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ANO XXIII - Nº 1178 - 30 DE JULHO A 05 DE AGOSTO DE 2022 - R$ 4,00
PORTO CALVO
Prefeita é denunciada por fraude na compra de fardamento O Ministério Público Estadual quer o afastamento da prefeita Eronita Sposito a quem acusa de chefiar um esquema fraudulento de licitações com a participação de um cunhado e um sobrinho. 10 e 11
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OEC
CASAL PODE ASSUMIR GESTÃO DO CANAL DO SERTÃO QUE ABRANGE 42 MUNICÍPIOS 8 RELIGIÕES SUPERAM TABU E APROVAM CREMAÇÃO DE MORTOS 16 e 17
DANTAS CONTA COM LESSA PARA VENCER COLLOR NO 2º TURNO n Racha no palanque de Cunha leva JHC a demitir apadrinhados 5 e 6
IMPUNIDADE
ELEIÇÕES COM ELAS
ENERGIA SOLAR
RECURSOS PROTELATÓRIOS E JOGO DE EMPURRA BENEFICIAM TATURANAS 3
PESQUISA REVELA QUE NO BRASIL MULHER NÃO VOTA EM MULHER 7
QUEM INSTALAR PAINÉIS ATÉ FINAL DO ANO NÃO PAGA TAXAS 13
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COLUNA Fazendo água
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- Nem mesmo a aliança com o prefeito de Arapiraca – segundo maior colégio eleitoral de Alagoas – consegue alavancar a candidatura de Rodrigo Cunha, que permanece estacionado em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto. A decisão de abandonar o PSDB e cair nos braços de Arthur Lira parece ter sido uma jogada errada. - Após trocar o PSDB pelo União Brasil o senador iniciou a corrida ao governo de Alagoas pontuando em primeiro lugar nas intenções de voto. Mas com a entrada de Collor na disputa, a candidatura de Cunha começou a fazer água, patinando entre a terceira e a quarta posição.
3 CNPJ: 04246456/0001-97
Av. Aspirante Alberto Melo da Costa,796 Ed. Wall Street Empresarial Center Sala 26 - Poço - Maceió - AL CEP: 57.000-580
EDITOR Fernando Araújo CONSELHO EDITORIAL
Luiz Carnaúba (presidente), Mendes de Barros e Maurício Moreira
SERVIÇOS JURÍDICOS Rodrigo Medeiros
ARTE Fábio Alberto - 9812-6208 REDAÇÃO - DISK DENÚNCIA 3317.7245 - 99982.0322 IMPRESSÃO Grafmarques preimpressao@grafmarques.com.br
As colunas e artigos assinados não expressam necessariamente a opinião deste jornal
DA REDAÇÃO
“Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados” (Millôr Fernandes)
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EDITORA NOVO EXTRA LTDA
MACEIÓ, ALAGOAS - 30 DE JULHO A 05 DE AGOSTO DE 2022
- Esperava-se que a vinda de Luciano Bivar a Maceió injetasse um gás à sua candidatura. Afinal o dono do União Brasil dispõe de R$ 1 bilhão para gastar nas eleições deste ano, mas o cacique sequer abriu a mala, controlada em Alagoas por Arthur Lira.
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- Apostar no poder de transferência de voto do chefe do Centrão foi outra opção que até agora não tem funcionado. A última esperança de Rodrigo Cunha era ganhar o apoio de Luciano Barbosa, mas pelas últimas pesquisas de intenção de voto, também não funcionou.
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- Ao oficializar seu apoio a Cunha, o prefeito de Arapiraca vendeu a esperança de transferir boa parte de seu eleitorado para o candidato, mas as pesquisas eleitorais sinalizam em outra direção. Resultado idêntico tem sido a aliança com Arthur Lira, que nada acrescentou à candidatura de Rodrigo Cunha.
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- Quem mais se preocupa com a questão é a bem avaliada deputada estadual Jó Pereira – vice de Cunha – que corre o sério risco de ficar sem mandato na próxima legislatura. O que seria uma pena.
Toga suja
O juiz Giovanni Jatubá recorreu da sentença que o condenou à aposentadoria compulsória por má conduta e desídia, a popular preguiça. Mas dificilmente escapará da pena e ainda corre o risco de enfrentar uma ação civil pública que pode culminar com sua demissão a bem do serviço público.
Unanimidade
A posse do advogado Fábio Ferrario no Tribunal de Justiça de Alagoas mostrou que o novo desembargador é uma unanimidade. O ato foi prestigiado até por quem trabalhou por sua derrota na disputa pelo cargo.
Vazamento
Uma operação de busca e apreensão com ordens de prisões na Prefeitura de Rio Largo teria sido abortada de última hora pela Polícia Federal. A decisão judicial teria vazado após chegar ao conhecimento do chefe político em Brasília que dá cobertura ao prefeito Gilberto Gonçalves, acusado de improbidade. O inquérito da PF que investiga denúncia de fraudes em licitação e desvio de recursos públicos em Rio Largo já teria provocado a queda do superintende da Polícia Federal em Alagoas, Sandro Valle Pereira, por tentar interferir nas investigações.
Ideologia
Ronaldo Lessa abandonou JHC para juntar-se a Renan, ex-aliado de Arthur Lira, que banca a campanha de Cunha, que esconde sua aliança com o presidente da Câmara dos Deputados. O ex-socialista, que entrou na política pela porta da frente do partidão em 64, sairá do poder pela porta dos fundos direto para o ostracismo que o espera. Sem glória nem honra.
Frase “Se for reeleito, Bolsonaro será esfolado vivo pelo Centrão”.
Ex-ministro Abraham Weintraub sobre a aliança do presidente com Arthur Lira.
Mamar é bom
O advogado Heth César foi o único integrante do PDT de Alagoas a se manifestar contra a aliança do partido com o MDB para Ronaldo Lessa ser o vice de Paulo Dantas. Para ele, os pedetistas que orbitam em torno de Lessa (Kátia Born à frente) não têm qualquer cunho ideológico ou partidário; só estão preocupados em ocupar cargos públicos e mamar nas tetas do poder, em qualquer governo.
Desafio dos Caldas
O desafio da Família Caldas é ter estrutura para fazer ao menos um deputado federal em outubro. A missão caiu no colo de JAC, irmão do prefeito JHC e filho de João Caldas. O problema, dizem os matemáticos, é a sigla – PSB, que ainda está com JHC –, obter o coeficiente eleitoral.
