em Odisseia’ há muita aventura, as crianças gostam. Machado é muito profundo, não vejo como simplificar.” Professor de literatura da UFRGS, Luís Augusto Fischer é “cem por cento” a favor das adaptações. Ele mesmo já adaptou “O Alienista” para uma série da editora L&PM voltada a jovem leitores. “Essa grita me parece hipócrita, embora haja gente bem-intencionada. O lado hipócrita é de gente que talvez nem tenha lido muita coisa, mas que faz a pose de

guardiã de uma suposta excelência.”

3 escritores mastigam Machado de Assis

Compare nesta brincadeira trechos de clássicos do autor e as versões simplificadas criadas a pedido da reportagem. Brás Cubas na maior treta com Virgília. Um jovem de 17 anos bate uma papo quente com uma tiazinha de 30 na véspera do Natal. O sacana conselheiro Aires de olho em Rita. Você conhece esses personagens, mas não exatamente nestes termos. A pedido da Folha, Alexandre Vidal Porto, Joca Reiners Terron e Santiago Nazarian adaptaram para o “português” e os costumes do século 21 trechos de livros bem conhecidos do Bruxo do Cosme Velho.

Trecho original

Conto ‘A Missa do Galo’ “Nunca pude entender a conversação que tive com uma senhora, há muitos anos, contava eu dezessete, ela trinta. Era noite de Natal. Havendo ajustado com um vizinho irmos à missa do galo, preferi não dormir; combinei que eu iria acordá-lo à meia-noite. A casa em que eu estava hospedado era a do escrivão Meneses, que fora casado, em primeiras núpcias, com uma de minhas primas. A segunda mulher, Conceição, e a mãe desta acolheram-me bem, quando vim de Mangaratiba para o Rio de Janeiro, meses antes, a estudar preparatórios. Vivia tranqüilo, naquela casa assobradada da Rua do Senado, com os meus livros, poucas relações, alguns passeios. A família era pequena, o escrivão, a mulher, a sogra e duas escravas. Costumes velhos. Às dez horas da noite toda a gente estava nos quartos; às dez e meia a casa dormia. Nunca tinha ido ao teatro, e mais de uma vez, ouvindo dizer ao Meneses que ia ao teatro, pedi-lhe que me levasse consigo. Nessas ocasiões, a sogra fazia uma careta, e as escravas riam à socapa; ele não respondia, vestia-se, saía e só tornava na manhã seguinte. Mais tarde é que eu soube que o teatro era um eufemismo em ação. Meneses trazia amores com uma senhora, separada do marido, e dormia fora de casa uma vez por semana. Conceição padecera, a princípio, com a existência da comborça; mas afinal, resignara-se, acostumara-se, e acabou achando que era muito direito.”

Em breve! Inauguração da sede própria

Sérgio Antônio de Lima Corretor de imóveis - Creci: 109961

Rua Nicolino Nacaratti, 416 CX 01

PREÇOS SUJEITOS A ALTERAÇÕES SEM PRÉVIO AVISO - Reservamo-nos o direito de corrigir eventuais erros gráficos e de digitação.

Nova versão

Conto ‘A Missa do Galo’ por Santiago Nazarian *

“Nunca entendi o papo que tive com uma tiazinha há uma pá de tempo. Eu tinha uns dezessete, ela trinta. Era noite de Natal e tal. Tinha combinado com um bróder aí de ir à missa do galo; nem dormi nem nada. Combinei de colar no pico dele à meia noite. Eu tava morando na casa do Meneses, lá do cartório, que já foi casado com uma prima minha. A segunda mulher dele, a Conceição, e a mãe dela foram super parças me deixando ficar lá um tempo atrás, quando vim de Mangaratiba pro Rio pra fazer cursinho. Vivia de boa numa casa de dois andares da Rua do Senado com uns livros, dando uns rolês, poucos amigos, na real. A família era pequena. Tinha o Meneses, a mulher dele, a sogra, mas tinham duas empregadas. Gente das antigas, saca? Às dez da noite o povo já tava no quarto. Dormiam às dez e meia. O Meneses era desses que ia ao teatro. E como eu nunca tinha ido e tal, perguntava se podia ir junto. Nessas horas a sogra torcia o nariz e as empregadas rachavam o bico. Ele não respondia, se arrumava, saía e só voltava na manhã seguinte. Depois é que fui ver que “teatro” era modo de dizer. Meneses tinha uma amante, uma mulher separada, e dormia fora de casa uma vez por semana” Santiago nazarian é tradutor e autor de “Mastigando Humanos” (Record).

Trecho original

Livro ‘Memorial de Aires’ “Rita sorriu, deitando-me uns olhos de censura, e abanando a cabeça, como se me chamasse ‘peralta’. Logo ficou séria, porque a lembrança do marido fazia-a realmente triste. Meti o caso à bulha; ela, depois de aceitar uma ordem de idéias mais alegre, convidou-me a ver se a viúva Noronha casava comigo; apostava que não.”

