875 Edição 18.11.2016

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Braganรงa Paulista

Sexta

18 Novembro 2016

Nยบ 875 - ano XV jornal@jornaldomeio.com.br

jornal do meio

11 4032-3919


2

Para pensar

Jornal do Meio 875 Sexta 18 • Novembro • 2016

Para não cair

Expediente

na desesperança! por Mons. Giovanni Baresse

Jornal do Meio Rua Santa Clara, 730 Centro - Bragança Pta. Tel/Fax: (11) 4032-3919 E-mail: jornal@jornaldomeio.com.br Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli Jornalista Responsável: Carlos Henrique Picarelli (MTB: 61.321/SP)

No 33º domingo do tem-

gar, serão recebidos com festas

mostra que, por pequena que seja

que o modo usual de Deus agir

po comum, na liturgia

e que a reconstrução de suas

a semente, sendo semeada pode

é através de nós. Foi assim que

da Igreja, a Palavra de

vidas será rápida e completa.

dar um resultado que à primeira

Ele decidiu. Do pouco que pos-

Deus chama a atenção para

Nada disso acontece: nem são

vista seria impossível. As duas

samos oferecer Ele é capaz de

duas atitudes importantes no

bem recebidos nem as coisas

parábolas estão relacionadas ao

tirar a totalidade. Mas a ação

desenrolar de nossas ações:

acontecem rapidamente. Daí

reino de Deus. A implantação

divina quis e quer depender da

paciência e esperança. Um texto

começam a se queixar: os pro-

do reino depende da ação das

ação humana. Uma ação extra-

do profeta Malaquias (3,19-20)

fetas fizeram promessas vazias.

pessoas. O seu desenvolvimento

ordinária é decisão divina. Para

nos envolve na esperança. Por

Deus se esqueceu de seu povo.

tem a força divina. Não é obra

que nossa ação possibilite a ação

volta do inicio do século VI an-

O que aconteceu na história

humana. As propostas do Reino

divina é necessário que saibamos

passamos pelo risco da imposição

tes de Cristo, o reino de Israel

de um povo acontece conosco.

podem parecer frágeis diante

esperar os tempos oportunos.

do nosso ritmo. Não sabemos com-

é invadido pelos babilônios. A

Quando o sofrimento, a morte,

dos desafios da realidade. Não

Não há semente que jogada na

preender que há tempos diferentes.

terra é devastada. O rei Joaquim

as doenças, as dificuldades che-

importa. O que é preciso é que

terra á noite, brote pela manhã.

Parece que a força está mais na

feito prisioneiro. Houve saque. E

gam – muitas vezes – duvidamos

a semente seja plantada. A fra-

Há um tempo de maturação até o

semeadura que na semente. Na

um grande número de pessoas

do amor de Deus. O que nos

gilidade que damos à semente

desabrochar. Temos que aprender

plantação de Deus as coisas só

foi levado para o cativeiro. O

sustenta é crer na fidelidade de

será desmentida pelo vigor da

a jogar a semente e saber esperar.

acontecerão se acreditarmos na

trecho bíblico quer fortalecer

Deus e o saber esperar ativo.

planta que crescerá. Estas duas

Isso implica confiar que a semente

missão de semear e se dermos

a certeza de que Deus não vol-

A isso chamamos paciência.

comparações, usadas por Jesus,

é boa, agir da melhor forma na se-

tempo para que a semente – que

ta atrás e nunca abandona. A

Esta paciência encontra bela

querem nos levar a assumir

meadura, e saber que Aquele que

é Dele – possa germinar. Caso con-

situação histórica é a volta de

reflexão em duas parábolas do

atitude de fazer o que devemos

nos mandou jogar a semente nos

trário ou não semearemos porque

grupos judeus que estavam no

Evangelho de Marcos (4,26-34).

fazer e confiar que Deus fará o

deu do melhor!

a colheita demora ou queremos

exílio. Ciro, rei da então Pérsia

Na primeira, Jesus salienta que

resto. Não porque interferirá

Esperança e paciência devem

forçar a semente a pular etapas no

(hoje Irã), de forma muito in-

a força germinativa da semente

milagrosamente. Sua ação se

nortear nossas ações em todos os

seu desenvolvimento. Se fizermos

teligente, permite que voltem à

não depende do semeador. Ela

verá como consequência daquilo

setores. Especialmente em nossas

isso perderemos a semente, a co-

sua terra. Estes, animados pelas

tem uma força interna. Ao seme-

que nós lhe permitirmos fazer.

comunidades de fé. Quantas vezes

lheita e teremos trabalhado

profecias, pensam que, ao che-

ador cabe semear. Na segunda,

É sempre oportuno recordar

somos imediatistas. Quantas vezes

em vão!

