Braganรงa Paulista
Sexta 24 Junho 2016
Nยบ 854 - ano XIV jornal@jornaldomeio.com.br
jornal do meio
11 4032-3919
2
Para pensar
Jornal do Meio 854 Sexta 24 • Junho • 2016
Expediente
Atibaia e a sua festa por Mons. Giovanni Baresse
Na metade do sécu-
na igreja foi ali colocada em
tória. Há um trabalho cuidadoso
João ainda é forte referência.
lo XVII o bandeirante
1908. Ao longo dos anos as duas
nas mais diferentes promoções
O trabalho pastoral que vejo é
Jornal do Meio Rua Santa Clara, 730 Centro - Bragança Pta. Tel/Fax: (11) 4032-3919 E-mail: jornal@jornaldomeio.com.br Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli Jornalista Responsável: Carlos Henrique Picarelli (MTB: 61.321/SP)
Jerônimo de Camargo
igrejas, feitas de taipa, foram
para que as novas gerações não
fazer com que a devoção secular
fundou um aldeamento que
submetidas a modificações
percam a riqueza do passado.
ao precursor de Jesus Cristo
os índios guarulhos ou guarus
(especialmente no seu interior).
Uma das atividades que mexe
seja motivadora de trazer para
chamavam com o nome que dá
Por volta do ano 2000 e dos anos
com muita gente é a Festa de
os nossos dias o espírito da
título a estas linhas. Esse nome
seguintes, houve interdição da
São João. Tem uma estrutura
missão e da pregação do Ba-
era dado ao rio que perpassava
matriz motivada pelo risco de
enorme. Mais de cem barracas
tista. Quando João surgiu era
o aldeamento. Seu significado:
desabamento do teto. O pároco
são disponibilizadas para a
“a voz que clama no deserto”.
manancial saudável. Posterior-
de então, Pe. Eugênio Luiz Bertti,
Paróquia e outras entidades,
Ele pregava a restauração dos
mente “Ty-baia” se transmutou
se desdobrou para conseguir
para que oferecendo comida,
caminhos para que o Messias
em Atibaia. No aldeamento foi
solucionar o problema. Um
doces, artesanato, brinquedos,
pudesse chegar. A proposta do
palavra e pelas atitudes, deve ser
erigida uma pequena capela
grande empenho da comunidade
etc., possam arrecadar fundos
batismo, às margens do Jordão,
inspirador para nossa época. O
dedicada a São João Batista.
superou o risco. Hoje as duas
para suas finalidades. A festa
era de conversão real e não um
compromisso com a verdade é
No dia 24 de junho de 1665 o
igrejas são utilizadas para as
ultrapassou os limites da co-
mero rito purificatório. Tanto
uma das grandes falhas morais
Padre Mateus Nunes de Siqueira,
celebrações. A Igreja do Rosá-
notação religiosa e passou a
que chamou de “raça de víbo-
de nosso tempo. É um tal de “não
amigo de Jerônimo Camargo,
rio completamente restaurada.
ser um evento do calendário
ras” àqueles que o procuravam
saber”, de “desconhecer”, de buscar
celebrou a primeira missa no
A matriz de São João ainda
municipal. E pelo envolvimento
somente para um ritual externo.
argumentações ridículas, de valer-se
local. Essa data é a oficial da
precisa de cuidados. Mas está
da gestão pública, que banca
Ele batizou a Jesus e o anunciou
do poder do dinheiro para mudar o
fundação da cidade.
Surge,
em total funcionamento. Essas
a infra-estrutura e a contra-
como o “Cordeiro que tira o pe-
fato em hipótese que, se não fosse
igualmente, por esse tempo
duas igrejas são marco para a
tação de artistas, ela abriu a
cado do mundo”. Não usurpou
de chorar, era para gargalhar. Como
a Igreja de Nossa Senhora do
memória dos fundadores e das
permissão para barracas de
a missão e nem aceitou que o
precisamos de homens e mulheres
Rosário dos Homens Pretos.
gerações que, nesses templos,
igrejas protestantes, centros
vissem como Aquele a quem ele
que tenham em João Batista um
Trabalho de escravos. No tra-
professaram sua fé e celebraram
espíritas, escolas de samba, etc.
preparava o caminho. Seu amor
paradigma!
balho de reforma e ampliação
suas vidas. Neste 24 de junho de
Não deixa de ser interessante...
pela verdade o levou à morte.
