872 Edição 28.10.2016

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Braganรงa Paulista

Sexta

28 Outubro 2016

Nยบ 872 - ano XV jornal@jornaldomeio.com.br

jornal do meio

11 4032-3919


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Para pensar

Jornal do Meio 872 Sexta 28 • Outubro • 2016

DEUS é obrigado

a me atender! por Mons. Giovanni Baresse

Lendo nestes dias texto do Eclesiástico (35,15ss.) percebemos a mentalidade de que uma boa oferta no Templo de Jerusalém era a garantia de que Deus se esquecesse da conduta do ofertante. E meditando sobre o texto de Lucas (18,9-14), que mostrava a diferença entre a oração do fariseu e do publicano, se percebe que o relacionamento querido é umas espécie de “eu faço isso e o Senhor me dá aquilo”! Lendo trechos dos livros bíblicos das Crônicas (especialmente o segundo) vê-se no autor o reflexo da mentalidade daquilo que se costuma chamar de Teologia da Retribuição. Que vai gestar a Teologia da Prosperidade. Ao analisar diferentes invasões e incursões de povos vizinhos e, especialmente, as invasões babilônicas - de modo particular a segunda - mostra que todo sofrimento ocasionado à nação foi fruto do afastamento dos reis, das autoridades e do povo dos caminhos do Senhor. Embora constantemente advertidos por profetas e outras personalidades que falavam em nome de Deus todos fizeram ouvidos moucos. Até que Deus perdeu a paciência e os

deixou na mão dos invasores. Que pilharam, queimaram, mataram e escravizaram. A desgraça foi fruto da desobediência. Este modo de ver não deixa de ter lastro de verdade. Quando o ser humano assume ser critério de tudo e se fecha ao ensinamento divino o horizonte encurta e os danos do egoísmo e da ganância fazem o resto. O que é falho na teologia da retribuição é que não há lugar para a misericórdia. A conclusão é que Deus ama e abençoa os bons. Só amará os maus se eles se converterem. O que não é verdade e, por consequência colocam-se limites o amor divino. Embora o trecho de II Crônicas (36,22-23) fale que Deus suscitou Ciro, rei da Pérsia, como seu instrumento para a reconstrução da nação, fica sempre na sombra que a benção dependerá da conversão. O que pretendo oferecer é uma abertura para procurar entender que o amor de Deus por nós não depende daquilo que nós façamos. Em poucas palavras: Deus não nos ama porque somos bons ou porque nos portamos com o Ele quer. Deus nos ama também quando desobedientes e maus. Seu amor precede nossas atitudes. Não é consequência delas. Nos ajuda a

análise que São Paulo faz na carta aos Efésios (1,3-14; 2,1-10). Somos salvos, isto é, chamados à filiação divina de forma predestinada e gratuita. É por graça e dom que em Cristo somos regenerados. Não é por causa dos possíveis méritos (se é que possamos ter méritos diante de Deus). Nós não somos credores de Deus. Ele não nos deve nada. Mas, qual é a vantagem de obedecer-lhe? Tanto faz ser bom ou mau? As obras que fazemos não tem nenhum valor? Em primeiro lugar é preciso vencer a tentação de que levar Deus a sério não vale a pena. A tentação é forte porque, na prática, não se percebe que Deus premia os bons e castiga os maus. Basta ver os inúmeros casos de corrupção que não recebem a penalização devida! O bem que fazemos tem sentido porque reflete a escolha de vida que se fez: demonstrar o amor Daquele que nos criou e que nos sustenta! Fica, porém, o desafio: por que nem sempre quem é bom tem a retribuição devida? Este tema é muito presente na Escritura e o Livro de Jó é um belo exemplo. Em segundo lugar quero chamar a atenção para a prosperidade que seria consequência retri-

butiva da obediência a Deus. Essa mentalidade foi analisada brilhantemente por Max Weber em sua obra “A ética protestante e o espírito do capitalismo”. Em palavras simples: o sucesso, principalmente material significa a benção de Deus. A pobreza é sua maldição. Quem é rico é porque Deus lhe retribui. Quem é pobre nada fez para merecer a benção divina. Esse tipo de pensamento religioso é muito presente em nossos dias em muitas igrejas de viés neopentecostal. Penso que os leitores “zapeando” a TV podem ver os desafios a “dar tudo a Deus” porque Ele devolverá muitos mais. Há constantes apelos em despojar-se de toda segurança e jogar-se nas mãos de Deus! Não quero negar a fé e confiança na Providência Divina. O que está em jogo é o fugir da visão real de como a sociedade é constituída e de como a injustiça está presente nas relações humanas. As bases da retribuição e das promessas de prosperidade não levam em conta a responsabilidade humana pela maldade que gera quando não vê no ser humano a imagem e semelhança de Deus. Se tudo é questão de benção e retribuição, como é que fica quem é esmagado