As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão. As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Bragança Jornal Diário.


Reflexão e Práxis

PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS

www.coquetel.com.br Fator econômico elevado na classe C, a partir de 2010 Livro de Machado de Assis País cuja capital é Maputo

A Regência histórica do Padre Feijó

Distúrbio caracterizado pela atração sexual de adultos por crianças

Estado nordestino Diz-se do juiz de cuja sentença se recorre Lutécio (símbolo) Dispositivo gerador de energia elétrica Estar iminente (perigo)

Desejo de vingança Droga que lesiona a mucosa nasal Multidão (pop.)

2, em romanos Ar, em inglês

Doença infecciosa causada por ácaros

(?) Abelha, a banda de Paula Toller São (?), protetor da garganta Rede local (Inform.) Prazer do filantropo Destinado (recurso) para fim específico

Indica o norte na rosa dos ventos

Pronome indefinido Endinheirada

Forma de venda da cebola no atacado

A abreviatura inglesa de “mister” Parado

Sem gosto (bras.)

Outra, em espanhol

A classe social do Príncipe Harry Museu (?), atração portenha Retumbara

Serviço de operadoras de telefonia Elogios; louvores 18

Solução

RO

M P E M

P O D E R A Q U I S I T I V O

A Ç A O F I C U I U O N N A D R A E ST O I T A RA

M B I QU E I L I A R A L U O C A I NA K I D B R A S A L D AR M O E N C A D A R L E I M O V EL C R AC I A A D D I L O A S

BANCO

Fiéis aos seus compromissos

3/air — ité — lan. 4/a quo — otra. 7/alocado. 9/black bloc.

Pedro Marcelo Galasso - cientista político, professor e escritor. E-mail: p.m.galasso@gmail.com

A Ç O

por pedro marcelo galasso

em qualquer local de votação ou deve obedecer as regras instituídas em cada Estado, ou seja, um processo confuso e que pode provocar distorções. Entretanto, as considerações importantes são outras. Parece que o eleitor de Trump é o estadunidense com mais de 40 anos, branco e sofre com a economia dos EUA e que vê no isolacionismo e na culpabilização de estrangeiros as soluções para o país. Soma-se a isso, o discurso violento e a figura caricata do presidente eleito e temos um cenário lógico e apropriado para eles. É importante pensar que este foi o perfil do eleitor do Reino Unido que votou pelo Brexit, ou seja, pela saída do Reino Unido da União Europeia, cujo perfil é o mesmo do grupo que pediu a saída da ex-presidente, Dilma Rousseff, no processo de impeachment. Além disso, a eleição de um bilionário, dono de cassinos falidos, mas com grande apelo midiático, foi possível porque milhares de eleitores democratas de Hillary Clinton não votaram por acreditarem que a sua vitoria estava garantida. E, assim como ocorreu no Brexit, os eleitores mais jovens, nos EUA, se omitiram do processo de votação e deram a vitória para Trump. Para nós, resta esperar e ver quem irá governar – o personagem ou o presidente que deve obedecer as solidas instituições estadunidenses, país no qual a força do Congresso, mesmo com a maioria republicana como Trump, é imensa. Eleição de uma figura como ele na eleição de 2018 no Brasil? Improvável também, pois nosso quadro político é mais complexo, nossa obrigatoriedade do voto é um fator decisivo e, por último, não há, felizmente, nenhuma figura com este por aqui, mesmo com a eleição de um empresário para a prefeitura de São Paulo. Enfim, agora é esperar, ansiosamente, esperar.