Capítulo LVI O MOMENTO OPORTUNO “Mas, com a breca! quem me explicará a razão desta diferença? Um dia vimo-nos, tratamos o casamento, desfizemo-lo e separamo-nos, a frio, sem dor, porque não houvera paixão nenhuma; mordeu-me apenas algum despeito e nada mais. Correm anos, torno a vê-la, damos três ou quatro giros de valsa, e eis-nos a amar um ao outro com delírio. A beleza de Virgília chegara, é certo, a um alto grau de apuro, mas nós éramos substancialmente os mesmos, e eu, à minha parte, não me tornara mais bonito nem mais elegante. Quem me explicará a razão dessa diferença?”

Nova versão

Livro ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’ por Joca Reiners Terron * Capítulo 56 Muito da hora “Mais qui carai: quem vai contá qualqui foi a treta? Numa hora a gente tava verde no feici, fico, desfico, suave, sem barraco, já qui foi só balada; mais fiquei meio mordido #xatiado. A zuera já elvis daê cruzo a pirigueti traveiz, vamo nos rolezinho só nos love, beijinho nos ombro das cachorra. Virgilia tava da hora, muito gata pra carái. Mais nóis era nóis e eu tava na mesma bagaça. Quem qui vai contá qual foi a treta?” Joca reiners terron, 45, é escritor, autor do romance “A Tristeza Extraordinária do Leopardo-das-Neves” (Companhia das Letras), entre outros. Foto: Folhapress

Nova versão

Livro ‘Memorial de Aires’ por Alexandre Vidal Porto * “Rita sorriu, lançando-me um olhar de censura, e abanando a cabeça, como se me chamasse ‘sacana’. Logo ficou séria, porque a lembrança do marido a deixava mal. Eu levei tudo na brincadeira; assim que passou a temas mais alegres, perguntou se eu achava que a viúva Noronha casaria comigo; ela apostava que não.” Alexandre vidal porto é escritor e diplomata.

Trecho original

Livro ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’

Ilustração de Theo Lamar


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Reflexão e Práxis

Jornal do Meio 749 Sexta 20 • Junho • 2014

Vaias, jogos e política por pedro marcelo galasso

O início da Copa do Mundo, no Brasil, foi mar-

vale lembrar que a maioria das pessoas que estavam no

De forma geral, as vaias refletem uma dificuldade de

cado por algumas atitudes dos torcedores que

estádio compõe uma parcela diminuta da população

identificarmos quais são os critérios da participação po-

de forma deliberada vaiaram, algo normal na

brasileira.

lítica, quais os limites de nossas ações e quais os papéis

vida pública, e ofenderam a presidente Dilma em vários

É claro que em teoria temos o direito constitucional de

que cabem ao poder público, dentre eles a perspectiva

momentos do jogo.

manifestarmos nossas opiniões e nossas críticas, ainda

de incentivar a formação de pessoas preparadas para

Podemos fazer algumas leituras sobre o que ocorreu,

que a classe política creia que não, mas assim como

o entendimento do universo político.

mas não me parece coincidência que os atos mais ofen-

as ações violentas por si só devem ser questionadas, a

Em um país que ainda está aprendendo o que é ser

sivos tenham tido lugar em São Paulo que, por sua vez,

mesma reflexão é necessária quando nos lembramos

democrático, e sejamos francos estamos bem distante

representa o principal opositor ao governo petista e

sobre o que ocorreu em São Paulo e no Nordeste.

disso, as vaias, as ofensas e as críticas sem sentido

aquele que se vê como o mais prejudicado pelas ações

Talvez as vaias e as ofensas reflitam o quão desprepa-

direcionadas a presidente e seu partido chegam a ser

do governo, além do fato da política paulista ser domi-

rados para a prática democrática nós estamos, pois o

infantis. É claro que uma grande parte da responsabi-

nada pelos tucanos. Portanto, é lícito imaginar que as

comportamento democrático exige uma maturidade

lidade sobe nossos problemas é culpa dos desmandos

vaias e as ofensas tenham um forte caráter político e

de participação e de escolha que não existe no Brasil.

e enganos do governo. Por exemplo, a isenção fiscal

que tenha ocorrido na semana da divulgação dos dados

Não há incentivo para a participação política consciente

garantida à Fifa é mais que vergonhosa e injusta com

sobre as eleições estaduais que indicam a reeleição do

e pautada em critérios claros, expressos no compor-

todos nós, mas acusar o governo federal pelo mau uso

governador tucano o mesmo que é criticado pela “contun-

tamento dos eleitores e nas posturas dos partidos. É

das verbas estaduais e municipais é absurdo.

dência” com a qual trata as questões sociais brasileiras,

possível dizer, sem exagero, que os partidos políticos

E antes que algum oportunista use as reflexões da co-

reeditando as práticas do presidente Washington Luís,

alimentam este mau comportamento não reflexivo e,

luna para críticas infundadas, não milito em nenhum

o último representante da famosa e vexatória Política

por vezes, raivoso sobre o que é a participação política.

dos partidos políticos citados na coluna. E o cuidado

do Café com Leite.