De ruim a pior
Rui Palmeira é aquele candidato que muita gente elogia, mas não consegue decolar nas pesquisas eleitorais. Sua candidatura sofre pela falta de estrutura e tende a piorar com aliados da estirpe de Antônio Albuquerque.
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OPERAÇÃO TATURANA
Jogo de empurra-empurra pode livrar Chico Tenório de ação penal STJ define que competência do caso é do TRF da 5ª Região
CARLOS VILLAVERDE/ALE
Ele também responde a ação por improbidade administrativa no âmbito do Judiciário estadual juntamente com outros envolvidos. TATURANA
JOSÉ FERNANDO MARTINS josefernandomartins@gmail.com
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ais de 14 anos após a Polícia Federal ter deflagrado a Operação Taturana que desmantelou esquema criminoso de desvio de dinheiro público da Assembleia Legislativa de Alagoas e deixou um rombo, segundo a PF, de R$ 200 milhões, entraves judiciais podem levar à impunidade de um dos envolvidos. Trata-se do deputado estadual Francisco Cerqueira Tenório, mais conhecido como Chico Tenório (PP). Quando o escândalo veio à tona, Tenório não era mais deputado estadual e, sim, federal. O fato fez com que o Judiciário alagoano alegasse não ter competência para julgá-lo, começando um verdadeiro “passa e repassa”. A ação penal foi parar no Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5), que também negou ser competente para julgar o caso. Com o imbróglio, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) interviu decidindo que o TRF-5 teria, sim, competência para julgar Chico Tenório. Acontece que desde a decisão do ministro Antônio Saldanha Palheiro, do STJ, proferida em 24 de fevereiro de 2021, o TRF5 ainda aguarda a chegada da papelada envolvendo as acusações contra o deputado, a chamada devolução processual. Ocorre que o STJ devolveu o processo para o tribunal de origem, ou seja, o TJ de Alagoas. Atento ao risco da impunidade, já que o processo está prestes a prescrever, o promotor de Justiça e coordenador do Núcleo de Defesa do Patrimônio Público (Nudepat) José Carlos Castro pediu providências ao procurador-geral de Justiça, Márcio Roberto Tenório de Albuquerque. Em abril último, Castro deixou clara sua preocupação de todo o trabalho envolvido do Ministério Público e também da Polícia Federal ter sido em vão. Conforme o promo-
Além da ação de improbidade, Chico Tenório é réu em ação penal tor, ao consultar o processo no TJ, a última atualização é datada de 30 de setembro de 2019, quando foi encaminhado para o arquivo. O fato acendeu o sinal vermelho. “Desde então, até o presente momento, continua sem qualquer informação sobre tramitação desse processo perante o Tribunal Regional Federal da 5ª Região, o que pode se considerar que o mesmo caiu em um limbo, onde nenhuma Corte aponta notícia sobre seu recebimento e tramitação regular. Essa situação causa preocupação, pois pode implicar na prescrição dos crimes praticados com a consequente impunidade do autor pelos graves crimes praticados contra o erário. Na condição de autor da ação, é da responsabilidade do Ministério Público buscar seu impulsionamento”, destacou o promotor. No ofício encaminhado à Procuradoria Geral de Justiça (PGJ), Castro pede a adoção de providências no âmbito judicial perante os envolvidos (TJAL eTRF5) acerca da tramitação, para que seja retomada por parte da Corte Federal que recebeu a competência. De número 0500318-02.2017.8.02.0000, o processo cujo assunto “Crimes de Lavagem ou Ocultação de Bens, Direitos ou Valores” corre em segredo de Justiça no Judiciário alagoano.
Como primeira providência, o procurador-geral de Justiça Márcio Tenório encaminhou o caso para o procurador Regional da República da 5ª Região, Rafael Ribeiro Nogueira Filho. Chico Tenório foi acusado de peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro, na suposta apropriação de recursos públicos oriundos da Assembleia Legislativa. O parlamentar teria realizado diversos empréstimos vultosos perante instituições bancárias, tais como o Banco Bradesco e o Banco Rural, utilizando recursos públicos da Casa de Leis alagoana para pagar pelo montante. A acusação salientou que antes dos crimes imputados ao parlamentar ocorrerem, houve o cometimento do delito de gestão fraudulenta de instituição financeira’, possibilitando a concretização dos outros ilícitos. Na época dos fatos, a remuneração mensal do deputado estadual, gravitava em torno de R$ 6.000, razão pela qual jamais poderia tomar por empréstimo uma expressiva monta de dinheiro que era bastante incompatível com sua renda, como R$ 150.000,00 e R$ 200.000,00. No entanto, tais empréstimos foram autorizados pelos gerentes das instituições já mencionadas.
Deflagrada em 6 de dezembro de 2007, a ação da PF tinha o objetivo de desmontar uma organização criminosa instalada na Assembleia Legislativa de Alagoas, acusada de fraudes no Imposto de Renda de até R$ 200 milhões em cinco anos. De acordo com a PF, a quadrilha se apropriava de recursos da Assembleia através de sua folha de pagamentos, com a inclusão de funcionários fantasmas e laranjas. Os envolvidos também declaravam à Receita Federal retenções de imposto de renda em valores superiores aos efetivamente retidos, além de se beneficiarem das restituições do IR feitas aos falsos funcionários. Na época foram presas 36 pessoas em flagrante, entre deputados da época, funcionários da Assembleia e assessores dos parlamentares. A maioria foi acusada de peculato, estelionato contra a administração pública federal, fraude e lavagem de dinheiro. Entre os presos estavam Celso Luís Brandão, ex-prefeito de Canapi, o ex-deputado Cícero Ferro (falecido em 2017), detido por porte ilegal de armas, o hoje deputado federal Paulo Fernando dos Santos, o Paulão (PT), Flávio Jatobá, genro de Ferro e ex-prefeito da cidade de Roteiro, Nailton Felizardo, exdeputado e tesoureiro da Assembleia na época, Rafael Albuquerque, irmão do então presidente da Assembleia Antônio Albuquerque (DEM), também acusado, Daniela Moreira Silva Dório, ex-secretária de Albuquerque, e o ex-governador Manoel Gomes de Barros. Também foram citados na operação e denunciados como réus por improbidade o deputado federal e presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), o ex-prefeito Cícero Almeida, o ex-deputado João Beltrão (falecido em 2019) e o conselheiro aposentado do Tribunal de Contas Cícero Amélio.
