Braganรงa Paulista
Sexta 25 Julho 2014
Nยบ 754 - ano XIII jornal@jornaldomeio.com.br
jornal do meio
11 4032-3919
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Para pensar
Jornal do Meio 754 Sexta 25 • Julho • 2014
Gaza, malaysia airlines
e outras faces da dor! por Mons. Giovanni Baresse
Expediente Jornal do Meio Rua Santa Clara, 730 Centro - Bragança Pta. Tel/Fax: (11) 4032-3919 E-mail: jornal@jornaldomeio.com.br Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli Jornalista Responsável: Carlos Henrique Picarelli (MTB: 61.321/SP)
Os fatos recentes do conflito
discriminação, passa dificuldades.
Sua presença se faz por dentro do
de vingança e de desforra sempre
Israel e Hamas na faixa de
Os judeus, lendo a Torá, recor-
coração de cada um. A segunda: a
nos acompanha. Os apelos para
Gaza, a derrubada do avião
dam as maravilhas operadas por
colheita não se realiza no tempo
que se faça justiça estão sempre
da Malaysia Airlines, o homem
Deus na história do seu povo e se
presente. Chegará o momento
no vozerio de quem foi atingido. O
deixado a morrer bem diante de
perguntam se Deus perdeu seu
para isso. Se quisermos, agora,
desejo de justiça e ressarcimento
um hospital e centenas de outros
poder ou não se interessa mais.
eliminar o mal, eliminaremos
é justo. Só que o caminho não é
acontecimentos que envolvem
Não era a hora de castigar quem
também o Bem. Quem de nós é
da desforra. Aqui reside o grande
mortes nos deixam, certamente,
oprime? O livro mostra que Deus
totalmente bom? Ou totalmente
desafio para quem crê em Jesus
cada vez mais perplexos. Não te-
não perdeu seu poder. Ele tem
mau? A ação de Deus se faz pelo
Cristo: como não pagar o mal com
nho dúvidas que, muitas vezes, se
um jeito diferente de agir. Ele
anúncio continuado do Evangelho
o mal? Como pagar com o bem a
escuta a pergunta da razão desses
ama a todos, justos e maus. E a
e pela ação concreta daqueles que
maldade recebida? Humanamente
até o fim. A dimensão comuni-
fatos. Também o porquê. Parece
forma de manifestar sua justiça
se dizem evangélicos (todos os
falando parece impossível. A res-
tária é fundamental para que,
que o Deus Pai de bondade que
é agir amando para que os maus
que creem no Evangelho). Diante
posta dada por Jesus na cruz nos
na fraqueza pessoal, encontre-
conhecemos e em quem acredi-
possam se converter. Na mesma
da maldade qual tem sido a ação
parece, a nós pobres mortais, ina-
mos ombros que nos sustentem
tamos está custando demais a
linha caminha a reflexão de Jesus
efetiva dos cristãos? Por que
tingível. No entanto, se negarmos
quando desejamos esquecer os
intervir. Aliás, essa é uma pergunta
quando conta a parábola do joio
campeiam as guerras, os ataques
que é possível fazer o que Jesus
caminhos da fé para enveredar
sempre presente. Por que Deus
e do trigo. Os lavradores querem
terroristas, os assassinatos, a
fez, ele deixa de ser para nós o
nos caminhos da desforra, ca-
não entra e não bota a casa em
que o patrão autorize uma limpeza
corrupção, a falta de humanidade
modelo a seguir. É possível dar
minho que nos parece mais que
ordem? Por que não castiga os
geral no campo. Perceberam que
enfim? Lembramos outra palavra
resposta saneadora à maldade?
justo. Sem conversão pessoal e
maus e não protege os bons de
no meio do trigo havia a erva ruim.
de Jesus quando nos diz que toda
Temos que responder que sim.
sem vida comunitária, que nos
maneira mais efetiva. Afinal, onde
O dono da plantação os convida
maldade nasce no coração. Deus,
Como fazer isso? Penso que o
ajude a não deixar fenecer o fogo
está o Reino pelo qual Jesus deu
a saber esperar. Devem esperar
na sua infinita misericórdia, não
caminho se abre na dimensão
da fé, não é possível acreditar
a sua vida? O Bem já não deveria
o tempo da colheita. Aí será fácil
quer aniquilar os que fazem o
individual e comunitária. Cada
que o Mal pode ser vencido. Sem
ter aniquilado o Mal? O livro da
separar as coisas. Há duas lições
mal. Quer que eles se convertam!
um de nós deve buscar o mergu-
mudança de mentalidade e sem
Sabedoria, o escrito mais novo
importantes nesta comparação.
Essa deve ser também a nossa
lho na mística cristã da doação
comprometimento comunitário
do Primeiro Testamento, coloca
A primeira: o bem e o mal estão
atitude. Um desafio nos tempos
da própria vida, a exemplo de
não há onde encontrar forças para
essa questão. A comunidade
sempre presentes. Não se trata de
em que se prega o “olho por olho
Jesus. Ele pediu que o Pai o
aceitar que temos que saber
judaica, formada no Egito, sofre
uma situação criada entre pessoas.
e dente por dente”. O sentimento
livrasse, suou sangue, mas foi
esperar o tempo da colheita...
As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão. As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Bragança Jornal Diário.