Expediente Jornal do Meio Rua Santa Clara, 730 Centro - Bragança Pta. Tel/Fax: (11) 4032-3919 E-mail: jornal@jornaldomeio.com.br Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli Jornalista Responsável: Carlos Henrique Picarelli (MTB: 61.321/SP)

As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão. As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Bragança Jornal Diário.

pela miséria e procura servir a Deus de todo coração? Terá que “sacrificar” tudo o que não tem para que Deus o abençoe? Ou será que nos esquecemos de que Deus não fez e não faz diferença de pessoa e ama a todas com igual amor. E que retribuição e prosperidade dependem do procedimento justo das pessoas entre si? Valha para nós a certeza de que o amor de Deus por nós não depende de nossa bondade ou do que lhe ofertamos. Ele precisa de algo? Nossa oferta, maior que seja, pode preencher sua Infinitude? Deus fala ao nosso coração para que voltemos a Ele (livro de Oséias). Porque nos ama e nos quer felizes. Ele não quer outra coisa e nem precisa dela!


Reflexão e Práxis

Jornal do Meio 872 Sexta 28 • Outubro • 2016

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PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS

www.coquetel.com.br

por pedro marcelo galasso

Objetivo do médico no centro cirúrgico

Parte da roupa "wingsuit"

O Windows descontinuado em 2014

Frank Capra, Capim, em inglês cineasta Caduco

Desconhecimento Imagembase das telas de GPS (pl.)

Efeito da ação humana sobre os ecossistemas de uma região

Ideia (?): obsessão (Psiq.) Passado

Estado da Serra do Navio (sigla)

Séries de filmes como "Star Wars"

Casa da bandeira olímpica até 2016 Vestir; Formato trajar do anzol Prefixo de "infravermelho" Ornada com dobras Longe, em inglês Última composição de Mozart

A letra que não antecede "P" e "B"

R

I

O

É reproduzido pelo leitor MP3 Acerba Cidade do mais alto edifício do mundo

As da tainha são apreciadas assadas (?) María, jogador argentino (fut.)

Sentimento que move os "haters" (internet)

Traje de cerimônia masculino Linha fina Flash (?), encontro como o "rolezinho"

Fator que encarece os bens e serviços nacionais "Unidas", (Econ.) em ONU

BANCO

Biblioteca Nacional (sigla)

"O Último (?)", livro de F. Scott Fitzgerald

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Solução 2 8 2 3 ( 5 $ 5

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Pedro Marcelo Galasso - cientista político, professor e escritor. E-mail: p.m.galasso@gmail.com

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vexatório que experimentamos e que irá se perpetuar. As reflexões sobre as consequências desta prisão por si só explicitam as práticas lascivas e corruptas de nossos políticos profissionais e que movem as esferas do poder e, principalmente, os orçamentos públicos que, notoriamente, são desviados para diversas funções, exceto para as quais deveriam ser destinados. O preço das piadas e da ausência do debate, bem como da transparência de todo o processo são os milhões de brasileiros que passam fome, que não têm empregos, que não têm escolas e nem uma saúde pela qual pagamos. Culpa do PT? Sim. Só do PT? É claro que não. Culpa de todos nós, enquanto corpo social? Sim, culpa nossa, coletiva e indisfarçável. Nosso Congresso Nacional não cumpre suas funções legislativas nem em tempos de aparente tranquilidade política, está preocupado com os danos da prisão do nobre deputado federal Eduardo Cunha. Justo? Não, ainda mais em um momento no qual PECs, como a desastrosa PEC 241, ou reformas, como o absurdo da reforma educacional, são enviadas aos nossos parlamentares e que podem ser aprovadas ou rejeitadas sem a devida atenção já que o debate público foi descartado pelo atual governo federal que prefere impor ações sem as certezas de suas consequências. Cortes de gastos para salvar um país com a lógica de gerência de um orçamento doméstico aplicada a um país? Parece uma piada inapropriada, mas é o que divide as atenções com uma prisão. Triste do país com nossos parlamentares, com sua sujeira que é capaz de parar nosso quadro político por temor de práticas corruptoras que conhecemos e que compartilhamos.

