Braganรงa Paulista
Sexta 5 Maio 2017
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Jornal do Meio 899 Sexta 5 • Maio • 2017
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A tentação de uma
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igreja de perfeitos por Mons. Giovanni Baresse
“Sede misericordiosos, como vosso Pai é misericordioso. Não julgueis, para não serdes julgados; não condeneis, para não serdes condenados; perdoai, e vos será perdoado”. Com estas palavras de Jesus, no Sermão da Montanha (Lucas 6, 36-37), penso em oferecer algum caminho que ajude a superar um certo renascimento do rigorismo em alguns setores e pastorais da Igreja. Parece que nos esquecemos da quantidade de vezes que a Escritura fala em perdão, em misericórdia. Ao mesmo tempo que a mesma Escritura recorda a condição pecadora de qualquer ser humano. Santo Agostinho, um dois grandes Padres da Igreja, vai nos lembrar que nascemos inclinados para o mal. Na reflexão sobre o pecado original ele recorda que há em nós um egoísmo latente que se manifesta como resultado desse pecado, do qual nos fala o livro do Gênesis (3,1-19): a
tentação de nos colocarmos, em lugar de Deus, como critério do Bem e do Mal, do certo e do errado, etc. Chamemos a isso de autossuficiência. Que se manifesta em frases como “Eu sei o que é bom para mim; estando bom para mim, o resto que se dane; é preciso ser esperto, levar vantagem...”. Quando nos colocamos como aqueles que se julgam com autoridade para discriminar, passamos por cima de qualquer sentimento de compaixão. Mais perto de nós o Papa Francisco nos convocou para celebrar o Ano da Misericórdia. E seus pronunciamentos têm sempre algum espaço para reforçar a necessidade da acolhida, da compreensão e de afirmar que é o amor paciente que ajudará as pessoas que se encontram em situações que ferem a santidade pessoal e da Igreja como comunidade. Ainda nestes dias, ao visitar uma prisão perto de Roma, onde lavou os pés de doze detentos, o Papa
lembrava: “A missão da Igreja é estar próxima dos últimos, dos descartados... Quem não tiver pecado, jogue a primeira pedra. Olhemos dentro de nós e procuremos ver nossos pecados. Então o coração se tornará mais humano”. O Papa lembra que a misericórdia nos leva a ver um Deus disposto a levar sobre si os males do mundo para demonstrar o próprio amor por nós. Sempre houve na história da Igreja como sabemos, movimentos que ora tendiam para disciplina mais severa ou caiam na tentação do “tudo é permitido”. As múltiplas separações existentes no interior do cristianismo, na sua maior parte, nasceram da sinceridade em desejar corrigir aqueles que eram vistos ou como abusos ou como desvios da fé. Até mesmo entre os apóstolos, logo do início da missão de Jesus, nos recordamos da tentativa de João que queria proibir quem não andava com eles de agir em
nome do Senhor (Lucas 9,49). O grande problema é que da afirmação de erros possíveis se passou para a incapacidade de amor, de dialogar, de perdoar. E aí a separação se define. E aí começam as exclusões. Hoje percebemos um florescer na Igreja de muitos movimentos, comunidades. Isso é um bem. O perigo é a tentação da exclusividade na proposta do caminho da vida cristã: só quem pertence a este ou aquele grupo tem a garantia de encontrar Jesus! Junto a isso vem a intolerância em relação às falhas. E surge alguém que dita normas pelas quais alguém pode ou não ficar junto com os outros. Não discuto aqui a necessidade de abraçar o carisma, a disciplina oferecida como vida em comunidade. Parece, sim, que se deva prestar atenção ao fato de que a Igreja é formada por pessoas em carne e osso, falíveis. Não existe uma Igreja de perfeitos. Não há ninguém que possa partir do princípio
Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli Jornalista Responsável: Carlos Henrique Picarelli (MTB: 61.321/SP)
As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão. As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Bragança Jornal Diário.
que tem jurisdição absoluta para excluir quem erra. Talvez, se houver alguém assim, teria que primar pela atitude de Jesus em relação aos pecadores. E, para citar um só caso, lembrar aquilo que nos fala João sobre a mulher surpreendida em adultério (8,3 -11): “Ninguém te condenou?... Nem eu te condeno. Vai, e de agora em diante não peques mais”. Para corroborar a necessidade do perdão e da misericórdia recorro ao evangelista Mateus (18, 2122) - Então Pedro chegando-se a ele, perguntou-lhe: “Senhor, quantas vezes devo perdoar ao irmão que pecar contra mim? Até sete vezes? Jesus respondeu: Não te digo até sete, mas até setenta e sete vezes”.
