Braganรงa Paulista
Sexta
18 Novembro 2016
Nยบ 875 - ano XV jornal@jornaldomeio.com.br
jornal do meio
11 4032-3919
2
Para pensar
Jornal do Meio 875 Sexta 18 • Novembro • 2016
Para não cair
Expediente
na desesperança! por Mons. Giovanni Baresse
Jornal do Meio Rua Santa Clara, 730 Centro - Bragança Pta. Tel/Fax: (11) 4032-3919 E-mail: jornal@jornaldomeio.com.br Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli Jornalista Responsável: Carlos Henrique Picarelli (MTB: 61.321/SP)
No 33º domingo do tem-
gar, serão recebidos com festas
mostra que, por pequena que seja
que o modo usual de Deus agir
po comum, na liturgia
e que a reconstrução de suas
a semente, sendo semeada pode
é através de nós. Foi assim que
da Igreja, a Palavra de
vidas será rápida e completa.
dar um resultado que à primeira
Ele decidiu. Do pouco que pos-
Deus chama a atenção para
Nada disso acontece: nem são
vista seria impossível. As duas
samos oferecer Ele é capaz de
duas atitudes importantes no
bem recebidos nem as coisas
parábolas estão relacionadas ao
tirar a totalidade. Mas a ação
desenrolar de nossas ações:
acontecem rapidamente. Daí
reino de Deus. A implantação
divina quis e quer depender da
paciência e esperança. Um texto
começam a se queixar: os pro-
do reino depende da ação das
ação humana. Uma ação extra-
do profeta Malaquias (3,19-20)
fetas fizeram promessas vazias.
pessoas. O seu desenvolvimento
ordinária é decisão divina. Para
nos envolve na esperança. Por
Deus se esqueceu de seu povo.
tem a força divina. Não é obra
que nossa ação possibilite a ação
volta do inicio do século VI an-
O que aconteceu na história
humana. As propostas do Reino
divina é necessário que saibamos
passamos pelo risco da imposição
tes de Cristo, o reino de Israel
de um povo acontece conosco.
podem parecer frágeis diante
esperar os tempos oportunos.
do nosso ritmo. Não sabemos com-
é invadido pelos babilônios. A
Quando o sofrimento, a morte,
dos desafios da realidade. Não
Não há semente que jogada na
preender que há tempos diferentes.
terra é devastada. O rei Joaquim
as doenças, as dificuldades che-
importa. O que é preciso é que
terra á noite, brote pela manhã.
Parece que a força está mais na
feito prisioneiro. Houve saque. E
gam – muitas vezes – duvidamos
a semente seja plantada. A fra-
Há um tempo de maturação até o
semeadura que na semente. Na
um grande número de pessoas
do amor de Deus. O que nos
gilidade que damos à semente
desabrochar. Temos que aprender
plantação de Deus as coisas só
foi levado para o cativeiro. O
sustenta é crer na fidelidade de
será desmentida pelo vigor da
a jogar a semente e saber esperar.
acontecerão se acreditarmos na
trecho bíblico quer fortalecer
Deus e o saber esperar ativo.
planta que crescerá. Estas duas
Isso implica confiar que a semente
missão de semear e se dermos
a certeza de que Deus não vol-
A isso chamamos paciência.
comparações, usadas por Jesus,
é boa, agir da melhor forma na se-
tempo para que a semente – que
ta atrás e nunca abandona. A
Esta paciência encontra bela
querem nos levar a assumir
meadura, e saber que Aquele que
é Dele – possa germinar. Caso con-
situação histórica é a volta de
reflexão em duas parábolas do
atitude de fazer o que devemos
nos mandou jogar a semente nos
trário ou não semearemos porque
grupos judeus que estavam no
Evangelho de Marcos (4,26-34).
fazer e confiar que Deus fará o
deu do melhor!
a colheita demora ou queremos
exílio. Ciro, rei da então Pérsia
Na primeira, Jesus salienta que
resto. Não porque interferirá
Esperança e paciência devem
forçar a semente a pular etapas no
(hoje Irã), de forma muito in-
a força germinativa da semente
milagrosamente. Sua ação se
nortear nossas ações em todos os
seu desenvolvimento. Se fizermos
teligente, permite que voltem à
não depende do semeador. Ela
verá como consequência daquilo
setores. Especialmente em nossas
isso perderemos a semente, a co-
sua terra. Estes, animados pelas
tem uma força interna. Ao seme-
que nós lhe permitirmos fazer.
comunidades de fé. Quantas vezes
lheita e teremos trabalhado
profecias, pensam que, ao che-
ador cabe semear. Na segunda,
É sempre oportuno recordar
somos imediatistas. Quantas vezes
em vão!
