935 Edição 12.01.2018

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Braganรงa Paulista

Sexta

12 Janeiro 2018

Nยบ 935 - ano XVI jornal@jornaldomeio.com.br 11 4032-3919


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Jornal do Meio 935 4FYUB t +BOFJSP t

ExpEdiEntE Jornal do Meio Rua Santa Clara, 730 Centro - Bragança Pta. Tel/Fax: (11) 4032-3919 E-mail: jornal@jornaldomeio.com.br

Os magos e seus

Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli

presentes

Jornalista Responsável: Carlos Henrique Picarelli (MTB: 61.321/SP)

por MONS. GIOVANNI BARESSE

O dia 6 de janeiro marca o “Dia de Reis” na linguagem do catolicismo popular do Brasil. Existem ainda, aqui e ali, as celebrações do “Reisado”. Junto com o espírito religioso soma-se o caldo de tradições populares. A celebração dos Reis Magos tem suas raízes nos dados que o evangelho de Mateus (2,1-12) nos deixou. É oportuno sempre recordar que os evangelistas não tiveram a intenção de escrever biografia ou história de Jesus. Nem mesmo a intenção “jornalística” sobre acontecimentos. A intencionalidade dos evangelistas foi a de passar à Igreja do seu tempo e dos tempos futuros uma proclamação de fé que fundamentasse a adesão a Jesus Cristo e a continuidade da sua missão de anunciar o Reino de Deus. Deve-se, portanto, sempre estar atento à lição que o texto evangélico apresenta. O que estaria subjacente à narrativa da visita dos magos? Ao menos duas intuições estão presentes: quem reconhece Jesus são não judeus.

São pagãos. E suas oferendas são muito mais que coisas materiais. São o reconhecimento de Jesus como Senhor (ouro), como Deus (incenso) e como Homem (mirra). O texto do evangelho coloca uma das grandes questões vividas pela Igreja dos primeiros séculos. Um dos grandes desafios vividos pela Igreja que nascia era a aceitação de cristãos que não viessem do judaísmo. Na mentalidade dos cristãos judeus isso não cabia. Como é que pessoas e povos que tinham costumes condenados pela Torá podiam participar do mesmo caminhar religioso? Uma possível saída seria, para os pagãos, assumirem valores e posturas judaicas para serem aceitos nas comunidades cristãs. Os pagãos, por sua vez, não entendiam porque deveriam assumir valores judaicos se a sua conversão era para Jesus Cristo. Esta controvérsia desembocou no concílio de Jerusalém (Atos dos Apóstolos, 15). È neste contexto que os evangelhos foram escritos. Mateus dá a sua resposta mos-

trando, até de forma provocadora, que são os pagãos que se mexem, em primeiro lugar, para encontrar Jesus, o Messias prometido. E o fazem com grandes sacrifícios. E são eles, os pagãos, a fazer a primeira profissão de fé no Cristo Senhor, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Há, ainda, um detalhe. Os magos são pessoas qualificadas. São sábios astrólogos. Na Antiguidade a Astrologia era uma das ciências mais apreciadas pelo auxílio que oferecia o caminhar de forma segura para as metas de viagem, conhecimento das variações do tempo, etc. Por outro lado, havia toda a parte das previsões que, alimentadas pelo sentimento religioso, manifestavam o desejo dos deuses e a realização dos destinos do mundo e das pessoas. Mateus, ao colocar a presença dos magos, mostra que são pagãos de qualidade a procurar e a adorar Jesus Cristo. Com isto oferece, aos cristãos de sua época e aos que viriam depois, um quadro referencial consistente para a profissão de Fé. E faz supe-

rar a análise simplória de um fato narrado para ser entendido literalmente. Ajudam a perceber isso os presentes. O texto fala que os magos abriram seus cofres e ofereceram ouro, incenso e mirra. Não teriam viajado tanto e trazido cofres com pouca coisa. O que teria significado o ouro para a pobre família de José? Sabe-se que era carpinteiro e assim viveu... A oferta de incenso soaria como uma blasfêmia. Não se ofertava incenso para pessoas ou para os ídolos. Quem fazia isso era condenado severamente pela lei judaica. Como ficaria isso em relação a uma criancinha? Por fim a mirra. Era um ungüento usado, principalmente, na preparação dos corpos a serem sepultados. Ora, oferecer isso a um nenê!... Percebe-se claramente que a uma outra intenção - e muito mais abrangente - na apresentação do episódio dos magos. A mensagem que fica para os cristãos do nosso tempo é a de dar continuidade à profissão de fé dos magos. Confessando Jesus como Senhor, Deus e Homem os