Claridade antes de o Sol nascer

3/far. 4/pain. 5/grass. 7/magnata — réquiem. 9/franquias.

Para a surpresa de muitos, o nobre deputado Eduardo Cunha foi preso na última semana por conta de todas as acusações que pesam contra ele, ainda que ela seja surpreendente e inesperada pelos fatores que, segundo dizem, esta notória figura pública possui e que podem, esperamos, tornar factuais as nossas dúvidas sobre as práticas ilícitas de nossos políticos profissionais. Estranho pensar a Política no Brasil. É difícil alegar que não sabemos dos maus hábitos de nossa classe política já que compactuamos e legitimamos vários destes maus hábitos, basta pensar na lógica que regeu o voto em Bragança Paulista e que mergulhou a cidade em outro embate político-jurídico, cujo silêncio sepulcral dos envolvidos se coloca como um ato irresponsável e, por isso, inaceitável. Alguns podem dizer que não existiam escolhas melhores. Argumento válido e de fácil aceitação por ser verdadeiro, mas que deve gerar a seguinte pergunta – por que não havia uma escolha melhor? Por que não vemos a renovação de nossa classe política? Os nomes apresentados são os únicos possíveis ou desejáveis? Pensando no Brasil, como uma figura pública tal qual Eduardo Cunha, uma dentre tantas outras similares, chega tão longe na nossa República? Uma figura pública envolvida em denúncias de corrupção a tanto tempo que pelo bom senso deveria ser carta fora do baralho político caso o bom senso das escolhas prevalecesse. Entretanto, como todos sabemos, figuras públicas como o nobre deputado federal têm suas bases políticas, grupos que os apóiam incondicionalmente em troca de favores políticos e práticas politiqueiras que não precisam ser exemplificadas. O escárnio público e as piadas amenizam as questões políticas e em nada colaboram para a compreensão do cenário político

© Revistas COQUETEL

Dor, em inglês 50, em romanos

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Uma prisão

Honesta; honrada Fingiram; Pioneiro disfarça- no estudo da histeria ram Caça da força aérea russa

Casas em Condomínio

Jd. das Palmeiras..................................................................................................................R$ 650 mil Florestas de São Vicente (nova)..............................................................................................R$ 580 mil Euroville (nova).....................................................................................................................R$ 950 mil Portal de Bragança (nova)................................................................................................R$ 1.3 milhões Village Santa Helena....................................................................................................R$ 1.490 milhões Portal Bragança Horizonte (nova)..........................................................................................R$ 770 mil Villa Real (nova)....................................................................................................................R$ 900 mil Rosário de Fátima ( Ac imóvel – valor)............................................................................R$ consulte-nos

Terrenos em Condomínio

Villa Real 428m²...................................................................................................................R$ 160 mil Colinas de São Francisco 616m²............................................................(parcelamos em 10x) R$ 300 mil Terras de Santa Cruz 600m²...................................................................................................R$ 120 mil Portal Bragança Horizonte 341m²..........................................................................................R$ 200 mil Jd. Nova Bragança 300 m².....................................................................................................R$ 200 mil

Apartamentos

Ed. Piazza de Siena................................................................................................................ R$ 950 mil Apto. Jardim do Lago............................................................................................................. R$ 300 mil Apto. Centro (novo)................................................................................................................R$ 255 mil Apto. Jd nova Bragança ( Alto Padrão 230m² 3vagas)...................................................... R$ Consulte-nos Apto. Ed. Clipper (Centro) Reformado 3dorm. 1gar....................................................................R$ 450mil

Diversos

Casa Jd. América...................................................................................................................R$ 530 mil Terreno Jd do Lago Comercial 600m² com terra planagem feita............................................. R$ 580 mil Imóvel Comercial AV. Norte-Sul.............................................................................................R$ 630 mil Casa Centro, 2 Garagens........................................................................................................R$ 330 mil


