889 Edição 24.02.2017

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Braganรงa Paulista

Sexta

24 Fevereiro 2017

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jornal do meio

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Para pensar

Jornal do Meio 889 Sexta 24 • Fevereiro • 2017

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É Carnaval! por Mons. Giovanni Baresse

Quando se fala em carnaval

da, possivelmente, da expressão

não dignificam ninguém. O grande

momento de confraternização

sempre se buscam suas

“carrum navalis”, que designava

desafio do carnaval dos nossos

alegre e “spensierata”, como di-

origens. Elas são múltiplas

os barcos adornados para a festa

dias está na exploração sexual e

zem os italianos. Penso que vale

e bem variadas. Hoje ficou mais

de Baco-Dionísio. Para outros a

nas diferentes drogas oferecidas.

a pena ser sonhador! A grande

fácil buscar notícias no Google,

origem seria derivada do costume

Em muitos lugares o carnaval

capacidade que o ser humano

Wikipedia, etc. Normalmente

da Igreja católica de preparar a

tornou-se ocasião para expor o

tem é a de compreender que pode

os historiadores vão buscar a

festa da Páscoa com um sinal

corpo humano para satisfação

ser melhor. E aquilo que realiza

origem do Carnaval nas fontes

penitencial. Assinalado um tem-

única e exclusiva do instinto se-

também. Por que não começar um

da nossa civilização. Suas raízes

po simbólico de quarenta dias,

xual. Os corpos tornam-se objetos

trabalho de formiga para mudar

estariam nos ritos de fertilidade

a “quaresma”, os cristãos eram

do desejo. Entra-se num clima de

a tônica do tríduo momístico?

e das colheitas celebrados no

convidados a “deixar a carne”.

“liberou geral” com os excessos do

Tenho certeza que a maioria dos

Egito e no Crescente Fértil. Mais

Fazia-se uma festa que servia de

álcool e de outras “mercadorias.

pais gostaria de ver filhos e filhas

proximamente, na Grécia antiga,

despedida desse alimento. Essa

Não existe mal em festejar. Aliás,

inteiros e felizes durante e depois

o carnaval seria uma expressão

quaresma servia para preparar a

é necessário festejar. São as festas

do carnaval. Por que não começar

nova dirigida a Dionísio, deus do

celebração que fazia memória do

que nos mostram a beleza que a

uma valoração diferenciada nos

vinho, de algum modo também

sofrimento e da morte de Cristo

vida pode ser quando os encontros,

diálogos escolares? Por que não

ligado à vida agrícola. Da Grécia

até desembocar no glorioso dia

os gestos de afeto, as presenças

falar daquilo que pode dignificar

para Roma a festa era feita ao deus

da sua Ressurreição. Como se vê

das pessoas fazem experimen-

o viver da alegria, do encontro,

Baco (nome latino de Dionísio).

há teorias para todos os gostos!

tar o quanto é bom conviver! O

da festa, do descanso que o car-

Posteriormente a celebração

Ao falar do Carnaval muito se fala

risco está em limitar a “alegria”

naval pode oferecer? Por que não

das Saturnais (Saturno, deus

se vale à pena, se é coisa boa, se

ao que se possa consumir de

mostrar que não vale a pena de

do Tempo) tomou totalmente

é elemento forte para incentivar

humano e de outros “produtos”.

confundir liberdade com liberti-

o espaço revestindo-se da festa

o turismo, se o Poder Público

Esse tipo de atitude escraviza

nagem? Creio que é uma questão

pela liberdade e igualdade entre

deve subvencionar as Escolas de

e destrói. Muita gente exorciza

de escolha! E é melhor escolher

as pessoas. Há ainda quem diga

Samba, se é pecado, etc. Penso

o carnaval pelos seus abusos. E

certo! Neste campo há muito que

que existe certa ligação com a

que as expressões culturais, fes-

é justo. Creio, todavia, que uma

fazer. Mais uma vez o Ministério

deusa do amor Afrodite (Vênus

tivas fazem parte de nossa vida.

ação educativa de largo espectro

da Saúde, sob o sofisma de que

para os romanos). Uma teoria mais

Naturalmente que não pode

poderia redimensionar essa festa

é melhor prevenir que remediar,

próxima a nós coloca a palavra

haver aprovação quando a coisa

dando-lhe ou devolvendo-lhe as

se coloca como distribuidor de

carnaval na Idade Média surgi-

se encaminha para atitudes que

características construtivas de

preservativos. A tal camisinha

Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli Jornalista Responsável: Carlos Henrique Picarelli (MTB: 61.321/SP)

