840 Edição 18.03.2016

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Braganรงa Paulista

Sexta 18 Marรงo 2016

Nยบ 840 - ano XIV jornal@jornaldomeio.com.br

jornal do meio

11 4032-3919


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Para pensar

Jornal do Meio 840 Sexta 18 • Março • 2016

Expediente

Sobre Jararaca por Mons. Giovanni Baresse

Jornal do Meio Rua Santa Clara, 730 Centro - Bragança Pta. Tel/Fax: (11) 4032-3919 E-mail: jornal@jornaldomeio.com.br Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli Jornalista Responsável: Carlos Henrique Picarelli (MTB: 61.321/SP)

Nestes dias, ao ser conduzido

de jararaca, podem atingir de 70

do ex-presidente para que desse

fender como crer oportuno. Penso

para prestar depoimento

cm a 2 metros de comprimento. O

sumiço em documentos. O que

que a sociedade deve amadurecer

sobre propriedades e sua

tamanho médio das jararacas é de

preocupa é que se está alimentando

seu modo de reagir e de participar

vida econômica, o ex-presidente

1,20 cm. Grande parte das espécies

um clima de apelo à queda de bra-

no campo de tudo o que envolve o

da República Lula, inconformado

possui vida noturna e terrestre. As

ço. O recurso aos meios jurídicos

exercício do Poder. Disse, em outras

com a forma como a Polícia Federal

jararacas são vivíparas (dão a luz

existentes está sendo deixado de

ocasiões, que poder e dinheiro são

conduziu a ação, afirmou que a

a filhotes). Alimentam-se princi-

lado e se caminha, perigosamente,

deuses xifópagos e sedutores. São

jararaca estava viva. Não tinham

palmente de pequenos roedores,

para fazer justiça com as próprias

intimamente ligados. E têm imenso

acertado a cabeça e sim a cauda.