© Revistas COQUETEL

Liga inoxidável Grupo que atuou nas Equilíbrio de mente e Entusiasta Pintor e manifestações de corpo obtido com de uma escultor arte (fem.) catalão 2013 e 2014 (Brasil) hábitos saudáveis

P I A L D E P A I A R E S

Trump Na Política, existe uma diferença entre o que pensamos saber e o que sabemos de fato, além do fato desta mesma Política operar por uma lógica específica, a lógica do Poder, e de se manifestar por instituições com seus ordenamentos estatutários e jurídicos próprios e quando nos esquecemos destes elementos é criado um quadro de referências que não correspondem aos fatos. Exemplo desta imprecisão é a eleição do bilionário Donald Trump para a presidência dos EUA, um fato que pode parecer fora de propósito, mas que, na verdade, retrata aquilo que a sociedade estadunidense vê como o melhor para ela e mais próximo daquilo que a maioria da sua população pensa e deseja. Ocorrem inúmeros enganos que nós, não estadunidenses, cometemos quando pensamos os EUA, pois há uma imagem deste país e o país de fato. Primeiro, Trump e Hillary não eram os únicos candidatos à presidência, existiam outros de legendas partidárias menores, mas que não possuem expressividade e muito menos chances de vitoria. Segundo, as eleições nos EUA são indiretas, com a formação de um colégio eleitoral que elege o presidente. Neste colégio, Trump conseguiu mais de 270 delegados, o que lhe garantiu a vitória antes da contagem total de votos. Em terceiro, o voto não obrigatório nos EUA, tido como um direito e não como um dever, permite que a maioria da população não participe do processo de votação. Neste ano, pouco mais de 100 milhões de estadunidenses votasse, em uma população de mais de 330 milhões de pessoas, um número que pode ser entendido de várias formas já que, para os padrões deste país, o número de votantes foi expressivo, frente ao total da população. Em quarto lugar, o sistema de votação por lá é complexo e muito diferente do nosso, pois o eleitor estadunidense pode votar com um mês de antecedência, via correio, ou pode votar sem um título de eleitor, bastando um cadastro feito

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Jornal do Meio 875 Sexta 18 • Novembro • 2016

por PHILLIPPE WATANABE/FOLHAPRESS

É mais fácil você achar uma mulher

com homens mais velhos do que elas, e

de Detroit, por exemplo, as mulheres que

no futuro próximo.

mais velha sozinha do que um ho-

por isso a probabilidade de que fiquem

eram mais emocionalmente dependentes

“As mulheres têm mais relacionamentos

mem na mesma situação. É o que

viúvas é maior.

de seus maridos quando eles estavam vivos

estreitos e de confiança. Isso é excelente

afirma o relatório “Older Americans 2016”,

O outro fator ainda é que “a probabilida-

demonstravam os níveis mais elevados de

para a saúde, física e mental”, diz Carr.

desenvolvido por agências federais dos EUA.

de de que um homem volte a se casar é

autossuficiência na viuvez.

“As mulheres também tendem a manter

Estar solteiro em idade mais avançada pode

muito maior do que entre as mulheres”,

“Elas tiveram de aprender novas compe-

mais contato com os filhos.”

ter impactos econômicos e na saúde, mas

diz Deborah.

tências”, diz Carr. “Em um ano, você já vê

“Pelo que me conheço, eu prefiro curtir

não necessariamente representa solidão.

No Brasil, em 2014, foram 38.723 casamen-

avanços em indicadores como o crescimento

meus netos do que ter um velho babando

A pesquisa, que traz dados sobre a situação

tos de homens acima dos 60 anos e 14.969

pessoal”.

em cima de mim”, diz Teresa.

de idosos em itens como habitação, emprego

para mulheres da mesma idade, menos da

Teresa aposta nos amigos e nos filhos para

Com o “New York Times”, tradução de

e lazer, revelou uma diferença grande na

metade do valor da realidade masculina,

evitar a solidão, tanto no presente quanto

PAULO MIGLIACCI

situação matrimonial entre os sexos.

segundo o IBGE.

