859 Edição 29.07.2016

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Braganรงa Paulista

Sexta 29 Julho 2016

Nยบ 859 - ano XV jornal@jornaldomeio.com.br

jornal do meio

11 4032-3919


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Para pensar

Jornal do Meio 859 Sexta 29 • Julho • 2016

Buscando entender

o coração de Deus por Mons. Giovanni Baresse

Ao refletir sobre o texto do

de sofrimento como castigo de

que julgamos bons e inocentes.

sempre nos atende. Nós é que

Gênesis que traz a oração

pecado. Se alguém sofria devia

E mesmo quando as dores che-

não conseguimos perceber. Nosso

Expediente Jornal do Meio Rua Santa Clara, 730 Centro - Bragança Pta. Tel/Fax: (11) 4032-3919 E-mail: jornal@jornaldomeio.com.br Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli Jornalista Responsável: Carlos Henrique Picarelli (MTB: 61.321/SP)

de Abraão (18,20-32) na

passar por ritual de purificação.

gam a nós a pergunta surge. E a

olhar é míope e a visão curta. Não

sua tentativa de conhecer até

Arrepender-se dos erros. Com isso

conclusão fatal é que Deus não é

é estranha essa atitude. Está na

onde iria a misericórdia divina

viriam a cura e a libertação. Por

justo. Que Ele se esqueceu de nós.

raiz de nossa essência. No livro do

diante da injustiça que grassava

outro lado, quem não tinha pro-

Que Ele não se importa conosco.

Gênesis, capítulo três, se descreve,

em Sodoma e Gomorra e jun-

blemas era considerado justo. O

E que, se existe, nossa sorte não

em linguagem lírica, o “pecado

tando o ensinamento de Jesus

autor do livro de Jó não aceita essa

lhe interessa. Mais: Deus não

original”. A tentação sempre

que coloca a conversa com Deus

mentalidade. Parte da experiência

existe. Não é possível que exista

presente em nosso coração: a

na intimidade de chama-lo de

de um homem justo para mostrar

um Ser infinitamente bom e que

autossuficiência. A nossa eterna

Pai e a insistir na oração (Lucas

que ela não se sustenta. E busca

“permita” a infinidade dos sofri-

vontade de sermos, nós mesmos,

11,1-13), quero refletir sobre os

descobrir as razões pelas quais

mentos. Vê-se que o tema não é

critério do que é justo ou não.

uma atitude fácil. Mas é a única

aparentes “não” de Deus a nossos

os bons passam pela dor. O livro

novo. E que as perguntas estão

Do certo e do errado. E de nos

que nos dá resposta segura. Há

pedidos. Além disso, o “porque”

conclui que somente a profunda

sempre presentes. Permito-me

colocarmos no lugar do Criador.

que purificar e fortificar o olhar da

da aparente injustiça de Deus

confiança na santidade-justiça

colocar um exemplo citado ante-

Quando afirmo que não mereço

Fé. Para perceber que se o Senhor

que parece dificultar a caminhada

de Deus é resposta para essa

riormente: se alguém tivesse um

sofrer porque sou bom ou porque,

está na barca, dormindo, ela não

de quem procura ser justo e pa-

questão. Se faltar ao ser humano

filho pequeno e este lhe pedisse

ao menos me esforço para sê-lo, eu

afundará. Porque se afundasse Ele

rece não ligar muito para os que

este “jogar-se” nas mãos de Deus

uma moto certamente teria um

me coloco como credor de Deus. Já

iria junto...(Mt. 8,23-27). Ninguém de

ocasionam maldades e injustiça.

a questão fica sem resposta. E se

“não” como resposta. Isto seria,

que é Ele quem resolve as coisas,

nós pode invocar bondade absoluta.