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GABRIEL MOUSINHO
n gabrielmousinho@bol.com.br
Estrago eleitoral
A
decisão do prefeito de Arapiraca, Luciano Barbosa, de apoiar as candidaturas de Rodrigo Cunha ao governo e Davi Davino ao Senado, foi o troco dado pelos constrangimentos que passou quando decidiu deixar a vice-governadoria para administrar a
Alto lá
Não será um passeio se eleger nas próximas eleições e Renan Filho terá que trabalhar muito para fazer companhia ao pai no Senado. O jogo que está sendo jogado é duro e muitas surpresas podem vir por aí.
Lembrete
O ex-governador Renan Filho tem absoluta confiança de que ganha folgado a eleição para senador, mas a história de Alagoas revela muitas surpresas. Em 1988 Renan Calheiros já festejava que seria eleito prefeito de Maceió e perdeu a batalha para Guilherme Palmeira. Em 1990 Renan já comemorava antecipadamente a eleição para governador e perdeu para Geraldo Bulhões.
sua cidade natal. Perdendo um apoio considerável no segundo maior colégio eleitoral do estado, os Calheiros amargam um prejuízo iminente e dificultam a reeleição de Paulo Datas ao governo e do próprio Renan Filho ao Senado da República. GEORGE GIANNI/PSDB
Dá pra desconfiar 1
Dá pra desconfiar 2
Se as pesquisas eleitorais que estão sendo divulgadas são corretas, está ficando claro que o prefeito JHC não está tendo o poder de transferir votos para governador. Que o diga o senador Rodrigo Cunha.
Sem ainda anunciar o nome do seu primeiro suplente e com as pesquisas botando lenha na fogueira, é de se entender a preocupação de Renan Filho com sua candidatura ao Senado nas eleições de outubro. TWITTER
Sinal de alerta
Se dentro da própria família já tem duas surpresas desagradáveis, é bom não ir contando vitória antes do tempo.
O conselheiro do TC Otávio Lessa, mesmo sabendo que não é permitido por lei participar de articulações políticas, foi peça fundamental para a indicação de seu irmão Ronaldo para vice de Paulo Dantas. Um investimento que deve render frutos principalmente para o seu genro, Rafael Brito.
Avançando
O posicionamento de Fernando Collor nas pesquisas e o fato de ser acostumado a ganhar eleições em tempo recorde, faz seus adversários tremerem nas bases e ficarem com as barbas de molho. O senador, além de ter um eleitorado cativo, atrelou sua campanha ao presidente Jair Bolsonaro, o que tem feito a diferença.
Embate
Mais além
Alternativa
Já admitindo que sua candidatura deve polarizar com Davi Davino, o ex-gover-nador tem pensado até em substituir o nome de sua mulher Renata Calheiros como suplente, para que possa atrair novas lideranças para reforçar com votos o meio de campo.
O crescimento da candidatura de Davi Davino ao Senado tem tirado o ex-governador Renan Filho do conforto. Antes com passaporte carimbado, se vê agora com um documento prestes a vencer.
Desistência
Pode ser verdade ou não, mas os rumores de uma possível desistência de candidatura ao governo por parte do ex-prefeito Rui Palmeira seria apenas uma questão de tempo. O próprio candidatado estaria encontrando sérias dificuldades para tocar uma campanha cara, o que prováveis aliados não perdoam.
O aparente anonimato do ex-governador Teotônio Vilela traz várias interpretações e uma delas seria a aproximação sorrateira com o senador Renan Calheiros, com quem dividiu várias vitórias. O silêncio de Vilela, acostumado a várias incursões políticas, deixa todos de orelha em pé.
Na cartola
Orelha em pé
A SMTT de Maceió peitou o município de Rio Largo e as consequências, para quem conhece o prefeito da vizinha cidade, são imprevisíveis. Ações desnecessárias que parecem apenas complicar o quadro político, mesmo que o IBGE tenha considerado que o embarque e desembarque fica do lado de Maceió.
Carreira solo
Muito embora seja um candidato leve, Rui Palmeira encontra muitas dificuldades para ampliar suas alianças, pecado que cometeu durante todo o seu mandato na Prefeitura de Maceió onde não construiu uma base política para disputar as futuras eleições.
Dificuldades
Uma das maiores dificuldades do ex-prefeito Rui Palmeira na corrida para disputar o governo do Estado é a falta de estrutura. Sem musculatura financeira, Palmeira ainda vacila entre continuar candidato ou apoiar outros concorrentes.
Divisão
As candidaturas de Welton Roberto e Judson Cabal têm dividido o PT em Alagoas. De um lado Welton recebe o apoio de Sandro Regueira e Mariana Brandão, respectivamente secretários de Cultura e de Direitos Humanos do partido e, do outro, Judson tem recebido velhos apoios, a exemplo de Edberto Ticianeli e Zé Roberto. É briga interna para ninguém botar defeito.
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ELEIÇÕES FACEBOOK
Indicação do vice-prefeito Ronaldo Lessa como vice de Paulo Dantas foi oficializada pelo PDT
Calheiros ganham Lessa e avançam sobre Maceió
Eleitores da capital são estratégicos para vencer provável 2o turno contra Collor ODILON RIOS odilonrios@hotmail.com
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ara diminuir a desvantagem nas pesquisas, o senador Rodrigo Cunha (União Brasil) intensificou os ataques ao governador Paulo Dantas (MDB) e foca seu dia a dia no que chama de caravanas pelo estado, sempre ao lado de sua vice, a deputada Jó Pereira (PSDB), e do deputado Davi Davino Filho (PP) que disputa o Senado. No Sertão, priorizou nos discursos o acesso da população à água. O alvo é o Canal do Sertão e não por acaso. Neste sábado, 23 de julho, o Canal completa 29 anos da assinatura do primeiro contrato para uma construção que até hoje não tem data para terminar. “Uma de nossas prioridades para a região é assegurar o pleno acesso à água. É impensável que comunidades inteiras ainda
não tenham água em suas casas, muito menos para a agricultura e a irrigação. Precisamos também melhorar a educação, garantindo condições de crescimento para crianças e jovens. Outro tópico essencial é a saúde. Na gestão atual, o Sertão até ganhou um hospital. Mas de nada adianta ter um prédio novo e ele não funcionar de forma plena, sem conexão com a rede de atenção básica à saúde como vem acontecendo”, disse. Dos quatro candidatos mais bem colocados nas pesquisas, apenas Rodrigo Cunha iniciou a série de ataques, com alvo ao candidato dos Calheiros, Paulo Dantas. Cunha oscila em terceiro ou quarto lugar nas pesquisas ao governo, numa disputa acirrada e que terá segundo turno, salvo uma mudança brusca de rumo. O governador evita o revide e se prepara para as convenções partidárias que começaram esta
semana. “A minha forma de governar é assim: olhando nos olhos dos alagoanos”, diz. Esta semana, Dantas acompanhou decisão dos governadores e reduziu o ICMS do etanol em Alagoas que passa de 17% para 9%. “A decisão aumenta a competitividade do nosso setor sucroalcooleiro, importante gerador de empregos, e ajuda a diminuir o preço nos postos de combustíveis para os alagoanos”, explicou. O jogo também atrai os usineiros para a campanha de Dantas. O setor produtivo é clássico apoiador de candidatos ao governo desde que a pauta destes candidatos não afete os lucros das usinas de açúcar e álcool nem interfira nas relações de trabalho semi -escravistas. Apesar de os Calheiros terem um leque de prefeitos para mostrar – como Rodrigo Cunha faz questão de exibir – a campanha de Paulo Dantas escolheu nesta primeira etapa o rosto de pessoas comuns. Os gestores municipais aparecem aos poucos, como o de Pilar, Renatinho.
