860 Edição 05.08.2016

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Braganรงa Paulista

Sexta 5 Agosto 2016

Nยบ 860 - ano XV jornal@jornaldomeio.com.br

jornal do meio

11 4032-3919


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Para pensar

Jornal do Meio 860 Sexta 5 • Agosto • 2016

Expediente

Ganância e vaidade por Mons. Giovanni Baresse

Jornal do Meio Rua Santa Clara, 730 Centro - Bragança Pta. Tel/Fax: (11) 4032-3919 E-mail: jornal@jornaldomeio.com.br Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli Jornalista Responsável: Carlos Henrique Picarelli (MTB: 61.321/SP)

A Palavra de Deus escolhi-

me afadigo debaixo do sol, pois

as pessoas e também com Deus.

para obter sonhos pessoais ou

da para o último domingo

se tenho que deixar tudo ao meu

O apego aos bens leva ao fecha-

de um grupo. Da mesma forma

deste mês de julho começa

sucessor, quem sabe se ele será

mento e a formar uma atitude de

a parábola que Jesus apresenta

com um trecho aparentemente

sábio ou néscio?” (Eclesiastes,

dominação que não leva mais em

mostra a fatuidade daquilo que se

pessimista de Coélet, autor do

1,2; 2,18). A reflexão antes que

conta nenhum laço de convivência.

acumula em relação tanto às pes-

livro do Eclesiastes. Esse livro

pessimista é uma visão crítica

O livro de Coélet traz o raciocínio

soas, quanto a Deus. A vida é um

surge na comunidade judaica por

da realidade que não garantia

que faz parte do nosso dia a dia

dom de Deus. Nós não temos como

volta do ano 250 antes de Cristo.

ao esforço feito fruir a labuta di-

e que muitas vezes se escuta:

compra-la. E não será o dinheiro

Egito, Palestina, Síria, Líbano

ária. Como se sabe o Eclesiastes

“prá que tanta preocupação em

que tenhamos ou nossas posses

estão sob dominação dos reis

e outros seis livros surgiram na

acumular se não poderemos levar

que que nos livrarão do fato natural

gregos, da dinastia dos Ptolomeus.

época dos Ptolomeus como for-

nada no dia de nosso enterro”? A

da morte e do encontro definitivo

gerando necessidades que nunca

Internamente a família dos Tobí-

ma de resistência ao poder que

palavra vaidade tem a sua tradução

com Deus, diante do qual ficarão

têm sua sede aplacada. A indústria

adas domina a economia. O povo

explorava e queria destruir a fé

no texto bíblico informada pela

patentes as escolhas e atitudes que

do acúmulo do dinheiro vai levando

geme sob impostos externos e

e a cultura do judaísmo. O texto

palavra ilusão. E é exatamente a

tomamos durante a vida. O caminho

a todos a buscar o desnecessário

internos. O fruto do seu trabalho

do Evangelho (Lucas 12,13-21)

ilusão da onipotência pela posse

de Jesus mostra que a vida é vivida

para que não sejamos taxados

é praticamente perdido nas mãos

traz advertência de Jesus sobre

de bens e do dinheiro que pode

em seu valor fundamental se for

de caretas ou “off line”. E nesse

dos dominadores. Olhando essa

o risco de colocar a segurança da

levar à perda do rumo da vida

expressão da partilha e do serviço.

quadro não há espaço nem para a

realidade o sábio judeu faz a refle-

vida nos bens, no dinheiro que se

verdadeira e a assumir compor-

Isto significa que os bens não tem

gratuidade nem para a justiça. Daí

xão que começa com as palavras

possa acumular. A uma pessoa

tamento de fraude, de engano em

valor absoluto. O seu valor está na

advém as tentativas do engano, do

acima e que julgo oportuno com-

que lhe pedia para intervir numa

relação às pessoas. O que estamos

geração da vida plena. E aquilo que

tirar proveito, da vantagem, das

pletar: “Vaidade das vaidades – diz

questão de herança, Jesus parece

presenciando com o fato que re-

se tem não deve torna-se o deus a

omissões, etc. Os bens e o dinheiro

Coélet – vaidade das vaidades,

dar uma resposta desinteressada.