As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão. As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Bragança Jornal Diário.

será distribuída de graça. Com o seu, o meu, o nosso dinheiro! O Ministério diz que o tratamento das DST, AIDS, etc. é muito mais dispendioso e será pago também com o dinheiro do contribuinte. No raciocínio raso isto tem sentido. Numa visão mais ampla seria importante que na “empolgação” nunca fossem tomadas decisões ou fossem usados gestos (como a relação sexual) que exigem consciência e responsabilidade. Parece, contudo, que uma campanha educativa que levasse as pessoas a ter visão mais profunda sobre comportamento, sexualidade e diversão (independentemente de uma determinada visão religiosa) não interessa muito. Resta esperar que não tenhamos acréscimo de infectados e de filhos da empolgação!


Reflexão e Práxis

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PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS

www.coquetel.com.br

Fórmula mágica para

“salvar” o país? (Parte I)

© Revistas COQUETEL

O terceiro Fundamento da filho de reflexologia podal Jacó e Lia Mamífero desdentado (Bíblia) predador de cupins

Confronto como o de (?) dos Pa- Matar Waterloo (1815), que tins, drag (a fome pôs fim à carreira queen ou a sede) política de Napoleão

As histórias não baseadas na realidade

Linha Porém; (abrev.) todavia Desfile de veículos em comemoração

Afligir; torturar (fig.)

por pedro marcelo galasso

dinheiro como único elemento de distinção,

violento, pois compreendem posturas inclu-

um Estado que se impõe de forma cada vez

sivas e valorativas com as questões públicas.

mais truculenta e uma grande parcela da

Ainda que não exista uma fórmula definida

população acreditando que cabe somente a

ou mágica para sua realização, estas experi-

escola a responsabilidade de “salvar” o país

ências, quando bem conduzidas e voltadas

que foi mergulhado, sem nenhuma consulta

para as realidades dos locais considerados,

ou reflexão cuidadosa, em uma reforma do

os resultados são incontestáveis, tais como a

ensino médio que nem o próprio MEC con-

diminuição da evasão escolar, altos índices de

segue definir ou explicar.

rendimentos em provas padronizadas, como

Neste cenário, seguem algumas reflexões sobre

o Enem, uma melhora no trabalho docente,

as possibilidades de ações pedagógicas que

um maior interesse por parte dos alunos e

estão distantes de uma formula mágica ou

o envolvimento das famílias no processo de

única, mas que servem como parâmetros para

aprendizagem dos seus filhos, questões que

outras propostas e leituras sobre a educação

nem de longe foram considerados na “reforma”

brasileira, sem cairmos no risco da segregação

imposta pelo governo federal, cujo ministério

que vislumbramos no nosso futuro, além de

da Educação tem como seu ministro um

algumas frases para ilustrar o texto.

gestor e não um educador.

Quem nada conhece, nada ama. Quem nada

Cada instituição deve, portanto, procurar

pode fazer, nada compreende. Quem nada

pensar qual papel pretende assumir frente

compreende, nada vale. Mas quem compreen-

a sua comunidade para, a partir daí, definir

de também ama, observa, vê... Quanto mais

ou pretender idealizar o que espera e o que

conhecimento houver inerente numa coisa,

fazer com uma proposta de projeto. Como

tanto maior o amor... Aquele que imagina

cada instituição é única, na acepção mais

que todos os frutos amadurecem ao mesmo

concreta da palavra, cada proposta de projeto

tempo, como as cerejas, nada sabe a respeito

também precisa ser única.

das uvas. (Paracelso). Antes de qualquer consideração, é importante dizer que alguns países trabalham com

Pedro Marcelo Galasso - cientista político,

projetos pedagógicos que tentam criar nas

professor e escritor.

escolas um espírito de participação pública

E-mail: p.m.galasso@gmail.com

Face da moeda oposta à “coroa” Régua, Carneem inglês seca A deusa- Armadilha Terra (Mit.) (p. exp.)