Atibaia festeja estes dias. Que a
da antiga capela de São João
2009 Atibaia celebrou 351 anos!
Noto que a figura de São João
Ao dizer a Herodes que não era
festa não termine quando barracas
surgiu o primeiro templo em
Os tempos mudaram. A cidade
Batista é muito lembrada pe-
lícito ter a cunhada como sua
e shows silenciarem. Que a festa
1719. Data de 1858 a segunda
também. Tem havido empenho
las pessoas. E hoje, contando
mulher, assinou sua sentença de
seja estímulo para lembrar a quem
reforma da Matriz. A imagem
do povo e das autoridades em
já com nove outras paróquias
morte. Não se desviou da denún-
se festeja e o compromisso
de São João Batista que está
não perder as raízes da sua his-
no município, a matriz de São
cia. Seu exemplo, marcado pela
que isso traz.
As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão. As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Bragança Jornal Diário.
Reflexão e Práxis
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PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS
www.coquetel.com.br
Volta, em francês Falta de hábito Antônimo (abrev.) Peças da bicicleta
Antigo nome de Tóquio Andarilho
Letra na máscara do Capitão América (HQ)
Lalá, Lelé e Lili, para Margarida (HQ)
Passa para uma nova data
Sistema (?): localiza-se na Via Láctea Desnorteado Homem, em inglês Última nota musical Inválidas
Situação representada pelo "ufa!" Descer de montaria Reunião festiva
Santificar Cabideiro de lojas de roupas
Ivan Pavlov, fisiologista russo
"(?) Ching", livro oracular chinês Embarcação como o Bateau Mouche
Inscrição nos carros da ONU (ing.) Distraída O Cartunista das Mulatas Verbo associado ao cônjuge infiel Falência (fig.) Pigmento da cenoura
Saudação ao se atender o telefone
Gênero musical de "Danúbio Azul" Personificação do Mal, para os cristãos Fluido que não se mistura à água
BANCO
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Solução
A A R M E
A D I A S E T A
Marcelo Galasso - cientista político, professor e escritor. E-mail: p.m.galasso@gmail.com
T R A P E P M A
D E S A P R O P R I A Ç Ã O
de referência como exemplo de formação de uma sociedade civil consciente e forte. O vil e atroz ataque nos EUA teve um correlato no Brasil, pouco divulgado para que a imagem de país receptivo e tranquilo, uma grande e latente inverdade, não seja arranhada nas vésperas das fatídicas e irresponsáveis Olimpíadas, evento desnecessário e que cobrará, por décadas, seu preço. No interior da Bahia, dois professores foram queimados por serem gays. Como sempre, a repercussão de um caso fora do Brasil ganha notoriedade e causa comoção já que os meios de comunicação de massa vêem nas Olimpíadas uma forma de ganhar dinheiro, algo que é comum na área editorial, pois o dinheiro é muito mais importante que a verdade do fato. As emissoras de TV, por exemplo, lançam suas campanhas, buscam seus patrocinadores e escondem nossas mazelas e nossa violência social, política e econômica. A morte das pessoas que escolhem sua opção sexual é, na verdade, a morte de valores de liberdade e de escolha que marcam a construção histórica dos países ocidentais. A questão aqui é maior que a questão da sexualidade, é uma questão de valores que nos constituem e que devem ser defendidos. Aqui, os conservadores dirão – Há um abuso na postura de alguns grupos gays e suas escolhas mancham nossos valores como a constituição de nossas famílias e são contra a vontade de Deus. Discurso hipócrita e sedutor que oculta a violência destes grupos, bem como o absurdo de tal argumentos. Os abusos, que são subjetivos, existem entre os homossexuais e entre os heterossexuais, mas isso é motivo para que a comunidade gay começa a atacar os locais frequentados pelos heterossexuais? A resposta, até pouco tempo, seria óbvia.