A costureira aposentada Penha Cruz, 65,

Conforme a idade aumenta, diferenças

afirma que “aguentou o casamento” por

como essas podem ter repercussões sig-

nove anos. Ela se casou em 1969, aos 18

nificativas na vida.

anos, com um homem de 33. Depois, passou

Entre as pessoas com mais de 75 anos,

por outros “casamentos”, como ela chama

diz o estudo americano, 23% dos homens

seus relacionamentos mais sérios, mas está

vivem sós. Para as mulheres, a proporção

sozinha há algum tempo.

é duas vezes maior.

“Sozinha em termos, porque eu ainda

Se você está imaginando uma situação triste

namoro.”

de abandono, talvez seja melhor pensar de

Em todas as faixas etárias, os homens

novo. A realidade de mulheres mais velhas

idosos apresentam chance maior do que

separadas muitas vezes é melhor do que

as mulheres de estarem casados.

durante a vida de casada.

Cerca de 75% dos homens americanos entre

O caso de Penha é um exemplo disso. Em

os 65 e os 74 anos são casados, ante 58% das

um dos seus “casamentos”, ela chegou a

mulheres na mesma faixa etária, segundo

morar com um homem, situação que mudou

a pesquisa. E a proporção de homens ca-

assim que ele começou a tentar determinar

sados não cai na faixa etária dos 75 aos 84

horários para ela.

anos. Já entre as mulheres ela chega 42%.

Situação similar ocorreu com a esteticista

Mesmo entre os homens com mais de 85

Teresa Madureira, 56. Depois de 30 anos

anos a taxa é alta –quase 60% estão casa-

como dona de casa, ela começou um curso

dos. A essa altura da vida, apenas 17% das

de estética. Foi o suficiente para o então

mulheres ainda estão casadas.

marido começar a tentar controlar sua vida.

Os dados brasileiros também demonstram

“Ele queria me manter dentro de casa.”

maiores chances de homens idosos se ca-

Hoje, Teresa se sustenta sozinha e se sente

sarem. Cerca de uma a cada mil mulheres

bem assim. “Eu tenho que me preocupar

acima dos 60 anos estava legalmente casada

em colocar arroz na mesa, mas, mesmo com

em 2014, de acordo com dados do IBGE. A

as dificuldades, eu estou bem.”

taxa para os homens era quase quatro vezes

E muitas mulheres mais velhas e não ca-

superior. Nas idades anteriores também há

sadas enfrentam dificuldades econômicas.

diferença entre os sexos. Dos 55 aos 59, três

“As mulheres sofrem baques maiores com

mulheres a cada mil estão casadas. O valor

a viuvez e o divórcio, em termos econômi-

é próximo de cinco a cada mil para homens.

cos”, diz Deborah Umberson, do Centro de

As estatísticas de expectativa de vida expli-

Pesquisa da População na Universidade do

cam apenas em parte essa disparidade, diz

Texas em Austin.

Deborah Carr, diretora interina do Instituto

Por outro lado, estudos apontam maneiras

de Saúde da Universidade Rutgers, que

pelas quais as mulheres florescem depois

pesquisa casamento e viuvez.

da viuvez e do luto.

Mulheres tendem a viver mais e a se casar

No estudo de Carr sobre moradores idosos

Foto: Adriano Vizoni/Folhapress

Teresa Madureira, 56, que se separou do marido e hoje diz estar melhor sozinha.


Antenado

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Crítica

Investigando sua própria vida, Philip Roth revela ardis da ficção

por CAMILA VON HOLDEFER/FOLHAPRESS

Publicado originalmente em 1988,

autor a uma espécie de crise, devidamente

celente Roseanna Sabbath em “O Teatro

lizou -usando Zuckerman como marionete,

“Os Fatos” é um dos livros mais

registrada em “Operação Shylock”.

de Sabbath”.) O livro traz, praticamente

escudo, bode expiatório e doppelgänger,

importantes de Philip Roth. É es-

Roth acha difícil se reerguer. Ele precisa,

sem alteração, a história do teste de gra-

tudo ao mesmo tempo- e chegar aos fatos.

tranho que a Companhia das Letras tenha

portanto, examinar a própria vida. Só

videz forjado.

