919 Edição 22.09.2017

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Braganรงa Paulista

Sexta

22 Setembro 2017

Nยบ 919 - ano XVI jornal@jornaldomeio.com.br

jornal do meio

11 4032-3919


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Jornal do Meio 919 Sexta 22 • Setembro • 2017

Expediente Jornal do Meio Rua Santa Clara, 730 Centro - Bragança Pta. Tel/Fax: (11) 4032-3919 E-mail: jornal@jornaldomeio.com.br

Um credor fantástico! por Mons. Giovanni Baresse

Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli Jornalista Responsável: Carlos Henrique Picarelli (MTB: 61.321/SP)

As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão.

Jesus Cristo, no seu en-

jamais seria finalizado. O credor

dívidas alheias carregaremos o

outro: do Senhor pedirá cura?...

sinamento sobre como

perdoa a dívida! Depois dessa

peso das nossas, sem esperança

Para com o seu semelhante não

auxiliar a quem erra a

nova vida, nascida no perdão,

de perdão! Não é uma ameaça a

tem misericórdia, e pede perdão

corrigir suas atitudes, lembra os

o devedor sem esperança não é

frase: “Eis como meu Pai celeste

de seus pecados?... Lembra-te

passos do que se costuma chamar

capaz de ser generoso com um

agirá convosco, se cada um de vós

do fim e deixa o ódio...”! Esta

“correção fraterna”. Abordamos

colega que lhe devia pequena

não perdoar, de coração, ao seu

última frase me ajuda a propor

é melhor a gente se livrar desse

isso no artigo passado refletindo

quantia. Diante desse fato o

irmão” (18,35). Queremos perdão

uma questão: Adianta remoer

tempero ruim que estraga tudo/

sobre Mateus (18,15-20). Avan-

credor castiga. Essa parábola

ilimitado. Devemos perdoar sem

raiva e levar a vida assim até a

Penso que já passamos por uma

çando e radicalizando a atitude

faz pensar, primeiramente, no

limites! O perdão é a atitude de,

morte. Morro eu e morre a pessoa

situação: nos desentendemos

do perdão devido, ele responde

credor. Quem é que fia quantia tão

positivamente, agir para que aquele

que eu odiava. Como vivi? Não

com alguém. Alimentamos res-

à pergunta de Pedro se perdoar

fantástica? Quem é esse credor

que ofende tenha um parâmetro

é muito melhor tomar a atitude

sentimento. Vamos a uma festa

sete vezes já não era muito bom

que tem tantos recursos e vai

da possibilidade de mudar de vida.

positiva de livrar-se desse tipo de

e lá está nosso desafeto! O que

(Mateus 18,23-35). Jesus reponde

dando prazos para uma dívida

Se diante da ofensa a reação for de

sentimento e buscar caminhos

sentimos? Festa estragada! Não é

que a conta era multiplicar seten-

ilimitada? Não é difícil descobrir

ira, de ódio o fruto será o desejo

que possam solucionar o que

assim. Adianta isso? Não é melhor

ta vezes por sete. Significando

que o Senhor está falando do Pai

de vingança e o endurecimento

levou ao desentendimento? E

ser livre diante da maldade dos

disposição de perdoar sempre! E

a quem ele veio revelar. Deus não

do coração. Para secundar esta

se for necessário empenhar-se,

outros? Claro que não se suben-

conta uma história. Um homem

mede os pedidos de empréstimo

reflexão valho-me de algumas

também, na justiça humana, não

tende que se deva deixar o errado

devia uma quantia fantástica.

que lhe fazemos. Ele quer que

frases do livro do Eclesiástico

é melhor fazer isso de coração

passar por certo. Trata-se de en-

Alguns autores falam em 10 mil

saibamos emprestar uns aos

(27,30-28,1-7). Destaco: “ O rancor

liberto? Que adianta ruminar

contrar meio para buscar superar

talentos de ouro. O talento era

outros e sejamos generosos na

e a cólera...são abomináveis, o

maldades por mais que a raiva

ofensas, desentendimentos, etc.

