Braganรงa Paulista
Sexta 15 Julho 2016
Nยบ 857 - ano XIV jornal@jornaldomeio.com.br
jornal do meio
11 4032-3919
2
Para pensar
Jornal do Meio 857 Sexta 15 • Julho • 2016
Expediente
E quem se importa? por Mons. Giovanni Baresse
Nas leituras bíblicas do
que estava perguntando, mas
são palavras de vida. E como
parece tomar conta de tudo.
domingo, 10 de julho, à
não tinha interesse maior na
cabem em nossos dias! Temos
Parece não haver limite para
Jornal do Meio Rua Santa Clara, 730 Centro - Bragança Pta. Tel/Fax: (11) 4032-3919 E-mail: jornal@jornaldomeio.com.br Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli Jornalista Responsável: Carlos Henrique Picarelli (MTB: 61.321/SP)
luz do texto do livro do
resposta e buscava justificativa
acompanhado inúmeros casos
aquilo que se julga como bom
Deuteronômio (30,10-14) e do
para empecilhos a fim de prati-
de violência: contra mulheres,
para si independentemente do
Evangelho de Lucas (10,25-37) se
car o que o mandamento dizia,
ações de membros de polícia que
mal que possa causar a outrem.
colocava a questão sobre como
propõe exemplo prático. Um
ultrapassam limites do bom senso,
O sentido do outro como pró-
saber o que Deus espera do ser
homem foi assaltado e deixado
ações contra policiais pelo fato
ximo parece completamente
humano e como deve ser o seu
gravemente ferido. Passam pelo
de serem policiais, morticínios
obscurecido. Ao abordar a crise
agir em relação ao seu seme-
lugar dois religiosos, ligados ao
causados pelos que agem no
político-econômica que esta-
lhante, o seu próximo. O texto
Templo. Olham e se afastam ca-
comércio das drogas, das armas.
mos vivendo não deixo de ter a
do Primeiro Testamento fala que
da um com sua desculpa. Quem
A falta de empenho em buscar
impressão de que o que menos
não é difícil saber o que Deus
socorre é um samaritano. Os
o banimento da xenofobia, ho-
importa é a vida de quem faz
da forma de fazer política, de-
espera. O lugar fundamental é o
samaritanos, como se sabe, eram
mofobia, miséria, corrupção. No
este nosso martirizado Brasil.
veremos verificar tudo desde a
que “está na boca e no coração”.
considerados infiéis à fé e aos
fundo parece que ainda não se
Vê-se a multiplicidade de ma-
chegada dos colonizadores. Isso
Quando se lê no livro do Gêne-
costumes judaicos. Moradores
tomou conhecimento de quem
nobras para garantir privilégios
se acharmos que os indígenas
sis que ao criar o ser humano
da parte norte de Israel sofriam
somos e como devemos agir.
e vantagens. E busca- se um
que aqui estavam faziam tudo
Deus o criou à sua imagem e
a influência de povos pagãos.
Qualquer que seja a denomi-
modo de garantir impunidade. A
certo! Temos que ser racionais e
semelhança (1,26), descortina-se
Isto levou a casamentos mistos
nação religiosa ou mesmo sem
última que li: alguém denunciou
práticos. Sabemos que denuncias
qual a atitude que se espera. Se,
e à entrada de outras visões
ela parece que dentro de cada
que determinado político, hoje
de mau uso do dinheiro publico,
como afirma São João, Deus é
religiosas, de cultos a outros
ser humano existe o desejo da
participando do governo provi-
infelizmente, não são novidade.