E é claro que o Estado não se preocupa e nem estimula

em deixar claro este ponto se faz necessário, pois de

Para outras pessoas, as vaias e as ofensas são resultado

esta tomada de consciência porque é muito mais fácil

oportunistas e críticos infundados, Bragança Paulista

a má aplicação do dinheiro público nas ações educacio-

reprimir de forma violente e excessiva as manifestações

é uma cidade mais que pródiga.

nais e a falta de respeito com a maior representante do

e as outras formas de participação política. Vale lembrar

Poder Executivo eleita, lembremos, de forma democrá-

que esta postura do Estado agrada as classes políticas

Pedro Marcelo Galasso – cientista político, professor

tica, são uma consequência de uma política deficiente e

e as classes mais abastadas que vêem as reivindicações

e escritor.

equivocada neste e em várias outras áreas. Entretanto,

como algo incômodo e desnecessário.

p.m.galasso@gmail.com.br

Casos e Causos

Juro que é verdade por Marcus Valle

JURO QUE É VERDADE CLIX

Não aguentei e me identifiquei dizendo: _ PUTA

saros, já que vários possíveis fregueses pediam o

Certa vez eu estava na sauna a vapor de um

CARA FOFOQUEIRO E PERIGOSO.

produto (por telefone e pessoalmente)....e não

clube da cidade, quando entraram várias

Todo mundo gargalhava na sauna e ele tentou consertar:

tinha. Comunicaram o dono, que prontamente

pessoas, dentre as quais um senhor que participou

EU SABIA QUE ERA VOCÊ...EU TAVA BRINCANDO

mandou comprar dezenas de gaiolas, e as colocou na loja. Estranhamente....o investimento

da política em Bragança. O vapor estava muito forte, não dava para enxergar ninguém na sauna,

JURO QUE É VERDADE CLX

não deu resultado, pois a procura pelas gaiolas

e eu só o reconheci quando ele abriu a porta (e

Outro dia, numa roda de homens mais maduros,

se extinguiu. Só depois é que descobriram que

pela voz), e ele nem me viu na parte dos fundos.

preponderava o assunto: MULHERES.

O Zé Chade e outros amigos do comerciante, se

O cara começou falar de um assunto extrema-

Os interlocutores, na maioria, eram extremamente

divertiam dando telefonemas e mandando gente

mente perigoso e politicamente incorreto, ou seja,

críticos e exigentes, realçando pequenos, médios

passar na loja pra comprar gaiolas.

citava várias pessoas conhecidas , como gays. Eu

e enormes defeitos em várias mulheres lembradas.

estava vendo que aquela conversa ia acabar em

Após ouvir a bateria de rigorosos comentários,

JURO QUE É VERDADE CLXII

confusão, porque logo ele iria comentar sobre o

Daphnis, até então calado, disparou: SE ESSAS

Anos 60. No Cine Bragança estava em cartaz o

parente de alguém que estava na sauna. Resolvi

FALAS FOSSEM GRAVADAS E MOSTRADAS A

filme: OS PÁSSAROS de ALFRED HITCHCOCK.

brincar, mudei a voz e perguntei a ele:

UM ESTRANHO,....ELE IRIA ACHAR QUE SÃO

É um conhecido filme de suspense, que narra o

- O SR. ESTÁ FALANDO SOBRE VÁRIOS GAYS

DITAS POR PESSOAS MAIS BONITAS QUE O

ataque das aves que habitavam uma ilha turística.

DA CIDADE.

TOM CRUISE E O BRAD PITT, NO AUGE DA

O cinema tinha a parte de baixo e uma em cima.

...E COMO O SR. CONHECE A TURMA DA POLÍTI-

FORMA E IDADE.

Um grande gozador consegue entrar no cinema com um pato vivo (era inverno e ele passou com

CA EU TENHO UMA CURIOSIDADE.....AQUELE VEREADOR, O MARCUS VALLE... É GAY?