Está cansado de manipular e distorcer.

demorado quase 30 anos para lançar a

assim poderá seguir em frente.

Maggie, segundo Roth, era tanto uma rival

Roth faz um pedido a Zuckerman: quer que

em termos de imaginação literária quanto a

este avalie a autobiografia que acaba de es-

melhor professora de escrita criativa que já

crever. As memórias devem ser publicadas?

tradução -o que não é tão estranho é que a edição tenha surgido na esteira de “Ro-

Maggie Williams

th Libertado”, livro de Claudia Pierpont

O mais surpreendente em “Os Fatos”,

teve. Se não usasse sua experiência com a

Zuckerman, num texto inserido ao final do

amplamente baseado nesta autobiografia

aquilo que definitivamente separa Roth

ex-mulher na ficção, diz, nada daquilo teria

livro, diz que não. Sem o auxílio da imagina-

do autor.

de Zuckerman, é a história do relaciona-

sentido. Teria vivido no inferno por nada.

ção, o relato de Roth parece a Zuckerman

A obra do norte-americano sempre esteve

mento do autor com Josie -que na verdade

A briga só acaba, diga-se de passagem, com a

morno e raso. As preocupações com a ética

repleta de brincadeiras autorreferenciais.

se chamava Maggie Williams.

morte de Maggie num acidente de automóvel.

se sobrepõem às preocupações estéticas.

O principal veículo dos ardis é Nathan

Foi uma união turbulenta. Ao longo de

Zuckerman, personagem que funciona co-

uma vida difícil, Maggie aparentemente

Fatos

mo alter ego de Philip Roth. Só é possível

desenvolveu uma maneira peculiar de

A ficção, observa Roth, parte de fatos, não

o talento de Philip Roth. É a intromissão

compreender plenamente “Os Fatos” em

perceber e interpretar a realidade. Roth

de abstrações. Trata-se agora de fazer o

de Zuckerman que salva “Os Fatos” e faz

oposição ou à luz dos jogos de identidade

diz não saber o que é verdade e o que é

caminho inverso: partir do que já ficciona-

dele um livro excelente.

e autoria propostos ao longo da carreira

mentira nos relatos de Williams.

de Roth. Qualquer outra leitura é parcial.

Ela engava deliberadamente. Numa ma-

Roth e Zuckerman se confundem, é claro.

nobra digna da pior subliteratura, Maggie

O ano e o local de nascimento são os mes-

comprou urina de uma grávida a fim de

mos: 1933, Newark, Nova Jersey.

garantir um resultado positivo no teste

Zuckerman surgiu pela primeira vez em

que apresentou a Philip Roth (que acredi-

“Minha Vida de Homem”, mas é na cole-

tou). Fingiu ter feito um aborto, obtendo a

tânea “Zuckerman Acorrentado” que sua

garantia de que o escritor, que não queria

trajetória passa a espelhar a do autor. Zu-

filhos, se casaria com ela. Converteu-se ao

ckerman, ele mesmo um escritor, enfrenta

judaísmo e exigiu uma cerimônia religiosa,

problemas semelhantes aos enfrentados

escandalizando a família Roth. Depois da

por Roth -questões que envolvem desde o

separação, continuou a infernizar o ex-

processo criativo até a reação e a recepção

-marido e o ex-sogro.

do público e da crítica.

Maggie, que de fato tem todas as caracte-

A julgar por aquilo que o autor revela em

rísticas uma grande personagem, é figu-

“Os Fatos”, alguns detalhes são bastante

rinha fácil na obra de Roth. Aparece em

distintos. Enquanto os pais de Zuckerman

“Círculos da Angústia”, segundo livro do

rejeitam os livros do filho, que suposta-

autor, sob uma luz favorável. Em seguida,

mente prejudicariam os judeus, os de Roth

com a relação já diluída, surge como Lucy

costumavam defendê-los.