Amor (1ª 1,8), quem foi criado
deuses. O infiel teve compaixão
felicidade. Este desejo passa
sório, teria recebido dinheiro em
Como disse em outro momento:
à sua imagem e semelhança
e cuidou do desconhecido: quem
pelos valores da honestidade,
caixa dois nos anos setenta. Se
quem não sabe da afirmação que
deve ser amor também, deve
sabe um judeu que odiava os
da retidão, da solidariedade, da
isso aconteceu está errado. Mas
não se faz obra pública sem pagar
expressar pela boca (palavra)
samaritanos. Esta parábola de
fraternidade, do amor, da paz.
juntar isso por conta de todo
“pedágio” (com exceções)? Às
e coração (atitude) a face de
Jesus não é uma comparação
O que se está percebendo é que
empenho da ação do Lava Jato
vezes parece que passamos de
quem o criou. Para explicitar
para um tempo que ficou no
estamos menosprezando o valor
é, em minha opinião, manobra
uma atitude que deseja esclarecer
isso Jesus ao ser questionado
passado. Assim como a afirma-
da vida e o valor do outro. Por
para desviar a atenção. Além do
tudo para, na verdade, não es-
sobre o maior mandamento e
tiva do texto deuteronômico. As
conta de interesses pessoais ou
mais me parece que, se tivermos
clarecer nada. E, no fundo, quem
diante da resposta correta de
colocações bíblicas ultrapassam
de grupo a ganância, com suas
que retornar a ver tudo de errado
se importa pelo sofrimento
um doutor da Lei, que sabia o
limites de tempo e lugar porque
muitas faces e justificativas,
que possa ter acontecido à luz
de tanta gente?
As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão. As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Bragança Jornal Diário.
Reflexão e Práxis
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Jornal do Meio 857 Sexta 15 • Julho • 2016
PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS
www.coquetel.com.br
Estrutura floral formada pelas pétalas
Bem Público e desencoraja a participação
Os atentados terroristas no Oriente Mé-
política, o que favorece a manutenção de
dio, especialmente o atentado no Iraque,
políticos corruptos nas esferas do Poder
marcam a permanência da violência rela-
Público. Pior é saber que este nobre depu-
cionada a grupos político-religiosos que
tado é favorecido por leis que protegem
não encontram outra forma de atuação
suas ações e que ele ainda influencia,
que fuja dos atentados. A força cega dos
através da ameaça e da coação, seus pares
atentados e a morte indiscriminada que
no Congresso Nacional, ou seja, somos
ela nos impõe deve ser uma preocupa-
reféns de ações mais que duvidosas dos
ção para todos já que os atentados e as
poderes Legislativo e Judiciário.
áreas de atuação destes grupos é cada
Nosso Poder Executivo, na figura do
vez maior.
presidente interino Michel Temer, toma
Além disso, a escalada da violência nos
medidas que soam populares por hora,
EUA contra cidadãos negros e contra a
mas que apresentarão efeitos nefastos,
própria polícia apresenta um panorama
notadamente, para a classe menos favore-
racial e histórico que nunca foi resolvido
cida. A sua promessa de correção mágica
neste país, ou seja, a segregação racial
e messiânica não ocorreu e nem poderia
nos EUA permanece, mesmo disfarçada,
ocorrer, caso ele tivesse sido honesto em
após as lutas pelos direitos civis que mar-
suas falas, algo que as pessoas de bom
caram as décadas de 60 e 70, do século
senso e sem comprometimento sabiam
XX. No país que simboliza o que de me-
desde o início de seu péssimo governo.
lhor existe na democracia, na república
Pouco tempo ou falta de competência?
e nos ideais modernos de liberdade, os
E, por último, já percebemos em Bragança
Objeto atirado contra o então presidente Bush, em visita ao Iraque (2008) Lygia Clark, Aqui escultora Geneticamente idêntico a outro Local da parada de emergência, na via
atos que ocorreram nas últimas semanas
Paulista, ações populistas e oportunistas
BANCO
põem em dúvida o quão livre são os EUA
de futuros candidatos aos nossos cargos
e o quão correto é o modelo que eles
públicos municipais. Velhos aliados mu-
pretendem impor em todo o mundo. A
dando de lado, novos grupos politiqueiros
isso, se soma a liberalidade no uso e no
se formando, setores da mídia local assu-
porte de armas de fogo que a despeito
mindo suas posições político-ideológicas,
do controle do Estado é incapaz de re-
promessas e ações de última hora, além, é
duzir a violência provocada por civis ou,
claro, de nenhum plano de governo apre-
no caso de Dallas, por ex-combatentes
sentado ou debatido com a população, o
estadunidenses.
que não irá ocorrer até as eleições.
