Braganรงa Paulista
Sexta
23 Setembro 2016
Nยบ 867 - ano XV jornal@jornaldomeio.com.br
jornal do meio
11 4032-3919
2
Para pensar
Jornal do Meio 867 Sexta 23 • Setembro • 2016
Bons combates Em virtude das férias do Mons. Giovanni Baresse, a coluna Para Pensar terá a colaboração do Desembargador Miguel Ângelo Brandi Jr. por dESEMBARGADOR mIGUEL ÂNGELO bRANDI JR
Me alegro por, uma vez mais, substituir Monsenhor Giovanni neste espaço. Serão apenas três artigos que apresentarei. Já me referi, certa ocasião, à necessidade de rompermos com o culto às tragédias e más notícias e voltarmos nosso olhar, mentes e corações para os fatos positivos da vida. E são muitos; apenas não são divulgados, ao menos com a mesma força que o são aqueles primeiros. Quando me lembro dos “bons combates”, me vem à mente o grande número de pessoas envolvidas em trabalhos voluntários, seja através de uma ONG (organização não governamental), seja solitariamente, ou num pequeno grupo não institucionalizado. Não importa a forma, importam as lutas. Já escrevi, algumas vezes, sobre os vários trabalhos realizados nas várias entidades que atendem, em Bragança, idosos, crianças, adolescentes e jovens inclusive aqueles em confronto com a lei, pessoas especiais, doentes e tantos outros. Mais uma vez registro aqui minha admiração por esse voluntariado, muitas vezes inspirado em razões de fé. Me lembro de uma frase atribuída
a Carlito Maia (Carlos Maia de Souza, publicitário, *19.02.1924 em Lavras-MG; +22.06.2002 em São Paulo): tem gente que veio ao mundo a passeio, tem gente que veio a serviço. Dedicar-se a esses trabalhos voluntários faz toda diferença e mostra profunda sensibilidade e espírito de solidariedade e compromisso. Entre tantos bons combates, refiro-me, hoje, a um trabalho silenciosocomo tantos, voltado à erradicação das formas de utilização da energia nuclear. O “movimento” se identifica como “coalizão contra usinas nucleares”, ou simplesmente “Xô nuclear”. É um grupo de pessoas, de várias partes do País, profissionais de diversas áreas, que buscam combater a utilização da energia nuclear, considerando os riscos dessa fonte e o grave problema dos resíduos gerados por essa atividade. Um casal amigo, Chico e Stella Witaker, está à frente dessa atividade. De vez em quando eles estão por Bragança. Abro um parêntesis para falar um pouco sobre o Chico. Arquiteto paulista (*1931), ele é um cidadão do mundo, um ativista social. Preso por curto período durante o regime militar, exilou-se na França, em 1966. Foi para o Chile na
década de 70, lá estando por ocasião do golpe que derrubou Salvador Allende. Volta para a França em 1974 e para o Brasil em 1.981. Ele e Stella são co-fundadores do Fórum Social Mundial. O Chico, poucos sabem (também porque a divulgação foi tímida), recebeu o Prêmio Nobel Alternativo, em 2006. Esse prêmio foi criado em 1980, pelo filatelista Jakob Von Uexkull, e é celebrado anualmente no Parlamento Sueco, em dezembro. O prêmio homenageia pessoas que trabalham na busca e implantação de soluções para as mudanças mais urgentes e necessárias no mundo. O nome da honraria pode ser tido como um complemento crítico àquela outra conhecida como Prêmio Nobel. Volto à coalizão Xô nuclear. Essa luta, que podemos qualificar como um “bom combate”, recordando o Apóstolo Paulo, como tantas outras, encontra desafios imensos e resistências. Dá para imaginar os interesses econômicos que acompanham a proliferação e manutenção das usinas nucleares mundo afora. Uma proposta da coalizão não viabilizada foi de um minuto de silêncio, na abertura
dos Jogos Olímpicos Rio 2016, para recordar as catástrofes de Hiroshima e Nagasaki (Japão), durante a Segunda Guerra Mundial. Uma coincidência: os Jogos Olímpicos brasileiros foram abertos no dia 05 de agosto, às 20hs, no Rio; a bomba de Hiroshima foi lançada dia 6 de agosto de 1945, por volta de 8:15hs. Houve uma coincidência de dia e hora entre Brasil e Japão, na abertura dos jogos e no aniversário da primeira bomba (Hiroshima). Mas a proposta, infelizmente, não foi aceita pelo Comitê Olímpico Internacional. Perdemos uma oportunidade preciosa de dizer ao mundo da necessidade de combater a proliferação das usinas nucleares. Uma das lutas da coalizão é impedir a construção da Usina Nuclear Angra 3, fruto de um acordo Brasil-Alemanha. E o movimento integra fóruns temáticos mundo afora. Na França, proximamente, ocorrerá o Fórum Social Temático sobre o nuclear. E já ocorreram eventos tais em Tóquio e em Montreal. Recomendo àquelas pessoas que possam ter acesso uma visita ao site www.brasilcontrausinanuclear.com. br. Lá estão informações preciosas sobre o problema nuclear aqui e
Expediente Jornal do Meio Rua Santa Clara, 730 Centro - Bragança Pta. Tel/Fax: (11) 4032-3919 E-mail: jornal@jornaldomeio.com.br Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli Jornalista Responsável: Carlos Henrique Picarelli (MTB: 61.321/SP)
As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão. As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Bragança Jornal Diário.
no mundo. Este é apenas um registro de um entre tantos bons combates que estão por aí. A partir dele, homenageio pessoas que aqui e em tantos lugares sonham e lutam por um outro mundo possível.