Menisco (?): situa-se na porção mais interna do joelho (Anat.) Tom de vermelho vivo Empresa brasileira pioneira em extração no pré-sal Veículo para se andar no gelo
I A T E
A sociedade ocidental passa por um momento de turbulência e de questionamento de seus valores fundamentais, a secularização e a laicização, que garantem aos indivíduos direitos de escolha de valores religiosos, ideológicos e sexuais. Entretanto, é visível o crescimento do extremismo e da intolerância que alimentam alguns grupos que crêem serem os detentores da verdade ou dos bons valores e costumes e que pretendem impor suas visões de mundo a todos os demais grupos sociais, notadamente os chamados grupos minoritários, como a comunidade gay. Tal fenômeno de imposição é tão forte que se alastra em todo o mundo, desde as regiões controladas por grupos como o Estado Islâmico, como em sociedades tidas como avançadas, tal qual os EUA, e nas regiões mais conservadoras tomadas pelo absurdo do machismo, forte e predominante, por exemplo, no interior brasileiro. O atentado em Orlando em uma boate gay é sintomático de uma sociedade que vem experimentando o aumento de grupos extremistas cuja inspiração religiosa cria fanáticos dispostos a limpar a comunidade daqueles que, para eles, representam ameaças aos seus valores e crenças, ou seja, eles pretendem criar uma sociedade que se construa segundo suas imagens e semelhanças. Neste contexto, os grupos minoritários se tornam alvos óbvios e, por isso, atacados frequentemente. A escolha de uma figura tão violenta e incoerente como Donald Trump para concorrer as eleições presidenciais pelo Partido Republicano é um claro sinal desta postura violenta que se alastra pelos EUA. A sua figura midiática e seus discursos cheios de ódio e de bodes expiatórios que, supostamente, explicam os problemas econômicos e sociais dos estadunidenses e que, por isso, devem ser banidos é a retórica que toma forma e ganha espaço em uma das sociedades ocidentais que, até pouco tempo, servia
Peça que ajuda a fixar a porca ao parafuso
I M N P O M B O D I A L U E S C A R L A P E T R O B R E N O T O UR D E N T E O S D A I S O L E R T U R B A N I S R C A N O N I Z I L E U N L A I R A H E V A L S A U I N A S A L R O TE N O O
por pedro marcelo galasso
"Ri-se o (?) do esfarrapado" (dito)
B A T R A R C A
da homofobia
© Revistas COQUETEL
O dente usado para a Alho, Desenho Ato realitrituração (Odont.) cebola ou usual do zado pela Codinome da chefia alho-poró cursor União em (Inform.) terras imde James Bond (Cin.) (Bot.) produtivas, para fins de reforma agrária
(?) do Brasil: é comemorada no dia 7 de setembro (Hist.) Acordo; trato Aves comuns em pracinhas Desonerar
3/arn — edo — lan — man. 4/satã — tour. 6/medial. 8/caroteno.
O horror
Equivale a 100 m2 Ácido ribonucleico
Casas em Condomínio
Jd. das Palmeiras..................................................................................................................R$ 650 mil Florestas de São Vicente (nova)..............................................................................................R$ 580 mil Euroville (nova).....................................................................................................................R$ 950 mil Portal de Bragança (nova)................................................................................................R$ 1.3 milhões Village Santa Helena....................................................................................................R$ 1.490 milhões Portal Bragança Horizonte (nova)..........................................................................................R$ 770 mil Villa Real (nova)....................................................................................................................R$ 900 mil Rosário de Fátima ( Ac imóvel – valor)............................................................................R$ consulte-nos
Terrenos em Condomínio
Villa Real 428m²...................................................................................................................R$ 150 mil Colinas de São Francisco 616m²............................................................(parcelamos em 10x) R$ 300 mil Terras de Santa Cruz 600m²...................................................................................................R$ 120 mil Portal Bragança Horizonte 341m²..........................................................................................R$ 200 mil Jd. Nova Bragança 300 m².....................................................................................................R$ 200 mil
Apartamentos
Ed. Piazza de Siena................................................................................................................ R$ 950 mil Apto. Jardim do Lago............................................................................................................. R$ 300 mil Apto. Centro (novo)................................................................................................................R$ 255 mil Ed. Don Pedro I...................................................................................................................... R$ 650 mil Apto. Jd nova Bragança ( Alto Padrão 230m² 3vagas)...................................................... R$ Consulte-nos Apto. Ed. Clipper (Centro) Reformado 3dorm. 1gar....................................................................R$ 450mil
