Braganรงa Paulista
Sexta
10 Outubro 2014
Nยบ 765 - ano XIII jornal@jornaldomeio.com.br
jornal do meio
11 4032-3919
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Para pensar
Jornal do Meio 765 Sexta 10 • Outubro • 2014
Devaneios sobre as
mudanças na política por Mons. Giovanni Baresse
Já faz tempo que ouvimos
que os sonhos são as realizações
rias quero apresenta-las. Corro
consecutivos que se constroem,
pronunciamentos sobre a
dos desejos que a gente não pode
o risco que alguém não goste
na maior parte das vezes, no
Expediente Jornal do Meio Rua Santa Clara, 730 Centro - Bragança Pta. Tel/Fax: (11) 4032-3919
necessidade de Reforma
expressar, não pode realizar sem
delas. Mas nesse sonho não de-
clientelismo de favores. Acabaria
na Política. Quando os projetos
que surjam conflitos. Afirma,
sejo prejudicar ninguém! Vamos
o uso da máquina administrati-
ou indicações chegam ao Poder
com essa frase, que por motivos
a elas: 1- Quem tem mandato
va. 4 – As medidas acima fariam
Legislativo eles emperram. Mo-
de educação, fé religiosa, de boa
deve, obrigatoriamente, termina-
com que surgissem partidos com
tivações, as mais variadas, são
convivência há muita coisa que a
-lo. É proibido candidatar-se a
ideologia e propostas de linhas
invocadas. Algumas iniciativas
gente gostaria de fazer, mas dei-
outro cargo enquanto se estiver
de governo. Isso impediria o
populares tiveram êxito. A lei da
xa de fazer pelas consequências
investido de função para a qual
nascer dos “donos” de partido
“Ficha Limpa” é um exemplo.
que adviriam. Esses desejos do
se foi eleito. Assim o trabalho
ou donos de vagas cativas.
Mas é preciso avançar para que
nosso inconsciente permanecem
não seria abandonado para fazer
5 – Ficaria aberto campo para
a ação política se torne, cada vez
no campo onírico. Creio que a
campanha. Presidente, senado-
candidatos mais representativos
mais, instrumento de construção
Reforma Política faz parte do
res, deputados, governadores,
das correntes de pensamento e
da justiça social e expressão
campo dos sonhos. No sentido
prefeitos e vereadores devem
das realidades locais. Entraria
real dos anseios da população.
que a grande parte da população
terminar o mandato. Onde é que
aqui a representação de linha
Pudemos acompanhar mais uma
sonha com ela, mas tem muita
se baseia o direito de abandonar
distrital mista. Há, certamente,
temporada dos embates que
dificuldade em organizar-se pa-
o trabalho para fazer campanha
ideias e sugestões muitíssimo
antecedem eleições. Como já
ra impulsioná-la. Há ainda um
para outra função? E ainda se
melhores das que aqui apresento.
afirmei, em artigos anteriores, o
forte pensamento individualista,
recebe o salário sem trabalhar!
Eu apresento meus devaneios
que menos se viu e ouviu foram
imediatista. Por parte daqueles
2 - A reeleição é proibida. Nin-
como introdução à suposição que
indicações programáticas. As
que a poderiam implementar há
guém pode exercer o mesmo
é necessário encontrar caminhos
investidas foram direcionadas
interesse em mudar o que não
cargo em eleição consecutiva.
mais aderentes à realidade que
para desqualificar adversários.
afetaria a perda do mandato ou a
3 - Será permitido apresentar-se
todos querem diferente. Quem
é fundamental para a convivên-
Pensando em como poderíamos
dificuldade em obtê-lo. Em todo
como candidato a um cargo já
faria essa reforma? Como ela
cia social. Para que o sagrado
superar esse jeito de fazer política,
caso “bolei”, sonhadoramente,
exercido passadas duas eleições
poderia realizar-se? Penso, sem
alicerce do Bem Comum esteja
que está entranhado em nosso
algumas propostas que, a meu
(intervalo de oito ou dez anos
dúvida, que um primeiro passo
na base de qualquer discussão.
modo de ser, andei cismando com
ver, revolucionariam tanto a
para candidatar-se conforme a
seria a mudança da mentalidade
A partir dos interesses comuns
algumas propostas. Lembrei-me
política dos partidos como a
duração prevista para o mandato).
dos eleitores. O primeiro princípio
se deduziriam as prioridades e
de uma afirmativa de Sigmund
ação popular. Mesmo sabendo
Estas medidas acabariam com o
seria formar consciência que a
estratégias. Será que estou
Freud, pai da Psicanálise. Ele diz
que poderão parecer simpló-
“profissionalismo” de mandatos
intervenção na política partidária
sonhando demais?
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As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão. As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Bragança Jornal Diário.