cebe o nome de “Petrolão” nada

que se adora. Nós sabemos que a

são meios para que se possa viver

tudo é vaidade. Que proveito tira

Na verdade ele vai à raiz do pro-

mais é que a vaidade e a ilusão

visão consumista dos nossos tempos

com dignidade. Adquiridos com

o homem de todo o trabalho com

blema: a ganância é que provoca

justificando ações que prejudicam

nos leva a buscar sempre aquilo que

trabalho e seriedade devem ajudar

que se afadiga debaixo do sol?...

as quebras dos relacionamentos

o conjunto da sociedade. O desvio

se determina o que devemos ter. A

a construir o mundo marcado pela

Detesto todo o trabalho com que

e leva ao distanciamento entre

de somas fantásticas de dinheiro

força imensa da propaganda vai

justiça e solidariedade.

As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão. As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Bragança Jornal Diário.


Reflexão e Práxis

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PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS

www.coquetel.com.br

Prefixo de “eclipse” Na moda (inglês)

Responsável pelas finanças do clube Frequência Intermediária (abrev.)

Lista Personagem feminina do Bumba meu boi (Folcl.) A esmo

Herói morto por um javali (Mit.) Condição da vela que bruxuleia

A lanterna piscapisca do automóvel

Percepção visual Objeto invulgar

O ponto mais alto do Sol no céu

C O R

Camarão de rio Tempero de pizzas

Em (?): a uma só voz A música religiosa “Senhor”, na linguagem dos escravos

Franz (?): orientou Margaret Mead Dar para (?): reagir contra algo Banho que finaliza o uso da sauna Matéria que agrava a rinite alérgica Taberna pouco asseada (bras.)

Estado frequente do indivíduo tímido Matériaprima do etanol brasileiro

Cartunista criador da Rê Bordosa Actínio (símbolo) Carro, em inglês A do motor da F1 diminui com o turbo Açude no rio Jaguaribe (CE)

BANCO

2

Solução

FI

Pedro Marcelo Galasso - cientista político, professor e escritor. E-mail: p.m.galasso@gmail.com

N S E S O

M AO X U A L U R E I RO U E C O R I N HA D O N I S O A S V PI T U R I O N A L CO R O C CA NA E N G E L I H A A C O N CA D A O R O S

mação vergonhosa de atletas brasileiros dizendo que nunca ficaram doentes nestas águas e um deles disse que o remo é uma modalidade sobre a água e, por isso, não há risco de contaminação, tudo isso com a contribuição de enormes placas que tentam esconder os morros e as comunidades cariocas. Tanta alegria permitiu que o prefeito do Rio de Janeiro tivesse a falta de educação e de sensibilidade frente as justas reclamações da delegação australiana, que chegou antes ao Rio para se ambientar porque eles têm chances reais de conquistas olímpicas, ao fazer uma piada que menosprezava uma questão séria – a não finalização das obras na Vila Olímpica, local fundamental para o sucesso dos jogos e para a comodidade dos atletas, dizendo que para agradar os australianos iria colocar um canguru para agradar os australianos. Tanta alegria, sem sentido e sem razão, expressa como nossos homens públicos vêem as suas responsabilidades e seus papéis como gestores da coisa pública que, por aqui, é a alegria da classe política brasileira. Tanta alegria nos coloca em transe – os meios de comunicação que lucram milhões com o evento justificam os erros na preparação das Olimpíadas apontando erros nas edições anteriores, de forma oportunista e vergonhosa; nada mais foi dito sobre os absurdos no nosso Congresso Nacional, pois o nome de Eduardo Cunha nem é mais lembrado, dentre outros tantos nomes; nenhuma discussão está sendo feita sobre as questões trabalhistas que se baseiam no seguinte absurdo – as negociações sempre desiguais entre patrões e trabalhadores ou em setores e sindicatos irão valer mais que as leis que regem o país, ou seja, as leis, do Estado democrático de direito, perdem seu valor. Tanta alegria, enfim, faz mal.