Jornal do Meio 754 Sexta 25 • Julho • 2014
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Jornal do Meio 754 Sexta 25 • Julho • 2014
por Shel Almeida
Na última semana alguns sites de levá-lo ao Hospital Veterinário de Atibaia, notícia mostraram a história do onde Neguinho permaneceu internado por pequeno cãozinho que nasceu sem uma dia e meio. Tentando encontrar uma as patinhas dianteiras em Vitória da solução de custo mais acessível, as duas Conquista, na Bahia. A dona do pequeno acabaram entrando em contato com a Faros animal, na impossibilidade de ficar com D’Ajuda, onde o cão foi recebido e operado. ele, resolveu divulgar a história nas redes Mas a história de Neguinho não acaba com sociais e oferecê-lo para adoção. O que o resgate. Ela tem um final ainda mais feliz. ela não sabia é que o fato receberia tanta Maria e Ana Paula resolveram adotar o cão repercussão e geraria um debate: por que e já o levaram pra casa, onde irá continuar o é tão difícil encontrar quem queira adotar tratamento. Nos primeiros meses, enquanto ainda estará em tratamento, ficará com Ana animais especiais? O Jornal do Meio esteve na Associação de Paula, depois irá se mudar para a casa de Proteção Animal Faros D’Ajuda e conver- Maria. “Não sabíamos se ele iria sobreviver, sou com a presidente Márcia Davanso, que a situação dele era muito delicada. Mas ele contou histórias tristes e de rejeição, mas teve muita força de vontade, lutou pela vida. também histórias de amor e superação. O Eu já tenho dois cães, um de resgate também. cão cadeirante Avatar, que foi adotado pelos Se cada pessoa cuidasse de um cão, tudo Bombeiros, é o caso mais conhecido. A his- seria mais fácil. Antes de trazer ele pra casa, tória dele já foi contada em nossas páginas, pedimos pra fazer o teste de cinomose, pra na edição nº 710, de 20 de setembro de 2013. que os outros animais não corressem risco. Alguns têm a sorte e a chance de encontrar Deu negativo e estou aliviada por isso. Ele uma família, assim como Avatar, e de se de- está com pneumonia, mas isso é tratável. senvolverem. Outros, mesmo aqueles que Agora ele vai ter um lar, não vai mais precisar não têm necessidades especiais, acabam procurar comida e nem correr risco por aí”, desabafa Ana Paula. passando a vida na rua ou em abrigos. “Hoje, aqui na Faros, temos cerca de 400 animais. Desses, mais ou menos uns 40 são animais que estão em tratamento por A história do gato Jerri não é muito diferente causa de alguma sequela. Em casos de atro- da história do cão Neguinho. Ele também pelamento, a maioria são cães, mas temos foi atropelado. Ele também foi abandonado. gatos também. Alguns precisam tirar algum A diferença é que ele foi levado até a Faros membro, outros ficam paralisados. Chegam D’Ajuda pela antiga dona e foi deixado lá. casos aqui também de animais que estão No abrigo ele recebeu cuidados e amor. Mas com bicheira, por causa de algum ferimen- Jerri queria uma família pra chamar de sua, to, animais cegos, animais idosos. Todos uma família que o aceitasse com todas as esse são considerados animais especiais”, suas limitações e necessidades, uma família explica Márcia. que não o abandonasse no momento em Um desses animais é Amora, uma cadela que mais precisava de ajuda e carinho. Jerri que não tem os movimentos das pernas encontrou! Ele foi adotado por Vanessa Samtraseiras. A própria Márcia chegou a leva-la martino e na nova casa foi bem recebidos pra casa, para que ela tivesse mais espaço do pelos novos irmãozinhos, os demais cães que tem no abrigo. No entanto, isso acabou e gatos que já viviam ali. “Eu já tive uma sendo prejudicial para gata com deficiência e Amora, e ela precisou quanto vi a história dele É possível adotar uma animal no facebook da Faros, ser levada de volta. “Ela especial. O Jerri é um exemplo fiquei sensibilizada. Denão para um minuto, e com o espaço maior, ela de que, mesmo com limitações, pois que veio pra cá, já acabou se movimentando os animais especiais podem teve uma melhora. Ele mais e isso causou mais não para um minuto, ter um vida saudável ferimentos nela. Ela é os outros gatos correm uma cachorra que precisa e ele quer correr atrás, Vanessa Sammartino de cuidados constantes, já aprendeu a escalar a porque não tem controle cama. Ele usa fraldinha e das necessidades e acaba se sujando muito. quando faz alguma sujeira mia me avisando, E isso também causa assaduras”, conta. pra que eu o limpe. Se vou viajar, ele vai A equipe de funcionários e voluntários da comigo. Todos aqui têm muito amor por Faros D’Ajuda sempre que é possível e é ele, os animais o receberam muito bem, necessário, leva os animais que precisam ele é tratado como um bebê. de supervisão constante para