uma peça de trinta quilos. Fa-

cobrança! Significa que diante

pecador os possui... Aquele que

possa ser motivada por algo que

De qualquer forma vale a reflexão

zendo a multiplicação chega-se

dos débitos (erros) dos outros

se vinga encontrará vingança no

seja razoável (porque nossa ação

do sábio do Eclesiástico: Pense no

a soma impagável. Na cobrança

tenhamos sempre em mente que

Senhor que pedira minuciosa

normal, num primeiro momento

fim! Você viveu com raiva. Morreu

de pagamento só resta ao deve-

também somos devedores. E se

conta dos seus pecados... \um

pode ser raiva mesmo! Só que a

com raiva! Não resolveu nada!

dor suplicar por um prazo que

não tivermos coração diante das

homem guarda rancor contra o

raiva não é boa conselheira!). Não

Que vida azarada!

As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Bragança Jornal Diário.


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PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS

www.coquetel.com.br

Pedro Marcelo Galasso - cientista político, professor e escritor. E-mail: p.m.galasso@gmail.com

Marca de assuntos como o aborto

Medida agrária equivalente a 100 m2

Cidadesede da Opep (Áustria) Valerefeição (abrev.)

Permutar Thalma de Freitas, atriz

501, em romanos Idem (abrev.) Resposta típica da pessoa permissiva

Remessa (p. ext.) (?) Castro: ex-presidente cubano, falecido em 25/11/2016 Nise da Silveira, psiquiatra Talentoso

"Ministério", em MEC Cismado

Estado da roupa vendida em brechós Estrela-d’alva (Astron.)

Formato do dispositivo intrauterino

Antigo nome da capital do Japão

(?) Kamel, jornalista Senhor (abrev.)

Forma de trecho sinuoso de estrada

Compatível com os bons costumes

Em (?): o sistema da produção fordista Reduzi-las é a finalidade do "lifting"

Cereal da granola Ezra Pound, poeta

(?) + F4: fecha uma janela no Windows Unidade de medida de potência elétrica

Gigantesco Letra da vaia

Espetáculo no qual se canta a ária

Turíbio Santos, músico brasileiro

Vitamina da cenoura

Pudim, aletria, pé de moleque ou pavê (?) Comparato, roteirista brasileiro

Significado do "E", na sigla IBGE Romance de Euclides da Cunha

BANCO

Solução

M I V A O C N L S I N U S

forma determinada de influência. O Estado não pode ser definido pelo seu fim, pois não podem existir fins que não tenham feito parte dos objetivos do Estado. Além disso, os fins não dão critérios de análise, mas são os meios que apresentarão os critérios pretendidos. A Política é a participação no poder ou a participação entendida como a influência na distribuição do poder, seja entre Estados ou entre grupos que os compõem. Quem participa da Política luta pelo poder, não importando o objetivo. Temos, portanto, o Estado como uma relação de homens dominando outros homens, uma ideia explícita de dominação, que se mantém pela violência legítima, que pretende o Bem Comum. Para tanto, é preciso que os homens obedeçam a autoridade alegada pelos detentores do poder. A ideia de obediência é fundamental. Como os políticos fazem da política sua vocação? O viver para a política significa que o político não depende financeiramente da política, do cargo ocupado, mas sim vive por um ideal, como uma proposta de vida; o viver da política significa, por sua vez, que o político depende financeiramente do cargo ocupado e, por isso, será mais corruptível. Quais são as características do político profissional? Seriam homens independentes, mesmo sem condição financeira; vivem de prebendas ou salários; características e apoio dos empresários; conquista de autoridade política em troca de salários, contando com o apoio de jornalistas, secretários de partidos, ministros ou outras autoridades políticas. A pergunta é – encontramos tais características ou tal racionalidade no corrupto Estado brasileiro?