As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão. As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Bragança Jornal Diário.
Reflexão e Práxis
PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS
www.coquetel.com.br Fator econômico elevado na classe C, a partir de 2010 Livro de Machado de Assis País cuja capital é Maputo
A Regência histórica do Padre Feijó
Distúrbio caracterizado pela atração sexual de adultos por crianças
Estado nordestino Diz-se do juiz de cuja sentença se recorre Lutécio (símbolo) Dispositivo gerador de energia elétrica Estar iminente (perigo)
Desejo de vingança Droga que lesiona a mucosa nasal Multidão (pop.)
2, em romanos Ar, em inglês
Doença infecciosa causada por ácaros
(?) Abelha, a banda de Paula Toller São (?), protetor da garganta Rede local (Inform.) Prazer do filantropo Destinado (recurso) para fim específico
Indica o norte na rosa dos ventos
Pronome indefinido Endinheirada
Forma de venda da cebola no atacado
A abreviatura inglesa de “mister” Parado
Sem gosto (bras.)
Outra, em espanhol
A classe social do Príncipe Harry Museu (?), atração portenha Retumbara
Serviço de operadoras de telefonia Elogios; louvores 18
Solução
RO
M P E M
P O D E R A Q U I S I T I V O
A Ç A O F I C U I U O N N A D R A E ST O I T A RA
M B I QU E I L I A R A L U O C A I NA K I D B R A S A L D AR M O E N C A D A R L E I M O V EL C R AC I A A D D I L O A S
BANCO
Fiéis aos seus compromissos
3/air — ité — lan. 4/a quo — otra. 7/alocado. 9/black bloc.
Pedro Marcelo Galasso - cientista político, professor e escritor. E-mail: p.m.galasso@gmail.com
A Ç O
por pedro marcelo galasso
em qualquer local de votação ou deve obedecer as regras instituídas em cada Estado, ou seja, um processo confuso e que pode provocar distorções. Entretanto, as considerações importantes são outras. Parece que o eleitor de Trump é o estadunidense com mais de 40 anos, branco e sofre com a economia dos EUA e que vê no isolacionismo e na culpabilização de estrangeiros as soluções para o país. Soma-se a isso, o discurso violento e a figura caricata do presidente eleito e temos um cenário lógico e apropriado para eles. É importante pensar que este foi o perfil do eleitor do Reino Unido que votou pelo Brexit, ou seja, pela saída do Reino Unido da União Europeia, cujo perfil é o mesmo do grupo que pediu a saída da ex-presidente, Dilma Rousseff, no processo de impeachment. Além disso, a eleição de um bilionário, dono de cassinos falidos, mas com grande apelo midiático, foi possível porque milhares de eleitores democratas de Hillary Clinton não votaram por acreditarem que a sua vitoria estava garantida. E, assim como ocorreu no Brexit, os eleitores mais jovens, nos EUA, se omitiram do processo de votação e deram a vitória para Trump. Para nós, resta esperar e ver quem irá governar – o personagem ou o presidente que deve obedecer as solidas instituições estadunidenses, país no qual a força do Congresso, mesmo com a maioria republicana como Trump, é imensa. Eleição de uma figura como ele na eleição de 2018 no Brasil? Improvável também, pois nosso quadro político é mais complexo, nossa obrigatoriedade do voto é um fator decisivo e, por último, não há, felizmente, nenhuma figura com este por aqui, mesmo com a eleição de um empresário para a prefeitura de São Paulo. Enfim, agora é esperar, ansiosamente, esperar.
