936 Edição 19.01.2018

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Braganรงa Paulista

Sexta

19 Janeiro 2018

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Jornal do Meio 936 Sexta 19 • Janeiro • 2018

Expediente Jornal do Meio Rua Santa Clara, 730 Centro - Bragança Pta. Tel/Fax: (11) 4032-3919

Os barulhos. O silêncio.

E-mail: jornal@jornaldomeio.com.br Diretor Responsável: Carlos Henrique Picarelli Jornalista Responsável: Carlos Henrique Picarelli (MTB: 61.321/SP)

Em virtude das férias do Mons. Giovanni Baresse, a coluna Para Pensar terá a colaboração do Desembargador Miguel Ângelo Brandi Jr. por dESEMBARGADOR mIGUEL ÂNGELO bRANDI JR

Não faz muito tempo, escrevi aos tolerantes leitores que eu procuraria, em meus poucos artigos, propor algumas “provocações”, sem a pretensão de afirmar posições. E assim o faço nestas linhas de agora. Parto de algumas constatações, que podem estar marcadas pelo tempo da vida. Talvez os anos caminhados tragam às pessoas uma oscilação entre a extrema tolerância com os fatos da vida e a extrema intolerância para com eles. Os fatos e as pessoas. Tenho percebido essas reações naqueles com quem tenho convivido. Lembro disso e me coloco como atingido por essas reações, completadas seis décadas e mais um pouco de vida. Mas os anos vividos trazem conquistas, muitas. E uma delas é a capacidade de observar, fatos e pessoas. Melhor ainda quando conseguimos observar e tentar compreender, antes de opinar. Lembro do saudoso Dom Luciano

Mendes de Almeida, falando a uma pequena plateia, muitos anos atrás. Dizia ele que seria ideal alcançarmos a capacidade de ouvir as pessoas, ouvir na plenitude do termo; melhor ainda se conseguirmos ouvir aquilo que nós mesmos falamos. Certamente erraríamos menos em nossas palavras. Inspiradora reflexão. Essas anotações me fazem despertar o sentido do silêncio. E me fazem recordar as lições da filosofia (não necessariamente acadêmica), na direção da importância do silêncio em nossas vidas. Saber silenciar é uma arte. Saber aproveitar o silêncio, também. Conseguir retirar do silêncio momentos de sabedoria, parece-me um objetivo singular. Tento alcançar essa possibilidade; mas muitas vezes, paro na tentativa. Continuarei tentando. Mas me parece que hoje somos rodeados de muito barulho. Além dos barulhos urbanos

propriamente ditos, nos atingem outros barulhos. Alguns nos atingem sem que contribuamos para isso. Somos vítimas deles. Outros barulhos, nós mesmo provocamos. E são muitos, uns e outros. Quanto aos barulhos urbanos, basta observar os ruídos da cidade à noite, quando a maioria está descansando, comparando com os ruídos típicos da manhã e da tarde. É uma experiência interessante observar esses momentos e compara-los. Temos os barulhos “mais próximos” de nós. Aqueles que talvez nem consideremos mais como barulhos, mas como ruídos “toleráveis”. Uma conversa em tom mais alto, uma campainha, um sinal de algum eletrodoméstico, ou eletroeletrônico. São muitos barulhos à nossa volta. E os barulhos (ausência de silêncio) impedem a observação serena, a contemplação pura. Impedem um olhar diferente sobre fatos e pessoas. Os ba-

rulhos, me parece, impedem a reflexão. O pensar. Acabamos, no barulho, interpretando as coisas superficialmente, pensando superficialmente, reagindo também superficialmente. Vários são os caminhos (filmes, livros, testemunhos de vida) que nos mostram o valor do silêncio. E o silêncio não desperta apenas a capacidade de observar, mas desperta a capacidade de refletir, que, invariavelmente, leva a uma boa dose de sabedoria. Penso que uma das formas de percebermos o quanto o barulho estorva a percepção e a reflexão está na música. Sim, na música. Muitas vezes, o barulho dos instrumentos nos impede de ouvir quem está a cantar. A melodia e a letra são imperceptíveis. E isso parece ser uma marca dos tempos presentes. Diferente da música em que melodia e a letra são os principais destaques. Muitas vezes, num restaurante, num bar ou numa festa, o barulho do “som” é o principal agente,