Miguel Angelo Brandi Júnior
Reflexão e Práxis
Jornal do Meio 867 Sexta 23 • Setembro • 2016
3
PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS
www.coquetel.com.br
quando pensamos nas candidaturas aos cargos de vereadores e de vereadoras. Dos mais de 300 candidatos e candidatas, quantos podem ser apontados ou apontadas como elegíveis? Quantos têm uma ideia clara do que significa a atuação e o papel no legislativo municipal? O mecanismo perverso das coligações e a necessidade de partidários fazem com que figuras incoerentes se candidatem para divulgar o nome de candidatos ao cargo de prefeito ou para divulgarem a legenda ou a coligação da qual fazem parte. Isso sem contar que alguns dos péssimos vereadores que encerram suas legislaturas, serão, inexplicavelmente, reeleitos para darem continuidade ao péssimo trabalho realizado nos últimos quatro anos. Em Bragança Paulista, a História da tragédia serve apara alimentar as novas farsas políticas. Panorama comum em todo o país e explícito por aqui. Notem, ainda, que inúmeros inimigos políticos do último processo eleitoral municipal agora são aliados e que vários candidatos e candidatas aos cargos da Câmara Municipal pertenciam a outros grupos políticos. E disto fica a pergunta – é possível confiar ou eleger candidatos e candidatas que não tem a mínima decência e a mínima identidade político-partidária? É possível crer em tais figuras depois de eleitas? É possível escolher entre candidatos e candidatas que em nenhum momento procuraram discutir, de forma plena e honesta, os interesses de Bragança Paulista com a sua população? É possível crer em grupos políticos que se dizem detentores de todas as verdades sobre a cidade e que se julgam donos de todas as soluções. Enfim, nada brilha no nosso horizonte político.
Aécio Neves, presidenciável pelo PSDB em 2014 (?) dance, atração de clubes de stripper Forma do sifão
(?) ao próximo, sentimento cristão
Dó de (?): nota difícil de entoar
Destino de Homero na "Ilíada" (Lit.) Efeito colateral do antialérgico Brado
Juiz de Israel (Bíb.) Propulsor espacial
Diz-se da bolsa de grife estrangeira
Antigo local de cura de tuberculosos Arte, em latim Time cearense
Transtorno que leva a atos repetitivos
Eduardo Noriega, ator espanhol Primeira letra grega (?) Cantona, jogador
Caracteriza o professor exigente "(?) It Be", sucesso de Paul McCartney Transporte dos profissionais que protestam contra o serviço do aplicativo Uber Conjunto de aulas ministradas pela TV
BANCO
Região como o Saara, na África Rumar Extensão de sites nacionais
Semelhante Grito do carateca Animal como o Caprichoso ou o Garantido
16
Solução F T A L A T E I B P A R D E I T O A R S C A D A E N L F A E R TO I R B O I R S O
É estranho e preocupante pensar o momento político de Bragança Paulista que antecede as eleições municipais. Basta pensarmos que a cidade traz como candidatos ao cargo de prefeito, figuras que não inspiram confiança e que têm posturas que parecem distintas, mas que não estão distantes quanto eles dizem. O discurso de todos é o novo. O novo. Algo difícil de ser apresentado, pois, por ser novo, nunca foi experimentado. Mas qual novo? Um novo em uma cidade que apresenta tantos problemas e que devem ser tratados de forma objetiva e não idealizada? Qual novo? O novo das propagandas e dos discursos? Qual novo? O novo com velhos conhecidos? Qual novo? Mais preocupante, é que no final da propaganda eleitoral as trocas de acusações já se tornam o mote do que é apresentado na propaganda eleitoral gratuita e o que move os apaixonados e interesseiros “partidários” dos candidatos, que já sobrevoam cada um deles em busca de um naco do poder público, e as conversas deste tom, a eterna e corruptiva busca por cargos de confiança, já é muito forte em toda a cidade. Disto ficam algumas questões. Quem diz a verdade? Há a verdade? Quais são os planos reais de governo dos candidatos? Não os belos discursos e as belas imagens, mas o plano de governo pautado nas necessidades reais da cidade e não aqueles que relembram o passado ou que brindam ao futuro. Quais são os planos de governo? Quais são as ações objetivas que serão tomadas? É fácil perceber que as perguntas e as dúvidas suscitadas pelos candidatos ao cargo de prefeito não encontram respostas convincentes e nem inspiram confiança. Afinal, suas propagandas e discursos não nos oferecem elementos para este tipo de análise. E nem devem servir para isso. Situação mais aterradora se encontra
Pecado capital da pessoa vingativa
Pedro Marcelo Galasso - cientista político, professor e escritor. E-mail: p.m.galasso@gmail.com
à O L E N C A I R A R O I M S O N O P G R E L I I S T I T E C O R A D E S T R A A X I L E C U
por pedro marcelo galasso
"(?) o Fim", sucesso de Chico Buarque
A A Ç N U I C N U M E A N L A S S O F C O R I G A U L E T T E
nebuloso
"A (?) e a Tartaruga", fábula de Esopo
3/ars — lap — let — toc. 4/alfa — eric. 5/icasa — ítaca.