Nelson em “As Melhores Intenções...”, ba-

“Os Fatos” não partiu de um desejo de

seado em sua infância traumática numa

provar ao mundo que há uma distância

cidade pequena.

considerável entre criador (Roth) e criatura

Mas é em “Minha Vida de Homem”, em

(Zuckerman). Tampouco foi encomendado

que Maggie ganha o papel de Maureen

por um editor. Em 1987, o sofrimento que se

Tarnopol, que o exorcismo se completa.

seguiu a uma cirurgia malsucedida levou o

(Ela também parece ter inspirado a ex-

E ele tem razão: na parte em que o personagem toma a palavra e brinca, ali está todo

Foto: Divulgação

Logan Lerman e Sarah Gadon em cena de “indignação”, adaptação cinematográfica de James Schamus para livro de Roth.


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Saúde

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Calvície

Tratamento de é feito com remédio e solução líquida, vitaminas e recursos estéticos ajudam a fortalecer o combate à doença, que leva à perda dos cabelos por GISLAINE GUTIERRE/FOLHAPRESS Arte: Folhapress

O tratamento clássico de calvície envolve dois remédios: Finasterida, via oral, e o Minoxidil, líquido aplicado no couro cabeludo. Outros produtos e procedimentos estéticos podem ajudar a combater a doença A calvície, que tem origem genética, se caracteriza pela produção de fios de cabelos cada vez mais finos e curtos. Com o tempo, eles não são mais produzidos. Nem sempre a calvície é acompanhada de queda de cabelos. Enquanto a Finasterida evita que a doença avance, o Minoxidil amplia a fase de crescimento dos fios e os deixa mais grossos. Outro remédio cotado para o tratamento é o Dutasterida. É mais caro e mais novo que a Finasterida. Atua de uma maneira parecida, mas não é necessariamente mais eficaz. “Pode ser que um paciente “Pode ser que um paciente se beneficie mais deste remédio que outra pessoa. A resposta de cada um é diferente”, diz Thaís Ferraz, dermatologista responsável pelo tratamento clínico na Tikocinski Restauração Capilar. A impotência é um efeito colateral dos comprimidos, mas afeta número pequeno de pacientes. “A pessoa pode até ter seu desejo sexual reduzido. Sem desejo, a ereção é mais difícil, então é uma impotência secundária”, diz.

Tecnologia Segundo José Rogério Régis, coordenador do Departamento de Cabelos e Unhas da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), geralmente os tratamentos envolvem várias medidas, como uso de vitaminas e procedimentos estéticos. E, nesse sentido, a tecnologia tem ajudado. “Hoje, o implante pode ser feito com tufos de quatro ou cinco fios. Antigamente, eram 20”, diz. O resultado fica mais natural. Em geral, os tratamentos bloqueiam o avanço da calvície, mas não recuperam totalmente a capacidade de produzir fios saudáveis. Quanto mais cedo começar, melhor.

Queda de cabelos tem várias causas A queda de cabelos não costuma estar relacionada à calvície. José Rogério Régis, coordenador do Departamento de Cabelos e Unhas da Sociedade Brasileira de Dermatologia, diz que a queda pode ser causada por doenças como hepatite C, aids, distúrbios da tireoide, anemia, lúpus e câncer. Outras razões podem ser, ainda, o estresse e o uso excessivo de escova progressiva e luzes.


Saúde

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Estudo explica as cores

dos peixes de corais

Segundo teoria de brasileiro, esses animais são chamativos porque os recifes não permitem camuflagem única, padrões de cores dos bichos teriam evoluído em resposta a pressões como atração sexual e territorialidade por RICARDO BONALUME NETO/FOLHAPRESS

Se ficar o bicho come, se correr o bicho pega. Mas nada é tão simples quanto este clichê na natureza. Os bichos no caso –a presa e o predador– podem estar camuflados. Suas cores se confundem com o ambiente. A presa –a zebra, o antílope, por exemplo– pode se esconder e viver; o predador, leão ou leopardo, pode chegar perto e obter uma refeição. A camuflagem evoluiu biologicamente como um meio para dificultar a visualização pelo predador ou pela presa. É o caso dos leões com a cor da vegetação marrom claro das savanas, dos tubarões e suas colorações azuladas, ou dos brancos ursos polares em meio ao gelo ártico. Mas apesar dessa óbvia lógica favorecendo coloração discreta, os peixes de recifes de coral mostram o contrário: cores berrantes, todo o espectro do arco-íris reproduzido em algumas espécies, em alguns locais do oceano. Como isso é possível? Charles Darwin (1809-1882), o principal autor da teoria da evolução, já se perguntava isso, assim como o coautor independente da teoria, Alfred Russel Wallace (1823-1913). O pesquisador brasileiro Wladimir Jimenez Alonso apresentou agora uma teoria que explica por que peixes tão coloridos são encontrados de forma abundante nos recifes de coral, tanto em uma conferência –a da International Society of Behaviour