Comportamento
Jornal do Meio 765 Sexta 10 • Outubro • 2014
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Digital ou analógico
Estudos avaliam diferenças na compreensão de texto de quem lê livros eletrônicos e de papel; tecnologia parece beneficiar pessoas com dislexia
por REINALDO JOSÉ LOPES/FOLHAPRESS
O hábito de ler em meios digitais ainda é minoritário menos de 5% dos livros vendidos hoje no Brasil são e-books, enquanto o número nos EUA chega a 25%, mas cada vez mais pessoas aderem aos livros eletrônicos. Faz alguma diferença, para o bem ou para o mal? Comparações entre os dois tipos de leitura indicam um empate técnico. Por um lado, é possível que ler uma narrativa num e-reader (aparelho projetado para a leitura digital) atrapalhe um pouco a percepção que a pessoa tem da estrutura da história, ainda que não interfira em outros aspectos. Por outro, a possibilidade de personalizar detalhes do texto parece ajudar quem tem dificuldades de ler no papel. A ligeira desvantagem do leitor digital foi identificada num estudo liderado por Anne Mangen, da Universidade de Stavanger, na Noruega. Ela dividiu 50 estudantes em dois grupos um tinha de ler a versão em papel de um conto da americana Elizabeth George, enquanto o outro lia o texto num e-reader Kindle. Depois, tinham de responder a perguntas sobre o conto. A percepção sobre os personagens da narrativa, por exemplo, não variou de forma significativa entre os grupos, e a sobre objetos da história foi até melhor entre quem lia via e-reader, mas os usuários do Kindle sofreram mais para identificar a sequência correta de acontecimentos na trama. Já a equipe de Matthew Schneps, do departamento de educação científica do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica (EUA), trabalhou com mais de cem adolescentes com dislexia (dificuldade de leitura e escrita). A comparação foi entre ler em papel e em iPods Touch configurados para mostrar de duas a três palavras por linha em letras grandes. O resultado: os adolescentes com mais dificuldade para captar o som das palavras, bem como os que tinham menos capacidade de atenção visual, tiveram melhora significativa na velocidade de leitura e na compreensão. A possibilidade de personalizar os aparelhos é um dos trunfos dos e-readers, afirma Carla Viana Coscarelli, especialista em letramento digital da Faculdade de Letras da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). “Do ponto de vista da acessibilidade, isso é um achado. O mesmo vale para a
conversão de texto para áudio no caso de leitores com deficiência auditiva”, compara. No entanto, no caso de leitores sem grandes dificuldades, ela aponta que não há diferença entre os meios. “O trabalho cognitivo de fazer inferências e perceber ideias implícitas é o mesmo”, diz. “A situação ainda é muito fluida, porque os dois tipos de leitura continuam misturados, e essa transição vai ser demorada”, diz Ana Elisa Ribeiro, doutora em linguística aplicada e professora do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais.
Uma das variáveis que influenciam os hábitos de leitura é a relação da pessoa com cada tipo de livro. E-readers e tablets têm tido impacto grande em quem lê textos acadêmicos nesse caso, a tendência é trabalhar só com o formato eletrônico. “Por outro lado, vi um estudo interessante com aqueles romances populares femininos, do tipo ‘Júlia’ e ‘Sabrina’. Nesse caso, as pessoas tendem a comprar em papel uma grande quantidade de títulos, em especial os preferidos delas”, diz Ana Elisa. Também não parece haver diferença no tempo de leitura entre livros digitais e
impressos, ou mesmo no nível de concentração. “Mesmo que você esteja ouvindo música e lendo no tablet ao mesmo tempo, sua atenção só vai ter um único foco”, exemplifica Ana Elisa. “É uma faca de dois gumes. Outros aplicativos podem acabar tirando você do texto, mas você também pode usá-los para procurar uma palavra no dicionário, acessar vídeos ou blogs sobre o tema. A experiência de leitura não necessariamente fica mais dispersa pode se tornar mais aprofundada.” Crédito: Folhapress
Melhoramento pessoal e eugenia Há uma diferença nada sutil entre o aperfeiçoamento individual e a manipulação para ‘melhorar’ a espécie
por SUZANA HERCULANO-HOUZEL/FOLHAPRESS
Assim como o mau uso da tecnologia não deveria depor contra tecnologias e o que elas podem contribuir para uma vida melhor, o mau uso da ciência não pode denegrir a imagem da ciência. Mas infelizmente há quem deturpe uma e outra a serviço de suas ideologias e, para meu espanto, acabo de ver um jovem cientista suíço propor, em uma palestra em um festival de ciência para o público leigo em seu país, que ciência e tecnologia sejam usadas em massa para o “melhoramento da virtude da espécie humana.” Por um instante, pensei que fosse pegadinha para ver até quando o público aguentaria calado, já que o tema do festival era justamente pensamento crítico. “Mas se
isso é sério, é eugenia!”, comentei com o especialista do Comitê Europeu de Ética, sentado ao meu lado, tão chocado quanto eu. O organizador, surpreso com o palestrante que substituía outro de improviso, veio nos suplicar que confrontássemos o rapaz em público. O que o jovem filósofo no palco defendia e chamava de “engenharia da virtude”, citando todos os nomes certos de pesquisadores da neurociência moral e emocional como “base”, é o uso em massa da modificação genética, da seleção de embriões e da manipulação farmacológica, com substâncias como oxitocina, sobre toda a sociedade, para “promover o altruísmo, a sociabilidade, a empatia em nossa espécie”. Em
suma: para tornar nossa espécie “melhor, com menos variabilidade”. Soa familiar? Hitler e seus “cientistas” foram craques no assunto. Mas o jovem propõe que uma sociedade tornada mais empática e altruísta só pode ser uma coisa boa, não? Não. Não quando ela é um ideal pessoal, e sobretudo não se esse ideal for imposto sobre indivíduos à sua revelia, como a espécie ariana “superior” que Hitler almejava. Essa é a diferença nada sutil entre o melhoramento individual, que tantos de nós buscamos com educação e remédios para corrigir doenças e deficiências, e o uso impositivo de modificação genética e manipulação farmacológica para “melho-
