927 Edição 17.11.2017

Page 1

Braganรงa Paulista

Sexta

17 Novembro 2017

Nยบ 927 - ano XVI jornal@jornaldomeio.com.br 11 4032-3919


2

Jornal do Meio 927 Sexta 17 • Novembro • 2017

Expediente Jornal do Meio Rua Santa Clara, 730 Centro - Bragança Pta. Tel/Fax: (11) 4032-3919

China faz melhor ficção

científica da atualidade por RONALDO LEMOS/FOLHAPRESS

E-mail: jornal@jornaldomeio.com.br Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli Jornalista Responsável: Carlos Henrique Picarelli (MTB: 61.321/SP)

As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão.

Em tempos de crise, um

Liu Cixin.

nologicamente mais avançada,

mais perversa de derrotismo)?

dos grandes riscos é a

Cixin, vale lembrar, já foi cha-

que por sua vez está condenada

É com essa premissa que Cixin

perda da capacidade de

mado de “o Arthur C. Clark”

à extinção por orbitar um sis-

constrói as bases para sua “cos-

imaginação. Crises produzem

da China e já recebeu o prêmio

tema solar composto por três

mopolítica”, esquadrinhando as

pessoas neuróticas, que por sua

Hugo, considerado o Nobel da

diferentes sóis.

difíceis decisões que a descoberta

vez, desenvolvem a chamada

ficção científica (o primeiro

O livro concentra-se especifi-

de outra civilização imporia à

se tornar o celeiro industrial

“visão em túnel”, só conseguindo

asiático a vencer a honraria).

camente na dimensão política

humanidade. A questão tem

do planeta.

enxergar o que está imediata-

Antes de se tornar escritor,

dessa situação. Que estratégias

similaridade com a détente

A fase mais recente, que vem se

mente à sua frente. Mais do que

trabalhou como engenheiro em

a humanidade deve adotar para

nuclear. Por exemplo, a possi-

desdobrando nos últimos anos,

isso, prisioneiras de visões sim-

uma usina termoelétrica.

sobreviver?

bilidade de aniquilação mútua

é o país se convertendo em po-

plistas da realidade e reféns de

A “Floresta Negra” é um es-

Como lidar com o derrotismo e

funcionaria para impedir um

tência de inovação tecnológica.

sentimentos primais, como raiva

petáculo de imaginação. É a

a neurose típicas de qualquer

conflito cósmico?

Para isso acontecer, a China

e medo. Incapazes de transfor-

segunda parte de uma trilogia

crise (inclusive a brasileira)?

Semelhanças com o embate atual

apostou em ciência e tecnologia,

mar desafios em oportunidades,

que teve início com “O Proble-

Mais ainda: como lidar com a

entre EUA e Coreia do Norte

com foco e planejamento. O fato

como no ideograma chinês.

ma dos Três Corpos”, sobre o

parcela da população que passa

não serão mera coincidência.

de produzir hoje a melhor ficção

Um excelente antídoto para a

qual já escrevi aqui na coluna.

a desejar a invasão, isto é, que as

A obra de Cixin é também uma

científica do planeta não é um

falta de imaginação vem, aliás,

Sua trama é justamente sobre

forças militares extraterrestres

crônica do momento atual da

acaso. É a cereja que coroa um

diretamente da China. Trata-se

a maior crise que a humanidade

assumam logo o planeta, já que

China. Após sobreviver a mú-

bolo forjado pela conjugação

do impressionante livro de ficção

poderia viver: a iminência da

humanidade teria sido incapaz

tuas crises ao longo de mais

entre ciência e capacidade de

científica “A Floresta Negra”

destruição total por causa da

de resolver seus problemas por

de um século, o país conseguiu

imaginação. Dois elementos que

(The Dark Forest), escrito por

invasão de uma civilização tec-

conta própria (talvez a forma

saltar da pobreza agrária para

estão em falta no Brasil atual.

As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Bragança Jornal Diário.