“Pereça o dia em que nasci... que

caminha para o absurdo. Jesus

para a criança, um mal. Para os

como é que Ele não é correto co-

Ninguém de nós é tão perfeito que

essa noite fique estéril... que a

Cristo enfrenta a mesma proble-

pais o “não” é um bem. Quando

migo? Se Ele é pai, como é que não

mereça algo. Que possa exigir, por

amaldiçoem os que amaldiçoam

mática. E aponta a paternidade

a criança crescer compreenderá.

protege os seus filhos? Como é que

qualquer título, a atenção divina.

o dia...”. Estas são algumas frases

de Deus como resposta: “Quando

Aplicando isto ao nosso tema:

não atende o pedido de curar uma

E se fossemos totalmente bons

do início do capítulo três do Livro

orardes, dizei: ...Pai nosso...”(Mt.6,9).

quando chega a dor parece que

pessoa que eu amo? Como é que

não teríamos feito nada mais que

de Jó. Um livro que busca refletir

“Pedireis o que quiserdes... (Jo.

Deus nos diz “não”. Nós pedimos

Ele deixa pessoas boas envolvidas

nossa obrigação (Lc. 17,10). O que

sobre a condição humana. Espe-

15,7)”; “Pedi e recebereis...” (Jo.

que Ele nos liberte. Parece que

em dor? E se a gente pede curas e

nos dá resposta é o imenso AMOR

cialmente sobre a difícil questão

16,24). Acontece que a questão

não há resposta. Nós ficamos

outras soluções, por que Ele se faz

de Deus. Que se dá a nós por gesto

do “porque” do sofrimento de

continua nos atormentando. Todos

com o “não”. Porque não temos

de surdo? Tal como Jó, o caminho

definitivo de Amor. Não porque

quem é bom. A mentalidade da

os dias perguntamos a razão do

“capacidade-fé” suficiente. Se a

é o da entrega nas mãos solícitas

somos bons. Porque somos

época entendia qualquer tipo

sofrimento. Especialmente dos

tivéssemos veríamos que o Pai

de Quem nunca abandona. Não é

seus filhos e filhas!

As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão. As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Bragança Jornal Diário.


Reflexão e Práxis

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PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS

www.coquetel.com.br

preocupar em desburocratizar o trabalho escolar e não se preocupar em proibir e censurar alguns temas e assuntos como homossexualismo, temas políticos e religiosos. Na verdade, nossos parlamentares querem impor uma leitura educacional pautada nas opiniões e nos achismos de uma bancada religiosa ecumênica que teme a discussão de temas relevantes de nossa sociedade. A imposição e a proibição de discussões sobre temas tidos como subversivos e perigosos aos valores da família brasileira e que poderiam corromper nossos valores religiosos é vexatória e deve ser questionada por ferir os princípios constitucionais que prescrevem a criação de uma escola pública, gratuita, de qualidade e laica, aberta a discussão de temas pertinentes aos interesses de toda a sociedade e que não podem, de forma alguma, serem cerceadas e censuradas segundo a opinião de alguns parlamentares que julgam que suas visões religiosas são mais corretas e verdadeiras que as demandas sociais e políticas que se apresentam a todos nós. O projeto é perigoso e caso aprovado vai deixar uma marca de retrocesso indelével e que irá cobrar muito de toda a sociedade brasileira. É urgente a necessidade de melhorar nosso quadro educacional e criar o projeto de educação previsto pela LDB, de 1996. É lícito portanto, dizer que o projeto Escola Sem Partido caracteriza a censura das práticas educacionais, proibi a discussão de temas fundamentais para a nossa construção histórica e social,

A barba com poucos pelos Mosteiro

Comer, em inglês

Chamado para depor em juízo

Estola de plumas Encanto pessoal

Padroeiro do casamento (Folcl.) Ruído da madeira ao contrair-se

(?) Coulter, jornalista dos EUA

Puxadeira de malas Reduzir a nada

Pré-(?): avalia se há risco cirúrgico

Item da balança comercial agrícola Ingrediente básico da maisena

Sucesso de Rita Lee Lavabo O idioma, quando falado pelo nativo

Regula os planos de saúde (sigla)

Rei que unificou os hunos (Hist.)