rar a espécie”. Por mais atraente que soe o ideal de uma sociedade mais pacífica e amigável, uma de nossas maiores riquezas é a diversidade além da liberdade pessoal. Nossos protestos e tentativas de conversa foram inúteis; o jovem está convencido de que sua causa é nobre. Ao menos ele não é um perigo muito grande: a eugenia, ainda bem, é crime na Suíça. Suzana herculano-houzel é neurocientista, professora da UFRJ e autora do livro “Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor” (ed. Sextante) e do blog www. suzanaherculanohouzel.com suzanahh@gmail.com
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Jornal do Meio 765 Sexta 10 • Outubro • 2014
por Shel Almeida
Preservar a história não é apenas vamos ficar com o material digitalizado manter memórias e lembranças que estará disponível para pesquisa. Essa vivas, é também dar veracidade a pesquisa poderá acontecer aqui mesmo fatos passados, entender o contexto social no CDAPH ou online. É uma trabalho que de uma época e descobrir o porquê de hoje pressupõe um diálogo com a comunidao tempo presente em que vivemos, se en- de e uma colaboração. E na construção contra desta ou daquela maneira. Quando dessa contrapartida, de alguma forma, recordamos de uma determinada época, estamos trabalhando para a preservação lembramos primeiro a nível global e, aos e o acesso de acervos, mas também com poucos, vamos trazendo as lembranças para educação patrimonial, porque assim se um nível mais próximo de nós, de nossa começa a sensibilizar as pessoas sobre a importância dos acervos que elas possuem. cidade, nosso bairro, nossa própria vida. Mas, o que seriam dessas lembranças Não existe da nossa parte a intenção de sem os documentos? Como saberíamos ficar com nenhum documento que seja que tipo de roupa as pessoas usavam na de natureza pública. Se tiver uma escola, década de 30 se não fossem as imagens? instituição, órgão público, igreja, alguém Como comprovaríamos que no começo que tenha um documento que a gente do século passado as palavras com a letra considere que é importante para a história “f” eram escritas com “ph”, se não fossem ou para pesquisa, ele pode trazer pra cá. os livros e jornais preservados até hoje? A gente faz o mesmo que fizemos com os Guardar esses documentos é mais do que documentos do Tibiriçá, desinfestar, digitalembrar de costumes que não existem lizar e devolver. Ou se quiserem depositar mais, é encontrar os antepassados, saber esses documentos aqui por um período e depois pegar de volta, também não tem como viviam, como pensavam. Preservar o passado é entender o presente problema”, explica Fátima Guimarães, e contribuir para a criação do futuro. No coordenadora do CDPAH. entanto, de nada valem os documentos se ninguém tiver acesso a eles, se ninguém se debruçar sobre eles para tentar entendê- Uma das coleções de documentos en-los e descobri-los. E, é aí que se percebe a contrados no acervo do CDAPH são de importância de acervos e centros de pes- periódicos datados de 1873 a 2011. A quisas, como é o caso do CDAPH - Centro coleção é formada por revistas, boletins, de Documentação e Apoio à Pesquisa em jornais, anuários e almanaques. Os títulos História da Educação, da Universidade São pertencem, em sua maior parte, ao períFrancisco. Ali são desenvolvidas atividades odo que se estende de fins do século XIX voltadas à identificação, coleta, preserva- à segunda metade do século XX. Além ção, tratamento e divulgação de acervos de títulos internacionais, destacam-se a de natureza arquivista e bibliográfica. existência de periódicos nacionais como: No CDAPH da USF é possível encontrar Fon-Fon, Careta, Revista da Semana, Culdiversas coleções de acervos, como o tura, Excelsior, Anhembi. Entre os jornais, Fundo do Poder Judiciário da Comarca de destacamos títulos relativos à história da Bragança Paulista entre os anos de 1798 imprensa em Bragança Paulista: o Guarie 1980; processos de pocaba, Notícia e Lyrio, habilitação de casaentre outros. mentos ocorridos em Consultar esses docuBragança, entre os mentos é verificar o pasanos de 1891 e 1961; sado para compreender Memória do Município o presente. É o que o Fátima Guimarães entre os anos de 1802 e Jornal do Meio faz hoje, 1983, Coleção de Saúde relatar fatos e histórias e Higiene dos anos 1828 a 1999, além do de pessoas e de uma época, registrar um Fundo Ernesto Leme, doado pela família período da história da cidade que será do ex- promotor, deputado e diretor da lembrado ou descoberto, provavelmente Faculdade de Ciência Econômicas da USP. pesquisado daqui há algumas décadas. É falar do hoje para preservar o ontem e entender o amanhã, ajudando a construir O que o CDAPH faz não é apenas guardar um patrimônio histórico e imaterial. documentos, mas realmente preservar e Para Fátima, “pensar patrimônio é pensar dar acesso a pesquisadores. Todo material o agora, patrimônio para quem, de quem? que chega ali, passa por um processo de A gente não usa expressão resgate, porque desinfestação antes de ir para as prateleiras a memória não está pronta e nem a histódo acervo. E isso, muitas vezes, acontece ria, elas estão sendo construídas. Eu acho graças a parcerias com outras instituições, que está acontecendo uma mudança de como é o caso do Fundo do Poder Judiciário, pensamento em relação à memória e ao que se encontra no CDAPH mas pertence a patrimônio e o trabalho que realizamos aqui Comarca de Bragança Paulista. Um outro no CDAPH é um trabalho que contribui exemplo de parceria são os anuários da para essa mudança, que não é de um dia Escola Tibiriçá, que foram levados para o para o outro”, fala. Centro de Documentação para serem desin- Além da preservação de acervos, o CDAPH festados e, como contrapartida, estão sendo realiza, ainda, a preservação da memória digitalizados e serão disponibilizados para por meio de encontros e palestras, na série pesquisa. “Esse acervo veio para cá porque “Colóquio Cidade e Educação Patrimonial: era importante, o Tibiriçá é o primeiro grupo por entre Histórias e Memórias”. O último escolar da cidade, tem um peso muito grande foi realizado em setembro e o próximo está marcado para novembro. para a memória de Bragança. Nós assumimos um termo de compromisso com o diretor da escola, Sérgio Moraes, de Para saber mais sobre o trabalho do CDAque desinfestaríamos e digitalizaríamos PH, horário de visita e a programação dos essa documentação e levaríamos de volta Colóquios, os interessados podem entrar pra lá. Em contrapartida desse serviço em contato pelo telefone 11 2454-8099 que prestamos para a comunidade é que ou pelo e-mail cdaph@usf.edu.br
Sandra, Fátima e Isidoro, parte da equipe do CDAPH da USF. Centro de Documentação e Pesquisa trabalha para preservar e manter a memória histórica.
