Braganรงa Paulista
Sexta
26 Fevereiro 2016
Nยบ 837 - ano XIV jornal@jornaldomeio.com.br
jornal do meio
11 4032-3919
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Para pensar
Jornal do Meio 837 Sexta 26 • Fevereiro • 2016
Expediente
Jesus:
Alguém para seguir e não para admirar!
Jornal do Meio Rua Santa Clara, 730 Centro - Bragança Pta. Tel/Fax: (11) 4032-3919 E-mail: jornal@jornaldomeio.com.br Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli
por Mons. Giovanni Baresse
Jornalista Responsável: Carlos Henrique Picarelli (MTB: 61.321/SP)
Não estranhe quem lê estas
quando mergulha no belo infinito
consciência da conversão para
respostas e atitudes de Jesus e
linhas. Como é possível
que é Deus. Lembrará, contudo,
a vivência dos valores propostos
chegássemos à conclusão que ele
afirmar que Jesus não
à luz do pensamento platônico,
por Jesus de Nazaré. O texto nos
venceu “porque era Deus”, essa
deve ser admirado? Parece um
que o homem é inclinado ao Mal,
fala das tentações que Jesus vi-
lição do Evangelho seria página
contrassenso. Como seguir a
embora suspire pelo Bem. Este
veu ao iniciar a sua vida pública,
inócua. “Não podemos fazer como
quem não se admira? A afirma-
arrazoado quer indicar a pessoa
logo depois de ter se submetido
Deus faz!” Nossa admiração deve
ção vai à direção de concretizar
de Jesus Cristo como modelo
ao batismo de João. Afirma o
fixar-se no mistério da Encarna-
a realidade de que nem sempre
de postura que podemos ter e
evangelista que Jesus ficou sem
ção: Deus que se faz, realmente,
se segue a quem se admira. Por
imitar. Consequência do segui-
comer durante quarenta dias e
um de nós. Passa por tudo o que
muitas razões. A maior delas se
mento de Jesus, de sua imita-
“depois teve fome”. Aí surge o
passamos. Com isso nos mostra
baseia no pensar que não é pos-
ção, a admiração adquirirá seu
diabo com as três propostas: que
como enfrentar as vicissitudes.
vez por todas. Quando Lucas
sível dar os mesmos passos de
dinamismo. A admiração não é
usasse seu poder para resolver
Se Jesus de Nazaré não fosse
lembra o “tempo oportuno” ele
quem se admira. Às vezes quem
categoria estática. Ela deve levar
sua fome: “Muda esta pedra em
pessoa humana ele só serviria
quer marcar que, ao longo da
se admira parece inatingível e,
à atitude. Em termos práticos,
pão!”; aceitasse ser o domina-
para ser lembrado como alguém
vida, Jesus foi sempre tentado
por isso mesmo, se considera
já o disse em outras ocasiões,
dor: “tudo será teu!” e ditasse
diferenciado. Seria aquele que
a desviar-se da sua missão. As
inimitável. Quando dos meus
há uma tendência dentro do
normas a Deus: “Pode arriscar
olharíamos e, diante de quem,
tentações eram conduzidas para
estudos de Filosofia, o profes-
cristianismo em olhar o Jesus
que Deus cuida!”. As três tenta-
só nos restaria a sensação de
que assumisse o messianismo
sor que abordava Platão dizia
glorioso em detrimento do Je-
ções mostram a possibilidade da
alguém inalcançável. Jesus é,
real, fosse o novo rei. E porque
que, para este, uma das maiores
sus que passa pela cruz. Muitas
perversão da missão do Senhor.
para os cristãos, verdadeiro Deus
Jesus não se deixou levar por essa
capacidades humanas era a da
tendências da explicitação da fé
Na parte final do texto Lucas
e verdadeiro Homem. Pela sua
contaminação ele não foi aceito. A
admiração. Esta envolvia o im-
cristã fixam seu olhar na Glória
escreve que o diabo se afastou
encarnação tornou possível a
coroação de sua missão redentora
pulso para seguir o admirado. E,
e não na Paixão. Sem perceber
“para voltar no tempo oportuno”.
