Braganรงa Paulista
Sexta
27 Janeiro 2017
Nยบ 885 - ano XV jornal@jornaldomeio.com.br
jornal do meio
11 4032-3919
2
Para pensar
Jornal do Meio 885 Sexta 27 • Janeiro • 2017
Expediente
Crises em crer nas
pessoas e em Deus por Mons. Giovanni Baresse
Jornal do Meio Rua Santa Clara, 730 Centro - Bragança Pta. Tel/Fax: (11) 4032-3919 E-mail: jornal@jornaldomeio.com.br Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli Jornalista Responsável: Carlos Henrique Picarelli (MTB: 61.321/SP)
As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão.
Quando tenho a opor-
vida seria de solidão infinita.
amigo que me buscou numa es-
mesmo acontece ao que se refere
tunidade de abordar o
A atitude de confiar, de crer,
tação. Passamos por uma caixa
à fé no sentido transcendental,
tema da fé sempre pro-
é necessidade absoluta. É por
de vidro que continha jornais.
religioso. Nestes dias um jornal
curo traduzir essa palavra por
isso que quando as coisas não
O amigo abriu a caixa, pegou
publicou depoimento de um
“confiança”. Creio que fica mais
caminham de acordo com nossas
um jornal, colocou o dinheiro
artista que se diz ateu. Ele se
fácil compreender seu sentido
expectativas, ao ter colocado
correspondente no lugar ade-
queixa que a população brasi-
mais profundo e vivencial e, ao
crença nos outros, surge a de-
quado. Perguntei se não havia o
leira tem muita dificuldade em
mesmo tempo, mostra duas
cepção, a tristeza, a discórdia. A
perigo de alguém pegar o jornal
aceitar que alguém possa viver
porque nós somos uma minoria
faces importantes: a da convi-
meu ver, de forma desafiadora,
ou mais jornais e não pagar.
sem crer em Deus, em algo supe-
realmente pequena. É um país
vência humana e a referência ao
cresce a mentalidade de que a
Sua resposta: não! Estacionou
rior. Entre outras coisas afirma
onde todas as pessoas têm não
transcendental. Começo pela
maior parte das pessoas é deso-
seu carro com vidros abertos e
que se você não acreditar em
só uma religião, mas várias, e
convivência entre nós. Creio que
nesta. Por isso vivemos cercados
chave no contato. Chamei sua
Deus, você tem o demônio no
onde acreditar em qualquer coi-
todos fazemos a experiência de
de medidas que tentam assegu-
atenção. Ele me disse que não
corpo. Revelou que nunca teve
sa parece mais sensato do que
que sem confiança uns nos outros
rar confiabilidade. Todo mundo
havia problema! Há ainda mui-
uma formação religiosa e, por
não acreditar em nada.” Penso
e de uns para com os outros,
faz a experiência da papelada
tos países onde se crê que todo
isso, não enfrentou problemas
que aqui está a chave para um
nossa vida torna-se quase que
necessária para fazer qualquer
mundo é honesto até prova em
em sua relação com amigos e
caminho de fé religiosa para
impossível. Se não confiarmos
negócio. E isso aumenta sem-
contrário! É possível crer que
familiares por ser alguém que
quem não a tem: clareza no que
em nossos educadores, vivere-
pre mais. Quando se pensa que
a honestidade seja a tônica no
questiona a existência de Deus,
se acredita. O sincretismo deve
mos em dúvida eterna; se não
todos os documentos estão em
comportamento? Esta reflexão
mas faz coro a uma reclamação
ser respeitado porque cada um
confiarmos em nossos médicos,
ordem, aparece a exigência de
foi despertada pelo fato que en-
da maioria dos ateus no país: a
é livre de crer ou não. E da for-
dentistas e outros profissionais
um carimbo, um registro a mais...
volve questionamento se a morte
de que, em geral, a sociedade
ma que desejar. Para o cristão
da área da saúde caminharíamos
Em meus tempos de estudante
do ministro Teori Zavascki ou
brasileira tem dificuldades em
o caso é diferente: ou Cristo é o
céleres para uma somatória de
vivi realidade diversa. Tenho
foi acidente ou foi crime. Com o
entender e aceitar aqueles que
Caminho, a Verdade e a Vida, ou
problemas... Se não confiarmos
parentes que vivem na Itália,
clima que vivemos atualmente
não professam nenhuma fé re-
então a fé, que se diz ter nele,
em nossos relacionamentos de
há pouca distância da fronteira
acirra-se a desconfiança de tudo
ligiosa. Diz o artista: “O Brasil
deságua nas escolhas daquilo
afetos, amor, amizade nossa
com a Suiça. Fui visitar um casal
e de todos. De certa forma, o
é um país difícil para os ateus
que interessa!