Constriur a memória
Sandra Souza digitaliza documentos vindos da Escola Tibiriçá que, em breve, estarão disponíveis para pesquisa.
A memória não está pronta e nem a história elas estão sendo construídas
Preservação e acesso
Isidoro Toledo é responsável pelo processo de desinfestação do que chega ao CDAPH. Serviço é oferecido a quem desejar preservar algum material histórico relevante.
Nicolino Maziero mostra como é feita a manipulação dos documentos depositados no CDAPH: máscara. luva e avental.
Jornal do Meio 765 Sexta 10 • Outubro • 2014
Crédito: Folhapress
por BRUNO ROMANI/FOLHAPRESS
Na semana passada, a Microsoft anunciou a compra da Mojang, produtora responsável pelo popular jogo “Minecraft”, por US$ 2,5 bilhões. O negócio completou um ano movimentado para os gigantes da tecnologia. Amazon, Apple, Facebook, Google, Microsoft e Yahoo! não foram apenas mais as compras de empresas emergentes, como voltaram para casa com os nomes mais falados e promissores de diversos segmentos tecnológicos. Cada uma das seis gigantes tem pelo menos um nome de peso em sua lista de aquisições de empresas. A Amazon levou por quase US$ 1 bilhão o Twitch, serviço de streaming de vídeos especializado na transmissão de games. A Apple papou por US$ 3 bilhões a Beats, famosa pelos fones de ouvido e responsável por um serviço de streaming de música. Por US$ 3,2 bilhões, o Google comprou a Nest Labs, nome de ponta no segmento de automação residencial. A companhia foi fundada por Tony Fadell, conhecido como um dos pais do iPod na Apple. Mais modesto, o Yahoo! adquiriu a Flurry, importante na área publicitária. A maior compra do ano, porém, foi do Facebook: a aquisição do aplicativo WhatsApp custou US$ 19 bilhões. A compra de empresas emergentes (conhecidas como start-ups) por gigantes da tecnologia é uma prática recorrente. O que é incomum é o fato de todos as gigantes do setor investirem em nomes importantes em tão curto espaço de tempo. Entre outubro de 2012 e setembro de 2013, as principais aquisições foram menos empolgantes: Goodreads (Amazon), HopStop (Apple), Monoidics (Facebook) e Waze (Google). A Microsoft levou a combalida Nokia. A exceção do período foi o Yahoo!, que papou o Tumblr. Além da importância dos negócios, o número deles também aumentou. Entre outubro de 2013 e setembro de 2014, Apple, Facebook e Google fizeram mais compras em relação ao mesmo período do ano anterior. Amazon e Microsoft tiveram o mesmo número de aquisições. Só o Yahoo! teve queda (de 22 para 20), mas, ainda assim, foi o segundo maior comprador. O Google, além de aparecer em primeiro no ranking, teve um grande aumento, de 11 para 39 aquisições.
Direção A compra de emergentes aponta para onde os principais nomes da tecnologia estão olhando. “A aquisição de uma start-up é uma maneira de uma empresa ganhar tempo no desenvolvimento de tecnologias”, explica Guilherme Junqueira, gestor de projetos da Associação Brasileira de Start-ups. Nesse sentido, o Google parece determinado a criar um mundo futurista, quase de filme. Um terço das 39 aquisições estão ligados a robótica, inteligência artificial, automação residencial e drones --segmentos quase sempre conectados entre si. Enquanto isso, o Facebook tenta manter sua posição em todos os ambientes com características sociais. Além do WhatsApp, comprou o app Moves, que produz dados de exercícios associados à geolocalização, e a Oculus VR, empresa que desenvolve um óculos de realidade virtual. A Microsoft fez compras para manter seu sucesso com clientes corporativos (seis dos oito negócios). Apple para aprimorar seus serviços e dispositivos --metade de suas compras está associada a recomendação e streaming de conteúdo e fabricantes de componentes de hardware. Entre as empresas que faturam com publicidade, houve investimento aprimorar os ganhos, principalmente aqueles originados nos dados de usuários. Facebook, Google e Yahoo! levaram juntas 12 start-ups de publicidade. iPhones 6 Apple vende 10 milhões de iPhones 6 em três dias, número supera em um milhão o resultado dos iPhones 5s e 5c, lançados há um ano A Apple anunciou que vendeu mais de 10 milhões de unidades do iPhone 6 e do iPhone 6 Plus no primeiro fim de semana de lançamento dos aparelhos. O número supera o resultado dos primeiros três dias dos iPhones 5s e 5c no ano passado, quando nove milhões de dispositivos foram comercializados, e estabelece um novo recorde. “As vendas do iPhone 6 e do iPhone 6 Plus superaram nossas expectativas para o lançamento de fim de semana. Não poderíamos estar mais orgulhosos”, disse o executivo-chefe Tim Cook por meio de comunicado.
