Braganรงa Paulista
Sexta
5 Fevereiro 2016
Nยบ 834 - ano XIV jornal@jornaldomeio.com.br
jornal do meio
11 4032-3919
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Para pensar
Jornal do Meio 834 Sexta 5 • Fevereiro • 2016
Expediente
A razoável duração do processo
E-mail: jornal@jornaldomeio.com.br Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli
por dESEMBARGADOR mIGUEL ÂNGELO bRANDI JR
Muito se diz da demora do Judiciário em resolver os conflitos que lhe são submetidos. Sem medo de errar, digo que virou clichê a tal afirmação, usada ao sabor da circunstância. A razoável duração do processo não é algo indefinido, ou que deva ser conceituado a partir dos nossos interesses. Segundo Aurélio, razoável é algo conforme a razão, racionável. Há casos graves que estão sem solução há anos. É verdade. Mas há muitos casos que rapidamente são solucionados; destes nada se diz. Avaliar o todo pelas exceções é, infelizmente, algo freqüente. Um policial erra e toda polícia é dita ineficiente. Um religioso erra e todas as igrejas são ditas contaminadas por interesses mesquinhos. Um agente público erra e se diz que “todo político é corrupto”, ou coisa do gênero. E assim vai. Fato de existirem casos- e podem ser vários, não solucionados há anos pelo Judiciário não serve de base para se qualificar a ação judicial de morosa, preguiçosa, ineficiente e ineficaz.
Jornal do Meio Rua Santa Clara, 730 Centro - Bragança Pta. Tel/Fax: (11) 4032-3919
São muitos os graves casos solucionados em tempo curto, as vezes menor do que as partes esperavam que o fossem. Mas ficam no esquecimento, não são divulgados. Estamos vivendo tempos de rapidez de informação e de divulgação instantânea dos fatos. E quando não há fatos a serem divulgados, criam-se rapidamente factóides, também com rápida divulgação. Nada mais parece oculto. Em tudo parece haver interesse público. Conservamos a sensação do pleno poder sobre as coisas e até sobre as pessoas a partir dos canais de informação disponíveis, especialmente a rede mundial de computadores e todos os espaços virtuais criados em torno dela. É o tempo da plena tecnologia. A velocidade dessas disponibilidades todas parece criar a sensação de que tudo na vida gira em velocidade altíssima, todos correm, todos têm pressa em tudo. Chama minha atenção o fato de muitas pessoas quando me encontram não terem outra notícia a dar senão o fato de que estão numa “correria danada”.
Parecem todos atletas, voltados para seus treinos ou competições. Todos correndo. Gostaria de perguntar para onde estão correndo tanto, mas me contenho tentando evitar qualquer crise de pensamento. Essa “correria” do tempo presente contamina, claramente, a percepção que as pessoas acabam tendo da atuação do Judiciário, bem como a expectativa que nutrem do seu trabalho. É dizer que o Judiciário precisaria, no imaginário comum, “correr” na velocidade enganosa e vã que nos assola. Rui Barbosa, baiano famoso (1849-1923), cunhou uma frase cuja lembrança é oportuna: “a justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta”. Sábia afirmação. Tenho visto muito as pessoas (partes e advogados) se socorrerem dessa lição de Rui para pleitear rápidas decisões judiciais, em casos sem qualquer qualificação de gravidade ou urgência. É a afirmação pela afirmação. É preciso pensar que há casos e casos no Judiciário. Casos graves e casos não graves. Casos
que demandam a produção de provas complexas (perícias, por exemplo) e casos que podem ser resolvidos sem a necessidade de mais e demoradas provas. Casos que envolvem interesse público relevante e casos que se limitam aos interesses das partes ou às vezes de uma única família ou pessoa. Em todos os casos, especialmente nos complexos, que trazem para dentro do Judiciário dramas humanos terríveis, o magistrado precisa do seu tempo para pensar, refletir, estudar, ouvir, tentando resolver o problema, não apenas decidi-lo. Há uma grande diferença entre decidir uma questão e resolver o conflito que ela revela ou contêm. Francesco Carnelutti, jurista italiano, que viveu entre 1879 e 1965, construiu lapidar pensamento, expresso na sua obra “Diritto e processo”, Napoli, Orano, 1958, p. 154, que é este: “... se a justiça é segura não é rápida; se é rápida não é segura”. Podem conviver os pensamentos de Rui e de Carnelutti. A Justiça não deve agir por atraso, deve evitar “por para trás” suas
Jornalista Responsável: Carlos Henrique Picarelli (MTB: 61.321/SP)
As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão. As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Bragança Jornal Diário.
