Braganรงa Paulista
Sexta
15 Agosto 2014
Nยบ 757 - ano XIII jornal@jornaldomeio.com.br
jornal do meio
11 4032-3919
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Para pensar
Jornal do Meio 757 Sexta 15 • Agosto • 2014
Ter filhos é um direito? por Mons. Giovanni Baresse
Esta pergunta, que abre a nossa conversa, surgiu a partir de três fatos que me chamaram a atenção nesta semana. O primeiro na Itália. Um casal doou sêmen e óvulo que foram implantados, por erro do laboratório, em outro casal. Dois gêmeos nasceram. A justiça decidiu que as crianças devem ficar com quem as deu à luz baseando-se no direito das crianças. Tiveram uma mãe que as carregou por nove meses tendo certeza que eram suas. Dela nasceram cercadas de todo o carinho. Para o juiz italiano não entra mais a questão de quem são os pais biológicos. Estes prometeram continuar sua luta na justiça. O segundo e terceiro no Brasil. Um em Atibaia. Outro em Rondônia. Num desses programas de TV que buscam fazer encontro e reencontros entre familiares que, por alguma razão, se perderam de vista, ajudaram a uma jovem a reencontrar, depois de muitos anos a mãe
que a abandonara em tenra idade em razão de violência que sofria por parte do marido. Em conversa com a mãe soube que ela tivera outro filho de outro homem. Fato surpreendente: o marido da jovem é seu meio irmão. E o casal tem uma filha. Em Rondônia apareceu o desejo de uma menina para que na sua certidão de nascimento e outros documentos constasse o nome do pai biológico e do pai que a adotou. Os tribunais estão aceitando esse encaminhamento. Os três fatos, de diferentes situações, colocam a questão radical que aponta para a questão da formação da família. No primeiro caso a discussão do limite que deva existir no processo da fecundação artificial. No segundo e no terceiro o questionamento seríssimo de filhos que sofrem a consequência dos pais que se separam e se a sociedade tem meios para evitar os possíveis problemas físicos e psíquicos de filhos
gerados por pais consanguíneos. Claro que tudo o que se refere à pessoa humana deve ser tratado sempre com muita delicadeza, isenção de preconceitos, busca do mais amplo esclarecimento, respeito pelas convicções. No campo da implantação de embriões, restringindo o espectro das questões, ficará sempre a pergunta sobre o destino dos embriões congelados. São embriões de vida humana com toda a carga genética em potência. Há moralidade no descartar os embriões que se tornem desnecessários? Creio que o respeito à vida humana vai desde a fecundação até a morte. Tudo o que signifique causar morte não é digno. Nos casos do casal consanguíneo é claro que não existe o dolo moral porque o fato era desconhecido. Como ficará, porém, a situação psicológica dos dois que se descobriram irmãos? No caso de pais e mães biológicos e de adoção qual será o cami-
nho para um justo equilíbrio emocional? Essas e tantas outras questões já se fazem presentes e muitas outras surgirão nestes tempos em que tudo está sendo colocado em questão. Ficaria, porém, nestas linhas com a questão: ter filhos é um direito? Eu penso que não. Ter filhos é uma decisão amorosa antes de ser bio-fisiológica. Assim deveria ser. A linguagem sexual que envolve o homem e a mulher e os capacita para a geração da vida não pode ser vivida com o descompromisso de quem pensa estar “gozando a vida”. Gerar um filho é chamar à vida um ser para participar da realidade amorosa de quem um dia se conhecerá como “mamãe e papai”. Há um percentual de casais aos quais a natureza colocará dificuldade ou impedimento de gerar. É direito buscar, dentro dos limites da ética, a possibilidade de “corrigir” ou auxiliar a natureza. Creio, porém, que se deva evitar aquilo
Expediente Jornal do Meio Rua Santa Clara, 730 Centro - Bragança Pta. Tel/Fax: (11) 4032-3919 E-mail: jornal@jornaldomeio.com.br Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli Jornalista Responsável: Carlos Henrique Picarelli (MTB: 61.321/SP)
As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão. As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Bragança Jornal Diário.
que em italiano chamamos de “accanimento”. Traduziria por fixação doentia. A natureza é sábia. Assim foi criada. Violentá-la significa gerar sofrimentos. Às vezes por capricho. Maternidade e paternidade podem ser vividas de outras maneiras.
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Jornal do Meio 757 Sexta 15 • Agosto • 2014
por Shel Almeida
A sociedade é formada por pessoas
que ele faz tem consequência. A impressão
de diferentes realidades. Seja em
que dá é que ele vai ser jovem pra sempre,
relação à classe social, à sexua-
que o corpo dele sempre vai ser o mesmo,
lidade, à raça, à crenças e até mesmo a
ou que ele nunca vai morrer. O jovem faz
gostos pessoais, cada indivíduo é único. A
o que dá na telha sem pensar que tudo é
sociedade é diversa e, viver em harmonia
uma semeadura, que ele vai colher lá na
significa respeitar as particularidades de
frente, que cada atitude dele vai refletir
cada um. Muitas dessas particularidades
em consequências. É uma incapacidade
são escolhas, como o estilo de roupa que
de olhar pro futuro. A impressão que dá
usamos, por exemplo. Outras nos acom-
é que eles não conseguem enxergar que a
panham desde o nascimento, como a cor
vida é esse conjunto de escolhas. A nossa
de nossa pele, ou de nossos olhos. Outras
tentativa é dispor aos jovens as consequ-
particulares fazem parte de nós, por mais
ência dos atos através de um livro que nós
que, às vezes, demoramos para nos dar
cremos que seja inspirado por Deus. Esse
conta disso, como no caso de nossa sexu-
livro vai falar das consequência dos atos
alidade. O importante é saber diferenciar
ruins e dos bons também. Esse conjunto
aquilo que nos é dado o direito de escolha
de mandamentos e de princípios que ge-
daquilo que nos é imposto. O que é uma
ram vida, nós cremos que é impossível de
opção e o que é a nossa condição como ser
ser realizado totalmente sem um auxílio
humano. Cada um é o que é e também o
divino. Não é um conjunto de regras. Nós
que escolhe ser. E são todas essas novas
cremos que o jovem vai ter um relaciona-
particularidades juntas que nos fazem um
mento com a pessoa de Jesus e por meio
ser único, diferente de nossos amigos, de
desse relacionamento ele vai começar a
nossos irmãos e de nossos pais.