todos seguir suas palavras, suas
foi a Ressurreição. Mas ele quis
indo mais a fundo, admirando
que ambas se iluminam, não se
O Evangelho quer nos recordar
atitudes. Aderir à sua pessoa é
ir até o fim, até a entrega de sua
o Belo, a Perfeição o Humano
excluem e são necessárias entre
que o caminho feito por Jesus é
fundamental para a plena rea-
vida, para mostrar que o emba-
tendia para ele. Santo Agostinho,
si. Reflito isto à luz do texto do
caminho possível para nós. Se
lização do projeto divino sobre
te contra o Mal traz provações
fortemente influenciado pelo
Evangelho de Lucas (4,1-13)
admiramos sua vitória sobre o
todos nós: a participação à vida
e cruzes. Que nunca serão fim
platonismo, assumirá esta ideia
proposto no primeiro domingo
diabo é para ter claro que nós
de Deus na plenitude da filiação
em si mesmas. Mas serão
para mostrar que a realização
da quaresma, esse tempo sim-
também poderemos vencê-lo. Se
divina. Convém ainda lembrar
vencidas pela Páscoa!
do ser humano só é completa
bólico que deseja despertar a
ficássemos na admiração pelas
que Jesus não foi tentado uma
As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão. As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Bragança Jornal Diário.
Reflexão e Práxis
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Jornal do Meio 837 Sexta 26 • Fevereiro • 2016
PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS
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O mosquito e a
saúde pública
Livro de anotações oficiais Apresentadora gaúcha de eventos da Fifa Extremamente notável Sucesso de Beyoncé Item configurável no Facebook
© Revistas COQUETEL
"Metade", em (?) Jerusalém, "semianalfabeto" cidade- Substância produzida cenário em excesso na gripe
Vasco da (?): o Time da Virada (fut.)
Reto, agudo e obtuso (Geom.)
Lama, em inglês Exemplifica
Tapeados; enganados Unidade policial montada em ocasiões especiais
por pedro marcelo galasso Ivan Lessa, jornalista e cronista
Letra do símbolo do euro Louco Urânio (?), material atômico
"Cada um (?) o trigo alheio por seu alqueire" (dito) "Casa", em "ecologia"
Letra do medicamento genérico
(?) Fernandes, ministro do STJ Pão de (?): bolo Cosmético dos cílios Passado Líquido fixador de perfumes
Parte de PCs que exibe vídeos
Desenvolve a internet espacial (sigla) Tribunal Superior do Trabalho (sigla) Novamente, em inglês
(?) del Río, viúva de José Saramago "A Vida de (?)", filme vencedor do Oscar
Reduz A França antiga a pó Forma profissionais do comércio (sigla)
Sintoma da ressaca em alcoólatras
Baralho (?) Araújo, consultado atriz de pela "Geração cigana Brasil" Tronco de árvore cortado na transversal
Utiliza; emprega Festa para comemorar a formatura Naipe simbolizado pelo coração País-sede da Copa do Mundo de 2010
BANCO
Tortura (?) Mais, grupo político
(?)-8: o motor com oito cilindros Animal comum na culinária japonesa
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Solução S E N A C
S O M E N U M A C I D E N O G M U EC ID O L O N S O T S C A R G A I A I U N C E S P A D O
G I A L M U D A D E I L E D E O G A S A T C P I L I A L M T AR O A V I X E S U L
Marcelo Galasso - cientista político, professor e escritor. E-mail: p.m.galasso@gmail.com
R F E N E G O P R I V I N S A A T E N R IQ I D O A R A L M I I O M A M N E B A I L T C O P A F R I
habitual que a população tenha ações parecidas com as do Estado, ou seja, a população se mobiliza tão tardiamente quanto o Estado. As inspeções domiciliares devem ocorrer ao longo de todo o ano e em todos os bairros, dos mais carentes aos mais privilegiados, pois a ideia, equivocada e perigosa, de que os focos do mosquito se encontram nas regiões mais carentes é falsa e discriminatória já que responsabiliza estas áreas como as principais responsáveis pelos criadouros do mosquito. Curioso é ler que o Estado tem um programa especial de combate ao mosquito Aedes composto por dez ações complementares – vigilância epidemiológica, combate ao vetor, assistência aos pacientes, integração com a ação básica, ações de saneamento ambiental, ações integradas de educação em saúde, comunicação e mobilização, capacitação de recursos humanos, legislação de apoio ao programa, acompanhamento e avaliação. Isto posto, fica a frequente pergunta – se o Estado tem este extenso programa de ações, que parecem indicar o conhecimento do problema, além de apresentar um programa de ações, por que assistimos o mesmo surto todos os anos? Alguns dirão – este problema toma toda a América do Sul e nossos vizinhos sofrem com o mesmo problema. Sim, mas esta colocação não diminui em nada a irresponsabilidade e a ineficiência do Estado brasileiro. E para tornar a situação mais desesperadora a falta de informações corretas a relação aviltada entre o zika e a microcefalia mostra uma face triste de algo que poderia ser minimizado.