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Reflexão e Práxis
Jornal do Meio 765 Sexta 10 • Outubro • 2014
O processo eleitoral por pedro marcelo galasso
tempo público e do seu dinheiro é gasto
do nosso processo eleitoral.
na função de fazer as pessoas refletirem
É repetitivo e desnecessário apontar
acerca da vida pública?
os defeitos de nossa estrutura política
Esta questão é facilmente respondida - o
e partidária, mas é sempre pertinente
Estado não se ocupa com isso, ou seja, ele
pensarmos de que forma é possível uma
não disponibiliza um espaço público que
melhora neste sistema ou qual é a nossa
estas reflexões nem mesmo nos espaços
real responsabilidade sobre a escolha de
públicos que estão diretamente sobre sua
nossos governantes.
responsabilidade. A velha teoria da des-
A primeira questão a ser considerada é
politização promovida pelo Estado com
a seguinte – por que damos tão pouca
relação aos seus cidadãos é verdadeira e
atenção ao processo de escolha de nos-
evidente, tal qual uma triste política de
sos candidatos? Ou por que não vemos a
Estado. Portanto, se o Estado, o instru-
representação política e os governantes
mento político e público, por excelência
como parte de nosso cotidiano?
e por razão de existência, não promove
Podemos dizer, com uma grande dose de
o debate político, como esperar que o
certeza, que o caráter imediato e mais
cidadão participe da vida pública, já que
aparente de nossa rotina não nos permite
não nascemos cidadãos, mas somos sim
pensar o processo eleitoral de forma clara
formados e educados, não doutrinados,
e consciente, pois as questões básicas de
para cumprirmos minimamente tal função
sobrevivência impedem que o espaço do
social e política? Podem os partidos políti-
debate político ocorra, ou seja, somos tão
cos, em sua maioria quadros burocráticos
consumidos por questões mais imediatas
e politiqueiros, promover tal debate? Ou
e que julgamos mais pertinentes frente a
transferimos para os meios de comunica-
necessidade de discussão sobre a Políti-
ção de massa, preocupados com índices
ca que a colocamos sempre em segundo
de audiência e na venda de cotas de pro-
plano só nos reocupando com ela quando
pagandas, tal responsabilidade social?
nos aproximamos do dia de votação. Além
Enfim, o Estado, o elemento político, pode
disso, o nosso sistema eleitoral é avesso
ser tão despolitizador?
a reflexão política e dificulta, consciente
Só o tempo dirá, mas a História, sempre
e institucionalmente, a existência de um
implacável e sincera com aqueles que
espaço apropriado para estas discussões.
são sinceros com ela, nos apresenta um
A maioria das pessoas tem o seu tempo
panorama já conhecido e não seria sábio
social tão sobrecarregado com questões
esperar mudanças em um quadro político
de trabalho, de transporte e de segurança,
que se manterá o mesmo, pois as figuras
dentre outras inúmeras outras questões,
políticas mudam, os partidos políticos se
que não reservam um tempo para a Política,
revezam no poder, mas o cerne da nossa
seja por falta de tempo ou, na maioria dos
vida pública permanece o mesmo.
casos, por falta de interesse. Uma segunda questão a ser considerada
Pedro Marcelo Galasso - cientista político,
é – o quanto o Estado se encarrega de
professor e escritor. E-mail: p.m.galasso@
promover um debate político que seja efe-
gmail.com
PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS
www.coquetel.com.br Personagem de Chico Anysio (TV) Simpatia por coisas estrangeiras
(?)-vu: falsa impressão de já ter vivido certa situação "(?) Desvairada", livro de Mário de Andrade Afrontar uma autoridade policial
© Revistas COQUETEL
Símbolo do poder papal Perante; diante de
Imposto do banco Prisão de animais
Associação de países asiáticos
Igreja típica de cidades do interior
Sociedade criminosa Bagunçar que seguia a Omertà (gíria) Curso Gênio escandinavo d'água (Mit.)
Opus (abrev.) Chega ao fim
Tradução livre ou desenvolvida
Apêndice da ânfora Guerrilha basca
Órgão da natureza Imperador brasileiro
Ítala (?), atriz brasileira
Quem não deve não (?) (dito) Sílaba de "bilro"
Palavras como "laço" e "lasso" (Gram.)
Último rei de Troia, na mitologia grega
Antiga designação do violino Malvada
"Real", em RAF Caverna (abrev.)
Pista de corrida de cavalos BANCO
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Solução Z R E N O I L I A O F R O P A R P C E I A A T A R B A M A A O F T R B E C A I M A S L E V E
e, portanto, trata das linhas gerais
M A F I A S I C I L I A N A
democrático representativo? O quanto do
A Z N O T E J A A UL S A E A PE N D R M O A I
anúncio oficial das eleições de 2014
A N X E L D E P D E S C N A D H O R
tivamente importante para nosso sistema
4/déjà — elfo. 5/nandi. 6/príamo. 8/nazareno. 9/paráfrase — pauliceia — xenofilia.