As opiniões emitidas em colunas e artigos são de responsabilidade dos autores e não, necessariamente, da direção deste orgão. As colunas: Casa & Reforma, Teen, Informática, Antenado e Comportamento são em parceria com a FOLHA PRESS Esta publicação é encartada no Bragança Jornal Diário às Sextas-Feiras e não pode ser vendida separadamente. Impresso nas gráficas do Bragança Jornal Diário.

impedindo-nos de conversar. Talvez estas minhas observações sejam a marca de momentos de intolerância pessoal. Me perdoem se for isso. Mas tenho sentido falta do silêncio e dos frutos que ele traz. De qualquer maneira, minha provocação aos bondosos leitores é quanto a fazermos, todos, uma inicial observação dos barulhos que nos rodeiam e afetam. Avançar para uma experiência de evitarmos alguns desses ruídos, especialmente dos ensurdecedores. Que tal experimentarmos um pouco de silêncio? Oxalá consigamos chegar a experimentar alguns momentos de reflexão silenciosa sobre fatos da vida. Miguel Angelo Brandi Júnior


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PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS

Sistema como a internet Caridosas

Já era (fam.) Doutor (abrev.)

Objeto de indagação da ficção científica

A 1a nota musical Matiz; nuance

De, em inglês A letra "muda"

Forma oblíqua do pronome "eu"

Voo (?): realiza-se em aviões fretados

Nativo polinésio da Nova Zelândia Erva-doce (Bot.) Material do concreto

Eduardo Galeano, escritor Mamífero asiático em risco de extinção (Zool.)

Meio de transmissão da raiva Liv Tyler, atriz "Interno", em PIB

Estado da Serra do Navio Premiados

Código da pilha palito Banda norueguesa

Colunista de economia de "O Globo"

Um dos Três Patetas (TV)

Esmero Ponto marcado no basquete

(?) nullius: coisa de ninguém (latim)

Monte (?), ponto culminante da Turquia Antiga construção de Alexandria

Atribuir (a alguém) um defeito O, em espanhol Abertura de frascos

(?) mais nem menos: de repente

Baixo, em inglês

Prata (símbolo) Imposto federal

Município paulista Roraima (sigla) Serviço de encomenda dos Correios Cada placa de um capacitor (Eletr.) Gema apreciada no período art déco 18

Solução

A N I S R M U

P D A D R E B A U O F A R T S A L S L E I A A U R O R F E L A R I P S S I

A R A T

G I C A

CO AR OL

P O R D E S M E E R I VA O Ç T ÃO E

MO

BANCO

DO

Pedro Marcelo Galasso - cientista político, professor e escritor. E-mail: p.m.galasso@gmail.com

Título de Enzo Ferrari

H E N R O B A I C H I D A A M A A P H A A B R O R CA

econômica global com o fortalecimento da economia chinesa no momento em que o presidente dos EUA é um desequilibrado e irresponsável que provoca, explicitamente, países e ditadores sem nenhuma responsabilidade, com um comportamento que lembra o de uma criança mimada dentre outras tantas crianças mimadas. Somos reféns no Brasil. Reféns de uma classe política que toma decisões que prejudicam milhões de pessoas, que se ocupam com suas reeleições, seus interesses privados sem a consideração de seu papel. Uma classe política sabidamente corrupta, com provas de ações deste tipo em todos os escalões e que são até propagandeadas em nossa História, como o detestável “rouba, mas faz”, ou o “sem uma ajudinha o país não anda”, o que institucionaliza a troca de favores e os conchavos políticos e que estão acima das leis, pois seus atores são os responsáveis pela criação, execução e julgamento das leis que são criadas para tornarem impunes tais práticas. Somos reféns aqui também. Os mesmos grupos políticos, os mesmos políticos, os mesmos grupos de privilegiados, de favorecidos, de pessoas que têm, como modo de vida, o recebimento de favores em troca de belas palavras e de defesas acaloradas do que está posto e desgastado. Somos reféns aqui de uma visão de passado que em nada nos ajuda e que perpetua tudo como está, bom para pouquíssimos e ruim para tantos outros. Basta andar pelas ruas, observar e ter uma visão imparcial sobre o nosso cotidiano. Agora, para animar a questão surge uma oposição – oposição com pessoas de grupos diversos que já foram e que já estiveram no poder, até mesmo no lado que é criticado hoje. Oposição ou um grupo que pretende ocupar as cadeiras legislativas e executivas? É importante procurar, em um dicionário, o significado da palavra oposição e tirar as próprias conclusões. Sim, somos reféns e nos acostumamos a isso.