Diz respeito a Cobre (símbolo)
Obra-prima de Euclides da Cunha, é dividida em "A Terra", "O Homem" e "A Luta" Festa judaica que celebra o Êxodo
Figura plana com nove lados (Geom.)
Hiato de "tear"
Símbolo (fig.) A forma do sifão
Vaidoso, em inglês Micro que não roda o Oswaldo sistema oCruz, peracional médico Windows sanitarista Abreviatura de "transitivo" (Gram.)
"Investigation", na sigla FBI
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Solução
A
G A E L I C O
S A A R A
E-mail: p.m.galasso@gmail.com
Alegre; animado Letra maçônica Afecção cutânea decorrente da inflamação das glândulas sebáceas
Papa, no alfabeto fonético
P I R O S E
tico, professor e escritor.
A tentativa vexatória de choro do nobre
Pequeno poema medieval Carregam
Está (aférese)
N O X A I G E I N I T O
nômica.
O (?) da questão: o ponto essencial
3/lai. 4/vain. 6/páscoa — pirose. 9/campânula.
Pedro Marcelo Galasso - cientista polí-
Elemento responsável pela formação dos radicais livres (Quím.)
O sexto planeta Marca do dândi
O antagonista do herói (Cin.)
Quando nos voltamos ao Brasil, vemos um cenário de desolação política e eco-
O grupo sanguíneo do doador universal
G C
afasta a crença no seu papel de zelo pelo
V
nacionais e extrapolam o bom senso em todo o mundo.
I
da falência da nossa classe política que
A 6ª nota musical Condição das mulheres acusadas de bruxaria em Salem (EUA)
Etapa do ritual de homenagem a Baco, na Roma Antiga
S
deputado Eduardo Cunha é a síntese
tico que ultrapassa as fronteiras
Preposição de lugar Plutônio (símbolo)
Deserto que influencia climaticamente os países da faixa do Sahel
R A N D G E N T R O R G R N E P A S C U O A T U R T I L O C L C A L A O E V A M A C T A M EN
Há um claro descompasso polí-
Novosricos 100 (?) Celsius, temperatura em que a água ferve
© Revistas COQUETEL
Subgrupo de idiomas Azia (Med.) A mais recente das célticos falado na Irlanda e Escócia armas das Forças Armadas brasileiras Nick Nolte, ator (EUA)
O S S E R T Õ E S
por pedro marcelo galasso
Pequena redoma para cobrir alimentos
C N A M E M E U P R A U O N C C U I L Ã E A N E C O N I E A P A G C L ON A C O
Muito que pensar
Escritora Campo de brasileira pesquisas de "Boca de Miguel do Inferno" Nicolelis
Casas em Condomínio
Jd. das Palmeiras..................................................................................................................R$ 650 mil Florestas de São Vicente (nova)..............................................................................................R$ 580 mil Euroville (nova).....................................................................................................................R$ 950 mil Portal de Bragança (nova)................................................................................................R$ 1.3 milhões Village Santa Helena....................................................................................................R$ 1.490 milhões Portal Bragança Horizonte (nova)..........................................................................................R$ 770 mil Villa Real (nova)....................................................................................................................R$ 900 mil Rosário de Fátima ( Ac imóvel – valor)............................................................................R$ consulte-nos
Terrenos em Condomínio
Villa Real 428m²...................................................................................................................R$ 150 mil Colinas de São Francisco 616m²............................................................(parcelamos em 10x) R$ 300 mil Terras de Santa Cruz 600m²...................................................................................................R$ 120 mil Portal Bragança Horizonte 341m²..........................................................................................R$ 200 mil Jd. Nova Bragança 300 m².....................................................................................................R$ 200 mil
Apartamentos
Ed. Piazza de Siena................................................................................................................ R$ 950 mil Apto. Jardim do Lago............................................................................................................. R$ 300 mil Apto. Centro (novo)................................................................................................................R$ 255 mil Ed. Don Pedro I...................................................................................................................... R$ 650 mil Apto. Jd nova Bragança ( Alto Padrão 230m² 3vagas)...................................................... R$ Consulte-nos Apto. Ed. Clipper (Centro) Reformado 3dorm. 1gar....................................................................R$ 450mil