As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão. As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Bragança Jornal Diário.

cristãos se comprometem com a sua missão. Porque a fé não é uma simples declaração. É e deve ser sempre Vida! E os magos, afinal, quem são? Segundo velhas tradições eram três. Um da Ásia, um da África e um da Europa. Um amarelo, um negro, um branco. Chamavam-se Gaspar, Melquior e Baltasar. Depois que visitaram Jesus viveram até os 120 anos. Um dia se encontraram numa cidade da Turquia para celebrar o Natal. Nesse dia morreram. E seus corpos estão sepultados na catedral de Colônia, Alemanha. O mais importante e totalmente verdadeiro, porém, é que os magos representam as pessoas do mundo inteiro que se deixam guiar pela mensagem de paz e amor de Jesus Cristo!


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PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS

entre outros atos atrozes e que mutilam o

sentido quando traduzem sentimentos ou

decoro parlamentar que, de fato, nunca foi

se referem as questões pessoais. Nada mais

importante no Brasil.

justo e acertado que torcer por um futuro

Para contribuir como processo político, o

melhor, do que desejar aos familiares e aos

Poder Judiciário se vê envolvido com atos

amigos um ano melhor frente ao sofreu a

e ações que mancham a sua inexistente

maioria das pessoas em 2017.

reputação e que lançam certezas sobre o

No entanto, os otimistas se tornam irritantes

envolvimento e o favorecimento de figuras

e deixam de fazer sentido quando fogem

públicas que recebem os privilégios que são

ou quando extrapolam a esfera pessoal

concedidos por nossos ministros que, repito,

e subjetividade, especialmente, quando

se autoproclamam as pessoas mais sábias

tentam falar, escrever ou conversar sobre

e capazes do país. Aqui, vale a ressalva de

as questões políticas brasileiras. Tornam-

que após algumas citações em casos de

-se mágicos com suas soluções rápidas e

corrupção e aços similares, o paladino da

certeiras, mas que desconsideram a História

Justiça, Moro, sumiu dos holofotes.

do país, as mazelas sociais e econômicas.

Agora, a questão dos presídios se tornou

Cheias de respostas rápidas que, como tal,

explícita. Mau uso do dinheiro público,

não respondem a nada.

domínio total e absoluto das facções cri-

Deve ser difícil para o otimista que tem

minosas, que se encontram em guerra no

este hábito esconder as sucessivas derrotas

Brasil, corrupção de diretores e carcereiros,

frente ao seu conclamado sentimento de

enfim, o microcosmo do absurdo nacional

esperança quando ele se depara com as

tem uma expressão que era desconhecida

ações do governo federal.

do grande público. Isso sem contar com o

Governo que matou o otimismo quando

caos da segurança pública que foi sucate-

nomeou para o Ministério do Trabalho uma

ada ao longo dos anos e que expõe seus

deputada federal que está respondendo

subordinados a condições de trabalho

e descumprindo determinações judiciais

inaceitáveis.

sobre questões trabalhistas e que se recusa

Como que por obrigação, o atual cenário

a cumprir a lei, que compra parlamentares

traz uma última péssima novidade – o atual

para a aprovação de suas propostas, que

presidente pedalou...

assiste ao aumento da inflação, mas que

Mais estranho que a prática criticada por

afirma que tudo vai bem. Só não sabemos

ele e por seu grupo político quando a ex-

para quem.

-presidente Dilma realizou tal prática, é

É legítimo dizer que a nomeação de tal figura

o silêncio da sociedade civil que cheia de

política é um ato de compra do Congresso

ódio e idiotice exigiu o impeachment da

Nacional, característica do atual governo,

ex-presidente, mas que, agora, se cala.

que compra bancadas, como em uma liqui-

É, talvez os otimistas além de cheios de es-

dação ou, em termos populares, em bacia-

perança sejam cegos ou alguma outra coisa.

da, para ver suas medidas antipopulares e equivocadas serem votadas e aceitas sem a

Pedro Marcelo Galasso - cientista político,

menor observância dos desejos populares e

professor e escritor.

suas reais necessidades. Um Congresso tão

E-mail: p.m.galasso@gmail.com

Chá muito apreciado no Marrocos

"Enfim, (?)", frase de recémcasados Sem timidez Formação do balé

Pizza, lasanha e macarronada

(?) submarina, depressão oceânica

As produções como "Gladiador" (Cin.)