Esta coluna foi escrita antes do
Jornal do Meio 765 Sexta 10 • Outubro • 2014
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O badalo
de um sino histórico Colaboração especial : José Roberto Vasconcellos
Em meu escrito “Sinos Alegria da Cidade”, publicado na imprensa local (12/2005) faço algumas explanações sobre a utilização e finalidade dos sinos no transcorrer dos séculos, e referências quanto aos sinos da nossa antiga Catedral. Quando da demolição da antiga Catedral, de seu campanário foram retirados três sinos, dois menores e um grande pesando 630 kg – nota musical FA sueste - diâmetro da boca 1,05 cms. TInham gravados no seu bronze inscrições, desenhos e o nomes de seus fabricantes e ofertantes: 1851 – Facit – Henrique Hinrichsen – São Paulo , 1876 – oferta de José Moraes Dantas e 1887 – A. Sydow – São Paulo, oferta de Padre Simplício de Bueno. Os sinos seriam guardados em cômodo no subsolo da Casa da Diocese (anteriormente chamada Palácio Episcopal “São José”). Em área espaçosa na torre, uma estrutura toda montada por fortes caibros de madeira, esses sinos presos por ganchos de aço ficavam fixos, não tinha mobilidade e os badalos amarrados por cintas de couro, eram acionados manualmente por cordas que faziam que eles batessem somente em um lado de cada sino provocando achatamento por pressão na borda da bacia . As cordas amarradas nos badalos, pela fresta do soalho de madeira ali existente, desciam estendidas por toda extensão interna da torre, terminando junto ao lado direito da porta principal da igreja. Esses sinos somente faziam repiques, ou seja, os badalos eram provocados pela corda, pois a bacia de cada sino permanecia para baixo sem se movimentar. Cada sineiro engendrava, cada qual, seu badalar cujo som divulgava cada coisa. O som era vigoroso, apesar da velhice. Badalo é uma peça de bronze terminada em bola e pendente no interior do sino, amarrado no seu centro na parte superior ao ser acionado pelo sineiro. O badalo bate nas bordas da bacia e causa-lhes o som característico. Por ocasião da descida (retirada) dos sinos da torre-campanário, no ato constatou-se que o sino datado de 1851 - Facit estava rachado, não mais servindo para uso. Uma vez rachado não tem reparo, tem que ser inutilizado ou refundido e terá novo som. O sino de 1851 – Facit tem finalidade social porque ele é um documento, é uma memória viva da cidade. Esse sino tem valor histórico! Os sinos de nossa Catedral são históricos, os quais em 1900, badalaram em repique festivo no último dia do ano à entrada do século 20, o 135º ano da criação da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição (13/02), o 4º Centenário do Descobrimento do Brasil (21/4), e o 137º aniversário da fundação da cidade de Bragança (15/12) . Concluída a construção da Nova Catedral, os sinos seriam içados ao campanário preparado no topo da torre de forma triangular voltada para o nascente. No local colocaram entre as paredes duas peças de trilho e cada qual, sustentava os sinos . Tinha eles contrapesos de madeira (para dar o contrabalanço dos sinos) e rodas feitas de ferro. A movimentação era manual e feita por cordas através dos sineiros Amaury José da Cunha e Antônio Giácomo de Zordo (sacristão) os quais com variações de toques emocionavam os moradores da cidade Em 06 de fevereiro de 2001, a Paróquia firmou contrato com R.S.R. Carrilhões e
Campanários Ltda – ME, de São Paulo, empresa especializada em automações (sinos em movimento), reformas e manutenções. Mons. Giovanni Barrese solicitou-me que acompanhasse todo o desenrolar do serviço contratado, e assim foi feito. Na época era eu membro do Conselho Paroquial-Catedral e do Conselho Administrativo. Efetuado todo o reparo necessário, em dezembro daquele ano, o sino maior foi recolocado no campanário tendo contrapeso (para dar o contrabalanço aos sinos ) e rodas feitas em ferro. Passaram a ser acionado por chaves interruptoras e sua movimentação é aproximadamente de 160°. As janelas da torre por não serem largas, impede o balanço de o sino ser para Norte/Sul. Esse sino seu balanço está voltado para a posição Leste / Oeste. A garantia de manutenção é de 15 anos (13/11/2001 a 13/11/2016), tendo eu também firmado o documento, cujo original e recibos a pedido de Mons. Giovanni estão em arquivo sob minha guarda. Na época o Sr. Sérgio da R.S.R, apresentou duas sugestões: 1ª) quando da colocação do segundo sino, este deverá fazer o balanço Norte-Sul; 2ª ) Para que ressoe bem o som do(s) sino(s) , necessário é fazer um assoalho junto a laje do campanário, para o som não repercutir para baixo (sentido da escada) Daqueles sinos, o menor, datado de 1851, pelo seu tempo de uso, 114 anos, apresentando rachaduras em suas paredes, não mais tendo som bonito, não foi içado ao campanário, permanecendo sob a laje da igreja, juntamente com o badalo. No Natal de 2005 esse sino estava postado junto à porta de entrada da Catedral, para admiração das pessoas, pois é sino de valor histórico. Era pretensão mantê-lo permanentemente exposto na igreja , como relíquia do passado. É um símbolo da emancipação política de Bragança. Foi esse sino que no entardecer de 20 de abril de 1856 com seu repique anunciou aos cidadãos bragantinos que Vila Nova de Bragança emancipara-se de Atibaia e era elevada a categoria de CIDADE. Tendo o badalo permanecido na laje, sugeri ao representante da R.S.R Carrilhões e Campanários que colocasse aquele badalo em uma vão da parede junto a porta de acesso à torre,...com intúito para futuro aproveitamento. Fato esse feito na minha presença. Esse fato sempre comentei com os sacristães da Catedral , com A.C. Barreto (auxiliar voluntário na sacristia) e a menos de seis meses com o atual sacristão Afonso Santangelo, quando solicitei a ele que procurassem localizar a peça metálica no local por mim informado. A busca realizada teve resultado positivo. Hoje o badalo do sino histórico , está sob guarda da Paróquia podendo ser exposto à comunidade como relíquia. Na Praça José Bonifácio, atrás da Catedral, idealizado pela Secretaria Municipal de Cultura, foi erguido pela prefeitura municipal um monumento onde foi colocada como relíquia do passado a Cruz de granito, esculpida por um escravo devoto da Senhora da Conceição. Essa Cruz - tendo sua base quebrada - estava exposta Museu Municipal “Oswaldo Russomano”. Concluído esse monumento, pessoas tomando conhecimento do artigo publicado na imprensa, em conversa com Mons. Giovanni idearam de aquele sino
histórico ser fixado junto ao monumento da Cruz o que tornou realidade na gestão municipal de 2005 /2008: Dr. João Afonso Solis (Jango) e João Carlos Monte Claro Vasconcellos - Jóca . Na base do monumento foi fixada duas placas com pequeno histórico por mim elaborados sobre aquelas relíquias. As placas em sua confecção apresentavam erros de ortografia nos nomes dos gestores do município. Essas placas dias depois foram retiradas
e até a presente data o monumento não apresenta placas contendo pequeno histórico dessas relíquias do passado, bem como, o nome dos gestores municipal. Quem vê o monumento não sabe o seu significado e o seu valor histórico! Para que existe? José Roberto Vasconcellos, 74, advogado, é membro do CPP/Catedral, ex-membro do Conselho Administrativo da Diocese (1999/2004) e do Condephac (2000/2014)
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Momento Pet
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Vermifugação por Dr. André Alessandri
Bom dia meus queridos leitores!