casa, para Tentamos colocá-lo em uma cadeirinha que, assim, possam tem um cuidado mais de rodas, mas ele não aceitou. Então próximo. tratamos dele do jeito que ele quer. Ele “A adoção de gatos especiais é maior do já está ficando em pé por conta própria. que a de cães. Acredito que porque o gato Não consegue ficar por muito tempo, mas se adapta mais facilmente por causa do está se esforçando. Quando eu levei ele na tamanho. A adoção de gatos de uma forma Faros pro pessoal ver como ele está, todo geral aumentou. A diferença é que os gatos mundo se surpreendeu. são adotados tanto adultos quanto filho- É possível adotar uma animal especial. O tes. Já em relação aos cães, a preferência Jerri é um exemplo de que, mesmo com é por filhotes. As pessoas precisam abrir o limitações, os animais especiais podem ter coração sobre a adoção. Precisam ter mais um vida saudável”, fala Vanessa. consciência sobre o ato de adotar. A adoção em si é para ajudar o animal. Se adotarem com essa visão, o animal tem uma segunda A partir do dia 04 de agosto a Faros chance”, fala. D’Ajuda começará a atender os animais Além de Amora, os cães especiais como adotados no abrigo ou não, em uma nova Capitão, Dadá e Pescador também vivem clinica. O local, que fica na Rua Santa na Faros D’Ajuda. Os três perderam uma Clara, 154, será também a sede social e das patas dianteiras. Mas vivem muito bem, administrativa da instituição. “Criamos a correm, interagem entre sim e são alguns clínica com objetivo de arrecadar fundos dos poucos que vivem soltos nos abrigo. e também de oferecer um atendimento veterinário mais acessível. O atendimento será pago, mas mais em conta. O serviço Neguinho foi atropelado na estrada de Pi- será de pronto atendimento, não será racaia. A pessoa que o atropelou não pres- preciso marcar consulta”, conta Márcia. tou socorro. Ele foi abandonado à própria A inauguração da nova clínica acontece sorte, no meio da estrada, com ferimentos nos dias 25 e 26 de julho, com um mutirão sérios nas patas dianteiras, sangramento e de castração. o pulmão cheio de líquidos, causado pela A Faros D’Ajuda precisa constantemente pancada. Ninguém consegue imaginar uma de doação de ração e materiais de limpepessoa deixada para trás nessa situação, za. Quem quiser contribuir para ajudar então porque fazem isso com os animais? os animais especiais, pode doar também Neguinho sentiu dor, desespero e medo, como tapetes higiênicos. No momento, estão qualquer um que estivesse naquela situação. precisando também de doação de coberA sua sorte foi que Maria Francisco de Paula tores, por causa do frio. estava passando por ali, se sensibilizou e o resgatou. Maria ligou para a amiga Ana Paula Qualquer duvida entrar em contato no André pedindo ajuda e as duas resolveram 4031-5688
Jerri
Nova Clínica
Reflexão O cachorrinho deficiente Um menino pergunta o preço dos filhotes à venda. -”Entre 50 e 100 reais,” responde o dono da loja. O menino puxou uns trocados do bolso e disse: -”Eu só tenho 5 reais, mas eu posso ver os filhotes?” O dono da loja sorriu e chamou Lady, que veio correndo, seguida de cinco bolinhas de pêlo. Um dos cachorrinhos vinha mais atrás, mancando de forma visível. Imediatamente o menino apontou aquele cachorrinho e perguntou: -”O que há com ele? O dono da loja explicou que o veterinário tinha examinado e descoberto que ele tinha um problema no quadril; sempre mancaria e andaria devagar. O menino se animou e disse: -”Esse é o cachorro que eu quero comprar!” O dono da loja respondeu:
-”Não, você não vai querer comprar esse. Se você quiser realmente ficar com ele, eu lhe dou de presente.” O menino ficou transtornado e, olhando bem na cara do dono da loja, com o seu dedo apontado disse: -”Eu não quero que você dê para mim. Aquele cachorrinho vale tanto quanto qualquer um dos outros e, eu vou pagar tudo. Na verdade, eu lhe dou 5 reais agora e 5 reais por mês, até completar o preço total.” O dono da loja contestou: -”Você não pode realmente querer esse cachorrinho. Ele nunca vai poder correr, pular e brincar com você como os outros cachorrinhos.” Aí, o menino abaixou e puxou a perna esquerda da calça para cima, mostrando sua perna com um aparelho para andar. Olhou bem para o dono da loja e respondeu: -”Bom, eu também não corro muito bem e o cachorrinho vai precisar de alguém que entenda isso.”
Márcia e o cão Capitão. Ele foi adotado, mas fugiu e voltou para o abrigo da Faros D’Ajuda duas vezes.
Neguinho foi atropelado na estrada de Piracaia e deixado para morrer. Foi resgatado e ganhou uma família.
Neguinho
O gato Jerri tinha uma casa, mas quando foi atropelado, foi abandonado na Faros. Ele foi adotado e ganhou uma família que aceita e respeita suas limitações.