3

Jornal do Meio 927 Sexta 17 • Novembro • 2017

PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS

www.coquetel.com.br

Resposta da "vaca de presépio"

Sino que se dependura ao pescoço de bestas Descuidado; negligente

Muro de (?): reveste as encostas

Gás típico de filtros de água

"The (?)", legenda final de filmes

Atitude peculiar a uma coletividade

Perito; experimentado (?) metal: o dinheiro Intensamente cruel O inferno (poét.) Celebrar (missa)

Lábio, em inglês "Long", em LP

A constelação das Três Marias

1.050, em romanos Prenome de Sarney

Como fica o jacaré durante o sono

Muito (apócope) Cidade saudita

Arte (?): a dita "pintura ingênua"

Aquele que assedia Cordeiro ou ovelha de um ano

Domados; domesticados 18

Solução

B

O

O I F I R C S I A T R I

A

E I E R A

L V A N O

A G D A A R M I A S A T R O R R I M M O E D E I N A D

N

E D U A R D O C O U T I N H O

O S T

E

O Z O N I O M E A R

BANCO

E H M S E E V I I A T G I O A R R V V N I I B L L L N A M L L J O O B S S O M E S

Pedro Marcelo Galasso - cientista político, professor e escritor. E-mail: p.m.galasso@gmail.com

Sintoma da cólera e da dengue Meio de transporte dos "Greys" Livro sagrado do Cristianismo

O alimento preferido da piramboia Soltar a voz (o gato) Sentimento provocado pelo insolente

L H A D I M O B P I L S I A R I A

curso que deve ser combatido por todos, o discurso racista que fere a nossa alma e que nos lança ao abismo da violência. Triste é saber que não é a primeira vez que a classe jornalística brasileira comete tais atos de racismo e de preconceito. Basta nos lembrarmos do que disse outro jornalista reconhecido no final de um jornal do SBT quando fomos saudados por agentes da coleta de lixo, cuja importância social é imensamente maior que a deste tipo de jornalista. O afastamento do jornalista da emissora Globo é oportunista e em nada ameniza o caso que deveria ser denunciado pelo Ministério Público, mas a força nos bastidores do poder irá, é claro, impedir tal ação e o caso em breve será esquecido e tratado como um erro a ser perdoado. Revoltante é saber que um ministro do STF tenha vindo a público defender a fala deste jornalista. Como se isso não fosse suficiente, os ataques contra uma filósofa em um aeroporto fecham uma semana na qual expressamos a nossa ignorância, violência e falta de civilidade, com ações racista e vexatórias, enquanto a maioria é entorpecida pelos discursos e choros de jogadores de futebol. É difícil acreditar que os ataques foram pensados por uma só pessoa e fica claro que ele foi arquitetado por algum grupo maior, pois quem conhece figuras como esta filósofa que pretende discutir de forma argumentativa e clara uma questão tão urgente e significativa como a identidade de gênero? Um país assaltado por grupos extremistas e religiosos, alimentados com ódio e desinformações só pode ver saída através da violência, da imposição e leitura unidimensional da realidade social e histórica do Brasil. A legitimação da violência, do racismo e a falta de diálogo que nasce neste contexto afeta a vida de todos, pois a ignorância é segura, sedutora e contagiosa.

M

O estranho caminho que as falsas convicções políticas têm tomado, no Brasil, devem assustar e alarmar as pessoas que creem no consenso e no debate franco e honesto. Em poucos dias, assistimos uma declaração infeliz da ministra dos Direitos Humanos que dizia que seu salário de 33 mil reais criava condições de trabalho escravos em um país no qual a maioria da população vive com menos de dois salários mínimos e que recebe o apoio de um outro ministro que, podemos especular, defende a mesma visão. Uma classe de privilegiados em um país de pessoas pobres e humildes e que se apoiam diante deste absurdo, perpetuando uma ideia colonial de que as pessoas mais carentes devem viver como é possível enquanto as pessoas mais ricas podem, portanto, se tornarem cada vez mais ricas. Outro ato indefensável veio da ministra do STF que defendeu que as redações do Enem que fossem escritas com afrontas e desrespeitos aos direitos humanos, direitos que as ministras citadas desconhecem, fossem permitidas e avaliadas pelos corretores mesmo ferindo gravemente o que defende a Constituição brasileira, ou seja, as mensagens de ódio cego e violento poderiam ser consideradas como liberdade de expressão. Sabemos, no entanto, que a liberdade de expressão é uma conquista iluminista e que pressupõe a ideia do Bem Comum e do respeito à figura humana não podendo defender ideias ou propostas que ferem tais princípios e ideais. E, como o caso mais recente, tivemos o vazamento de um áudio e suas imagens no qual um jornalista conceituado da maior emissora de TV do país destila de forma sórdida e, ao que parece, frequente uma frase racista que é comum por aqui. Tão comum que é tida como uma expressão popular e, por isso, aceita. Frase carregada de injustiças históricas, de violências e de preconceitos que condenam à morte e à pobreza milhões de pessoas e que dita de forma jocosa na TV legitima um dis-