Diversos
Casa Jd. Europa.....................................................................................................................R$ 530 mil Terreno Jd do Lago Comercial 600m²..................................................................................... R$ 600 mil Imóvel Comercial AV. Norte-Sul.............................................................................................R$ 630 mil Prédio Comercial Shopping Jaguari....................................................................................... R$150 mil
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Jornal do Meio 854 Sexta 24 • Junho • 2016
por Shel Almeida
Um projeto que vem sendo desenvolvimento desde 2014 pela Diretoria de Ensino da Região de Bragança Paulista estimula a educação ambiental, promove o trabalho em equipe e ainda resgata o costume de trocar cartas. Criado em 2013 pelo Consórcio de Bacias Hidrográficas PCJ, como convite para um intercâmbio entre algumas escolas municipais e estaduais das cidades da região, teve continuidade, a partir do ano seguinte, como trabalho interdisciplinar em todas as escolas estaduais das 12 cidades que compõe a Diretoria Regional. “A primeira experiência funcionou de forma mais tímida, como um projeto piloto. Nós gostamos da ideia porque atende outras competências, como a leitura e a escrita, habilidades que são solicitadas no Enem, por exemplo. Como o trabalho ambiental já acontece em todas as escolas estaduais, foi determinado que o produto final seria a carta. Dessa forma, as escolas poderiam montar um portfólio a respeito e trocar informações e experiências entre si. O projeto serviu, também, como um resgate ao processo de escrever cartas. A maioria dos alunos não tinha a noção de como funcionava, até por ser algo manuscrito. A expectativa deles foi muito boa, ansiosos pela carta da outra escola, sensação bem diferente da troca de e-mails ou mensagens instantâneas ao qual estão acostumados”, explicam os Professores Coordenadores do Núcleo Pedagógico da Diretoria Regional de Ensino de Bragança Paulista e responsáveis pelo projeto, Hercimary Bueno de Oliveira, Valdemir Augusto Pinheiro e Maria Aparecida Prezoto. Segundo contam, o que se tem percebido é que a maneira como esse projeto vem sendo desenvolvido pelas escolas, como um trabalho coletivo, está fazendo com que a questão ambiental deixe de ser uma problemática apenas escolar para ser um problemática da vida dos jovens. Os alunos estão conseguindo levar as questões levantadas às comunidades em que vivem, gerando assim, não apenas mobilização mas, principalmente, transformação social. O projeto funciona da seguinte maneira: cada escola escolhe um tema relacionado ao meio ambiente para desenvolver com os alunos, de acordo com sua própria realidade e necessidades. Depois, é preciso desenvolver uma carta para enviar a uma outra escola, contando como está sendo o processo. Posteriormente será a vez de responder, sugerindo soluções para o projeto de onde veio a outra carta. A maneira como a correspondência será produzida fica a critério de cada instituição de ensino. As escolas que irão trocar as cartas entre si são selecionadas pela Diretoria, de acordo com a semelhança ou diferença entre os projetos, sempre visando a troca de experiência.
Questão do lixo
O projeto da E.E. Coronel Francisco de Assis Gonçalves é bem simples mas, de acordo com a Professora Coordenadora Daniela Cavallaro e o Professor e Interlocutor Ambiental Ricardo Moreira Rodrigues, já transformou todo o ambiente e funcionamento escolar. A partir de uma gincana interclasses, os alunos são estimulados a manter a escola sem lixo e sujeira, evitando o desperdício de papéis e mantendo o chão e carteiras limpos. Uma classe vistoria a outra, indicando pontuações por itens pré determinados. “Os próprios alunos vão verificando a limpeza e manutenção do espaço escolar. Eles anotam, fazem relatório e, com isso, vão ficando mais conscientes a respeito da realidade na qual estão inseridos. Estão conseguindo analisar criticamente o benefício, porque percebem que o ambiente está melhor. Esse é um projeto que tem data para acabar mas esperamos que não seja mais preciso fazer uma gincana para que a escola se mantenha limpa, que seja algo natural e rotineiro para eles. Até mesmo o trabalho das funcionárias responsáveis pela limpeza
do prédio está melhor agora, o tempo delas pode ser mais bem aproveitado. Antes, não conseguiam limpar todas as salas durante a troca de turnos, precisavam voltar no intervalo. Outra mudança foi o envolvimento dos alunos. Mesmo aqueles mais desinteressados estão se sentindo estimulados”, falam.