sapos e lagartos. As jararacas são

mãos. Possivelmente esse clima

prazer em ligar a si os que caírem

Vamos recordar o que é a jararaca

serpentes peçonhentas, ou seja,

está sendo alimentado por clamor

nos seus encantos. Para, depois,

em nosso imaginário. Busquei um

produzem veneno. O veneno das

público exasperado pela lentidão

destruí-los. A problemática do

mulo a qualquer preço nos rói por

“site” de zoologia. Lá consta: Jara-

jararacas é potente e pode levar o

dos processos e pela facilidade

envolvimento em corrupção, da

dentro. E como é feio se mascara

raca é um nome popular e comum

indivíduo picado à morte, caso não

dos que têm poder e dinheiro em

qual é acusado o ex-presidente,

na multiface de atitudes que bus-

dado a várias espécies de serpentes

haja socorro médico e aplicação de

protelar suas presenças diante dos

é tão antiga. Pode-se dizer que

cam sua justificativa na penumbra

do gênero Bothrops. As princi-

soro antiofídico. Feita esta contri-

tribunais Compreendo que uma

os povos se habituaram a ela. E

do compadrio. Não sei se Lula é

pais espécies são: jararaca-verde,

buição para tomar cuidado com

pessoa vendo-se acuada, pelo

muitos, mesmo reclamando, vive-

responsável por tudo o que dizem

jararaca-da-seca, jararaca-do-norte,

as serpentes peçonhentas vamos

motivo que for, possa ter reações

ram à sua sombra. Nós sabemos

a seu respeito. Caberá à Justiça

jararaca-ilhoa, jararaca-da-mata,

ao que interessa. Como os leito-

como a de Lula. À uma atitude

que a corrupção é serpente que

esclarecer. Creio, porém, que o

jararaca-cruzeira e jararacuçu. As

res, tenho visto posicionamentos

agressiva se responde agressiva-

reflete a lenda do dragão que ao

esforço de uma resposta mais a

jararacas vivem em várias regiões

favoráveis e contrários à ação da

mente. Dono de boa expressão

ter a cabeça cortada tinha meios

altura do cargo que exerceu e das

da América Central, América do Sul

Polícia Federal. Não se discute que

diante dos meios de comunicação,

para fazer nascer outra. O único

esperanças que fez nascer, seria

e México. No Brasil, por exemplo,

Lula devesse ser ouvido. Discute-

hábil na argumentação “ad homi-

jeito de eliminá-lo era atingir o

muito mais produtivo do que o

existem várias espécies de jara-

-se a forma como aconteceu. Não

nem”, fino no humor e na ironia,

coração. O coração da corrupção

comparar-se a um bicho que não

raca. Os habitats principais são

conheço os meandros das decisões

projeta ataque que preserve a sua

é a ganância. A mesma que levou

teremos por estimação. Tomara

cerrados e florestas. Existe grande

tomadas. Surge, também, denún-

reputação. Não se pode questionar

os irmãos de José a vendê-lo aos

que a serenidade seja a luz para

variedade com relação a cores e

cia de vazamento da operação.

o “jus esperneandi” de ninguém.

mercantes que iam para o Egito.

os próximos acontecimentos.

tamanho. Dependendo da espécie

Alguém teria alertado o “staff”

Cada um tem o direito de se de-

Esse verme da tentação do acú-

Se for veneno, vai faltar soro!

As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão. As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Bragança Jornal Diário.


Reflexão e Práxis

Jornal do Meio 840 Sexta 18 • Março • 2016

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PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS

www.coquetel.com.br

e a ignorânciapolítica

ACM (?), político Base do rancor

por pedro marcelo galasso Cada integrante do ranking da CBF

Aqui, em "internetês" É posposto ao radical da palavra (Gram.) Prece católica para os mortos

Filhote de jumento com a égua

O céu da boca, por sua coloração

Instituto do Meio Ambiente (sigla) Unidade que vale mil quilos (símbolo)

Cobre de água Saudação telefônica

Colher, em inglês A maior universidade do Brasil O "guia" substituído pelo GPS

Torre de gelo como um miniglaciar Ir, em inglês

A letra, na disgrafia

Ovário e testículo (Anat.) Fluido da cebola que induz o choro

Deus, no panteísmo do filósofo Espinoza Fecho típico em mochilas

Aquele que acabou de ser batizado Fórmula do trabalho da benzedeira

"Memory", em RAM e ROM (Inform.)

Desprovido de sentido (fig.)

Formato do corpo de certas guitarras Invólucro calcário de certos moluscos

Raymond Hipoco(?), rístico sociólogo de francês "Daniela"

Ilha norteamericana na Micronésia

Califa Madeira dos xiitas de arcos Qualquer de violino abertura estreita

Como era conhecido Machado de Assis

Orvalho congelado Ainda; também

Versão prévia de softwares

Thomas Hardy, romancista inglês

Pressentimento Paraná (sigla)

BANCO

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Solução SU C P B M I L I T A R M U O A Q S U F I XO R O S E O D AL O E T Q S E R A C U S P G O I T O G A S E O C O M M A N E N T E AD V T G E A D A E U B R A S I L T H A O N M O N I Ç Ã O

criadas e partilhadas nas redes sociais, pois o instinto não é racional, ou seja, o comportamento do grupo impede a reflexão ou o questionamento. Os parâmetros de consciência individual são rompidos, um êxtase coletivo é criado, alimentado e tido como certo e verdadeiro, cobrando, em troca, a simples e mecânica repetição. É como se as regras sociais vigentes devessem ser substituídas por outras e, neste processo, as questões legais ou constitucionais são parcializadas ou vistas como empecilhos para a ação daqueles que pretendem nos salvar, uma repetição de tantos comportamentos messiânicos tão famosos e danosos ao Brasil. O maniqueísmo é uma arma política poderosa e muito utilizada por grupos de esquerda e de direita, se é que esta divisão pode ser defendida em um universo político incapaz de definir seus próprios termos. Afinal, as manifestações foram contra tudo e contra todos, sendo, por isso, uma contradição por si só. As reclamações sobre os rumos da economia, a ausência de serviços públicos dignos, a corrupção desenfreada surgem como motivadores destas manifestações cegas que são lideradas por aqueles responsáveis pela carência que experimentamos. O questionamento econômico, as queixas contra a corrupção são realizadas tidas como faltas exclusivas do Poder Executivo, expressando a incompreensão sobre o funcionamento institucional da república e sobre sua dinâmica decisória, ocultando as lutas fisiológicas dos partidos políticos pelo poder sobre o Estado e para alcançarem seus benefícios e riquezas. E, como última prova, a desmoralização da vida pública que se manifesta no absurdo e obtuso pedido de retorno do poder aos militares. Difícil defender que as manifestações do dia 13 de março de 2016 não possuíam um cunho fascista. Agora, é esperar o mesmo tipo de movimento dos que defendem a outra inverdade no dia 20 de março de 2016.