O senador Fernando Collor (PTB) foi beneficiado pela decisão do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) que aceitou perdoar 70% da dívida de R$ 14,4 milhões da Organização Arnon de Mello (cujo maior acionista é Collor), com 12 meses de carência e parcelamento do débito em 126 meses. Maior acionista do banco é a União, representada pelo governo federal hoje sob comando do aliado Jair Bolsonaro (PL). Em resposta, o senador gasta sola de tênis nas estradas e em visitas para diminuir a rejeição ao seu nome (a maior entre todos os candidatos ao governo) e melhorar o desempenho de Bolsonaro em Alagoas, tarefa que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP,) não faz mais questão de levar adiante preocupando-se apenas com a própria reeleição. Collor também acompanha adesivaços com os nomes dele e do presidente da República em várias cidades, num calendário antecipado em suas redes sociais. Ao lado do seu vice, o vereador Leonardo Dias (PL), visita empresários e busca capturar os usineiros. Na usina Utinga Leão prometeu manter o ICMS do etanol em 9%. O ex-prefeito de Maceió Rui Palmeira (PSD) continua em ritmo de campanha buscando se consolidar como nome independente (nem Arthur Lira nem Renan Calheiros), por isso é moderado nos ataques a ambos. “O povo precisa dos hospitais funcionando com toda sua capacidade, sobretudo nos municípios polo”, afirmou, sem críticas mais contundentes a Paulo Dantas. A novidade de Rui é que ele trouxe o pai Guilherme e seu legado como governador de Alagoas para sua eleição. Guilherme morreu em 2020, aos 81 anos. “Muitos me conhecem como filho de Guilherme Palmeira. Como governador, vou honrar a sua história”, diz. O pai de Rui governou Alagoas entre 1979 e 1982 indicado pelos militares, na época da ditadura. Guilherme era filiado à Arena, partido de sustentação do regime.
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ELEIÇÕES
Palanque de Cunha racha e JHC reage demitindo indicados Prefeito faz arrumação em secretarias a dois meses das eleições FACEBOOK
ODILON RIOS odilonrios@hotmail.com
O
s resultados das pesquisas e a saída de Ronaldo Lessa (PDT) do grupo obrigaram o prefeito JHC (PSB) a promover uma dança de cadeiras na administração municipal. A dois meses das eleições, demitiu indicados do senador Rodrigo Cunha (União Brasil), do deputado Davi Maia (União Brasil) e do vereador Francisco Sales (PSB). Aumentou espaços para João Caldas que não disputa mais a Câmara Federal (foi substituído pelo filho Doutor JAC) e acumula as indicações em mais uma secretaria, a Assistência Social, antes de aliados de Cunha. O grupo de Rodrigo Cunha terminou a semana passada comemorando a entrada, no grupo, do prefeito de Arapiraca, Luciano Barbosa (MDB) – líder do segundo maior colégio eleitoral – e do ex-secretário de Segurança Pública Alfredo Gaspar de Mendonça, anunciado como o mentor do plano de governo. Mas esta semana a chapa liderada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), enfrentou turbulências: Cunha, antes favoritíssimo à sucessão estadual, está em terceiro lugar nas pesquisas; o PSB nacional quer um nome do próprio partido buscando vaga na Câmara e o vereador (e líder do prefeito na Câmara) Siderlane Mendonça anunciou a pré-candidatura a deputado federal e isso reúne eleitores do bairro do Benedito Bentes, o maior da capital alagoana. Isso para servir de escada para Doutor JAC que, ao menos por enquanto, está fora das apostas dos par-
Cunha, JHC, Davino e Jó em viagem ao Sertão em busca de apoios
Com o palanque rachando, situação também motivada após o senador Fernando Collor (PTB) ser anunciado ao governo como o candidato do presidente Jair Bolsonaro (PL) em Alagoas, Rodrigo Cunha intensifica a própria presença nos municípios, aumentando o leque de prefeitos apoiando sua candidatura. tidos como futuro deputado federal; a campanha mudou o tom e aposta em um confronto mais direto com o governador Paulo Dantas (MDB) que não reage e aguarda responder no guia eleitoral ou no lançamento da própria candidatura na próxima semana.