Respirar fundo acalma o cérebro Quanto mais rápido uma pessoa respira, mais alerta e crispada ela fica; 175 células são as responsáveis por isso
Por SUZANA HERCULANO-HOUZEL /FOLHAPRESS
Nervoso? Ansioso? Respire fundo e devagar. A respiração lenta e controlada, integral à prática do yoga e da meditação e tão presente na psicologia popular, às vezes é menosprezada por quem recebe o conselho para ajudar a se acalmar. Mas um estudo mostra que existe de fato um circuito que liga a frequência da respiração ao nível de alerta do cérebro. Respirar não é opcional: manter-se vivo requer inspirar e expirar, ciclicamente, do nascimento até a morte, cerca de 550 milhões de vezes em uma vida de 70 anos –sem precisar pensar no assunto. É ao mesmo tempo perturbador e libertador pensar que a função é desempenhada dia sim e dia também, esteja você
acordado ou dormindo, por apenas alguns milhares de neurônios no bulbo cerebral, na base da sua cabeça. No camundongo, uns três mil desses neurônios formam um núcleo chamado jocosamente de complexo pré-Bötzinger, ou CpB para os íntimos. Da atividade auto-organizada por esses poucos milhares de neurônios surge o ritmo da inspiração, como crianças de mãos dadas brincando de senta-levanta seguindo ordens de ninguém em particular, mas de todos ao mesmo tempo (eu falei que era perturbador). Dos 3 mil neurônios, 175 têm um papel particular, segundo um estudo americano: ativam o locus coeruleus, nome chique em
latim para o “lugar azul” do cérebro devido à abundância de noradrenalina produzida ali, de coloração azulada, e despejada cérebro e medula afora. É o locus coeruleus que nos deixa atentos e com músculos tensos, prontos para a ação. Quanto mais noradrenalina libera, mais ficamos alertas e crispados. Com atividade demais, o alerta é tanto que começa a ser contraproducente, chegando à angústia e dor muscular. Não é surpresa, a esta altura, descobrir que só adormecemos quando o locus coeruleus é completamente silenciado. Esses 175 neurônios, portanto, atrelam o nível de alerta cerebral à respiração: qualquer acontecimento que acelere a respiração nos
deixa automaticamente mais atentos e alertas, do exercício ao estresse. Ficou ofegante, ficou alerta também. E o inverso também é verdade: respirar lentamente, reduzindo de 12 a 20 para talvez apenas entre cinco e seis o número de inspirações por minuto, é capaz de reduzir ao menos pela metade o estímulo que o locus coeruleus recebe do CpB, e assim acalmar corpo e mente. Não é mágica: é neurociência. SUZANA HERCULANO-HOUZEL é neurocientista, professora da Universidade Vanderbilt e autora do livro “The Human Advantage” (Amazon.com) suzanahh@gmail.com
Reflexão e Práxis
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PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS
www.coquetel.com.br
Carinhoso
Time pelo qual Guga torce (fut.) Lugar pródigo em delícias e riquezas Monte (?), pico da ilha grega de Creta
Anel
Andy (?), (?)-line: expoente conectado da pop art à internet Sigla do Estado de Washington (EUA) Empregado doméstico Ser vítima de logro
Regressar Costurar com pontos imperceptíveis
Cantora de "Flashdance... What a Feeling"
Armazéns de bairros Crítica cômica de jornais
Sentimento ausente no carrasco A coordenação afetada pelo Parkinson
Perspectiva de futuro (fig.) Enfureça Depósito de artefatos bélicos Polo indicado pela Estrela de Magalhães
Defensor; protetor A 23a letra grega Idioma de uma etnia da ilha de Hokkaido, no Japão Complexo vitamínico
El. comp. de "apicultura": abelha
Sobrecarregar com (tarefas) Ele, em francês
BANCO
Nascido no país cuja capital é Trípoli
Artigo vendido na loja de pássaros 1
Solução
AS