Ocorrência comum em greves

2/go. 3/itã. 4/feia. 5/class — serac — spoon.

As manifestações do dia 13 de março expressam de forma indelével a falta de visão política da chamada sociedade civil, um amontoado de opiniões sem fundamentos históricos ou políticos, quase uma birra coletiva com questões que nem de longe têm solução fácil ou próxima. O desprezo pela construção histórica do nosso aparato de poder, a desconsideração de nossas diferenças históricas e sociais, aqui naturalizadas e perpetuadas, dão o tom do que assistimos neste fatídico dia. As postagens nas redes sociais, os slogans violentos e anticonstitucionais, o apelo e o partidarismo claro das emissoras de TV, com seu jornalismo de mercado, entorpecem a massa de manifestantes, de direita e de esquerda, tão próximos que se alimentam com ódio, falta de visão política e inverdades. O momento exige, portanto, uma leitura mais cuidadosa para não cairmos nas armadilhas dos partidários cegos e irresponsáveis do PT e do PSDB, bem como de seus coligados. Aqui, tudo se torna pior, pois a leitura do teor das manifestações nos leva a um espectro que ganha força nos últimos anos, travestido de descontentamento, mas criando bodes expiatórios, uma de suas marcas, o fascismo. Uma observação séria e imparcial dá provas claras de tal teor. Dentre as provas, temos a estratégia psicológica de encara o indivíduo, o manifestante, como um elemento da massa e nunca como pessoa. Além disso, o pertencimento ou a sensação do pertencimento a um grupo social torna o indivíduo mais manipulável através dos vínculos do grupo do qual ele acredita fazer parte. O caráter amorfo do grupo lhe dá segurança, retira a necessidade de pensar, pois basta agir como os outros, e não o torna responsável pelo que ocorre fora do grupo. Outra prova, é o caráter instintivo das manifestações já que basta estar ali, pura e simplesmente, gritando, usando cores parecidas, repetindo gestos, como as saudações fascistas, exemplo de pouca reflexão ou de crença no absurdo. A desorganização rege a marcha, ainda que coreografias sejam

Classe, em inglês "Internet", em IE

P P A R A N E T MA G O A E C C L U B M A PA M D N E O F R E K I R E Z A A L I P A G R E T P R E

As manifestações, o fascismo

© Revistas COQUETEL

Luta japonesa Registro de reunião

Grupo Tenso; acomo as preensivo milícias Chanceler cariocas alemã

Marcelo Galasso - cientista político, professor e escritor. E-mail: p.m.galasso@gmail.com

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Jornal do Meio 840 Sexta 18 • Março • 2016