saúde
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Jornal do Meio 754 Sexta 25 • Julho • 2014
Prêmio contra a fome
Cientista egípcio que vive no Brasil há 40 anos recebe láurea por suas pesquisas para melhorar a mandioca e usá-la no combate à fome no mundo
por FERNANDO TADEU MORAES/FOLHAPRESS
Egito. Viu aí oportunidade de estudar a cultura da mandioca na região em que ela se originou. Logo que chegou ao país, como professor visitante da USP, Nassar fez uma longa viagem pelo Nordeste coletando e catalogando espécies silvestres de mandioca. Na época, o oeste da África era assolado pelo mosaico africano da mandioca, vírus que estava destruindo plantações da raiz e causando fome em vários países. Cruzando espécies silvestres do Brasil com a mandioca cultivada, o pesquisador produziu um híbrido resistente à praga, cujas sementes tiveram um enorme sucesso nos países assolado pela doença. “Essa foi minha primeira contribuição científica de importância”, diz Nassar. Nassar depois buscou criar híbridos de mandioca mais nutritivos. “Ninguém imaginava que espécies silvestres da mandioca possuíssem altos níveis de proteína. Consegui mostrar que isso poderia ser transferido para a mandioca comum através de cruzamento.” O resultado foi uma espécie de mandioca com o dobro de proteína. Crítico ferrenho dos transgênicos, teme os efeitos desse tipo de alimento no longo prazo. “Nos transgênicos, os genes são transferidos de vírus ou bactérias para a planta, para a raça humana e o nosso ambiente com impactos imprevisíveis.” Apesar da aposentadoria compulsória aos 70 anos, Nassar ainda vai todas as manhã para a UnB e orienta alunos. No tempo livre, dedica-se aos livros e aos filmes. O cientista é dono de uma coleção de quase mil dvds. Após quase 50 de dedicação à ciência, Nassar considera-se realizado. “A maior realização para um cientista como eu é produzir uma obra inovadora, com impacto científico importante e grandes consequência sociais.” Foto: Pedro Ladeira/Folhapress
PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS
www.coquetel.com.br A usina hidrelétrica no rio Xingu
Seleção dos destaques de um evento (TV)
© Revistas COQUETEL
Documen- Luz de to (abrev.) letreiros Amor à Direito do pátria consumidor
Qualidade do bom anfitrião Todavia
"Conversa" com o cliente, em sites e por telefone Produção agrícola anual
Free-(?): lojas de aeroportos (ing.)
O açúcar de mesa Um, em inglês O Bárbaro (HQ) Balas redondas Informação útil Reação do "estourado"
Forma de tratamento no início de cartas Azedo (?) Esteves, bailarina brasileira Filme de guerra de Kurosawa De + as
Tema do desfile da Beija-Flor em 2014 (?) espiritual: atividade realizada por grupos religiosos
Salão (?), aposento da Casa Branca
Abalado; minado 1.006, em romanos Preocupado (gír.)
(?)-pago, serviço de telefonia celular Letra grega em formato de tridente
Peça onde se prende o arreio na montaria Capital do Egito, abriga a Praça Tahir Alisador de madeiras Parceiro de Dodô
Traseiras de animais Expressão de espanto
Consoante nasal que se liga a "b" e "p"
Tonelada (símbolo) Alternativa ao verso
Matar em sacrifício à divindade
Happy (?): final feliz, em inglês Compôs "Três Apitos" e "Fita Amarela"
(?) Khan, título do imã dos ismaelitas Superior Tribunal de Justiça (sigla) Stepan Nercessian, ator e político
Cada unidade do esqueleto (Anat.) Cálice que Jesus teria usado na Última Ceia
BANCO
Onomatopeia da voz do gato Veste que serve de saída de praia
3/aga — end — one. 4/nora. 5/conan — shops. 8/solapado. 16/atendente virtual.
Quando ainda morava no Egito, no começo dos 1970, o botânico e geneticista Nagib Nassar conheceu um livro que decidiria seu destino: “Geografia da Fome”, do pernambucano Josué de Castro, um dos mais importantes estudos sobre a insegurança alimentar no Brasil. O livro o influenciou a vir para o país e dedicar toda a sua carreira a pesquisas em torno dos melhoramentos da mandioca, com o propósito de usar o alimento como recurso no combate à fome. O pesquisador foi agora condecorado com o Kuwait International Prize of Environment, que será entregue em uma cerimônia em dezembro. Junto com o prêmio, Nassar também receberá US$ 100 mil (cerca de R$ 250 mil). O dinheiro já tem destino certo: será usado para financiar pesquisas com mandioca. “É uma maneira de continuar o trabalho de uma vida inteira”, diz Nassar, com forte sotaque, apesar de viver há 40 anos no Brasil. Ele diz que o dinheiro será doado à UnB (Universidade de Brasília), na qual foi professor por quase 30 anos. Os rendimentos financiarão alunos de doutorado e pesquisas sobre a mandioca. Nassar espera ser um exemplo que incentive esse tipo de doação no Brasil. “Se isso acontecer, o impacto dessa minha pequena contribuição será muito maior.” “Essa é uma atitude típica de quem tem paixão pelo que faz”, diz Jaime Santana, decano de pesquisa e pós-graduação da UnB. Santana acrescenta que a falta de uma cultura de filantropia e os entraves burocráticos dentro das universidades são os grandes empecilhos para que esse tipo de prática torne-se mais comum no país. Em 1974, Nassar era professor na Universidade do Cairo e soube que havia um acordo científico entre Brasil e
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Solução J B S B B
LA
O V O N E L
H D O M O N S A C A P S C I D I T I R O A R O N L A P A I SE L D O I A N CA S D I M E L R O O S O C N T O G
O S M A R
P L A I N A
R D O A S AC CA
N T E R O O N
A T S E A N F D R E A N T P E R O V S I A R T A U G A A L PREÇOS SUJEITOS A ALTERAÇÕES SEM PRÉVIO AVISO - Reservamo-nos o direito de corrigir eventuais erros gráficos e de digitação.