© Revistas COQUETEL
Liga inoxidável Grupo que atuou nas Equilíbrio de mente e Entusiasta Pintor e manifestações de corpo obtido com de uma escultor arte (fem.) catalão 2013 e 2014 (Brasil) hábitos saudáveis
P I A L D E P A I A R E S
Trump Na Política, existe uma diferença entre o que pensamos saber e o que sabemos de fato, além do fato desta mesma Política operar por uma lógica específica, a lógica do Poder, e de se manifestar por instituições com seus ordenamentos estatutários e jurídicos próprios e quando nos esquecemos destes elementos é criado um quadro de referências que não correspondem aos fatos. Exemplo desta imprecisão é a eleição do bilionário Donald Trump para a presidência dos EUA, um fato que pode parecer fora de propósito, mas que, na verdade, retrata aquilo que a sociedade estadunidense vê como o melhor para ela e mais próximo daquilo que a maioria da sua população pensa e deseja. Ocorrem inúmeros enganos que nós, não estadunidenses, cometemos quando pensamos os EUA, pois há uma imagem deste país e o país de fato. Primeiro, Trump e Hillary não eram os únicos candidatos à presidência, existiam outros de legendas partidárias menores, mas que não possuem expressividade e muito menos chances de vitoria. Segundo, as eleições nos EUA são indiretas, com a formação de um colégio eleitoral que elege o presidente. Neste colégio, Trump conseguiu mais de 270 delegados, o que lhe garantiu a vitória antes da contagem total de votos. Em terceiro, o voto não obrigatório nos EUA, tido como um direito e não como um dever, permite que a maioria da população não participe do processo de votação. Neste ano, pouco mais de 100 milhões de estadunidenses votasse, em uma população de mais de 330 milhões de pessoas, um número que pode ser entendido de várias formas já que, para os padrões deste país, o número de votantes foi expressivo, frente ao total da população. Em quarto lugar, o sistema de votação por lá é complexo e muito diferente do nosso, pois o eleitor estadunidense pode votar com um mês de antecedência, via correio, ou pode votar sem um título de eleitor, bastando um cadastro feito
3
Jornal do Meio 875 Sexta 18 • Novembro • 2016
4
Jornal do Meio 875 Sexta 18 • Novembro • 2016
por PHILLIPPE WATANABE/FOLHAPRESS
É mais fácil você achar uma mulher
com homens mais velhos do que elas, e
de Detroit, por exemplo, as mulheres que
no futuro próximo.
mais velha sozinha do que um ho-
por isso a probabilidade de que fiquem
eram mais emocionalmente dependentes
“As mulheres têm mais relacionamentos
mem na mesma situação. É o que
viúvas é maior.
de seus maridos quando eles estavam vivos
estreitos e de confiança. Isso é excelente
afirma o relatório “Older Americans 2016”,
O outro fator ainda é que “a probabilida-
demonstravam os níveis mais elevados de
para a saúde, física e mental”, diz Carr.
desenvolvido por agências federais dos EUA.
de de que um homem volte a se casar é
autossuficiência na viuvez.
“As mulheres também tendem a manter
Estar solteiro em idade mais avançada pode
muito maior do que entre as mulheres”,
“Elas tiveram de aprender novas compe-
mais contato com os filhos.”
ter impactos econômicos e na saúde, mas
diz Deborah.
tências”, diz Carr. “Em um ano, você já vê
“Pelo que me conheço, eu prefiro curtir
não necessariamente representa solidão.
No Brasil, em 2014, foram 38.723 casamen-
avanços em indicadores como o crescimento
meus netos do que ter um velho babando
A pesquisa, que traz dados sobre a situação
tos de homens acima dos 60 anos e 14.969
pessoal”.
em cima de mim”, diz Teresa.
de idosos em itens como habitação, emprego
para mulheres da mesma idade, menos da
Teresa aposta nos amigos e nos filhos para
Com o “New York Times”, tradução de
e lazer, revelou uma diferença grande na
metade do valor da realidade masculina,
evitar a solidão, tanto no presente quanto
PAULO MIGLIACCI
situação matrimonial entre os sexos.
segundo o IBGE.