Qualidade inata Corrida, em inglês

A E R A I S C D OM O V R R S I A L E VA F N S I G A DO D E M E N T E L I S A L T W L I D A O C T I C A T Õ E S

Max Weber foi o primeiro a sistematizar os conceitos fundamentais da Ciência Política, um sociólogo que escreveu contra o organicismo conservador e contra o marxismo, ou seja, ele aborda a estrutura política tal qual ela funciona e deveria funcionar. Existe, para Weber, um controle dos meios materiais do poder político; trata-se do controle da violência e do controle dos meios administrativos e sua análise vai definir como o Estado se organiza através dos meios materiais do poder político. O controle da violência e dos meios administrativos é expropriado das mãos privadas e passam a pertencer os Estado que detém o monopólio exclusivo da força física em um determinado território. A expropriação dos meios administrativos está ligada a racionalidade já que o capitalismo representa a materialização da racionalidade através da burocracia. Esta exige rapidez, precisão e cálculo de resultados. A esse conceito de racionalidade, Weber opõe a luta de classes, mas em ambos os casos teríamos, sempre, ou uma ditadura da burocracia ou uma ditadura do proletariado. A História do homem é uma história do progresso que o conduziria a perfeição moral, política e econômica, dentre tantas outras. O acúmulo de conhecimento é a realização do progresso que, mais tarde estará ligada a ideia de desenvolvimento. Weber utiliza o método compreensivo para a análise política e social que tem como referência de análise o indivíduo (o homem pode interpretar a sua conduta – introspecção – ou compreender as intenções que compõem a conduta dos outros). O que é analisado, para tanto, é a ação social (ações motivadas por outros indivíduos). O que preocupa Weber é a racionalidade das sociedades modernas. No partido político, temos a liderança como principal elemento e a política é, para Weber, qualquer tipo de liderança independente de sua ação, criando uma

François Truffaut, cineasta francês

C N A S G E N U R F O B A D T R O V E A R E D M T I I N T R A D A O R D E C E I A A P S R O R M E U R G T A T I S O S S E R

por pedro marcelo galasso

"(?) de Vingança", HQ de Alan Moore O indivíduo que tem muita pressa

Condição de muitas mulheres vitimadas pelo tráfico humano Idolatro

A V E E N U E S

Max Weber

© Revistas COQUETEL

Oração (?): comple- Sensação menta a O quadro ao se principal do pacien- ingerir (Gram.) te do CTI pimenta

3/alt — doc — run. 4/leva — watt. 5/viena. 7/afobado. 12/controvérsia. 18/escravas domésticas.

Um pouco de teoria

Estado onde é reali- A ave que zada a Volta Internacanta cional da Cantor de "Vitoriosa" Pampulha e "Novo Tempo"

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por REINALDO JOSÉ LOPES

Marcos Piangers (pronuncia-

para quem acabou de chegar nele,

-se “piângers”), 37, jornalista

e eu acho que isso tem muito a ver

catarinense cujos livros sobre

com o universo infantil. As crianças

as delícias e as agruras de ser pai já

estão o todo tempo reexplicando o

venderam 150 mil cópias, é o primeiro

mundo para gente, como pequenos

a reconhecer a ironia de sua situa-

cientistas”, afirma.

ção: virou uma espécie de profeta

A lógica é implacável –como a vez em

da paternidade participativa mesmo

que Anita, na pré-adolescência, ouviu

sem ter tido uma figura paterna (o

como surgem os bebês e disse: “Que

homem que engravidou sua mãe a

nojo! Quer dizer então que vocês já

abandonou).

fizeram sexo duas vezes?”.

Ele, porém, contesta a lógica pseudo-

Tal como o americano, os livros não

freudiana pela qual o descaso do pai

se esquivam do sombrio –ambos

biológico automaticamente explicaria

começam com o fato de que a mãe

sua ânsia de caprichar na missão.

do autor chegou a decidir que inter-

“Se eu mesmo tivesse tido um pai pre-

romperia a gravidez e voltou atrás.

sente, acho que seria um pai melhor

Piangers conta que só descobriu o fato

ainda”, diz ele, citando as estatísticas

pouco antes de concluir o primeiro

que mostram que meninas que não

livro, quando sua mãe, com câncer,

são acompanhadas de perto pelo ge-

precisou extrair o útero.