Em cima do (?): no mesmo instante Pão de (?), massa de bolos Relatam

Forma da régua de desenho técnico Divisão do caule de plantas (Bot.)

Podem ser expressas em charges Solapou Autorizou a intervenção na Líbia (2011) (?) Garrincha, estádio de Brasília Que anda coxeando (fem.) Apreciador

A Grande Mãe, na tradição amazônica Felídeo de boa visão Resplandecentes

Nem, em inglês (?)-roupa, móvel Golpe de capoeira no qual o lutador gira o corpo para atingir o outro

BANCO

(?)-culpa, Rua, em confissão francês do próprio erro

Nome frequente entre islâmicos (?) Catra, cantor de funk carioca

O segundo caderno de certos jornais

Título de nobres portugueses (Hist.)

Lobo (?), criação de fábulas infantis

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Solução A R I A N O S U A S S U N A

expressões de esperança que têm certo

Secreção que refrigera o corpo no calor

Frase como "As aparências enganam" Afastar; desviar Cabeça, em inglês

L R C A A G S U O T A A F OS S A S R L I C A O N M N C A N T E E A M A M L R A I

tos, prostituição infantil, desvio de verbas,

R I U O G O M A T O P I U D A R L M E N A V P I C S A S R I T M V I C E N I L A O M U R D A D U O E A R

membros, políticos acusados de assassina-

com suas frases bonitas e suas

Giovanna Antonelli, atriz carioca

D E S C O N T R A I

nesta época do ano e caminham

(?)-máter, membrana do cérebro (Anat.)

Dramaturgo de "O Auto da Compadecida", completaria 90 anos em 2017

D O

sujo e tão corrupto que tem, dentre seus

Interjeição Sete (?), mineira cidade O cabelo mineira do adepto do reggae

B

Os otimistas se tornam comuns

© Revistas COQUETEL

Osso do Que não se joelho consegue (Anat.) antever Deus, em inglês

L D I M P H E Z M A D R A L C I N G U R A

por PEDRO MARCELO GALASSO

Processo essencial na higiene bucal, visa remover bactérias e melhorar o hálito A da "Playboy" é um coelho

3/god — mea — nor — rue. 4/head. 12/rabo de arraia.

Aos otimistas!!

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por REINALDO JOSÉ LOPES/FOLHAPRESS

Daniel Goleman e Richard David-

sobre o tema e praticantes da meditação),

Outra abordagem metodológica valiosa

indivíduo é capaz de lidar com a dor intensa

son, psicólogos e autores do livro

cada modalidade de meditação provavel-

envolve a comparação do efeito das práticas

de maneira muito diferente do comum dos

“A Ciência da Meditação”, estavam

mente trará benefícios diferentes, em níveis

de meditação com outro tipo de atividade

mortais.

entre os muitos jovens americanos de classe

diferentes, de acordo com a intensidade e a

-relaxamento, fisioterapia etc. Em ambos

Embora eles sintam a intensidade do estí-

média que, ao longo dos anos 1960 e 1970,

qualidade da prática.

os casos, o resumo da ópera é que a prática

mulo doloroso de modo muito semelhante

deixaram os confortos do Ocidente e se

Para demonstrar isso, Goleman e Davidson

casual de qualquer modalidade de medita-

ao de outras pessoas no instante em que

enfurnaram no Himalaia, em busca de um

apresentam o que equivale a um pequeno

ção, por períodos curtos, dificilmente terá

ele acontece, é possível testemunhar uma

guru que os conduzisse à iluminação.

tratado de metodologia em pesquisa bio-

algum efeito positivo duradouro.

diminuição muito rápida do impacto dessa

Ao menos no caso deles, anos de estudo

médica.