O “prefeito” de “O BemAmado”

Conto de Machado de Assis cujo tema éa loucura Basalto e kimberlito

S T A A C O E C S A S A U C R G A

O evento olímpico começa esta semana e há muito que pensar sobre ele e sobre a forma com a qual nossas figuras públicas lidam com as questões públicas. A definição do evento no Brasil ocorreu no governo Lula e foi vista como uma grande vitória do então presidente que governava um país otimista e com sua moeda valorizada, além da economia forte e sólida naquele momento. Havia o ufanismo da salvação do Brasil graças ao pré-sal, que começou a ser vilipendiado esta semana, e tudo parecia firme em nosso horizonte. A população do Rio comemorou, nossa classe política vibrava de alegria por tão significativa conquista. Tanta alegria ocultou um fato, no mínimo, curioso. Os Jogos Pan-Americanos, que ocorreram no Rio de Janeiro, tiveram o seu orçamento estourado em 444% e a Câmara Municipal da cidade votou, de forma unânime, pelo arquivamento das investigações. Tanta alegria nos fez esquecer a não realização do legado pan-americano, ou seja, os jogos deveriam deixar um legado de melhoras na cidade, que deveria beneficiar todo o Brasil, mas o que vimos foi o abandono dos locais onde as competições ocorreram. Tanta alegria foi vivida quando a Copa do Mundo de futebol aconteceu aqui. Estádios que custaram bilhões de reais e cujas construções são todas suspeitas, a não construção do trem-bala Campinas-Rio de Janeiro, a notória não realização do legado da Copa, o que quer que isso signifique, é um fato consumado e esperado, tudo isso foi convenientemente esquecido. Tanta alegria tornou simpático o atraso nas obras olímpicas como se a repercussão sobre o tema na mídia internacional colaborasse com a continuação da nossa imagem de despreocupados no exterior, a não limpeza das águas na Baía da Guanabara e na Lagoa Rodrigo de Freitas se confirmou apesar da quantidade de investimentos nesses locais com a afir-

Atol de (?), palco de testes atômicos

A S T E R O L P A A D A T O R D I R B O A T R A I D P A B O DE

por pedro marcelo galasso

Canguru

Aquela que acabou de ser batizada

2/in. 3/car. 7/mururoa — roncada. 10/direcional — pastorinha.

A piada

© Revistas COQUETEL

Lei dos EUA cuja criação foi motivada pelos ataques terroristas de 11 de Fechado A fecunda- setembro hermeticamente ção como de 2001 a realizada nos clones (Biol.)

Casas em Condomínio

Jd. das Palmeiras..................................................................................................................R$ 650 mil Florestas de São Vicente (nova)..............................................................................................R$ 580 mil Euroville (nova).....................................................................................................................R$ 950 mil Portal de Bragança (nova)................................................................................................R$ 1.3 milhões Village Santa Helena....................................................................................................R$ 1.490 milhões Portal Bragança Horizonte (nova)..........................................................................................R$ 770 mil Villa Real (nova)....................................................................................................................R$ 900 mil Rosário de Fátima ( Ac imóvel – valor)............................................................................R$ consulte-nos

Terrenos em Condomínio

Villa Real 428m²...................................................................................................................R$ 150 mil Colinas de São Francisco 616m²............................................................(parcelamos em 10x) R$ 300 mil Terras de Santa Cruz 600m²...................................................................................................R$ 120 mil Portal Bragança Horizonte 341m²..........................................................................................R$ 200 mil Jd. Nova Bragança 300 m².....................................................................................................R$ 200 mil