nitor tendem a ter relacionamentos mais precoces e a também se tornar

LIBERTAÇÃO

mães solteiras, enquanto garotos que

Piangers diz que faz diferença fazer

vêm desse tipo de ambiente familiar

os machões “nunca troquei uma

muitas vezes também abandonam

fralda, nunca vou lavar uma louça”

seus filhos. “Eu consegui quebrar

entenderem a lógica da coisa. “Se as

esse ciclo, que infelizmente é uma

mulheres estão em outro momento,

história muito comum no Brasil.”

estão no mercado de trabalho, lidan-

Pai de Anita, 12, e Aurora, 5, Piangers

do com demandas que não existiam

narra os detalhes curiosos, comoventes

antes, os homens também não podem

e surreais da criação das meninas em

ficar parados”, diz.

crônicas nos best-sellers “O Papai é

“Ser um pai mais participativo e afe-

Pop” e “O Papai é Pop 2” (há ainda

tuoso vai ajudar esses caras a resolver

uma versão em quadrinhos da pri-

uma série de problemas do casamento

meira obra e o volume “A Mamãe é

e, principalmente, melhorar muito o

Rock”, de Ana Cardoso, sua mulher).

crescimento daqueles que deveriam

Pais e mães que geraram filhos em

ser as pessoas mais importantes da

qualquer momento da última dé-

vida deles, os filhos”, diz Piangers.

cada e meia vão se reconhecer nas

“Quando os mais machões entendem

histórias: dos poderes mágicos da

isso, é um negócio saudável e até

Galinha Pintadinha e da Peppa Pig

libertador –e ninguém está pedindo

para amansar os pequenos ao eter-

que eles parem com o futebol e saiam

no peso na consciência sobre dosar

dançando macarena”, brinca.

alimentação, sono e, claro, uso de

Apesar do sucesso dos dois livros,

tablets e smartphones.

Piangers diz não ter planos para

As crônicas também são eficazes ao

uma nova obra. Nos últimos tempos,

retratar a mistura de caos e encanta-

ele resolveu desacelerar. Encerrou

mento gerada por crianças crescendo

contratos com o programa “Encon-

–o que provavelmente tem a ver com

tro com Fátima Bernardes” e com

um dos ídolos literários de Piangers,

a RBS (afiliada da rede Globo em

o americano Kurt Vonnegut (1922-

Porto Alegre). Só manteve as colunas

2007), autor de clássicos da ficção

para os jornais “Zero Hora” e “Diário

científica como “Matadouro 5”.

Catarinense”.

“O Vonnegut adota um ponto de vista

Mudou-se para Curitiba com a família

quase infantil, ou às vezes o ponto de

e agora dá para levar as filhas a pé

vista de um alienígena, para tentar

para a escola. “Foi a melhor decisão

explicar o caos que é este planeta

da minha vida”, diz.

O PAPAI É POP/O PAPAI É POP 2 AUTOR Marcos Piangers EDITORA Belas Letras QUANTO R$ 29,90; 112 págs.


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Entrevista de emprego Veja as mentiras mais bizarras que candidatos já contaram a recrutadores