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M E L H O R E S M O M E N T O S
O cientista Nagib Nassar na Estação Biológica, na UnB, onde se encontram as espécies de mandioca estudadas por ele
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Reflexão e Práxis
Jornal do Meio 754 Sexta 25 • Julho • 2014
São Petersburgo
ou Brasil
por pedro marcelo galasso
Algumas vezes a distância ou uma
velocidade com que esta relação se mo-
parte da realidade na qual ele vive e pro-
tros homens fora da esfera do mercado,
comparação, por mais perigosa
difica na Modernidade, transformando,
cura se realizar.
não podendo, portanto, alcançarmos um
que seja, nos permite ver com mais
constante e rapidamente, os referenciais
O que não se pode perder de vista é que
referencial fixo no meio deste turbilhão.
clareza o que ocorre no nosso cotidiano,
que nos orientam durante sua análise.
o processo histórico de desconsidera-
A Modernidade não cria e destrói apenas
pois, então, podemos exercitar na visão
O passado mistura-se com o presente, com
ção de si mesmo e dos outros homens
mercadorias, tempos e espaços. Ela cria e
do outro a realidade na qual estamos
as mudanças constantes, e é transformado
ser extremamente interessante para o
destrói expectativas e sonhos. A Moderni-
inseridos. Por mais teórica que pareça,
de maneira diversa nos diferentes espaços
desenvolvimento, ou progresso, da Mo-
dade nos aponta caminhos e não permite
esta coluna se propõe a este exercício.
que a Modernidade transforma. A trans-
dernidade porque o caráter humano é
que eles sejam percorridos.
A Modernização imposta, de cima para baixo,
formação dos espaços ocorre para que seja
jogado no turbilhão de transformações
Enquanto nós não formos capazes de
por Pedro, o Grande, czar russo, fez com
alcançado um tempo único, o tempo do
da realidade e é complementado com
entender até que ponto a Modernidade
que as pessoas mais pobres fornecessem
mercado, através da modificação da noção
valores do mercado, sendo, portanto,
desconsiderou o gênero humano, para
alguma resposta a esse projeto. Dentro do
de tempo dos indivíduos para atender ao
impessoais. O turbilhão criado pela Ra-
que suas transformações pudessem se
cotidiano moderno, fragmentado e veloz,
mercado, modificando a própria forma
zão, pela racionalidade da Modernidade,
efetivar no tempo e espaço, nós dificil-
as pessoas lutam, também fragmentadas,
como os indivíduos percebem e pensam
é fruto de ações racionais dos elementos
mente a entenderemos.
para fazer de São Petersburgo, e o projeto
a passagem do tempo, social e histórico,
que compõem a realidade. No entanto,
E para confirmar as ideias expostas acima,
de modernização de cidade, seu projeto
em seus espaços sociais.
ao racionalizar a sua ação o indivíduo se
fica a seguinte observação, sintomática
pessoal e cotidiano.
A percepção objetiva e subjetiva dos ho-
defronta com outras ações racionais e
de tudo o que esperamos e do que ire-
A despeito da possibilidade, ou não, de
mens sobre sua realidade é alterada sem
forças que parecem abstratas, mas que
mos construir – a escolha de um técnico
se poder fragmentar o homem de Pe-
que este tenha uma estrutura perceptiva
transformam concreta e efetivamente a
do passado para revolucionar o futebol
tersburgo, o processo de Modernização
adequada para entender as efetivações
sua realidade social espaço- temporal.
brasileiro e, diretamente, a sociedade
continua. E com ele, o homem continua
econômicas e sociais que ele experimenta.
O caos da Modernidade é causado pela racio-
brasileira, pois se um muda o outro, na
lutando para levar o projeto de Pedro, a
A única referência na qual ele se apega é a
nalidade dos elementos que a compõem. Os
lógica confusa de alguns, também muda,
Modernidade, adiante.
obtenção do lucro no mercado, passando
indivíduos não se vêem como seres humanos,
aponta para qual direção?
A Modernidade é difícil de ser conceituali-
a ver todos os outros homens como seus
mas sim como indivíduos em competição.
zada e entendida por conta das mudanças
competidores. O indivíduo procura se
A nossa falta de referências no turbilhão
Pedro Marcelo Galasso – cientista político,
que ela causa na relação tempo- espaço.
realizar com valores e objetos estranhos
da realidade encontra-se no fato de não
professor e escritor.
O que torna essa compreensão difícil é a
a ele, ainda que estes elementos façam
conseguirmos nos identificar com os ou-
p.m.galasso@gmail.com.br
Casos e Causos
Juro que é verdade por Marcus Valle
JURO QUE É VERDADE CLXXX
fita gravada com o último show deles. Todos pediram
Foi ao outro balcão (da padaria), comprou um pãozinho,
O Dr. Zappa, advogado, certa vez fez um comen-
para Renato trazer a fita para que eles tirassem cópia.
um saquinho com um litro de leite e gastou menos que
tário sobre um colega, o pessoal aumentou um
Ele prometeu...mas sempre havia um imprevisto...e ele
x. Até aí...ia tudo bem.
pouco, e o advogado foi furioso tirar satisfações.
acabava esquecendo. Essas cobranças duraram meses....e
A coisa engrossou quando ele pediu emprestado uma
O cara chegou com tudo: ZAPPA....VOCÊ DISSE QUE EU
só cessaram quando o gozador....disse a Renato que havia
faca e um copo no balcão do bar. Foi um tremendo bate
NÃO SEI NADA DE DIREITO...VOCÊ ME DESACATOU.
inventado o nome STRONG FLOWERS.
boca com o dono do COPACABANA.