David Guetta, músico francês

(?) loco: no mesmo lugar (latim)

Aminoácido presente no leite

Injúria (?), atitude que pode levar à prisão

O boi vermelho da Festa de Parintins

“A (?) É das Estrelas”, filme com Willem Dafoe Naturalidade de Belchior BANCO

“Preços”, em IPC Decifra o escrito

Membros de voo Base de pandeiros

Cecília (?), atriz de “Viver a Vida”

Instituto de Segurança Pública (sigla)

As vias que admitem até 30 km/h para carro 19

Solução

L

sem os apelos perigosos de um patriotismo

M I T A MA S S A G E M N O S P E S

elite inculta que crê na posse do

C I A A N N R D R Q U E A A L T I D A S A I S E N S C A I

educacionais alimentando o caráter cívico,

L I S A B E A V CA F I C T I C A R A R U L E C H A I A A C I R A N M L P A E A R L O

que não inspira confiança, uma

“(?) Karenina”, obra de Tolstoi

G A R G A P C U C A

dentro e fora dos limites físicos das instituições

2/in. 4/anna — gaia. 5/ruler. 6/lisina. 7/cruciar. 8/carreata. 9/isabelita. 13/batalha campal.

As nomeações vexatórias, a Justiça


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por Shel Almeida

Brincar o carnaval é sempre uma diversão. Festa, calor, alegria. No imaginário popular, esse é o momento em que tudo é permitido. Mas não é bem assim. O assédio, em qualquer época do ano é desagradável, só que no carnaval ele tende a se intensificar. A mistura bebida, calor e machismo nunca tem bom resultado. Muitas mulheres, por mais que estejam com vontade de se divertir como todo mundo, desistem de participar de qualquer coisa relacionada ao carnaval porque sabem que serão incomodadas. Pensando nisso surgiu a campanha “Carnaval sem Assédio”, a fim de conscientizar os homens de que não legal incomodar com grosserias e sexismo e que as mulheres têm todo o direito de negar qualquer tipo de investida que não lhes agrade. Para as mulheres, a campanha funciona como um alerta de que é preciso que uma esteja atenta ao que está acontecendo com a outra. Em Bragança, o Coletivo Feminista Rosa Não Cala aderiu à campanha e saiu às ruas no último dia 19, junto com os blocos que abrem o carnaval. No grupo tinha jovens garotas, mulheres adultas, homens, crianças e até um cachorro. Todos interessados em se divertir, claro. Mas também em conscientizar que a diversão só é saudável se existir respeito. Não é não Um dos pontos chaves da campanha é que as mulheres protejam umas às outras. Ou seja, se você perceber que uma mulher está sendo assediada, ofereça ajuda, intervenha. Beijos forçados, toques em partes do corpo sem permissão, puxões no braço ou cabelo e cantadas de baixo calão, infelizmente, são comuns. Se estivermos atentas umas às outras, será mais fácil de resolver os problemas que venham a surgir, porque, sem dúvida alguma, juntas somos mais fortes. Aos homens é preciso, acima de tudo, conscientização. O assédio não é apenas desrespeitoso e errado, é crime também. “A maior dificuldade em casos desse tipo de assédio é que você não consegue identificar a pessoa. É difícil saber o nome ou onde encontrar para depois poder mover uma ação contra. Uma das primeiras coisas que acontecem muito é assédio verbal, falar gracinha ou cantadas mal educadas Isso é considerado uma contravenção penal. Nesse caso, gera apenas uma multa. Esse tipo de contravenção se chama ‘importunação ofensiva ao pudor’ e está no artigo 61 na Lei de Contravenções Penais. Se você conseguir identificar o agressor e fazer um boletim de ocorrência, você pode levar adiante. Mesmo que a pena não tenha muito reflexo criminal, a pessoa ficará fichada, o que pode vir a ajudar outras mulheres posteriormente. Mas, se o caso for de ofensas aí pode levar ao crime de injúria, que, aí sim há reflexo criminal”. fala a advogada Luiza Falcão. Por isso é tão importante que as mulheres estejam unidas. Filmar, fotografar e ajudar como testemunha é sempre fundamental para que o agressor possa ser punido conforme a lei. E não apenas isso: que não venha assediar uma mulher novamente, porque sabe que terá que responder pelos seus atos. Para os homens que têm consciência de que não é legal assediar, é preciso mais do que isso. É preciso intervir também. Não adianta você fazer a sua obrigação