de arroz.
Hoje vamos falar de um tema muito
Existem formas de tratamentos e pre-
importante para a saúde do seu
venções para seu animal já nascer mais
cão ou gato: a vermifugação.
protegido. Na hora que as futuras mamães
Os animais já podem ser infectados por
forem colocadas para se acasalarem, devem
vermes na hora do parto ou mesmo na
ser submetidas à prévia vermifugação. Os
fase de aleitamento. Além disso, trans-
filhotes também devem ser vermifugados.
mitem-se ao consumir água ou alimentos
Eu aconselho que a vermifugação dos
e ao fuçar fezes de outros animais que
filhotes seja feita a partir dos 30 dias de
estejam contaminados. Outro modo de
vida, sendo repetidos na maioria dos ca-
transmissão das verminoses é através de
sos por 3 dias consecutivos e repetindo
ectoparasitas, como pulgas.
mais uma dose após 15 dias, devido aos
Olhos ficam opacos com presença de
estágios de vida dos vermes .
secreções (ramelas) , perca do brilho da
Para os filhotes que já passaram essa
pelagem, queda de pelo excessiva, apa-
primeira fase de vermifugação, deverá ser
tia, abdômen dilatados (barriga d’água),
repetida somente após tomada a última
fezes moles e as vezes com presenças de
vacina. Depois disso, é aconselhável re-
mucos ou mesmo estrias de sangue e o
alizar a vermifugação do seu cão ou gato
movimento de esfregar o bumbum no
a cada 3 ou 4 meses por toda sua vida.
chão são os sintomas mais comuns.
A prevenção é a melhor forma de comba-
As formas mais comuns encontradas são:
ter esses parasitas que podem causar
formatos de macarrão e formatos de grão
danos irreversíveis ao seu animal.
Antenado
Fala, Memória Nabokov usa em autobiografia encantos de sua melhor ficção, no prazeroso ‘Fala, Memória’, escritor usa sofisticação que lhe deu fama
por IRINEU FRANCO PERPETUO /FOLHAPRESS
Dentre os personagens criados por Vladimir Nabokov (18991977), um dos mais fascinantes é o próprio Nabokov. Ao tratar os fatos de sua vida com os sofisticados procedimentos literários que lhe renderam fama e fortuna, o autor de “Lolita” faz da autobiografia “Fala, Memória” leitura prazerosa. Lenta e meticulosa, a elaboração da obra-prima levou nada menos do que três décadas, desde a aparição, em francês, de “Mademoiselle O” (que se tornaria o quinto capítulo), passando por “Prova Conclusiva” (primeira versão do livro, em 1951) até a publicação da versão atual, definitiva e revisada, em 1966. No prefácio, Nabokov conta que pretendia dar à obra o título de “Fala, Mnemosine” (em alusão à deusa grega que personificava a memória), porém foi advertido de que “velhinhas não iriam querer pedir um livro cujo título não pudessem pronunciar”. Das três fases em que divide sua existência o “arco tético”, na Rússia (1899-1919), a “óbvia antítese” do exílio europeu (1919-1940) e a “nova tese” nos EUA, Nabokov ocupa-se, aqui, das primeiras duas, tendo a mulher, Vera, como interlocutora do livro. Em vez de usar uma estrutura linear, o autor opta por fazer de cada capítulo um eixo temático, adotando um grande arco narrativo cujo foco parece ser o despertar de seus sentidos e sensibilidades.