por GABRIEL ALVES/FOLHAPRESS

Dentro de um edifício da USP, no cantinho de um laboratório, funciona uma pequena porém eficiente fábrica de vírus da zika, que alimenta todos os grupos de pesquisa do país que passaram a se dedicar ao estudo do patógeno. O trabalho de produzir o vírus foi assumido pelo grupo do virologista Edison Durigon, professor titular da universidade. A veterinária e mestranda Stella Melo, que antes se dedicava a pesquisar o RSV (vírus sincicial respiratório, que acomete crianças), de repente virou uma espécie de gerente de produção do vírus da zika na USP, graças às suas habilidades em cultivar células em laboratório. O trabalho tirou até o Natal e o recesso de fim de ano da equipe –a produção não podia parar, já que muita gente dependia do material para tocar outras pesquisas que incluem novos testes diagnósticos e uma possível vacina. A equipe da USP, porém, não é a única que entrou na força-tarefa. Grupos de diversas universidades com experiência em epidemiologia (ciência que estuda a origem, espalhamento e efeitos de doenças), virologia (que estuda vírus) ou entomologia (ramo da biologia que lida com os insetos, entre eles o Aedes aegypti), estão deixando suas pesquisas originais de lado para incluir e priorizar o tema zika nos estudos. Hoje um filão, o vírus da zika nunca foi muito estudado no Brasil ou no mundo. Mesmo após as primeiras detecções da doença no país, em 2014, não houve grande interesse dos cientistas –a doença passava quase despercebida no meio de dengue e chikungunya. Tudo mudou, contudo, após a microcefalia entrar na história e sua relação com o vírus da zika ganhar contornos de causalidade. Em novembro, com a intensificação dessa relação zika-microcefalia, pesquisadores de São Paulo se mobilizaram para recriar e rebatizar a antiga rede de grupos de pesquisa em virologia do Estado, agora chamada de Rede Zika. ‘A gente ficava sabendo do que acontecia pela imprensa’, diz Durigon.

Novas atribuições

A rede reúne cientistas de São Paulo que pensam nos próximos passos da pesquisa e compartilham achados e informações como técnicas de cultivo de vírus. Em outros Estados também há articulação de redes de pesquisa para estudar a zika. No Rio de Janeiro, ela está sendo capitaneada pela Fiocruz. Também há várias colaborações nacionais. Uma delas foi liderada pela Sociedade Brasileira de Genética Médica, que uniu cientistas do Sul, Sudeste e Nordeste do país e produziu um estudo recente que afirmava que 71% dos casos de microcefalia são graves. A esperança é que todas essas contribuições gerem resultados impactantes tanto na comunidade científica quanto na vida cotidiana. Os vírus cultivados na USP entram em ação em projetos que visam detectar em minutos o zika no sangue e em investigações de como o patógeno produziria a microcefalia e outras más-formações. Há ainda uma iniciativa de vacina baseada em vírus inativado voltada às mulheres grávidas. A bióloga e mestranda Sara Pereira, da USP, hoje concentra seus esforços em criar um modelo animal que servirá para testar a eficácia da nova vacina. Até então, seu objetivo era criar um modelo para mimetizar infecções pelo vírus da dengue. Assim como Stella Melo, ela agora tem de lidar com as duas pesquisas. A veterinária e pós-doutoranda Danielle Araújo está na mesma ciranda. Seu foco era a infecção pelo vírus da raiva, mas agora ela mira em um método barato e automatizado de diagnosticar a zika.

Gargalos

Mas, ao deixar de lado seus projetos iniciais para se concentrar na zika, os pesquisadores ganham cobranças em dobro. Isso porque eles ainda precisam apresentar relatórios e prestações de contas dos projetos interrompidos às agências de fomento. O trabalho duplo pode, inclusive, ser um gargalo na pesquisa da zika, avalia Durigon, já que mais cedo ou mais tarde os cientistas podem voltar aos estudos originais. Outro problema levantado pelo virologista é que faltam pesquisadores novos interessados em abraçar o tema zika desde o início e permanecer pelo menos seis anos –do mestrado ao doutorado– nessa

mesma linha, gerando herança para as próximas gerações acadêmicas. Para o diretor-científico da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), Carlos Henrique de Brito Cruz, o importante é que exista ‘massa crítica’ –ou seja, cientistas que já atuavam em áreas relacionadas– para coordenar pesquisas e receber financiamento. ‘São pessoas cujas formações são resultados de investimentos de décadas atrás.’