Apartamentos

Ed. Piazza de Siena................................................................................................................ R$ 950 mil Apto. Jardim do Lago............................................................................................................. R$ 300 mil Apto. Centro (novo)................................................................................................................R$ 255 mil Ed. Don Pedro I...................................................................................................................... R$ 650 mil Apto. Jd nova Bragança ( Alto Padrão 230m² 3vagas)...................................................... R$ Consulte-nos Apto. Ed. Clipper (Centro) Reformado 3dorm. 1gar....................................................................R$ 450mil

Diversos

Casa Jd. Europa.....................................................................................................................R$ 530 mil Terreno Jd do Lago Comercial 600m²..................................................................................... R$ 600 mil Imóvel Comercial AV. Norte-Sul.............................................................................................R$ 630 mil Prédio Comercial Shopping Jaguari....................................................................................... R$150 mil


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por Shel Almeida

Se você está atento ao que tem acontecido na cidade ultimamente já deve ter ouvido falar do coletivo “Rosa Não Cala”. Talvez não tenha entendido ainda do que se trata e nem o porquê desse nome, mas, se em algum momento, já parou para pensar sobre isso é porque o grupo está conseguindo atingir o objetivo de estimular a reflexão. Formado por mulheres com idade média entre 17 a 25 anos, o grupo do coletivo feminista no Facebook tem cerca de 300 integrantes. Ativas nas reuniões fechadas, são cerca de 40 mulheres. O grupo tem recebido apoio também de homens, que acompanham as manifestações públicas e participam das reuniões abertas. “Rosa não Cala” pode remeter tanto ao nome de mulher quanto à flor. Se pensarmos nas duas coisas juntas, logo vem em mente toda a simbologia de se oferecer rosas no dia mulher. E foi para reverter esse significado, de que basta dar uma rosa a uma mulher para que ela se sinta satisfeita e não reclame mais, que as garotas do coletivo escolheram esse nome. Para dizer que nem Rosa e nem nenhuma delas irá se calar. E que não será uma flor, entregue esporadicamente, que as manterá em silêncio. O nome do coletivo remete, também à música de Cartola, “As rosas não falam” mas, ao contrário da letra, as garotas têm muito mais a oferecer do que apenas o perfume. Desconstrução Motivadas pela crescente onda do movimento feminista no Brasil e no mundo, as garotas começaram a se mobilizar online, em grupos de facebook e whats app. Logo resolveram sair do mundo virtual para a ação no mundo real. Com pouco tempo de atividade, o coletivo já realizou algumas ações pela cidade. A primeira aconteceu no final de junho, em um farol que fica em frente a uma escola. O local escolhido para panfletagem foi proposital, já que uma professora da instituição teve o corpo fotografado por um dos alunos e, segundo o coletivo, o fato foi minimizado pela direção. As garotas entregaram folhetos aos passantes, alertando sobre o crime de assédio moral e sexual. O resultado da ação pode ser visto em vídeo disponibilizado na fan page do grupo. A ideia, ao se criar esse tipo de ação, é fazer com que as pessoas, em especial os homens, repensarem suas atitudes e respeitem as mulheres da mesma maneira que querem ser respeitados. Em julho, o coletivo saiu novamente às ruas, desse vez no centro da cidade, para se manifestar contra o conteúdo publicado pelo folhetim Joaninhas do Toró. Como o grupo explica, há seis anos a publicação veicula material que contém apologia ao estupro, violência contra a mulher, homofobia, lesbofobia, racismo e pedofilia. O principal objetivo, com essa manifestação, foi fomentar a conscientização popular. Agora, o coletivo está atrás de material para poder entrar com uma representação contra o folhetim no Ministério Público. “Estamos em busca de edições antigas para mostrar a reincidência, provar que não é um caso isolado de uma edição, mas sim que é costume dessa publicação veicular conteúdo com apologia a crimes. Em breve, iremos realizar uma nova manifestação, dessa vez para recolhermos assinaturas com a população para uma abaixo-assinado, que também será entregue no Ministério Público. O manifesto foi importante para que mais pessoas conhecessem o coletivo