As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Bragança Jornal Diário.
Reflexão e Práxis
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PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS
www.coquetel.com.br
Eduardo Galeano, escritor uruguaio
Conquista do Cruzeiro em 2014 (fut.)
Título de Roberto Carlos (MPB) Bobina, em inglês Greta (?), atriz (Cin.)
3ª pessoa do discurso (Gram.) Atraente
Estar na posse de Receber um legado
Ingrediente do refogado A do nêutron é nula
Descanso (?) Remunerado: o DSR
Unidade Orçamentária (sigla)
Alcoólicos Anônimos (sigla) Que não é gostoso Raiz, em inglês
Abreviatura de "Santa" Diz-se do bolo que não cresce Programa humorístico da Rede Globo (TV)
Dotar de asas Oferta; concede
Ernesto Nazaré: compôs "Brejeiro" Trecho de história em quadrinhos
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Solução A V L I D E R I O N E E O E G N H E Z A I L A L G A R B O E E R N C I A S A A S E R U I M R G O L A O A E N O T IR A T O T A L
BANCO
Aparelho olímpico só para homens
G A RA G I M A T T R A CO O S T E L T A R A R A A A D R A
Pedro Marcelo Galasso - cientista político, professor e escritor. E-mail: p.m.galasso@gmail.com
Ninfa amada por Zeus (Mit.) Doenças como a sífilis e o HIV (sigla) Hierarquias do sistema judiciário
"We Are (?)", canção da Copa (2014)
L
a incerteza política no Brasil. O primeiro acidente, com um helicóptero, envolveu Ulisses Guimarães e o mais recente, em um avião, Teori Zavascki. A frase, “a política não Brasil não é para amadores”, ganha força por conta de todas as explicações confusas e toda a cadeia de coincidências que alimenta as discussões sobre o assunto e que aumenta nossa insegurança em um momento delicado da nossa História republicana, pois se o acidente não for um acidente, qual é o grau de proteção, de liberdade e de segurança pública e civil que temos no Brasil? Se a nossa instituição República for capaz de um ato tão atroz e violento quanto provocar a queda de um avião com um ministro e outras pessoas, qual é o grau de incivilidade e de não democracia que experimentamos? Havia a caixa preta, não havia a caixa preta, quem retira os destroços do avião, a operação de resgate não conseguiu perfurar a fuselagem, quem estava no avião? Nem mesmo estas questões básicas são esclarecidas. Se a queda do avião não foi um acidente, qual a diferença da violência do ato com a questão dos presídios no Brasil ou com a violência consentida, de forma irresponsável, pelo Estado e por todos nós? Trump é um problema, mas temos questões tão ou mais urgentes por aqui. De uma forma ou de outra, é legítimo dizer que todos perdemos. É legítimo dizer que assistimos o aumento de uma lógica do terror que se impõe a todos nós.
Acessório comum ao golfe e ao beisebol
S E D U T O R
A posse do presidente dos EUA, Donald Trump, tem provocado comoção e protestos em todo o mundo mesmo representando um direito legítimo daqueles que votaram e que expressa o pensamento, correto ou equivocado, de uma parcela da população estadunidense, caracterizada, pela sua História, como dividida e fragmentada, com posições que podem parecer estranhas para nós, mas que, no entanto, têm alguma lógica naquele país. Os protestos e as preocupações com suas ações no governo dos EUA são legítimos também. No entanto, é preciso que a análise seja feita de forma racional e institucional, ou seja, é preciso que as paixões sejam controladas e que não tornem a leitura de tal fato político, significativo por conta da força dos EUA, fique comprometida. Trump irá governar um país com uma sólida tradição republicana e com uma divisão de poderes mais equilibrada que a nossa, por exemplo, e com instituições mais sólidas e muito menos corruptas. Além disso, as ações dos que são a favor ou contra o presidente Trump expressam que seu governo terá de prestar contas a todos. É lógico que o perigo de suas ações existe. É lógico que tenhamos certo receio, mas é claro que seu governo será vigiado e acompanhado de perto por todos, principalmente, porque agora veremos a distância entre seus discursos e suas ações, entre suas promessas e suas realizações. Talvez seja daí, desta distância, que venha toda a insegurança que sentimos com relação ao seu governo. E de insegurança, nós, os brasileiros, entendemos bastante. Pela segunda vez, na Nova República, um acidente aéreo lança dúvidas e eleva
(?) Pereira: Paulo Betti em "Império" (TV)
"O que é de gosto, é (?) da vida" (dito)
Criatura Como é como o chamada Predador a cidade (Cin.) de Recife
P R E E S I D E I N T H ER U S S Z O
por pedro marcelo galasso
© Revistas COQUETEL
Indivíduos engraçados ou brincalhões A principal memória do sistema (Inform.)