Foto: Diego Padgurschi/Folhapress

Mais dinheiro

Por ano, a Fapesp libera em torno de R$ 7 milhões para estudos relacionados às arboviroses (viroses transmitidas por artrópodes, como o aedes), mas a expectativa é que o montante cresça neste ano e os projetos ligados à zika possam ser aprovados (ou rejeitados) mais rapidamente. Órgãos internacionais como os NIH (Institutos Nacionais de Saúde dos EUA) e o britânico Medical Research Council também estão apoiando as pesquisas. Este último já disponibilizou £ 1 milhão (R$ 5,5 milhões). ‘Nenhum laboratório estava financeiramente preparado para o que aconteceu’, diz Jayme de Souza Neto, professor da Unesp em Botucatu. Em seu grupo, sete pesquisadores colocaram suas teses em espera para se dedicar à zika. A Fapesp também quer apoiar empresas de tecnologia para o desenvolvimento de métodos que impeçam, por exemplo, que as larvas do mosquito cheguem à fase adulta. As estratégias podem incluir produtos que atrapalhem a ‘mecânica’ de sobrevivência das larvas, fazendo com que elas se afoguem ao alterar a tensão superficial.

Pesquisa clínica avança com dificuldades

A pesquisa clínica ligada à zika também passa por apuros, mas ainda assim tem avançado. No início do mês, o oftalmologista Bruno Freitas, do Hospital Geral Roberto Santos, de Salvador (BA), viu um artigo liderado por ele ser publicado na prestigiosa revista científica ‘Jama Ophthalmology’, da Associação Médica Americana. Ao analisar 29 casos de microcefalia presumidamente associados à zika, Freitas e colegas viram que dez dos bebês também apresentavam alterações oculares que podem implicar em perda parcial ou total da visão. O ‘presumidamente’ é usado aqui por causa da ausência de testes diagnósticos adequados para uma fase posterior à infecção aguda, que dura poucos dias. As lesões oculares encontradas são inusuais e têm poucos paralelos na medicina, de acordo com os especialistas. A história não relatada nas páginas do artigo é a jornada para fotografar a retina dos bebês e a falta de instrumentos que poderiam ser usados para obter mais dados no meio dessa crise. O aparelho para esse fim foi emprestado por pesquisadores da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) para os de Salvador. O preço do equipamento está na casa dos US$ 70 mil (R$ 280 mil). Os 29 bebês foram examinados em um único dia e o aparelho foi devolvido. ‘Infelizmente não temos uma estrutura que ajude. Já pedimos um RetCam [nome do equipamento] para o governador. Com a burocracia, os pacientes chegam, vão embora e a gente acaba perdendo [a chance de examiná-los]’, afirma Freitas. FÁBRICA DE ZIKA Vírus é produzido por laboratório da USP e distribuído para pesquisas do país ORIGEM As amostras provém de fluidos corporais de pacientes como urina, sangue, soro, líquido amniótico (no caso de gestantes) ou saliva CULTURA Os pesquisadores isolam o vírus e infectam células cultivadas em laboratório. Nelas, o vírus se replica e se acumula PRODUÇÃO Após a etapa de cultura, o vírus é purificado e os pesquisadores separam pequenas alíquotas, que são mantidas em nitrogênio líquido SEGURANÇA A segurança é garantida tanto na produção (não vaza ar da sala de cultivo para o exterior) quanto no transporte, que utiliza uma embalagem especial DISTRIBUIÇÃO Os vírus são distribuídos para grupos de pesquisa que estudam a genética e que estão desenvolvendo novos testes diagnósticos, por exemplo.

A pesquisadora da USP Stella Melo se prepara para trabalhar com células infectadas pelo vírus da zika. Foto: Diego Padgurschi/Folhapress

Cientista manipula amostra com sangue contaminado, obtido de paciente que teve zika.