JURO QUE É VERDADE CLXI

o bicho enrolado num capote) e foi para parte

Ele fez uma pequena pausa, e disse....OLHA ...O

Uma pessoa bem conhecida, montou um loja de

de cima do cinema. Na hora que o filme estava

MARCUS VALLE É CASADO,TEM FILHO....E EU

produtos agrícolas numa avenida comercial da ci-

mais emocionante, com as aves atacando os

NUNCA OUVI FALAR NADA DELE... Parou, fez

dade. Logo na primeira semana de funcionamento,

humanos o LALAI soltou o pato lá de cima do

outra pausa e, finalizou; SE BEM QUE EU NÃO

os funcionários constataram que o estabelecimento

cinema. Resultado: tumulto e filme interrom-

PONHO A MÃO NO FOGO.

comercial se ressentia da falta de gaiolas de pás-

pido. Essa é histórica.


antenado

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Mary Poppins

vira fashionista aos 80 anos

Estilista Ronaldo Fraga dá visual mestiço à personagem na nova edição do clássico infantil pela Cosac Naify - Obra traz 54 ilustrações em preto e branco e tradução atualizada assinada por Joca Reiners Terron por PEDRO DINIZ/FOLHA PRESS

é um lixo se comparado à obra original.

personagem emblemático da literatura

Então, tive total liberdade para criar um

infantojuvenil britânica, de volta à ribalta

universo abstrato baseado na minha es-

no seu aniversário de 80 anos.

tética”, diz Fraga.

A babá encantada concebida em 1934 pela australiana P.L. Travers --pseudônimo de

Defesa da imaginação

Helen Lyndon Goff [1889-1996]-- e que

Essas ilustrações estão em harmonia com

chegou ao sabor do vento para mudar a

o trabalho de Joca Reiners Terron, que, na

vida de duas crianças aprisionadas em

nova tradução, acrescentou travessões e

convenções do mundo adulto, recebeu

diálogos mais ágeis e palatáveis para leitores

tratamento luxuoso da editora Cosac Naify.

mais jovens, como disse.

Além do texto integral, a obra vem acompa-

“Ao lado de Alice no País das Maravilhas’,

nhada de 54 ilustrações em preto e branco

Peter Pan’ e outras histórias infantis de cunho

assinadas pelo estilista Ronaldo Fraga. Em

moral, Poppins é o patinho feio por ter um

uma edição especial, virá embalada em uma

caráter ambíguo de realidade e sonho. Não

bolsa com alças dobráveis.

há uma Terra do Nunca como na história de

“Eram para ser 14 desenhos, mas me empol-

Peter Pan. É a força do personagem duro e

guei tanto que acabei criando muito mais”,

de um evidente humor inglês que fascina o

afirma o designer mineiro, que transformou

leitor”, diz Terron.

a imagem da babá.

Ele analisa o lançamento dessa obra como

“Criei um rosto mestiço, que pode ser brasi-

um esforço da editora para recolocar o que

leiro, africano ou de origem árabe. E como o

chama de “defesa da imaginação” dentro

texto é bastante figurativo, traduzida para os

da literatura infantil.

dias de hoje, Poppins seria uma fashionista.

“O livro trata de aspectos infantis sem

Olhando de perto, com todas as trocas de

aprisionar a imaginação em uma realidade

roupa descritas na história, ela, sem dúvida

paralela. Poppins mostra para as crianças

é enlouquecida por moda”, conta.

um mundo além da casa em que moram e

Antes de ir para o papel, cada imagem

as fazem compreender os diversos planos

foi costurada em tecido por uma equipe

da realidade sem ser banal.”

de bordadeiras de Itabira, no interior de Minas Gerais, para depois ser fotografada.

Mary poppins

Já as sobras dos fios que compõem os

Autor: P.L. Travers

desenhos não foram cortadas para que as

Tradução: Joca Reiners Terron

imagens dessem a impressão de flutuar

Editora: Cosac Naify

como Mary Poppins.

Quanto: R$ 39,90 ou R$ 79 (edição especial)

Que só tem uma interpretação Instâncias da psique (Psican.)

© Revistas COQUETEL

Criss Angel, ilusionista dos EUA

Festa dançante Transatlântico naufragado na Itália em janeiro de 2012 Cenário básico da violência conjugal

Punição por quebra de contrato Batalha da Guerra do Paraguai (Hist.)

Falta de cuidado Materialismo (?), base do marxismo Acessório do traje da dançarina do ventre Medida de adoçantes Pedido de ajuda

Coreografia de torcidas (pl.) Descanso, em inglês A arte préhistórica Código da pilha pequena

Moeda da Guiana Francesa El. comp.: novo Sobrenome de Fidel

Frondosa árvore europeia

Alvo de partilha no inventário Estado da Arena Castelão (sigla)

Meu, em francês Reivindica a autonomia dos bascos

Movimento artístico de Le Corbusier Técnica de meditação oriental (?) Olímpica: a Seleção uruguaia (fut.)

Causa da Ficar sob fotofobia a influênMais ou cia de almenos guém (fig.) 500, em romanos Gadolínio (símbolo)

O conceito fundamental da Ética Primata africano Dedicada a Deus

BANCO

A 13a letra grega Número (abrev.)