Horizonte
© Revistas COQUETEL
Flor ornamental de fá- Inflamação Máquina usada na secil cultivo, é comum que atinge ção de queijos e preem margem de riachos as cordas suntos no mercado vocais Sim; O.K. (red.) Inativo; desocupado
Condição do homem, da abelha, da formiga ou do gorila, por seu modo de vida Tática da polícia militar em favelas "Eu (?)", brincadeira etílica para revelar segredos Classificação de 1, 3 ou 5
Casas em Condomínio
Jd. das Palmeiras..................................................................................................................R$ 650 mil Florestas de São Vicente (nova)..............................................................................................R$ 580 mil Euroville (nova).....................................................................................................................R$ 950 mil Portal de Bragança (nova)................................................................................................R$ 1.3 milhões Village Santa Helena....................................................................................................R$ 1.490 milhões Portal Bragança Horizonte (nova)..........................................................................................R$ 770 mil Villa Real (nova)....................................................................................................................R$ 900 mil Rosário de Fátima ( Ac imóvel – valor)............................................................................R$ consulte-nos
Terrenos em Condomínio
Villa Real 428m²...................................................................................................................R$ 160 mil Colinas de São Francisco 616m²............................................................(parcelamos em 10x) R$ 300 mil Terras de Santa Cruz 600m²...................................................................................................R$ 120 mil Portal Bragança Horizonte 341m²..........................................................................................R$ 200 mil Jd. Nova Bragança 300 m².....................................................................................................R$ 200 mil
Apartamentos
Ed. Piazza de Siena................................................................................................................ R$ 950 mil Apto. Jardim do Lago............................................................................................................. R$ 300 mil Apto. Centro (novo)................................................................................................................R$ 255 mil Apto. Jd nova Bragança ( Alto Padrão 230m² 3vagas)...................................................... R$ Consulte-nos Apto. Ed. Clipper (Centro) Reformado 3dorm. 1gar....................................................................R$ 450mil
Diversos
Casa Jd. Europa.....................................................................................................................R$ 530 mil Terreno Jd do Lago Comercial 600m² com terra planagem feita............................................. R$ 580 mil Imóvel Comercial AV. Norte-Sul.............................................................................................R$ 630 mil
4
Jornal do Meio 867 Sexta 23 • Setembro • 2016
por Shel Almeida
Resgatar e preservar a história
casas, igrejas e prédios públicos, mas
da Bragança. Foi com essa inten-
a própria memória. E a memória que os
ção que, no final de 2015, deu-se
nossos antepassados nos deixaram e é
início ao processo de levantamento do
também a memória que deixaremos aos
patrimônio histórico e arquitetônico
nossos descendentes. É a história de
da cidade.
muitas famílias que foram formadas no
Agora, graças ao empenho do CONDE-
altar da Igreja do Rosário. É a infância
PHAC - Conselho de Defesa do Patri-
de tantas crianças que correram e ainda
mônio Histórico, Artístico e Cultural, o
correm pelos canteiros da Praça Raul
município possui o Inventário Parcial do
Leme. É a saudade dos colegas que não
Patrimônio Arquitetônico de Bragança.
vemos mais, ao passar pela calçada da
Para o arquiteto Gustavo Picarelli, pre-
Escola Tibiriçá. É a memória de uma
sidente do Conselho, o documento é um
cidade, mas é, essencialmente, a minha,
mecanismo para que o trabalho do grupo
a sua, a nossa memória. É a memória
seja realizado de forma mais objetiva.
da gente, das pessoas que conhecemos.