decisões e ações. Mas a rapidez referida pelo italiano, exigida ou reclamada muitas vezes, pode levar a decisões absurdas, equivocadas mesmo, que ao invés de resolver os conflitos apenas os decide. É preciso que estejamos atentos ao comportamento das pessoas e ao nosso mesmo para não mergulharmos nos conceitos oportunistas. Quando nos convêm nosso pensamento se modifica rapidamente e exprimimos pensamentos que, no fundo, não são bem nossos. Quando a demora nos favorece, não reclamamos do Judiciário. Quando a rapidez “aparentemente” nos favorece, reclamamos pressa. Pensemos no razoável.
Reflexão e Práxis
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PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS
www.coquetel.com.br
É senso comum e desnecessário dizer que uma das instituições mais importantes para a construção do futuro de qualquer país é a escola. Sempre nos lembramos dos benefícios das escolas para os países destruídos pelas guerras mundiais, como o Japão, ou para justificarmos o desenvolvimento de grandes nações, como a Alemanha, e alguns sempre nos lembram que os países tomados pelo radicalismo, seja ele político ou religioso, destroem suas escolas e deixam de crescer, condenando seu povo a sofrer com a ignorância e o esquecimento. Além disso, a escola como instituição tem um papel histórico importante – esta é a instituição que transmite o conhecimento acumulado pelo desenvolvimento intelectual e cultural desenvolvidos por incontáveis gerações. A escola, portanto, cumpre a função social de consolidar e estimular novas ideias, novas formas de ver e de agir sobre o mundo. No limite, ela também ensina nossos jovens a terem contato com as responsabilidades sociais que lhes cabem, como o cumprimento dos horários, a realização de suas tarefas, a observância das regras de conduta social, dentre algumas outras atribuições. A escola deve mostrar aos nossos jovens que o pensar a realidade social de seu país é imprescindível para o aperfeiçoamento de cada um de nós e oferecer condições para o crescimento pessoal de cada um, segundo as regras que cada sociedade tem como ideal de desenvolvimento, ou seja, a escola é um micro universo social, uma forma menor e mais segura para os jovens tomem contato com nosso desenvolvimento social e político. Portanto, não são poucas as responsabilidades desta instituição social chamada escola, mas a realidade dos fatos é muito distante
destas poucas observações. Assistimos a sistemática e proposital destruição das escolas que se tornam locais de uma extrema burocracia que sufoca suas funções ideais; ela se torna enfadonha e sem sentido; para alguns, ela se torna quase um depósito de alunos que, muitas vezes, fazem o que querem, quando e como desejarem. A destruição da escola, a maioria sabe disso, é perniciosa ao nosso desenvolvimento histórico e social, pois cabe a ela a transferência de conhecimentos que permitem a construção de formulações fundamentais para o nosso futuro. Salas com superlotação de alunos, baixas renumerações, violência dentro e fora das escolas sobre alunos e professores, bem como uma burocracia recheada de achismos pedagógicos, nada mais que delírios de pessoas que nunca se propuseram a trabalhar diariamente nas escolas. Um tecnicismo barato e perigoso que apresenta índices altos de aprovações que mascaram a dura e injusta realidade que milhares de pessoas enfrentam todos os dias, cercados de carências e de frustrações. Antes que alguém pragueje contra as ideias acima, é lógico que existem boas escolas, ótimos professores, excelentes alunos, mas, no panorama geral, estes fatos são exceções e não é justo ver o Estado, nas suas três esferas, compactuar e manter esta situação. Para terminar, uma breve reflexão – a instituição escola pode ou deve substituir o papel das famílias no que tange aos seus filhos? Novamente, a resposta parece mais que óbvia. Pedro Marcelo Galasso - cientista político, professor e escritor. E-mail: p.m.galasso@gmail.com
Constelação na qual se localiza a estrela Vega
Poeta em favor do qual Carlos Drummond de Andrade recusou o epíteto de maior poeta do Brasil Prefixo de "epidemia"
(?)-Codi, órgão do Regime Militar
Subdivisão de artigo da Constituição
Domínio, em inglês Iguaria japonesa servida com raizforte
Sódio (símbolo)
Cargo de Dilma Período geológico Natural da região do Minho (Portugal)
(?) Araújo, atriz carioca de telenovelas
Predisposição do organismo para ser acometido por uma doença (Patol.)