por NATÁLIA CANCIAN/FOLHAPRESS

Currículos com informações falsas ou exageradas são comuns em processos seletivos. As mentiras mais comuns estão relacionadas a experiência de trabalho (56%), formação (46%), habilidades técnicas (44%) e idiomas (39%), segundo pesquisa da consultoria de RH Robert Half, realizada em julho. Dos 303 diretores gerais entrevistados no país para o levantamento, 75% já dispensaram um candidato depois de descobrir que ele havia maquiado seus dados para entrar na empresa. “Hoje, é bem difícil uma mentira passar. Temos muitos recursos para checar”, afirma Thammy Arnaud, diretora de RH da GE do Brasil. “Assim que recebemos o nome de quem está concorrendo à vaga, já o procuramos na internet, nas redes sociais.” Os recrutadores também costumam ir atrás de referências dos candidatos nas empresas por onde já passaram. Além disso, eles são treinados para buscar inconsistências durante a entrevista e até mesmo sinais que denunciem que a pessoa está escondendo a verdade, como desviar o olhar ou ficar com a voz trêmula, por exemplo. A mentira mais fácil de ser detectada é a proficiência no idioma. Se ela for essencial para a vaga, vai ser testada em alguma etapa da seleção. Forçar a barra e dizer que o inglês é avançado quando, na verdade, é intermediário, pode desclassificar o candidato, mas nem sempre vai queimá-lo. “Pode ser também uma falha de autoavaliação”, pondera Caroline Cadorin, diretora da recrutadora Hays. Mas nada salva aqueles que aumentam a importância de cargos já ocupados ou transformam um curso de duas semanas em MBA. “Se a pessoa mente por coisa tão pequena, quem garante que não vai agir assim quando for contratada?”, afirma Arnaud. Outra situação recorrente é o candidato esconder o real motivo de saída do emprego anterior. “A pessoa acha lindo falar que ‘está em busca de novos desafios’, mas não há vergonha em contar que foi desligada”, diz Larissa Meiglin, supervisora de assessoria de carreira da Catho. Mas não é preciso exagerar na sinceridade e entrar em detalhes que possam ser mal interpretados. “Por isso é importante se preparar para a entrevista. Se há um ponto frágil, o candidato já deve esquematizar a resposta de forma a levar o foco para suas qualidades, mas sem faltar com a verdade”, diz Meiglin. INVESTIGAÇÃO Para garantir a contratação de pessoas idôneas, em especial para posições de confiança, empresas buscam o serviço de “background check”, uma verificação de histórico profissional e de reputação. Além de checar as instituições onde o candidato já trabalhou e estudou, as investigações buscam atividades irregulares, ligações partidárias, conflitos de interesse e menções problemáticas na imprensa, explica Carlos Lopes, diretor da Kroll, consultoria em gestão de riscos e investigações corporativas. Segundo ele, as investigações duram até duas semanas. “Recebemos as informações dos candidatos e confirmamos sua veracidade.” Perna curta Histórias bizarras de candidatos que tentaram driblar recrutadores QUASE IGUAL Em uma dinâmica de grupo, um candidato, de uma hora para a outra, mudou de personalidade. No início da atividade, suas respostas batiam exatamente com o que ele havia preenchido na ficha de inscrição pela internet. Da metade em diante, nenhuma informação coincidia. No fim do processo, os recrutadores o chamaram para uma conversa, para entender o que estava acontecendo. Pressionado, ele revelou que compareceu no lugar do

irmão gêmeo, que havia ficado em casa por causa do nervosismo. Por sorte, a empresa gostou do seu perfil e valorizou a iniciativa de ter ajudado o irmão. Acabou contratado e o outro gêmeo, eliminado. GATO DEDO-DURO Em uma entrevista por vídeo, de um lado, estava um candidato a uma vaga de engenharia e, do outro, um recrutador de uma multinacional. A conversa fluía bem até o entrevistador fazer uma pergunta bastante técnica, que exigia uma resposta muito específica. O candidato ficou parado, sem mexer um músculo. Ele achou que conseguiria fugir da questão se fizesse parecer que o vídeo havia travado. Mas, bem na hora, um gato passou por trás dele. O recrutador percebeu e, para evitar o constrangimento, seguiu para a próxima pergunta. Por coincidência, o vídeo destravou. PAI DE FAMÍLIA Para concorrer a uma posição de gerência em uma indústria química, um candidato afirmou que era casado e tinha dois filhos pequenos. Foi aprovado. Por sete meses, trabalhou na empresa como se tivesse uma família o aguardando em casa. No fim, descobriu-se que ele nunca havia sido casado e muito menos tido filhos. Segundo o recrutador, a vaga não fazia qualquer exigência quanto a isso, mas o profissional acreditou que passaria mais confiança aos superiores se fosse um pai de família. Acabou demitido, não por ser solteiro, mas por ser mentiroso. MESTRE DA WEB Por e-mail, o recrutador recebeu um currículo que lhe chamou muito a aten-