Jornal do Meio 840 Sexta 18 • Março • 2016

Momento Pet

Saúde

Consumo de remédio sem

prescrição cresce no país por GABRIEL ALVES/FOLHAPRESS

Todo mundo sabe de cor uma lista de seus medicamentos isentos de prescrição favoritos: tem aquele para dor de cabeça, o que alivia a dor muscular e os que servem para a queimação no estômago. A busca por essas drogas só vem crescendo no país –e há a expectativa de que aumente ainda mais, com uma nova regra da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em vista. De 2014 para 2015, o consumo dos remédios conhecidos como OTC (over the counter, que significa “em cima do balcão”, ou seja, sem o intermédio de um farmacêutico) subiu 14%. Em anos anteriores, o crescimento também superou dois dígitos (veja infográfico). Esse mercado corresponde hoje a R$ 16,4 bilhões e vende mais de 1 bilhão de unidades anuais –correspondentes a um terço do total de vendas de medicamentos. Caso a Anvisa aprove uma nova regra que facilite a transformação de medicamentos tarja vermelha (que precisam de receita médica) em OTCs, essa fatia pode aumentar mais, segundo Jonas Marques, presidente da Abimip (Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Isentos de Prescrição) –ainda que muitas drogas de tarja vermelha já sejam vendidas na prática sem receita.

A nova resolução pode ainda acelerar a entrada de novos medicamentos sem prescrição no mercado, já que ela prevê a aprovação do princípio ativo –desse modo, não seria necessário que cada fabricante entrasse com um pedido diferente. riscos Um candidato a mudar de categoria para OTC é o omeprazol, medicamento bastante utilizado para desconfortos estomacais. No entanto, seu uso prolongado pode causar o chamado efeito rebote: quando é interrompido, os sintomas voltam agravados. Especialmente em idosos, o uso crônico da droga leva à diminuição da absorção de vitamina B12, causando deficit de concentração, confusão mental, anemia e até alterações de ritmo cardíaco. Além disso, alguns analgésicos e anti-inflamatórios podem causar alergias, sangramentos (especialmente em hipertensos) e trazer prejuízos à saúde de pacientes renais, com problemas de fígado e diabéticos. “Se o médico receitou, a pessoa pode usar. Mas é fundamental se consultar de tempos em tempos para garantir que os medicamentos sem prescrição que são usados regularmente podem ser ingeridos sem risco”, diz Antonio Carlos Lopes, professor titular da Unifesp e presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica. O crescimento do mercado dos OTCs,

avalia Lopes, aconteceu por causa de uma deterioração do sistema de saúde –não há médicos para atender a todos. Já a indústria defende a ideia de “autocuidado”, segundo a qual o paciente, conhecendo o próprio corpo, seria capaz de tomar decisões como a de escolher um analgésico para dor de cabeça. “A classe médica se incomoda com a divulgação de informações sobre remédios para o consumidor, e nós seguimos as regras da Anvisa de que o tom tem que ser muito mais explicativo do que vendedor”, diz Cesar Bentim, diretor da unidade de medicamentos isentos de prescrição do Aché Laboratórios. Mas é certo que ampliar a oferta de OTCs significa em aumento na receita. Hoje, 11% da receita do Aché provém destes remédios, mas Bentim diz que essa parcela pode chegar na casa dos 25%. Apesar do baixo risco, existe uma série de recomendações para evitar problemas. A primeira, por mais óbvia que pareça, é ler a bula. Outra é só tomar o medicamento enquanto houver sintoma. A terceira, menos conhecida, é nunca tomar dois remédios com o mesmo princípio ativo. Na piora dos sintomas ou no aparecimento de dores agudas ou de efeitos indesejados (como manchas na pele), o uso deve ser interrompido.

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Antenado

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Ana de Amsterdam’ faz relato íntimo

de depressão de autora Em blog transformado em livro, portuguesa mantém espécie de diário em que fala sobre vontade de suicídio, sexualidade feminina e maternidade também são temas da escritora, que se considera feminista

por ANGELA BOLDRINI/FOLHAPRESS

Ana Cássia Rebelo não é escritora

tões femininas, como a maternidade ou a

em tempo integral. Durante o dia,

sexualidade muitas vezes reprimida ou a

é advogada em Lisboa. No início

própria frigidez.

da noite, é mãe de dois meninos e uma

“São problemas que não são só meus, e eu

menina. Só quando eles dormem e a casa

sentia uma solidão enorme, porque achava

acalma é que ela, finalmente, põe-se a

que eram”, conta ela. “Mas depois que o

escrever no blog “Ana de Amsterdam”,

livro saiu, várias mulheres se identificaram

que mantém desde 2006.

com a minha vida.”