Modelo Enumeração minuciosa "Sr. & (?). Smith", filme com Brad Pitt
Auxílio, em inglês Santa (?): o Vaticano Comer, em inglês A Bandeira, em nosso Hino Nacional
Instrumento cortante de lâmina retrátil
Investir continuamente o capital Ano, em Autódromo francês localizado na cidade de São Paulo
BANCO
Deus dos dervixes Abertura estreita
Monumento megalítico préhistórico
Caixaforte, em inglês
Ernesto Nazaré: compôs "Odeon"
(?) Capone, o "Scarface" da Máfia
Botequim (?) de Faraday, equipamento de experiências elétricas
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Solução C C S A B O T A G E M L I R A A I P A N A D O M A I N L O C T O I P R E S I D E N T E E R A I D E A L T S R A A I D S E M I N H O T O E S T I L E T E B M M S A L A M O V I M E N T A R A E E B R U N S A R O A L O I A G I N T E R L A G O S
por PEdRO MARCELO GALASSO
O primeiro assassino (Bíblia) A espontaneidade natural, para Lao-tse
2/an. 3/aid — eat. 4/lira. 5/vault. 6/domain. 7/diátese.
A escola
© Revistas COQUETEL
Firmeza moral Ama-seca (bras.)
(?) religioso, processo que marcou o desenvolvimento da Umbanda no Brasil Ação da quintacoluna na guerra
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por CLÁUdIA COLLUCCI/FOLHAPRESS
“É mole? Vou ao médico tratar da
doença. O mesmo não acontece quando o
e psiquiatras evitaram a religião e a espiritu-
Resumo: A meta-análise congregou resul-
depressão e ele me manda rezar!”. A
paciente se dedica a meramente estudar ou
alidade na prática clínica. Entre as razões,
tados obtidos com mais de 32 mil pacientes
recomendação que gerou surpresa
pesquisar sobre a religião.
estaria a antipatia pela religião que sempre
para concluir que a saúde física dos pacientes
houve entre os ícones da psicologia, como
com câncer melhora com a experiência de
Sigmund Freud.
religiosidade ou de espiritualidade. Isso ocorre
na médica e professora universitária Maria Inês Gomes, 67, agora tem aval da Associação
Efeito negativo
Mundial de Psiquiatria.
Ao mesmo tempo, segundo Almeida, as
Para Pargament, é importante a compreen-
mais pela relação emotiva do que por aquela
No mês passado, a entidade aprovou docu-
crenças religiosas também podem atuar de
são de que a religião e a espiritualidade são
mais racional com a religião/espiritualidade.
mento declarando a importância de se incluir
modo negativo, quando enfatizam a culpa e
entrelaçadas no comportamento humano e
a espiritualidade no ensino, pesquisa e prática
a aceitação acrítica de ideias ou transferem
que os profissionais precisam estar preparados
clínica da psiquiatria. A SBP (Sociedade Bra-
responsabilidades.