3/dst — one — ram. 4/coil — root. 10/instâncias — paraglider.
A posse de Trump lá, a queda do avião aqui...
Cargo para o qual foi eleito Vladimir Putin Planador (2000-08 e do voo li- 2012-18) vre (ing.) Órgão formado de néfrons (Anat.) Edwin Aldrin, astronauta Reação natural à situação nova
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Jornal do Meio 885 Sexta 27 • Janeiro • 2017
por Shel Almeida
Quando se é jovem e cheio de planos, a cidade do interior não comporta todos os sonhos de realização. É preciso buscar um lugar que esteja preparado para suprir todas as necessidades de uma mente criativa e um coração afoito por novas conquistas e descobertas. Em uma cidade como Bragança, são inúmeros os jovens que passaram por esse processo, sejam eles músicos, arquitetos, advogados, médicos, atores, não importa. O sonho é grande, e a cidade de infância ainda continua pequena. Muitos saem do lugar onde cresceram para trilhar o próprio caminho e acabam não retornando. No entanto, outros não apenas regressam, como também mudam o olhar a respeito daquela cidade que antes era tão ausente de atrativos. A mudança, às vezes, está sem si mesmo, por conta da idade ou amadurecimento, às vezes está na própria cidade que progrediu, atualizou-se e já não é mais aquela das memórias juvenis. Foi mais ou menos assim a experiência do designer Eduardo Kosovicz que encontrou na Índia ferramentas de transformação pessoal e social que, inevitavelmente, carrega consigo desde então. Ferramentas essas que modificaram a si próprio e que irão, de alguma forma, modificar, também, a cidade para onde decidiu retornar. Para ele, Bragança tem grande potencial urbanístico, além de ser fonte de matéria prima de diversos materiais usados em bioconstrução. É preciso que os próprios moradores redescubram as qualidades da cidade, a fim de fazê-la um lugar melhor para todos. Faz parte do processo de autoconhecimento aprender novos mecanismos de mudança longe de casa. Mas, para que a transformação, de fato, aconteça, é fundamental que esse aprendizado seja aplicado em casa. Isso vale para a cidade como um todo. Já está na hora de Bragança passar por esse processo de se autoconhecer e também se reconhecer enquanto município e redescobrir os potenciais que a cidade guarda, em prol do bem comum.