A costureira aposentada Penha Cruz, 65,
Conforme a idade aumenta, diferenças
afirma que “aguentou o casamento” por
como essas podem ter repercussões sig-
nove anos. Ela se casou em 1969, aos 18
nificativas na vida.
anos, com um homem de 33. Depois, passou
Entre as pessoas com mais de 75 anos,
por outros “casamentos”, como ela chama
diz o estudo americano, 23% dos homens
seus relacionamentos mais sérios, mas está
vivem sós. Para as mulheres, a proporção
sozinha há algum tempo.
é duas vezes maior.
“Sozinha em termos, porque eu ainda
Se você está imaginando uma situação triste
namoro.”
de abandono, talvez seja melhor pensar de
Em todas as faixas etárias, os homens
novo. A realidade de mulheres mais velhas
idosos apresentam chance maior do que
separadas muitas vezes é melhor do que
as mulheres de estarem casados.
durante a vida de casada.
Cerca de 75% dos homens americanos entre
O caso de Penha é um exemplo disso. Em
os 65 e os 74 anos são casados, ante 58% das
um dos seus “casamentos”, ela chegou a
mulheres na mesma faixa etária, segundo
morar com um homem, situação que mudou
a pesquisa. E a proporção de homens ca-
assim que ele começou a tentar determinar
sados não cai na faixa etária dos 75 aos 84
horários para ela.
anos. Já entre as mulheres ela chega 42%.
Situação similar ocorreu com a esteticista
Mesmo entre os homens com mais de 85
Teresa Madureira, 56. Depois de 30 anos
anos a taxa é alta –quase 60% estão casa-
como dona de casa, ela começou um curso
dos. A essa altura da vida, apenas 17% das
de estética. Foi o suficiente para o então
mulheres ainda estão casadas.
marido começar a tentar controlar sua vida.
Os dados brasileiros também demonstram
“Ele queria me manter dentro de casa.”
maiores chances de homens idosos se ca-
Hoje, Teresa se sustenta sozinha e se sente
sarem. Cerca de uma a cada mil mulheres
bem assim. “Eu tenho que me preocupar
acima dos 60 anos estava legalmente casada
em colocar arroz na mesa, mas, mesmo com
em 2014, de acordo com dados do IBGE. A
as dificuldades, eu estou bem.”
taxa para os homens era quase quatro vezes
E muitas mulheres mais velhas e não ca-
superior. Nas idades anteriores também há
sadas enfrentam dificuldades econômicas.
diferença entre os sexos. Dos 55 aos 59, três
“As mulheres sofrem baques maiores com
mulheres a cada mil estão casadas. O valor
a viuvez e o divórcio, em termos econômi-
é próximo de cinco a cada mil para homens.
cos”, diz Deborah Umberson, do Centro de
As estatísticas de expectativa de vida expli-
Pesquisa da População na Universidade do
cam apenas em parte essa disparidade, diz
Texas em Austin.
Deborah Carr, diretora interina do Instituto
Por outro lado, estudos apontam maneiras
de Saúde da Universidade Rutgers, que
pelas quais as mulheres florescem depois
pesquisa casamento e viuvez.
da viuvez e do luto.
Mulheres tendem a viver mais e a se casar
No estudo de Carr sobre moradores idosos
Foto: Adriano Vizoni/Folhapress
Teresa Madureira, 56, que se separou do marido e hoje diz estar melhor sozinha.
Antenado
Jornal do Meio 875 Sexta 18 • Novembro • 2016
5
Crítica
Investigando sua própria vida, Philip Roth revela ardis da ficção
por CAMILA VON HOLDEFER/FOLHAPRESS
Publicado originalmente em 1988,
autor a uma espécie de crise, devidamente
celente Roseanna Sabbath em “O Teatro
lizou -usando Zuckerman como marionete,
“Os Fatos” é um dos livros mais
registrada em “Operação Shylock”.
de Sabbath”.) O livro traz, praticamente
escudo, bode expiatório e doppelgänger,
importantes de Philip Roth. É es-
Roth acha difícil se reerguer. Ele precisa,
sem alteração, a história do teste de gra-
tudo ao mesmo tempo- e chegar aos fatos.
tranho que a Companhia das Letras tenha
portanto, examinar a própria vida. Só
videz forjado.