“Esse inventário irá funcionar como uma
“Eu acredito que se há o incentivo de se
forma de proteção, mesmo que não tenha
criar um olhar mais minucioso sobre a
o valor de um tombamento. No mínimo,
arquitetura da cidade, a partir de deta-
o que esse documento expressa é que,
lhes e a ligação que cada um deles têm
para qualquer alteração ou demolição,
com a história, isso faz com as pessoas
será preciso o aval do Conselho de Pa-
do própria cidade comecem a prestar
trimônio”, fala.
mais atenção em coisas que antes não
O inventário é parcial porque foi feito
eram notadas. A comparação de imagens
em um espaço delimitado do centro
antigas da cidade com a cidade hoje, por
da cidade. Para quem anda pelas ruas
exemplo, é algo
dessa região é nítida a descaracterização
que chama a atenção das pessoas. Dessa
que a cidade vem sofrendo ano a ano.
forma é possível perceber que, se antes
A Bragança de hoje não é mais a Bra-
o que existia era uma cidade funcional,
gança de dez anos atrás e, se esse ritmo
hoje é uma cidade caótica”, reflete.
permanecer, viveremos em uma outra cidade daqui a mais uma década. O que
CONDEPHAC
se espera com a posse desse documento
“O próximo passo do CONDEPHAC
não é simplesmente o tombamento de
será analisar cada uma das fichas do
imóveis históricos, mas sim a conscienti-
inventário e fazer uma seleção de quais
zação de que a memória da cidade anda
são os imóveis que realmente têm valor
pelas ruas, paredes, muros e precisa - e
de preservação. Este documento é o ins-
merece - ser preservada.
trumento que faltava para o conselho. A
Memória
Uma das principais ruas da cidade há quase um século. Da cidade funcional para cidade caótica.
O centenário Grupo Escolar Jorge Tibiriçá foi restaurado e hoje é um dos prédios tombados que guarda a memória de diversas gerações de bragantinos.
partir dessa catalogação e sistematização será possível deixar a subjetividade de
O responsável pelo inventário é o historia-
lado para as avaliações. Com isso, os
dor e arquiteto Roberto Pastana Teixeira
conselheiros conseguirão entender os
Lima. Ele, que realizou trabalho similar
dados principais de cada imóvel, quando
em sua cidade natal, a vizinha Amparo,
foi construído, em que período ou esti-
coordenou uma equipe de estagiários dos
lo arquitetônico ele se encaixa e como
cursos de história e arquitetura da FESB
isso era visto na época da construção.
e USF, respectivamente. Participaram
O inventário dá toda essa amplitude e
desse trabalho Luciano Souza Lemes,
ambientação para o nosso trabalho. Essas
Franciele Martins Rodrigues, Karen
fichas funcionam como um parâmetro,
Batazza, Didier Kornprobst e Daniele
elas falam como os estilos arquitetônicos
Gomes. A equipe saiu pelas ruas ana-
foram evoluindo ao longo do tempo na
lisando e fotografando fachadas. Foram
cidade. Além disso, trazem informações
pouco mais de 300 imóveis inventariados
sobre o estágio de cada imóvel, se já é
e classificados de acordo com o grau de
tombado, se está pré-tombado, o grau
preservação, em oito meses de trabalho.
de descaracterização e/ou conservação”,
“Embora a área inventariada seja res-
explica o arquiteto Gustavo Picarelli.
trita, fizemos um levantamento geral.
No entanto, é preciso ressaltar alguns
O fato de não estar sendo levado em
pontos. A preocupação de proprietários
conta apenas o monumental, mas tam-
que possam vir a ter seus imóveis tomba-
bém os pequenos edifícios, os conjuntos
dos é em relação aos incentivos que possam
de casas pequenas, já mostra que este
ser oferecidos para que se mantenha a
trabalho está na contramão do que vem
conservação. “Hoje é possível pleitear uma
sendo feito. Isso significa que não está
verba anual, a partir de projeto enviado à
se preservando apenas a memória das
Lei Municipal de Incentivo à Cultura, mas
grandes famílias mas sim a memória da
eu não tenho conhecimento de que alguém
população como um todo. A possibilidade
já tenha feito. O que iremos discutir no
de trabalhar com essa abrangência foi o
Conselho é sobre qual é a burocracia para
mais interessante”, fala Roberto.
que projetos desse tipo sejam aceitos, além
Espera-se que a partir da elaboração
de uma maneira para que isso seja viável
desse documento haja incentivos, seja
e atrativo. Há também um projeto de lei
em forma de publicações, seja em forma
para a isenção de IPTU como contrapar-
de passeios, para que as pessoas, de fato,
tida para imóveis tombados, a fim de que
comecem a dialogar com a cidade de
sejam conservados, que será votado no
outra forma. Que passem a ver que não
próximo ano. Esse projeto está pronto,
é simplesmente a memória arquitetôni-
mas não pode ser votado este ano por
ca que está gravada nas fachadas das
ser ano eleitoral”, explica.
A novela da restauração do Teatro Carlos Gomes se estende, novamente, para a próxima administração. A reforma total do prédio está prevista no Plano Municipal de Cultura.
Região da Travessa Itália no começo do século passado, Casarões foram substituídos por galpões e lojas.