U A S I M A R A DO N A D V R I A A R I G E O N T R E A C L A I E R B G A IO
M A I O R I D A D E P E N A L
O R A TO
M A M O R O S O
com a qual se operam as relações de poder nas nossas casas parlamentares. É como se a classe política se julgasse acima de todos nós e, por isso, se sente no direito de olhar seus interesses e garantir seus privilégios sem que nós, os cidadãos, devêssemos ser considerados e consultados. Se o Poder Legislativo é o poder que representa o povo, por que este nunca é ouvido? Ao elegermos um parlamentar, em qualquer esfera do poder público, não lhe damos uma carta em branco com nossa assinatura, não lhe entregamos uma declaração de direitos absolutos para que ele faça o que queira. De fato, entregamos uma carta de intenções que deve respeitar o ideal do Bem Público e a Constituição. O parlamentar deve olhar para a sociedade civil e não para seu partido político ou seu interesse particular. Tampouco, deve pensar em formas de enriquecimento ilícito e não deve compactuar com ações corruptas, pois não é esse o seu papel. Mais curioso é pensar que não temos nenhum controle sobre as ações do parlamentar eleito, não temos como cobrar uma posição clara sobre suas decisões, não há como lhe cobrar o motivo de seus posicionamentos ou a quebra dos compromissos de campanha e nem mesmo sua mudança de partido ou grupo político. Somos reféns de uma democracia representativa hipócrita e excludente que se alimenta do sangue, da miséria, da violência e da morte diária de milhares de pessoas. O que esperar do futuro? Parece que muito pouco.
Sua redução foi rejeitada em recente plebiscito uruguaio
A N T N T A D O R O W A C R C E H A R O RI Z L I PA R P I S O B I L
A conclamada greve geral do dia 28 de abril ainda não ocorreu, pois a coluna foi escrita nos dias que a antecederam, ou seja, seus efeitos são aguardados, bem como seus desdobramentos. No entanto, muito pode ser dito, caso a greve tenha sucesso ou fracasse. No dia 26 de abril, que deveria ser renomeado como o mês da mentira, a Câmara de Deputados vota, sem nenhuma consulta popular, as reformas trabalhista e previdenciária. Não sabemos quem os autorizou a votarem um tema tão importante e delicado sem que houvesse um debate popular, com a possibilidade de uma avaliação precisa e honesta do que estas reformas significam, histórica e socialmente, para todos nós. A simples velocidade das votações, todas em caráter emergencial, expressam de forma clara que não há a intenção de uma discussão sobre uma matéria que envolve a vida de milhões de brasileiros e cuja decisão arbitrária passa pelas mãos de um Congresso Nacional que não tem nenhuma credibilidade para pensar por si só nas reformas. O Congresso Nacional como casa de barganhas que supostamente representa os desejos populares tem a obrigação de ouvir o que desejam os mais diversos grupos populares e não nos fazer engolir um conjunto de reformas atabalhoadas e que apontam para a piora das relações trabalhistas e das questões previdenciárias, além de se mostrar excludente ao não se fazer valer para setores considerados importantes, como o funcionalismo público federal, as forças policiais e os militares e, principalmente, por não se referir aos privilégios da desonesta, onerosa, incompetente e corrupta classe política brasileira. É uma afronta a todos nós e aos parâmetros da nossa Constituição a forma
De segunda mão Irídio (símbolo)
F S A E L T A I D M E C H S U V A A S
por pedro marcelo galasso
© Revistas COQUETEL
O (?) Sudário: Mortalha de Cristo Baralho Peça de esotérico Maquiavel
"Sex (?) the City", série da TV a cabo
2/il — on. 3/and — ida. 4/aino. 6/cerzir. 9/irene cara — paracleto.