Pelo mundo
Eduardo foi parar na Índia depois de uma viagem ao redor do mundo em busca de novas experiências e conhecimentos. Acabou chegando até a sociedade alternativa Auroville, no sul do país, após um contato com um amigo e um convite para palestrar sobre designer. O lugar foi construído com o propósito de ser uma “Cidade Universal”, onde todos pudessem viver em harmonia, independente de nacionalidade, raça, crenças, política, para realizar a unidade humana na diversidade. A proposta urbanística local é original, com a cidade em forma de um espiral, que simboliza a evolução humana. Cerca de 2 mil pessoas vivem ali, vindos de mais de 45 países. “Chegando lá eu me apaixonei por aquele modo de sociedade, as pessoas se respeitam, não tem assaltos, é um lugar que funciona dessa maneira há 40 anos. É um lugar de trabalho e pró-atividade. Acabei fazendo um curso de bioconstrução e executei um projeto de jardim vertical. Foi ali também que conheci o arquiteto Mohan Patel. A família dele trabalha com arquitetura há 700 anos, são sete gerações fazendo o mesmo tipo de trabalho. Na Índia, eles têm uma dedicação pela profissão, um amor pelo que eles fazem e é passado de pai para filho que é visível o resultado. Eles mantém o segredo da arquitetura cósmica indiana, uma ciência chamada Vastu Shastra, que trata do impacto que os espaço tem na consciência do ser
humano”, conta. Assim como o Feng Shui da China, mais conhecido no Brasil, o Vastu Shastra é uma técnica para harmonizar o ambiente, indicando a harmonia que se deve ter entre os elementos fora e dentro do corpo, no ambiente de residência ou de trabalho. Depois desse primeiro contato, a amizade e afinidade com Mohan foi crescendo e os dois fizeram uma expedição pelo norte da Kashmira, região restrita para turismo, mas com acesso permitido para indianos de determinadas castas. A intenção do arquiteto foi a de conhecer templos e construções criadas pelo princípio da Vastu Shastra, a fim de transmitir a Eduardo como aprendeu com a sua ancestralidade. “São prédios construídos há 800 anos e que permanecem ali até hoje. Isso me fez pegar o gosto pela arquitetura. Depois dessa viagem voltei para o Brasil e depois de uma tempo recebi um e-mail do Mohan me convidando para um projeto de uma escola no Himalaia. Fiquei muito feliz com o reconhecimento por terem me chamado de volta para a Índia para construirmos um projeto juntos. Eu entrei como designer de projeto, para aplicar economia criativa e designer de inovação, o Mohan como arquiteto”, fala.
Eduardo Kosovicz e Mohan Patel. Arquiteto indiano ensinou ao bragantino princípios da arquitetura ancestral Vastu Shastra.
Projeto na Índia
De volta ao país, a troca de experiência entre Eduardo, Mohan e a equipe de trabalho foi mútua. Não só ele aprendeu com o oriente, como também levou daqui alguns ensinamentos do ocidente. “Viver e trabalhar em um país do oriente abre bastante a cabeça, aprendemos muito sobre tolerância, pois se trata de uma cultura totalmente diferente em diversas questões culturais. O aprendizado foi para ambos os lados, Um exemplo, foi em relação ao trabalho das mulheres. Elas também trabalham em construção civil, algumas já idosas, mas recebem bem menos da metade do que os homens recebem, mesmo a gente percebendo que a maior parte do trabalho é realizado por elas, Para deixarmos a coisa mais justa, parte do meu salário e o do Mohan foi repassado a elas, para compensar a defasagem. Esperamos que, a partir disso, haja a consciência por parte de quem as contrata e delas também, para exigir melhor remuneração”, conta. O projeto para o qual Eduardo foi convidado por Mohan a retornar à Índia foi o de ampliação da escola Saraswati Vidya Mandir localizada em Himachal Pradesh. No entanto, ao chegarem ao local, notaram a possibilidade de irem além de uma simples extensão de área construída, para um projeto de desenvolvimento social. “Com a globalização, não apenas a paisagem foi sendo modificada, mas também as questões culturais que estavam enraizadas a mais de 3 mil anos na região. Observamos que os moradores das vilas estavam sendo obrigados a migrar para grandes centros em busca de trabalho e neste processo as novas gerações estavam deixando para traz muito de seus trabalhos artesanais, suas danças e costumes, adotando uma nova cultura mais artificial, proveniente da mídia que se instala na Índia atualmente. Tendo em vista estas considerações, propomos construir um campus escolar utilizando os materiais locais, estimulando a mão de obra local, assim como aplicar métodos construtivos tradicionais da região como o “Kath Khuni”. O projeto que chamamos Show Original Himachal, pretende tornar o campus estudantil um centro para a comunidade das vilas locais, onde a comunidade e a escola se fundem, trazendo uma ocupação mista de estudantes e pessoas de todas as idades”, explica.
Escola sustentável que está sendo construído no Himalaia quer manter vivas as questões culturais locais.
Campus estudantil que está sendo construído no Himalaia, pretende ser um centro para a comunidade das vilas locais. Projeto similar tem potencial para ser construído em Bragança.
Pelo princípio do Vastu Shastra, as edificações devem ter mais aproveitamento dos campos magnéticos que circundam. Todas as paredes devem estar alinhadas com o eixo norte e sul e leste oeste da terra, para que o fluxo de energias sofra menor influência.