Material que une peças metálicas

Reação usual à piada engraçada

Fenômeno essencial ao "kitesurf" A que lugar? Aquele homem

Sofrimento físico Resistir (ao tempo) Jet (?), efeito de voos prolongados

Peneira (bras.) Acusado de crime

Ilha italiana no golfo de Nápoles

Examinei o texto Boreste (abrev.) Capital do Reino de Marrocos

Demóstenes (Ant.)

BANCO

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Solução P U A I T R I O N N T O I DO M E A X D E O R C L I A T G O

Tramita pelo Congresso um projeto chamado Escola Sem Partido que pretende criar um ambiente escolar a-crítico e a-histórico no qual as discussões seriam limitadas e até mesmo proibidas, ou seja, pretende criar um ambiente de censura e de terror nas salas de aula e uma grande mudança nos parâmetros curriculares escolares. Qual o motivo da proposta? O estúpido motivo seria a luta contra a doutrinação ideológica de esquerda que existe nas salas de aula, o que responsabiliza e persegue, diretamente, os professores de História, de Geografia, de Sociologia e de Filosofia, acusados de promoverem a propaganda dos ideais socialistas e comunistas nas salas de aula, criando uma geração perdida e perigosa de esquerdistas. Basta ter um pouco de bom senso para perceber o absurdo do motivo de uma proposta educacional fundada em inverdades e na proibição de questionamentos nas salas de aula. Além de piorar o nosso tenebroso quadro educacional, pautado em dados estatísticos mentirosos e manipulados que apresentam melhoras que não são observadas na prática diária das salas de aula. Nossos parlamentares deveriam se preocupar com as condições das salas de aula que são insuficientes em alguns Estados, deveriam se preocupar com a qualidade da merenda oferecida aos alunos já que em algumas regiões os alunos fazem sua única refeição diária nas escolas e promover a melhora da qualidade de vida destas pessoas, deveriam se preocupar com a evasão escolar, deveriam se preocupar com as baixas renumerações pagas aos professores e com a sua formação e segurança nas salas de aula, deveriam se

Omitir, em inglês Pinhas (bras.)

Pedro Marcelo Galasso - cientista político, professor e escritor. E-mail: p.m.galasso@gmail.com

A A D A E E T O O M R A L A A N T O N B O A A A S S A M ID O A PE R F U R I R A A A ON N T E D S O L D A R E U RA B R I D O RG R E

por pedro marcelo galasso

Duque de Caxias "Todo o poder (?) do povo", axioma

P C A N D I R E E A T SA N T O T I I A E ST A L L A N Ç P I A O Q F L U E I I A TI L A C A P O R A

Sem Sentido

© Revistas COQUETEL

Filósofo da Escola de Frankfurt Deus dos ventos (Mit. grega)

Cidade fluminense sede da Flip Noé, em relação a Matusalém (Bíblia)

Uma das atividades de Maquiavel

2/it. 3/ann — eat — lag. 4/omit. 6/adorno.

A Escola

Dois dos signatários do Nafta Franco; espontâneo (p. ext.)

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Jornal do Meio 859 Sexta 29 • Julho • 2016

por FOLHAPRESS

Ame-o ou deixe-o, esse é lema de Marie Kondo,

livro dá dicas para absolutamente tudo que existe em

japonesa que ficou famosa mundialmente com seu

casa para quem quiser testar e ver se, de fato, funciona.

método de organização da casa (e, de quebra, da

Na cozinha, o certo é reunir tudo que é da mesma ca-

vida e também dos relacionamentos...).

tegoria em vez de arrumar por localização (um armário

Para ela, só aquilo que traz alegria deve ser mantido (e

todo, por exemplo)

isso não vale só para roupas e livros, mas também para

Contas e cartas a enviar vão para a caixa de pendências;

ferramentas e utilitários do tipo –afinal, diz, as coisas de

recortes vão para uma pasta plástica

que realmente precisamos tornam nossa vida mais feliz).