Hoje, em italiano "Getúlio", em FGV

32

Solução C O S T A C O N C O R D I A

brasileiras e trará “Mary Poppins”,

PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS

www.coquetel.com.br

B I A T I C O L A R E S O A R O O L I M O M O E E B I TA O O G G R A D

Robert Stevenson, lançado em 1964], que

U M N C U R I A L E V T O T A C O R R O E U E S P Z C E U R I S L E S T O R M U R E N I N S A G

próxima quinta-feira (8) nas livrarias

I D U E G S O N E S R U P C E R L E G C O

“Conhecia apenas o filme homônimo [de

2/ni. 3/mon — ruz. 4/oggi — rest. 6/lêmure. 7/purismo.

O vento leste soprará a partir da


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Cerâmica vermelha ou branca? Informe Publicitário por Giuliano Leite

Complementando a matéria publicada há 15

A cor em si nada determina, é o Processo Industrial

tudo isso, é menos poroso, absorve menos água e

dias, gostaria de voltar ao assunto. Cerâmi-

que vai determinar a Qualidade do produto, o mais

tem maior resistência. São termos que descrevem as características dos revestimentos e suas aplicações.

cas podem ter bases vermelhas e brancas e

importante é optar em adquirir revestimentos cerâ-

quando bem escolhidos e, lógico, bem assentados,

micos certificados e adequados para o uso pretendi-

a cerâmica durará muito tempo. Uma tendência é

do. O Orgão Certificador é quem fiscaliza o produto

O que significa o PEI?

usar o mesmo material em todos os ambientes, mas

constantemente, e essa é a garantia do consumidor.

O PEI (Porcelain Enamel Institute) é uma unidade

com diferentes acabamentos – acetinado em quartos e salas e natural nos outros espaços. Tenho notado

Cerâmica ou porcelanato

de medida que revela a resistência ao desgaste nas peças esmaltadas e vai de 0 a 5. “Quanto maior

que as escolhas de meus clientes tem sido por super-

A cerâmica é produzida com argila. Já o porcelanato

o tráfego, maior deve ser o PEI”. Coeficiente de

fícies mais claras, que iluminam e são mais fáceis de

leva feldspato e quartzo prensados, se assemelhando

atrito é um indicador da resistência à derrapagem

combinar ao substituir os móveis, mas as colorações

a uma pedra O porcelanato é queimado a tempera-

(de 0 a 1). Porosidade indica o quanto à peça

escuras também tem se espaço e principalmente as

turas mais altas e prensado com maior carga. Por

absorve de água.

que imitam a textura amadeirada. Entre outros modelos estão texturas que tecidos, pedras e azulejos. Mas e quanto a sua resistência? Atualmente os processos cerâmicos para fabricação de placas cerâmicas para revestimento não apresentam discriminação quanto às características, pois podem ser feitas de argila pura (a Vermelha) ou misturada a outros minerais (a Branca). Essa última permite ao fabricante um controle maior sobre o processo de produção e costuma ser bem mais cara do que a vermelha, porém se fabricadas dentro de critérios, têm a mesma qualidade final. Uma boa queima se obtém com tempo e temperatura independente da massa ser branca ou vermelha, pois se usarmos alta tecnologia com massa preparada por Via Seca (a Vermelha) e pouca tecnologia com massa preparada por Via Úmida (a Branca), certamente o produto obtido com a massa vermelha será muito melhor que o obtido com a massa branca. Vimos que depois de escolhidas, as argilas, é preciso um processo adequado de tratamento, respeito às Normas Técnicas e procedimentos utilizados.


Saúde

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Fiocruz, Embrapa e Inpe

lideram pesquisa no país

Universidade de Leiden lança ranking de instituições de pesquisa do Brasil. Impacto dos trabalhos e nível de colaboração internacional são pontos mais importantes da metodologia holandesa