ATO SÓ É POSSÍVEL CONTRA AUTORIDADE.... TÁ
JURO QUE É VERDADE CLXXXII
JURO QUE É VERDADE CLXXXIV
VENDO?...VOCÊ NÃO SABE NADA MESMO.
Eleições de 1982. Comício na zona rural, distrito de Tuiuti,
Antigamente, a prefeitura tinha um veículo denomi-
bairro do Arraial. Um dos nossos candidatos a vereador
nado CARROCINHA...que era para capturar os cães
JURO QUE É VERDADE CLXXXI
começa a descer e a lenha no candidato adversário, se
que viviam soltos na rua. Normalmente os funcionários,
O Renato conhecia tudo de música. Qualquer artista ou
entusiasma e diz : ELE NÃO ENGANA MAIS NINGUÉM.....
chamados laçadores, trabalhavam de madrugada para
banda nova que surgia, o Renato já tinha gravado (em
NEM CAIPIRA DE SÍTIO. O apresentador que estava
evitar reações populares. Numa madrugada, eu estava
disco ou em fita, naquela época).
ao lado o cutucou e ele tentou consertar,...mas piorou:
na praça e vi que na carrocinha já tinham capturado
Nas conversas sobre som, ele arrasava....sabia tudo so-
SE BEM QUE OS CAIPIRAS DE HOJE SÃO MUITO
uns 15 cachorros. O pessoal saiu um pouco para tomar
bre Led Zeppelin, Genesis, Focus, Gran Funck...enfim,
ESPERTOS.....NÃO SE DEIXAM ENGANAR. Tinha
um café no bar que funcionava, quando o SERGINHO
sobre qualquer coisa que estivesse no circuito comercial,
razão....abertas as urnas, o nosso candidato a vereador
L. aproveitou, arrombou a tranca da jaulinha e soltou
ou mesmo alternativo. Ninguém ousava diferir nesses
teve zero votos no TUIUTI.
os cachorros. Os caras da Prefeitura haviam trabalhado
Zappa respondeu calmamente e formalmente: DESAC-
a noite inteira, e queriam espancar o Serginho. Ele só
assuntos com ele....afinal ele sabia tudo...tudo mesmo. Até que um dia alguém disse ao Renato, que havia sur-
JURO QUE É VERDADE CLXXXIII
conseguia falar uma frase: COITADOS DOS CACHOR-
gido uma banda nova de rock ,na Dinamarca, o STRONG
Na praça central tinha o COPACABANA, padaria, lancho-
RINHOS. Acalmamos os ânimos. Naquela confusão toda,
FLOWERS, e que só se falava nela nos países escandina-
nete, bar e restaurante. O Hernan, que era estudante da
notamos que um cãozinho, estressado, havia ficado na
vos. Mas Renato já esclareceu ao presunçoso cara, que
faculdade, perguntou o preço de um copo de leite e um
jaulinha. Um dos laçadores...desanimado...tocou- o para
conhecia o STRONG FLOWERS, e inclusive já tinha uma
pão com manteiga. Ficava em x reais. Achou caro...e era.
fora...gritando: SUMA DAQUI.
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comportamento
Jornal do Meio 754 Sexta 25 • Julho • 2014
Mãos à obra Apesar de competir com tablets e computadores nas salas de aula, escrita à mão ajuda a fixar mais dados e é uma ginástica mental poderosa, apontam estudos
por REINALDO JOSÉ LOPES/FOLHAPRESS
Não é uma boa ideia aposentar a tradicional escrita à mão, com lápis e caderno, como ferramenta didática. Estudos recentes mostram que tanto as crianças que estão sendo alfabetizadas quanto adultos podem ter vantagens no aprendizado quando colocam as palavras no papel, à maneira antiga. No caso dos pequenos, traçar as letras com lápis e caneta parece ser uma ginástica mental mais poderosa do que simplesmente procurá-las num teclado, além de potencializar o aprendizado do vocabulário e ser mais útil contra problemas como a dislexia. Para os jovens, anotações feitas em cadernos têm mais potencial para ajudá-los a fixar o conteúdo da aula. Ler e escrever, em especial do jeito tradicional, são tarefas cognitivas complexas. É preciso juntar numa única orquestra de neurônios áreas cerebrais de ação motora, de linguagem e de raciocínio. Num estudo publicado na revista científica “Trends in Neuroscience and Education”, pesquisadoras observaram o que acontece no cérebro de crianças com idades entre quatro e cinco anos que estavam começando a ler. Meninos e meninas foram divididos em três grupos. O primeiro era ensinado a traçar letras de fôrma manualmente; o segundo cobria uma linha pontilhada; o terceiro tinha de identificar a letra num teclado de computador. Depois as crianças foram colocadas em aparelhos de ressonância magnética e reviam, lá dentro, as letras que tinham praticado. As imagens de ressonância deram às cientistas uma ideia sobre o grau de ativação de cada região do cérebro das crianças. Tanto a diversidade de áreas cerebrais ativadas quanto a intensidade dessa ativação foram mais acentuadas nos pequenos que tinham sido treinados a escrever as letras “do zero”. Para os autores, os achados apoiam a hipótese de que a escrita tradicional ajudaria o desenvolvimento mental infantil, em especial na capacidade de abstração. Isso porque a criança precisa conseguir perceber que um “a” é sempre um “a”, por exemplo, independentemente da letra ou da fonte usada. O resultado desse processo pode ser percebido em alunos de universidades. Um artigo na revista “Psychological Science” mostrou que aqueles que anotavam o conteúdo de palestras à mão retiveram mais da aula do que os que usaram notebooks. Ao anotar à mão, o aluno precisa reorganizar os dados da aula com sua própria lógica, o que o ajuda a entender melhor o que o professor está explicando.