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Informática & tecnologia
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Brecha do WhatsApp permite espionar mensagens criptografadas, diz jornal Por FOLHAPRESS
Um pesquisador da Universidade da Califórnia descobriu uma brecha de segurança do WhatsApp que pode ser usada pelo Facebook e por outras instituições para interceptar e ler mensagens criptografadas enviadas no aplicativo. De acordo com o jornal “Guardian”, Tobias Boelter, especialista em criptografia e segurança, encontrou o atalho. “Se agências do governo solicitarem ao WhatsApp o registro de mensagens, a empresa pode conceder esse acesso devido a uma mudança de chaves [de segurança]”, disse ele à publicação britânica. O Facebook, que controla o WhatsApp, afirma que ninguém pode interceptar essas mensagens -nem mesmo a empresa e sua equipe-, o que garante a privacidade dos usuários. O sistema de segurança gera chaves de segurança exclusivas, por meio do protocolo Signal, desenvolvido pela Open Whisper Systems. A criptografia “end to end” é um sistema utilizado pelo aplicativo para que a mensagem saia com uma espécie de “cadeado invisível” do dispositivo que a envia e só seja decodificada quando chega ao aparelho do receptor. Nos servidores da empresa, não são retidos nenhum vestígio do conteúdo dessas mensagens. A segurança do WhatsApp baseia-se na geração de chaves de segurança exclusivas, usando o aclamado protocolo Signal, desenvolvido pela Open Whisper Systems, que é negociado e verificado entre usuários para garantir que as comunicações são seguras e não podem ser interceptadas por um intermediário. No entanto, o WhatsApp tem a capacidade de forçar a geração de novas chaves de cifração para usuários off-line, sem que remetente e destinatário da mensagem original tenham ciência disso, e pode forçar o remetente a recifrar mensagens com novas chaves e enviá-las de novo, em caso de mensagens que não tenham sido marcadas como entregues. O destinatário não é informado dessa alteração na criptografia, enquanto o remetente é notificado somente se eles tiverem optado por avisos de criptografia nas configurações e somente após as mensagens terem sido reenviadas. Esta re-criptografia e retransmissão efetivamente permite que o WhatsApp intercepte e leia as mensagens dos usuários. Segundo o “Guardian”, Boelter relatou a vulnerabilidade ao Facebook em abril de 2016. A resposta foi que a empresa estava ciente do problema, que era um “comportamento esperado” e não estava sendo trabalhado. Um porta-voz da WhatsApp disse ao “Guardian” que “mais de 1 bilhão de pessoas usam o WhatsApp hoje porque é simples, rápido, confiável e seguro. Sempre acreditamos que as conversas das pessoas devem ser seguras e privadas. No ano passado, demos a todos os nossos usuários um nível de segurança melhor, fazendo com que cada mensagem, foto, vídeo, arquivo e chamada de ponta a ponta sejam criptografados por padrão. À medida que introduzimos recursos como criptografia de ponta a ponta, nos concentramos em manter o produto simples e levar em consideração como ele é usado todos os dias em todo o mundo.” “Na implementação do protocolo Signal adotada pelo WhatsApp”, acrescentou o porta-voz ao “Guardian”, “temos uma opção de configuração que permite exibir notificações de segurança, e ela notifica usuários sobre alterações em seu código de segurança. Sabemos que o principal motivo para que isso aconteça é que as pessoas troquem de celular ou reinstalem o WhatsApp. Isso acontece
porque, em muitas partes do mundo, as pessoas frequentemente trocam de aparelho e de chip. Nessas situações, queremos garantir que as mensagens enviadas a elas sejam entregues e não fiquem perdidas no caminho”. Steffen Tor Jensen, vice-presidente de segurança da informação e de combate à vigilância digital na Organização Europeia-Bahraini para os Direitos Humanos, verificou as descobertas de Boelter. “O WhatsApp pode efetivamente continuar lançando as chaves de segurança quando os dispositivos estão offline e reenviando a mensagem, sem deixar os usuários saberem da mudança até que ela tenha sido feita, fornecendo uma plataforma extremamente insegura”, disse ele ao jornal. A professora Kirstie Ball, fundadora do Centro de Pesquisa em Informação, Vigilância e Privacidade, chamou a existência de atalho dentro da criptografia do WhatsApp “uma mina de ouro para agências de segurança” e “uma enorme traição à confiança do usuário”. “É uma enorme ameaça à liberdade de expressão. Os consumidores dirão, eu não tenho nada a esconder, mas você não sabe que informação é procurada e que conexões estão sendo feitas”, completa. Ativistas de privacidade disseram que essa vulnerabilidade é uma “enorme ameaça à liberdade de expressão” e advertiram que ela pode ser usada por agências governamentais para espionar as pessoas, que acreditam que suas mensagens são seguras.