enquanto ser humano ao respeitar as mulheres se vê o seu amigo ou colega assediando e não faz nada. Atentado à dignidade sexual “Desde 2009 o estupro engloba qualquer ato libidinoso em que uma pessoa coloque a mão na outra. Beijar a força e passar a mão, agora é considerado estupro. Antes só a conjunção carnal do homem com a mulher entrava nesses casos. Hoje os homens que se sentirem assediados também podem recorrer à lei. O que antes era considerado atentado violento ao pudor hoje é considerado estupro. E nesse caso, a pena de reclusão é de 6 meses a 10 anos. Se a vítima for menor de 18 e maior de 14, a pena é de 8 meses há 12 anos. E se for menor de 14 anos é estupro de vulnerável. Aí a pena é ainda maior e o crime é considerado mais grave. Esse tipo de assédio ou agressão é considerado um atentado à dignidade sexual. Esse termo é bem importante porque significa que a pessoa pode dispor do próprio corpo da maneira que ela quiser, sem ninguém invadir”, explica Luiza. É sempre bom lembrar também que, se mulher, mesmo adulta, estiver embriagada, o que a impede de ter consciência para consentir o ato sexual, isso também entra na lei que se refere à estupro de vulnerável. E mesmo que muita gente tente culpabilizar a vítima ao dizer coisas como “quem mandou beber” é sempre bom lembrar que ingerir álcool não é crime. Induzir alguém que não está plenamente consciente por causa do álcool a fazer qualquer tipo de atitude sexual, é. “Para denunciar algum caso de assédio ou agressão, física ou verbal, é preciso saber o nome do agressor e fazer um boletim de ocorrência na Delegacia da Mulher. Não precisa procurar a delegacia na hora. O ideal, no momento da agressão, é pedir auxílio à Polícia Militar ou à Guarda Municipal. É importante, também, pegar os dados desse agente de segurança para que ele possa ser convocado e prestar esclarecimento na delegacia ou até mesmo no Fórum, dependendo do que for. No caso de estupro com conjunção carnal a primeira coisa a se fazer é procurar o hospital para tomar os medicamentos necessários. A partir disso, o próprio hospital tem que fazer o encaminhamento para polícia, que vai apurar de acordo com o relatório do hospital”. O que você pode fazer Várias campanhas contra o assédio no carnaval estão sendo divulgadas pela internet. Algumas são bem simples e você também pode fazer parte, independente de ser homem ou mulher ou de participar de algum coletivo. Quem saiu junto com o Rosa Não Cala no desfile dos blocos, por exemplo, pintou ou amarrou uma faixa vermelha no braço. Isso quer dizer que essas pessoas estão disponíveis para ajudar em caso de assédio. Outra atitude bem simples é andar com um apito e usá-lo quando presenciar uma agressão. Chamar a atenção e desvencilhar o agressor da vítima é sempre o mais importante. Depois, chame os agentes de segurança, ofereça água, uma palavra de apoio. Filme, fotografe, faça o que estiver ao seu alcance. O carnaval só é divertido se todo mundo puder aproveitar junto. E o assédio não deve fazer parte disso.

O Coletivo Feminista Rosa Não Cala aproveitou o desfile dos blocos para participar da campanha Carnaval Sem Assédio

Carnaval é diversão mas também é conscientização

A advogada Luiza Falcão explica que desde 2009 o que antes era considerado atentado violento ao pudor, agora é considerado estupro e a pena pode variar de 6 meses a mais de 12 anos de prisão de acordo com a idade da vítima.


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Brincando de corromper Pesquisadores usaram um teste para avaliar se a corrupção surge aos poucos ou de uma só vez