por SABINE RIGHETTI e FERNANDO TADEU MORAES/FOLHA PRESS

A Fiocruz é o melhor instituto de pesquisa do Brasil em termos de qualidade de produção científica, e o A.C.Camargo Cancer Center é o melhor hospital. As informações são da Universidade de Leiden (Holanda). Pela primeira vez, cientistas da instituição usaram uma metodologia similar a de seus rankings universitários para um levantamento de produção científica. As instituições brasileiras foram as primeiras contempladas. Entre as universidades, a USP é a primeira colocada. O principal indicador dos holandeses é o impacto da pesquisa acadêmica produzida em cada instituição, ou seja, o quanto essa pesquisa é citada por trabalhos de outros cientistas. Ganha mais pontos a instituição que tiver mais produção científica com mais impacto (entre os trabalhos 10% mais citados). Outros critérios, como quantidade de trabalhos em colaboração internacional, também entram na conta. A metodologia de Leiden, como ficou conhecida, já vinha sendo aplicada desde 2011 para classificar universidades internacionalmente. No último ranking internacional de universidades feito por eles, a USP está em 678º lugar no mundo. Os primeiros lugares são todos de escolas dos EUA. “Agora resolvemos usar a metodologia do ranking internacional de universidades para aplicar em instituições de pesquisa”, disse à Folha Everard Noyons, cientista e coordenador do trabalho. Paulo Gadelha, presidente da Fiocruz, diz que a produção de conhecimento científico é o cerne da instituição, mas ressalta que o projeto da fundação é marcado por uma visão da pesquisa para resolver problemas práticos. A proposta de ranquear a produção científica especificamente do Brasil, diz Noyons, veio da organização do EBBC (Encontro Brasileiro de Bibliometria e Cienciometria --área que estuda dados de produção científica). Acabou virando uma espécie de “exercício acadêmico” e os resultados foram apresentados no congresso da EBBC, que ocorreu há duas semanas na UFPE (Universidade Federal de Pernambuco). Osresultadosestãodisponíveisnositedotrabalho (http://brr.cwts.nl/ranking), em inglês, onde é possível classificar, por exemplo, universidades brasileiras, institutos de pesquisa e hospitais. A ideia do grupo, diz o especialista, é, a partir desse exercício no Brasil, trabalhar para incluir institutos de pesquisa no próximo ranking internacional do Leiden. Mas os rankings são medidores confiáveis da qualidade das instituições? “Nós não somos a favor de rankings. Mas eles existem e nós não podemos ficar de fora criticando”, diz Noyons. Gilberto Câmara, ex-diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) diz que os institutos não podem ser julgados apenas pela sua produção científica. “Não podemos reduzir instituições como a Embrapa e o Inpe à produção de artigos”. Segundo ele, muitos projetos do Inpe, como os ligados ao monitoramento da Amazônia, dificilmente geram artigos, mas são fundamentais para a instituição.

Instituições campeãs investem na meritocracia entre cientistas

No Impa (Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada), nas franjas da floresta da Tijuca, no Rio, a valorização do mérito é o principal fator para o sucesso da instituição, diz o seu diretor, César Camacho. Pequeno --tem pouco mais de 50 pesquisadores-- e extremamente seletivo, o Impa é, proporcionalmente, o instituto de pesquisa com mais publicações de impacto no país. Quase 13% dos artigos do instituto entre 2003 e 2012 são de alto impacto. “Procuramos permanentemente pesquisadores muito qualificados dentro de uma política de mérito e da busca pelo melhor que existe no mundo”, diz Camacho. Em 2013, um dos seus pesquisadores, Fernando Codá, junto com colega português, conseguiu provar a conjectura de Willmore, um dos problemas mais importantes em aberto da geometria diferencial, que estabelece qual seria a melhor forma geométrica para uma rosca (ou toro, na linguagem matemática). A conjectura tem aplicações em questões da relatividade geral e da biologia celular. Na Fiocruz, a primeira colocada em números absolutos, o destaque são os mecanismos internos de fomento à pesquisa, fundos com recursos da própria Fiocruz disputados pelos pesquisadores.

“São estimuladores da excelência e de uma competição saudável entre os pesquisadores”, explica Paulo Gadelha, presidente da Fiocruz, que destaca a “relação simbiótica” entre ensino e pesquisa como um dos pontos fortes da instituição. Na fundação são executados atualmente mais de mil projetos, relacionados sobretudo ao controle de doenças como a Aids e a doença de Chagas, além de outros temas ligados à saúde coletiva. A Fiocruz participou recentemente de estudo sobre combinação de antirretrovirais ministrados a recém-nascidos para evitar a transmissão do HIV da mãe para o filho. O resultado da pesquisa alterou o padrão de tratamento da doença em todo o mundo e foi incorporada aos manuais da Organização Mundial da Saúde. (FTM)

Universidades concentram os estudos na área da saúde no Brasil

A maior parte da pesquisa científica na área da saúde no Brasil não está em hospitais, mas em universidades e em institutos de pesquisa. De acordo com a avaliação feita pelos cientistas da Universidade de Leiden (Holanda) sobre a produção científica brasileira, USP, UFMG e Unicamp lideram as pesquisas na área médica no país.