A mentira do Estado brasileiro
Alegação para a crise de abastecimento de água em Vestimenta do SP (2014) folião Nau da frota de Colombo
Pedro Marcelo Galasso - cientista político, professor e escritor. E-mail: p.m.galasso@gmail.com
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Por CHICO FELITTI/FOLHAPRESS
No quilômetro 11 da última São Silvestre, em 31 de dezembro de 2016, a estudante Carolina Santos pediu água. Mas os pontos de apoio e hidratação ao longo do trajeto só tinham garrafas e copos vazios, então ela teve de correr os últimos quatro quilômetros da prova com sede, além de dor na planta do pé. “Foi um caos.” A água tinha acabado. A reclamação, reverberada por centenas dos 30 mil corredores inscritos na competição, fez o mundo da corrida colocar o pé em 2017 já em guerra. O inimigo são os pipocas, corredores que participam de provas sem ter pago a inscrição para o evento. Foram 15 mil deles na última São Silvestre, segundo a produtora do evento, que responsabiliza os penetras pelo problema de abastecimento hídrico. O termo também é usado para descrever os foliões que desfilam de graça no Carnaval, sem comprar abadá. Desde então, grandes corridas como a Maratona de São Paulo mudaram para combater os piratas: 1) O acesso para o pelotão de
largada foi dificultado. Se antes qualquer um podia ficar perto da linha de saída, ela agora é cercada por gradis, onde só entram pessoas com o número de identificação da prova afixado à camiseta. 2) Durante o trajeto, alto-falantes descrevem como estão vestidos os corredores que não pagaram para estar lá e que conseguiram furar o bloqueio –eles chegam a ser vaiados pelos colegas e chamados publicamente a se retirar da prova. 3) Um quilômetro antes da chegada, um outro pelotão de funcionários fica a postos para retirar da rua quem não pagou (mas há quem ignore a bronca e escape do enquadro para passar pela linha de chegada e ver seu tempo). Criou-se até uma mascote: uma pipoca com perninhas humanas, que é sempre retratada sob um sinal de proibido nas redes sociais. “Reduzimos o número de pipocas em 25% com essas ações”, afirma Thadeus Kassabian, diretor-geral da Yescom, empresa que produz a Maratona de SP e dezenas de outras. Segundo Kassabian, corredores não inscritos fazem
com que orçamento total de um evento aumente entre 30% e 40%. O personal trainer José, que pede para não ter seu sobrenome publicado para evitar brigas com a comunidade corredora, admite ser um pipoca. Já correu mais de 20 provas, e teve um gasto total de zero reais com elas. “Eu mal tenho dinheiro para pagar aluguel. Não faz sentido gastar R$ 400 por mês para correr na rua”, diz ele. “É elitizar um esporte que não tem custo e ainda é cheio de patrocínios.” Produtores afirmam que o custo cobrado dos corredores é a diluição da documentação, pessoal contratado (para, por exemplo, guardar volumes, oferecer água e brindes no final da corrida, e tirar fotos dos corredores) e estrutura do evento. José pode ter cruzado recentemente com o analista de sistemas André Marafon, 38. Ele fez três maratonas e dez meias maratonas nos últimos 15 anos. Não tinha enfrentado grandes problemas de congestionamento humano até a São Silvestre. “Quase não dava para correr nos primeiros quilômetros, de tão lotado que estava. Não dá para
estabelecer o ritmo [de corrida] se tem muita gente.” Por correr nos primeiros pelotões, ele nunca passou sede e se livra do aperto depois de alguns quilômetros. “Agora virou uma caça às bruxas. Quanto essas empresas estão lucrando?”, pergunta Márcio, estudante de filosofia e corredor esporádico que também se recusa a pagar inscrição. “E hoje tem corrida de R$ 300 por aí” –por mais que as inscrições não cheguem a tanto, pacotes VIPs, cheios de brindes e acessórios esportivos, pipocam como opção, e chegam a custar R$ 300 (veja exemplos ao lado). O organizador afirma que há corridas como a Maratona de São Paulo e da Pampulha, as meias do Rio e de São Paulo em que a inscrição custa R$ 70 –idosos têm direito a meia-entrada e pessoas com deficiência física correm de graça, bem como corredores atendidos por entidades beneficentes. “Se o atleta se programar pode se inscrever com bons preços”, diz Kassabian. “Quero ver eles correrem atrás de mim”, diz José, que terminou a última prova de 42 quilômetros em menos de quatro horas. Foto: Danilo Verpa/Folhapress
O analista de sistemas André Marafon, 38, que já correu três maratonas e reclama do aperto em corridas por conta dos invasores.