Por REINALDO JOSÉ LOPES/FOLHAPRESS

No país da Lava Jato, muita gente deve estar se perguntando como um cidadão inicialmente honesto se transforma num corrupto de mão cheia. Um estudo holandês investigou essa questão, e os resultados indicam que a metamorfose pode ser repentina: dada a oportunidade, qualquer um está sujeito a cometer corrupção da grossa. Os especialistas liderados por Nils Köbis, do Departamento de Psicologia Experimental e Aplicada da Universidade Livre de Amsterdã, queriam saber se o comportamento corrupto é mesmo o que se costuma designar, em inglês, com o termo “slippery slope”, algo como “ladeira escorregadia”. “Slippery slope” é expressão usada em debates quando uma pequena brecha no comportamento considerado moralmente aceitável é vista como desculpa para coisas cada vez mais questionáveis. No debate sobre manipulação genética de humanos, por exemplo, os contrários à prática argumentam que permitir que pais selecionem embriões com base no sexo do futuro bebê (digamos) levará a uma seleção de características consideradas desejáveis –cor do cabelo e dos olhos, altura– e, no fim, a alterações ainda mais intrusivas, com consequências desastrosas para a nossa espécie. A “escorregada” que a equipe holandesa estudou não é nem de longe tão apocalíptica. O que eles queriam saber é se, para cometer um ato sério de corrupção, a pessoa precisa primeiro passar por uma fase de “preparação psicológica”, agindo de forma antiética de maneira aparentemente mais suave antes de dar seu grande golpe. A ideia é que essa fase inicial da descida da “ladeira escorregadia” levaria o corrupto embrionário a pensar que não está fazendo nada de mais, que seus atos foram só um meio para resolver um problema chato com mais rapidez. Com isso, ele continua a ter uma autoimagem positiva e não percebe ter cruzado uma linha perigosa quando faz algo mais sério. JOGO DA LICITAÇÃO Para testar a validade da hipótese, Köbis e seus colegas organizaram o que podemos chamar de Jogo do Leilão (no Brasil, poderia ser apelidado de Jogo da Licitação). No jogo, dois participantes, que começavam com uma quantia fixa de créditos virtuais, tinham de dar lances para ver quem ganhava o prêmio da brincadeira (veja infográfico). Em algumas versões do experimento (foram quatro variantes), esses créditos eram convertidos numa pequena soma em euros. Cada jogador desempenhava o papel de dono de uma construtora, enquanto outro jogador fazia as vezes de funcionário público responsável por administrar o leilão. Como os dois jogadores podiam apostar todos os seus créditos no leilão, e como ambos recebiam o mesmo valor inicial, a estratégia “honesta” era simples: fazer a oferta máxima, de modo que o funcionário público dividia a licitação igualmente entre as duas empresas, de modo que ambas tinham um lucro. Havia, porém, uma “cláusula de malandragem”: era possível oferecer suborno ao funcionário público, o que dava aos donos da empresa uma vantagem injusta em relação a seu concorrente. É aí que foi possível testar a ideia de “slippery slope”. Um dos grupos de participantes podia oferecer de cara uma propina muito sedutora ao funcionário –férias em Paris com tudo pago. Já o outro tinha de primeiro oferecer apenas um jantar e só depois tinha a chance de dar a passagem para a França. No primeiro caso, a vitória na licitação ficava garantida, no segundo a chance de vencer o leilão ficava 50% maior. Resumindo: quando havia a oportunidade de oferecer a superpropina, as pessoas tendiam a agarrá-la. “O comportamento antiético nem sempre surge gradualmente, mas às vezes ocorre de forma abrupta, espontânea e inesperada”, diz Köbis. “As pessoas podem querer obter as vantagens ligadas a formas marcantes de corrupção numa única ação.” O especialista diz esperar que estudos sobre como as pessoas tomam decisões sobre esses temas ajudem a criar mecanismos que minimizem os riscos de corrupção na vida real. O estudo foi publicado na revista especializada “Psychological Science”.


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antenado

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Nova edição traz inéditos

de Oswald de Andrade

Vinte e dois poemas foram achados há 20 anos, mas só agora são revelados. Textos, hoje guardados na Unicamp, foram incluídos no novo volume das ‘Poesias Reunidas’ do autor Por MAURÍCIO MEIRELES/FOLHAPRESS

Não está claro por que Oswald de Andrade (1890-1954) não os publicou, uma vez

Antes de todos

que são textos acabados. Mas agora eles vêm à tona.

Os Poemas

A nova edição das “Poesias Reunidas” do modernista traz 22 poemas inéditos do

De Mário de Cendrars de

autor, que ficaram guardados nos antigos cadernos dele. O lançamento, neste sábado

[Luiz Aranha e de Manuel

(12), terá leituras de Arnaldo Antunes.

Eu trabalhei

A descoberta foi feita há mais de 20 anos, pelas pesquisadoras Gênese Andrade e Dileia

Com um cinzel

Zanotto Manfio. A ideia era tê-los publicado numa edição coordenada por Jorge Schwartz,

[retardatário

crítico literário e professor da USP.

Era O último passeio em

O volume faria parte da Coleção Archivos, projeto internacional de edições críticas de

[20 anos

autores latino-americanos, mas acabou por nunca ser lançado. Como a Companhia das

De um tuberculoso

Letras começou a lançar a obra do modernista no ano passado, resolveu incluir os textos.

Pela Cidade

“Pela qualidade, não vejo os poemas como exercícios. Eles estão sintonizados com vários

De bonde

momentos da poesia, em especial os da década de 1920. Mas não sabemos a razão de não

Dlen! Dlen!

terem sido publicados”, diz Schwartz.

Eu o poria neste papel

As “Poesias Reunidas” haviam sido publicadas primeiro em 1945 em uma edição de luxo

Retirado de ‘poesias Reunidas’ (Companhia das letras), de Oswald de Andrade

e, depois, em 1966. Ou seja, eram mais de 40 anos com o livro fora de catálogo.