O primeiro hospital a aparecer na lista brasileira é o A.C. Camargo, em 15º lugar dentre todas as instituições que fazem pesquisa na área médica. Na frente dele há 13 universidades e a Fiocruz. “No Brasil os hospitais realmente não têm tradição de fazer pesquisa porque é um custo a mais”, avalia Vilma Regina Martins, cientista e diretora de Pesquisa do A.C.Camargo Cancer Center. No A.C.Camargo há 150 pesquisadores envolvidos nas atividades de pesquisa, que consumiram R$ 23,5 milhões em 2013. A maior parte do dinheiro, diz Martins, vem de agências de financiamento à ciência nacionais e internacionais. Cabe ao hospital pagar o salário dos pesquisadores e de outros profissionais, como técnicos de laboratório. “Boa parte dos médicos também está envolvida de alguma maneira com as atividades de pesquisa”, diz. No ano passado, os cientistas do hospital publicaram 203 artigos acadêmicos em revistas científicas. Hoje, o A.C. Camargo tem um banco com cerca de 50 mil amostras de tumores, com dados dos pacientes e do tratamento realizado. No ranking de hospitais com produção científica há quatro hospitais atrás do A.C.Camargo: três deles ficam em São Paulo e um no Rio (veja a lista no infográfico). Segundo o ranking, nenhuma outra região do país tem hospitais fazendo pesquisa científica de impacto.

O segundo colocado, o Inca (Instituto Nacional de Câncer), também tem foco no estudos dos tumores. Nos demais, as linhas de pesquisa são mais variadas. No hospital Albert Einstein, uma das pupilas é a área de neurologia e pesquisa do cérebro. (SR) EUA devem buscar corte de 30% em emissões de energia Se confirmada, regra será a mais relevante do país para combater aquecimento global das agências de notícias A Agência de Proteção Ambiental dos EUA deve liberar nesta segunda uma proposta para cortar em 30%, até 2030, as emissões de carbono nas instalações de geração de energia do país, em comparação com níveis de 2005. Se confirmadas, as regras propostas serão as ações mais fortes já tomadas pelo governo americano para combater as mudanças climáticas. As mudanças poderiam provocar uma transformação na geração de energia nos EUA, que têm muitas usinas a carvão, consideradas as grandes vilãs nas emissões de gases de efeito estufa Embora o projeto ainda precise ser confirmado, ambientalistas comemoraram a decisão. Especialistas, no entanto, alertam para uma possível “guerra” entre Estados com usinas a carvão e a administração federal. Em seu primeiro mandato, Obama não conseguiu passar uma lei sobre aquecimento global no Congresso.


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veículos

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Geração 90 mil Segmento de luxo segue no sentido contrário à crise enfrentada por modelos nacionais mais baratos por RODRIGO MORA/FOLHA PRESS

Recorrentes planos de demissões voluntárias, suspensões temporárias de contrato (os chamados layoffs) e a queda de 18% na produção nacional de veículos entre janeiro e maio (sobre mesmo período de 2013) evidenciam a crise enfrentada por fabricantes como Volkswagen, General Motors e PSA Peugeot Citroën. Segundo previsões da Anfavea (associação nacional das fabricantes de veículos), o setor deve manter o mesmo patamar de 3,6 milhões de unidades comercializadas em 2013 --e a provável estagnação já é vista com otimismo pela entidade. Na contramão, o mercado de luxo, delineado por modelos com preços a partir dos R$ 90 mil, cresceu cerca de 6% no ano, segundo dados da Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores (Abeifa). Um dos fatores apontados por empresários do setor é a ascensão financeira do brasileiro. Outro elemento é linha de produtos das marcas, cada vez mais ampla. Há três anos, nenhum consumidor com cerca de R$ 90 mil na conta bancária imaginaria ficar indeciso entre um Audi, um Toyota ou um Fiat. Essa inusitada combinação, que reuniu numa mesma disputa marcas generalistas e uma de luxo, foi possível graças a fenômenos até então incompatíveis com a realidade automotiva: a Fiat comprar a Chrysler, a Audi conceber um sedã compacto e a Toyota cobrar R$ 92,9 mil por um Corolla. Como efeito, modelos com caraterísticas dinâmicas e carrocerias diferentes Fiat Freemont, Audi A3 Sedan e Toyota Corolla viram rivais. Diversidade caracteriza segmento de luxo Em ascensão, acesso ao universo premium tem médios completos, compactos básicos, picapes, SUVs e hatches - Audi A3 Sedan, Toyota Corolla Altis e Fiat Freemont Precision prometem dividir quem busca proposta familiar. Distantes sob o ponto de vista da engenharia, Fiat Freemont Emotion, Audi A3 Sedan e Toyota Corolla Altis aproximam-se quando o consumidor procura por um veículo familiar. E é no banco traseiro que começa a escolha: o A3 Sedan praticamente impede uma acomodação confortável de uma terceira pessoa por causa do túnel central elevado, uma incoerência com a modernidade proposta pela plataforma modular MQB. Sem o “obstáculo”, Corolla e Freemont são

indiscutivelmente superiores nesse quesito. Para sorte do A3 Sedan, há tempos as famílias estão menos numerosas. Tendo apenas dois filhos para levar no assento traseiro, resta ao alemão a tarefa de conquistar pela dirigibilidade --qualidade abundante nele, mais escassa nos rivais. O motor 1.4 turbo pode afastar quem acredita que tamanho é documento, mas um breve test-drive já basta para constatar que bom desempenho e o baixo consumo de combustível podem se encontrar no mesmo carro. O crossover da Fiat melhorou significativamente ao trocar o antigo câmbio automático de quatro marchas por uma caixa de seis velocidades. Porém, o motor 2.4 ainda sofre para embalar os 1.815 kg do modelo. Melhor abdicar do prazer ao volante e aproveitar a amplitude interna, as criativas soluções de espaço (como o porta-objetos instalado sob o banco do passageiro da frente) e o sistema de navegação de fácil manuseio.