Um dos objetivos do Programa Bolsa Verde Conde (?), genro de Dom Pedro II

C E S T A

Muito se discute sobre a passividade do cidadão e da cidadã quando o Brasil é considerado, é quase como uma condição inata, como se a passividade fosse um traço típico de quem vive neste país que, segundo alguns, é abençoado e bonito em sua natureza exuberante. Vale lembrar, aqui, as palavras de Pero Vaz de Caminha que profetizou que “aqui se plantando tudo dá”. De fato, a passividade propagandeada é desmentida em uma leitura mais apurada sobre nossa História que longe de mostrar um país de pessoas ou grupos passivos aponta, em seu curso histórico, eventos, ações e passagens por demais violentos e, por isso, escondidos da maioria, seja nas escolas, nas universidades, na TV e em nossas conversas. A famosa e infame frase – “Futebol, Política e religião não se discute” – é uma das demonstrações da censura prévia que experimentamos e que é estimulada para que assuntos “inoportunos ou chatos” sejam postos de lado ou para que pareçam questões de pessoas chatas e infelizes. É como se fossemos reféns de nosso passado, daquilo que está posto, pronto e acabado. É como se sofrêssemos a síndrome de Estocolmo, ou seja, nos apaixonamos e defendemos nossos sequestradores, suas ideias e sua concepção desigual de mundo. Somos reféns de um modelo econômico global e excludente e que dá mostras de desgastes a alguns anos, cujos efeitos são assustadores com o aumento da pobreza em continentes inteiros, com o aumento do fanatismo religioso, com o aumento do uso da violência na resolução de questões sociais, com pequenos grupos de investidores e de bancos e empresas que decidem, sem nenhuma ética ou humanidade, o destino de milhões de pessoas sem se preocuparem com o futuro destas pessoas e do mundo, isso sem contar com o breve esgotamento dos combustíveis fósseis e do colapso do modelo industrial fossilista. Somos reféns de grupos políticos globais que realimentam conflitos, que usam as ameaças como forma de política global, que reacendem antigas e não superadas rivalidades. Assistimos uma troca de liderança

© Revistas COQUETEL

Explicar (texto) sem alterar o significado da primeira versão Hora canônica

Produto para controle de plantas daninhas

H C O F U T R D M A O E G S P A M I R R E I I T A U B A S E L E M

por pedro marcelo galasso

Guloseima de festas infantis (inglês) Suposto benefício obtido através do passe mediúnico

2/el — of. 3/moe — res. 4/bass. 6/bariri — hot dog.

Somos reféns

www.coquetel.com.br


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por LETÍCIA NAÍSA/FOLHAPRESS