Preservação de nascentes
O projeto desenvolvido pela E. E. Professor Siles Coli tem mobilizado toda a comunidade do entorno. Situada na zona rural, os problemas locais envolvem a coleta de lixo e o descarte irregular de materiais que, por consequência, atingem diretamente as nascentes ao redor. Observada a necessidade de conscientizar os alunos a respeito da questão, a escola conseguiu transformá-los em uma espécie de agentes ambientais, a partir do momento em que levaram a problemática para a família e moradores do bairro em geral. “Os alunos fizeram um levantamento para verificar se havia nascentes nos sítios em que vivem e qual a situação delas. Depois fizeram pesquisa para saber se a área verde em volta estava preservada e também descobriram que diversas nascentes secaram. Nas que restam, detectaram sinais de poluição e notaram que as maiores fontes de contaminação são o descarte de óleo, lixos e esgoto que vão para os córregos e lagos e prejudicam os lençóis freáticos. O lixo é recolhido na comunidade apenas duas vezes por semana. Com o projeto, foi possível conscientizar sobre o descarte correto e sobre o reaproveitamento materiais. Alunos e pais tiveram palestra sobre redução de consumo, destino correto do lixo, e contaminação da água pelo descarte incorreto. Depois disso, a escola começou a recolher pilhas e baterias e também óleo de cozinha. Quanto ao esgoto, tivemos uma oficina oferecida pelo Espaço Maitá, que é nosso parceiro e vizinho”, conta a Professora e Interlocutora Ambiental, Maria de Lourdes Alves Januário.
Valdemir, Hercimary e Maria Aparecida, da Diretoria de Ensino são os Professores Coordenadores do Núcleo Pedagógico responsáveis pelo projeto de educação ambiental e troca de cartas.
Para o Interlocutor Ambiental Prof. Ricardo e a Coordenadora Daniela, da Escola Assis Gonçalves o projeto mudou todo o funcionamento da instituição para melhor.
Interdisciplinaridade
A peculiaridade da E.E. Ismael de Aguiar Leme é a proximidade com o Cemitério Municipal. Baseado em interdisciplinaridade e palestras para professores, pais e alunos, o projeto conseguiu mobilizar de tal forma que a própria Interlocutora Ambiental, a Professora Márcia Aparecida Cardoso, se surpreendeu com o andamento. “O mais interessante foi o envolvimento de todos. Os colegas professores souberam aproveitar muito bem o projeto e, consequentemente, motivar os alunos. Os pais também foram muito participativos, na palestra que fiz para eles, senti como se estivesse dando aula, porque todos se interessaram, trouxeram questionamentos, quiseram saber mais. E as descobertas dos alunos foi outro fator muito importante. Em matemática, eles levantaram valores no velório, ficaram assustados com o preço. Em ciências estudaram a questão da contaminação, coisa que nem eu sabia, descobriram e fizeram uma pesquisa extensa sobre o necrochorume (É o líquido que escorre dos corpos mortos em decomposição nos cemitérios, tornando–se um problema sério por causa do enorme potencial de contaminação do solo e da água). Esse retorno de toda a comunidade escolar foi muito positivo. Da maneira como conseguimos trabalhar sempre houve resposta e envolvimento, foi algo que realmente motivou a todos. A própria curiosidade dos alunos foi muito grande, especialmente pelo tema, que é algo que no dia-a-dia ninguém pensa, mas que afeta a todos em algum momento. Muita coisa da pesquisa partiu deles que quiseram saber mais e mais. Todos os professores foram ótimos em corresponder a isso, de acordo com a sua disciplina. Na aula de artes, por exemplo, foram produzidas histórias em quadrinhos baseadas no projeto”, diz.