NO BRASIL: JUSTIÇA X WHATSAPP Desde 2015, a Justiça brasileira e o WhatsApp já travaram algumas disputas e o acesso ao aplicativo já foi bloqueado por quatro vezes. Em dezembro de 2015 e em julho de 2016, a empresa
alegou não poder fornecer conteúdo de conversas de investigados de crimes, já que as mensagens são criptografadas. O sigilo do conteúdo tem gerado discussão entre empresas e a Justiça. Abaixo, veja os casos de bloqueio ao app no país: 1ª vez - 25.02.2015 Em fevereiro do ano passado, um juiz do Piauí determinou o bloqueio do WhatsApp no Brasil, em razão de a empresa supostamente ter descumprido decisões anteriores relacionadas a investigações realizadas pela Polícia Civil do Estado. O motivo seriam crimes envolvendo crianças e adolescentes. “Até pouco tempo atrás nós fazíamos interceptações telefônicas, mas hoje ninguém usa telefone [para falar], usa o WhatsApp. Para que se possa saber o que criminosos comunicaram, onde estão, é através dos apps”, diz o juiz Luiz de Moura Correia, do Piauí. A decisão, contudo, foi suspensa por um desembargador do Tribunal de Justiça do Piauí após analisar mandado de segurança impetrado pelas teles e o aplicativo não chegou a ser bloqueado. 2ª vez - 17.12.2015 O desembargador Xavier de Souza, da 11ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo pediu o bloqueio do app como represália após a empresa se negar a quebrar o sigilo de dados devido a uma investigação criminal. A medida foi determinada pela 1ª Vara Criminal de São Bernardo do Campo. “Nós estamos desapontados com a decisão míope de bloquear o acesso ao WhatsApp, uma ferramenta de comunicação da qual tantos brasileiros vieram a depender, e tristes de ver o Brasil se isolar do mundo”, disse à época Jan Koum, cofundador e presidente-executivo do WhatsApp. O pedido inicial, de 48 horas de bloqueio, durou cerca de 12 horas. 3ª vez - 2.5.2016
O juiz Marcel Montalvão, da comarca de Lagarto (SE), pediu o bloqueio do aplicativo por 72 horas. O magistrado queria que a companhia repassasse informações sobre uma quadrilha interestadual de drogas para uma investigação da Polícia Federal, o que a companhia se negava a fazer. O bloqueio, no entanto, durou 25 horas. O desembargador Ricardo Múcio Santana de Abreu Lima, do Tribunal de Justiça de Sergipe, diz que a proibição do app no Brasil gerou “caos social em todo o território” e determinou o desbloqueio. “A suspensão dos serviços do WhatsApp já dura 24 horas e certo é também que gerou caos social em todo o território, com dificuldade de desenvolvimento de atividades laborativas, lazer, família etc.”, disse Santana. O processo que culminou na determinação de Montalvão é o mesmo que justificou, em março deste ano, a prisão de Diego Dzodan, vice-presidente do Facebook, empresa dona do app, para a América Latina. 4ª vez - 19.7.2016 A juíza Daniela Barbosa de Souza, da 2ª Vara Criminal da Comarca de Duque de Caxias determinou o bloqueio. O motivo, assim como aconteceu em outras oportunidades no Brasil, envolve o fato de o aplicativo não compartilhar informações sobre investigações criminais. A juíza determinou que o WhatsApp desabilitasse a criptografia que garante o sigilo das mensagens e permitisse o monitoramento das conversas de suspeitos de uma organização criminosa em Duque de Caxias em tempo real pelos investigadores. Ela já havia enviado três ofícios ao Facebook, dono do aplicativo, para que a ordem fosse cumprida. Mas a empresa se negou a atender à determinação, e foi por isso que a juíza mandou bloquear o serviço. Foto: Divulgação
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Saúde
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Maconha em casa