Um dos assuntos que dominaram o ano de 2017 na área da educação foi a “ideologia de gênero”. A proposta aprovada neste mês pelo Conselho Nacional de Educação deixou de fora essa questão e outras ligadas à educação sexual –os temas não entraram no documento da nova base curricular homologada pelo MEC. Nesse contexto, surge o livro “Garotas e Sexo”, da jornalista Peggy Orenstein, para fomentar o debate. A autora entrevistou, em cinco anos, cerca de 70 garotas com idades entre 15 e 20 anos sobre suas experiências sexuais e reflexões sobre o tema. Apesar de a obra expor o contexto vivido por garotas americanas, existem muitas semelhanças com a realidade brasileira. Assim, como aponta a psicanalista e escritora Regina Navarro Lins, que assina o prefácio, tanto lá quanto aqui a religião tem um papel influente na iniciação sexual dos jovens. “Para os religiosos, sexo casual é considerado um pecado e existe uma conversa sobre abstinência”, disse Orenstein à reportagem. “Masosjovenscontinuamfazendo sexo, muito sexo. O problema [de aconselhar a abstinência] é que isso só retarda o início da vida sexual dos jovens em comparação com quem recebe mais educação sexual, não os deixa mais seguros.” Segundo a autora, os jovens que optam pela abstinência, quando iniciam a vida sexual, apresentam mais chances de contrair doenças sexualmente transmissíveis e engravidar. “É uma ideia hipócrita, ninguém está protegendo esses jovens. Se quisermos que eles façam menos sexo e de forma responsável, quanto mais eles souberem sobre o assunto, melhor.” Por outro lado, mesmo com essas questões, nos EUA, a gravidez entre adolescentes tem diminuído. No Brasil, o índice se mantém alto e pouco mudou nos últimos dez anos. Segundo o Datasus, a taxa de nascidos vivos de mães menores de 20 anos no país foi de 21,1% em 2007 para 21,2% em 2016. Nos Estados Unidos, a mesma taxa caiu 44% entre 2007 e 2015 (segundo último dado disponível). Os bebês de mães adolescentes representam cerca de 6% do total. Além do debate sobre gravidez indesejada e DSTs, Orenstein também levanta a discussão sobre qualidade do sexo feito entre os jovens, algo que não entra na cartilha da educação sexual escolar. Poucas das garotas heterossexuais com quem ela conversou relataram ter tido orgasmos e muitas delas não conhecem o

próprio corpo. “Não existe uma conversa sobre prazer e isso é uma parte importante quando se fala de sexo”, diz. “Nós esperamos que os jovens tenham uma boa experiência quando eles decidirem fazer sexo, mas acreditamos que isso vai acontecer de uma forma mágica.” Inspirada em sua própria experiência como mãe de uma adolescente de 14 anos, Orenstein escreveu “Garotas e Sexo” para tentar incentivar adultos a conversarem mais com jovens e não deixarem o papel de educar para a televisão ou para a internet “Nós ficamos com medo de falar sobre sexo porque não sabemos a linguagem certa. O que acontece, no fim, é que os filhos crescem mentindo para os pais. É o que queremos?” SEXY No livro, a autora faz críticas à exposição de mulheres na mídia e nas redes sociais e à influência das estrelas pop no comportamento sexual das adolescentes. “A ideia que existe do que é ser sexy é muito limitada”, afirma. “Toda essa performance de parecer sensual na internet não faz com que as garotas tenham

mais voz. A objetificação sexual está ligada a um entendimento menor das garotas sobre seus corpos e suas vontades.” Por outro lado, a jornalista vê com bons olhos a onda de campanhas contra assédio na internet, como a #me too que revelou casos de abuso sexual na indústria do cinema. “As garotas estão vendo que não estão sozinhas, que suas experiências não foram isoladas, que existe uma cultura em torno desse tema da sexualidade e do sexo.” E segue, “tudo isso que vemos fez com que as mulheres despertassem em muitos aspectos, principalmente as mais jovens, que lideram os movimentos na internet.” Para Orenstein, existem duas razões pelas quais é inevitável falar de violência ao falar de sexualidade. A primeira está relacionada a um aspecto cultural polêmico. “As pessoas se sentem mais confortáveis em ver as mulheres sendo vítimas em vez de protagonistas, seres sexuaisquemerecemsentirprazer e podem escolher fazer sexo.” Em segundo lugar, vêm os números. Ela aponta que há um alto índice de relatos de estupro em universidades. Em 2015, a

Pesquisa da Situação no Campus da Associação de Universidades Americanas apontou que pelo menos um terço das alunas de graduação afirmam terem sido vítimas de contato sexual não consentido. Enquanto isso, o Brasil registrou 135 casos de estupro por dia em 2016, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Em São Paulo, entre janeiro e julho deste ano, cerca sete registros por dia. “Muitas garotas muito jovens relatam experiências de estupro e situações em que elas são coagidas. Não sofrer violência ou coação são exigências muito baixas para uma experiência sexual, mas é o que muitas garotas esperam”, diz a autora. “Toda essa performance de parecer sensual na internet não faz com que as garotas tenham mais voz. Com frequência, a objetificação sexual está ligada a um entendimento menor das garotas sobre seus corpos e suas vontades Peggy Orenstein Jornalista e Escritora GAROTAS E SEXO AUTORA: Peggy Orenstein EDITORA: Zahar QUANTO: R$ 49,90 (274 págs.) Foto: Michael Todd/Divulgação

A jornalista e escritora Peggy Orenstein, que escreveu o livro intitulado ‘Garotas e sexo’.