Está cansado de manipular e distorcer.
demorado quase 30 anos para lançar a
assim poderá seguir em frente.
Maggie, segundo Roth, era tanto uma rival
Roth faz um pedido a Zuckerman: quer que
em termos de imaginação literária quanto a
este avalie a autobiografia que acaba de es-
melhor professora de escrita criativa que já
crever. As memórias devem ser publicadas?
tradução -o que não é tão estranho é que a edição tenha surgido na esteira de “Ro-
Maggie Williams
th Libertado”, livro de Claudia Pierpont
O mais surpreendente em “Os Fatos”,
teve. Se não usasse sua experiência com a
Zuckerman, num texto inserido ao final do
amplamente baseado nesta autobiografia
aquilo que definitivamente separa Roth
ex-mulher na ficção, diz, nada daquilo teria
livro, diz que não. Sem o auxílio da imagina-
do autor.
de Zuckerman, é a história do relaciona-
sentido. Teria vivido no inferno por nada.
ção, o relato de Roth parece a Zuckerman
A obra do norte-americano sempre esteve
mento do autor com Josie -que na verdade
A briga só acaba, diga-se de passagem, com a
morno e raso. As preocupações com a ética
repleta de brincadeiras autorreferenciais.
se chamava Maggie Williams.
morte de Maggie num acidente de automóvel.
se sobrepõem às preocupações estéticas.
O principal veículo dos ardis é Nathan
Foi uma união turbulenta. Ao longo de
Zuckerman, personagem que funciona co-
uma vida difícil, Maggie aparentemente
Fatos
mo alter ego de Philip Roth. Só é possível
desenvolveu uma maneira peculiar de
A ficção, observa Roth, parte de fatos, não
o talento de Philip Roth. É a intromissão
compreender plenamente “Os Fatos” em
perceber e interpretar a realidade. Roth
de abstrações. Trata-se agora de fazer o
de Zuckerman que salva “Os Fatos” e faz
oposição ou à luz dos jogos de identidade
diz não saber o que é verdade e o que é
caminho inverso: partir do que já ficciona-
dele um livro excelente.
e autoria propostos ao longo da carreira
mentira nos relatos de Williams.
de Roth. Qualquer outra leitura é parcial.
Ela engava deliberadamente. Numa ma-
Roth e Zuckerman se confundem, é claro.
nobra digna da pior subliteratura, Maggie
O ano e o local de nascimento são os mes-
comprou urina de uma grávida a fim de
mos: 1933, Newark, Nova Jersey.
garantir um resultado positivo no teste
Zuckerman surgiu pela primeira vez em
que apresentou a Philip Roth (que acredi-
“Minha Vida de Homem”, mas é na cole-
tou). Fingiu ter feito um aborto, obtendo a
tânea “Zuckerman Acorrentado” que sua
garantia de que o escritor, que não queria
trajetória passa a espelhar a do autor. Zu-
filhos, se casaria com ela. Converteu-se ao
ckerman, ele mesmo um escritor, enfrenta
judaísmo e exigiu uma cerimônia religiosa,
problemas semelhantes aos enfrentados
escandalizando a família Roth. Depois da
por Roth -questões que envolvem desde o
separação, continuou a infernizar o ex-
processo criativo até a reação e a recepção
-marido e o ex-sogro.
do público e da crítica.
Maggie, que de fato tem todas as caracte-
A julgar por aquilo que o autor revela em
rísticas uma grande personagem, é figu-
“Os Fatos”, alguns detalhes são bastante
rinha fácil na obra de Roth. Aparece em
distintos. Enquanto os pais de Zuckerman
“Círculos da Angústia”, segundo livro do
rejeitam os livros do filho, que suposta-
autor, sob uma luz favorável. Em seguida,
mente prejudicariam os judeus, os de Roth
com a relação já diluída, surge como Lucy
costumavam defendê-los.