Como ocorre quando os músculos são exer-

dor em seus cérebros -como se, de fato, eles

das tradições contemplativas do Oriente

Não basta, por exemplo, colocar meia dúzia

citados, a intensa “ginástica” cerebral da

conseguissem observar os efeitos da dor

conseguem conviver bastante bem com

de sujeitos numa turma de “mindfulness”

meditação também só produz uma mente

de forma distanciada, e não como algo que

doses salutares de ceticismo.

(hoje a modalidade mais popular de medi-

verdadeiramente possante com o tempo e

toma conta da identidade deles.

É o que se depreende da leitura da obra, um

tação, cujo objetivo, grosso modo, é focar

a prática constante.

Da mesma forma, análises preliminares desses

guia informativo e moderado dos estudos

a atenção no momento presente) e, depois

Embora os primeiros benefícios de abor-

grandes iogues sugerem uma capacidade de

feitos nas últimas décadas sobre a neuro-

de um mês de treino, entrevistá-los para ver

dagens como a “mindfulness” -melhora na

retardar os efeitos do envelhecimento sobre

ciência da meditação. Embora Goleman

se agora eles se consideram mais focados

memória de curto prazo, menor ativação

a anatomia cerebral, às vezes produzindo

e Davidson tenham contato regular com

e calmos.

em áreas cerebrais ligadas ao estresse e à

uma “idade cerebral” algumas décadas mais

o Dalai Lama e outros mestres budistas e

A análise cuidadosa dos resultados desse

raiva- apareçam após algumas dezenas de

jovens que a “idade cronológica” do sujeito.

hinduístas, suas conclusões são cautelosas:

tipo de estudo pouco controlado, bem como

horas de prática, a questão é saber até que

Se não dá para passar onze anos numa

sim, meditar parece fazer bem, de modo geral,

sua comparação com pesquisas metodo-

ponto é possível produzir “traços alterados”,

caverna do Nepal, o que fazer para tentar

mas está longe de ser um negócio mágico.

logicamente mais exigentes, revela que a

como dizem os autores do livro -ou seja, ver-

conseguir alguns dos tais “traços alterados”?

Aliás, como os dois fazem questão de frisar,

mera presença de um grupo de colegas

dadeiras transformações da personalidade

Não tem milagre, dizem os pesquisadores:

“meditação” é um termo amplo demais. As

simpáticos e de um instrutor empolgado é

dos meditadores.

perseverança, um mestre confiável e trabalho

disciplinas mentais/espirituais oriundas da

capaz de produzir um aumento no bem-estar

A resposta que eles podem oferecer por

duro são a chave -uma receita de iluminação

Ásia que acabaram ficando debaixo desse

dos participantes que seria equivalente, no

enquanto? Sim, os meditadores de “nível

que não difere muito da que caracteriza a

guarda-chuva conceitual quando foram

fundo, ao efeito placebo de um medicamento

olímpico” -grandes mestres e iogues, gente

ciência.

transplantadas para o Ocidente são quase

(quando uma substância inócua, oferecida

capaz de passar meses ou anos em retiros

tão diversificadas quanto as tradições reli-

a um paciente que confia em seu médico,

espirituais- de fato parecem ter certos su-

A Ciência da Meditação

giosas onde nasceram.

parece produzir uma melhora).

perpoderes, por falta de um termo melhor.

Autores Daniel Goleman e Richard J. Davidson

Análises de ressonância magnética funcio-

Editora Objetiva

nal, por exemplo, indicam que esse tipo de

Quanto R$ 44,90 (296 págs.)

Por isso mesmo, argumentam os autores (ambos com experiência em pesquisa empírica

ACADEMIA ESPIRITUAL


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Jornal do Meio 935 4FYUB t +BOFJSP t

Clientes da Netshoes Hackers vazam dados cadastrais de 17,9 mil clientes da Netshoes por NATÁLIA PORTINARI/FOLHAPRESS