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Calor

Empresas liberam o uso de bermuda para aplacar calor por FERNANDA REIS/FOLHAPRESS

Um alento para quem sofre com o calor que nem o ar-condicionado aplaca no escritório: empresas têm flexibilizado seu “dress code”, permitindo que funcionários trabalhem mais vaporosos, de bermuda ou chinelos. É o caso da L’Oréal, que liberou as pernas de fora durante o verão em seu escritório no Rio de Janeiro. Segundo Fabio Rosé, diretor de RH da empresa, a iniciativa visa melhorar o bem-estar dos funcionários. “Estando no Rio, é preciso pensar nisso. É muito quente mesmo”, diz. Primeiro, a peça foi liberada às sextas-feiras durante o verão (“foi um sucesso”, diz Rosé). Depois, em todas as sextas do ano. E, a partir deste mês, todos os dias do verão. “Tem sido muito bonito de ver, cada vez mais gente tem aderido”, afirma. O conforto não foi o único benefício. Com a roupa liberada, conta Rosé, um funcionário da empresa revelou aos colegas que tem uma perna mecânica. “É uma questão de se sentir valorizado, de poder ser quem se é”, diz. Em outras empresas, como a Totvs, os homens podem mostrar as pernas não só no verão, por causa do calor, mas no ano todo desde 2013. A mudança foi puxada pelo Google, quando “essa questão da informalidade do setor de tecnologia começou a chamar mais a atenção”, diz Rita Pellegrino, diretora de Relações Humanas da Totvs. “Desde então, no verão, as pessoas vêm trabalhar de bermuda, camiseta. Muitas vezes de chinelo. Cada um vem com seu estilo”, diz ela. Foi uma flexibilização gradual. Quando o analista sênior de planejamento Lorenzo Tognini, 29, entrou na empresa, todos

trabalhavam de roupa social. Depois veio o jeans. Um dia, os funcionários pediram para usar a bermuda às sextas-feiras e a empresa resolveu liberar sempre. “Você fica mais confortável em relação ao calor. Fica à vontade no dia de trabalho, como se estivesse em casa. Ajuda bastante”, afirma. Um pedido dos empregados também motivou a liberação da peça de roupa em algumas áreas do Itaú-Unibanco há cerca de um mês. “Recentemente, funcionários de uma área nos provocaram. Perguntaram: ‘Podemos ir de bermuda?’. A resposta foi: ‘Acho que não’. E questionaram: ‘Por que não?’”, conta o diretor de RH Sergio Fajerman. A empresa repensou, e a peça foi autorizada para algumas equipes, com menos contato com clientes. Agora, diz há pressão para expandir a autorização para outras áreas. Gabriel Ribeiro, 34, que trabalha na área de tecnologia da empresa como product owner, conta que no primeiro dia as pessoas ficaram com medo de aderir. Então seus colegas combinaram de estrear juntos, para ninguém ser o primeiro. “Agora todo dia alguém vem de bermuda.” No banco, porém, nem tudo é permitido: camisa de futebol e chinelo estão vetados, diferentemente dos escritórios do iFood, empresa de delivery de comida, onde não há restrição alguma. “A gente incentiva as pessoas a estarem confortáveis e a virem trabalhar com o que é melhor para elas”, diz Tais Vicente, coordenadora de recrutamento. Gabriel Quint, 29, gerente de produtos do iFood, trabalhou por quase seis anos numa empresa que exigia camisa, calça social