Com o palanque rachando, situação também motivada após o senador Fernando Collor (PTB) ser anunciado ao governo como o candidato do presidente Jair Bolsonaro (PL) em Alagoas, Rodrigo Cunha intensifica a própria presença nos municípios, aumentando o leque de prefeitos apoiando sua candidatura. Em Palmeira dos Índios, do prefeito dantista Júlio César (MDB), ele aprovou que seu vice Dr. Márcio (União Brasil) declarasse apoio a Cunha, ao deputado estadual Davi Davino Filho, que disputa o Senado, e à reeleição de Arthur Lira. “Alagoas vem dando vexame na educação há muito tempo. Somos um dos campões nacionais em analfabetismo. Ou seja, o governo que está aí querendo se perpetuar no poder não tem como ser o ‘melhor do Brasil’, uma vez que foi incapaz de reverter esta vergonha nacional. E sobre as creches,
basta circular pelo estado que vemos o descaso para com as crianças menores de 6 anos, por exemplo, sem opção de educação enquanto suas mães e seus pais precisam lutar pelo sustento trabalhando fora”, disse o senador. Personagem mais importante no palanque de Cunha é Arthur Lira, que se divide entre Alagoas e Brasília. O senador agrega ainda mais sua imagem à do deputado federal nesse difícil momento de sua campanha. Também quer atrair votos andando com Alfredo Gaspar de Mendonça, nome estratégico e disputando a vaga de federal, associado ao sucesso da SSP na diminuição dos homicídios, retirando Alagoas das estatísticas de estado mais violento do país. Luciano Barbosa e Alfredo Gaspar têm algo em comum: até outro dia estavam no palanque do senador Renan Calheiros (MDB) e do ex-governador Renan Filho (MDB). Mas se consideram traídos nos jogos pesados da política. Mendonça não foi o escolhido pelos Calheiros para ter apoio político e dinheiro para a campanha a federal. Eles apostam na reeleição do líder do MDB na Câmara Isnaldo Bulhões (MDB). Foi para a oposição. O argumento é que o governador Paulo Dantas, antes deputado estadual, é apoiado pelo presidente da Assembleia, Marcelo Victor (MDB), e o ex-SSP não fica no mesmo palanque dos deputados. Em compensação, está no palanque de Rodrigo Cunha, apoiado pelo presidente da Câmara que é réu em ações penais no Supremo Tribunal Federal (STF). Em um dos inquéritos é acusado de receber R$ 106 mil em propina do então presidente da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) Francisco Colombo. Luciano Barbosa era vicegovernador quando assistiu à prisão da filha e do marido dela nas investigações da Polícia Federal dentro da Secretaria Estadual de Saúde, na Operação Dama da Lâmpada, que detectou desvios de R$ 30 milhões, via Sistema Único de Saúde (SUS), dinheiro que deveria ser destinado à aquisição de próteses a amputados.
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ELEIÇÕES COM ELAS CHRISTINA_RUFATTO
Juliana Fratini é a organizadora da coletânea de artigos escritos por diferentes personalidades
‘Princesas de Maquiavel’ clama por mais mulheres na política brasileira MARIA SALÉSIA sallesiaramos18@gmail.com
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or que as mulheres não votam em mulheres? O questionamento vem à tona após o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) divulgar estatísticas do eleitorado para as eleições de 2022. A pesquisa revela que as mulheres são a maioria da população apta a votar este ano, no entanto, permanecem subrepresentadas nos cargos políticos. Para a cientista política Juliana Fratini, organizadora do livro “Princesas de Maquiavel - por mais mulheres na política”, não é possível dizer, simplesmente, que as mulheres não votam em mulheres. Todo o sistema político excluiu a participação real da mulher na política institucional. Segundo ela, a constituição mudou, as leis são feitas e reinventadas para facilitar o acesso da mulher na política, mas é preciso mudanças culturais. Fratini diz que são vários incentivos para que a mulheres lancem can-
didaturas, como as jurídicas, que exigem a reserva de 30% de vagas para candidaturas femininas para todos os partidos e exigência de 30% de recursos do Fundo Especial de Campanha para candidaturas femininas. Além disso, o TSE tem realizado muitos investimentos em campanhas para o ingresso das mulheres na política. Outro incentivo, acrescenta, vem da sociedade civil organizada, por meio de grupos neosufragistas, que impulsionam candidaturas femininas e o desenvolvimento de políticas públicas, tal como o Vote Nelas, Elas no Poder, Vamos Juntas, Grupo Mulheres do Brasil e A Ponte, dentre outros. “Estudos universitários com embasamento científico, as artes e a imprensa também têm contribuído muito com a pluralidade política que beneficia as mulheres, isso no sentido de reposicionarem seus direitos políticos”. De acordo com a especialista, o Brasil possui histórico privatista e patrimonialista, no qual o Estado esteve ocupado, por um vasto período de
Cientista política afirma que a democracia pode se tornar mais plena por meio da participação mais equitativa tempo, por uma elite muito limitada quanto às regras liberais e o exercício dos direitos. “As mulheres foram apartadas da vida social e política por mais de um século, muitas vezes sob a correspondência de constituições passadas que colocavam as mulheres em condição de subordinação aos homens e não reconheciam os mesmos direitos”. E acrescenta que participar do processo eleitoral por meio do voto consistiu uma luta por meio do movimento sufragista; luta para a participação institucional política; luta pela liberdade e democracia durante a Ditadura; e mais recentemente, na contemporaneidade, para o aumento do ingresso e permanência das mulheres na política institucional. “As mulheres não são as salvadoras da política, tal como os homens também não. Mas é certo que o sistema político pode melhorar muito e a democracia se tornar mais plena por meio de uma participação feminina mais equitativa”, acredita Fratini.. Na visão dela, os partidos precisam levar mais a sério os recursos a serem disponibilizados para as campanhas das mulheres: entregar as verbas com antecedência, bem como dis-
ponibilizar infraestrutura para que façam as melhores campanhas de forma sustentada e com planejamento. “Não adianta o partido disponibilizar recursos duas ou uma semana antes das eleições. Não adianta o partido defender uma pauta de participação feminina e nas fotos oficiais só aparecerem homens, ou os principais postos dentro da infraestrutura do próprio partido serem ocupados predominantemente por homens”. O LIVRO “Princesas de Maquiavel: Por Mais Mulheres na Política” é uma obra coletiva, com artigos de deputadas e senadoras de diversos partidos e linhagens ideológicas (conservadoras e progressistas, de esquerda e direita), lideranças de organizações da sociedade civil organizada, jornalistas e membros do Poder Judiciário. “O que me levou a organizar o livro e aprofundar na literatura foi justamente o deficit de uma discussão mais abrangente sobre os problemas que as mulheres de todos os partidos passam na vida pública. Não são apenas mulheres de um núcleo de poder que são desrespeitadas, boicotadas e vilipendiadas; isso ocorre da esquerda à direita”. E comparou que se Maquiavel – o escritor que posicionou o pensamento político moderno – falava sobre “O Príncipe” enquanto governante, mas não lembrando de incluir nenhuma governante mulher em sua obra, por que não podemos falar sobre “As Princesas de Maquiavel”, que são mulheres da vida pública (ou que querem ingressar na vida pública), que possuem a mesma expertise masculina, “às vezes até mais, devido ao enfrentaremos constante de preconceitos e violência pelo gênero e a misoginia”. Entre os assuntos abordados estão os movimentos e direitos políticos conquistados nos séculos XIX e XX, a necessidade de reserva de 50% das cadeiras para mulheres nos parlamentos, além de movimentos neossufragistas como o Vote Nelas, que surgiu em 2018. “O objetivo desta obra é valorizar o papel da mulher na política e promover uma ampla reflexão a respeito de como diminuir o machismo, combater a misoginia e promover maior engajamento sem lesar as diferenças. Nessa construção, todas as mulheres importam, especialmente quando a misoginia pode fazer vítima qualquer uma delas”, destaca a organizadora. Lançado pela editora Matrix, o livro pode ser encontrado na Internet e livrarias. Mais informações e dados de pesquisas podem ser encontrados no site www.princesasdemaquiavel. com.br.