para avaliar e abordar questões que surjam
sileira de Psiquiatria) ainda não se posicionou
“Piores desfechos em saúde são observados
no tratamento.
sobre o assunto.
quando há uma ênfase na culpa, punição, into-
“Para muitas pessoas, a religião e a espiritua-
de 2014, no periódico “Circulation”
A proposta, obviamente, não é “receitar” uma
lerância, abandono de tratamentos médicos.
lidade são recursos-chave que podem facilitar
Resumo: Os autores do estudo propõem se-
crença religiosa ao paciente, mas conversar
A existência de conflitos religiosos internos ao
o seu crescimento. Para outros, são fontes de
parar os efeitos na saúde física que poderiam
sobre o assunto.
indivíduo ou em relação à sua comunidade
problemas que precisam ser abordadas durante
ser atribuídos à religião e os que poderiam
O indexador de estudos científicos PubMed, do
religiosa também está associada a piores
o tratamento. Isso precisa ser compreendido
ser atribuídos à espiritualidade. A proposta
governo americano, lista mais de mil estudos
indicadores de saúde.”
pelos profissionais de saúde.”
é que a religião poderia fomentar hábitos
sobre o tema.
Por essa razão, é importante que os profissio-
Entre as técnicas que estão sendo estudadas
saudáveis, enquanto a espiritualidade traria
Os recursos espirituais avaliados nesses tra-
nais tenham em conta a dupla natureza da
para essa abordagem estão programas, por
melhor equilíbrio emocional
balhos variam bastante, desde acreditar em
religião e espiritualidade, segundo Kenneth
exemplo, para ajudar pessoas divorciadas a
Doenças mentais, religião e espiritualidade
Deus ou um poder superior, frequentar alguma
Pargament, professor de psicologia clínica
lidar com amargura e raiva, ou vítimas de abuso
de 2013, no periódico “Journal of Religion
instituição religiosa ou mesmo participar de
na Bowling Green State University (Ohio).
sexual e mulheres com distúrbios alimentares.
and Health”
programas de meditação e de perdão espi-
“Elas [religião e espiritualidade] podem ser
ritual, mas a grande maioria conclui que há
recursos vitais para a saúde e bem-estar, mas
correlação entre espiritualidade e bem-estar.
eles também podem ser fontes de perigo”, diz
O maior impacto positivo do envolvimento
ele, que esteve no Brasil neste mês falando
religioso na saúde mental é entre pessoas
sobre o assunto no início do mês no Congresso
sob estresse ou em situações de fragilidade,
Brasileiro de Psiquiatria.
como idosos, pessoas com deficiências e
Ele lembra que, por muitos anos, psicólogos
doenças clínicas.
Estudos sobre fé, espiritualidade e saúde Religião, espiritualidade e saúde física em pacientes com câncer de 2015, no periódico “Câncer”
Caminhos distintos entre Religiosidade, Espiritualidade e Saúde
Resumo: A meta-análise analisou 43 estudos do período entre 1990 e 2010 e viu que 72% deles mostram resultados positivos entre a dimensão espiritual/religiosa e a saúde física, especialmente para demência, depressão e dependência química. A Esquizofrenia e o transtorno bipolar não são afetados. Foto : aNGelo saVastaNo/Folhapress