De acordo com Interlocutoras Ambientais Profª Márcia, da Escola Ismael Leme e Profª Maria de Lourdes, da Escola Siles Coli, o projeto conseguiu mobilizar todas a comunidade escolar.
A Escola Ismael Leme conseguiu unir toda a comunidade em torno do tema. Envolvimento de alunos, professores e pais foi resultado inesperado.
Escola Siles Coli trabalhou a questão das nascentes da proximidade e mudou a rotina de toda a comunidade rural.
Antenado
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Mostra de Volpi em Londres
questiona o título de naïf por LUCAS NEVES/FOLHAPRESS
Celebrizado por suas séries de bandeirinhas
interiores antes de passar às telas.
Já o crítico inglês Herbert Read foi peça-
do expressionista Oswaldo Goeldi; fre-
e fachadas que aliam formas simples
O rótulo de naïf é resultado de um preconceito
-chave para a atribuição da distinção ao
quentava nomes como Tarsila do Amaral
e cores vibrantes, o pintor Alfredo
classista, constitui uma forma de relegá-lo
pintor na Bienal de 1951 segundo Décio
e Lasar Segall.
Volpi (1896-1988) foi classificado
ao segundo plano, avalia Asbury. O Brasil
Pignatari contou à Folha em 2001, havia
A exposição, organizada com o apoio da
por um filão da crítica como artista naïf.
não admite isso [que uma pessoa de origem
um acerto entre os membros da comissão
galeria paulista Almeida e Dale, fica em
Ou seja: mais intuitivo do que técnico,
pobre alcance amplo reconhecimento]. Até
julgadora para conceder o prêmio a Di
cartaz até 29 de julho.
e não inserido no circuito tradicional de
hoje, no país, há poucos artistas negros ou
Cavalcanti, mas Read se opôs e ameaçou
formação (escolas de arte) e divulgação
que não vêm de família da classe alta.
dedurar a armação à imprensa, conseguindo
(galerias, museus, leilões).
Ironicamente, dois grandes admiradores
por essa via emplacar o seu preferido, Volpi.
Uma exposição a ser aberta neste sábado (11),
da produção do italiano estão entre os que
O britânico tinha apreço pela obra do naïf
em Londres, busca justamente questionar
contribuíram para o que o curador vê como
Alfred Wallis (1855-1942), natural de uma
essa caracterização. É a primeira mostra
uma estigmatização. O crítico Mário Pedrosa
vila de pescadores da Cornualha, e o para-
no Reino Unido dedicada exclusivamente
(1900-1981) organizou uma retrospectiva do
lelo com Volpi tornou-se quase inevitável.
à obra de Volpi, italiano radicado em São
artista em 1957, no Museu de Arte Moderna
O certo é que a pintura de Volpi efetiva-
Paulo desde os dois anos. No espaço expo-
de São Paulo. Na Bienal de 1961, da qual foi
mente mudou a partir do fim dos anos
sitivo da Cecilia Brunson Projects, 17 telas
curador, dedicou a ele uma sala. Oito anos
1930, depois de ele conhecer o trabalho do
percorrem as seis décadas de atividade do
antes, havia integrado o júri da Bienal que
naïf Emigliano de Souza, de Intanhaém,
pintor, entre os anos 1930 e 1980.
dera a Volpi o prêmio nacional de pintura
no litoral paulista: adeus à perspectiva,
Para o curador Michael Asbury, a grande
empatado com Di Cavalcanti (1897-1976).
fachadas retratadas sob outra mirada, e
contribuição dele foi mostrar que um homem
Ocorre que, em seus escritos, Pedrosa
logo a introdução das bandeirinhas como
de origem simples podia ser um grande
costumava sublinhar o caráter outsider
motivo recorrente.
artista. Morador do Cambuci (bairro na
de Volpi, a sua não filiação a círculos de
Mas trata-se de uma progressão consciente,
região central de São Paulo com expressiva
artistas e ao mundo da arte de uma forma
não intuitiva, destaca Asbury. Além disso,
fixação de imigrantes italianos), Volpi aban-
geral, lembrando que ele não recebera
Volpi tinha entrada no grand monde das
donou a escola no começo da adolescência
treinamento formal. Tratar-se-ia, assim,
artes. Admirava o alemão Joseph Albers e
e trabalhou como tipógrafo e pintor de
de um naïf.
o francês Paul Cézanne; sofreu influência
Foto: Divulgação
Tela com as célebres bandeirinhas.