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PROPOSTA
Casal pode assumir o controle do Canal do Sertão
ASCOM CBHSF
Maior obra de infraestrutura hídrica de Alagoas ganha modelo que promete resultados sustentáveis
Proposta de modelo de gestão foi entregue ao governador Paulo Dantas TAMARA ALBUQUERQUE tamarajornalista@gmail.com
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Canal Adutor do Sertão Alagoano, maior obra de infraestrutura hídrica de Alagoas, deve passar ao controle da Casal, a Companhia de Saneamento, se o governador Paulo Dantas acatar a proposta de modelo de gestão elaborada por empresa contratada pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF). Pela proposta, a Casal responderá pela administração, operação e manutenção do canal, que atualmente funciona sob a responsabilidade da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), enquanto que a regulação do serviço de adução de água bruta seria comandada pela Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de Alagoas (Arsal), que definirá o valor da tarifa a ser paga pelos usuários para cobrir custos de operação. A tarifa deverá ser reajustada a cada cinco anos. A proposta de Modelo de Gestão do Canal do Sertão foi desenvolvida pela empresa HidroBR no decorrer de um ano e entregue ao governador esta semana. O objetivo foi criar um instrumento de planejamento para assegurar a sustentabilidade financeira, operacional e socioeconômica do canal apontando ferramentas para gestão da distribuição de água para a população beneficiada pela obra. O Canal do Sertão, iniciado em 1992, redireciona uma parte do fluxo de água do Rio São Francisco para 42 municípios que ocupam 53% da área do estado de Alagoas e possuem uma população de mais de um milhão de habitantes que enfrentam os efeitos da seca. Do total de municípios, 16 (dezesseis) pertencem à mesorregião do Agreste alagoano, enquanto 26 (vinte e seis) estão na mesorregião do Sertão alagoano. Segundo a empresa, o canal terá 250 Km de exten-
são depois de concluído e foi projetado para fornecer 32 m³ de água por segundo, sendo 30 m3/s para irrigação e 2,0 m3/s para abastecimento humano. Atualmente estão em funcionamento as etapas de número 1 a 4, em 123 Km de operação. A etapa 5 da obra tem previsão de início para ainda este ano. Quanto aos 100 quilômetros restantes (150 km a 250 km), ainda não se tem previsão de contratação de sua construção. “Um detalhe importante do empreendimento é que por toda a extensão do canal o escoamento de água é feito por gravidade”, enfatiza o trabalho da HidroBR. Apesar de estar em operação, o Canal do Sertão ainda não tem um modelo adequado de gestão, segundo o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. O modelo proposto também prevê gestão descentralizada e com participação social. Até 2020, segundo o projeto, a gestão da infraestrutura do canal foi custeada pelo Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FEHR), tendo sido repassados, em 2021, ao orçamento da Semarh. Segundo o coordenador da Câmara Consultiva Regional do Baixo São Francisco, Anivaldo Miranda, o canal “merecia dispor de um modelo de gestão para poder funcionar da melhor forma possível, sobretudo tendo em vista o uso racional das águas”. A água do canal dutor é utilizada, principalmente, pela Casal, segundo a proposta entregue ao governador Paulo Dantas, “em termos de vazão solicitada, autorizada e volume diário autorizado a ser retirado, levando em consideração o tempo de funcionamento das captações”. Em seguida, ocorre o uso das águas do canal pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), que possui quatro captações na estrutura. Ao longo do Canal do Sertão há também tubulações para abasteci-
mento de caminhões-pipa, normalmente com capacidade de 10 mil litros a 18 mil litros e que são contratados pelo Exército e prefeituras da região, por meio das Defesas Civis Municipais, ou particulares. “Em média, são observados 600 caminhões-pipa por dia abastecendo-se com água do Canal em 11 captações, do Trecho 1 ao Trecho 3”, revela o relatório. A empresa também afirma que a modelagem entregue ao governo tem por objetivo assegurar a sustentabilidade econômico-financeira do Canal do Sertão Alagoano. Isso acontecerá através da “proposição de tarifas que sejam acessíveis aos usuários do Canal, bem como refletir os custos envolvidos para o fornecimento de água para os usuários e que possibilite a prestação do serviço com qualidade e segurança ao longo do tempo projetado”. Considerando o horizonte de planejamento de 35 anos, o modelo desenvolvido calcula as tarifas médias a serem aplicadas nos ciclos tarifários. Para isso, foi considerado que, a cada 5 anos, seriam realizadas revisões tarifárias e adotada uma nova tarifa que leva em consideração a Receita Requerida (RR) e o Mercado (denominação da demanda hídrica em relação ao número de usuários) projetado desse período.
“O Modelo foi construído com a sociedade civil, com os órgãos do Estado para gerir de forma correta aquela que é a obra hídrica mais importante do Nordeste”, avaliou o secretário do Estado e Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Alagoas, Gino César. A proposta, depois de avaliada pelo governo, será encaminha à Assembleia Legislativa. Segundo o Modelo de Gestão, é importante maior envolvimento das prefeituras municipais no processo de implementação do Plano de Gestão do Canal e maior articulação entre os demais órgãos e Instituições de Ensino Superior (IES) da região, para execução de atividades conjuntas, prevista no Plano de Ações para Implementação do Modelo, bem como para divulgação de outros estudos e levantamentos a serem desenvolvidos. A avaliação periódica da gestão é necessária para garantir que os objetivos do Canal sejam cumpridos de maneira sustentável. Caso isso não aconteça, o modelo servirá como a própria orientação para indicar os pontos que devem ser desenvolvidos e fortalecidos para restabelecer a sustentabilidade do empreendimento, propõe o material em sua conclusão.