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Concurso Público Crise e redução de vagas obrigam concurseiros a rever estratégia
Por LEANDRO NOMURA/FOLHAPRESS
Estados endividados, atrasos nos salários de servidores e promessas de desinchar órgãos públicos acenderam o alerta para concurseiros. A advogada Rejane Wagner, 37, desistiu de prestar concursos após quatro anos de provas. Avaliou que ser funcionária do Estado não valia mais as dez horas diárias de estudo e os cerca de R$ 1.500 por mês com cursinho, viagens e hospedagens para fazer os testes. “Tudo poderia mudar muito em pouco tempo. Poderia acontecer de ver todas as minhas fichas depositadas virarem pó”, diz ela, que abriu um escritório de advocacia. A crise também dificultou ainda mais o acesso ao setor público. Com orçamento apertado, União, Estados e Municípios devem contratar menos. Segundo a Anpac (Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos), a previsão em 2017 é que sejam abertas 85 mil vagas em níveis federal, estadual e municipal nos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Bem menor que a de 2016, 100 mil vagas, e a de 2015, 215 mil. Quem já atua como funcionário público também encontra dificuldades. A promotora de Justiça Juliana Pellacani, 38, está sem perspectivas de subir na carreira. “Antes, era possível ter uma promoção em um ano no máximo. Estou há três anos e quatro meses e nada. As vagas para cargos mais altos estão congeladas”, diz ela. “Quem está aqui há mais tempo diz que o funcionalismo passa sempre por períodos bons e ruins. Quero acreditar que vai melhorar.” O professor da USP Helio Janny Teixeira, especializado na área pública, afirma que os investimentos, contratações e promoções tendem a ser retomados, mas aponta a tendência de um Estado “mais enxuto e inteligente”. “A arrecadação não é suficiente para cobrir os gastos, e a principal despesa é com pessoal. O enxugamento é inevitável. Serão menos servidores com mais eficiência e mais bem gerenciados.” Para Marco Antonio Araujo Junior, diretor
executivo do cursinho Damásio e presidente da Anpac, os eventuais cortes devem acontecer em cargos comissionados, preenchidos sem necessidade de concurso. “A Constituição define que a forma de contratação em órgãos públicos é por concurso. Pode haver redução de número de vagas, mas não de provas”, afirma. Essa é a aposta de Franco Cavallari, 31, que trabalha como assistente jurídico do Tribunal de Justiça de São Paulo, mas ainda continua tentando virar juiz. Ele alerta, no entanto, que é preciso estudar também a situação financeira do Estado que contrata antes de se inscrever para as provas. “Não presto para vagas em Minas Gerais, Rio de Janeiro, e Rio Grande do Sul, que, por causa da crise, podem demorar anos para chamar candidatos aprovados.” Além da região, o procurador do Estado de São Paulo Tarso Neri, líder dos cursos jurídicos da Federal Concursos, sugere escolher áreas menos suscetíveis a abalos na economia e, portanto, a atrasos nos pagamentos. “Legislativo, Judiciário, Ministério Público e Defensoria Pública têm autonomia financeira e independem da vontade de governador ou presidente. Por lei, todo mês recebem 1/12 do que está previsto em orçamento”, explica. Para Teixeira, se o cargo for bem escolhido, o funcionário do Estado ainda leva vantagem sobre o da iniciativa privada. “Ainda há uma estabilidade no cargo público. Além disso, o Estado em geral cumpre o pagamento de benefícios obrigatórios e há uma pressão menor do que em empresas privadas. E o salário inicial é competitivo.” Porém a coach Fernanda Chaud, da SBCoaching, diz acreditar que não são esses fatores que devem ser o foco daqueles que prestam concursos. Para ela, é possível ter estabilidade semelhante à da carreira pública na iniciativa privada. “A empresa não demite quem traz valor, quem assume responsabilidades e faz mais do que é esperado.” Para ela, o concurseiro precisa refletir mais sobre sua vocação do que sobre estabilidade e
benefícios para não se frustrar com a carreira pública. “Em poucos anos, o setor público pode não ter dinheiro para manter as vantagens de hoje”, diz Chaud. “O perfil do servidor exigido pelos brasileiros está mudando. Ele precisa assumir responsabilidades, ter vontade de servir e de ajudar a sociedade a prosperar.” APROVEITAMENTO DE ESTUDO Os anos de estudo para tentar passar em concurso público podem se tornar uma vantagem na busca por uma vaga no mercado de trabalho privado. Para Fernanda Chaud, da SBCoaching, concurseiros acabam desenvolvendo habilidades muito valorizadas pelas empresas, como dedicação e persistência. “Os anos de estudos nunca são perdidos. Aprendi a ter um raciocínio jurídico e a ser autodidata”, afirma a advogada Carolina Di