Pais plantam maconha em casa com fins medicinais, famílias obtêm autorização judicial para cultivar a planta e tratar crianças, variedade de maconha usada tem uma maior concentração de canabidiol, que trata epilepsias graves Por NATÁLIA CANCIAN/FOLHAPRESS
Em uma audiência na Justiça, a bancária Maria Aparecida de Carvalho, 49, não hesitou. “Falei: Excelência, eu já estou plantando. E não me sinto criminosa por isso”. A planta em questão, mantida em casa, é a Cannabis, cujo cultivo é proibido pela lei brasileira. É a harle-tsu –variedade da maconha com maior concentração de canabidiol, substância conhecida por efeitos terapêuticos e por não gerar efeito psicoativo– que vem o óleo artesanal extraído por ela para o tratamento da filha Clarian, 13. A menina sofre com síndrome de Dravet, doença rara que provoca epilepsia, com risco de complicações graves. No fim de dezembro, a Justiça fez com que a família de Clarian fosse uma das primeiras do país a conseguir um habeas corpus que os autoriza a cultivar maconha para uso próprio e medicinal. A medida impede autoridades policiais de efetuar prisão em flagrante ou apreender e destruir as plantas, ações previstas na legislação. “Não há a menor dúvida que o semear, cultivar e dispor da planta por esta família nada tem a ver com o tráfico”, escreveu no despacho o juiz Antônio Patino Zorz, da Corregedoria de Polícia Judiciária de São Paulo. A decisão ocorreu poucos dias depois de duas outras famílias, também com crianças que sofrem de doenças raras, terem obtido aval semelhante –e aberto caminho para que mais pessoas façam o mesmo. Segundo o advogado Emílio Figueiredo, da Rede Jurídica pela Reforma da Política de Drogas, essas foram as primeiras autorizações do gênero. Até então, a maioria das ações judiciais relativas ao uso medicinal da maconha envolvia pedidos para que o Estado fornecesse produtos à base de Cannabis feitos no exterior. Desde 2014, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária tem autorizado, caso a caso, a importação de alguns desses itens com laudo e receita médica. Mas os custos ainda são considerados altos –em alguns casos, chegam a US$ 1.500 (R$ 4.800) por mês. “Como professor, não tenho como pagar isso”, diz Alexandre Meirelles, 49. Sem ter como custear o produto, ele conseguiu na Justiça que o governo do Rio fornecesse à família o canabidiol para o filho Gabriel, 14, que sofre de epilepsia severa. O produto não veio. “O Estado alega que não tem dinheiro, que está em crise. Já estou esperando há um ano e cinco meses, mas a doença não espera. Tive que fazer alguma coisa”, relata, sobre a iniciativa de cultivar a Cannabis.
RISCO
Em novembro, a família dele e de Margarete Brito, 44, ambas do Rio, também conseguiram o salvo-conduto para cultivar a maconha. “Se o Estado não pode cumprir esse papel, ele tem que permitir ao menos que nós façamos”, diz Margarete, também presidente da Associação de Apoio à Pesquisa e Pacientes de Cannabis Medicinal. Há dez meses, ela mantém vasos da planta,
cujo extrato é usado para tratar a filha Sofia, 8, que tem a síndrome CDKL5, doença rara que causa epilepsia. Margarete aprendeu pela internet e com outros cultivadores a extrair o óleo. Em geral, o receio de ter as plantas apreendidas foi o que motivou as famílias a tentar obter o salvo-conduto. A lei não diferencia a quantidade entre tráfico e consumo. “E se chegar alguém aqui, vão destruir? Tenho que garantir o direito da minha filha”, diz Maria Aparecida. Segundo ela, desde que a filha Clarian começou a tomar gotas do óleo, em 2014, as crises diminuíram 80%. “Antes, duravam até uma hora. Agora, ela volta em minutos.” Para Margarete, apesar das decisões abrirem caminho para apoio ao cultivo medicinal, ainda há impasses. “Mesmo que outras famílias entrassem com habeas corpus, elas teriam que importar ilegalmente a semente”, diz. E foi exatamente isso que ela fez.