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INVESTIMENTO
GRUPO MATEUS INAUGURA DUAS LOJAS EM MACEIÓ COM GERAÇÃO DE 700 EMPREGOS DIRETOS
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Grupo Mateus aporta em Maceió com a inauguração de duas lojas, gerando cerca de 700 empregos diretos e dentro dos planos de expansão há possibilidade de novas unidades na capital e interior do estado. Maior rede varejista do Norte/ Nordeste, conta com quase 45 mil colaboradores em 225 lojas espalhadas no Maranhão, Pará, Piauí, Ceará, Bahia, Pernambuco Sergipe e Alagoas. A pretensão é que nos próximos 10 anos ocupe todos os estados do Nordeste, com avanço pela região Norte. Com investimento de cerca de R$ 110 milhões nas duas lojas em Alagoas, as portas do coração do Grupo Mateus se abrem com o propósito de movimentar a economia local, com geração de empregos e renda. A grandiosidade em números e extensão do Grupo se confunde com a generosidade e simplicidade de seu proprietário Ilson Mateus. Foi assim na véspera da inauguração das lojas em Maceió quando, ao receber a imprensa, aquele homem franzino, de mochila preta nas costas, fala mansa, se misturava no meio do povo, posava para fotos, atendia a cada um com um sorriso contagiante. Ali estava, de fato “um só coração”, sem distinção. Talvez este seja o segredo do sucesso daquela mercearia de 50m², criada em 1986, lá em Balsas (MA), pelo engraxate, ex-torneiro mecânico e vendedor de cachaça llson Mateus, ter se tornado um empreendimento colossal. Segundo Ilson Mateus, Maceió é a segunda capital a ser escolhida para a implantação de uma loja – já que a estratégia é começar pelo interior do estado. Porém, foi tão bem acolhido que resolveu abrir duas unidades ao mesmo tempo. “Maceió é importante em nosso plano de expansão. Tem um grande potencial, é um
mercado transformador”, elogiou o empreendedor. Sandro Oliveira, diretor Executivo do Grupo Mateus, afirmou que chegar em mais uma capital do Nordeste representa um passo muito importante no posicionamento da empresa. “São duas lojas planejadas e completas, com açougue, peixaria, padaria, produtos de qualidade e preços acessíveis. Isso vai ser um diferencial enorme para a cidade,” garantiu. Falar do Grupo Mateus é falar de oportunidades, quebra de paradigmas, acolhimento, inclusão. Basta ver a gratidão estampada no rosto de seus colaboradores alagoanos. Mônica Moura, 49 anos, é prova disso. Com experiência de mais de 23 anos no setor de mercados, estava desempregada há anos e sem perspectiva de voltar a ser inserida no mercado de trabalho por está prestes a completar 50 anos. “Achei que não iria mais trabalhar devido a minha idade. Daí, o Grupo Mateus abriu esta porta e amei. Foi um diferencial, tudo de bom”. Acicrone Bezerra, 41 anos, há seis anos fora do mercado de trabalho, resumiu a oportunidade em “realização de sonhos”. Adriana Araújo, 39 anos, cinco anos sem trabalho, vê a oportunidade como “um diferencial em sua vida”. A turma do primeiro emprego falou da alegria de ser inserido no mercado. Para Ray Raimundo, começar em uma empresa que dá oportunidades de crescer faz todo o diferencial. “Seu primeiro emprego ser em uma empresa desse porte, é um privilégio. Vejo só como um início. Espero crescer cada vez mais aqui dentro”. Rayssa de Oliveira, 19, fez questão de destacar a receptividade da empresa, enquanto a jovem Soanne Maria diz que está sendo uma experiência
incrível trabalhar com o público. “Fico com o coração acelerado, mas estou pronta. Fui bem preparada, instruída e acolhida”, afirmou.
DE PORTAS E CORAÇÃO ABERTOS O MIX Mateus abriu suas portas e seu coração para o consumidor alagoano na quinta-feira, 28, com um mix de novidades, oportunidades e ofertas especiais. Porém, todo dia o público vai ter um motivo especial para ir em uma das suas lojas. As promoções quase que diárias, a adega, o canto do chefe, a padaria, os lanches deliciosos e a variedade de produtos são atrativos à parte. Só indo lá para comprovar o diferencial. O bom é que não vai ser preciso ir ao outro lado da cidade para chegar em uma das unidades. Na parte alta, a loja está instalada na Av. Menino Marcelo, bairro Serraria. São 14.546,59m² de área construída com um salão de vendas de 5.241m². O estacionamento tem capacidade para 497 veículos, sendo 370 carros e 124 motocicletas, além do bicicletário. Já a segunda loja do Mix Mateus está localizada na Av. Siqueira Campos, bairro do Trapiche. No total, são 15.215,76m² de área construída, com um salão de vendas de 5.255m². O estacionamento possui capacidade para 560 veículos, sendo 200 motos e 360 carros, além de bicicletário. O consumidor terá a oportunidade de ver o nascer ou o pôr do sol na loja. É que a unidade do Trapiche abre às 6 horas e se estende até às 22 horas. Na Serraria, tudo começa às 7 horas e vai até às 22 horas.