Ecology, no Reino Unido– como em um artigo científico, no periódico “F1000Research”. A teoria foi desenvolvida quando ele esteve no Laboratório de Estudos Ecológicos e Evolutivos Humanos do Departamento de Biociências da USP. Ele é membro honorário do laboratório, dirigido pelo antropólogo Walter Neves, Segundo Alonso, “por apresentarem complexidade e diversidade de cores tão grande, os recifes não permitem que os peixes que nadam neste ambiente possam se camuflar.” Eles vivem no que ele chama um “mundo hipervisível” –”um mundo de água transparente caracterizado pela multiplicidade de cores e padrões imprevisíveis”. Ou seja, como a camuflagem não é possível, a teoria propõe que os padrões de cores corpóreas “evoluem em resposta a outras pressões seletivas, como atração sexual, territorialidade e reconhecimento de espécie”. Mas a coisa vai mais longe. Existem bichos multicoloridos em terra também –em geral aves, raramente mamíferos. A ideia do “mundo hipervisível” não serve para explicar as coloridas araras em meio ao verde da floresta amazônica. Outra hipótese se aplica ao caso: a do “mundo despreocupado”. Certos animais conseguem viver praticamente livres de predação. É o caso das araras, que não tem predadores habituais e conseguem

se defender de modo hábil com seus bicos capazes de quebrar nozes. Outro exemplo de quem vive no “mundo despreocupado” são os beija-flores, capazes de voar a velocidades que nenhum predador potencial atinge. Comentando o estudo, Theodore Stankowich da Universidade Estadual da Califórnia, afirmou que seria interessante entender o que acontece nas margens dos recifes de coral –quando a luz visível se modifica, e as cores vermelhas e laranjas tendem a aparecer como marrons e em seguida azuis. Alonso responde que essas zonas de transição são “fascinantes” porque os fatores que favorecem diferentes forças de seleção natural podem mudar em apenas alguns metros de profundidade, o que justifica que sejam feitos estudos de campo relacionados. O trabalho de Alonso é baseado em um pano de fundo de corais multicoloridos, complexos e imprevisíveis. Mas, seriam eles tanto assim, do ponto de vista de um predador talvez incapaz de distinguir cores tão bem, pergunta Brian Langerhans, da Universidade Estadual da Carolina do Norte? Para Alonso, fica claro que além de estarem em águas claras tropicais, os corais têm peixes cuja visão foi estudada, e se demonstrou que pode ser até mais sofisticada do que a humana, por exemplo enxergando luz ultravioleta. Concluindo, o “mundo hipervisível” é de

fato altamente visível.

Exércitos já imitaram cores e listras de animais Os exércitos tinham uniformes muito coloridos até a metade do século 19. Era mais fácil aos comandantes reconhecerem suas tropas e as do inimigo. Com o aumento do alcance das armas, uma forma de camuflagem se tornou aos poucos necessária. As cores eram sólidas –como o khaki britânico, o cinza alemão. Só na Segunda Guerra surgiram uniformes camuflados com padrões coloridos. Os pioneiros foram os alemães, com padrões que imitavam árvores e a luz filtrando pela floresta, em padrões mais esverdeados para o verão, com mais marrom para o outono. Também surgiram camuflagens para aviões e navios. Imitar o terreno sempre foi a norma, como a camuflagem de deserto americana da Guerra do Golfo, que incluía pedriscos “sombreados” e ficou conhecida como padrão “chocolate chip”. Imitar uma camuflagem animal também foi algo usado. Os sul-vietnamitas e americanos usaram na Guerra do Vietnã uma camuflagem imitando listras de tigre. O exército do antigo Zaire (hoje República Democrática do Congo) tinha uma padrão imitando pintas de leopardo. (RBN)