e soubessem do que estamos falando, fossem atrás de informações. O movimento na nossa fan page cresceu depois disso, tivemos mais curtidas e também mais visualizações no vídeo em que mostramos o jornal à população. O nosso objetivo é chegar em quem lê o folhetim, para que reflita”. diz Aline Zarur, de 20 anos. “Esse jornal já existe há um tempo e ninguém nunca falou nada. O importante da gente se juntar para fazer alguma coisa a respeito é porque, assim, conseguimos ter mais força. O fato é que a desconstrução tem que acontecer na pessoa que lê esse folhetim. Porque, mesmo que a gente conseguisse fazer ele parar de publicar as coisas absurdas que são publicadas, as pessoas iriam procurar esse tipo de conteúdo em outras plataformas. Então, a ideia é desconstruir esse tipo de pensamento em quem compactua com isso, não só nos leitores, mas também nos patrocinadores”, diz Carla Terron, de 17 anos

Manifestação contra conteúdo publicado pelo folhetim Joaninhas do Toró aconteceu no centro da cidade. Coletivo entrará com representação no Ministério Público

Mea culpa Os comentários a respeito da manifestação foram os mais diversos. De acordo com a garotas do grupo, durante a passeata pelas ruas, elas puderem perceber o quanto muitas mulheres estavam de acordo. “Ouvimos muitas palavras de apoio, não só nessa manifestação no centro como também na primeira ação, que fizemos no farol. As mulheres estão cansadas de serem tratadas com desrespeito. Alguns homens também se manifestaram a favor, vários pedindo desculpa ou por terem rido desse tipo de piada que é publicada no folhetim ou por simplesmente ignorarem esse tipo de atitude”, contam. Os comentários contrários vieram, na maioria, de homens que, ou achavam exagero que as garotas se rebelassem contra uma publicação que “só tem o objetivo de fazer rir”, ou que elas deveriam estar em casa fazendo algo mais útil, como “lavar louça”. Outros defendiam o direito de liberdade de expressão do folhetim. No entanto, vale ressaltar alguns pontos. Primeiro, não é engraçado difamar a imagem de uma mulher sexualmente, ainda mais com apologia a violência doméstica e estupro. O nome disse não é “piada” e sim crime. A violência de gênero tem crescido no Brasil e esse problema é de todos e não apenas das mulheres. Fomentar esse tipo de pensamento, seja escrevendo, seja rindo, só contribui para que a insegurança se prolifere ainda mais. Segundo, falar para uma mulher ir “lavar louça” não é argumento, é lugar comum. Estamos em 2016, é preciso melhorar o nível da discussão. Terceiro, liberdade de expressão é direito de opinião. O nome certo para a apologia à violência de gênero é misoginia e assim como a homofobia e o racismo, é crime de ódio. Então, agora é a hora de fazer como alguns homens fizeram durante a manifestação e começar a pensar na própria mea culpa. Mesmo as mulheres precisam começar a refletir sobre como tratam umas as outras. A violência de gênero não escolhe raça, credo, idade, nível social ou escolaridade. Portanto, ofender uma, é ofender todas. A desconstrução já está acontecendo, mas e preciso que todos se unam para que ela seja efetiva, de fato. Para assitir os vídeos do Coletivo Feminista Rosa Não Cala e acompanhar as próximas atividades, acesse https://www.facebook. com/rosanaocala/.

Jovens do coletivo receberam apoio de mulheres e homens durante a manifestação. Procura pela fan page do grupo aumentou depois da ação.