Não se trata, claro, da prova científica da ação de Deus –uma hipótese dos pesquisadores é que religiosidade sirva, por exemplo, para reforçar laços sociais, reduzindo a incidência de solidão e depressão e amenizando o estresse causado por doenças ou perdas. Três meta-análises (revisões científicas) já realizadas sobre o tema indicam que, após controle de variáveis como estado de saúde da pessoa, a frequência a serviços religiosos esteve associada a um aumento médio 37% na probabilidade de sobrevida em doenças como o câncer. O desafio é entender exatamente como isso acontece. Uma das explicações propostas é a ativação do chamado eixo “psiconeuroimunoendócrino”, em que uma emoção positiva seria capaz de alterar a produção de hormônios que, por exemplo, reduziriam a pressão arterial. “O impacto da religião e espiritualidade sobre a mortalidade tem se mostrado maior que a maioria das intervenções, como o tratamento medicamentoso da hipertensão arterial ou o uso de estatinas”, afirma Alexander Moreira-Almeida, professor de psiquiatria da Universidade Federal de Juiz de Fora. Um outro estudo recente publicado na revista “Câncer”, da Sociedade Americana de Câncer, revisou dados obtidos com mais de 44 mil pacientes e concluiu que são os aspectos emotivos da espiritualidade e da religiosidade aqueles que mais trazem benefícios para a saúde física e mental de pacientes com a
A médica e professora universitária Maria inês Gomes, 67, de Juiz de Fora (MG), que ouviu seu psicanalista falar sobre a importância da espiritualidade
Saúde
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Cuidados com os dente
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são diferentes na terceira idade Idosos precisam de acompanhamento mais próximo devido a algumas doenças e a alterações do corpo
por Dr. André Alessandri
Com uma série de modificações pelas quais o corpo passa ao envelhecermos, os dentes e a gengiva necessitam de cuidados diferentes na terceira idade. Essa nova forma de cuidar da boca pode ser necessária devido a alterações próprias da idade, uso de remédios ou doenças que danificam os dentes. As mais comuns são a inflamação da gengiva e doenças que afetam as estruturas que sustentam os dentes na boca. “As doenças de gengiva têm influência genética [predisposição da pessoa], mas sua principal causa é a placa bacteriana”, afirma a dentista Chantal A. Bispo Tambara. De acordo com ela, com o tempo, o metabolismo dos idosos passa a não ser tão eficiente para a defesa dos dentes e gengivas. “Somado a isso, os idosos têm mais dificuldade motora para higienização e mais elementos que retêm placa bacteriana na boca, como, por exemplo, as próteses e restaurações”, exemplifica Chantal. Segundo especialistas, a visita ao dentista deve ser feita duas vezes por ano e os cuidados odontológicos variam de acordo com as condições que o idoso apresentar. “O acompanhamento deve ser mais frequente e o dentista deve saber lidar com os riscos e as necessidades de pacientes em tratamento médico para doenças do corpo, como diabetes, arritmias, insuficiências cardíacas, doenças renais”, ressalta. O dentista Sérgio Kignel dá mais dois exemplos. Pacientes que se tratam contra o câncer e que, por isso, podem apresentar quadro de má nutrição, ter o processo de cicatrização alterado, perda da capacidade de sentir sabores, diminuição da resistência às infecções. “Já os pacientes portadores de artrite apresentam perda da habilidade manual necessária para uma completa higiene bucal e os diabéticos têm alta prevalência de cáries múltiplas e doenças nas gengivas.” (Bárbara Souza) Bactérias da boca causam pneumonia Se os idosos têm más condições de saúde bucal, podem ter um comprometimento da sua alimentação, o que piora a qualidade de vida. A perda de dentes também pode causar impactos emocionais negativos, até depressão. Os especialistas ressaltam ainda que existem evidências de que bactérias da boca podem levar a doenças mais graves, como as do coração e pneumonia.