Insensatez Lacuna (fig.) Adicional sobre produto tabelado

Cineasta paulistano Dividir de "Cabra Marcado em duas para partes Lixeiro (bras.) Morrer" iguais

O

por pedro marcelo galasso

© Revistas COQUETEL

Compositor da série "Bachianas Brasileiras" (?) Zi, Gigante filósofo mitológico

3/end — lao — lip. 4/aruá — etos. 7/aljorce. 9/obsidente.

O que temos de pior

Fazer Deflagrou a crise econômica dos evaporar EUA Terna; Um de seus prin- (2008) carinhosa cipais representantes na Literatura brasileira é o personagem Peri


4

Jornal do Meio 927 Sexta 17 • Novembro • 2017

por RACHEL BOTELHO/FOLHAPRESS

Daiana tinha 14 anos quando tomou a primeira anfetamina para emagrecer e, aos 30, havia feito três lipoaspirações. Ana Carolina queria perder peso e passou a comer cada vez menos, a ponto de, aos 15, ser hospitalizada para não morrer. Lucas subia na balança várias vezes ao dia, mas em um sábado em que cedeu à tentação comeu tanto e tão rápido que forçou o vômito. Os três viveram toda a adolescência e boa parte da vida adulta com culpa, vergonha e insatisfação permanente com o corpo. Eles só se deram conta de que a obsessão com a alimentação e a forma física eram sintomas de uma doença ao receberem o diagnóstico de transtorno alimentar. O problema, mais conhecido nas formas de anorexia e bulimia nervosa, atinge principalmente o sexo feminino e começa, em geral, na adolescência. Mas especialistas veem com preocupação o surgimento de casos em outros momentos da vida e o crescente número de garotos afetados. Para a jornalista Daiana Garbin, 35, o susto -e o alívio- que sentiu ao saber que tinha uma doença foram tão grandes que ela deixou a carreira na TV para se dedicar a pesquisas sobre corpo, autoimagem, saúde e alimentação, e criar um site e um canal no YouTube,

o Eu Vejo. Um ano e meio depois, ela discute esses temas em um misto de depoimento e grande reportagem no recém-lançado livro “Fazendo as Pazes com o Corpo” (Sextante, R$ 34,90, 168 págs.). “Sabia que não estava sozinha, que as mulheres, em geral, estão vivendo um sofrimento grande com a comida e o corpo por causa do padrão de beleza irreal imposto pela sociedade como um todo, da família até as redes sociais”, explica. De 0,5% a 1% das mulheres sofrem de anorexia, e de 1% a 2%, de bulimia, diz o psiquiatra Táki Cordás, coordenador do Ambulim (Programa de Transtornos Alimentares do Hospital das Clínicas-USP). A compulsão alimentar, outra manifestação do transtorno, atinge cerca de 3% da população. E os números podem estar subestimados. “Se considerássemos quadros parciais, que não preenchem todos os critérios diagnósticos, o número seria maior”, diz Cordás. Entre as causas do transtorno está a predisposição genética, além de fatores psíquicos, hormonais e ambientais, como hábitos alimentares e a pressão social. “Mais de 90% dos casos de transtornos alimentares se iniciam com uma dieta. Mas é uma equação muito individual, há vários possíveis fatores determinantes”,