mudar, ele vai começar a ter prazer em
A sociedade atual é mais livre. Hoje é mais
fazer o certo. A gente não crê que tudo
fácil seguir o nosso próprio caminho, esco-
é por obrigação, por disciplina, a gente
lher a profissão que queremos ter, decidir
crê em um arrependimento, em uma
com quem queremos nos casar, decidir
mudança de mentalidade. É um prazer
se queremos ou não seguir uma religião.
na ética, um prazer na moral. Essa é a
No Brasil, país formado com base no ca-
nossa busca enquanto Igreja. Nós cremos
tolicismo, vide a evangelização dos índios,
que somos filhos de Deus e se Deus tem
crescer dentro da Igreja Católica não era
esse DNA de santidade, nós cremos que
uma escolha, era uma tradição.
a gente pode alcançar essa santidade.
Hoje, cada um escolhe a religião que melhor
Nossa maior objetivo é agradar a Deus
se encaixa em sua visão de mundo, busca
e amar o próximo como a nós mesmos”,
aquela que lhe dá as respostas que procura.
fala o Pastor Douglas.
No último dia 07 de agosto, o Jornal de Meio
“Nós temos como parte desse ajuste do
esteve presente em uma reunião do grupo de
nosso grupo de jovens, a ideia de ferra-
jovens da Igreja Família Debaixo da Graça.
menta. A célula, que são encontros como
Todos eles estavam ali por vontade
este, é uma ferramenta. Assim como o
própria, porque escolherem fazer parte
discipulado e o culto de sábado são fer-
da comunidade da Igreja, porque ali se
ramentas. São vários instrumentos que
sentiram acolhidos e entre pessoas que
nos ajudam a ficar mais perto de Deus.
tem a mesma visão de mundo. Alguns
A gente não é fora de moda, a gente não
foram criados dentro dessa Igreja, outros
é “quadrado”, pelo contrário, nós temos
se converteram e os pais continuaram
várias atividades que são muito bacanas,
católicos e, outros, ainda, já frequentaram
como acampamentos, trabalhos sociais a
uma igreja evangélica diferente.
gente consegue e divertir em um ambiente
O grupo é formado por jovens com média
correto”, completa Flaviano da Cunha Oli-
de idade entre 17 e 26, alguns poucos na
veira, de 29 anos, um dos líderes dos jovens.
casa dos 30 anos. Conversamos sobre alguns
Jovens entre 17 e 26 anos se reúnem semanalmente para orar e conversar sobre a palavra de Deus.
Retiro de jovens que aconteceu durante o carnaval de 2014.
temas e apresentamos aqui como esses
Sexualidade
jovens enxergam o mundo atual. Conforme
Em relação à liberdade sexual do mundo
as perguntas iam sendo feitas, respondia
atual a jovem Laura Rascovetzki Saci-
quem tivesse vontade. Alguns estiveram
loto de Oliveira, de 15 anos, diz que a
presente durante a conversa, mas não se
convivência com outros jovens que não
manifestaram. Do bate-papo de mais de
são evangélicos, acaba sendo um pouco
duas horas que aconteceu na casa do casal
complicada. “Conviver com outros jovens
Pastor Douglas Maia Gonçalves da Silva
que não têm a mesma fé que a gente é
e Pastora Valéria Marques G. da Silva,
difícil. É como se a gente estivesse em
ambos de 26 anos, muita coisa precisou
uma pista andando na contramão. Eu
ser resumida. Mas, de uma forma geral, o
não vou falar que a gente como jovem não
que os jovens da Igreja Família Debaixo
tem vontade de ser mais aberto, porque foi
do Graça pensam, está aqui.
nesse mundo que a gente cresceu. Mas a
Juventude
Entre as atividades do jovens da Igreja Família Debaixo da Graça estão acampamentos, debates, reuniões, cultos e trabalho social. “Nós não somos “quadrados” e nem fora de moda”.
partir do momento que você pega a bíblia como verdade, você consegue fazer com o
“O jovem é inconsequente, não tem a
Espírito Santo de Deus te convença
capacidade de compreender que tudo o
a não praticar essas coisas”, explica.
Ação de evangelização. Jovens escolheram seguir a religião por conta própria.
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Jovens que escolheram se manter fiéis a alguns conceitos e comportamentos, diferente da maioria da juventude atual. “ O que a gente crê é que a sexua-
é uma grande mentira, nós aceitamos e
lidade foi algo criado por Deus, a
apoiamos a pessoa, mas não a atitude
gente não vê como algo ruim. Mas as
do homossexual, porque é contrária à
outras pessoas são filhos de Deus, en-
palavra de Deus”.
tão o nosso maior medo nessa questão
“A nossa pregação contra não é por
de sexualidade é usar pessoas. Toda
causa de que a pessoa está fazendo
vez que você se envolve em um rela-
uma coisa que a nosso ver é errado. A
cionamento você cria expectativas no
nossa pregação contra é por amor a ela,
coração da pessoa e acaba machucan-
e tipo assim: ‘queria tanto que você se
do essa pessoa. Então nós cremos na
livrasse de uma coisa que a gente sabe
espera pela pessoa que você vai estar
que te prejudica’. Parece que te ajuda.
disposto a ficar pelo resto da vida com
É como aquela pessoa que tem prazer
ela, vai amá-la pelo resto da vida. O que
na química. Você não fala pra ela sair
a gente passar é totalmente inverso
daquilo porque não aceita quem usa
ao que é anunciado pelo sistema hoje:
drogas. Você esta falando aquilo porque
você não entra em um relacionamento
a gente quer o bem dela. Convencer é
para ter prazer, mas para dar prazer. E
o papel do Espírito Santo. Julgar é o
se você tem esse objetivo, não importa
papel de Deus. O nosso papel é amar.