e sapato e diz que poder trabalhar sem terno no verão ajuda na produtividade. “Minha preocupação é o trabalho, não a roupa. Faz toda a diferença, fico mais concentrado no que realmente importa e estou produzindo bem mais.” TENDÊNCIA INFORMAL Segundo a consultora de moda Gloria Kalil, autora do livro “Chic Profissional”, há uma tendência de crescimento na informalidade no mercado de trabalho. “Empresas muito formais estão aderindo ao informalismo bem maior, em todos os níveis”, diz. A tendência inclui até os advogados. Marisa Daumichen, gerente de RH do escritório Demarest, diz que ali a gravata não é mais obrigatória para os homens e que as mulheres não precisam ir de tailleur -conjunto em que o tecido do blazer é o mesmo da calça ou da saia. Em caso de reunião com clientes, a gravata volta à cena. “Escritórios e advogados, em geral, têm a responsabilidade de transmitir confiança aos clientes. A imagem profissional passa bastante pelo aspecto do dress code”, afirma Daumichen. No verão, o “dress code” é mais flexível e adota-se uma política de “summer casual”. “Mulheres podem vir sem blazer, com uma camisa mais fresca. Homens podem vir de calça e camisa, sem necessidade de blazer.” PECAR PELO EXCESSO Para saber o que pode ou não usar no trabalho durante o verão, é preciso observar a cultura da empresa. “Existem três tipos de situação: formalidade, informalidade e mega informalidade. Você imediatamente,

ao entrar numa empresa, sabe que tipo é”, afirma Gloria Kalil. Caso os códigos não sejam evidentes, é melhor pecar pelo excesso. “Você deve optar por aquilo que é neutro”, diz Cristina Fortes, diretoraFoto: divulgação/Folhapress da consultoria Lee Hecht Harrison. O cuidado vale para homens, no caso de bermudas, e mulheres, para saias ou decotes. “Quanto menos você mostra o corpo, melhor.” Isso não significa que tudo precise ser coberto. Caso perceba que a empresa permite, o funcionário pode expor mais. “Uma sandália aberta, uma saia um pouco mais curta, sem meia. Você tem que prestar atenção e verificar como se encaixa no ambiente”, afirma Caroline Cadorin, diretora da consultoria Hays Experts. O importante é ter bom senso. “Mesmo para um ambiente informal, em se tratando do local de trabalho, as regras básicas de como se vestir ainda precisam ser levadas em conta e exageros devem ser evitados”, diz Cadorin. Na opinião dela, a adoção de um “dress code” informal não garante que as mulheres se sintam mais seguras sobre a forma como são percebidas. Cadorin diz ser necessário prestar atenção ao comportamento dos colaboradores para garantir que não existam pré-julgamentos e que não sejam criados estereótipos em razão das diferentes formas de se vestir. É o que acontece no iFood, segundo Tais Vicente. “A gente nunca teve nenhum problema por uma mulher vir com saia ou mostrando um pouco mais o colo”, diz. “Se você coloca o respeito na frente, não permite que o assédio aconteça.” Foto: Rafael Roncato/Folhapress

Equipe de Gabriel Ribeiro (de camisa clara, à dir.) no ItaúUnibanco pode usar bermuda.


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Loja cria test drive de tênis para encarar

grandes redes

por PAULA PACHECO/FOLHAPRESS

Enquanto grandes redes de produtos esportivos têm mais condições de negociar prazos e preços com os fabricantes, lojas especializadas são escolhidas por algumas marcas para a venda de produtos e serviços mais exclusivos. “Os corredores têm necessidades diferentes, por isso a loja generalista, que oferece produtos para muitos esportes, pode não fazer sentido para o cliente”, avalia o empresário Rodrigo Carneiro, 45, dono da Velocità. Para personalizar o atendimento, Carneiro disponibiliza 80 pares de tênis para test drive. O serviço é oferecido na unidade de Moema (zona sul de São Paulo). Quem frequenta a loja escolhe um modelo, deixa o RG e parte para uma corridinha até o parque Ibirapuera para avaliar os prós e contras. Se não gostar, pode optar por outro par e repetir o teste. Focar em um modelo de negócio tão específico exige maior preparo da equipe de vendedores, que lidam com um público especializado e ávido por novidades. O maior desafio para esse tipo de empreendimento é a escassez de informações de mercado. Carneiro diz que faltam fontes mais precisas para pesquisar novas formas de expansão. Os dados disponíveis são muito generalizados, e quem aposta em nichos tem maior dificuldade para ajustar o foco. Para contornar o problema, Carneiro busca se aproximar de profissionais de assessorias esportivas, que oferecem como serviço o treinamento de corredores. “As vendas estão crescendo a taxas que variam de um a dois dígitos, mas faltam dados sobre esses consumidores, que estão ficando mais exigentes”, diz o lojista. BATE-PAPO E CAFÉ Na falta de dados mais específicos de mercado, o ultramaratonista Marcio Villar, 50, optou por manter uma estrutura mais enxuta. Ele usa a própria experiência como o principal atrativo para sua loja especializada em tênis e acessórios para corrida, na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio de Janeiro). Para controlar as despesas, Villar optou por negócio familiar. Quando ele não está na loja, a mulher liga para tirar as dúvidas dos clientes.