2/og. 3/mud. 4/cepo — nasa. 5/again — gália — pilar. 8/almíscar.
Assistimos uma série quase infinita de casos que mostram de forma recorrente o descaso e a falta de planejamento nas ações da saúde pública, tanto no que diz respeito a falta de infra-estrutura, ao desperdício e desvio de recursos ou os profissionais que não cumprem seus horários e, portanto, não atendem a população que demanda por seus serviços até os recentes e notórios casos de transmissão de doenças pelo mosquito Aedes. Por mais estranho que pareça, estas práticas reforçam o caráter irresponsável e imediatista do Estado no que diz respeito a transmissão de doenças pelos mosquitos do gênero Aedes já que nos últimos anos os surtos são repetidos e só há a consideração da questão nos períodos de maior proliferação dos mosquitos, vetores de doenças como a dengue, chicungunha e zika. A reflexão aqui pode ser a seguinte – se a persistência destas doenças tem relação com o ciclo homem – aedes aegypti – homem, por que as ações preventivas não ocorrem antes do período dos meses mais quentes? Não seria melhor e mais apropriado começar as ações preventivas antes deste período? As ações preventivas não são mais eficientes e as únicas viáveis para o controle do mosquito e da provável transmissão de doenças? Não haveria uma economia do dinheiro público com estas ações? E aqui se tornam explícitas as ações imediatistas e irresponsáveis do Estado que conta com a sorte para evitar questões de saúde pública já anunciadas e que deveriam ser vistas com mais atenção. Cabe ao Estado promover ações de combate ao mosquito antes do surto da doença se tornar uma epidemia. Cabe ao Estado oferecer elementos para que a população tenha a consciência da gravidade da situação, pois é
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Consulte-nos
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Jornal do Meio 837 Sexta 26 • Fevereiro • 2016
por Shel Almeida
Em outubro de 2014 o Jornal do Meio
da atividades do Casulo desde o começo,
contou a história de Rita Leme, que
além de frequentar a APAE e fazer Eco-
há mais de 25 anos dedica a vida
terapia. O maior medo que sente é que
às crianças especiais. Na ocasião ela havia
ela ou o marido, Rodrigo Aparecido Rosa,
recebido a medalha Zilda Arns de Honra ao
venham a faltar. Por isso, o casal cria os
Mérito, graças ao trabalho dentro da APAE.
filhos para que ajudem a irmã. “O que nós
O reconhecimento é oferecido pela Câmara
procuramos fazer é tratar ela da mesma
Municipal de Bragança Paulista às cidadãs
forma que os irmãos. E eles aprenderam,
que desenvolvem trabalhos nas áreas de
desde cedo, ajudar nos cuidados com ela.
saúde, educação e assistência social.
Participar das atividades aqui no Casulo
Naquele momento, Rita falava sobre o
tem sido muito bom. Além de tudo o que a
sonho de criar um abrigo para receber
Rita faz, porque eu não conheço ninguém
crianças especiais. “O projeto é a criação
que seja como ela, que faça o que ela faz,
de um lar que receba crianças, jovens e
ainda temos aprendido muito sobre direi-
idosos com necessidades especiais, que
tos, sobre lei. Porque, ou a gente luta pelos
não têm mais família, que são órfãos ou
nossos filhos, ou eles não terão nada”, fala.