Coletivo programa nova manifestação para coleta de assinaturas para abaixo-assinado. Data ainda será marcada.

Objetivo do grupo é desconstruir o pensamento de quem lê e apoia o tipo de conteúdo veiculado pelo folhetim.


Saúde

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‘Biópsia líquida’

Para monitorar câncer passa a ser oferecida no país, teste ajuda a avaliar tratamento, mas não substitui exame original, que pode requerer cirurgia, análise para achar mutação pode custar mais de R$ 1 mil, mas há empresas que estão bancando os testes por GABRIEL ALVES/FOLHAPRESS Arte: Folhapress

Laboratórios do país começam

o surgimento de células resistentes

mente testada. Na análise sanguínea,o

a disponibilizar o exame que

–o que muitas vezes requer a troca de

volume de material a ser testado é, na

ficou conhecido como “biópsia

medicamento.

prática, ilimitado.

líquida”. Trata-se de uma análise a partir

A AstraZeneca está selecionando alguns

A técnica poderá ser usada como uma

do sangue na qual é possível encontrar

pacientes para fazerem o exame para

forma barata de rastreamento, “caçando”

e analisar o DNA de células tumorais.

detectar mutações no gene EGFR de

tumores em pessoas de grupos de risco.

A alternativa “clássica”, a biópsia con-

graça. Normalmente, ele custa cerca

Ela também reduz uma desvantagem da

vencional, muitas vezes requer cirurgia,

de R$ 1.500.

biópsia tumoral, que é o risco de pegar

especialmente em órgãos internos, como

Por enquanto, a iniciativa está dispo-

uma região do tumor que não representa

o pulmão.

nível nas cidades de São Paulo, Rio de

adequadamente sua totalidade –existe

A existência de DNA no plasma sanguíneo

Janeiro, Belo Horizonte e Goiânia –é

uma variabilidade “geográfica” e o pedaço

(veja infográfico) não é inusual –pode

necessário que o médico faça a requisição.

retirado é bastante pequeno.

acontecer com vários tipos celulares– e

A previsão é de que seja disponibilizado

Esse resultado seria um passo adiante

é por isso que a fração de DNA tumoral

nacionalmente em agosto.

na abordagem “agnóstica” do tumor,

é pequena, geralmente menor do que

Evidências

1%, o que acaba requerendo um cuidado

ou seja, deixando de lado onde ele está (pulmão, útero ou intestino, por

especial com a amostra.

Recentemente, foram divulgados os

exemplo) e se preocupando mais com

O DNA tumoral circulante, ou ctDNA,

resultados de um estudo americano

suas características biológicas, como

pode revelar mutações importantes,

de biópsia líquida com dados de 17 mil

as proteínas e enzimas que ele produz,

como uma no gene EGFR que pode

pacientes. Foram analisadas alterações

explica Philip Mack, da Universidade

estar presente em vários tipos de câncer,

genéticas em mais de 50 tipos de câncer.

da Califórnia em Davis, que apresentou

como o de pulmão.

Entre 94% e 100% das vezes, a mutação

o estudo.

Se ela existir, assim como acontece quando

encontrada no sangue correspondia

“É uma abordagem na linha de ca-

há outros tipos de mutação, é possível

àquela do tecido da biópsia.

racterizar o perfil genético do tumor

indicar medicamentos mais eficazes no

A vantagem da análise convencional

e personalizar o tratamento. Já é algo

combate à doença, como o erlotinibe e

ainda é a informação histológica –que

real hoje no Brasil, no sistema privado”,

o gefitinibe, das farmacêuticas Roche e

tipos de células participam daquele

diz Herchenhorn.