Nelson em “As Melhores Intenções...”, ba-
“Os Fatos” não partiu de um desejo de
seado em sua infância traumática numa
provar ao mundo que há uma distância
cidade pequena.
considerável entre criador (Roth) e criatura
Mas é em “Minha Vida de Homem”, em
(Zuckerman). Tampouco foi encomendado
que Maggie ganha o papel de Maureen
por um editor. Em 1987, o sofrimento que se
Tarnopol, que o exorcismo se completa.
seguiu a uma cirurgia malsucedida levou o
(Ela também parece ter inspirado a ex-
E ele tem razão: na parte em que o personagem toma a palavra e brinca, ali está todo
Foto: Divulgação
Logan Lerman e Sarah Gadon em cena de “indignação”, adaptação cinematográfica de James Schamus para livro de Roth.
6
Saúde
Jornal do Meio 875 Sexta 18 • Novembro • 2016
Calvície
Tratamento de é feito com remédio e solução líquida, vitaminas e recursos estéticos ajudam a fortalecer o combate à doença, que leva à perda dos cabelos por GISLAINE GUTIERRE/FOLHAPRESS Arte: Folhapress
O tratamento clássico de calvície envolve dois remédios: Finasterida, via oral, e o Minoxidil, líquido aplicado no couro cabeludo. Outros produtos e procedimentos estéticos podem ajudar a combater a doença A calvície, que tem origem genética, se caracteriza pela produção de fios de cabelos cada vez mais finos e curtos. Com o tempo, eles não são mais produzidos. Nem sempre a calvície é acompanhada de queda de cabelos. Enquanto a Finasterida evita que a doença avance, o Minoxidil amplia a fase de crescimento dos fios e os deixa mais grossos. Outro remédio cotado para o tratamento é o Dutasterida. É mais caro e mais novo que a Finasterida. Atua de uma maneira parecida, mas não é necessariamente mais eficaz. “Pode ser que um paciente “Pode ser que um paciente se beneficie mais deste remédio que outra pessoa. A resposta de cada um é diferente”, diz Thaís Ferraz, dermatologista responsável pelo tratamento clínico na Tikocinski Restauração Capilar. A impotência é um efeito colateral dos comprimidos, mas afeta número pequeno de pacientes. “A pessoa pode até ter seu desejo sexual reduzido. Sem desejo, a ereção é mais difícil, então é uma impotência secundária”, diz.
Tecnologia Segundo José Rogério Régis, coordenador do Departamento de Cabelos e Unhas da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), geralmente os tratamentos envolvem várias medidas, como uso de vitaminas e procedimentos estéticos. E, nesse sentido, a tecnologia tem ajudado. “Hoje, o implante pode ser feito com tufos de quatro ou cinco fios. Antigamente, eram 20”, diz. O resultado fica mais natural. Em geral, os tratamentos bloqueiam o avanço da calvície, mas não recuperam totalmente a capacidade de produzir fios saudáveis. Quanto mais cedo começar, melhor.
Queda de cabelos tem várias causas A queda de cabelos não costuma estar relacionada à calvície. José Rogério Régis, coordenador do Departamento de Cabelos e Unhas da Sociedade Brasileira de Dermatologia, diz que a queda pode ser causada por doenças como hepatite C, aids, distúrbios da tireoide, anemia, lúpus e câncer. Outras razões podem ser, ainda, o estresse e o uso excessivo de escova progressiva e luzes.