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Jornal do Meio 872 Sexta 28 • Outubro • 2016

por Shel Almeida

É fato que o esporte é uma das maiores e mais fortes ferramentas de inclusão social. Praticar esporte, além de elevar a auto estima, faz bem tanto para a saúde física quanto a mental. Para pessoas com deficiência é ainda mais do que isso. Em uma sociedade onde quem não se encaixa no padrão pré-estabelecido não é visto como merecedor de direitos básicos, como ir e vir, praticar um esporte é mecanismo de aceitação e empoderamento. Hoje se fala muito mais a respeito do esporte paralímpico não apenas porque o país sediou os últimos jogos, mas porque o maior medalhista da natação paralímpica é brasileiro. No entanto, Daniel Dias não é apenas o maior atleta paralímpico do país, mas o maior atleta brasileiro. Nenhum atleta olímpico chegou perto de conquistar tantas medalhas quanto ele. Mas, talvez, seu maior legado não sejam as 24 medalhas paralímpicas e os três Prêmio Laureus que conquistou e sim o exemplo que passa. Para uma criança ou jovem deficiente, ter a oportunidade de se enxergar em Daniel Dias é confirmar que sim, a representatividade importa, e muito! O Jornal do Meio conversou com o nadador, com o técnico Marcos Rojo Prado e com a revelação Andrey Garbe, que se espelhou em Daniel, se tornou também um atleta paralímpico e participou dos Jogos do Rio.

Capacidade

“O mais importante no esporte paralímpico é mostrar paras as crianças com deficiência que elas são capazes. Possivelmente, muitos dos que estão nadando hoje, nunca irão conseguir chegar no alto rendimento. Mas, o grande detalhe, é a gente olhar para a arquibancada e olhar para dentro da piscina e poder ver crianças e pais realizados. Com o esporte, elas vão conseguir se incluir na escola, no trabalho, no que escolherem fazer na vida. Quando decidimos abrir o Instituto Daniel Dias aqui em Bragança foi justamente para podermos usar mais ainda essa ferramenta que é o esporte, a fim de trabalhar a inclusão. Tanto eu quanto os técnicos, Marcos, Miguel e Paula tentamos fazer o mínimo para ajudar essas famílias a se incluírem na sociedade. Porque se fala tanto em inclusão mas ainda se faz tão pouco. Antes a gente descobria as pessoas na rua, hoje elas próprias nos procuram. O acesso ficou mais fácil e agora os deficientes também estão dando a cara para bater. Antigamente era comum que as pessoas com deficiência não saíssem de casa. Não sei se era falta de informação ou o instinto de proteção dos pais. Amamos tanto um filho, uma filha, que queremos proteger. E o jeito de proteger é amando, mas jogando o filho pro mundo, é ensinando a viver. A evolução, a visibilidade e os resultados que estamos alcançando no esporte paralímpico, ajudaram muito a trazer mais informação. A tecnologia também é algo que tem ajudado muito na questão de sermos incluídos na sociedade” fala Daniel. As aulas de natação oferecidas pelo Instituto Daniel Dias acontecem na Piscina Maria Astrid Dubard, no bairro Júlio Mesquita. Inaugurado em 2012, o ginásio onde está localizada a piscina foi reformado e totalmente adaptado para se tornar um centro de formação de nadadores com deficiência. Desde então, a procura aumentou significativamente. De acordo com Marcos, entre 40 e 60 pessoas com deficiência, de Bragança e de outras cidades da região participam dos treinos.