Segundo Angela de Cillo Martins, coordenadora pedagógica de educação infantil e do primeiro ano do ensino fundamental do colégio Dante Alighieri, em São Paulo, a facilidade com que crianças pequenas e até bebês manipulam tablets e smartphones hoje não tem levado a um desinteresse pela escrita à mão na fase pré-escolar. “Nas séries iniciais, o objetivo principal é o contato constante da criança com a escrita. Para isso, usamos vários recur-
sos, como computadores, tablets, lousas digitais, folhas avulsas e cadernos”, diz Angela. Embora os alunos do ensino médio recebam tablets, em sala de aula continuam escrevendo em caderno, de acordo com ela. “A grande vantagem na alfabetização é que, para as crianças dessa idade, o ato de escrever está muito associado ao ato de desenhar, o que incentiva os alunos a manipular o lápis e a caneta”, diz Eloiza
Centeno, coordenadora pedagógica de educação infantil do colégio São Luís. “Mais tarde, a gente nota uma facilidade maior com o teclado quando a questão é ter fluência e velocidade para escrever”, conta. “Não acho que seja o caso de usar aqueles exercícios antigos de caligrafia, mas dá para trabalhar a fluência e a legibilidade na escrita à mão, até porque é uma habilidade ainda indispensável no vestibular.” Folhapress
Na expectativa O melhor da ansiedade é a chance de se preparar, de conhecer o inimigo e estudar como vencê-lo .O neurocientista Robert Sapolsky, especialista em estresse, gosta de dizer que zebras não sofrem de úlceras.
por SUZANA HERCULANO-HOUZEL /FOLHAPRESS
Segundo ele, a razão é que zebras vivem no presente: ou pastando tranquilamente ou em um baita surto de adrenalina, correndo do leão, mas sempre alegremente ignorantes do que lhes espera e, portanto, livres do estresse crônico da incerteza e de úlceras. Antecipar o futuro e preocupar-se desde já com o que pode vir a ser é, segundo Sapolsky, prerrogativa humana. Acho pouco provável que seja, mas isso é outra história. A da vez é a expectativa em si; o bem (e o mal) que ela pode trazer e como tudo isso depende apenas da cabeça de cada um. Um jogo de futebol, por exemplo, poderia ser encarado como apenas o jogo que é:
um evento esportivo, cercado de regras arbitrárias, onde dois punhados de jogadores têm duas sessões de 45 minutos para disputar quem tem maior controle sobre uma bola. No entanto, a partir do momento em que há dinheiro, honras nacionais e rivalidades em questão, a expectativa do jogo assume proporções suficientes para abalar jogadores e causar infartos até em quem não está em campo. Esse é o poder da expectativa: a ansiedade causada pela projeção do confronto para um futuro próximo coloca o cérebro em guarda, tenso, antes mesmo de o conflito passar a existir. Mas só se o evento antecipado for, de fato, considerado um conflito.
Convença-se de que Brasil x Alemanha é apenas mais um jogo, e o sofrimento será menor. Isso é o que nós, torcedores sem nenhum poder sobre o resultado do jogo, podemos fazer. Para quem está diretamente envolvido, no entanto, menosprezar o conflito, ou o adversário, é desperdiçar a oportunidade de aproveitar o melhor da ansiedade, que é a chance de se preparar, de se informar, de conhecer o inimigo e estudar como melhor vencê-lo. Sem isso, a ansiedade é apenas sofrimento antecipado, deixando o cérebro à mercê da sua percepção do problema. Se for contida, o órgão responde preparando o
corpo para agir, com mais vigor muscular e capacidade de atenção. Mas se a percepção do estresse for grande demais, a atenção voa, os músculos tremem, o desempenho sofre, a preocupação toma conta no gramado. A saída é transformar a ansiedade em aliada, com informação e preparação prévias, para manter a sensação de controle mesmo no pior do jogo. E se for assim... Que vença o melhor! Suzana herculano-houzel é neurocientista, professora da UFRJ e do livro “Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor” (ed. Sextante) e do blog www.suzanaherculanohouzel.com
veículos eículos
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Clássico dos milhões Entre o Maracanazo e a derrota de 2014, indústria automotiva nacional deixou de ser incipiente para virar uma das maiores do mundo
por RODRIGO MORA/FOLHAPRESS
Folhapress
O abismo entre a década de 1950 e os tempos atuais na indústria automobilística é equivalente à grandeza de se conquistar cinco Copas do Mundo. Se o futebol não é mais o mesmo, mudaram também as formas de vender e usar o automóvel. Embora o primeiro veículo um Peugeot importado por Alberto Santos Dumont vtenha chegado ao Brasil no fim do século 19, a indústria nacional é de fato implantada apenas em 1957, ano seguinte à criação do Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA), programa do governo Juscelino Kubitschek que estabelecia as bases do parque fabril brasileiro. A partir desse ano, carros, comerciais leves e caminhões passam a ser produzidos localmente, e não apenas importados ou montados.