AstraZeneca, respectivamente.

tumor e suas características químicas

No estudo, a partir da análise do DNA

Um dos laboratórios que está realizan-

ou de forma, por exemplo. “Esse tipo

tumoral circulante foi possível recomen-

do esse tipo de análise é a Progenética

de informação ainda é fundamental

dar o tratamento ideal para 63,6% dos

Hermes Pardini. Segundo o diretor de

para a caracterização do tumor e para

pacientes, o que inclui desde o uso de

pesquisa e desenvolvimento do labora-

a definição do tratamento”, afirma o

drogas já aprovadas pela FDA (espécie

tório, Mariano Zalis, uma das vantagens

oncologista Daniel Herchenhorn, do

de Anvisa americana) até a elegibilidade

de fazer o teste com sangue e não com

Grupo D’Or.

para participação em testes clínicos.

o tecido coletado na biópsia convencio-

O recurso da biópsia líquida será es-

O DNA tumoral circulante foi detectado

nal (que é conservado em um bloco de

pecialmente útil para pacientes que

em 83% das amostras de sangue anali-

parafina) é a quantidade de DNA que

não podem ser rebiopsiados, ou seja,

sadas. Boa parte dos casos em que isso

pode ser obtida nesse novo método.

que não podem passar novamente por

não foi possível referem-se a câncer no

É consenso entre médicos que o exame

um procedimento invasivo como uma

cérebro, como glioblastoma.

de sangue não substitui a biópsia conven-

cirurgia.

“A abordagem vai na linha de caracterizar

cional, mas ele pode ser especialmente

Em 63% dos casos de câncer de pul-

o perfil genético do tumor e persona-

útil para acompanhar a evolução do

mão analisados no estudo americano,

lizar o tratamento. Já é algo real hoje

tumor (em uma frequência semanal

a amostra obtida pela biópsia tecidual

no Brasil, no sistema privado” Daniel

ou mensal, por exemplo) e antecipar

foi insuficientemente ou apenas parcial-

Herchenhorn - Oncologista clínico.


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Saúde

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Tempo frio Amplia riscos de contrair doenças respiratórias por GISLAINE GUTIERRE/FOLHAPRESS Arte: Folhapress

Ambientes fechados favorecem circulação de vírus e bactérias. Tempo seco faz piorar as doenças alérgicas O inverno traz o risco de aumento no número de casos de doenças respiratórias. Um dos motivos é o fato de as pessoas ficarem mais em ambientes com janelas e portas fechadas, como ônibus e cômodos de uma casa. “Quando há janelas abertas, as correntes de ar levam para fora os vírus e bactérias que ficam no ar quando uma pessoa tosse ou espirra. Se está tudo fechado, você fica respirando aquilo”, explica o pneumologista do Hospital Samaritano de São Paulo Mauro Gomes. É por isso, por exemplo, que doenças infecciosas, como a gripe e o resfriado, se alastram nesta época. E isso não tem a ver com andar menos agasalhado, tomar gelado ou caminhar descalço. “Para pegar um resfriado, é preciso ter o agente infeccioso, que é o vírus”, diz o otorrinolaringologista do Hospital Sírio-Libanês Fausto Nakandakari. Por outro lado, o tempo seco do inverno, somado à poluição de São Paulo, faz piorar o quadro de doenças alérgicas, como a rinite. Segundo Gomes, quem tem doença crônica, como asma, por exemplo, pode ficar com mais sensibilidade no inverno e passar mal, porque o tempo seco irrita e inflama as vias aéreas. Para quem tem doenças crônicas, a melhor prevenção, segundo o pneumologista, é tratar esse mal durante todo o ano, para evitar crises no inverno desencadeadas por essa irritação. Vacinas -tanto da gripe quanto da pneumonia- são recomendáveis. “Mas a vacina da pneumonia é de uma dose só. Não precisa repetir todo ano, como na da gripe”. diz Gomes. O pneumologista diz que também há formas menos desconfortáveis de encarar as baixas temperaturas. Uma delas é, para o caso de olhos irritados, aplicar até duas gotas de soro fisiológico em cada um. No nariz pode-se aplicar um conta-gotas cheio de cada lado. (Gislaine Gutierre) Umidificador ligado o dia todo faz mal Umidificadores de ar podem facilitar a respiração nos dias secos, mas não devem ficar ligados nem o dia nema noite toda. O risco é tornar o ambiente tão úmido que leve ao aumento de fungos. “Quem tem doença alérgica pode piorar”, diz o pneumologista do Hospital Samaritano de São Paulo Mauro Gomes. Uma dica é deixá-lo ligado no quarto até uma hora e meia antes de dormir. Depois, desligue-o.