ção. Nele, um senhor dizia ser o grande responsável por trazer a internet para o Brasil. O recrutador, então, acreditou que não poderia perder a oportunidade de entrar em contato com alguém tão relevante para a história do país. Por telefone, pediu para que ele contasse mais sobre a empreitada. Do outro lado da linha, o candidato disparou a falar, sem explicar nada. Ainda por cima, começou a mostrar sua “fluência” em um idioma inexistente. Bem loucão. DIPLOMA FRIO Por um ano, um profissional trabalhou em um cargo operacional em uma fábrica, no qual precisava ter concluído uma graduação para atuar. A empresa passou por uma auditoria externa, que descobriu que o profissional nunca havia passado por uma faculdade. O diploma que ele havia apresentado no momento da contração era falso. A empresa, então, demitiu o impostor, mas não quis alegar justa causa. BEM A TEMPO Numa plataforma on-line, usada na primeira fase de um processo seletivo para uma vaga de estágio em uma multinacional, o candidato tinha que responder às perguntas de um questionário gravando vídeos, com duração determinada. Na questão sobre o nível de inglês, foi pedido que ele falasse na língua estrangeira. Em português, ele contou que havia se formado numa conhecida escola de idiomas e que se comunicava muito bem em inglês. “Inclusive, vou dar uma palinha agora para vocês”, disse. Respirou fundo, se concentrou e, então, o tempo do vídeo se esgotou.

LÍDER NATO Ter experiência em gestão de pessoas era requisito básico para uma vaga de gerente. Por telefone, o candidato garantiu ao recrutador que tinha prática no assunto. Foi chamado, então, para uma conversa presencial. O entrevistador pediu que ele discorresse sobre a sua experiência como gestor em cada empresa pela qual havia passado. Mas o profissional não tinha nada o que contar sobre nenhuma delas. “Onde você fez gestão de pessoas, então?”, indagou o recrutador, já perdendo a paciência. “Na minha casa. Você não tem noção o trabalho que minha mulher e meus filhos me dão”, respondeu. FUGIDINHA A vaga era para um cargo gerencial. Um das principais exigências: inglês fluente. Para a fase de entrevistas, só foram chamados os profissionais que haviam declarado no currículo que atendiam a esse requisito. Durante a primeira parte da conversa, a candidata discorreu bem sobre sua experiência em multinacionais. Em um dado momento, o recrutador pediu para que continuassem a entrevista em inglês. “Claro, você me daria só alguns minutinhos para eu ir ao banheiro?”, pediu a executiva. Ele esperou cinco, dez, vinte minutos. A candidata nunca mais apareceu. Fontes: Fernanda Mello, especialista em atração de talentos da 99 Jobs; Sócrates Melo, gerente regional da Randstad Professionals; Felipe Brunieri, gerente de divisão da Talenses; Thammy Arnaud, diretora de RH da GE do Brasil; e Miriam Rodrigues, especialista em gestão de pessoas do Mackenzie


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Câncer

Diagnóstico de câncer ainda é gargalo para pacientes do SUS, cerca de 60% dos pacientes são tratados já em estágio avançado, mais caros e difíceis de curar. Segundo o Ministério da Saúde, municípios e Estados são os responsáveis pela demora no tratamento Por THALES DE MENEZES/FOLHAPRESS