Foto: Ricardo Borges/Folhapress
UFRJ quer analisar efeitos das substâncias presentes na maconha Ao mesmo tempo em que discussões sobre o cultivo da maconha para uso medicinal avançam na Justiça, a análise dos extratos artesanais e importados produzidos a partir da Cannabis começa a ganhar espaço nas universidades. É o caso do Farmacannabis, projeto da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) que visa analisar óleos à base de maconha. O objetivo é saber qual é, de fato, a concentração de derivados da maconha nesses produtos –casos como o CBD (canabidiol) e o THC (tetrahidrocanabinol), por exemplo. “Vamos verificar as concentrações dos extratos e ver como está indo o tratamento, ou seja, se podemos associar a resposta ao maior nível de algumas substâncias”, explica a professora-adjunta de farmácia Virgínia Carvalho, que coordena a proposta. Segundo ela, muitos óleos importados anunciam nos rótulos maior proporção de canabidiol, mas há dúvidas sobre a real concentração. A dúvida também ocorre porque o THC é visto com ressalva por alguns médicos pelo efeito psicoativo –o canabidiol já tem aval do Conselho Federal de Medicina para uso compassivo em crianças com epilepsia. Há casos, no entanto, em que o THC também tem sido indicado por médicos. Após as decisões na Justiça, famílias que ganharam o aval para cultivo da maconha iniciaram uma campanha virtual para arrecadar recursos para o projeto da UFRJ. A ideia é obter R$ 60 mil, usados para compra de insumos para análise dos óleos. Já foram arrecadados R$ 17 mil. A ideia é investigar extratos usados em até 300 tratamentos. Para o neuropediatra Eduardo Faveret, saber as concentrações é importante para o tratamento. “Na epilepsia, se muda um lote e a dose cai até 30%, isso pode gerar uma crise epiléptica e instabilidade”, diz.
Alexandre e Fátima Meirelles passaram a cultivar maconha para tratar o filho Gabriel. Foto: Karime Xavier/Folhapress
Clarian, 13, que tem síndrome de Dravet, e seus pais; a doença provoca epilepsia e pode levar a graves complicações
Saúde
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Herpes
Crianças correm risco maior de contrair o vírus da herpes, doença aproveita para atacar quando sistema de defesa do corpo está baixo. Beijo pode transmitir por TATIANA CAVALCANTI/FOLHAPRESS Arte: Folhapress
Expor-se ao sol por horas pode levar à queda da imunidade e abrir espaço para que o corpo seja infectado pelo vírus do herpes simples. A doença acomete gente de todas as idades, mas as crianças, por ainda não terem seu sistema de defesa totalmente formado, podem pegar de maneira mais fácil. “Esse é um vírus oportunista”, diz a infectologista do Hospitale Maternidade Santa Joana Rosana Richtmann. A médica explica que o vírus do tipo simples se aproveita do momento de fragilidade do corpo para atacar. Por isso, quem está na praia, por exemplo, tomando muito sol, se alimentando mal ou até dormindo menos pode ficar mais vulnerável. Os sintomas da doença são as bolhas que aparecem dentro da boca ou fora, em volta dos lábios. A dor, porém, é o principal. “Às vezes a criança não consegue engolir alimentos por causa da dor”, diz Rosana. O pediatra e infectologista do Hospital Infantil Sabará Marco Aurélio Safadi diz que o contágio é muito comum. Ele pode ser dar, por exemplo, por beijo, contato com saliva, e por copos e talheres infectados. Entre crianças em idade escolar, a possibilidade de pagar doença é ainda maior. “Elas compartilham as coisas e levam muito as mãos e objetos à boca”, diz. Transmite a doença quem tem as bolhas aparentes. Mas mesmo quem não tem sintoma algum pode estar com o vírus ativo e contaminar os outros. “O herpes fica no corpo para sempre”, diz Safadi. Não há cura, apenas crises, que podem ou não reaparecer, mas o primeiro surto é sempre o mais forte. Cuidado especial devem ter as gestantes, pois os fetos podem pegar o vírus do herpes durante o parto -caso elas tenham herpes genital-ou se a bolsa estourar. A cesariana é uma forma de evitar o contato do bebê com as feridas durante o parto. Complicação pode deixar sequelas Uma complicação possível do herpes pode tanto deixar sequelas f ísicas e neurológicas quanto levar o paciente à morte, como explica a infectologista do Hospital e Maternidade Santa Joana Rosana Richtmann. Trata-se da meningoencefalite, inflamação na região do cérebro. Entre os sintomas estão confusão mental, convulsão, febre, dor de cabeça e vômitos. Deve-se buscar ajuda médica imediata.
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Jornal do Meio 885 Sexta 27 • Janeiro • 2017