Foto: Davi Ribeiro/Folhapress

Audi A3 Sedan Foto: Davi Ribeiro/Folhapress

Coluna do meio Quanto ao Corolla, não é só no tamanho do porta-malas e no espaço que o japonês se encaixa entre A3 Sedan e Freemont. Mais ágil que o Fiat, o Toyota não acompanha o Audi. Embora seja 32 cv mais potente, carrega 480 kg a mais. Porém, ainda que tivesse os mesmos números de desempenho, continuaria devendo uma direção menos anestesiada e um câmbio de trocas mais rápidas e precisas, além de um volante corretamente alinhado.

Couro, esp ou xenon? Um dos principais balizadores do preço, a lista de equipamentos pode ser decisiva. Não só em relação à quantidade, mas também à prioridade que se dá a cada item. O A3 Sedan é extremista: abre mão de obviedades como bancos em couro, GPS e bluetooth, mas mantém o pedigree premium com faróis de xenônio, sistema Start-Stop e equipamento de som mais refinado. Já o Freemont se defende com ar-condicionado digital de duas zonas e um dos volantes multifuncionais mais completos da categoria. O Corolla traz sete airbags, ajustes elétricos para o banco do motorista e couro, mas negligencia a segurança ao deixar de lado controle de estabilidade (ESP). Em resumo: por R$ 90 mil, não se pode pode ter tudo.

Fiat Freemont Emotion Foto: Davi Ribeiro/Folhapress

Toyota Corolla Altis


veículos eículos

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Porsche Macan Porsche espera que Macan seja seu modelo mais vendido no país por RODRIGO LARA/FOLHA PRESS

O Porsche Macan chega ao Brasil com a missão de ser o modelo mais vendido da marca, pretensão que pode esbarrar no preço do carro. A versão S custa R$ 399 mil, sendo mais cara que a V6 (de entrada) de seu “irmão” maior, o Cayenne (R$ 349 mil). De acordo com Marcel Visconde, presidente da Stuttgart Sportcar, importadora oficial da marca alemã no país, os utilitários esportivos de luxo não deverão disputar o mesmo tipo de cliente. “O Macan tem potencial para atingir um público mais amplo. A decisão de compra é motivada pelas características de cada modelo, e não por uma eventual comparação entre eles”, afirma. Em um teste de 100 quilômetros ao volante de um Macan S, foi possível notar que o modelo tem dirigibilidade muito próxima à de um hatch médio esportivo, apesar de sua carroceria de utilitário. O porte avantajado é minimizado pelo teto descendente na traseira. A versão avaliada conta com um motor 3.0 V6 de 340 cv e 46 kgfm de torque. O propulsor torna o modelo ágil e faz com que ele ganhe velocidade facilmente. O trajeto do teste não permitiu avaliar o comportamento do Macan em curvas sinuosas. Mas é de se esperar que ele não faça feio, em virtude da suspensão firme e do sistema que controla o torque nas rodas que estão do “lado de dentro” na curva, o que ajuda a manter a trajetória.

Tradições

O acabamento interno mantém a boa impressão deixada pelo exterior. Ainda que fuja do que os puristas consideram ser um autêntico Porsche (como o 911 e o Boxster, por exemplo), o SUV incorpora algumas tradições da marca, como o contato da chave colocado do lado esquerdo do vo-

lante e o conta-giros no centro do painel. Os revestimentos da cabine são de ótima qualidade, e os bancos dianteiros apoiam bem o corpo. O espaço no assento traseiro, como esperado, é suficiente apenas para as pernas e um tanto apertado verticalmente. Aqueles que quiserem se sentir em um esportivo “de raiz” podem regular o banco na posição mais baixa possível, e ainda assim não terão a visibilidade comprometida. No Brasil, tanto a versão S quanto a Turbo são equipadas com a suspensão pneumática PASM, que garante um rodar confortável em pisos menos amistosos, mas que permite ao carro manter-se estável em rodovias bem pavimentadas. Resta saber se o Macan corresponderá às expectativas de venda da Porsche, que planeja vender entre 400 e 450 unidades até o fim do ano. “As pessoas estão observando os rumos que a economia pode tomar, mas há potencial para que o mercado volte a crescer”, acredita Visconde. Foto: Divulgação

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