se ela está doente, se está com saúde,
Por amor à pessoa que a gente fala pra
porque não são as circunstâncias que te
ela que essa prática não é a melhor. Eu
movem, é o seu amor. E a gente crê que
entendo assim, nesse busca da pessoa,
isso só é possível com uma só pessoa,
na homossexualidade e até mesmo no
por isso a gente crê no sexo depois do
heterossexualidade promíscua, é uma
casamento. eu vou estar o resto da mi-
busca por intimidade, uma carência. Só
nha vida com você, então eu te entrego
que na nossa crença, essa intimidade que
o meu corpo. A gente vê isso como algo
ela tanto busca, está em Deus. No dia
muito precioso”, fala o Pastor Douglas.
que ela encontrar esse intimidade de ver-
Homossexualidade
Congresso de dança, uma das várias atividades promovidas pelo grupo de jovens da igreja Família Debaixo da Graça que aconteceu em Julho de 2014.
dade, tudo isso acaba sendo irrelevante, e ela consegue largar essas práticas. A
Em relação à homossexualidade, Elinei
gente ama, a gente chama para perto,
Bispo Santos, de 25 anos, vê da seguinte
mas a gente sempre quer tentar falar a
maneira: “Nós encaramos os homosse-
verdade”, diz o Pastor Douglas.
xuais como pessoas amadas porque o
“O pessoal talvez veja isso como uma
nosso mestre Cristo nos ensinou a amar
forma de preconceito. Mas não é que
todos. Mas nós, eu particularmente, não
somos preconceituosos, é que na verdade
aceitamos a prática porque ela vai ao
nós temos um conceito, que a palavra
contrário do que a palavra do Deus o
de Deus. Então todo vez que você vê
qual nós cremos. E todos nós sabemos
alguém falar sobre as práticas que estão
que a palavra de Deus, sem dúvida, é a
rolando, é com base em conceito. Não
grande verdade desse mundo de trevas.
é questão de eu acho ou eu não acho. É
Então nós encaramos o homossexual
com o conceito da palavra”, fala Flaviano.
Jovens promovendo evangelização pela cidade de Bragança Paulista.
como uma pessoa normal, nós o amamos e tratamos bem, não impedimos de
Para quem quiser saber mais sobre
entrar na nossa casa, na nossa Igreja.
o grupo de jovens da Igreja Família
Até porque se o tratamos diferente,
Debaixo da Graça, o culto de jovens
tudo o que Cristo falou passa a ser uma
acontece todos os sábados, às 20h. A
grande mentira. Mas não aceitamos
Igreja fica na Rua Monteiro Lobato, 90,
as atitudes. Muita gente acha que o
no Bairro do Lavapés. O telefone é
crente não aceita o homossexual. Isso
11 4033 - 1122.
Os casais de líderes dos jovens: Robson e Vanessa, Aline e Flaviano. Grupo de reúne semanalmente na casa dos Pastores Douglas e Valéria.
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Reflexão e Práxis
Jornal do Meio 757 Sexta 15 • Agosto • 2014
Todo ano eleitoral por pedro marcelo galasso
Todo ano eleitoral ouvimos o mesmo discurso.
perfeito, seria preciso que os mecanismos de controle
A relação dos candidatos eleitoscom a “res pública’ não
Este retorna sob formas variadas, mas sempre
fossem mais dinâmicos e que não estivessem compro-
é uma relação de posse e, portanto, a sua apropriação
com a mesma temática.
metidos ou que não fossem controlados por aqueles
não deveria obedecer a lógica que rege a esfera de in-
Muito se fala sobre a modernidade das eleições brasi-
a quem deveriam orientar e punir quando necessário,
teresses privados. Tal distinção é tida como evidente e
leiras, de sua referência e exemplo de eficiência para
pois mesmo que a classe política se veja acima das leis,
natural na medida em que o Estado constrói e gerencia
outros países, mas pouco se fala sobre aquele que aperta
ela deveria obedecer e defender as leis existentes algo
todo o aparato público que ele representa.
as teclas da tão moderna e eficiente urna eletrônica.
difícil de imaginar.
No entanto, sabe-se que isto só ocorre formalmente,
Parafraseando Paulo Freire, não basta votar para mu-
É absurdo falar em democracia e consciência política em
pois em seu aspecto material e prático a apropriação da
dar o mundo.
um país que é incapaz de controlar seus representantes.
“res pública” obedece a lógica privada de apropriação
Todo o processo que deveria envolver um pleito eleitoral
Também é estranho cobrar participação séria e coerente
que,por sua vez, obedece a critérios sócio-econômicos
sério e coerente não é visto, buscado ou incentivado no
dos eleitores, ainda mais quando estes se tornaram meros
não podendo atender ao bem comum, descaracterizando-
Brasil. Eleitores desinteressados e alienados do proces-
cumpridores de uma formalidade. O processo político
-se o seu papel sócio-político.
so político que aparece para como uma mera, e chata,
deve ser encarado como uma responsabilidade coletiva
De que forma podemos montar ou planejar estratégias
formalidade porque o ato de votar se resume a um dia.
e deve conter os mecanismos necessários para que o
com um quadro político como este que se apresenta
Seria preciso que cada eleitor tivesse a real consciência
controle político seja exercido de forma clara, direta
no Brasil?
de todo o processo, incluindo aqui a importância do
e eficiente cada vez que os políticos eleitos pratiquem
O sonho estratégico que procuramos é, por vezes, distor-
acompanhamento o longo dos anos que antecedem as
condutas que desaprovem a confiança e a legitimidade
cido por lógicas de poder e de interesses que alimentam
eleições, no caso brasileiro de uma forma mais precisa
garantida a eles pelo voto.
nossas esperanças, mas que são incapazes de realizar
ao longo de cada dois anos, dada a alternância desne-
A classe política brasileira não está acima dos interesses
nossos sonhos.
cessária de eleições no país.
das pessoas que os elegeram e enquanto esta regra for a
Além disso, seria preciso esclarecer que o processo
diretriz política brasileira pouco alcançaremos no nosso
Pedro Marcelo Galasso - cientista político, professor
eleitoral não deveria ser visto como um processo de en-
estreito horizonte democrático. Cabem aqui algumas
e escritor.
riquecimento pessoal. Como não vivemos em um mundo
palavras sobre a res pública.