Diversos
Casa Jd. Europa.....................................................................................................................R$ 530 mil Terreno Jd do Lago Comercial 600m²..................................................................................... R$ 600 mil Imóvel Comercial AV. Norte-Sul.............................................................................................R$ 630 mil Prédio Comercial Shopping Jaguari....................................................................................... R$150 mil
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Jornal do Meio 857 Sexta 15 • Julho • 2016
por RACHEL BOTELHO/FOLHAPRESS
Se para crianças e adolescentes mais novos dormir fora de casa já é considerado um grande passo, de uns tempos para cá os acampamentos de férias estão proporcionando uma experiência bem mais radical: ficar dias –ou semanas– praticamente sem contato com os pais. Em outras palavras, sem o celular. Como no dia a dia o aparelho mantém pais e filhos sempre conectados, a separação é desafiadora para os dois lados, mas vem sendo encarada de modo positivo até pelas crianças, que deixam também de ter acesso a jogos, músicas e trocas de mensagens com os amigos. Não que proibir celulares seja algo exatamente novo, mas hoje a dependência desses aparelhos é bem maior, em grande parte por causa da troca de mensagens em aplicativos como o WhatsApp. A medida visa estimular a autonomia e facilitar a socialização –afinal, não é para isso (também) que servem os acampamentos? Os estabelecimentos reconhecem, ainda, que a proibição busca evitar confusões causadas pelo acesso imediato aos pais e o uso impróprio do aparelho. O psicólogo Izidoro de Campos Luiz, proprietário do Acampamento dos Pumas, em Pindamonhangaba (SP), tem na ponta da língua as razões para o veto. “O acampamento é educacional, serve para as crianças ficarem mais independentes, criarem vínculos entre si, lidarem com a saudade, o que o celular não permite”, diz. Segundo Luiz, com o celular em mãos as crianças pedem socorro aos pais ao menor sinal de conflito ou desconforto. “Já tivemos pai que veio de Goiânia de madrugada buscar o filho porque o menino estava rouco”, diz. Apesar da proibição, todos os acampamentos oferecem alguma forma de contato entre pais e filhos. Em alguns deles, como o Sítio do Carroção, em Tatuí (SP), as crianças (a maioria de 9 a 12 anos) podem ligar para casa e receber telefonemas no local. Segundo a equipe do acampamento, que atende 800 crianças nos meses de férias, tanto os pais quanto os pequenos reagem bem à medida. A engenheira civil Denise Esteves, 51, e a filha Gabriela, 15, que frequenta o Carroção há oito anos, dizem que a experiência sempre foi “muito tranquila”. “Acho legal ela ter o tempo dela, com atividades ao ar livre, em grupo. É muito importante sair desse mundo da tecnologia”, afirma Denise. Gabriela concorda. “O acampamento é para fazer novas amizades, e com o celular a gente perde muitos momentos sem perceber. Quando fico sem o telefone em São Paulo eu sinto muita falta, mas lá eu nem penso nele”, diz. A maioria dos acampamentos divulga fotos das atividades, como o CISV, que oferece estadia no exterior para crianças a partir de 11 anos de idade. A comunicação com os pais é feita por intermédio do adulto responsável pelo grupo ou por carta, mesmo método usado no Pumas. Em julho do ano passado, a estudante Beatriz Raffaelli, 11, passou um mês na Coreia do Sul pelo CISV, e tanto ela quanto os pais adoraram a experiência. “A gente tinha notícia eventualmente, via algumas fotos com um monte de criança, e foi ótimo assim. Ela ficou superbem”, conta a mãe, Roberta Raffaelli, 42. Para Roberta, sem o celular as crianças conseguem “mergulhar” nas experiências do presente e ainda voltam cheias de novidades para dividir com a família. Beatriz não nega que algumas vezes teve vontade de telefonar ou ouvir música, mas diz que estava tão entretida que logo esquecia. “Eu sou viciada em celular. Se eu tivesse levado, ia ficar concentrada nele e perder as coisas”, acredita. ciência Até a ciência já mostrou que ficar longe das telas por uns dias é bom para as crianças. Um estudo publicado em 2014