Comportamento
Jornal do Meio 867 Sexta 23 • Setembro • 2016
5
O divã dos artistas Psicóloga diz que é necessário criar uma bolha para separar os participantes de reality shows da vida real e aliviar a pressão quando saem de lá
por CHICO FELITTI/FOLHAPRESS
A psicóloga Débora Tabacof, 52, abre o portão do sobrado em que atende seus pacientes, na Vila Madalena. É um imóvel pacato, ao contrário das casas de onde saem os frequentadores mais famosos: todos os participantes de reality shows como “Casa dos Artistas”, do SBT, e “A Fazenda”, da Record. Ela trabalhou com 25 realities em vários canais –praticamente todos da TV aberta, menos a Globo. Após 15 anos na labuta televisiva, ela decidiu lançar uma abordagem terapêutica para os participantes desses jogos, mas que também pode ser usada por famosos de internet e pessoas que vivam da imagem. A terapia se chama Psicologia da Fama, e foi cunhada na prática. “Foi muito difícil começar a trabalhar nesses programas. Primeiro porque era uma coisa que não existia”, diz. Ela recebeu uma ligação do SBT em 2001. Silvio Santos, que ainda estava nos EUA, viu um programa que confinava várias pessoas numa casa cheia de câmeras por meses e decidiu reproduzir a experiência em solo nacional. Ela, que até os realities praticava a psicoterapia, pesquisou outras teorias para lidar com a paranoia de câmeras e o medo difuso que os participantes têm público, que elege o campeão milionário dos programas. Chegou ao francês Jacques Lacan (1901 -1981). “Eu precisava de um corpo teórico mais contemporâneo, e que lidasse com a questão da imagem, e achei tudo isso em Lacan”, relata Débora. A profissional só topou conceder esta entrevista caso o nome de nenhum participante fosse mencionado no texto. Toda menção a celebridades e sub-celebridades feita não saiu do consultório. O problema de falar sobre famosos, além do impedimento contratual, passa por questões éticas. “Agora, nesse momento, é possível falar sobre a minha abordagem porque eu construí uma ética, meu método de trabalho.” sinceridade A ética está em ser sincera com os participantes. “Eu sou útil para o programa antes de ele começar.” É ela quem faz algumas das entrevistas de seleção dos shows. “Eu não prometo sigilo para os participantes, não posso fazer isso. Foi o canal que me contratou. Repasso informação e todo mundo sabe, como o departamento de RH de uma empresa.” Outra atribuição é “despressurizar” os famosos, quando eles saem da casa televisiva e vêm para o mundo real, com sessões individuais. “Todos passaram por aqui”, diz. “E alguns continuam vindo”. Mas a transição andou ficando mais fácil, ela afirma. “Cada vez mais a sociedade se parece com um reality, e os participantes se dão cada vez melhor na vida.” A presença de Débora não é percebida pelos telespectadores. Nem deveria, defende ela, que a cada nova edição se retira um pouco mais do dia a dia dos programas. “No começo, eu tinha uma interação com os problemas internos, mas fui ficando especialista na retirada de influências externas.” fora de cena Ela zela para que questões do mundo real, que incluem a polícia batendo na porta do
set com mandado de prisão em nome de um participante e morte de parente de uma das pessoas da casa, tenham um menor impacto na dinâmica do jogo. Por mais que não entre na casa, a psicóloga fica à disposição para casos de revolta e briga. “Fico bem presente, mas fora da cena. Conheço todas as pessoas, todas as histórias. Mas observo para poder cuidar da saúde psíquica dos participantes, porque tem 200 pessoas para cuidar de todo o resto.” O que faz um agente da estabilidade e da calma num programa em que certo clima de caos faz bem –se não aos participantes, pelo menos ao Ibope? “Nunca interfiro. Isso é conteúdo do programa. Não pode mudar o conteúdo ou a continuidade do programa. Como a gente explicaria isso depois?” Ela ficou de fora mesmo em episódios
como a ex-modelo Andressa Urach (hoje evangélica) cuspindo seguidamente na cara do modelo Matheus Verdelho, em “A Fazenda 6”, em 2013. Houve um só programa em que ela atuou durante as filmagens, ainda que como um sujeito oculto. “Na ‘Casa dos Artistas 2’ [em 2002], eu atendia os participantes através de um espelho: eles falavam olhando para si mesmos e ouviam minha voz.” As conversas, que não eram gravadas, deram certo. Talvez certo até demais para os postulantes à fama, mas não para o programa. “Ficou calmo demais.” Foi aí que Silvio Santos injetou novos participantes para colocar um pouco de fogo no programa, como a socialite Carola Scarpa (1971 - 2011), ex-mulher do conde Chiquinho Scarpa e autoproclamada “prin-
cesa do povo”. Qual é a dica da psicóloga das estrelas para sobreviver com sanidade aos meses de confinamento televisivo? “Tem de criar uma membrana que é impermeável: deixa o que é daqui de fora de fora e, quando sair de lá, esquece tudo”, diz ela, com uma voz calma que ressoa na clínica, que fica na rua Harmonia (zona sul de São Paulo): “É o que eu espero oferecer para eles”, brinca. “Não prometo sigilo para os participantes. Foi o canal que me contratou. Repasso informação e todos sabem, como o RH de uma empresa “Para sobreviver ao confinamento, a pessoa tem de criar uma membrana que é impermeável: deixa o que é daqui de fora de fora e, quando sair de lá, esquece tudo Foto: Adriano Vizoni/Folhapress
A psicóloga Débora Tabacof em sua clínica, em São Paulo.