e-mail: p.m.galasso@gmail.com
Casos e Causos
Juro que é verdade por Marcus Valle
JURO QUE É VERDADE CXCIII
estávamos na porta do bar ouvimos um
assunto: E SEU IRMÃO....COMO VAI ? Ele
cara do motel achou que ele tinha brigado
Nas décadas de 70 a 90...um dos
grande barulho, e um cara passou cor-
respondeu: MEU IRMÃO TÁ NO PERU,
com a menina, e queria cobrar os danos....
poucos, senão o único bar aberto
rendo, quase nos atropelando. No chão
DANDO MUITO TRABALHO PARA MEUS
houve uma enorme discussão....a garota
a noite toda era o ROSITO ( na época
uma poça enorme de sangue, um corpo
PAIS...FAZ UMA SEMANA. Como o irmão
começou chorar. Pagou a estadia, mas não
não havia conveniências em postos de
caído com um rosto irreconhecível....
era bonzinho, o Marcelo assustou, e como
o espelho. Terminou indo embora bravo....
gasolina). Lá tinha de tudo; insones,
pedaços do cérebro no chão. O cara havia
o menino (de 20 anos) estava no PERU,
sem provar nada....nem a champanhe.
prostitutas, pessoas da noite, e às vezes,
levado um tiro de escopeta calibre 12, à
achou que ele pudesse estar envolvido
alguém que ocasionalmente queria tomar
queima roupa. Álvaro começou a gritar e
num sequestro que se estendia por vários
JURO QUE É VERDADE CXCVII
um lanche de madrugada.
eu perplexo disse; NOSSA!
dias numa embaixada em Lima.
Quando ainda era estudante de Direito,
Perguntou; O PROBLEMA É NO PERU?
O Zico, num final de semana resolveu
O local era tranquilo, embora tivesse um estigma de local perigoso, por funcionar
JURO QUE É VERDADE CXCIV
O QUE É? Ele respondeu: É.....ELE TÁ
ir a uma festa num clube da cidade,
a noite toda. Eu, quando solteiro, even-
Eu e o Marcelo Pupo trabalhamos juntos na
NAMORANDO UMA MENINA DE 17
e se hospedou numa casa de amigos.
tualmente ia até lá para comprar cigarros
defesa de um garoto de São Paulo, classe
ANOS.....ELE É LOUCO.
Foram todos juntos, mas lá se apar-
e tomar café....nunca fui incomodado, ou
alta, e que era extremamente problemático.
É ....o pai deveria estar muito desapontado
taram. Zico bebeu um pouco a mais
vi algo perigoso. Certa madrugada, dia
Primeiro ele se envolveu com um grupo
com o irmão dele.
e quando resolveu ir embora, viu que
de semana, estávamos na praça central
que usava drogas e deu um trabalhão pra
quando um amigo meu, que estava morando
gente conseguir provar que ele não era
JURO QUE É VERDADE CXCVI
casa do amigo. Ao chegar....viu tudo
em São Paulo, ALVARO, me perguntou
traficante. Meses depois, quando achamos
Meu amigo J.W. era e é uma figura, atraia
escuro.....e como não tinha chave....não
se havia algum bar aberto e eu disse que
que ele estava recuperado pelo susto, ar-
situações inusitadas. Certa vez foi ao motel
quis acordar ninguém....pulou o portão
tinha o ROSITO. Ele perguntou se o lugar
rumou uma discussão de trânsito e deu
com uma garota e resolveu romantizar,
de entrada e deitou-se numa cadeira da
era perigoso e eu disse que não. Decidimos
um tiro na direção do outro carro. Mar-
levando uma champanhe (parcimonioso,
piscina, tipo espreguiçadeira. Dormiu
ir até lá. No caminho, ele inseguro, me
celo e eu pegamos pesado com ele: SEU
trouxe de casa). Mal entrou no quarto,
profundamente......até que foi acordado
indagou mais umas 3 vezes, se não havia
MOLEQUE....IRRESPONSÁVEL.....SEU
ele agitou a garrafa e.....PUM .....estourou
a gritos....abriu os olhos e viu vários PMs
perigo, e eu falei; JÁ DISSE E GARANTO
PAI VAI MORRER DE DESGOSTO.....É
a rolha...que quebrou o espelho do teto.
cercando a cadeira. Tinha entrado na
QUE O LUGAR É TRANQUILO.
ISSO QUE VOCÊ QUER?
Chamou a portaria.... para trocar de
casa do Juiz de Direito (Dr. Zari),
Estacionamos o carro e descemos. Quando
Achei que tinha exagerado.....e mudei de
quarto....havia cacos de vidro na cama. O
que era vizinho dos seus amigos.
seus colegas já tinham ido. Foi a pé pra
Saúde
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Jornal do Meio 757 Sexta 15 • Agosto • 2014
Vacina contra HPV desenvolvida
pela USP ganha prêmio Imunização terapêutica, em fase experimental, pode ser indicada a quem já tem tumor causado pelo vírus; Trabalho foi um dos vencedores do Prêmio Octavio Frias de Oliveira
por CLÁUDIA COLLUCCI/FOLHAPRESS
pelo vírus. Segundo a bióloga Mariana de Oliveira Diniz, uma das autoras da pesquisa, os testes em roedores mostraram que a vacina estimulou o sistema imune, que foi capaz de identificar as células pré-cancerígenas e matá-las. O estudo foi publicado na revista “Human Gene Therapy”. Agora, os pesquisadores estão atuando na fase de produção da vacina para a inoculação em humanos. Para o oncologista Paulo Hoff, diretor do Icesp, a pesquisa tem grande potencial no tratamento de outros tumores, já que o HPV está associado a outros tipos de câncer, como os de cabeça e pescoço, de reto e de pênis. “Países desenvolvidos como os EUA não têm tantas infecções pelo HPV e não há muito interesse em fomentar estudos nessa área. Portanto, linhas de pesquisa como essa são fundamentais.”