Foto: Divulgação

Quando os poemas foram descobertos, nos anos 1990, os originais ainda pertenciam aos herdeiros. Hoje, estão nos arquivos da Unicamp. universidade “Acredito que ficaram esparsos, eventualmente excluídos numa primeira seleção, ou podem ter sido escritos posteriormente e guardados. O trabalho de arquivo, ao contrário do quem em Mário de Andrade, nunca foi o forte do Oswald”, diz Schwartz. Entre os inéditos, há dois intitulados “História de José Rabicho”. O primeiro é um conjunto de 14 poemas curtos; o segundo, um poema em prosa. Para Schwartz, ambos têm “o frescor” de “Pau Brasil” (1925) – seja pelo poder de síntese, seja pelo humor. Ironicamente, um deles, chamado “Reivindicação”, começa com os versos “Que pena/ Não achar/ Aquele Poema/ Que eu fiz/ Antes de todos/ Os poemas.” “Esses poemas não têm valor só por serem inéditos, mas por terem valor estético. Vejo todas as marcas da poética do Oswald. Uns, da época de ‘Pau Brasil’, têm o espírito do poema curto, do poema-piada”, diz Gênese Andrade. Além dos inéditos e de “Pau Brasil”, as “Poesias Reunidas” trazem “Primeiro Caderno do Aluno de Poesia Oswald de Andrade” (1927), “Cântico dos Cânticos para Flauta e Violão” (1942) e “O Escaravelho de Ouro” (1946), entre outros. “A síntese, a apropriação, o coloquialismo, a fragmentação, o elemento naif, fazem do Oswald um poeta moderno e também um poeta contemporâneo do século 21”, afirma Schwartz. POESIAS REUNIDAS Autor Oswald de Andrade Editora Companhia das Letras Quanto R$ 59,90 (328 págs.)

TRECHO Que pena Não achar Aquele Poema Que eu fiz

O escritor modernista Oswald de andrade; em foto de 1928.


Saúde

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Bexiga hiperativa Urinar muitas vezes ao dia é sintoma de bexiga hiperativa por GISLAINE GUTIERRE/FOLHAPRESS

Envelhecimento pode levar a

saem os sintomas. Outra é o diabetes.

versidade Federal de São Paulo), diz

quadro igual ao de quem tem bexiga

pessoa a ter vontade de urinar

Importante é buscar tratamento. Ao

que muitas mulheres, com medo de

hiperativa. Com ansiosos, pode ocorrer

mais de oito vezes ao dia e até durante a

menos para ter melhoras.

terem infecção urinária, evitam se-

a mesma coisa. A depressão pode ser

noite. Esses são sinais típicos da bexiga

Ansiedade também pode ser causa

gurar a urina, indo muitas vezes ao

associada a esse mal, mas a medicina

hiperativa, que não é uma doença, mas

O urologia Alex Meller, da Unifesp (Uni-

banheiro. Isso pode levá-la a ter um

ainda não explica as razões.

um sintoma que indica outra causa. “Não dá para dizer que a bexiga hiperativa é consequência normal do envelhecimento, mas a incidência aumenta com a idade”, diz o urologista Marcos Paulo Freire, do Hospital Moriah. Isso acontece por vários motivos. Seja porque o sistema que envia ao cérebro os sinais de vontade de urinar já não funciona bem, seja porque a bexiga perdeu sua elasticidade e com pouco líquido já desperta a vontade. Freire diz que é importante que idosos com esses sinais vão ao médico. “Sei que alguns ficam com vergonha, até porque, às vezes, vaza um pouco de urina, mas há como tratar isso”, diz. O diagnóstico é baseado na conversa com um médico, como explica o urologista Alex Meller, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). O médico pode pedir que a pessoa anote todas as vezes que vai ao banheiro, em uma espécie de diário, e pode, eventualmente, pedir exames de laboratório. Meller diz que, além da vontade urgente de urinar, a pessoa com bexiga hiperativa costuma soltar pouco líquido de cada vez. Ela pode também não conseguir segurar a urina até chegar ao banheiro. Fazer exercícios que ajudem a programar as idas e a segurar a bexiga faz parte do tratamento inicial. Cada passo do tratamento avança ou não conforme a necessidade. E a cura total vai depender de eliminar a causa, se isso for possível. Meller diz que quase sempre a bexiga hiperativa é resultado de outra doença. Uma bem comum é infecção urinária. Tratada,

Arte: Folhapress


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