avalia a psicanalista Patrícia Jacobsohn, da Ceppan (Clínica de Estudos e Pesquisas em Psicanálise da Anorexia e Bulimia). Não é por acaso, diz a especialista, que a maioria dos sinais aparece por volta dos 12 anos de idade, uma fase em que o pensamento crítico ainda não está formado. Parte importante da prevenção, afirma, é desenvolver nos jovens a ideia de que a imagem corporal é apenas uma parte do que eles são. ALERTA A situação de Lucas e Ana Carolina poderia ter sido pior não fosse o alerta de pessoas que já conheciam o transtorno. Ela, que até os 12 anos nunca havia tido problemas com o corpo nem com a alimentação, passou a ir mais de dez vezes ao dia à farmácia para se pesar e parou de comer na presença das pessoas. “Como minha prima também teve, meus pais souberam que havia algo errado e procuraram um especialista. Estava com 40 kg e piorei até chegar a 30. Com 15 anos, fui internada duas vezes, porque meu coração estava quase parando de bater”, conta a engenheira de 32 anos. Ela foi a única sobrevivente do grupo de meninas com as quais esteve internada. Lucas, 32, que aos seis tinha vergonha de tirar a camisa porque achava que

era gordo, só aceitou procurar o médico muitos anos depois devido à insistência da chefe. “Eu trabalhava em um dos prédios mais altos de Campinas, e descia de escada oito vezes por dia para emagrecer. Fiquei mal, depressivo, e ela me falava para ir ao psiquiatra. Na minha cabeça, isso só dava em mulher”, lembra ele. Ele ainda está em tratamento e, assim como os demais entrevistados, afirma que os dias são de altos e baixos. “Tem dia que a autoestima está boa e eu vejo que estou melhorando. Muita gente fala que não sou gordo, mas eu me vejo maior do que realmente sou.” Mas cada caso é um caso. Daiana nunca ficou muitos dias sem comer nem perdeu peso demais. Também não vomitava. Mas enxergava seu corpo de modo diferente do que os outros o viam, sempre maior e mais gordo. “Eu perseguia uma magreza impossível e achava que não ia ser amada porque não tinha o corpo adequado. É um problema de autoestima.” Para ela, é errado transmitir a mensagem que “a magreza é um passaporte para a felicidade”. “As pessoas adoecemArte: Folhapress de tanto terrorismo nutricional que estamos semeando desde a infância.” Uma vez diagnosticado o problema, é possível controlar os sintomas, dizem os especialistas.


Jornal do Meio 927 Sexta 17 • Novembro • 2017

5

Só para mulher Medo de assédio gera serviço só para mulher, empreendedoras criam negócios para público feminino baseadas em experiências pessoais desconfortáveis

por FERNANDA REIS/FOLHAPRESS

O crescente número de denúncias de assédio tem estimulado negócios para atender apenas o público feminino. Para as clientes de serviços como aplicativo de transporte, autoescola e até estúdio de tatuagem, ter uma mulher no comando passa mais segurança e conforto. A ideia da administradora Gabriela Corrêa, 35, surgiu depois de ser assediada em um táxi. Ela preferiu não denunciar o motorista, mas teve a ideia de abrir junto com a irmã o aplicativo Lady Driver, serviço de transporte exclusivo para mulheres. Com R$ 500 mil próprios, a administradora procurou aceleradoras, mas a ajuda veio de investidores-anjo, que aportaram R$ 1 milhão. Corrêa treina as motoristas e dá dicas para melhorar o faturamento. “Algumas estão conseguindo uma renda de até R$ 1.500 por semana”, diz. A sócia acredita que seu diferencial é deixar clientes mais seguras e à vontade durante a viagem. A empresa não revela o faturamento. Para Ana Fontes, presidente da Rede Mulher Empreendedora, o desafio é avaliar se de fato há interesse do público no serviço. “O projeto deve resolver um problema claro, por isso é vital testar o modelo antes de abrir as portas”, diz. Também é preciso acompanhar novas tendências. “Isso evita que você seja vítima de uma moda, como já vimos em outros tipos de negócio, que acabam com superoferta”, afirma a consultora do Sebrae Ariadne Mecate. VOLANTE Para a empresária Carla Müller, 38, de São Paulo, os tempos de instrutora na autoescola do pai mostraram que muitas mulheres tiravam a carteira de motorista, mas preferiam não dirigir. Müller viu aí uma oportunidade e há três anos abriu o Centro de Treinamento Mulheres no Volante, no bairro da Saúde (zona sul), em São Paulo. A segunda unidade foi inaugurada em julho do ano passado em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo). O curso é apenas quem já tem habilitação, mas precisa de aulas para “desenferrujar”. Uma psicóloga atende quem tem medo de dirigir.