As roupas são o primeiro item do método de Marie Kondo;

Baseado nessa filosofia, seu primeiro livro, “A Mágica da

elas devem ser empilhadas, analisadas e depois dobradas

Arrumação”, teve mais de 5 milhões de cópias vendidas

como se fossem origâmis

pelo mundo. Nele, Kondo explica os fundamentos do seu

Itens de valor monetário (moedas de outros países, pas-

método e como chegou até ele.

saporte) devem ficar juntos em uma caixa respeitosa

Agora, a guru da organização lança seu segundo livro. “Isso

No banheiro, os produtos devem ser frescos e novos; se a

me Traz Alegria” acaba de chegar ao Brasil e é basica-

pessoa não consegue se desfazer, deve então usar todos

mente um guia ilustrado do que Kondo já havia ensinado.

os cremes e xampus em vez de guardá-los

Ela mesma diz que a nova obra pode servir para quem

Uma regra vale para tudo: empilhe os objetos, segure cada

não tem paciência para o blablabá da primeira e quer ir

um e mantenha o que traz alegria

direto ao ponto, mas se a pessoa não se convenceu da importância de mudar, o guia pode acabar mais atrapa-

Isso me traz alegria

lhando as coisas.

AUTORA: Marie Kondo

Mas quem absorve e aplica o método nunca mais repete

EDITORA: Sextante

a bagunça, ela promete. Até agora não viu recaídas. O

PREÇO: R$ 34,90 (272 págs.)


Comportamento

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Cada vez menos pelos Seguindo passos brasileiros, depilação íntima cresce nos EUA; principais motivos são higiene, estética, sexo e visita ao médico

por MARIANA VERSOLATO/FOLHAPRESS

A moda-exportação brasileira de depilação íntima, conhecida lá fora como “Brazilian wax”, está oficialmente encravada na cultura americana, aponta um estudo. E não se trata de um estudo qualquer: publicado na prestigiosa revista científica “Jama Dermatology”, da Associação Médica Americana, é o retrato mais completo e extenso já feito sobre depilação das partes baixas. A pesquisa confirma a tendência de aparar, raspar e depilar os pelos pubianos nos EUA, mas vai além. Mostra situações em que as mulheres mais recorrem à depilação, qual o perfil de quem mais adere à prática e até as áreas onde os pelos são menos quistos (veja infográfico). E aponta que as mulheres estão se importando bastante com o que os outros vão pensar de suas vaginas. “Tenho percebido, ao longo dos anos, que as mulheres estão muito preocupadas com a aparência de suas genitálias. É comum elas pedirem desculpas por não estarem depiladas e perguntarem se parecem ‘normais’”, afirmou à Folha Tami Rowen, ginecologista e obstetra da Universidade da Califórnia em San Francisco e autora principal do estudo. “Também vejo muitas meninas que ainda não são sexualmente ativas removendo todos seus pelos e outras mulheres com complicações por causa dessa prática. Quis entender os motivos e saber quantas pessoas estão adotando o hábito”, disse. Muita gente, segundo os números da pesquisa. Das mais de 3.300 mulheres entrevistadas, em uma amostra representativa do país, 2.778 (84%) já apararam os pelos na vida. Destas, 1.710 (62%) já aderiram à depilação total. A prática, porém, é mais comum entre mulheres mais jovens, brancas e com mais anos de escolaridade. Segundo os autores, trata-se de uma tendência cultural bastante motivada pela representação do sexo na mídia. A moda, dizem eles, começou mesmo no Brasil, mas o número crescente de vídeos pornográficos, revistas e programas de TV que mostram os genitais pelados também ajuda a impulsionar a prática. “É uma via de mão dupla. Essa tendência que começou por aqui, com os biquínis cada vez menores, influenciou os filmes, e os filmes depois divulgam a tendência. A imagem que acaba ficando é: quer fazer sexo, quer ser bem-sucedida na cama? Então depile-se”, avalia Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade da USP. “Depois vira uma coisa de grupo, que exerce uma pressãozinha, mesmo que passiva, como toda tendência de grupo. Não quero ser a única peluda quando todas as outras se depilam.” A preocupação com a aparência da vagina fica clara quando qualquer exposição parece ser motivo para se depilar, incluindo visitas a um profissional de saúde, de acordo com o estudo. Muitas também se depilam porque os parceiros assim preferem. “A mulher quer mostrar que tem uma vagina bem cuidada, está preocupada com o que o outro vai pensar, até mesmo o médico”, afirma César Fernandes, presidente da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia). “Mas quando a preocupação com o que o outro vai achar é grande demais, é preciso trazer à tona a percepção que ela tem dela mesma. Não pode deixar de namorar por pensar que não se cuidou. Esse é um bom limite.” No Brasil, não há nenhum estudo desse tamanho sobre o assunto. Uma pesquisa da Unicamp, com 364 alunas, mostrou que 93% se depilam e 61,8% acham que esse é um hábito necessário. No entanto, 80,1% acham que a depilação pode ser prejudicial à saúde genital dependendo da maneira como é feita. Os resultados foram publicados em 2013 na “Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia”.