Linhagem nova
O outro estudo vencedor do prêmio, publicado na revista “PLoS One”, teve o mérito de desenvolver, pela primeira vez no Brasil, linhagens celulares que permitiram a obtenção de um anticorpo monoclonal batizado de Rebmab 200. Enquanto tratamentos convencionais contra o câncer (químio e radioterapias) atingem, ao mesmo tempo, células tumorais e sadias, esses anticorpos são capazes de se ligar a moléculas específicas dos tumores, agindo apenas sobre elas. “Gerar linhagens de anticorpos está alinhado com o que as indústrias fazem pelo mundo”, afirma a bióloga Ana Maria Moro, coordenadora da pesquisa. Segundo ela, há dados que indicam que o anticorpo reconhece 90% dos tumores de ovário, mas serão necessários mais ensaios clínicos para atestar o seu uso terapêutico. Para Paulo Hoff, o país deveria investir mais em pesquisas inovadoras como essas. “Queremos ver a geração de conhecimento novo. Não podemos ficar copiando o que foi feito lá fora.”
PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS
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Estrutura atingida pela osteoporose
"Heavy (?)", game de suspense Cumprimento entre amigos Acha graça
Escola que forma comerciários
Peça do carrilhão A favor de
2, em romanos Artigo de contrato
Estrutura Imposto como o pago pelo leme de autônomo profundidade do avião Paliativa "Socorro!", em morse Universidade onde Bill Clinton estudou Modos de proceder
Nicolas Cage, ator Sintoma de cárie
"Para", em internetês Em tão alto grau
Árvore co- Oscar nífera cuja Tabárez, madeira é técnico de futebol usada na indústria do papel Título do canonizado Subdivisão de linha de energia elétrica
Candidatos preferenciais à adoção (jur.) Plantação frutífera comum em sítios
Glândula atrofiada após a puberdade Clínica de estética 605, em romanos
A corte à qual se submete o militar desertor em tempo de guerra Sedutora
Decilitro (símbolo)
Unidade de pressão atmosférica
Charme (inglês) Fileira A prova de ausência no local do crime Computador da Apple (red.)
Foto: Fabio Braga/Folhapress
BANCO
2/it. 4/rain — timo — yale. 7/anódina — marcial. 8/rupestre. 9/aerofólio.
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Solução P E S T I G I N I A A T R O N O S I S A N O L E R A D O O S R F Ã O O O D L A C I A L V O C A N
A
P R E A R I O Z E N S D I O T B E R M A S I T L I M D O
P I O L R I A C I I N A P T O A L L I T B I A C R A
A médica Angelita Habr-Gama, em sua clínica em SP
T R U O R L I A L B S I P R O S O S Y A C N M E T O A P S O M R A P R O
Uma pesquisa da USP levou ao desenvolvimento de uma vacina terapêutica que ataca lesões e tumores causados pelo HPV (papilomavírus humano), o responsável pela maioria dos casos de câncer de colo uterino. O trabalho, ainda em fase experimental, venceu a categoria Pesquisa em Oncologia da quinta edição do Prêmio Octavio Frias de Oliveira. A premiação é uma iniciativa do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira), em parceria com o Grupo Folha. A láurea leva o nome do publisher da Folha, morto em 2007. Na categoria Inovação Tecnológica, venceu um estudo do Instituto Butantan, feito em parceria com a USP, a Recepta Biopharma (empresa brasileira de biotecnologia) e o Instituto Ludwig. O trabalho gerou uma nova linhagem celular para a produção de um anticorpo monoclonal com potencial de combater células tumorais de ovário, rim e pulmão. Na categoria Personalidade em Destaque, a vencedora é a cirurgiã Angelita Habr-Gama, professora titular da USP e uma das maiores especialistas em câncer de intestino do mundo. Para cada categoria, a premiação é de R$ 16 mil e um certificado. Representantes da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e das academias de medicina e de ciências integraram a comissão julgadora do prêmio. Neste ano, houve 15 estudos concorrentes. Na premiação, haverá também uma menção honrosa ao trabalho de um consórcio de pesquisadores coordenado pela USP de Ribeirão Preto, que permitiu reduzir pela metade a mortalidade de um tipo de leucemia (LPA). O estudo, com 180 pessoas, testou uma mudança no protocolo de tratamento da doença. vacina terapêutica A proposta da imunização terapêutica é aplicá-la em quem já tem alguma lesão ou tumor causados pelo HPV 16 (um dos tipos do vírus), diferentemente das vacinas disponíveis hoje, que impedem a infecção
8
Momento Pet
Jornal do Meio 757 Sexta 15 • Agosto • 2014
A chegada do filhote por Dr. André Alessandri
Um dia muito especial e marcante na vida de qualquer família é o da chegada do filhote. Eles são fofinhos, carinhosos, irresistíveis e deixam qualquer um babando. É um momento delicioso e de muita alegria, mas que também requer alguns cuidados básicos para evitar surpresas desagradáveis. É preciso lembrar que o seu filhote está passando por uma grande transformação. Ele está deixando pra trás sua mãe e seus irmãos, e chegando a um mundo completamente novo. Em minha clínica, costumo atender muitos donos com dúvidas sobre quais procedimentos devem ser adotados. Por isso, vou deixar aqui um pequeno guia para facilitar essa adaptação: • A consulta inicial com o seu Médico Veterinário é muito importante. É um check up geral que permite a ele avaliar as condições do seu filhote e lhe guiar para os próximos passos; • O período da manhã é o mais indicado para a chegada do seu filhote, pois ele terá mais tempo para se ambientar em seu novo lar e conhecer sua nova família; • Coloque um cobertor ou pano com o cheiro de sua mãe e irmãos. Prepare a cama de tamanho adequado em um local protegido da chuva e vento; • Separe um comedouro para a ração e um bebedouro para a água. Deixe-os em um ambiente fresco, que não bata sol; • Procure um ração para filhotes de qualidade, preferivelmente sem corantes. Hoje há disponível no mercado uma variada gama, para diferentes portes e até para
raças específicas; • A ração poderá ser fornecida de quatro a cinco vezes ao dia. Evite deixá-la à vontade no comedouro, pois isso pode atrair ratos, baratas e formigas; • Imponha limites ao filhote. Ele deve saber a quem deve respeitar, e aprender isso desde cedo evita que se torne um adulto problemático. Por exemplo, não permita morder seus tênis, nem móveis da casa, pois quando ele crescer continuará com esses hábitos; • A primeira dose da vermifugação deve ser realizada aos 30 dias de vida, de acordo com o peso do animal. Deve-se ser repetida após 15 dias ou a critério do seu médico veterinário, sempre se lembrando de se verificar novamente o peso do filhote, pois com essa idade eles desenvolvem muito rápido e a dose da primeira pode já não ser adequada; • Entre os 45 e 60 dias, depois de realizada a vermifugação, é chegada a hora da vacinação com uma vacina polivalente (v8 ou v10). No total, devem ser realizadas 03 doses ou mais, a critério do seu médico veterinário, com um intervalo de 21 a 30 dias entre cada uma. Quinze dias após esse ciclo, é devida a vacina anti-rábica; • A prevenção de pulgas e carrapatos deve ser feita logo na chegada do filhote ao seu novo ambiente, ou até mesmo antes dele ir. Procure por marcas confiáveis de laboratórios conhecidos; • É indicada a castração do seu filhote a partir do quinto mês de vida. Ela evita possíveis tumores de mama nas fêmeas e mudanças comportamentais nos ma-