6
informática & tecnologia
Jornal do Meio 867 Sexta 23 • Setembro • 2016
iPhone 7 Câmera e fone sem fio dão ar novo ao iPhone 7
por YURI GONZAGA/FOLHAPRESS
Apesar de ter ganhado um
traseiras: dois sensores iguais,
“negativo digital” que permite
Retirar um dos fones do ouvido
novo algarismo e de ter
mas duas lentes diferentes -uma
manipulação.
funciona como comando para
perdido a conexão para
grande-angular, para um cam-
A Apple não ofereceu para teste
o celular interromper o que
os fones de ouvido, a geração 7
po de visão mais largo, e uma
a nova versão dos fones que vêm
estiver tocando. É interessante
de smartphones da Apple é, no
teleobjetiva, para distâncias.
junto com o novo iPhone, os
a conexão dos AirPods aos de-
quesito estética, praticamente
Assim, é possível fazer um zoom
EarPods com cabo Lightning.
mais dispositivos Apple, como
indistinguível da anterior, que
de duas vezes. Também dá para
Eles se conectam ao celular na
iPad, Mac ou Watch.
era composta pelo iPhone 6S e
fazer dois cliques simultâneos,
mesma entrada do carregador.
Uma boa notícia é a “apo -
pelo iPhone 6S Plus.
um com a lente “aberta” (equiva-
O iPhone 7 só aceita fones sem
sentadoria” dos modelos de
A Apple vinha mantendo o padrão
lente a uma objetiva de 28 mm)
fio ou com a conexão Lightning,
armazenamento interno de só
de uma reforma na fachada a
e outro com a lente “fechada”
salvo pelo uso do adaptador.
16 Gbytes. Agora, as versões
cada nova geração. Ainda assim,
(56 mm), e escolher a melhor
Fones sem fio, os AirPods co-
menos caras do iPhone vêm
isso não quer dizer que a Apple
imagem após o registro.
meçam a ser vendidos no mês
equipadas com 32 Gbytes, o
não mereça louros pelo design.
Em ambos os aparelhos, a re-
que vem no Brasil por R$ 1.399
que ainda é pouco.
À venda desde sexta (16) nos
solução da câmera principal foi
e se conectam ao celular por
O sistema embutido nos celu-
EUA e em 27 países, ainda sem
mantida em 12 Mpixels, com
Bluetooth.
lares é o iOS 10, com alteração
data de chegada ao Brasil, o
estabilização ótica (atributo
Eles aguentam só cinco horas
no aplicativo de mensagem
iPhone 7 e o iPhone 7S têm o
anteriormente restrito ao iPhone
de reprodução sem recarre-
(função de conteúdo oculto e
mesmo formato e tamanho da
de tela maior). A frontal, por
gar, e a bateria na sua caixa
novas capacidades multimídia).
versão anterior -com telas de
sua vez, passou de 5 Mpixels
transportadora é suficiente
Na tela de bloqueio, acabou a
4,7 e 5,5 polegadas, respectiva-
para 7 Mpixels.
para cerca de quatro cargas.
função “deslizar para desblo-
mente-, mas são à prova d’água.
Os iPhones novos são capazes
O estojo é recarregável com o
quear”, e as notificações podem
Mesmo o botão home (abaixo
de criar arquivos RAW, um
mesmo cabo do iPhone.
ser apagadas num toque.
da tela), que agora é diferente, não aparenta. A empresa substituiu o que sempre foi uma tecla por um sensor achatado que detecta diferentes níveis de pressão. O sensor tem um motor de vibração, que tenta (com insucesso) replicar a sensação do antigo botão home. Os iPhones continuam demasiado grandes para o tamanho da tela -a última versão ganhou imperceptível melhoria no brilho. Comparando o iPhone 7 Plus ao concorrente Note 7, da Samsung, o primeiro tem altura de 158 mm com tela de 5,5 polegadas e o segundo, 153 mm e 5,7 polegadas. Não é pouca diferença. A versão Plus tem duas câmeras
Foto: Folhapress
Arte: Folhapress
Jornal do Meio 867 Sexta 23 • Setembro • 2016
7
8
Saúde
Jornal do Meio 867 Sexta 23 • Setembro • 2016
Manicure deve ter máquina
que higienize os utensílios por FOLHAPRESS Arte: Folhapress
Alicates, cortadores
devem ser emprestados,
de unha e tesouras
mesmo que lavados com de-
devem passar por
tergente. E itens como lixa
aparelho que mata micro-
e pau de laranjeira devem
-organismos
ser descartados após o uso.