Medo de prejudicar família

é maior do que o de morrer Pesquisa Datafolha também mostra que o câncer é o que mais causa temor nas pessoas, seguido por doenças cardiovasculares

por CLÁUDIA COLLUCCI/FOLHAPRESS

Em caso de doença grave e incurável,

que mais preocupa (65% da população a te-

com a prevenção. “Hábitos saudáveis de

das três fontes de informação mais confi-

as pessoas têm mais medo de deixar

me), seguida pelas doenças cardiovasculares

vida, como evitar a obesidade e o seden-

áveis em saúde (84%). Amigos e parentes

a família em dificuldade financeira

(21%), que são a principal causa de morte

tarismo, podem prevenir tanto as doenças

vêm em segundo lugar (66%). A farmácia

do que da própria morte.

entre os brasileiros (350 mil mortes por ano).

cardíacas quanto o câncer.”

mais próxima é fonte de informação para

É o que aponta pesquisa Datafolha sobre

O câncer é responsável por cerca de 190 mil

Para 55% dos entrevistados, as universi-

55% dos entrevistados.

hábitos de saúde do brasileiro, encomendada

mortes anuais, segundo o Instituto Nacional

dades são consideradas as responsáveis

A chamada mídia tradicional (portais de

pela companhia biofarmacêutica AbbVie.

do Câncer.

pela descoberta de novos tratamentos.

notícias e jornais e revistas impressas) é

Foram ouvidas 2.060 pessoas, de 130 municí-

“As pessoas fazem uma associação intuitiva

A indústria farmacêutica é apontada por

considerada fonte confiável para assuntos

pios brasileiros. A margem de erro é de dois

entre o câncer e a morte. Já as doenças car-

23%, e os governos, por 2%.

de saúde por 21% dos entrevistados. Fer-

pontos percentuais para mais ou para menos.

diovasculares não causam o mesmo temor.

A pesquisa aponta o médico de família ou

ramentas on-line de busca são citadas por

A preocupação de deixar a família em apu-

As pessoas acham que podem conviver com

do posto de saúde mais próximo como uma

18% e as redes sociais, por 16% deles.

ros é manifestada por 29% das pessoas, em

elas”, diz Sobrinho.

seguida vem o medo de morrer (25%) e o

Para Hoff, o maior temor tem a ver com o

temor com os custos do tratamento (24%).

fato de que, no passado, o câncer era uma

Os que mais se afligem com a situação fa-

doença fatal na maioria das vezes. “Isso

miliar são os homens das classes sociais A e

não é mais verdade. É claro que alguns

B. “Isso é frequente no consultório. São pais

tumores são piores, mas hoje 60% dos

que participam ativamente das despesas

casos são curáveis.”

dos filhos, pagando aluguel, escola para os

Na opinião do cardiologista Roberto Ka-

netos”, diz o onco-hematologista Jairo do

lil, diretor-geral do InCor e do centro de

Nascimento Sobrinho, do Hospital Albert

cardiologia do Hospital Sírio-Libanês, as

Einstein.

pessoas não temem tanto as doenças car-

Para o oncologista Paulo Hoff, diretor do

díacas porque não acompanham amigos e

Icesp (Instituto do Câncer do Estado de

parentes sofrendo muito tempo com essa

São Paulo), antes, essa preocupação era

condição –como ocorre no câncer.

mais presente nos Estados Unidos, mas

“Ou a pessoa morre infartada antes de

começa a fazer parte dos temores de pa-

chegar ao hospital ou é internada, faz uma

cientes no Brasil.

angioplastia ou coloca um stent e logo vai

“A crise econômica tende a intensificar mais

para casa e leva uma vida normal”, diz.

o medo de deixar a família desamparada”,

Kalil afirma que essa falta de preocupação

comenta Sobrinho.

com as doenças cardíacas é umas razões

Segundo o levantamento, câncer é a doença

pelas quais as pessoas não se preocupam

Foto: Divulgação


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Jornal do Meio 875 Sexta 18 • Novembro • 2016


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