que foram rejeitados, enfim, que estejam
Roselina de Fátima Dorta é mãe de Jor-
em situação de vulnerabilidade. A criança
dana, de 25 anos, diagnosticada com en-
não adotada que vive em abrigo, quando
cefalite. A filha também estuda na APAE
atinge a idade adulta passa a se virar so-
e trabalha dentro da instituição. Assim
zinha. Não é fácil, Agora imagine se ela é
como Andresa, ela tem dois filhos mais
uma criança especial, que será dependente
novos, de 19 e 13 anos e espera que eles
a vida toda. Essa criança precisa de um lar
cuidem da irmã quando for preciso. “Eu
digno para voltar, ela precisa do seu canto,
penso muito sobre o futuro dela, e, eu sei,
da sua cama, da sua família. No Lar Casulo
que aqui ela sempre vai receber o acolhi-
ela será bem tratada e amada, viverá feliz
mento que precisar. De todos os projetos
e todos ali serão sua família”.
que ela participou, este é o que a deixa
Hoje, pouco mais de um ano depois, o pro-
mais animada, ela fica contanto os dias
jeto adaptou-se e o Centro de Convivência
para vir. A Rita tem um jeito diferente, é
Casulo já é uma realidade que, neste 27 de
amor mesmo pelo que faz, não é apenas
fevereiro, comemora o primeiro aniversário.
um trabalho. O diferencial aqui no Casu-
“O Centro de Convivência Casulo é um local
lo é essa atenção que todos recebem. O
onde jovens e adultos com necessidades espe-
único problema, por enquanto, tem sido
ciais se reúnem para participar de atividades
em relação ao transporte que não é mais
diversas, como artesanato, música, dança,
disponibilizado para ela. Eu sei que tem
relaxamento, passeios. O objetivo é que,
muita gente que não está vindo para as
por meio da convivência social, esses jovens
reuniões por causa disso, porque não têm
possam adquirir autoestima e qualidade de
como chegar. É uma pena que um projeto
vida. Esse é um projeto cuja a perspectiva
como esse ainda nã`o tenha todo o apoio
de futuro é muito grande e de muito valor,
que precisa e merece”, fala.
devido à necessidade e a quantidade de pessoas que precisam desse apoio. Estamos
Apoio
completando um ano de funcionamento, mas
Michele Arante é mãe de Emanuelly Aran-
com muita cautela, dando passos pequenos.
tes de Oliveira, de sete anos. A garota foi
Agora estamos dando início ao processo de
diagnosticada com miastemia grave, uma
legalização e formalização, enquanto isso,
doença neuromuscular, aos nove meses.
graças às doações espontâneas de alguns
Como não recebeu encaminhamento para
solidários, estamos funcionando com muito
um tratamento específico e ainda sua faixa
empenho e trabalho.
etária não é o principal do Casulo, que atende
Continua fazendo parte do nosso sonho
crianças a partir dos 18 anos, ela participa
para o futuro, o projeto de residência in-
das atividades como voluntária, ajudando
clusiva destinada à especiais em situação
as demais crianças do projeto durante as
de risco”, conta.
atividade. “Ela sente prazer de vir aqui, vem
As atividades do Centro de Convivência
porque gosta de ajudar, de participar. Para
Casulo acontecem todos os sábados, a
mim também tem sido muito importante, o
partir das 14h, na Rua da Glória, 135, no
projeto foi um divisor na minha vida, aqui é
bairro do Cruzeiro, ao lado da Igreja de
realmente um lugar muito acolhedor, é uma
Santa Maria. O espaço foi cedido pelo
casa para todo mundo, de fato. Agora eu sinto
Pe. José Roberto mas, como Rita explica,
que acabaram todos os porquês. Vir aqui e
funciona de forma independente e atende
encontrar outras mães me fez muito bem.
crianças de todas as religiões. Atualmente
Uma dá força para a outra e isso é muito
cerca de 30 jovens participam ativamente.
importante.
Acolhimento
Andresa e a filha Evelyn. “temos aprendido muito sobre Direitos, sobre lei. Porque, ou a gente luta pelos nossos filhos, ou não eles não terão nada”
Michelle e Emanuelly. “Agora eu sinto que acabaram todos os porquês. Vir aqui e encontrar outras mães me fez muito bem. Uma dá força para a outra e isso é muito importante”.
Para os jovens o Casulo é uma segunda casa. Para as mães é o lugar onde os filhos são acolhidos, sem distinção.