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Antenado
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‘A Grande Aposta’ É o melhor filme de ficção sobre a crise, se você não é especialista, tanto faz não entender termos do mercado financeiro
por VINICIUS TORRES FREIRE/FOLHAPRESS
“A Grande Aposta” é o melhor filme sarcástico sobre o dinheiro grosso que Hollywood pode comprar. Pelo menos, é o melhor filme de ficção sobre a crise financeira que explodiu em 2008 em Wall Street. É a história de meia dúzia de tipos que ganharam dinheiro porque, “gênios”, perceberam a ruína de um certo tipo de aplicação financeira, falência que apenas detonou a fase final de uma crise de origem muito enrolada. Um deles é um sujeito deficiente em interação social, caolho, gênio das finanças que vive de bermudas e chinelos e ouve heavy metal isolado na sala onde dirige um “hedge fund”. A gente já viu esse filme. Um tipo meio maníaco, em geral cientista, avisa que vai dar besteira e ninguém dá bola: o “Tubarão” vai comer o pessoal na praia, o dinossauro vai pular a cerquinha em “Jurassic Park”, não convém ferir os sentimentos do “King Kong” etc. O suspense não está na tensão da espera da catástrofe, mas em saber quando enfim os bastardos inglórios vão ganhar dinheiro, quando virá a ruína promovida por “coxinhas” metidos dos bancões, caricatos em seu esnobismo medíocre, sua corrupção cínica. Enfim, o filme nos põe a torcer por uma turma que é apenas o outro lado da mesma moeda, os piratas “do bem”. É Hollywood. A narrativa é interrompida por conversas com o espectador, recurso velho como o coro do teatro grego antigo: figuras
aparecem para “explicar” a algaravia financeira. Tem algo de fetichismo isso de “entender” as finanças da crise. A criatura não entende como funciona o fundo de banco em que põe seu dinheiro, mas quer entender um derivativo de crédito em dois minutos? Não vai. Os investimentos enrolados que viraram pó dependiam em última análise dos pagamentos de “prestações da casa própria”. Mas apenas aplicações financeiras ruins não causariam tamanha catástrofe. Finanças excessivamente livres e gigantes estão na origem do problema.
Revolução
O poder e o tamanho da finança a partir dos anos 1980 dependeram de revoluções na matemática, na teoria econômica, na computação, da liberação do fluxo de dinheiro grosso pelo mundo. Dependeram da revolução liberal iniciada por Ronald Reagan. Bill Clinton deu o golpe final nas tentativas de regulamentar esses mercados. Instalou gente “moderna” de Wall Street dentro da Casa Branca, embora seja queridinho de gente meio de esquerda (“Clinton, seu lindo!”). O dinheiro da finança agigantada comprava apoio político para se livrar da regulação do governo e crescer demais. Entre 1980 e 2008, a dívida do setor privado americano saltou do equivalente a 1,2 vez o tamanho da economia americana para três vezes em 2008. A dívida das famílias dobrou, mas a renda
mediana do trabalhador ficou estagnada. A economia se viciou em bolhas de crédito (empréstimos excessivos, sem fundamento), com taxas de juros básicas abaixo de zero na maior parte do século, vivendo acima dos seus meios graças ao financiamento de Japão e, depois, da China. Quando as taxas de juros subiram, em 2005, muita gente deixou de pagar os empréstimos, muitos deles porcos, empurrados para pessoas sem meios de bancá-los. A pirâmide começou a ruir. O filme não teria como contar nem essa
parte da história política e econômica da crise. Mas isso é mais importante de entender que uma “obrigação de dívida colateralizada”, um CDO, a estrela da crise. O que é isso? Se você não é especialista, meio tanto faz.
A grande aposta
(The Big Short) DIREÇÃO Adam McKay ELENCO Christian Bale, Steve Carell e Ryan Gosling. PRODUÇÃO EUA, 2015, 12 anos QUANDO em cartaz Foto : Folhapress
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Momento Pet
Comportamento
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Esconde-Esconde
Maquiagem vira aliada de quem tem doenças de pele como vitiligo, rosácea e psoríase, e técnicas de camuflagem para disfarçar as manchas fazem sucesso em vídeos na internet por GIULIANA MIRANDA/FOLHAPRESS
Considerada por muito tempo
Atelier”, foi diagnosticada com vitiligo
descobrem o problema. Não precisa ter
sejam hipoalergênicos, pouco oleosos
inimiga da saúde da pele, a ma-
há cerca de dez anos. Em sua página,
vergonha. Além de mostrar que estamos
e, preferencialmente, sem cheiro. Tudo
quiagem deu a volta por cima e
ela mostra seus cuidados com a pele e
no mesmo barco, eu poderia ajudar
isso para minimizar as chances de sen-
hoje é uma das principais aliadas de quem
truques para esconder as manchinhas.
passando as informações.”
sofre com problemas dermatológicos.