no periódico “ScienceDirect” comparou 51 pré-adolescentes que passaram cinco dias em um acampamento sem acesso a celular, tablet, TV nem computador a 54 crianças da mesma série que mantiveram o uso regular de eletrônicos no período. Por meio de testes, a pesquisa mostrou que as crianças que ficaram desplugadas adquiriram compreensão melhor dos sinais de comunicação interpessoal do mundo real, incluindo maior capacidade de ler expressões faciais, fazer contato visual e interpretar o tom de voz. “O celular impede a socialização, olhar nos olhos, ouvir a voz. Isso faz parte do aprendizado com prazer, o que fortalece as memórias e as conexões cerebrais”, diz a neurologista Liubiana Araújo, presidente do departamento de desenvolvimento e comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria. “A criança vai poder usar as ferramentas que adquiriu em outras situações.” A executiva de RH Laura Rezende Ribeiro, 40, é a favor das viagens sem celular, mas admite que fez um exercício de desapego quando Ana Clara, 10, foi para o acampamento. Já a garota adorou os sete dias de “detox”. “Eu conheci as pessoas e me senti livre. Aqui toda hora tem alguém mandando mensagem”, diz. A neurologista sugere que a família converse com a criança antes da viagem, para demonstrar confiança nela e na equipe do acampamento e para dar orientações sobre como lidar com conflitos e tomar decisões. “Acampar é educacional, serve para as crianças ficarem mais independentes, criarem vínculos entre si, lidarem com a saudade izidoro de campos luiz Psicólogo Com o celular a gente perde muitos momentos. Quando fico sem o telefone em São Paulo eu sinto muita falta, mas lá [no acampamento] eu nem penso nele gabriela esteves, 10 anos
Foto: Diego Padgurschi/Folhapress
Beatriz Raffaelli, 11, passou um mês em um acampamento na Coreia do Sul. Foto: Ricardo Nogueira/Folhapress
Ana Clara, 10, diz que gostou de passar uma semana sem celular.
Comportamento
Jornal do Meio 857 Sexta 15 • Julho • 2016
Como falar sobre
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assédio infantil
Casos como o do estupro coletivo no Rio podem deixar pais com uma pulga atrás da orelha: afinal, devo abordar o assunto ‘assédio’ com meu filho para protegê-lo? Especialistas dão dicas sobre como fazê-lo por RACHEL BOTELHO/FOLHAPRESS
As notícias recentes sobre estupros coletivos de adolescentes e crianças colocaram lenha na fogueira das preocupações de muitos pais e mães, que se perguntam como (e se) abordar o assunto para ensinar os pequenos a identificarem e se defenderem de um possível assédio ou abuso sexual. O temor faz sentido, já que mais de 500 mil estupros ocorrem a cada ano no Brasil, segundo estimativa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Da pequena parcela que é denunciada, mais de 70% das vítimas são crianças e adolescentes. Para especialistas ouvidos pela Folha, apesar de ser um tema difícil para muitos pais, o assunto não deve ser tabu, já que o conhecimento ajuda a criança a se proteger. Também não há um único modo nem uma idade mínima para falar da importância de se preservar o corpo e a intimidade, segundo eles, desde que o grau de desenvolvimento da criança seja respeitado e a conversa flua com naturalidade, em linguagem adaptada para cada fase. “O problema não é falar da sexualidade infantil, o problema é quando há uma invasão do universo adulto no da criança. É importante conversar porque o conhecimento deixa a criança menos vulnerável ao abuso e menos propensa a esconder dos pais se algo acontecer”, diz Juliana Wierman, coordenadora da psicoterapia infantil do Programa de Atendimento e Pesquisa em Violência da Unifesp. Para a psicanalista Ilana Katz, doutora em psicologia e educação pela Faculdade de Educação da USP, a tentativa de prevenção pode ser mais eficaz se os pais conseguirem transmitir a ideia de que o corpo é próprio. “Trata-se mais do que transmitimos com nossos atos e modos de lidar do que daquilo que podemos falar e explicar para as crianças –embora também seja importante que se fale, explique e ensine”, afirma. Assim, quando a mãe ou o pai ajuda o filho a gerir o próprio corpo, como na hora de trocar a roupa, é preciso estar atento aos limites do toque. “Há uma diferença importante entre cuidado e invasão.” A psicanalista Julia Milman, que acaba de lançar o livro “A Vida com Crianças” (Zahar, R$ 34,90, 184 págs.), diz que é mais importante propiciar a construção constante de autonomia em um ambiente de confiança, que permita à criança ter consciência gradativa do controle sobre o próprio corpo e da noção de intimidade, do que falar diretamente sobre abuso. “E que ela consiga perceber a sutileza do que é uma invasão dessa privacidade, que muitas vezes não se dá apenas pelo contato físico, mas com palavras ou imagens”, diz Julia.