Mudança dos valores
Nos primeiros três anos, a produção de automóveis era muito inferior à de comerciais leves, caminhões e ônibus. Em 1957, foram fabricados e montados 1.166 carros de passeio, ante 10.871 utilitários, 16.259 caminhões e 2.246 ônibus. Os dados são da Anfavea (associação das fabricantes). Esse é o motivo de o utilitário Jeep Willys ter sido o automóvel mais emplacado no país em 1958. As 8.300 unidades vendidas são modestíssimas diante dos 14 mil Fiat Palio comercializados somente em junho de 2014, mês considerado ruim pela indústria. Somente em 1960, a produção de carros de passeio chega ao patamar de 40 mil unidades e se iguala à dos outros veículos. Os números atuais revelam a distância para aquele longíquo 1957: em 2013, foram 3,7 milhões de veículos produzidos, e 73% desses eram automóveis convencionais.
Potência
Há uma enorme diferença também entre os carros, dilatada ao longo do tempo devido a novas tecnologias, além de fenômenos sociais e econômicos. Popular nos anos 1950, o Renault 4CV tinha motor traseiro de 760 cm³ e 21 cv de potência. Hoje, propulsores com tamanho similar (1.0) rendem quatro vezes mais potência e vão na parte frontal do veículo. Se nas décadas de 60 e 70 os modelos de quatro portas eram “mico”, agora são maioria; peruas eram o sonho das famílias, mas hoje foram substituídas por minivans e utilitários de luxo. E nenhum engenheiro daquela época poderia imaginar que os automóveis usariam álcool derivado da cana, combustível hoje indispensável nos segmentos de entrada, que sequer consideram modelos sem tecnologia flex.
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veículos
Foco
Fábrica da Kia no México deverá ajudar filial brasileira por EDUARDO SODRÉ/FOLHAPRESS
A Kia Motors já decidiu: haverá
Ainda não foram definidos quais veículos
sem a sobretaxa de IPI (Imposto sobre
Bahia, nunca construída.
uma nova fábrica, no México,
serão produzidos na nova unidade, mas
Produtos Industrializados) é limitada
A Fazenda moveu uma ação contra a
que atenderá prioritariamente ao
o Kia Soul está entre os cotados. Devido
a 4.800 carros.
empresa, que envolveu a Kia (compra-
mercado norte-americano. A empresa sul-
ao acordo comercial, os carros poderão
De acordo com José Luiz Gandini, presi-
dora da falida Asia Motors na Coreia do
-coreana ainda não fez o anúncio oficial,
chegar ao Brasil isentos de imposto de
dente da Kia Motors do Brasil, a possibili-
Sul), a Hyundai e o governo sul-coreano.
mas a Folha apurou que a divulgação
importação.
dade de a marca ter também uma fábrica
Em 2011, a Kia foi liberada da respon-
nacional continua em discussão, mas um
sabilidade da dívida. Porém, a matriz
antigo problema judicial ainda atrapalha.
da empresa ainda sofre consequências
ocorrerá em breve. A novidade poderá beneficiar a operação
Produção nacional
da marca no Brasil, que teve de reduzir
Apesar de ter aderido ao programa de
Na década de 1990, o governo deu cerca de
do processo, o que trava as negociações
os volumes de importação devido às
incentivo do governo, a Kia não pro-
R$ 2 bilhões de incentivos à sul-coreana
para o estabelecimento de uma fá-
exigências do Programa Inovar-Auto.
duz no Brasil. Por isso, sua cota anual
Asia Motors, que abriria uma fábrica na
brica no Brasil. Foto: Divulgação
Novo Kia Soul, que chega em breve ao Brasil, é um dos cotados para produção no México.
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Bola pra frente Derrota em 1950 não travou crescimento do setor automotivo; mas o que haverá agora, com vendas em queda?
por EDUARDO SODRÉ/FOLHAPRESS
“Nem a Volks faz quatro gols em seis minutos”, diz a piada repetida à exaustão após a vitória de 7x1 da Alemanha sobre o Brasil. A verdade é mais impressionante: a empresa produz, em média, oito carros nesse tempo, dois a cada 60s. A indústria evoluiu muito entre o Maracanazo e a derrota no Mineirão. Na virada das décadas de 1940 e 1950, o setor automotivo engatinhava. As ruas de um país essencialmente rural misturavam modelos Ford e Chevrolet produzidos nos EUA e pequenos veículos europeus, como Morris Oxford, Austin A40 e Renault 4cv. Esses carrinhos chegaram aqui devido a acordos comerciais com nações como Inglaterra e França, que precisavam exportar. Eram tempos de reconstrução pós-guerra. A Copa do Mundo de 1950 faz parte desse cenário. O Brasil vivia um período de crescimento. Contudo, a derrota para o Uruguai mexeu com a autoestima, e tudo parecia ir mal. Apesar disso, a indústria seguiu seu ritmo, como deverá ocorrer agora. “A Copa tem um reflexo pontual nas vendas e um impacto político que influencia na economia, mas nossos problemas são outros, não a derrota no campo. Temos juros altos e carga tributária também elevada, bem maior que a que incidia sobre os carros importados Em 1950”, afirma Ivan Fonseca e Silva, presidente da Geely Motors do Brasil. Para o executivo, a recuperação do mercado após o Mundial será tímida, mas isso não terá relação com o resultado ruim da seleção: “As pessoas não estão pensando em comprar carro.”
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