“Como eu tenho a pele bem clarinha,
Benefícios
sibilizar ainda mais um tecido muitas
Dos consultórios médicos aos tutoriais
tem muita gente que nem repara. Mas
Para a coordenadora do Núcleo de Do-
Diversas marcas já têm linhas adequa-
em vídeos no YouTube, as chamadas
eu gosto de poder esconder se eu quiser.
enças da Beleza da PUC-Rio, Joana de
das para quem tem problemas de pele.
técnicas de camuflagem têm feito cada
Muitos maquiadores profissionais não
Vilhena Novaes, compartilhar experiências
Entre as importadas, as mais famosas
vez mais sucesso.
têm ideia de como disfarçar esse tipo de
como essas pode ser muito benéfico.
são a Kryolan e a Dermablend. Entre
“Há 25 anos, era impensável um médico
mancha. Então no começo eu tive de ir
“É com a pele que a gente se apresenta
as nacionais, o Boticário e Contém 1g
falar para um paciente usar maquiagem.
testando. Acabei desenvolvendo minha
para o mundo. Ter uma doença de pele,
também têm opções.
Hoje vemos que há muitos benefícios.
própria técnica”, diz.
algo que te deixe inseguro ou na dúvida
“O importante é limpar bem a pele e
Eu recomendo para as minhas pacientes,
Morando no Japão, a modelo e YouTuber
sobre um possível julgamento moral
usar os produtos corretos”, diz a der-
ensino como usar”, diz Valéria Campos,
brasileira Camila Pipoka também faz
depreciativo, pode gerar prejuízos e
matologista Valéria Campos. Ela lembra
vice-diretora do departamento de laser
vídeos ensinando a esconder as manchas
criar até uma fobia social, de a pessoa
ainda que a pele deve estar sem lesões.
da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
claras do vitiligo, mas faz questão de
se isolar”, diz.
Com os produtos disponíveis no merca-
dizer que ela não sente necessidade de
Estudos têm mostrado os benefícios
do, é possível esconder quase todo tipo
encobrir os sinais de despigmentação
psicológicos que a maquiagem usada
Tapando tudo tire suas dúvidas
de imperfeição, de cicatrizes a manchas
sempre.
para camuflar manchas na pele. Ainda
O que esse tipo de maquiagem pode
da psoríase.
“No rosto eu costumo usar maquiagem
que não seja uma solução definitiva para
esconder?
O vitiligo e a rosácea –doenças autoimunes
sempre, mas porque eu gosto. Nas man-
o problema, a técnica ajuda a melhorar
Principalmente acne severa, rosácea, viti-
não contagiosas que causam manchas na
chas das mãos, por exemplo, eu só uso
a qualidade de vida.
ligo, psoríase, manchas da quimioterapia
pele–, porém, são os que recebem mais
quando vou fazer foto.”
No ano passado, dois trabalhos distintos
e cicatrizes diversas
atenção. Na internet, há vários vídeos
Diagnosticada com rosácea, doença
mostram que a maquiagem de camu-
Quem não pode usar?
que ensinam como esconder seus sinais.
que causa manchas vermelhas na pele,
flagem pode ter efeitos muito positivos
As pessoas que tem feridas abertas na
A onda dos tutoriais para camuflagem
a blogueira Fabi Santina, da página
também em crianças com vitiligo.
pele. Primeiro, é preciso tratar essas lesões
de problemas dermatológicos começou
“Crie Moda”, decidiu compartilhar todo
Os especialistas ressaltam que nem to-
Características da maquiagem:
nos EUA, mas já conquistou espaço
o processo com seus leitores.
da maquiagem é adequada para quem
pouco oleosa
também no Brasil.
“Gravei os vídeos porque muitas meni-
tem problemas de pele. É importante
hipoalergênica
Cinthia Ferreira, dona do blog “Makeup
nas passam pela mesma coisa quando
investir em produtos de qualidade, que
de preferência, sem cheiro.
vezes já fragilizado.
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