Inspiração

Daniel é bem consciente do quanto a sua

ascensão no esporte significa para os jovens que se inspiram nele. E o fato de falar disso com tanta naturalidade demonstra não apenas o grande atleta que é, mas também o grande ser humano. Ele poderia simplesmente usufruir de suas conquistas e ficar satisfeito em apenas ser a inspiração. Mas ele quis oferecer a oportunidade para que outros jovens também pudessem mudar suas vidas por meio do esporte. “Eu fico feliz de poder ser inspiração para muitos jovens no Brasil que têm alguma deficiência e viram os Jogos do Rio. Toda a divulgação que aconteceu por conta disso, na televisão, jornais impressos e redes sociais ajudou com que o esporte paralímpico crescesse. Muitas pessoas me enviam comentários e mensagens dizendo que ‘comecei a praticar o esporte por causa de você’ ou ‘eu tenho um filho deficiente que não saía de casa e hoje escolheu a natação por causa de você’. Tenho recebido muito esse retorno. E, agora, o sonho dessa pessoa é me conhecer. E como ela sabe que isso vai acontecer? É indo para uma competição. Então, eu imagino a motivação dessa criança: ‘eu quero treinar para chegar em uma etapa regional e conhecer o Daniel Dias’. De repente, ela sonha até em ganhar do Daniel. Isso é muito legal, eu sei o quanto isso é importante. Hoje está mais corrido, mas sempre que eu posso eu venho para cá, nadar aqui. Porque a inspiração é importante, mas a pessoa poder olhar a inspiração é mais importante ainda. Acaba sendo um privilégio para essas crianças me verem nadar aqui do lado delas. E dessa maneira elas percebem porque eu tenho essas conquistas na minha carreira. Porque elas também precisam entender que as coisas não acontecem com facilidade, é preciso batalhar para conquistar”, analisa. Andrey confirma: “O Daniel foi uma inspiração para mim desde o começo. Quando o professor Miguel me convidou para fazer aula de natação, eu comecei no Centro Integrado no Parque dos Estados. Depois o Marcos me disse que tinha um cara que ele queria que eu conhecesse, e me apresentou o Daniel. Ele é uma inspiração todos os dias e hoje posso falar que ele é um irmão para mim. Quanto fomos treinar na Espanha, antes dos jogos, eu vi o quanto ele é disciplinado. O foco que ele tem é coisa de outro mundo. Eu aprendi muito com isso”, fala. “É uma grande responsabilidade, mas é muito importante. Isso fortalece o trabalho que estamos realizando aqui. Você vê a diferença não só no rosto das crianças que treinam aqui, mas também no rostos das mães e pais. É visível a alegria dos familiares em perceber o quanto a natação mudou a vida dessas crianças. Hoje elas são mais independentes, se viram mais sozinhas. Como o Daniel falou, nem todas irão se tornar atletas. Mas o esporte as ajuda a se sentirem fortes o suficiente para se tornarem advogadas, professoras, médicas, o que elas quiserem, O esporte faz com que se sintam incluídas na sociedade”, diz Marcos.

Andrey, Marcos e Daniel. A revelação, o treinador e o fenômeno. Conquistas do trio motiva a procura do esporte por pessoas com deficiência.

Esporte como inspiração Daniel Dias quer mostrar à crianças e jovens com deficiência que eles são capazes.

Daniel Dias não é apenas o maior atleta paralímpico do país, mas o maior atleta brasileiro. Nenhum atleta olímpico chegou perto de conquistar tantas medalhas quanto ele.

Os treinos para pessoas com deficiência na Piscina Maria Astrid Dubard acontecem de segunda a sexta, das 8h as 11h e das 14h as 17h. Para saber a respeito de vagas e horário de acordo com a faixa etária é preciso comparecer no local, no horário indicado e falar com um dos treinadores, Marcos, Miguel ou Paula. O endereço é Rua Zeferino Alves do Amaral, s/n, no Júlio Mesquita.

“Você vê a diferença não só no rosto das crianças que treinam aqui, mas também no rostos das mães e pais. É visível a alegria dos familiares em perceber o quanto a natação mudou a vida dessas crianças.”


Informática & tecnologia

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Agência bancária do futuro por DANIELLE BRANT/FOLHAPRESS

Ir a uma agência bancária e tomar um café, aproveitar o espaço de conveniência e, por acaso, também pagar contas ou fazer um depósito -sem envelope- em um terminal de autoatendimento sem qualquer interação humana. Esse é o futuro do sistema financeiro desenhado pela maior fabricante de caixas eletrônicos do mundo. Nesse modelo, o cliente poderá requisitar a assistência de um funcionário remoto caso queira tirar uma dúvida sobre investimento ou saber qual o empréstimo mais indicado para sua situação. A interação se dará por meio de uma tela grande e o atendente pode estar em outro bairro, cidade ou Estado. As funções administrativas hoje desempenhadas por caixas humanos vão ser centralizadas nas máquinas, afirma o alemão Andy Mattes, presidente global da Diebold Nixdorf. Como resultado, as agências serão menores do que as existentes no Brasil. E não precisarão ser agências.