chos, como agressividade e demarcação territorial; • Ao contrário do que muitos pensam, é possível dar banho nos filhotes após 45 dias de vida, desde que nos horários mais quentes do dia e que sejam secos no secador. Também já estão disponíveis no mercado produtos que chamamos de “banho a seco”. Só é indicado levá-lo para banho em um pet shop após sejam feitas todas as vacinas. • Por fim, sempre digo aos meus clientes que evitem passear com seu filhote antes que este esteja com todas as vacinas em dia. Sei que é grande a tentação, mas
precisamos resistir em nome da saúde dos nossos companheiros. Procure brincar bastante com eles em sua própria casa, pois os exercícios são fundamentais para o seu desenvolvimento. Além disso, é recomendável acostumar seu filhote desde cedo a usar guia e coleira, fazendo caminhadas pela casa ou quintal. Espero ter ajudado a esclarecer pontos importantes da sua relação com seu animal. Caso tenha mais alguma dúvida, envie-nos uma mensagem através do nosso facebook. Sua dúvida poderá ser respondida na próxima semana, aqui no Momento Pet.
Arlete e sua Pinscher Safira
Erica, Gabriel e o pequeno Thor
Antenado
Vida de Cinema Cacá Diegues dirige memórias de uma maneira inteligente, autor narra com fluência grande quantidade de fatos desde o cinema novo
por EVANDO NASCIMENTO /FOLHAPRESS
Lê-se com prazer a “Vida de Cinema”, de Cacá Diegues. Gênero pouco praticado entre nossos artistas, as memórias são fundamentais para entender a cultura de um país em determinado período. Sublinhe-se a fluência do texto, a despeito da quantidade gigantesca de fatos que são referidos página após página. Não por acaso, é dado espaço alentado ao cinema novo, com que se confunde grande parte da trajetória do autor. Avulta o nome de Glauber Rocha, tratado com afeto e respeito. Assim, é citada e repetida a frase atribuída a Nelson Pereira dos Santos: “O cinema novo era quando Glauber chegava da Bahia”. Mas a admiração se estende ao conjunto dos colegas que se associaram à estética cinemanovista: Paulo César Saraceni, Ruy Guerra, Joaquim Pedro de Andrade, Leon Hirszman, entre outros. Abundam casos verídicos, bem como algumas mitologias desse movimento que ganha o mundo na década de 1960 e começa a perder vigor no final da de 1970. Ao longo dos anos, as colaborações vão se somando, mas também as polêmicas, e com isso os desafetos afloram no seio do grupo, em particular na relação de Cacá com Saraceni e Joaquim Pedro. Para todos os episódios, o autor fornece interpretações, costura roteiros, atribui falas e marcações, dá cortes. Trata-se de inteligentíssimo trabalho de direção. Como quem sabe que é impossível
conduzir o futuro, mas é viável reconfigurar o passado, segundo a força da memória (voluntária ou involuntária). Fica claro que a riqueza de um livro desse porte está em não temer dar sua própria versão, procurando não ferir brios alheios, mas sem deixar de justificar suas próprias atitudes. Exatamente por esse motivo seria fundamental que surgissem outras autobiografias dos remanescentes da geração do cineasta, bem como das gerações subsequentes, com que ele continuou a se relacionar. A verdade histórica só pode emergir no confronto das versões. Composto de sucessivos verbetes, o texto se interrompe no ano de 1995, para evitar a proximidade excessiva. Pode-se aqui e ali apontar o zelo vaidoso de quem cita e comenta sobretudo as críticas positivas sobre seus filmes. Porém, o balanço geral da narrativa é favorável às intenções de um artista-pensador que se deu a pena de recordar tantos acontecimentos, muitos provavelmente já esquecidos pela memória coletiva. Evando nascimento é professor universitário, ensaísta e escritor. Autor de “Cantos Profanos” (Globo Livros). Vida de cinema Autor: Cacá Diegues Editora: Objetiva Quanto: R$ 59,90 (696 págs.) Avaliação: ótimo
Foto:Daniel Marenco/Folhapress
O cineasta Cacá Diegues posa para retrato no centro do Rio
Comportamento
Jornal do Meio 757 Sexta 15 • Agosto • 2014
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Sexo sem dúvidas Livro desvenda alguns dos principais mitos sobre sexo e mostra como excesso de informação dá origem a crenças
por MONIQUE OLIVEIRA/FOLHAPRESS
Folhapress
Ainda há mitos que rondam a sexualidade dos jovens como nas gerações passadas. E hoje, é o excesso de informação e a ausência de orientação qualificada que dão espaço para novas crenças, segundo Aaron Carroll e Rachel Vreeman, professores de pediatria da Universidade de Indiana (EUA) que acabam de lançar o livro “Don’t Put That in There!: And 69 Other Sex Myths Debunked” (algo como “Não Coloque Isso Naquilo”, em tradução livre). “Há mais conhecimento disponível, mas isso significa também que há mais informação errada”, afirmou Rachel Vreeman à Folha. “Muitos preconceitos são ditos com roupagem científica na forma de ‘regras’.” O rapaz, se não está ejaculando como no filme pornô, já chega ao consultório dizendo que tem ejaculação precoce. E a moça ainda diz que quer evitar a pílula porque pode engordar. As crenças, diz a autora, ganham mais força quando têm por objeto um tabu, como o sexo anal. Há um mito de que a prática facilita o surgimento do câncer. Os autores dizem que até há uma associação entre o HPV, vírus sexualmente transmissível, e o câncer colorretal, mas não uma relação entre a prática sem o contágio e a doença. O que era verdade antes também pode virar mito com os avanços da medicina. Hoje, os DIUs (dispositivos intrauterinos) modernos não causam infecções, ao contrário de um modelo do passado. E as pílulas, com doses baixas de hormônios, não favorecem o ganho de peso. Nos consultórios, a percepção é de que mitos aumentam os riscos à saúde. “O jovem sabe que deve usar camisinha, mas pensa que isso não vale para a primeira vez”, diz Paulo César Pinho Ribeiro, professor de pediatria da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. “O adolescente não tem condições de digerir muito do que vê na rede”, diz Maurício de Souza Lima, hebiatra do Hospital das Clínicas de São Paulo. Dúvidas comuns e individuais, como tamanho do pênis e medos relacionados à masturbação, segundo especialistas, sempre surgem e demandam atenção personalizada --dos pais e de médicos.