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Saúde
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Tratamento de vesguice em crianças
tem resultado melhor por GISLAINE GUTIERREZ/FOLHAPRESS Arte: Folhapress
A infância é o melhor momento para tratar a vesguice (estrabismo). Quanto mais cedo ela for detectada e tratada, maior será a chance de recuperar a capacidade de visão do olho torto. Para que os olhos fiquem retos, é preciso que os músculos que os movimentam funcionem em sincronia. Esses músculos são comandados por nervos cranianos, que os ligam ao cérebro. É por isso, por exemplo, que distúrbios neurológicos (veja ao lado) podem fazer com que a pessoa fique vesga. Mas, como explica a oftalmologista Célia Nakanami, do Departamento de Oftalmologia Pediátrica da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a maior parte dos casos é hereditária, por isso, é comum que os sintomas apareçam na infância. “Se os pais notarem algum desvio, eles devem correr para o médico”, diz Célia. “Pode haver queixas do tipo dor, vermelhidão nos olhos, coceira ou lacrimejamento, que ocorrem por causa do esforço visual para tentar deixar os olhos retos”, afirma Josenalva Cassiano, oftalmologista do Hospital das Clínicas. Célia explica que, na vesguice, o cérebro passa a ignorar a imagem borrada produzida pelo olho torto, chamado de “olho preguiçoso”. Por isso, esse olho vai enfraquecendo sua capacidade de visão. Como até os 8 anos a pessoa ainda está desenvolvendo a visão, essa é a melhor fase para evitar maiores danos ao olho ruim. E é o tratamento com tampão que vai forçar o olho preguiçoso a trabalhar e melhorar. “Se não tratar, essa perda pode até ser irreversível”, diz Célia. Em pessoas que ficaram vesgas após os 8 anos é com um haver visão dupla, porque o cérebro já não ignora as imagens do olho ruim. “Dizem que se a criança brincar de entortar os olhos vai ficar vesga. Não é verdade”, afirma Josenalva. (Gislaine Gutierre) Uso de tampão e cirurgia são indicados Tampão não corrige o desvio dos olhos, como explica a oftalmologista da Unifesp Célia Nakanami. A solução costuma estar na cirurgia, que, ainda assim, não garante resultados para a vida toda. Há situações em que o procedimento nem é necessário, como no de uma criança que fica vesga porque enxerga mal (geralmente de perto) e força a vista para enxergar. Aí, o uso de óculos pode resolver. (GG)
Comportamento
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Nana nenê
Deixar a criança chorando no quarto pode ensiná-la a dormir a noite toda e não causa estresse, segundo um novo estudo, mas pais brasileiros resistem à ideia por RACHEL BOTELHO/FOLHAPRESS
Não sabe mais o que fazer
as duas técnicas reduziram o tempo
apelar para uma técnica compor-
treino durou um mês e pouco e ela
para que a hora de pôr as
que as crianças demoravam para
tamental.
passou a virar a noite dormindo.”
crianças na cama deixe de ser um
dormir em comparação ao grupo
Os seis meses são um marco importante
problema novo
tormento? Não se desespere, há uma
controle.
porque nessa época o bebê saudável
O sono dos filhos passou a ser um
luz no fim do túnel. Segundo novo
Os níveis de cortisol, hormônio que
não precisa mais acordar para mamar.
problema para os pais há poucas
estudo, deixar o filho chorando no
mede o estresse, estavam normais
Mesmo assim, é normal que as crianças
gerações. Mudanças sociais, como
quarto durante intervalos curtos ou
nos bebês dos três grupos, e não
despertem durante a noite e voltem a
mães que trabalham fora e ficam
atrasar o horário de ir para a cama
houve diferença nas medidas de
dormir espontaneamente, desde que
pouco com as crianças, em geral
não só funciona como não deixa a
bem-estar emocional e comporta-
ninguém interfira.