“Você pode ter máquinas inteligentes em uma loja de varejo, em uma cafeteria. Não precisaria mais daquela segurança e das portas pesadas”, afirma. “Vai ser um ambiente muito confortável para o consumidor e de baixo custo para os bancos”, diz. “Hoje, as pessoas vão a bancos pela proximidade em relação ao local onde moram. É uma questão de segurança, de saber que, se algo acontecer, algo que mude a vida delas, elas poderão ir ao banco e conversar com alguém que possa ajudar naquele momento”, afirma Mattes. O tempo que o cliente passa nos terminais também será menor. Esses caixas possuem tecnologia que permite a troca de informações com o celular. Então será possível programar transações como saque no smartphone e concluí-las no terminal, autorizadas por biometria. O futuro delineado tem espaço para funcionários especializados, mas não nas agências. Esse cenário deve contar com resistência no país, considerando

a força do sindicato dos bancários, afirma o presidente da Diebold Nixdorf no Brasil, Elias Silva. “Mas os bancos vão colocar na balança o que é mais barato: manter os funcionários ou a tecnologia, que está ficando cada vez mais acessível”, diz o executivo. No Brasil, metade dos terminais de autoatendimento foi fabricada pela empresa, que tem entre seus clientes os grandes bancos de varejo, instituições menores e também a TecBan, responsável pela rede 24 horas. Além de caixas eletrônicos, a empresa fabricou também 100 mil urnas eletrônicas para as eleições municipais de 2016 e é responsável pelas máquinas e softwares que rodam nas agências lotéricas da Caixa Econômica Federal. No mundo, a Diebold Nixdorf produziu 1 milhão dos 3 milhões de caixas automáticos existentes e está presente em 130 países. Futuro agora Duas unidades do ILT, o modelo de caixa

com atendimento remoto posicionado nos lobbies, chegarão ao Brasil já no próximo mês em uma agência-conceito de um dos clientes da Diebold. A máquina é importada dos Estados Unidos, mas os demais caixas produzidos pela empresa vêm da Zona Franca de Manaus. As urnas são produzidas em Santa Rita do Sapucaí, em Minas Gerais. Além dos ILTs, haverá nessa agência-conceito dois terminais que reciclam cédulas. Neles, um cliente deposita o dinheiro sem envelope na máquina, o que permite que outro correntista saque as notas, reduzindo as idas de carros-fortes à agência. A crise aqui não preocupa a empresa, afirma Silva. “Toda vez que enfrentamos tempos difíceis nossos clientes têm que reduzir custos nas operações, e comprar tecnologia ajuda nessa jornada”, diz. “Ainda temos uma população que precisa ser bancarizada, e os bancos não vão construir agências para atender essa demanda.” Foto: Danilo Verpa 12.06.2012/Folhapress

Agência conceito apresentada em edição da Casa Cor SP também previa interação virtual.


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Jornal do Meio 872 Sexta 28 • Outubro • 2016

Saúde

Câncer de próstata

Negros devem fazer exame de câncer de próstata mais cedo, teste é indicado aos 50 anos, no geral, e aos 45 anos para negros ou quem tem parente com doença

por GISLAINE GUTIERRE/FOLHAPRESS

O anúncio do ator americano Ben Stiller de que descobriu ter câncer de próstata agressivo aos 48 anos, dois anos antes da idade recomendada nos EUA para fazer o exame de detecção da doença, trouxe de volta a discussão sobre o tema no Brasil, onde também vale a recomendação de testes a partir dos 50 anos. Urologista e coordenador da campanha Novembro Azul da SBU (Sociedade Brasileira de Urologia), Geraldo Eduardo Faria diz que o caso de Stiller é incomum, mas também diz que cada vez há mais homens abaixo dos 50 anos com a doença. “Eu, particularmente, entendo que os exames poderiam ser feitos mais cedo, mas temos que adotar uma postura oficial”, diz Faria, lembrando que a SBU segue padrões americanos e europeus- a partir de 50 anos para todos e 45 para negros e quem tem parente de primeiro grau com a doença. O perigo que há em adiar os exames é que o câncer de próstata não dá sintomas na fase inicial. Quando eles aparecem, a doença já é grave. Muitos homens se recusam a fazer o exame de toque e com isso podem perder a chance de cura, possível só com a doença no início. Segundo o urologista do IBCC (Instituto Brasileiro de Combate ao Câncer) Álvaro Alexandre Dias Bosco, um em cada três casos deixa de ser diagnosticado quando o homem se recusa a fazer o exame de toque e faz apenas o PSA, que é de sangue. Para um diagnóstico claro, é preciso fazer os dois. Bosco diz que quando se descobre o câncer mais cedo, nem sempre é preciso apelar para os tratamentos mais agressivos, que podem acarretar em impotência sexual e incontinência urinária. Como esse câncer leva anos para evoluir, Bosco diz que pode ser feita a vigilância ativa, em que o médico acompanha a doença e só intervém se necessário. Distúrbios ao urinar podem ter outra causa A hiperplasia benigna da próstata, que é o crescimento do órgão, pode causar sintomas como dificuldade para começar a urinar, jato fraco, gotejamento, vontade de urinar muitas vezes, ardência e dor -mas não é câncer. “O risco de tê-la aumenta coma idade”, diz o urologista Álvaro Alexandre Dias Bosco, do IBCC (Instituto Brasileiro de Controle do Câncer). Mas há tratamento, com remédios ou cirurgia.