A melhor forma de se pro-
O risco maior de doenças
teger de contaminação ao
acontece quando há contato
fazer as unhas é, segundo
com o sangue, como no caso
especialistas, observar se sua
da hepatite viral (veja quadro
manicure tem uma autoclave-
ao lado).
-máquina que utiliza vapor
A infecção por HPV (papi-
d’água e alta pressão para
lomavírus humano) é outra
matar micro-organismos que
doença que ameaça quem
transmitem doenças, como
vai aos salões. Há mais de
micose e hepatite viral.
cem tipos de vírus. Segundo
O dermatologista Carlos
Parenti, a forma mais prová-
Eduardo Fonseca Parenti, da
vel de pegar na manicure é
L&L Espaço Vida ao Corpo,
o que faz aparecer verrugas
explica que a maioria dos
-e não o que contamina ór-
micro - organismos só são
gãos genitais e pode levar
eliminados de utensílios
ao câncer. “Algumas pessoas
metálicos (como alicates,
nem têm verrugas ou outro
cortadores de unha, tesoura
sintoma”, diz o médico. Já os
e espátulas) com a utilização
fungos, que atacam unhas,
de uma autoclave, máquina
podem ficar, por exemplo,
com aparência de forno.
em esmaltes e colas de unha
E não dá no mesmo usar
postiça. (Gislaine Gutierre)
forno elétrico, de casa, para
Tirar cutícula não é indicado
fazer a limpeza desses itens.
por médicos
“O calor do forno jamais irá
Cutícula é a proteção natural
esterilizar os materiais”, diz.
das unhas, como diz Carlos
Álcool é bom, mas não sufi-
Eduardo Fonseca Parenti,
ciente, como afirma Tatiana
dermatologista do L&L
Gabbi, dermatologista as-
Espaço Vida ao Corpo. “Ao
sessora do Departamento de
retirá la, abrimos uma porta
Cabelos e Unhas da Sociedade
para micro-organismos”, diz
Brasileira de Dermatologia.
Parenti. Vários agentes infec-
“Bactérias, em geral, são
ciosos podem entrar por ali.
sensíveis ao álcool, mas nem
Uma retirada grande da cutí-
todas, e alguns fungos não
cula com alicate ou espátula
morrem”, argumenta.
pode dar vez a infecções bac-
Nunca empreste
terianas ou virais, causando
Os especialistas dizem que
vermelhidão, dor e bolhas ao
utensílios de manicure jamais
redor da unha.
Saúde
Jornal do Meio 867 Sexta 23 • Setembro • 2016
Caçando tudo em trindade
9
Cientistas, com apoio da Marinha, buscam moluscos, algas e até ondas fatais na longínqua e vulcânica ilha da Trindade, a 1.140 km da costa brasileira
por RONALDO LEMOS/FOLHAPRESS
Tem gente que caça pokémon com celular. Já a pesquisadora Nathália da Luz vai ficar dois meses na distante e diminuta ilha da Trindade caçando um bicho real bem mais interessante, e também dotado de muita variabilidade de formas: os ostracodes. Os bichos são crustáceos (como os camarões e lagostas), têm no máximo poucos milímetros e possuem anatomia variável, todos vivendo em ambientes aquáticos. Estima-se que existam mais de 65 mil espécies; eles são tão versáteis que vivem até na água de bromélias. Esses “minipokémon” do mar são úteis vivos ou mortos. Como microfósseis, são espetaculares indicadores de períodos geológicos e para o entendimento da ecologia do passado. Conseguem ser úteis tanto a geólogos, geógrafos, biólogos ou oceanógrafos. E são úteis até para a indústria petrolífera; suas assembleias –conjuntos de espécies e outros seres vivos associados– ajudam a descobrir jazidas de petróleo. Aluna de doutorado na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Nathália vai fazer coletas em torno de Trindade com ajuda de um bote da Marinha. A coleta é preservada em um dos dois laboratórios da Estação Científica da ilha, e depois levada para estudo na universidade. Ela e seu orientador, João Carlos Coimbra, descobriram recentemente uma nova espécie de ostracode no arquipélago de São Pedro e São Paulo que recebeu o apropriado nome de Xestoleberis brasilinsularis. Existem várias “brasilinsularis” –Fernando de Noronha, Abrolhos, São Pedro e São Paulo, Trindade e Martin Vaz. Essas ilhas oceânicas têm um grande valor econômico apenas pela sua localização, pois aumentam a zona econômica exclusiva do país no mar em torno de 200 milhas delas (cerca de 370 km). Por isso tem que ser ocupadas por brasileiros. Em alguns casos, como Trindade, por guarnições da Marinha, hoje com cerca de 30 homens. BASE DISTANTE Mas, para a ciência, essas ilhas são um achado ainda maior. São raros laboratórios a céu aberto. Nathália da Luz e dois outros pesquisadores que estão hoje na ilha podem fazer suas pesquisas porque as instalações que as permitem foram criadas pelo Protrindade – Programa de Pesquisas Científicas na Ilha da Trindade. “Havia uma grande demanda da comunidade científica para realização de pesquisas em Trindade”, diz o capitão-de-fragata Sidnei da Costa Abrantes, gerente do Protrindade. Ao mesmo tempo, havia uma “ausência de infraestrutura”. A criação do Protrindade em 2007, e, mais ainda, a inauguração da Estação Científica na ilha em 2011, com dois laboratórios e vaga para oito pesquisadores, deslanchou um