Vem dele os textos que compõem o livro

Para ela, que se considera feminista, é

homônimo, lançado no Brasil em fevereiro,

preciso falar sobre a maternidade como

pela Biblioteca Azul. Confessionais, os mi-

dever das mulheres. “Eu não sou uma fêmea

nicapítulos –que são mais como entradas

igual a uma camela, uma gata, não é só a

em um diário– tratam da vida da própria

natureza que está me guiando”.

escritora, de seus familiares, de conhecidos.

“Na minha geração, por exemplo, há mui-

A autora trata, sem pudores, da crise de

tos escritores homens e quase nenhuma

seu casamento, sua depressão, sua sexu-

mulher. Curiosamente, essas escritoras

alidade e sua recém-adquirida falta de

são mulheres que, em maioria, decidiram

libido. Conta sobre casos que tem com

não ter filhos.”

outros homens e também como foge do

“A escrita é algo que demanda muito tempo

marido na cama, noite após noite.

e esforço”, diz, ao defender que haja uma

Por isso, diz Rebelo à Folha, que o romance

partilha maior da criação da prole.

demorou tanto a sair. “Já tinha pensado em

Nem todos os textos do livro, cujo nome

transformá-lo em livro, mas é uma escrita

vem da música “Ana de Amsterdam” de

muito íntima, e os meus irmãos, pais, filhos

Chico Buarque –que a escritora diz amar

iam ter contato com ela.” Quando nasceu

“como qualquer pessoa sensata”– tratam

“Ana de Amsterdam”, ela conta que pediu

da própria Ana Cássia.

aos filhos mais velhos, adolescentes, que

Entremeados na espécie de diário, pequenos

não o lessem ainda.

contos retratam mulheres anônimas, lisbo-

“Eles sabiam que a mãe tem uma série

etas e goenses (região da Índia colonizada

de problemas, confiam nela assim, mas

por portugueses, para onde a escritora vai

não sabem preto no branco que a mãe é

muito, para visitar a família do pai).

depressiva, que já tentou o suicídio”, diz

“Sempre quis me aventurar para a ficção,

O livro, de fato, centraliza-se nesse aspec-

mas tenho medo”, diz. Ainda assim, diz

to da vida da escritora. Expõe seus dias

que pretende lançar algum livro do gênero

ruins, em que pensa em pés na beira de

. Mas não tem, por enquanto, planos de

uma janela, nos comprimidos guardados

largar a profissão matutina pela escrita

no armário e fala sobre a sua falta de

que, segundo ela, não seria capaz de “pôr

prazer no sexo, sobre o qual, porém, fala

comida na mesa dos meus filhos”.

incessantemente, procurando pornôs,

Entretanto, essa portuguesa de tantas

masturbando-se, buscando casos.

origens, nascida em Moçambique de pai

Na versão digital, porém, não é assim. Lá,

goês, amante de Chico Buarque, quer

Ana expõe também suas opiniões a respeito,

mesmo é cair na estrada.

por exemplo, do governo português, em

“Há muitos lugares que gostaria de conhe-

textos mais sérios. Esses acabaram sendo

cer. Espero que o livro seja uma desculpa

deixados de lado na seleção feita por ela

para ir ao Brasil.” Questionada sobre

em conjunto com João Pedro George. Além

uma possível vinda à Flip (Festa Literária

disso, conta ela, alguns textos do começo

Internacional de Paraty), desconversa:

do blog foram reescritos para o livro.

“Adoraria, mas não há nada certo nesse

O que sobrou forma uma espécie de ro-

sentido ainda.”

mance em crônica, cujo estilo lembra o

“Pedi aos meus filhos mais velhos que não

das autoras americana e britânica Sylvia

lessem o livro ainda. Eles sabiam que a mãe

Plath e Virginia Woolf –ambas, aliás, eram

tem problemas, mas não sabem preto no

deprimidas e acabaram se suicidando.

branco que é depressiva, já tentou o suicídio

Foto: Divulgação

Em “Ana de Amsterdam”, a portuguesa –nascida em Moçambique– fala de ques-

ANA CÁSSIA REBELO - escritora

A escritora portuguesa Ana Cássia Rebelo.