Limpeza O principal motivo citado pelas mulheres, porém, é a higiene. Beleza e querer agradar o parceiro vêm depois. O resultado chamou a atenção da autora do estudo. “Imaginava que as mulheres se depilavam para tipos específicos de atividade sexual. Fiquei surpresa quando elas citaram higiene, quando não há base real para isso”, diz. Fernandes toca no mesmo ponto. “A mulher pode se sentir com um aspecto mais saudável, mas os pelos não prejudicam nada, desde que o asseio seja feito corretamente.” É preciso, porém, ter cuidado com os métodos. Fernandes diz que a raspagem com lâmina é a mais problemática por causar foliculite (infecção dos folículos pilosos). Já Leandra Metsavaht, diretora da Sociedade Brasileira de Dermatologia, lembra que salões de depilação com cera têm que usar instrumentos descartáveis.

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Saúde

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Hepatite B

Relação sexual é uma das formas de pegar a hepatite B, forma de contágio ainda é desprezada, mas a doença oferece o risco de levar à cirrose e ao câncer por GISLAINE GUTIERRE/FOLHAPRESS

Arte: Folhapress

Inflamação do fígado que pode levar à cirrose e ao câncer no órgão, a hepatite B pode ser pega em relações sexuais sem camisinha. “As pessoas se esquecem desse risco, mas a taxa de contaminação nessa situação é bem alta”, diz a hepatologista do Hospital Bandeirantes Regina Gomes dos Santos. É possível pegar a hepatite C dessa forma, também, embora seja incomum. Muitas vezes a hepatite passa despercebida, porque pode não haver sintomas. “Isso é acontece porque o fígado preserva suas funções vitais até que 70% de suas células estejam comprometidas”, diz o hepatologista do hospital Beneficência Portuguesa Tércio Genzini. Ele explica que o perigo é que mesmo sabendo que tem a doença, há quem mantenha hábitos que a leva às fases finais da hepatite. “Ou seja, leva à cirrose, esta sim um quadro irreversível e de maior risco”, afirma. É por isso que o mais seguro é fazer testes preventivos de detecção da doença, a partir da coleta de sangue. Segundo Regina, dos três tipos mais comuns, a A é a que oferece menor risco de se tornar crônica (permanente). “A quantidade de gente com hepatite B é maior, mas só 5% se torna crônica”, explica. Já na C isso acontece em 80% dos casos. Por outro lado, existe medicamento contra a C com 90% de taxa de cura. O transplante, se necessário, só resolve a insuficiência hepática. O vírus continua no sangue e, segundo Regina, a pessoa continua precisando de medicamentos. Genzini ainda lembra que há vários mitos envolvendo a doença. “Um deles é que se não beber durante a semana, pode abusar no fim de semana”, diz. O outro é que banhos de água quente esterilizariam materiais cortantes -o que só é possível com uso de equipamento específico, chamado autoclave. (Gislaine Gutierre) Confusão mental é uma possibilidade Infectados com hepatite B e C podem apresentar quadro de confusão mental. “Isso só acontece quando o paciente está com cirrose”, diz a hepatologista do Hospital Bandeirantes Regina Gomes dos Santos. “Pode até chegar ao coma”, completa. A médica explica que a confusão começa aos poucos. A pessoa pode ter perda de concentração, dificuldade de operar máquinas, por exemplo, tremores e sonolência. (GG)