Mônaco, 35, que começou a fazer pós-graduação em direito médico após desistir, por enquanto, de fazer concursos para a magistratura. Paulo de Tarso Neri, da Federal Concursos, destaca também outra habilidade adquirida na preparação para concursos: a proficiência na língua portuguesa. “Esse conhecimento dá condições de conquistar uma vaga melhor”, diz. Segundo Fernanda Chaud, o primeiro passo do ex-concurseiro na busca por um emprego deve ser o autoconhecimento. “A partir do momento que o profissional sabe para onde quer ir, entende quais cargos procurar e quais empresas têm perfis e valores com os quais se identifica”, explica a coach. Após passar quatro anos e meio tentando passar em concurso, a advogada Rejane Wagner diz ser importante retomar a autoconfiança. “É preciso entender que não ter passado não significa fracasso, que há mil formas de recomeçar”, afirma. Foto: Marcelo Justo/Folhapress
Franco Cavallari, 31, assistente jurídico do Tribunal de Justiça de São Paulo, que estuda para se tornar juiz.
Não acredite na CPI da Baleia Azul Essa movimentação nada tem a ver com a prevenção de suicídios, mas sim com a tentativa de controlar a web Por RONALDO LEMOS/FOLHAPRESS
O Senado está dando início à instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar o jogo Baleia Azul. Não se engane. Essa movimentação nada tem a ver com a prevenção de suicídios ou a proteção de crianças e adolescentes. Tem a ver sim com a tentativa de controlar a internet no Brasil. A CPI prestes a ser instalada não é contra a Baleia Azul. É contra todos os que usam a internet no país para criticar políticos. Como não seria aceitável instalar uma CPI para apurar “críticas realizadas aos políticos pelos cidadãos”, usa-se o subterfúgio da proteção das crianças e adolescentes –prática que já está ficando manjada– para fazer andar a tentativa de censurar a rede. A agenda de controle da internet no Brasil infelizmente permanece entre nós. Ela foi fortemente defendida, por exemplo, pelo ex-deputado Eduardo Cunha, que conseguiu articular toda uma geração de projetos de lei com essa finalidade. Nenhum foi aprovado ainda, mas vários avançam a passos largos. Sempre que algum “pânico moral” relativo à rede ganha força, a tentativa de controlar a internet no país pega carona. Felizmente, a legislação brasileira contra crimes na internet foi completamente reformulada. Tivemos a CPI da Pirataria, que levou à reforma do Código Penal e de Processo Penal. O mesmo ocorreu com a CPI da Pedofilia, que criou uma legislação adequada e suficiente para proteger crianças e adolescentes on-line. Por sua vez, o Marco Civil criou em 2014 as ferramentas necessárias para identificar criminosos que atuam na rede, sempre com a supervisão do Poder Judiciário. Essas leis são mais do
que suficientes para investigar, encontrar e processar quem organiza o jogo Baleia Azul. O suicídio é uma questão que me toca pessoalmente. Já perdi pessoas próximas por essa razão. Já até apoiei organizações que trabalham na prevenção. No entanto, a causa do suicídio nunca é um jogo, um livro, um filme ou uma música. O que leva a pessoa a tirar a própria vida é um conjunto complexo de fatores, que vão do desamparo social ao desequilíbrio químico cerebral (há inúmeros estudos correlacionando níveis
de neurotransmissores com propensão ao suicídio). Em outras palavras, para combater essa tragédia, é preciso lidar com suas causas, e não com a superfície problema. Todo o esforço que estamos gastando com a Baleia Azul seria mais bem empregado apoiando organizações que efetivamente previnem o suicídio e amparam crianças e adolescentes na rede, como o CVV ou a Safernet. Por essa razão, deputados e senadores fariam melhor com seu tempo criando
uma frente parlamentar para fomentar a inovação na internet, promovendo a criação de empregos e ajudando a fomentar a economia do conhecimento no Brasil. Se receberem críticas, respondam a elas. A internet, por enquanto, ainda está aberta para todos. Ronaldo Lemos é advogado e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro. Foto: Divulgação
Painel de alunos da USP; turma de medicina registrou três tentativas de suicídio nas últimas semanas.