“Muitas são viúvas ou recém-separadas e dependiam por muito tempo dos parceiros como seus motoristas”, afirma Muller. Há também casos de mulheres cujos companheiros dizem ter ciúme e preferem aulas com instrutoras. Müller recorreu a um empréstimo e uma carta de crédito de um consórcio para comprar os carros. Foram investidos R$ 200 mil na escola de São Paulo e R$ 110 mil na de São Bernardo. Foi difícil encontrar instrutoras. Para isso, recorreu a cursos de formação na hora de contratar. Hoje a unidade da Saúde tem uma média de cem clientes por mês e fatura em torno de R$ 55 mil. Já a escola do ABC tem entre 40 e 50 matrículas mensais e um faturamento que oscila entre R$ 45 mil e R$ 48 mil, em parte puxado pelos adicionais para quem faz aulas na estrada. Como só oferece curso para quem tem CNH, a empresária costuma fazer divulgação nas autoescolas de conhecidos e da família, que atua no setor. “Os serviços se complementam”, afirma Müller, que faz planos para ampliar a marca a partir de 2019. PRIVACIDADE Em Porto Alegre (RS), há pelo menos um estúdio de tatuagem só para mulheres, o Cadê Amélia, da tatuadora Glaura Gonçalves, 42. Gonçalves teve a ideia depois de ouvir queixas de clientes constrangidas por dividir o espaço com homens mesmo quando as tatuagens são em lugares íntimos. Da atendente às tatuadoras, todas são mulheres. Homens não podem entrar nem como acompanhantes. A regra inclui o sócio-investidor, que aportou parte dos R$ 60 mil de capital inicial. “Para tatuar o seio ou a coxa é preciso tirar a roupa. Aqui, as clientes não precisam se preocupar com olhares”, explica Gonçalves. O atendimento exclusivo tem atraído também mulheres na casa dos 60 anos que nunca se tatuaram. O faturamento do estúdio fica entre R$ 20 mil e R$ 30 mil por mês, numa média de 180 a 200 tatuagens. Gonçalves planeja abrir uma segunda unidade, também no RS, até o fim do ano.

(Foto: Divulgação

O estúdio de tatuagem Cadê Amélia, em Porto Alegre (RS), que só atende mulheres e não permite homens nem como acompanhantes das clientes Foto: Alberto Rocha/Folhapress

Carla Müller, sócia do Centro de Treinamento Mulheres no Volante, em São Paulo (SP). (Foto: Divulgação

A administradora Gabriela Corrêa, que fundou serviço de transporte apenas com motoristas mulheres, em São Paulo


6

Jornal do Meio 927 Sexta 17 • Novembro • 2017

Agenda

Agenda lotada atrapalha o planejamento do dia de trabalho por ANNA RANGEL/FOLHAPRESS