Olga Picarelli Capazzoli, mãe de Gabriel, de 18, concorda com Michelle. “Para o meu filho,
O Jornal do Meio esteve presente em uma
que tem autismo, essa socialização é muito
das reuniões do Casulo e conversou com
proveitosa. E aqui a maioria já é mais velho,
algumas mães para saber quais são os be-
como ele. O espaço aqui tem a configuração de
nefícios que o projeto trazem a seus filhos. O
uma casa e isso faz com se sintam realmente
que descobrimos é que, além das crianças,
em casa, como uma família, sabem que o
as próprias mães se sentem acolhidas, umas
espaço é deles. O que eles querem é amor e
pelas outras e, principalmente, por Rita.
carinho e aqui eles recebem muito. As mães
Andresa Gomes Silva Lopes é mãe de
participam dando suporte nas atividades,
Evelyn Monique, de 18 anos, além de
mas sempre em uma sala diferente do filho,
Felipe Gabriel de oito anos e Lucca Davi
para que todos interajam. E a troca entre
de dois anos.
as mães também é muito valiosa, todas se
A filha, que têm paralisia cerebral, participa
acolhem”, fala.
A comemoração do primeiro ano do Casulo será em um buffet infantil. Jovens estão ansiosos pelo passeio.
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Antenado
Jornal do Meio 837 Sexta 26 • Fevereiro • 2016
Berlim vira válvula de escape a refugiados Mostra dá ingressos a imigrantes, que se emocionam com trama sobre 2ª Guerra e discordam de retrato de jovem islâmico. Voluntária, que levou 3 sírios para assistir a um filme sobre o hip-hop na Nova Zelândia, temeu as cenas com ‘danças sexy’ por GUILHERME GENESTRETI/FOLHAPRESS
Próximo à Potsdamer Platz, uma das principais praças da capital alemã, onde são exibidos os filmes do Festival de Berlim, uma outra multidão se aglomera. É o LAGeSo, o departamento berlinense de amparo social que, só em 2015, recebeu 80 mil refugiados. Nas tendas do pátio, palco de confrontos com a polícia que puseram em xeque a vocação anfitriã da cidade, dezenas de pessoas falando árabe –as mulheres usando hijab (o véu islâmico que cobre o cabelo)– aguardam para dar entrada no processo para pedir asilo político. Vêm em sua maioria da Síria, do Iraque e do Afeganistão, diz à Folha o porta-voz do órgão, Alexander Busche. Na sexta (19), 200 pessoas haviam passado pela triagem e esperavam residir na capital do país mais rico da Europa. A crise humanitária que se vê nas ruas migrou para dentro dos filmes desta edição da Berlinale: é o tema do favorito ao Urso de Ouro, o contundente documentário “Fuocoammare”, de Gianfranco Rosi, que aborda o assunto sob a perspectiva dos habitantes de Lampedusa, ilha italiana que é rota para os que migram a partir da África. Nas entrevistas coletivas, o ator e produtor George Clooney foi colocado contra a parede para dizer o que tem feito pelos refugiados, o ator Daniel Brühl viu paralelos entre o nazismo e a forma como os governos europeus lidam com o assunto, e o diretor Thomas Vinterberg se disse envergonhado por ser dinamarquês. “Como alemã me sinto responsável por ajudar e proteger aqueles que, assim como meus pais, tiveram de fugir de uma guerra horrível”, diz Nicole Zeisig, relações-públicas na embaixada malaia em Berlim. Ela se voluntariou num programa idealizado pelo festival e aceitou levar três jovens irmãos sírios –Rand, Yamen e Haya– a sessões de cinema. O filme escolhido foi o neozelandês “Born to Dance”, sobre a cena do hip-hop na Nova Zelândia. “Fiquei preocupada com a escolha porque Rand e Haya usam hijab e todas as danças eram muito sexy”, conta ela. Eles gostaram.
fugiu de um conflito para ver um filme sobre a Segunda Guerra.” No final da trama, as duas choraram: “Ela viu semelhanças com a Síria”. A primeira escolha de filme da voluntária Anna Hartmann, 34, foi um “desastre”, conta. A documentarista levou o sírio Kheir, 25, para ver o longa tunisiano “Hedi”, sobre um jovem árabe em conflito com suas tradições. O jovem achou a trama irreal: “Um muçulmano nunca trataria sua mãe desta forma”, disse após uma cena em que o protagonista grita com a progenitora. Ele também ficou incomodado com as cenas de sexo: “Sei que vocês alemães são bem abertos, mas nunca assistiríamos a algo assim”.