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Saúde
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Marca-passo
Marca-passo é eficaz contra depressão, aponta estudo, aparelho envia impulsos elétricos que corrigem deficit de neurotransmissores. Pesquisa inédita foi feita no HCor (Hospital do Coração), em SP, com 20 voluntários que não respondiam a terapias Por MARIANA VERSOLATO/FOLHAPRESS
O choro não cessava, o sono não vinha e os medicamentos não faziam mais efeito. A professora Elizabete Ferreira Lima, 50, então decidiu ir atrás de um anúncio que vira em uma rede social e se voluntariou para um estudo inédito que testaria o uso de marca-passos contra a depressão em 2015. “Não tinha mais nada a perder. Queria ver se alguma coisa poderia funcionar”, diz ela. Parte do aparelho foi implantada por meio de uma cirurgia pouco invasiva na região acima da sobrancelha – “é discreto, mas, como sou magrinha, aparece se a pessoa olhar muito”, diz. Aos poucos, com a estimulação que modifica os neurotransmissores, a melhora começou a aparecer. “O choro, que antes acontecia a qualquer hora e em qualquer lugar, parou. E hoje brinco que sou a bela adormecida de tanto que durmo bem”, diz. Os resultados do estudo, que envolveu ao todo 19 pacientes, acabam de ser compilados e só confirmam a melhora sentida por Elizabete. “Medimos a resposta dos voluntários com a escala de
Hamilton [que avalia depressão] e uma escala de qualidade de vida e vimos uma melhora significativa”, diz Antonio De Salles, chefe do HCor Neuro, núcleo do hospital especializado em neurologia, neurociência e neurocirurgia. Em uma das escalas, que vai de 0 a 33 e na qual um índice acima de 20 indica depressão, a mudança foi, em média, de 24 pontos para 12. Os pacientes foram divididos em dois grupos, com dez pessoas em cada, e em apenas um deles a estimulação foi ligada –o outro, o grupo-controle, funcionou como uma espécie de placebo para efeito de comparação. O estudo era duplo-cego –ou seja, nem os pacientes nem os médicos sabiam quem estava recebendo o tratamento real (havia apenas uma técnica que fazia a programação dos aparelhos e que, é claro, sabia qual grupo era qual). E teve duração de seis meses, também para afastar o efeito placebo. “Todo tratamento tem seu período de lua de mel, que é de uns cerca de três meses. É muito comum estudos curtos mostrarem eficácia para mais
tarde dizerem que a terapia não funciona”, diz. Os voluntários, porém, continuam recebendo o tratamento e sendo acompanhados pelo hospital. De Salles estima que o tratamento ao todo, se oferecido na prática clínica, custaria cerca de R$ 50 mil. Com os bons resultados no grupo do tratamento, os pacientes do grupo-controle depois tiveram seus marca-passos ligados também. O alvo do estudo eram os pacientes com depressão moderada refratária, ou seja, que não responde ao tratamento convencional com drogas e psicoterapia. Esse contingente representa cerca de 20% das pessoas que têm a doença. como funciona De acordo com De Salles, a estimulação elétrica em certas áreas do cérebro modifica os neurotransmissores e tenta corrigir o deficit de neurotransmissores que causam a depressão. No caso do estudo, o marca-passo faz algo semelhante ao estimular o nervo trigêmeo, que confere sensibilidade à face e é uma via importante de acesso ao cérebro.