O desafio é reconstituir uma vida pessoal cujos personagens, depois de servirem como matéria-prima de sua literatura, consumiram-se no “mundo artificial” em que o autor “tão abruptamente” os colocara. Nessa operação, Nabokov se serve de preciosismo verbal, manipulação temporal e outros recursos responsáveis pelo encanto de sua melhor ficção. Estão lá a obsessão pelo xadrez e pelas borboletas, o deleite de ser goleiro, a implicância com Freud e Tchaikovsky, a oposição ao regime soviético e a admiração pelo pai, expressa em um capítulo que evita o pieguismo sem deixar de ser apaixonado. A edição da Alfaguara traz ainda, como como apêndice, o “Capítulo 16”, inédito no Brasil uma pseudorresenha na qual o escritor não tem pudores em se comparar favoravelmente a outro autor eslavo que adotou o inglês como idioma literário, o polonês Joseph Conrad (1857-1924), cujo estilo seria “uma coleção de gloriosos clichês”. Típica de Nabokov, a irrupção de arrogância e autoelogio é temperada por episódios saborosos de humor e autoironia. Fala, memória Autor: Vladimir Nabokov Tradução: José Rubens Siqueira Editora: Alfaguara Quanto: R$ 39,90 (328 págs.) Avaliação: ótimo
Foto: Reprodução
Vladimir Nabokov (à esq.) aos sete anos de idade, com o pai
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veículos
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Um carro chamado cavalo Aos 50 anos, Mustang muda para conquistar novos mercados, inclusive o brasileiro
por RODRIGO MORA /FOLHAPRESS
Em meados dos anos 1990, o Mustang tentava casar o conceito de um “muscle car” ianque (tamanho médio, motor grande) ao DNA estético europeu. Não deu certo. Aquele carro mais parecia um Escort anabolizado do que um esportivo americano, bem afastado do que um dia foi o mais icônico modelo da Ford. Três gerações depois, no fim de 2013, a fabricante tenta novamente conectar os conceitos alicerçados nos EUA ao estilo europeu de conceber automóveis. Enfim, funcionou. Visualmente, o Mustang perdeu
o estilo truculento e está mais esguio, sem abrir mão da identidade. Mesmo diferente, será reconhecido mundialmente. É essa pretensão global que leva o motor 2.3 Ecoboost ao Mustang. Trata-se do passaporte do modelo outrora tipicamente americano (tanto no estilo como na sede por petróleo) para mercados ao redor do mundo -sobretudo o europeu, mais exigente quando o assunto é baixo consumo de combustível. Com 315 cv e 44,2 kgfm de torque, essa configuração de quatro cilindros e turbo ofusca a versão 3.7 V6 (305 cv), a mais barata da linha.
Num percurso de 80 quilômetros, o Mustang Ecoboost deixou a certeza de ser o carro certo para quem está mais interessado no status de dirigir um ícone americano do que no significado disso ao volante. O esportivo roda suave, praticamente como um sedã de luxo. Há eficiência, mas pouca empolgação. No entanto, a bordo da versão 5.0 V8 (441 cv e 55,3 kgfm de torque) com câmbio manual de seis marchas, os trejeitos de um verdadeiro “muscle car” vêm à tona. O ronco do motor é envolvente e ardido, podendo ser facilmente
confundido com esportivos das marcas alemães Audi, BMW e Mercedes. A aceleração é progressiva, e lá pelas 4.000 rpm (rotações por minuto) o Mustang dispara, parecendo querer se desgarrar das rédeas.
No brasil Executivos da Ford se recusam a confirmar quando e por aproximadamente quanto o Mustang desembarcará no Brasil. O tom, no entanto, já não é mais de negação como há pouco menos de um ano, quando o carro foi revelado mundialmente. Mais importante do que a Foto: Divulgação
Esportivo é vendido em duas opções de carroceria: cupê (foto) e conversível
veículos eículos questão da gasolina brasileira com etanol (E25) ante a disponível nos EUA (E10) é o posicionamento que o Mustang terá por aqui. Segundo Rogélio Golfarb, vice-presidente da Ford na América do Sul, a mira do esportivo não está apontada para o Chevrolet Camaro, seu rival histórico no mercado dos Estados Unidos, e, sim, para os alemães -no caso, Audi A5 e BMW 435i. Traduzindo, a Ford não quer o Mustang tão popular quanto o Camaro, que já foi personagem de filme infantil e de música sertaneja.
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“muscle cars” da Dodge. Entre todos, o novo Mustang está à frente. Tanto em dirigibilidade quanto em equipamentos. Só o Ford tem quatro modos de condução e três de assistência da direção, além de um habitáculo agradável. Mas ainda falta ao esportivo da Ford certos refinamentos para alcançar os concorrentes alemães. O porta-copos central, por exemplo, é rodeado por um plástico duro, e a moldura que atravessa o painel tem um recorte malfeito sobre o sistema de som. São
detalhes que não combinam com a proposta do carro. A direção tem respostas rápidas, mas poderia ser mais leve nas manobras se tivesse assistência elétrica no lugar da hidráulica. O painel de apelo retrô é bem desenhado, mas a visualização seria melhor com menos elementos no quadro de instrumentos.
No salão Como em edições anteriores do Salão de São Paulo, o Mustang será a principal estrela da Ford. Só que dessa vez, após 50 anos de
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espera, ele será vendido por aqui. Só resta saber quando, e também quais serão as versões disponíveis. Vale apostar que a estreia nas lojas ocorrerá em 2015, provavelmente no fim do ano. Será um carro de imagem no Brasil, com poucas unidades vendidas por mês. Bem diferente dos EUA, onde o modelo teve 56,7 mil unidades emplacadas entre os meses de janeiro e agosto deste ano. Rodrigo mora Viagem a convite da Ford Foto: Divulgação
Mustang 50 Meio século após o lançamento, esportivo da Ford atinge sua melhor forma, apesar de detalhes do acabamento deixarem a desejar Se o Chevrolet Camaro atual faz sucesso por onde passa no Brasil, agradeça ao Mustang. Foi o esportivo da Ford que criou esse segmento, em 1964. O concorrente da Chevrolet só foi lançado dois anos depois. Hoje, os modelos continuam disputando o mesmo público nos Estados Unidos, em um nicho que é complementado por Challenger e Charger, a dupla de
Interior preserva estilo retrô em alguns instrumentos, o que nem sempre é prático; atrás, logotipo menciona a idade
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