Livian Soares, 32, suava à noite, tinha febre, dores constantes de cabeça e, a cada dia, perdia mais peso. Os médicos em Uruaçu, no interior de Goiás, diziam que era anemia. Demorou um ano para ela ser atendida por um especialista em doenças do sangue no SUS e outros 90 dias para realizar os exames e chegar ao diagnóstico –linfoma de Hodgkin, tipo raro de câncer. Em 2014, o nódulo ocupava sua axila, mas, na época do diagnóstico tardio, já tinha se espalhado por garganta, tórax e estômago. Estava no estágio quatro, considerado avançado pelos médicos. O tratamento deveria começar imediatamente, mas a primeira quimioterapia foi marcada para três meses depois, em Goiânia, a cinco horas de distância da sua casa. A espera de Livian mostra que a demora entre a suspeita inicial e a chegada a um diagnóstico é o principal gargalo para obter o tratamento adequado no serviço público de saúde em todo o país. Em vigor desde 2014, a chamada Lei dos Sessenta Dias determina que todos os pacientes com câncer devem ser tratados na rede pública até dois meses após o diagnóstico. No entanto, quatro em cada dez casos esperam mais do que o prazo legal para receber atendimento, de acordo com dados do Siscan (Sistema de Informação do Câncer) do Ministério da Saúde. “A lei pressupõe que o paciente consegue chegar imediatamente a um hospital especializado em câncer, mas, antes disso, alguns passam por mais de oito consultas”, diz Merula Steagall, presidente da Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia). No Estado de São Paulo, o prazo de 60 dias costuma ser respeitado, diz Paulo Hoff, diretor do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo), que atende 10% dos casos de câncer do SUS estadual. “Somos referência, exceção no Brasil. Mas, às vezes, ficamos sobrecarregados porque pacientes de Estados vizinhos vêm procurar tratamento aqui”, explica. “É desumano uma pessoa viajar por horas para achar um hospital que a atenda.” Essa dificuldade foi enfrentada pela estudante Letícia Fernandes, que viajava duas horas e meia de segunda a sábado de Mogi das Cruzes, onde

vive, até a capital paulista para tratar o linfoma no pescoço, descoberto aos 18 anos. Não foi sua única peregrinação no SUS. Ela esperou um ano para descobrir qual doença tinha, gastou R$ 950 em uma consulta particular e as sessões de radioterapia só foram marcadas quatro meses depois do pedido médico, quando esse tratamento não teria mais efeito. A doença reapareceu duas vezes. Na primeira, fez um transplante de medula óssea, que demorou mais de quatro meses para ser realizado. Na segunda, o serviço público já não oferecia nenhuma opção que funcionasse para ela. Um remédio importado custou R$ 600 mil e foi pago pela União, após briga judicial de mais um ano. A jovem, hoje com 23 anos, define o processo: ansiedade, medo, desespero e desânimo. Mais caro Em São Paulo, 55% dos casos são diagnosticados nos estágios três e quatro, mais avançados e difíceis de tratar. No país, são 60%. Essa demora, consequência da lentidão, pode custar até 19 vezes mais aos cofres públicos. Para apressar o diagnóstico, uma nova lei está em tramitação na Câmara dos Deputados, estipulando que todas as consultas e exames em casos suspeitos de câncer sejam realizado em até 30 dias. Minas Gerais foi o primeiro Estado a criar legislação. A regulamentação é aguardada para os próximos meses. O Estado terá de criar 12 novos centros especializados em diagnóstico oncológico. O tratamento de um câncer de intestino no SUS, em seu estágio inicial, custa cerca de R$ 4 mil. Nas fases críticas, o valor chega a R$ 76 mil. “No câncer, o tempo corre contra. Em casos de leucemia, por exemplo, é preciso internar o paciente em poucos dias, mas monitoramos demora de até cinco ou seis meses” diz Luciana Holtz, do Instituto Oncoguia. Para Fernando Maluf, chefe da oncologia do Hospital BP Mirante, em São Paulo e fundador do Instituto Vencer o Câncer, a espera tem ainda um fator emocional. “Para quem tem uma doença, esses dias parecem eternos.” Em Brasilândia de Minas, a 500 km de Belo Horizonte, Andreia Alves, 39, vive na pele a tortura.