Prevenção
Segundo o último PeNSE (Pesquisa Nacional de Saúde Escolar), do IBGE, 89,1% dos alunos do 9º ano do fundamental (antiga 8ª série) dizem ter tido informações sobre doenças sexualmente transmissíveis na escola. Essas instruções, porém, nem sempre levam a práticas saudáveis. “Elas devem vir com uma comunicação verdadeira”, afirma Lima. “E isso quer dizer, por exemplo, que os pais deixem de ter expectativas de que a iniciação sexual do jovem simplesmente não vai acontecer.” don’t put that in there! and 69 other myths debunked
editora St. Martin’s Griffin preço US$ 8,80 (e-book), 269 págs.
Sexo, segredo e traição
Taxistas testemunham traições conjugais e recebem cantadas de mulheres e também de homens Mirian goldenberg
Uma conversa com um taxista do Rio de Janeiro pode se tornar uma verdadeira aula sobre o mundo secreto do sexo e da traição. Um taxista de 49 anos me contou: “As pessoas se sentem seguras aqui dentro, desabafam, contam segredos. Eu gosto de escutar as histórias, gosto de conversar. Muitas vezes a corrida dura mais de uma hora. No final, já somos amigos íntimos”. Outro, de 62 anos, disse: “Todos os dias recebo alguma cantada no táxi. A maior parte de mulheres na faixa dos 50, 60, 70 anos. Se a conversa é boa, elas me convidam para beber alguma coisa. Eu ganhei este anel de ouro de uma coroa de 56 anos que mora numa cobertura do Leblon. Outra me deu uma camisa de mais de trezentos reais”. Ele explicou a ousadia delas: “Se eu recusar o assédio, ela nunca mais vai me ver na vida. Se eu aceitar, sei como deixar uma coroa muito satisfeita. Ela não tem nada a perder. Por que não arriscar?”. Eles dizem que é muito comum receberem convites para ir ao apartamento das passageiras e deixar o taxímetro correndo na bandeira dois. “É só observar a quantidade de táxis vazios parados nas ruas. O que você acha que os motoristas estão fazendo?”. Um taxista de 53 anos disse: “Tem muita garota que se oferece para fazer sexo oral só para não pagar a corrida. São estudantes, gatinhas da zona sul. Elas fazem por diversão, não precisam de grana”. Eles afirmam que, além de serem alvos das mulheres, também são muito assediados por homens. “Eles sentam no banco da frente e colocam uma nota de cem reais na minha coxa. Se eu ignoro, eles colocam outra nota de cem. Ficam olhando ostensivamente para a minha braguilha. É incrível a quantidade de ‘viado’ no Rio de Janeiro”. Contam que é muito frequente testemunharem traições conjugais. “Outro dia um executivo de terno e gravata dizia para a esposa pelo celular que iria chegar tarde porque tinha uma reunião de trabalho. Deixei o cara num bar e ele foi recebido com o maior beijo na boca. Só um detalhe: de outro homem”. Para minha surpresa, descobri uma realidade que eu desconhecia completamente: um mundo em que o sexo ocupa um lugar central e no qual as mulheres podem ser muito agressivas no jogo da conquista. Você sabia que os homens também são vítimas de assédio sexual? Mirian goldenberg é antropóloga, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autora de “A Bela Velhice” (Ed. Record) www.miriangoldenberg.com.br
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veículos
Jornal do Meio 757 Sexta 15 • Agosto • 2014
0 a 100 km/h em 3,1 s Porsche 911 Turbo remete ao lançamento de um foguete e deixa motorista sem respirar ao bater recorde de aceleração no ranking Folha-Mauá
por RODRIGO MORA /FOLHAPRESS
Ao romper os 100 km/h em 3,1 segundos, o novo Porsche 911 Turbo se tornou o carro mais rápido a passar pelo teste Folha-Mauá. Associados friamente numa folha de papel, contudo, tais números têm pouca importância se não forem acompanhados da mistura de medo e excitação que é ser arremessado aos 100 km/h em tão pouco tempo. O procedimento anterior à arrancada remete ao lançamento de um foguete. Antes de tudo, é preciso ativar o controle de largada apertando o botão “Sport Plus”. Com o pé no freio, aperta-se o acelerador. O giro sobe e um sinal alerta: o “launch control” está ativado. Em tese, basta soltar o pé do freio. Mas é preciso mais. É preciso coragem para continuar com o pé no acelerador. O arranque é violento e mais rápido do que os reflexos do motorista, que tem dificuldade para realizar funções básicas, como segurar o volante e respirar. O peito aperta, e os olhos parecem querer saltar
do globo. O 911 Turbo rompe os 100 km/h em 3,1 segundos, mas o motorista demora um pouco mais do que isso para recobrar totalmente os sentidos. QUASE DISCRETO Mas o 911 Turbo, que custa R$ 949 mil, não impressiona só na aceleração. A posição de guiar é perfeita, rente ao assoalho. Grande parte da ergonomia é mérito do volante, de pegada e diâmetro impecáveis. O defeito é não ser forrado em camurça, para absorver melhor o suor fruto da adrenalina que não baixa. A direção é afiada e precisa no ataque mais feroz às curvas. Mas, assim como todo o carro, pode amansar quando o prazer está em desfrutar os luxos da cabine. Esta é a essência do 911 Turbo: ser um carro luxuoso e confortável num instante e segundos depois se tornar um superesportivo. Mais precisamente, em 3,1 segundos.