De Salles já havia demonstrado isso em estudos em animais e, depois, em humanos, com a estimulação externa do nervo trigêmeo na Ucla (Universidade da Califórnia) em Los Angeles, quando era professor na instituição. Ele e a mulher, a neurocirurgiã Alessandra Gorgulho, trabalharam por décadas na universidade americana até que ele se aposentou e os dois decidiram voltar ao Brasil para criar o filho no país, em 2012. A convite do HCor, desenvolveram o centro de neurociência do hospital e deram continuidade ao estudo com marca-passos. Além da pesquisa com depressão, eles também estão testando o aparelho contra a obesidade, por meio do aumento do metabolismo basal. Um estudo canadense mostrou bons resultados na abordagem contra a anorexia. O trabalho com depressão, que foi feito em parceria com o Proadi-SUS (Programa de Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde), deve ser apresentado em junho no Congresso da Sociedade Mundial de Neurocirurgia Funcional, em Berlim. foto: Reinaldo Canato/Folhapress
A professora Elizabete Ferreira Lima, 50, que foi voluntária no estudo e afirma que sentiu melhora com o implante
Saúde
Jornal do Meio 899 Sexta 5 • Maio • 2017
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Geladeira organizada Vida útil dos alimentos é maior com a geladeira organizada, temperatura altera conforme prateleira. Comida guardada de maneira inadequada pode criar bactéria
por EMERSON VICENTE/FOLHAPRESS Arte: Folhapress
Para não ter desperdício
Botture Lopes, nutricionista
e conseguir manter a
da Confederação Brasileira de
vida útil dos alimentos, é
Atletismo.
essencial manter a organização
Em algumas embalagens de
das geladeiras. E isso vai muito
alimentos, como a de tomate,
além de saber se o ovo deve ou
por exemplo, é comum que
não ficar na porta.
um fruto estrague antes dos
“Quando se fala em organização,
demais. Por isso, é preciso ver
além de deixar mais prazero-
com atenção o aspecto dos
so, tem de estar mais fácil ao
outros frutos para checar se
alcance. É essencial ter uma
estão bons para consumo
geladeira organizada”, afirma a
“Mesmo após colhidos, os frutos
nutricionista Jacqueline Moniz
como tomate ainda produzem
Anversa, da clínica Dra. Maria
um composto orgânico, o etileno,
Fernanda Barca.
responsável pelo amadureci-
“Quando se fala em organização,
mento. Uma fruta estragada
além de deixar mais prazero-
produz uma concentração
so, tem de estar mais fácil ao
grande de etileno, acelerando o
alcance. É essencial ter uma
amadurecimento das que estão
geladeira organizada”, afirma a
ao seu redor. Um fruto saudável,
nutricionista Jacqueline Moniz
em contato com um podre, em
Anversa, da clínica Dra. Maria
pouco tempo também estará
Fernanda Barca.
podre”, diz Danielli.
A porta é o local onde a tempe-
Carne não deve voltar ao freezer
ratura sofre mais alterações, por
O congelamento de alimentos
causa do abre e fecha. Por isso
é uma prática comum. Mas
a recomendação é para que os
especialistas afirmam que,
ovos fiquem na parte interna,
uma vez descongelado, ele não
apesar de muitas geladeiras já
deve voltar a ser congelado.
virem do fabricante com espaço
Isso vale principalmente para
para ovos na porta.
carnes. “Uma vez que ela for
“As oscilações de temperatura
descongelada, o ideal é que
proporcionam condições para a
seja consumida totalmente.
multiplicação de bactérias que
Não deve voltar ao freezer por-
penetram no ovo através da
que perde a qualidade”, diz a
casca. Devem ser armazenados
nutricionista Jacqueline Moniz
nas prateleiras, com embala-
Anversa, da clínica Dra. Maria
gem adequada”, diz Danielli
Fernanda Barca.
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Jornal do Meio 899 Sexta 5 • Maio • 2017