Antenado

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Depoimento Autor Péter Esterházy queria escrever uma história simples

por EMILIO FRAIA/FOLHAPRESS

Quando Péter Esterházy, que

gem que chama de “meu pai”. Depois

seu objeto. Eu anulo essa distância, o que

é verdade que escrever ajude em algo.

morreu aos 66 na quinta-feira

de escrita a obra, Péter foi arremessado

é o mesmo que infinito. Se não existe uma

Mesmo se o escritor estiver triste depois

(14), veio ao Brasil, em 2011, ele

num pesadelo: descobriu que seu pai

distância, então essa distância pode ser

da morte de alguém, isso não importa. Só

disse estar tentando escrever uma his-

havia trabalhado como informante da

de qualquer tamanho”, dizia Esterházy,

tem importância se o escritor conseguir

tória simples e que na sua escrivaninha

polícia secreta entre 1957 e 1980. Em

que era também matemático.

colocar uma palavra ao lado da outra e

havia um bilhete: “história simples, cem

2002, publicou uma edição revista, sobre

Em 1985, escreveu sobre a morte da mãe

criar a sensação de que está triste. Ou

páginas”.

suas reflexões a partir da notícia das

em um de seus livros mais delicados, “Os

fazer com que o leitor pense na pessoa

O escritor húngaro, renovador da lingua-

atividades escusas do pai.

Verbos Auxiliares do Coração”. Sobre a

que morreu, ou que se lembre de deter-

gem do romance, sabia que o que costu-

“Não faço distinção entre ficção e não-

obra, falou: “É incômodo quando alguém

minada pessoa, caso ela tenha morrido

mava escrever 1) não era simples; 2) era

-ficção. Costuma-se dizer que o escritor

fala da morte. Mas silenciar também é

também”.

mais do que uma história; 3) geralmente

deve manter uma distância entre ele e o

ruim. Escrever não é uma solução. Não

EMILIO FRAIA é escritor e editor

não tinha cem páginas –podia inclusive

Foto: Leticia Moreira - 8.jul.2011/Folhapress

chegar às quase oitocentas de “Harmonia Caelestis” (2000), sua obra-prima. “Só conseguimos escrever o que conseguimos escrever. Os meus livros são assim: eu quero contar uma história e não consigo, pelo menos não do jeito tradicional. A crítica diz que é o meu estilo, o que me faz pensar que o estilo de um escritor tem mais a ver com o que ele não sabe do que com o que ele sabe”, disse, com seu tom sempre leve, sem estridência, de discreta ironia. Editei os dois livros de Péter Esterházy publicados no Brasil, “Uma Mulher” (2010) e “Os Verbos Auxiliares do Coração” (2011), pela Cosac Naify, traduzidos pelo destemido Paulo Schiller. E quase sempre editar significa longas conversas e trocas de e-mail. Foi assim que soube que o irmão mais novo de Péter era jogador de futebol e jogou contra o Brasil num amistoso em 1986 em Budapeste, numa partida em que a Hungria venceu por 3 a 0. Foi assim que soube de sua admiração por Jorge Luis Borges (“ele trata da incerteza da realidade, existe alguma realidade além das palavras? É como se ele tivesse vindo da lua”). E foi assim que soube (algo menos nobre) que comemorávamos aniversário no mesmo dia, 14 de abril. Péter nasceu em 1950 e era herdeiro de uma linhagem conhecida da aristocracia húngara. Em 1948, durante o regime comunista, sua família perdeu os bens e privilégios. Em “Harmonia Caelestis” ele narra os séculos de história da dinastia Esterházy a partir da perspectiva de um persona-

O escritor húngaro Péter esterházy fala Festa literária Internacional de Paraty, em 2011.


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