40 anos de velocidade Grande parte da tecnologia usada no 911
Turbo vem da experiência em competições como F-1 e as 24 Horas de Le Mans Rara é a fabricante de veículos que não recorreu ao automobilismo como fonte de avanços tecnológicos para seus carros de rua. Quando lançou o 911 Turbo, em 1974, o Carrera RSR já disputava o Campeonato Mundial de Marcas usando motores turbocomprimidos. A tração integral só chegou ao 911 Turbo em 1995, mas distribuir a potência entre as quatro rodas já era prática comum nas pistas desde a década passada. Seu relacionamento com o automobilismo é antigo. Em 1954, cria um 550 Spyder especificamente para corridas, que logo de cara ven- ce em sua categoria na clássica competição Carrera Panamericana. Em 1962, conquista o GP da França de F-1 com o Type 804. A busca por novas tecnologias levou a fabricante a outras competições, como o rali Paris-Dacar (com um 959), e até
mesmo a um retorno à Fórmula 1, em que foi campeã três vezes, ainda que apenas como fornecedora de motores. Em 1990, é criada a Porsche Cup, categoria monomarca com carros tecnicamente idênticos aos de rua.
Le mans Nada se compara, no entanto, à hegemonia nas 24 Horas de Le Mans. São 16 vitórias na categoria prin- cipal e mais de cem nas secundárias. Boa parte do museu da Porsche, em Stuttgart, é dedicada aos modelos vitoriosos --sobretudo o lendário 917, que dominou a competição no início dos anos 1970 e deu origem às célebres pinturas da Martini Racing e da Gulf Oil. Outros carros também marcaram a competição, como o 936/77. Primeiro Porsche com motor turbo (2.1 de 540 cv) a vencer Le Mans, tem três vitórias no currículo. O modelo de 1981, pilotado por Jacky Ickx, venceu a edição daquele ano com 14 voltas à frente do segundo. Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress
veículos eículos De 1982 a 1994, o 956 e seu sucessor, o 962, venceram a prova de longa duração seis vezes. Após uma ausência de 16 anos, a Porsche volta a Le Mans em 2014. “930” - 1974 a 1989 Turbo inaugura nova era para a marca alemã Aos 11 anos de vida, o 911 ganha a versão Turbo. O estreante se junta a modelos como Lamborghini Uracco e Ferrari Dino no mundo dos esportivos e automaticamente vira o carro-chefe da marca alemã. Trazia luxos como bancos com ajuste elétrico, e um motor 3.0 de 260 cv e 35 kgfm de torque levava o cupê aos 250 km/h de velocidade máxima --números impressionantes para a época. Em 1977, a cilindrada sobe para 3,3 litros, levando potência e torque a 300 cv e 44 kgfm, enquanto a velocidade máxima saltava para 260 km/h. Em 1987 chega a versão conversível. No seu último ano de produção, em 1989, ganha a quinta marcha. “964” - 1990 a 1994 Segunda geração ganha potência e vai a 270 km/h Construído sobre nova plataforma, manteve o mesmo motor 3.3, mas agora com 320 cv e 44 kgfm de torque. A nova configuração levava o esportivo aos 270 km/h de velocidade máxima, o que obrigou a Porsche a redimensionar freios e suspensões. A segunda geração é marcada pela consolidação do Turbo S, sempre um pouco mais potente que o Turbo, e pelo surgimento de versões mais radicais. O 911 Turbo S Leichtbau, por exemplo, tinha 381 cv. Além da potência extra, pesava menos graças a um tipo de vidro mais fino usado nas janelas, entre outras modificações. Ao todo, apenas 3.600 unidades do 911 “964” foram produzidas. “993” - 1995 a 1998
Jornal do Meio 757 Sexta 15 • Agosto • 2014 Com tração 4x4, carro é o último refrigerado a ar É na terceira geração que o 911 Turbo dá o primeiro grande salto em tecnologia. Uma das principais mudanças está nas rodas motrizes: para a Porsche, seus carros de rua com mais de 400 cv só poderiam ser aproveitados com segurança se tivessem tração integral, e não apenas traseira, como até então. O motor, que no final da geração anterior teve a cilindrada ampliada para 3.600 cc, vira biturbo e chega a 408 cv. Além da tração integral, um inédito câmbio manual de seis marchas chega para administrar melhor tanta força. Quando saiu de linha, o “993” levou com ele os motores refrigerados a ar. “996” - 2000 a 2005 Primeiro motor a água rompia os 300 km/h A essa altura, aumentar a potência (no caso, para 420 cv) a cada novo modelo já era uma obviedade. O que talvez os fãs não esperassem era a revo- lução imposta a um carro que por quase três dé- cadas mantivera o mesmo conceito. A quarta gera- ção inicia uma nova era na história do 911 Turbo com motores de arrefecimento líquido. O “996” ainda estrearia recursos de segurança e conforto, como controle de estabilidade e o câmbio automático (Tiptronic), já comum ao restante da linha 911. Abandonado nas gerações “993” e “964”, o 911 Turbo Cabriolet é retomado, agora com capota de acionamento elétrico. “997” - 2006 a 2012 Estilo clássico volta, e câmbio se sofistica O estilo do 911 anterior, cujo conjunto ótico trazia faróis de neblina integrados aos principais, não agradou muito aos fãs do modelo. A quinta encarnação encerra a polêmica e volta às origens estilísticas, com faróis separados. Resolvida a questão visual, a Porsche se
concentra na dinâmica: um inédito sistema permite que as palhetas das duas turbinas tenham seu ângulo de abertura alterado conforme a rotação do motor, ampliando a eficiência do turbo tanto nos giros mais
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baixos quanto em altas rotações. Em 2008, o câmbio Tiptronic dá lugar a um automatizado de dupla embreagem (PDK), mais preciso e rápido nas trocas. Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress
Foto: Eduardo Anizelli/Folhapress
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