Como a criança, em geral, não faz perguntas diretas sobre assédio, mas traz curiosidades sobre a sexualidade ou questiona a origem dos bebês, eles podem aproveitar a ocasião para falar do tema. Ilana Katz também recomenda que os adultos conheçam os assuntos em pauta nos ambientes dos filhos, que, assim como os casos recentes de estupro, se impõem como temas de conversa em casa. “Vale sempre perguntar o que a criança ou o adolescente entendeu do que se passou, e a partir disso trazer esclarecimentos”, diz. BEBÊS A transmissão dos cuidados com o corpo começa nos primeiros meses de vida, quando os pais nomeiam as partes do corpo ao limpar e vestir o bebê. “Essa nomeação favorece que a criança se
aproprie do próprio corpo, e o mesmo vale para os órgãos sexuais. É importante nomeá-los e dizer que são um lugar de intimidade”, diz Julia. Mais tarde, vem o estágio em que a criança explora todo o corpo e faz brincadeiras com esse fim. “Esse é o momento de informar que não fazemos isso em público e que ninguém pode tocar neles”, completa. O assunto pode e deve ser retomado ao longo do crescimento da criança, quando ela expande seu universo e começa a frequentar a casa dos amigos, por exemplo. Foi o que fez a dona de casa Flávia (nome trocado a pedido), 43, mãe de duas adolescentes, de 14 e 12 anos. “Quando a mais velha tinha uns seis anos, eu disse que se ela achasse que havia algo de errado nas atitudes de um adulto era para acreditar no que estava sentindo, sair do lugar e me contar”, diz.
Já a administradora Cristiane, 42, mãe de meninas de três e quatro anos de idade, sentiu que era hora de falar sobre privacidade com as filhas a partir de um comportamento do sobrinho de oito anos. “Ele queria ver as meninas tomando banho e deitar em cima delas como via na novela, e isso começou a me incomodar. Eu não queria tratar a sexualidade como algo anormal, mas a criança brinca com tudo e pode achar que não tem problema brincarem com a ‘pepeca’ dela”, diz. Em casos como esse, Julia recomenda que os pais sejam cuidadosos ao nomear o ocorrido, para que a criança não associe prazer e culpa. Por fim, é bom lembrar que, embora os pais tenham papel primordial nos cuidados com os filhos, a sociedade e o poder público vêm falhando na oferta de uma rede de proteção à criança. Arte: Folhapress
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Saúde
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Micose nos pés
Usar o mesmo sapato todo dia cria risco de micose nos pés, hábito deixa calçados úmidos, o que dá vez à doença. Tratamento das unhas pode levar de seis a dez meses por FOLHAPRESS
Fungos gostam de ambientes quentes e úmidos. Por isso, quem tem o costume de usar o mesmo sapato por vários dias seguidos está mais sujeito a pegar micose nos pés. A doença pode afetar o espaço entre os dedos (criando a frieira, o pé-de atleta ou a tinha), ou pode prejudicar as unhas, obrigando a fazer um tratamento que leva meses. “Não há um limite de dias em que o mesmo sapato pode ser usado, mas o indicado é sempre variar e deixá-los arejando”. diz a dermatologista Márcia Grieco, do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos. O dermatologista Claudio Wulkan, do Hospital Albert Einstein, explica que o fungo está em todo lugar. Dá um exemplo: “Se você deixar comida na geladeira, não aparecem uns fiapinhos?” A doença costuma atacar quando a pessoa fica com a resistência baixa. Bordas de piscina