Antenado

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Romance mostra impasse moral de jovem Primeiro livro de ficção de Oscar Pilagallo retrata perda da pureza na transição de personagem para a vida adulta. Autor, que fez carreira na imprensa, conta que precisou evitar técnicas do texto jornalístico para prender o leitor por MAURÍCIO MEIRELES/FOLHAPRESS

Para começo de conversa, uma

por vezes entediado e também vivendo as

passagens pela Folha nos anos 1980 e 1990),

tendência é fazer o mesmo. Precisei encontrar

explicação: romance de formação é

angústias do primeiro amor.

Pilagallo ganhou um prêmio Jabuti com

uma voz que fosse mais literária, prender

aquele que mostra a passagem de

A “perda da pureza” coincide com a des-

“História da Imprensa Paulista”, de 2011,

o leitor sem usar técnicas do jornalismo.”

alguém para a vida adulta, com as implicações

coberta de que o país vive uma ditadura

publicado pela Três Estrelas (selo editorial

existenciais da maturidade. Tudo isso numa

militar. O amadurecimento aparece até no

do Grupo Folha).

narrativa que costuma se desenvolver a partir

nome dos capítulos: os dois primeiros são

Para escrever ficção, porém, foi preciso de-

LUA DE VINIL

de um conflito que desafia o personagem.

apelidos juvenis do personagem, e o último

sapegar das técnicas do texto jornalístico.

autor Oscar Pilagallo

É a essa tradição que se filia “Lua de Vinil”,

é intitulado “Gilberto”, seu nome de adulto.

“Como jornalista, você escreve coisas para

editora Seguinte

primeiro romance do jornalista Oscar Pi-

Com carreira no jornalismo (o autor teve

um consumo imediato. Ao escrever ficção, a

quanto R$ 29,90 (168 págs.)

lagallo. Nele, um rapaz chamado Gilberto

Foto: Fabio Braga/Folhapress

provoca um grave acidente, que deixa um menino da vizinhança ferido. Quando os moradores do prédio apontam um outro colega, que já tinha fama de aprontar, Gilberto deixa o amigo levar a culpa. E o romance, voltando para o público infantojuvenil, se desenvolve a partir desse impasse. “Queria lidar com a questão do dilema moral. Achei que os jovens seriam o público ideal com quem abordar esse tipo de tema”, afirma Pilagallo. Não à toa, o autor aponta como uma de suas influências “Lorde Jim”, de Joseph Conrad –no livro, um marinheiro abandona um navio que está afundando, o barco não afunda e ele se confronta com a própria covardia. As questões morais surgem na vida do protagonista e do seu criador, que estudaram em colégios jesuítas. Em dado momento, Gilberto imagina a situação de dois homens atirando cada um em uma criança. Um acerta, o outro erra. Quem é pior do ponto de vista moral? “Hoje me considero entre agnóstico e ateu, mas essas coisas [da formação religiosa] acabam ficando. Como alguém reage confrontado com uma situação assim? O que passa pela cabeça naquele segundo em que se pode ir para um lado ou para o outro?”. Num livro marcado pela reconstituição histórica dos anos 1970, Pilagallo mostra um personagem com o desamparo juvenil (seu pai está internado em estado grave),

Oscar Pilagallo, que fez carreira no jornalismo antes de estrear na ficção, em seu apartamento em Higienópolis, São Paulo.


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