Saúde
Jornal do Meio 875 Sexta 18 • Novembro • 2016
7
Estudo explica as cores
dos peixes de corais
Segundo teoria de brasileiro, esses animais são chamativos porque os recifes não permitem camuflagem única, padrões de cores dos bichos teriam evoluído em resposta a pressões como atração sexual e territorialidade por RICARDO BONALUME NETO/FOLHAPRESS
Se ficar o bicho come, se correr o bicho pega. Mas nada é tão simples quanto este clichê na natureza. Os bichos no caso –a presa e o predador– podem estar camuflados. Suas cores se confundem com o ambiente. A presa –a zebra, o antílope, por exemplo– pode se esconder e viver; o predador, leão ou leopardo, pode chegar perto e obter uma refeição. A camuflagem evoluiu biologicamente como um meio para dificultar a visualização pelo predador ou pela presa. É o caso dos leões com a cor da vegetação marrom claro das savanas, dos tubarões e suas colorações azuladas, ou dos brancos ursos polares em meio ao gelo ártico. Mas apesar dessa óbvia lógica favorecendo coloração discreta, os peixes de recifes de coral mostram o contrário: cores berrantes, todo o espectro do arco-íris reproduzido em algumas espécies, em alguns locais do oceano. Como isso é possível? Charles Darwin (1809-1882), o principal autor da teoria da evolução, já se perguntava isso, assim como o coautor independente da teoria, Alfred Russel Wallace (1823-1913). O pesquisador brasileiro Wladimir Jimenez Alonso apresentou agora uma teoria que explica por que peixes tão coloridos são encontrados de forma abundante nos recifes de coral, tanto em uma conferência –a da International Society of Behaviour
Ecology, no Reino Unido– como em um artigo científico, no periódico “F1000Research”. A teoria foi desenvolvida quando ele esteve no Laboratório de Estudos Ecológicos e Evolutivos Humanos do Departamento de Biociências da USP. Ele é membro honorário do laboratório, dirigido pelo antropólogo Walter Neves, Segundo Alonso, “por apresentarem complexidade e diversidade de cores tão grande, os recifes não permitem que os peixes que nadam neste ambiente possam se camuflar.” Eles vivem no que ele chama um “mundo hipervisível” –”um mundo de água transparente caracterizado pela multiplicidade de cores e padrões imprevisíveis”. Ou seja, como a camuflagem não é possível, a teoria propõe que os padrões de cores corpóreas “evoluem em resposta a outras pressões seletivas, como atração sexual, territorialidade e reconhecimento de espécie”. Mas a coisa vai mais longe. Existem bichos multicoloridos em terra também –em geral aves, raramente mamíferos. A ideia do “mundo hipervisível” não serve para explicar as coloridas araras em meio ao verde da floresta amazônica. Outra hipótese se aplica ao caso: a do “mundo despreocupado”. Certos animais conseguem viver praticamente livres de predação. É o caso das araras, que não tem predadores habituais e conseguem
se defender de modo hábil com seus bicos capazes de quebrar nozes. Outro exemplo de quem vive no “mundo despreocupado” são os beija-flores, capazes de voar a velocidades que nenhum predador potencial atinge. Comentando o estudo, Theodore Stankowich da Universidade Estadual da Califórnia, afirmou que seria interessante entender o que acontece nas margens dos recifes de coral –quando a luz visível se modifica, e as cores vermelhas e laranjas tendem a aparecer como marrons e em seguida azuis. Alonso responde que essas zonas de transição são “fascinantes” porque os fatores que favorecem diferentes forças de seleção natural podem mudar em apenas alguns metros de profundidade, o que justifica que sejam feitos estudos de campo relacionados. O trabalho de Alonso é baseado em um pano de fundo de corais multicoloridos, complexos e imprevisíveis. Mas, seriam eles tanto assim, do ponto de vista de um predador talvez incapaz de distinguir cores tão bem, pergunta Brian Langerhans, da Universidade Estadual da Carolina do Norte? Para Alonso, fica claro que além de estarem em águas claras tropicais, os corais têm peixes cuja visão foi estudada, e se demonstrou que pode ser até mais sofisticada do que a humana, por exemplo enxergando luz ultravioleta. Concluindo, o “mundo hipervisível” é de
fato altamente visível.
Exércitos já imitaram cores e listras de animais Os exércitos tinham uniformes muito coloridos até a metade do século 19. Era mais fácil aos comandantes reconhecerem suas tropas e as do inimigo. Com o aumento do alcance das armas, uma forma de camuflagem se tornou aos poucos necessária. As cores eram sólidas –como o khaki britânico, o cinza alemão. Só na Segunda Guerra surgiram uniformes camuflados com padrões coloridos. Os pioneiros foram os alemães, com padrões que imitavam árvores e a luz filtrando pela floresta, em padrões mais esverdeados para o verão, com mais marrom para o outono. Também surgiram camuflagens para aviões e navios. Imitar o terreno sempre foi a norma, como a camuflagem de deserto americana da Guerra do Golfo, que incluía pedriscos “sombreados” e ficou conhecida como padrão “chocolate chip”. Imitar uma camuflagem animal também foi algo usado. Os sul-vietnamitas e americanos usaram na Guerra do Vietnã uma camuflagem imitando listras de tigre. O exército do antigo Zaire (hoje República Democrática do Congo) tinha uma padrão imitando pintas de leopardo. (RBN)
Medo de prejudicar família
é maior do que o de morrer Pesquisa Datafolha também mostra que o câncer é o que mais causa temor nas pessoas, seguido por doenças cardiovasculares
por CLÁUDIA COLLUCCI/FOLHAPRESS
Em caso de doença grave e incurável,
que mais preocupa (65% da população a te-
com a prevenção. “Hábitos saudáveis de
das três fontes de informação mais confi-
as pessoas têm mais medo de deixar
me), seguida pelas doenças cardiovasculares
vida, como evitar a obesidade e o seden-
áveis em saúde (84%). Amigos e parentes
a família em dificuldade financeira
(21%), que são a principal causa de morte
tarismo, podem prevenir tanto as doenças
vêm em segundo lugar (66%). A farmácia
do que da própria morte.