e piso no box do banheiro são locais especialmente perigosos. Unha e pele A unha com micose costuma mudar de cor para amarelo- esverdeada e esfarelar na parte afetada. Já no espaço entre os dedos aparece uma descamação que pode provocar coceira. O tratamento da pele costuma ser mais rápido. “A gente sugere usar o creme antifúngico de 10 a 15 dias, mas as pessoas costumam parar antes, porque acham que já está melhor e foi curada”, diz Wulkan. Isso pode fazer com que a micose apareça de novo, dando a sensação de que nunca se chega à cura. Para as unhas, segundo Wulkan, geralmente o tratamento envolve remédio via oral, que pode ser tomado período de seis a dez meses. Pequenos cuidados ajudam a evitar a doença ou sua reinfecção. Para quem sua muito nos pés, a dica é passar um talco pela manhã, pois ele ajuda a absorver a umidade. (Gislaine Gutierre) Cuidado com idosos deve ser redobrado Idosos, portadores de doenças vasculares nas pernas e pacientes com diabetes são mais propensos a pegar micose nos pés. “Chega menos sangue às extremidades, e nossa proteção está nele, já que contém as células de defesa”, diz o dermatologista Claudio Wulkan, do Hospital Albert Einstein. Nos idosos, as extremidades ficam menos irrigadas por alterações vasculares normais da idade. (GG)
Arte: Folhapress
Jornal do Meio 857 Sexta 15 • Julho • 2016
Informática & tecnologia
Hello
‘Pai do Orkut’ cria nova rede e quer reconquistar internautas brasileiros por VINICIUS PEREIRA/FOLHAPRESS
Já era: ‘scraps’, comunidades
diferença no país.
ou depoimentos melados entre
“O brasileiro se identificou com
amigos. Já é: veracidade. É com a
o Orkut pela possibilidade de en-
aposta na vida real e em como as
contrar pessoas com pensamentos
relações sociais se moldam ao longo
iguais nas comunidades, além de as
do tempo que está de volta ao Brasil
cores e interfaces serem vivas. Na
o Orkut, ou melhor, a nova aposta do
Hello, buscamos tudo isso.”
turco Orkut Büyükkökten, criador
da rede social dominante no país
Na comparação com o rival Face-
até ser desbancada pelo Facebook
book, Büyükkökten diz que a rede
no início da década.
social criada por Mark Zuckeberg
“Eu acredito que o brasileiro tenha
não traz a vida real à tona. “As pes-
uma cultura hiperconectada e é
soas mostram coisas que não são e
nisso que a Hello acredita: ajudar as
isso traz depressão e tristeza. Não
pessoas a se conectarem com quem
quero isso na Hello.”
é parecido com elas mesmas”, diz o
Para ele, as redes sociais devem se
engenheiro sobre sua nova rede social.
moldar aos gostos pessoais e ser
Os usuários da Hello, que terá uma
adaptável às mudanças. “Quando
versão em português a partir deste
uma pessoa é universitária, por
mês, poderão ter um perfil com o
exemplo, ela tem uma série de inte-
qual poderão se conectar com outros
resses. Agora, quando ela se forma,
usuários, seja via assuntos de inte-
esses interesses vão mudando”, diz.
resses, seja via uma linha do tempo.
O Orkut foi criado em 2004 e teve o
Pessoas com os mesmos interesses
Brasil, ao lado da Índia, como seu
serão apresentadas como possíveis
principal mercado, até ser superado
novos amigos e mensagens diretas
pelo Facebook no país em 2011.
também poderão ser enviadas.
Em 2014, o Google, dono do site e
Büyükkökten acredita que a per-
ex-empregador de Büyükkökten,
sonalização da rede deve fazer a
decidiu encerrar suas operações.
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