“As pessoas vêm aqui comprar um tênis de corrida e aproveitam para pegar dicas e tirar foto ao lado dos troféus e das medalhas, e ainda ficam para tomar um cafezinho e bater papo. Somos uma espécie de casa do corredor”, conta o empresário. As vendas começaram a ser feitas pelo site do ultramaratonista há cerca de quatro anos. A

loja física foi inaugurada no começo de 2016. Em média, são vendidos 25 pares de tênis por semana. A margem de lucro é maior nos produtos de moda e acessórios, por isso Villar procura manter um mix equilibrado no showroom. Com um fôlego financeiro limitado pelo tamanho ainda pequeno do negócio, o empreendedor

procura não comprometer o capital em um estoque muito grande e investe no pagamento à vista para conseguir bons descontos. “A operação da loja já é lucrativa, mas é preciso ter cautela e apostar na aproximação com os clientes, que gera a propaganda boca a boca. É o caminho que escolhi para continuar a crescer”, afirma Villar. Foto: Divulgação

Atletas amadores participam da SP City Marathon, terceira maior maratona no Brasil, que passa por ruas do centro de São Paulo.


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Automedicação Automedicação é perigosa e pode piorar sintomas, remédios para dor de cabeça, azia e ressaca podem causar outros efeitos negativos e até potencializar sintomas

por JESSÍCA LIMA /FOLHAPRESS

As comemorações, muitas

Assim como o ácido acetilsalicíli-

vezes, são acompanhadas

co, composto em AAS, aspirina e

de excessos com alimen-

dipirona, usado para dor e febre,

tação e bebida. Azia, má diges-

não é recomendado para quem

tão, vômito, diarreia e a dor de

sofre de problemas gástricos

cabeça causada pela indesejada

como refluxo, gastrite e úlcera,

ressaca são sintomas comuns, o

pois pode piorar o quadro.

que leva a um hábito perigoso: a

“Medicamentos como ibuprofeno

automedicação.

ou cetoprofeno, utilizado para

Segundo o Ministério da Saú-

dor muscular, febre e inflamação,

de, 1 em cada3intoxicações que

podem reter sal e água no corpo,

ocorrem no país têm como causa

e fazer com que a pressão arterial

remédios.

suba, o que é um perigo ainda

“Quando o assunto é a nossa

maior para quem já é hipertenso”,

saúde, toda atenção é pouco. E

diz o médico.

quando o cuidado com a saúde

Outro alerta é sobre o consumo

envolve o uso de medicamentos,

excessivo de bicarbonato, para

essa atenção deve ser dobrada.

combater queimação e azia, que

É comum ouvirmos dizer que o

pode fazer com que o estômago

medicamento pode ser isento de

produza ainda mais ácido e ter

prescrição, mas não é isento de

efeito oposto ao desejado.

risco. As interações são possíveis

Álcool pode alterar ação de re-

e as intoxicações podem ser as

médio

mais variadas”, alerta Lorena

Para quem está alcoolizado, o uso

Baía, presidente do Sindicato dos

de medicamentos pode potenciali-

Farmacêuticos de Goiás.

zar ou diminuir seu efeito, além de

O que pode indicar melhora por

ampliar o risco de uma alteração

um lado, pode piorar de outro.

hepática, gastrite ou levar a com-

Paulo Ozon, clínico da Univer-

plicações neurológicas, segundo

sidade Federal de São Paulo,

especialistas.

explica que, se uma pessoa tiver

A recomendação do médico Paulo

problema no fígado, a ingestão

Ozon é que se evite, em todos os

de paracetamol, usado para dor

casos, o uso de remédios desconhe-

de cabeça, não é indicada: o me-

cidos. Ele diz que não existe um

dicamento pode causar falência

intervalo ideal entre a ingestão de

hepática.

um medicamento e outro.

Arte: Folhapress


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