Arte: Folhapress


Comportamento

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Clitóris, muito prazer Francesa cria modelo 3D do órgão para ensinar anatomia em escolas e mostrar que o prazer feminino não é enigma por RACHEL BOTELHO/FOLHAPRESS

Décadas depois da revolução sexual e da ascensão dos movimentos feministas, o clitóris continua sendo um ilustre desconhecido. Hoje já está associado ao prazer feminino, mas sua anatomia, localização e “modo de usar” ainda são um mistério para boa parte da humanidade. Na França, onde a educação sexual é obrigatória nas escolas desde a primeira infância, estudantes de todas as faixas etárias terão a oportunidade de conhecer de perto o órgão erétil, de anatomia similar à do pênis, que é o principal responsável pelo orgasmo da mulher. O contato será com um modelo 3D anatomicamente correto desenvolvido pela pesquisadora Odile Fillod, 44, que pode ser impresso nas escolas francesas interessadas desde o mês passado. A ideia surgiu quando Odile trabalhava em um projeto pedagógico antissexista e constatou que o clitóris não era representado corretamente nos livros. Muitas vezes, disse ela em entrevista à Folha, nem constava nos esquemas que representam os órgãos sexuais femininos. A descrição da anatomia do clitóris é mesmo imprecisa, segundo Lucia Alves Silva Lara, presidente da Comissão de Sexologia da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), porque utiliza conceitos antigos, baseados na dissecção de cadáveres. O mapeamento recente de suas estruturas através de ressonância magnética

foi o que permitiu descobrir que o órgão, cuja única função é o prazer, mede de 9 a 11 cm e é constituído por corpo, crura, bulbo e glande –das quais apenas o primeiro e a última são visíveis. Ao longo da história, até em livros de medicina, o clitóris –do grego kleitoris, “pequeno monte”– é pouco mencionado. “A impressão é de que a negligência sistemática deve-se ao fato de não haver conhecimento de qual seria a verdadeira razão para a existência dele”, diz Lucia Lara. Saber que o clitóris e o pênis são órgãos homólogos e funcionam da mesma maneira leva à compreensão de coisas importantes, acredita Fillod. Primeiro, que a excitação sexual das mulheres também é traduzida por uma ereção. Depois, que elas dificilmente têm um orgasmo sem que o clitóris seja estimulado. “O órgão de prazer sexual da mulher não é a vagina. Conhecer a anatomia do clitóris permite que elas entendam o que lhes dá prazer”, afirma Odile Fillod. E evita a ideia de que são frígidas ou anormais porque não gozam com o coito vaginal.

Laura Muller afirma que a dificuldade em chegar ao orgasmo continua no topo das preocupações das mulheres em relação à vida sexual, mas diz que elas se interessam cada vez mais em se conhecer. “Foram séculos de repressão da sexualidade da mulher. É importante entender que não há nada errado em sentir prazer com o próprio corpo.” A psicóloga Tatiana Presser, 43, diz que muitos homens confundem o clitóris com o ponto G e não sabem que têm de estimulá-lo para que a parceira chegue ao clímax. Para ela, a ideia de que só eles são os responsáveis pelo prazer da mulher deve ser combatida. “O homem vai direto para a penetração, ela não tem orgasmo e ele fica frustrado porque não conseguiu levá-la ao orgasmo”, diz a autora de “Vem transar comigo” (ed. Rocco, 272 págs., R$ 36,50). No livro, a autora se detém longamente