Se a ideia é economizar tempo no trabalho, fazer planos no começo do dia ou no fim do expediente raramente dá certo. É mais eficaz fazer um planejamento para a semana ou para três dias, com lacunas que permitam encaixar imprevistos. Isso porque, ao fechar muito o plano, o profissional terá de sacrificar o que é importante em nome de problemas que surgem de repente. Deixar espaços no planejamento é o jeito mais simples de fugir de um dos grandes erros da vida corporativa: não saber diferenciar o que é urgente do que é prioritário, diz o especialista em gestão de tempo Christian Barbosa. “Saber priorizar ajuda nos objetivos de médio e longo prazo. Se é em cima da hora, passa a ser urgência, e a pessoa viverá em função de apagar incêndios”, afirma. Em geral, um bom momento para se organizar é na tarde de sexta-feira, quando o fluxo de trabalho costuma estar um pouco mais calmo. A especialista em marketing Deborah Cavichiolli, 27, monta seu plano na sexta, mas aprendeu a deixar espaços na agenda para imprevistos não só do trabalho, mas também da vida pessoal. “Essas coisas acontecem, e é melhor aceitar do que se frustrar. Se for preciso, passo alguma coisa para o dia seguinte, sem pânico”, afirma. Para filtrar melhor as demandas e gerir o próprio tempo de forma eficiente, a técnica favorita dos especialistas é chamada matriz de Eisenhower, cuja criação é atribuída ao presidente americano de mesmo sobrenome. Nela, as tarefas devem ser divididas entre aquelas importantes e urgentes, as prioritárias, mas que podem ser feitas depois, aquelas que devem ser feitas já, mesmo que não sejam fundamentais, e as que podem ser dispensadas ou terceirizadas. O administrador Carlos Róseo, 26, aprendeu a eleger o que era importante após muitas jornadas estendidas e expedientes de fim de semana. “Tive um caso grave de ansiedade e até sonhava com problemas do trabalho. Fui ler alguns livros para economizar tempo e voltar a ter uma vida fora da empresa.” Prioridades postas, é hora de transformá-las em pequenas atividades, que devem ser cumpridas diariamente, e honrar os prazos, sempre com uma boa dose de foco. Por isso, o chamado “multitasking”, ou tocar vários afazeres ao mesmo tempo, não vale a pena. “A pessoa vai gastar mais tempo para concluir a tarefa, pode cometer mais erros e não dedicará a ela a atenção que deveria”, diz Barbosa. Em vez disso, é preciso se concentrar em uma coisa só, mesmo que por um intervalo menor, como meia hora. Outra cilada da gestão de tempo é a reunião improdutiva. “Se ela passa de 25 minutos, já é longa demais”, diz Renata Lorenz, gestora de RH do VivaReal, que

incentiva encontros mais curtos. TELA OU PAPEL Para dar conta de tantas tarefas no dia a dia, é preciso incluir tudo na agenda, inclusive o prazo final para execução das atividades. Vale usar aplicativos ou papel, se o celular for uma fonte de distração grande demais. Nos dois casos, a dica é não separar os itens profissionais dos pessoais. Gustavo Orciuolo, 26, formado em marketing, inclui na agenda até os jogos de futebol aos sábados. “Assim, consigo encaixar meu descanso e não abro mão deles. Ser workaholic, para mim, é coisa de quem não organiza a rotina”, afirma. A boa notícia é que a competência pode ser desenvolvida -é só treinar todos os dias, diz Alexandre Ullmann, diretor de RH do LinkedIn. Para ajudar, há livros, aplicativos, blogs e até canais no YouTube sobre o assunto. Dá até para buscar um mentor de gestão de tempo na empresa, como um colega, diz Luiz Vagner Raghi, mestre em administração e professor da Mackenzie. Mais uma vez, é preciso tomar cuidado para não se apegar demais ao planejamento nem colocar itens demais na agenda, o que pode gerar frustração quando as metas não são cumpridas. “Vale ter flexibilidade para não se frustrar quando a semana não flui do jeito planejado”, diz Larissa Laibida, da consultoria Robert Half.

gastas horas demais em tarefas que não importam no longo prazo “A ARTE DE FAZER ACONTECER” AUTOR David Allen EDITORA Sextante QUANTO R$ 29,90 Allen criou um método que permite encontrar atividades inacabadas no cotidiano e eleger prioridades para cumpri-las. Assim, fica mais fácil descobrir o que pode ser delegado, o que deve ser descartado e o precisa ser resolvido com rapidez “SCRUM - A ARTE DE FAZER O DOBRO DO TRABALHO NA METADE DO TEMPO” AUTOR Jeff Sutherland EDITORA Leya QUANTO R$ 32,90 O método “Scrum”, criado pelo autor, se tornou tática de diversas empresas para aumentar a produtividade dos colaboradores. Na obra, Sutherland mostra como agilizar o trabalho e aumentar a capacidade de adaptação para enfrentar

a concorrência, entre outras dicas ATRACKER O usuário abastece o app com as atividades que desempenha durante o dia e seus horários. O sistema gera um gráfico, que mostra onde o tempo está sendo gasto. É possível usá-lo como agenda, esquematizando toda a rotina Disponível em iOS e Android POCKET O aplicativo permite armazenar links interessantes para serem lidos mais tarde. A ideia diminui as distrações durante o dia. Dá para usar o app off-line e receber indicações de conteúdos Disponível em iOS e Android GOOGLE KEEP A ferramenta é um “post-it” virtual, no qual o usuário pode colocar anotações e lembretes. Dá para categorizar as notas por cor, separando tarefas pessoais e profissionais Disponível em iOS, Android e desktop Foto: Keiny Andrade/Folhapress