No começo de dezembro, hackers vazaram os dados cadastrais de 17.908 pessoas, incluindo CPF, RG, endereço e data de nascimento, dizendo que foram retirados do site do Netshoes. O vazamento, publicado no site Pastebin, não continha informações sigilosas, como número de cartão de crédito ou senhas, mas pode servir para orquestrar golpes e spam com base no endereço dos clientes. Em nota, a empresa nega que tenha havido uma invasão aos seus sistemas. A Netshoes entrou com um pedido na Justiça para tirar do ar o conteúdo das planilhas, o que foi acatado. “A companhia reforça que tais dados não incluem informações bancárias, de cartões de crédito, ou senhas de acesso, e reitera o compromisso com a segurança de seus ambientes tecnológicos, a fim de garantir a proteção das informações de sua base de consumidores”, diz a Netshoes. O banco de dados também pode ser cruzado com outras bases que contenham informações mais críticas, tornando possível a identificação de dados sigilosos dos clientes, diz o advogado Victor Hugo Pereira Gonçalves. “O Netshoes é responsável pelos dados de seus clientes, e pode ser processado por danos morais e materiais caso aconteça alguma fraude”, afirma.

casos assim”, diz o advogado. Advogados e ativistas pleiteiam a aprovação de uma lei que defina o que são “dados pessoais” e introduza punições específicas para casos como

esse. Há um projeto de lei de proteção de dados de 2012 que tramita na Câmara dos Deputados. Bancos de dados com endereços e telefones são usados com frequência

no telemarketing. Em outubro, a Folha teve acesso a um CD com dados de mais de 28 milhões de brasileiros, vendido por até R$ 200 no centro de São Paulo. FOTO: DIVULGAÇÃO/FOLHAPRESS

MARCO CIVIL O Marco Civil da Internet, de 2014, determina que empresas não podem fornecer dados a terceiros sem autorização. “Mas poucos entram na Justiça para pedir indenizações em

Êxodo bíblico Êxodo bíblico teria mesmo ocorrido, diz pesquisador em livro

por REINALDO JOSÉ LOPES/FOLHAPRESS

É difícil achar arqueólogos e historiadores que ainda considerem confiável o relato bíblico do livro do Êxodo, segundo o qual o povo de Israel teria se libertado da escravidão no Egito e rumado para a Terra Prometida sob o comando de Moisés. Essa história desacreditada acaba de ganhar um defensor de peso: o americano Richard Elliott Friedman, 71, professor da Universidade da Geórgia. Para ele, há indícios históricos de que o Êxodo aconteceu -de um jeito não tão cinematográfico. No lugar dos milhões de hebreus atravessando o leito do mar Vermelho em meio a paredes de ondas gigantescas, deveríamos imaginar m pequeno grupo de refugiados que deixou a terra dos faraós e se tornou a casta sacerdotal de Israel, trazendo consigo a crença num novo deus, Yahweh (Javé). Esse cenário está no novo livro de Friedman, intitulado “The Exodus” (“O Êxodo”). A especialidade dele é a análise dos textos do Antigo Testamento, principalmente os cinco primeiros livros da Bíblia (Pentateuco ou Torá), mas ele também usa dados arqueológicos para fortalecer sua tese. Há várias pedras importantes no sapato de quem tenta defender a historicidade do Êxodo, mas talvez a mais importante delas seja a grande continuidade entre a cultura do antigo povo de Israel e a dos grupos que existiam antes da suposta chegada dos israelitas à terra de Canaã, área que hoje corresponde, grosso modo, aos territórios palestinos, ao moderno Estado de Israel e a partes do Líbano e da Síria. Embora a Bíblia muitas vezes descreva as tribos israelitas como guerreiros recém-chegados do Egito que conduziram uma campanha de extermínio contra todos os cananeus (habitantes originais de Canaã), o fato é que o hebraico, idioma no qual a Bíblia foi escrita, não passa de um dialeto