Comportamento

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Meditação funciona

Meditação da ‘atenção plena’, criada por médico americano, monopoliza pesquisas sobre o tema e, em novo estudo, reduziu os níveis de inflamação no sangue por JULIANA CUNHA/FOLHAPRESS

Talvez você já tenha se perguntado se meditação “funciona”, mas as questões que se seguem a essa são ainda mais capciosas. A primeira é como mensurar os benefícios desse tipo de prática. A maior parte dos testes na área de saúde são feitos do seguinte modo: enquanto um grupo recebe o tratamento testado, um segundo grupo recebe um placebo. Como o efeito placebo funciona em até 30% dos casos, é importante que os participantes não saibam se estão recebendo o tratamento real ou uma água com açúcar, assim os resultados podem ser comparados. Mas como ministrar um placebo de meditação? Um estudo publicado neste mês na revista “Biological Psychiatry” buscava investigar os efeitos da meditação “mindfulness” (atenção plena, ou consciência plena) na redução de estresse. Para isso, os pesquisadores recrutaram 35 pessoas desempregadas que estavam passando pelo estresse de buscar um novo trabalho. O grupo foi para um retiro de três dias de meditação. Enquanto metade deles recebia aulas de mindfulness, a outra metade fazia sessões de relaxamento nas quais o instrutor inseria piadas e distrações em momentos-chave para impedir que os participantes de fato se concentrassem. “Recrutamos pessoas que não tinham experiência prévia com meditação, de modo que não percebessem o truque”, explica David Creswell, psicólogo da universidade americana Carnegie Mellon que chefiou o estudo. Quase todos os participantes afirmaram que se sentiam mais relaxados e que tinham desenvolvido respostas melhores ao estresse, mas ressonâncias magnéticas mostraram alterações significativas –como ativação de áreas cerebrais associadas à sensação de calma– apenas no grupo que meditou de verdade. Quatro meses depois, um exame de sangue mostrou que o grupo da meditação real tinha níveis de inflamação consideravelmente menores que o grupo do relaxamento, ainda que poucas pessoas de ambos os grupos tivessem dado prosseguimento às práticas. O tipo de meditação que Creswell utilizou em sua pesquisa tem raízes budistas e deu origem a um programa de redução de estresse criado pelo professor Jon Kabat-Zinn, da Faculdade de Medicina da Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos, na década de 1970. Iniciado no budismo, Kabat-Zinn queria desenvolver um método que ajudasse pacientes crônicos a lidar com a doença, melhorando sua resposta aos tratamentos. “Toda meditação busca a atenção plena, mas a particularidade do mindfulness é buscar estar no presente com curiosidade”, explica o físico e budista ordenado Stephen Little, diretor do Centro de Vivência em Atenção Plena e professor da sucursal brasileira da

School of Life. Nas aulas, os alunos devem prestar atenção à respiração e a sensações corporais, inclusive as desagradáveis. Em parte por ter nascido em um ambiente acadêmico, a mindfulness tem se estabelecido

como a modalidade queridinha dos médicos e monopoliza boa parte das pesquisas sobre meditação. No Brasil, a Unifesp, por exemplo, tem um centro dedicado a ela. “Imagino que outros tipos de meditação tenham eficácia semelhante, mas como a maior

parte das pesquisas recentes trabalha com mindfulness, ela acaba chamando atenção dos médicos. Já sabemos, por exemplo, que melhora o parâmetro imunológico e reduz a ansiedade”, diz a psiquiatra Valéria Melo, do hospital Emilio Ribas. Foto: Rogério Cassimiro/Folhapress

Grupo pratica mindfulness em um centro de meditação de Sorocaba; treinamento dura dois meses, com encontros semanais Foto: Rogério Cassimiro/Folhapress


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Jornal do Meio 840 Sexta 18 • Março • 2016


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