boom na pesquisa. Já foram atendidos mais de 500 pesquisadores, diz o capitão-de-fragata. Lauro J. Calliari, da FURG (Universidade Federal do Rio Grande) está interessado nas praias e nas ondas. Ali existem riscos graves, como a chamada “onda camelo” que chega de repente e pode arrastar vítimas insuspeitas para o mar, ou esfolá-las em rochas. A onda, que lembra a corcova do animal, causou setes mortes desde 1963. A plataforma insular estreita –dez metros de profundidade a meros 500 metros da praia traz como consequência “a pouca dissipação da energia das ondas”, segundo Calliari. Isso significa que as praias do Príncipe e da Calheta “apresentam um comportamento similar as praias continentais do sudeste-sul do Brasil”. Já riscos permanentes existem “nas rochas na zona de surf e face da praia, arrebentação mergulhante e aumento brusco de profundidade durante a maré alta”, afirma a equipe de Calliari. Por sua vez, Franciane Pellizzari, da Unespar (Universidade Estadual do Paraná) foi monitorar algas, tentar entender como seu tamanho e sua composição química poderiam ser capazes de revelar compostos úteis para a indústria farmacêutica, e servir de indicadores de poluição do mar por metais pesados. O jornalista viajou a convite da Marinha do Brasil, a bordo do NDCC Almirante Saboia Caranguejo O bicho mais comum é o caranguejo terrestre da Johngarthia lagostoma. Os maiores sobem em árvores para comer folhas. Causaram danos a roupas, barracas e botas de pesquisadores que acampavam; são fonte de dados em oceanografia Algas Os projetos científicos estudam a diversidade de peixes, algas e corais na ilha, incluindo a microflora e microfauna locais. O estudo de algas, por exemplo, pode ajudar a encontrar compostos para novos medicamentos Ostracodes Ostracodes são pequenos crustáceos com comprimento de até 4 mm que, vivos ou na forma de microfósseis, são uma fonte de dados em oceanografia. Conhecê-los também é útil para encontrar jazidas de petróleo Distinção geográfica Por ter uma reduzida plataforma costeira, com a ilha surgindo abruptamente do fundo do mar, Trindade possui relevo, vegetação e vida marinha bem distintas; ao fundo observa-se o navio NDCC Almirante Saboia, da Marinha RAIO-X Ilha de Trindade Território mais afastado do continente (1.140 km da costa) Formação vulcânica Profundidade do oceano: 5.500 m Possui picos de 600 m de altura
Ilhas oceânicas têm grande vulnerabilidade Ilhas oceânicas evoluíram durante milhões ou milhares de anos, produzindo ambientes muito originais e equilibrados. Isso até o ser humano introduzir uma planta ou um animal invasor. A introdução fazia sentido aos marinheiros das grandes navegações europeias, iniciadas no século 15. A ideia era criar um supermercado próprio de vegetais e especialmente animais, com ênfase naqueles que comem de tudo e se reproduzem rápido –cabras, galinhas, bodes e porcos. Só que esses bichos arrasavam a fauna e flora locais. Como aconteceu em várias ilhas famosas –como o Havaí e as Galápagos– e também na pequenina brasileira Trindade. Segundo Ruy José Válka Alves, do Museu Nacional da UFRJ (Universidade Nacional do Rio de Janeiro), até o século 17 as florestas dominadas pela árvore conhecida pelo nome científico Colu-
brina glandulosa cobriam 80% da Ilha. “Essas florestas ainda estavam vivas e saudáveis em 1700, quando a Ilha foi visitada pelo famoso astrônomo sir Edmund Halley. Porém, nas duas visitas,em 1881 e 1889, Edward Frederick Knight (1852””1925) relatou uma floresta morta. As causas de tal degradação podem ser seguramente atribuídas às sucessivas ocupações da ilha por humanos e seus animais domésticos”, escreveu Alves. “A diversidade de espécies vegetais antes de 1700 foi certamente maior que a atual. Como a primeira observação florística da ilha foi feita em 1783, acreditamos que muitas espécies que aí ocorriam já teriam sido eliminadas pelas cabras. Mesmo o quadro da devastação mais recente é impressionante”, afirma o pesquisador. Entre 1959 e 1965, Johann Becker (1932-2004), naturalista e professor do Museu Nacional, fez várias campanhas de coleta em Trindade. Ele encontrou e amostrou o último espécime vivo de C. glandulosa.
10
Jornal do Meio 867 Sexta 23 • Setembro • 2016