cananeu, muito próximo do fenício e de outras línguas faladas na região antes do surgimento de Israel. Do mesmo modo, os mais antigos assentamentos associados aos israelitas, nas regiões montanhosas de Canaã (mais ou menos a atual Cisjordânia), os quais surgem por volta do ano 1200 a.C., contêm uma cultura material -tipos de casas, de artefatos de cerâmica etc.- praticamente indistinguível da encontrada em assentamentos rurais cananeus. Tais dados levaram muitos arqueólogos a concluir que o povo de Israel surgiu dentro da própria Canaã, quando grupos tribais seminômades e gente de outras origens resolveram se fixar de forma mais sedentária nas montanhas, talvez aproveitando um vácuo de poder ligado ao colapso das antigas cidades-Estado da região. Essa instabilidade política também estaria ligada à diminuição do poderio imperial do Egito -até então, os faraós, durante séculos, tinham tratado Canaã basicamente como seu quintal. E, por falar no reino do Nilo, também não parece haver registros da presença de um enorme contingente de escravos hebreus por lá, muito menos da fuga espetacular das multidões israelitas pelo mar Vermelho -embora seja possível argumentar que os escribas faraônicos jamais registrariam uma derrota tão humilhante de seu soberano. NOMES E ARTEFATOS Friedman critica o cenário descrito nos últimos parágrafos lembrando, em primeiro lugar, que a presença de refugiados, imigrantes e escravos semitas (de Canaã e das redondezas) está bem documentada nos textos egípcios, ainda que em pequeno número. Além disso, ele aponta que há uma lista intrigante de israelitas com nomes de origem egípcia nas narrativas do Êxodo

-a começar pelo próprio Moisés e por seu sobrinho-neto, Fineias, além de várias outras figuras menos conhecidas. Todos esses personagens, sem exceção, pertencem à tribo de Levi (os levitas), o clã sacerdotal dos israelitas. Outra peça do quebra-cabeças viria da comparação entre dois dos poemas mais antigos da Bíblia (a julgar pelos arcaísmos do hebraico no qual foram compostos). Eles são “A Canção do Mar”, um breve relato da vitória do poder do Deus bíblico (Yahweh) contra as forças do faraó, e “A Canção de Débora”, que versa sobre o confronto entre os israelitas e seus inimigos cananeus já na Terra Prometida. Acontece que a lista das tribos de Israel no segundo poema não menciona a tribo de Levi, enquanto “A Canção do Mar” não usa em nenhum momento o nome de Israel, mas apenas o termo “am”, ou “povo”. Para Friedman, isso não seria coincidência. A confederação de tribos que formou o povo de Israel originalmente de fato teria surgido na própria terra de Canaã, mas os levitas, vindos do Egito, teriam se juntado ao grupo um pouco mais tarde, trazendo consigo a crença em Yahweh, um deus do deserto que é mencionado pela primeira vez em textos egípcios sobre nômades semitas. Do lado arqueológico, o pesquisador destaca estudos que veem semelhanças entre artefatos egípcios do fim da Idade do Bronze (quando o Êxodo teria ocorrido) e a cultura israelita. Uma imagem da tenda militar usada pelo faraó Ramsés 2º (1303 a.C.-1213 a.C.), por exemplo, tem estrutura que lembra bastante a do Tabernáculo, o santuário portátil que os israelitas teriam carregado durante suas andanças pelo deserto. Já a Arca da Aliança, retratada até nos filmes da série “Indiana Jones”, seria

similar a pequenos barcos nos quais os sacerdotes egípcios carregavam imagens de deuses. A erudição de Friedman e seu talento para contar uma história detetivesca são inegáveis. Resta saber se serão capazes de converter os céticos da comunidade arqueológica -gente que provavelmente exigirá evidências mais diretas da saga de Moisés antes de dar o braço a torcer. THE EXODUS AUTOR Richard Elliott Friedman EDITORA HarperOne QUANTO R$ 58,09 (ebook); 305 págs.


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Proteção de dados Brasil deve ter lei de proteção de dados só no fim de 2018, dizem especialistas por RAPHAEL HERNANDES/FOLHAPRESS

Uma lei geral de proteção de dados

Brasil, mas não adianta haver meramente

cíficos para a proteção de dados, o PL

Por isso, uma das possibilidades é que

deverá ser aprovada no Brasil só

o direito.Tem que haver uma autoridade

5276/20016, em tramitação na Câmara, e o

-ao menos temporariamente- a Senacon

no fim de 2018, ou em 2019.

com controle de bancos de dados no país”,

PLS 330/2013, em tramitação no Senado.

abrace essa função.

afirma Silva.