entre os brasileiros (350 mil mortes por ano).
cardíacas quanto o câncer.”
mais próxima é fonte de informação para
É o que aponta pesquisa Datafolha sobre
O câncer é responsável por cerca de 190 mil
Para 55% dos entrevistados, as universi-
55% dos entrevistados.
hábitos de saúde do brasileiro, encomendada
mortes anuais, segundo o Instituto Nacional
dades são consideradas as responsáveis
A chamada mídia tradicional (portais de
pela companhia biofarmacêutica AbbVie.
do Câncer.
pela descoberta de novos tratamentos.
notícias e jornais e revistas impressas) é
Foram ouvidas 2.060 pessoas, de 130 municí-
“As pessoas fazem uma associação intuitiva
A indústria farmacêutica é apontada por
considerada fonte confiável para assuntos
pios brasileiros. A margem de erro é de dois
entre o câncer e a morte. Já as doenças car-
23%, e os governos, por 2%.
de saúde por 21% dos entrevistados. Fer-
pontos percentuais para mais ou para menos.
diovasculares não causam o mesmo temor.
A pesquisa aponta o médico de família ou
ramentas on-line de busca são citadas por
A preocupação de deixar a família em apu-
As pessoas acham que podem conviver com
do posto de saúde mais próximo como uma
18% e as redes sociais, por 16% deles.
ros é manifestada por 29% das pessoas, em
elas”, diz Sobrinho.
seguida vem o medo de morrer (25%) e o
Para Hoff, o maior temor tem a ver com o
temor com os custos do tratamento (24%).
fato de que, no passado, o câncer era uma
Os que mais se afligem com a situação fa-
doença fatal na maioria das vezes. “Isso
miliar são os homens das classes sociais A e
não é mais verdade. É claro que alguns
B. “Isso é frequente no consultório. São pais
tumores são piores, mas hoje 60% dos
que participam ativamente das despesas
casos são curáveis.”
dos filhos, pagando aluguel, escola para os
Na opinião do cardiologista Roberto Ka-
netos”, diz o onco-hematologista Jairo do
lil, diretor-geral do InCor e do centro de
Nascimento Sobrinho, do Hospital Albert
cardiologia do Hospital Sírio-Libanês, as
Einstein.
pessoas não temem tanto as doenças car-
Para o oncologista Paulo Hoff, diretor do
díacas porque não acompanham amigos e
Icesp (Instituto do Câncer do Estado de
parentes sofrendo muito tempo com essa
São Paulo), antes, essa preocupação era
condição –como ocorre no câncer.
mais presente nos Estados Unidos, mas
“Ou a pessoa morre infartada antes de
começa a fazer parte dos temores de pa-
chegar ao hospital ou é internada, faz uma
cientes no Brasil.
angioplastia ou coloca um stent e logo vai
“A crise econômica tende a intensificar mais
para casa e leva uma vida normal”, diz.
o medo de deixar a família desamparada”,
Kalil afirma que essa falta de preocupação
comenta Sobrinho.
com as doenças cardíacas é umas razões
Segundo o levantamento, câncer é a doença
pelas quais as pessoas não se preocupam
Foto: Divulgação
8
Jornal do Meio 875 Sexta 18 • Novembro • 2016