Em março, a professora ouviu da médica: “Como você ainda está viva?”. Assim como Livian, ela foi diagnosticada com linfoma de Hodgkin. O resultado da biópsia veio no início de julho e, após cinco meses de busca por exames em outra cidade, Andreia ainda aguarda pelo início do tratamento. Ela precisava iniciar as sessões de quimioterapia e radioterapia imediatamente, mas, prestes a completar dois meses desde que descobriu a doença, quando liga para a Secretaria de Saúde de Minas Gerais só ouve que não há vagas. A espera é para um tratamento em Belo Horizonte ou Uberaba, a sete horas de onde mora. Para ela, no entanto, o pior é não saber quando. “No início era apenas um caroço, agora já são 12. A médica disse que posso ter morte cerebral a qualquer momento, porque eles estão na minha jugular”, diz Andreia. A falta de transparência para saber o início do tratamento é apontada também por Luciana Holtz. “O paciente se sente perdido, não há um site que mostre quando o exame foi agendado, quando é a próxima consulta, quando começa a quimioterapia. Tem que esperar por uma ligação da central de regulação da fila.” OUTRO LADO Espera depende de gestores locais, diz ministério O Ministério da Saúde, em nota, diz reconhecer a importância da Lei dos 60 dias, mas para que o prazo legal seja cumprido aos pacientes do SUS, afirma ser necessária parceria dos gestores locais. A pasta diz esperar que a rede básica atenda adequadamente pessoas que querem exames para detectar câncer. O tempo para chegar ao diagnóstico, no entanto, depende de municípios e Estados, que são “responsáveis pela organização dos fluxos de atenção básica e possuem autonomia para organizar a rede oncológica como assim definirem”, diz a nota. Segundo o ministério, os recursos para os 299 hospitais e unidades especializadas para tratamento de câncer cresceram 46% entre 2010 e 2016 –de cerca de R$ 2,2 bilhões para R$ 3,3 bilhões. Arte: Folhapress

Arte: Folhapress


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Suplementos vitamínicos Especialistas criticam a venda livre de suplementos vitamínicos. A complementação alimentar, porém, é elogiada e necessária à saúde, se usada com indicação médica

por TATIANA CAVALCANTI/FOLHAPRESS

A venda livre e sem receita

ele, custam entre R$ 200 e R$ 500.

de suplementos vitamínicos

“Se não houver exames de sangue

em farmácias e até pela

para avaliar quais as vitaminas

internet é criticada por médicos.

estão faltando, poderá ser um

A ingestão de complementos ali-

dinheiro jogado fora, porque não

mentares deve ter recomendação

terá efeito”.

médica, apesar de ser considerada

Para isso, é fundamental a ajuda do

saudável por especialistas.

médico para indicar o suplemento

O uso de repositores de vitaminas

certo para cada paciente. “É caso

é até incentivado a complementar

a caso. Nosso corpo precisa desses

a alimentação natural, seja aos

complementos”, diz Letícia Fontes,

sedentários, aos que praticam

nutróloga da Clínica MEI - Medicina

esportes ou frequentadores de

Integrativa.

academias. Mas precisam ser

Letícia alerta que polivitamínicos

ingeridos da forma correta.

nem sempre são uma boa opção.

“A venda devia ser mais rigorosa.

“Às vezes há deficiência de apenas

Em farmácias, por exemplo, seria

uma vitamina, não sendo necessário

preciso um nutricionista para

a reposição das demais”. E conclui.

atender a essa demanda”, afirma

“É preciso tomar na quantidade

Alan Tiago Scaglione, nutricionista

indicada para não haver intoxicação

da Estima Nutrição.

e aliar à alimentação balanceada”.

Ele segue afirmando que há ris-

Se usado em excesso, pode causar

cos na ingestão incorreta desses

câncer

suplementos, em especial a quem

Pesquisa apresentada em 2015

tem problemas de fígado e rins.

por Tim Byers, então diretor-

“Para quem tem predisposição,

-associado de controle e prevenção

pode acelerar o problema”.

ao câncer do Centro de Câncer da

Scaglione explica que o excesso do

Universidade do Colorado, mostra

suplemento pode prejudicar a saú-

que suplementos consumidos em

de, e dá um exemplo. “Uma pessoa

excesso podem aumentar o risco

que tem sobrepeso e hipertensão

de câncer.

que consuma um suplemento à

“Não temos certeza do motivo,

base de cafeína, poderá acelerar

mas evidências mostram que

o batimento cardíaco, levando

pessoas que tomam além do

ao infarto”.

necessário diariamente correm

Suplementos de qualidade, segundo

esse risco”, explica Byers.

Arte: Folhapress


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Jornal do Meio 919 Sexta 22 • Setembro • 2017


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