no clitóris, passando pelo conhecimento histórico e anatômico sobre o órgão, até chegar aos finalmentes: dicas bem-humoradas para a masturbação e massagens eróticas (o homem também tem sua vez). A leitora e o leitor são apresentados a movimentos como “bambolê” (movimentos circulares), “tortura chinesa” (para retardar o clímax) e “espremedor light” (com o clitóris entre os dedos). “E um vibradorzinho sempre ajuda a mulher. Quanto mais se masturba, maior a vontade de transar”, diz. Receita não existe, mas um bom caminho para a mulher chegar ao orgasmo é excluir as causas físicas, não se cobrar demais e procurar conhecer o próprio corpo. Odile Fillod também dá seu recado: “É preciso acabar com a ideia de que o prazer feminino é um enigma e que uma mulher deve esperar que um homem a faça gozar por não sei qual mistério”. Arte: Folhapress

MANUAL DE INSTRUÇÕES Dois livros recém-lançados no Brasil jogam luz sobre a importância do clitóris no prazer sexual e ajudam a desfazer mitos, ainda que não se restrinjam a essa parte. Em “Sexo para Adultos” (Leya, 176 págs., R$ 24,90), organizado em forma de perguntas e respostas, a sexóloga

Placebo, prazer e patógenos por SUZANA HERCULANO-HOUZEL /FOLHAPRESS

Mecanismo que faz efeito placebo funcionar é

ativação daria apenas conforto psicológico.

o mesmo que responde a atividades prazerosas

Mas um estudo israelense publicado na “Nature Me-

Quando se deseja determinar o efeito de um

dicine” mostrou que a ativação direta do sistema de

medicamento, o padrão-ouro é compará-lo ao efeito

recompensa é suficiente para aumentar a imunidade do

de uma pílula inerte, feita de substâncias sem ação

corpo. O estudo, liderado por Asya Rolls, no Instituto

específica ou curativa, como farinha ou açúcar. Pílulas

de Tecnologia de Israel, mostrou que camundongos

e chazinhos inócuos, bem como algodão na testa, tam-

que tiveram especificamente o sistema de recompensa

bém podem ser administrados apenas para atender ao

ativado por uma droga tinham monócitos e macrófa-

paciente (ou seus familiares), donde seu nome clínico:

gos mais capazes de eliminar bactérias injetadas no

placebos, do termo em latim para “vou agradar”.

animal, mais anticorpos, e uma reação inflamatória

O problema é que a pílula inerte surte sim efeito em

duas vezes mais forte quando reexpostos às bactérias.

boa parte dos casos: é o efeito placebo, hoje bem co-

A imunidade aumentada pela ativação do sistema de

nhecido da medicina e responsável pela longevidade

recompensa tem como intermediário o acionamento

da homeopatia e de várias “curas para a gripe”.

do sistema nervoso simpático, que inerva diretamente

Aqueles contrários à alopatia usam incorretamente

todos os órgãos do sistema imunitário.

o efeito placebo como indicação da taxa de “cura es-

Que sentido faz aquilo que dá prazer também aumen-

pontânea” para diminuir a relevância dos tratamentos

tar a imunidade do corpo? Como observa Asya Rolls,

farmacológicos. Mas não deviam. O efeito placebo é

nossas fontes mais elementares de prazer –sexo e co-

real, e vem de dentro: do cérebro da pessoa que rece-

mida– também são as atividades que mais nos expõem

be o agrado, cria expectativas positivas de melhora

a patógenos. Não é coincidência, então, que o que dá

–e aumenta a capacidade do sistema imunitário para

prazer também fazer o corpo aumentar o combate a

debelar o problema.

patógenos que o prazer traz.

Há algum tempo a neurociência sabe que receber um placebo ativa o sistema de recompensa, aquelas estru-

SUZANA HERCULANO-HOUZEL é neurocientista,

turas do cérebro que registram ações bem-sucedidas e

professora da Universidade Vanderbilt e autora de

premiam corpo e cérebro com uma sensação de prazer.

“The Human Advantage” (Amazon.com) suzanahh@

Até recentemente, contudo, acreditava-se que essa

gmail.com

Foto: Divulgação


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Jornal do Meio 872 Sexta 28 • Outubro • 2016


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