Apesar de especificarem como seria o fun-

“Vai ter um vácuo político-regulatório,

cionamento dessa autoridade de proteção

não podemos deixar um velho oeste. A

Essa é a expectativa de especialistas ouvidos pela reportagem, que defendem a necessidade da legislação e esperavam

PROJETOS

de dados, nenhum desses projetos de lei

Senacon tem uma tradição construída

a aprovação ainda em 2017. As eleições

O Brasil tem dois projetos de lei espe-

tem autonomia para, de fato, criar o órgão.

de regulação nesse caso”, diz Zanatta.

devem impedir que o tema tenha espaço no primeiro semestre de 2018. “O que nos deixa mais tranquilo é uma virada de mesa em relação ao governo se preocupar com proteção de dados”, avalia Rafael Zanatta, advogado e pesquisador do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor. “Perdemos a oportunidade de aprovação [da lei geral de proteção de dados] neste ano. ‘N’ pautas do governo federal deslocaram os deputados desse interesse”. A ideia é criar uma autoridade de proteção de dados pessoais -semelhante ao que existe na Europa-, para regulamentar o setor e que tenha poderes de polícia para realizar fiscalização e auditagem. Hoje, o trabalho voltado a proteção de dados dos cidadãos é feito por órgãos de defesa do consumidor, como Procons e a Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor, e pelo Ministério Público. A área é regida principalmente pelo Código de Defesa do Consumidor e pelo Marco Civil da Internet. Eles regem, por exemplo, como serviços na internet (como redes sociais e e-mail) tratam os dados de seus usuários. Na prática, no entanto, é difícil dizer se as normas são cumpridas. “Falta uma verificação exaustiva”, diz Rafael Zanatta, pesquisador do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor. Para o procurador Carlos Bruno Pereira da Silva, coordenador do grupo de trabalho de tecnologias da informação do Ministério Público Federal, é necessária essa autoridade para cumprir sanções já presentes no Marco Civil. “No fundo, o Ministério Público entende que há o direito à proteção de dados no

FOTO:PIXABAY


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Desvio no nariz Vira problema quando atrapalha respiração, em alguns casos, a deformidade no septo pode tampar toda a a passagem de ar. Cirurgia é solução por EMERSON VICENTE/FOLHAPRESS

A sensação de nariz en-

de ar.”

tupido constantemente e

Nesses casos em que a deformi-

dificuldade para respirar

dade compromete totalmente

são os principais sintomas de

a passagem de ar, somente a

quem tem desvio de septo nasal,

cirurgia pode corrigir o desvio.

segundo especialistas.

Porém, o SUS (Sistema Único de

O otorrinolaringologista Edu-

Saúde) não faz o procedimento

ardo Dolci, professor da Santa

por considerar uma cirurgia

Casa de São Paulo, explica que

estética.

septo nasal é a parede interna

Para definir ou não pela cirurgia, o

do nariz, constituída por osso,

paciente precisa ser avaliado por

cartilagem e mucosas, que separa

um otorrinolaringologista, que num

uma narina da outra. O desvio

exame visual, no próprio consultório,

acontece quando o septo cresce

poderá identificar o tipo de desvio.

e se desenvolve de forma desor-

Para complementar, o médico poderá

denada, ocupando mais espaço

pedir uma nasofibroscopia, uma

nas cavidades nasais.

espécie de endoscopia das nari-

Dolci explica que essa defor-

nas. “Mas é o paciente que precisa

midade também pode ser de

dizer o quanto o desvio incomoda

nascença ou ser adquirida após

para o médico decidir ou não pela

uma fratura ou acidente, como

cirurgia”, afirmou Dolci.

uma queda ou uma bolada, por exemplo.

Pais devem ficar atentos a sintomas

“O esperado é que essa separação

Como as crianças não percebem

das narinas fosse ‘igual’, mas

o quanto respiram mal, especia-

cerca de 70% das pessoas têm

listas ouvidos pela reportagem

algum grau de desvio no septo”,

alertam os pais a ficarem atentos

afirmou o especialista.

a alguns sintomas que podem

O otorrinolaringologista Andy

indicar o desvio do septo.

Vicente, do Hospital Cema, disse

O otorrino Andy Vicente, do Hos-

existir vários graus de desvio do

pital Cema, disse que o desvio se

septo nasal e, quanto maior a

confirma a partir dos 12 anos e

deformidade, maior a dificuldade

alguns sinais são dificuldade para

que a pessoa terá para respirar.

comer e para dormir, irritabili-

“Em alguns casos o desvio chega

dade durante o dia e respiração

a tampar totalmente a passagem

apenas pela boca.

ARTE: FOLHAPRESS


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