à noite, contribuíram para a pre-
criança estressada nem prejudica o
mental das crianças.
“Os pais não devem achar que todo
ocupação com o tema.
vínculo com os pais.
Uma crítica às técnicas que deixam
resmungo ou agitação significa que
“Os pais vivem a angústia de que
Mas há um porém. Segundo espe-
o bebê chorando até pegar no sono é
o bebê precisa deles; sua presença
os filhos estão sendo terceirizados
cialistas, técnicas comportamentais
que elas prejudicam a ligação entre
interfere no sono e acostuma a tê-los
e passam uma dupla mensagem à
– disseminadas no Brasil em livros
mãe e filho e “ensinam” o sentimento
por perto na hora de dormir”, diz a
criança: estão cansados, mas culpados
como “Nana, nenê” e “A Encantadora
de abandono.
pediatra Anete Colucci, da Unifesp.
por passarem tanto tempo longe.
de bebês”– são métodos importados
Mas estudos anteriores – nenhum
Até um ano e meio de idade, a filha
Eles trocam a leitura, a companhia
que combinam muito mais com
realizado no Brasil até agora – já
mais velha de Audrey Vargas Lustig, 36,
e a conversa com o filho por um
sociedades rígidas na educação
haviam sugerido que não há danos à
Corina, hoje com 5 anos, acordava toda
vídeo, um programa, e esperam
dos filhos, como as de alguns países
criança. “Os nossos ancestrais bota-
noite querendo mamar. A designer, que
que seja possível desligar a criança
europeus e dos EUA do que com o
vam limites e não havia trauma”, diz a
também é mãe de Oliver, de dois meses
junto com a TV”, diz Colucci.
estilo liberal das famílias brasileiras.
neurologista infantil Rosana Cardoso
e meio, diz que mesmo com uma rotina
Anos atrás, continua Nunes, não
“De modo geral, todas as técnicas
Alves, do departamento de sono da
estruturada a filha acordava muito.
havia discussão: “Os pais mandavam
comportamentais trazem uma me-
sociedade de pediatria de São Paulo.
“Quando chegou num ponto insus-
dormir e todo mundo ia”. “Agora
lhoria do sono, mas, na prática, os
A médica diz que entre os seis meses
tentável, tentamos o ‘Nana, nenê’,
eles estão um pouco perdidos, todo
pais chegam ao consultório dizendo
e o primeiro ano de vida do bebê o
mas não aguentamos porque ela
mundo chega tarde e o momento de
que leram tudo sobre elas e que
mais importante é estabelecer uma
chorava muito. O que funcionou foi
encontro da família acaba sendo à
não vão fazer nada disso”, conta a
rotina – incluindo preparar a casa
misturar técnicas e tirar o vício do
noite. Essa mudança social influen-
neurologista infantil Magda Lahor-
e a criança para o sono – em vez de
‘mamá’ e do colo de madrugada. O
ciou o hábito de sono”, completa.
gue Nunes, coordenadora do grupo
Foto: Raquel Cunha/Folhapress
de estudos do sono da Sociedade Brasileira de Pediatria. Assim, diz ela, o melhor método para “ensinar” a criança a dormir é aquele que os pais se comprometem a seguir. Além de considerar a rotina da família e a personalidade de cada filho para definir uma estratégia, eles precisam ter paciência para suportar muito choro e protesto. A psicóloga Sabrina Grunwald Forte, 37, mãe de Marina, 4, e Felipe, 2, deixou cada um deles sozinho no berço por períodos diferentes. Mesmo assim, recebeu “olhares tortos” da família. O estudo, publicado no periódico “Pediatrics”, dividiu 43 crianças australianas de 6 a 16 meses de idade, todas saudáveis, mas com problemas de sono, em três grupos. Em um deles, os pais tentaram a extinção gradual, técnica na qual se permite que o bebê chore por intervalos curtos regulares durante várias noites. O outro tentou atrasar o momento de ir para a cama gradualmente. O terceiro funcionou como controle. Um ano depois, foi observado que
Audrey Vargas Lustig, 36, com Corina, 5; mistura de técnicas ajudou na hora de dormir.
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Jornal do Meio 854 Sexta 24 • Junho • 2016