DEIXE A MESA EM ORDEM - Além de fazer um planejamento semanal, vale usar o fim do expediente para reorganizar a mesa, descartando e arquivando papéis e documentos de computador que não serão mais usados - Na hora de arquivar materiais, não faça pilhas. Isso impede que o profissional visualize o que está em seus arquivos e exige mais tempo para encontrá-los no meio da bagunça - Use pastas suspensas e categorize-as, por exemplo, entre os materiais que serão usados em breve, aqueles que só servirão para consulta ou itens de uso esporádico - Evite espalhar lembretes pela mesa ou pela tela do computador. Isso induz o profissional a achar que tudo aquilo é prioridade e faz com que se perca com mais facilidade entre tantas tarefas PLANEJE-SE Livros e aplicativos que ajudam a economizar tempo “A TRÍADE DO TEMPO” AUTOR Christian Barbosa EDITORA GMT QUANTO R$ 31,80 O autor propõe separar o tempo em três esferas: importante, urgente e circunstancial. É uma forma de equilibrar melhor as atividades e averiguar se estão sendo

A especialista em marketing Deborah Cavichiolli, 27, no trabalho, em São Paulo


Jornal do Meio 927 Sexta 17 • Novembro • 2017

7

Obstrução urinária Doença do presidente Temer é mais com um entre idosos, obstrução urinária ocorre por causa do aumento da próstata, mal que se intensifica depois dos 50 anos

por EMERSON VICENTE/FOLHAPRESS

A obstrução urinária, doença que levou o presidente Michel Temer (PMDB) para o hospital na última quarta-feira, é caracterizada pelo crescimento da próstata, que impede o fluxo normal da urina pela uretra. Segundo os médicos, esse problema começa a aparecer nos homens a partir dos 40 anos, de forma lenta. A partir dos 50 anos, a próstata pode aumentar 50%. E depois dos 80 anos, o crescimento pode ser de 90%. O presidente da República tem 77 anos. “Pelo que foi divulgado, o presidente teve uma hiperplasia benigna, que é um aumento benigno da próstata. Isso pode levar à obstrução da uretra, canal que esvazia a bexiga”, diz o urologista Hiury Silva Andrade, da Universidade de São Paulo e membro da Sociedade Brasileira de Urologia. “São sintomas progressivos. Não sabemos se ele já fazia tratamento para essa doença ou apresentava sintomas e não fazia tratamento”, completa. No caso de Temer, segundo o Palácio do Planalto, ele foi submetido a uma “sondagem vesical”, que é a introdução de uma sonda pelo canal da uretra para esvaziar a bexiga, que normalmente acumula 400 ml de urina, mas, com a obstrução, pode acumular 1,5 litro. “Essa obstrução causa muitas dores. Algumas pessoas até desmaiam. Além disso, corre o risco de causar uma infecção urinária”, afirma Alex Meller, urologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Os médicos também afirmam que não existe uma causa exata para o aparecimento da doença. Porém, alguns hábitos podem aumentar os riscos. “Uma pessoa obesa, que tem pressão alta, diabetes, colesterol elevado, é sedentária, pode ter três vezes mais riscos de ter um aumento em sua próstata”, afirma Andrade. Homens ainda evitam fazer os exames Para o homem, o assunto relacionado à próstata ainda é um grande tabu. Segundo os médicos, os mais velhos são os que mais relutam em procurar ajuda quando aparecemos primeiros sintomas. “De um modo geral, a sociedade é muito machista. A mulher é quem acaba forçando o marido a ir ao médico. Muitos homens mais velhos se recusam a fazer o exame da próstata”, diz o urologista Alex Meller

Arte: Folhapress


8

Jornal do Meio 927 Sexta 17 • Novembro • 2017


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.