Na segunda tentativa, os dois foram ver “Fuocoammare”. Assim como os retratados no documentário, o sírio Kheir também quase morreu na travessia por mar: sua família desembolsou US$ 2.000 por um lugar num barco que virou durante uma tempestade. Eles foram salvos por uma patrulha grega. Anna olhou de soslaio para o sírio quando o barco do filme sacode nas ondas. “Ele estava segurando firme na poltrona. Senti um ligeiro tremor.” Segundo o festival, o programa envolveu 953 pessoas, incluindo voluntários e refugiados. A mostra, que termina neste domingo (21), anunciará os vencedores dos prêmios na noite de sábado (20). Foto: Divulgação
Semelhanças
Para “Alone in Berlin”, drama em competição sobre um casal que desafia o regime nazista, levou Diana, arquiteta oriunda de Damasco. A refugiada de 45 anos chorou na primeira cena, diz Nicole. “Achei que tinha errado em levar alguém que
“Fuocoammare”, documentário de Gianfranco Rosi, sobre ilha que serve de rota a refugiados.
Jornal do Meio 837 Sexta 26 • Fevereiro • 2016
Momento Pet
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Nossos queridos clientes por Dr. André Alessandri
Comportamento
Suspiros por SUZANA HERCULANO-HOUZEL /FOLHAPRESS
O suspiro surge como uma ‘respiração dupla’, cortesia de alguns milhares de neurônios no bulbo cerebral Momento de tensão: qual é o risco de você parar de respirar se não pensar a respeito? Felizmente, nenhum. Respirar é algo que fazemos sem precisar de monitoração consciente. Não porque respirar seja um reflexo, uma ação que ocorre inevitavelmente em resposta a um estímulo sensorial – embora, quando acontece de o sangue ficar saturado demais com gás carbônico, isso sirva de fato como um sinal que inicia uma inspiração reflexa, o que, embaixo d’água, é o que causa o afogamento. Respirar, em condições normais, é um
ciclo de contrações motoras organizado por um grupo de milhares de neurônios no bulbo cerebral, quase chegando na medula espinhal, chamado Complexo preBötzinger (CpreB). Cada surto de atividade dos neurônios do CpreB causa a contração do diafragma e, assim, uma inspiração. Como os surtos são cíclicos, controlados interna e espontaneamente pela rede formada pelos neurônios do CpreB, a respiração também é cíclica –sem que o resto do cérebro precise pensar a respeito. A respiração, contudo, pode ser modulada por vários fatores. A alteração dela quando se ri, chora, corre, fica tenso ou preso em um ambiente com pouco oxigênio mostra que os neurônios do CpreB são afetados
por fatores cognitivos e fisiológicos. Suspirar é um desses casos. Seja o suspiro “fisiológico” que ocorre algumas vezes por hora em nós, humanos (e que mantém a capacidade respiratória ao inflar alvéolos pulmonares que tendem espontaneamente a colapsar), ou associado a tristeza, expectativa, exaustão, alívio ou simples sugestão, o suspiro é uma “inspiração dupla”. No CpreB, um suspiro surge como um surto duplo de ativação, que faz uma segunda inspiração começar assim que a primeira se completa. Um novo estudo do grupo de Jack Feldman, o descobridor do CpreB, na Universidade da Califórnia em Los Angeles, acaba de mostrar que suspiros são iniciados pelo CpreB sob a ação de dois variantes
do neuropeptídeo bombesina, vindos de duas estruturas vizinhas. Talvez uma dessas estruturas funcione como mediadora dos suspiros emocionais e a outra, dos suspiros fisiológicos. Mais pesquisa dirá. Enquanto isso, fica a garantia de que respirar, ou suspirar quando necessário, continuará acontecendo sem que você precise se preocupar com isso – cortesia de alguns milhares de neurônios no seu CpreB. SUZANA HERCULANO-HOUZEL é neurocientista, professora da UFRJ, autora do livro “Fique de Bem com seu Cérebro” (ed. Sextante) suzanahh@gmail.com
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