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PORTO CALVO
Prefeita é denunciada por fraude em compras de fardas FACEBOOK
MP acusa Eronita Sposito de chefiar esquema envolvendo cunhado e sobrinho
JOSÉ FERNANDO MARTINS josefernandomartins@gmail.com
Eronita teria fraudado licitações
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prefeita de Porto Calvo, Eronita Sposito Leão e Lima, está sendo acusada de fraudar procedimento para contratação de empresas fornecedoras de fardamentos para o Executivo do município. O caso, que já tramita no Judiciário alagoano, foi alvo de inquérito do Ministério Público do Estado (MPE). A acusação de improbidade administrativa, que estaria ocorrendo desde 2021, também envolve o cunhado da prefeita Willames Glaibson Ramos e o filho deste, Willemberg de Sales Ramos. O esquema chamou a atenção do MP após denúncia da imprensa. Segundo o site Correio da Rua, os contratos, no valor de R$. 1.166.676,26 para fornecimento de fardas, teriam beneficiado parentes da prefeita. Isso porque as empresas contratadas pertenceriam a familiares ou aliados da gestora, caso da W L Fardamento LTDA ME, de Caruaru (PE). A empresa seria do sobrinho da prefeita Eronita, Willemberg de Sales Ramos, filho de Willames Cleidson Ramos, irmão do esposo da gestora, Moacir Ramos Junior. O valor do contrato foi de R$ 16.800. E de mesmo nome, a empresa W L Fardamento, situada em Porto Calvo, contratada em 12 de janeiro de 2022, foi beneficiada com um contrato no valor total de R$ 1.149,876,26. Pertencente a Rafael Rogério da Silva, o estabelecimento funciona em uma papelaria da família do
esposo da prefeita. A partir dessas informações foi instaurado pela 2ª Promotoria de Justiça de Porto Calvo um inquérito civil para apurar se houve direcionamento fraudulento dos procedimentos, investigação que constatou mais irregularidades. Foi juntado aos autos cópia do processo administrativo de dispensa de licitação nº 05/2021, no qual se vê suposta cotação de preços com três empresas. Além da contratada, W L Fardamentos, com sede em Caruaru, também foram registradas as empresas JJ Bezerra Filho e Rony Cleyton Comunicação Visual, essas duas com sede em Japaratinga. Ocorre que, analisando as assinaturas contidas nas cotações de preços das duas últimas empresas, o MP observou nítida divergência de assinaturas dos representantes legais
com as respectivas assinaturas constantes na Junta Comercial. Também chamou a atenção o fato de o design das logomarcas das duas empresas possuírem bastante semelhança, parecendo terem sido feitas pela mesma pessoa e com a finalidade específica de apresentar cotação de preços fictícia e fraudar o procedimento. Conforme detalhou o Ministério Público, a fraude era tão grosseira que até mesmo no nome de uma das empresas foi cometido erro de grafia, uma vez que o nome correto é Rony Cleyton. No entanto, na suposta documentação estava Rony Cleiton, com “I”. Sem contar o fato de que a W L Fardamentos sequer teria se dado ao trabalho de elaborar um documento próprio, com logomarca e designs próprios para apresentar à Prefeitura de Porto Calvo. “O que só
demonstra, de forma bem clara, o tratamento da coisa pública como se da esfera privada fosse, bem como a crença na impunidade por parte dos réus”, destacou o MP na denúncia apresentada à Justiça. Foi então realizada diligência de campo no município de Japaratinga a fim de constatar se essas duas empresas tinham sede de fato no município. Em relação à JJ Bezerra, o endereço informado não existe. Já o local em que funcionaria a Rony Cleyton não foi encontrado. “Não resta dúvida, portanto, de que houve fraude no aludido procedimento de dispensa de licitação a fim de beneficiar a empresa vinculada ao grupo familiar da atual prefeita, a WL Fardamentos, com o direcionamento do objeto do contrato, o qual veio a ser firmado com o Município de Porto Calvo no valor de R$ 16.000,00”, informou o órgão. Ainda segundo o Ministério Público, após a suposta contratação direcionada, a prefeitura teria articulado um esquema ilícito mais ousado com a contratação de maior vulto, superando a casa de R$ 1 milhão (R$ 1.149.876,26), o que, por si só, já chamou a atenção pela desproporção considerando a população do pequeno município de Porto Calvo. Soma-se a isto a constatação de que a empresa funciona no mesmo prédio da papelaria da família da prefeita. Trata-se da W L Fardamento, situada em Porto Calvo, contratada em 12 de janeiro de 2022 e que tem oficialmente como sócio proprietário Rafael Rogério da Silva. No entanto, a investigação apurou que Rafael Rogério não passaria de “testa de ferro” de Willames Cleidson Ramos, sobrinho da prefeita. Para disfarçar, a empresa Paulo Roberto Costa ME informou já ter adquirido fardamentos da empresa investigada, declaração utilizada como justificativa de contratação pela Prefeitura de Porto Calvo. Porém, a W L Fardamento sequer teria maquinário para cumprir tal pedido. Foi então que o MP concluiu que Rony Cleyton e a pessoa física Paulo Roberto estariam participando do esquema a fim de ajudar a prefeita e seus familiares, também tornando-se réus.
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PORTO CALVO A Prefeitura de Porto Calvo licitou a compra de camisas com brasão GCM em quantitativo correspondente a mais de 100 vezes o número atual de guardas municipais. Além disso, licitou-se no lote 10 a compra de mais de 6.000 fardas para estudantes dos anos iniciais, num município cuja população estimada atual gira em torno de 27 mil habitantes e o Censo Escolar 2021 revela que nos anos iniciais da rede municipal de Porto Calvo havia apenas 1.656 alunos matriculados. Em razão dos resultados da investigação, o Ministério Público pediu o afastamento da prefeita do cargo e também de Rodolfo Gomes do Santos e Mayara Bruna Batista Guizelini, secretário de Desenvolvimento Urbano e pregoeira, respectivamente. Em decisão expedida no dia 13 de julho, a juíza Lívia Maria Mattos Melo Lima indeferiu o pedido de afastamento dos envolvidos, mas a aquisição
de fardas foi suspensa. Caso a prefeita descumpra, a multa será de R$ 5 mil por dia. “Em uma exposição muito bem fundamentada, de caráter didático, o Ministério Público suscita a existência de um ‘esquema’ que envolve agentes públicos da Prefeitura de Porto Calvo e terceiros, que, em tese, seriam beneficiados financeiramente pela compra de fardamentos com dinheiro público, oriunda de uma dispensa de licitação inadequada, assim como de um procedimento de Pregão Eletrônico fraudulento”, disse a magistrada na decisão. O MP recorreu mediante um Agravo de Instrumento que está sob a relatoria do desembargador Paulo Barros da Silva Lima e que até o fechamento desta edição, na quinta, 28, à noite, não havia sido analisado. Ao EXTRA, a assessoria de comunicação de Porto Calvo informou que a prefeitura não irá se pronunciar sobre as acusações.
Integrantes da quadri-lha, segundo o MP
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O presidente da Cooperativa de Produção Leiteira de Alagoas (CPLA), Aldemar Monteiro, marcou presença em mais uma edição do Minas Láctea, que foi realizada no município de Juiz de Fora, Minas Gerais. O evento – com programação científica, técnica e comercial – traz as novidades mais recentes do setor lácteo.
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ENERGIA SOLAR
Alagoanos correm contra o tempo para fugir da “taxação do Sol” Legislação estabelece novo imposto para quem optar pelo sistema a partir de 2023
CORTESIA/ KLEBER FREIRE
BRUNO FERNANDES bruno-fs@outlook.com
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s interessados em instalar energia solar e economizar na conta de luz de suas residências pelos próximos 25 anos devem se apressar para evitar pagar uma tarifa mais cara a partir de 2023. Especialistas alertam que a nova tarifa, determinada pelo que ficou conhecido como “taxação do Sol” para novos usuários, passará a vigorar a partir de 2023 com escalonamento até 2029. A Lei 14.300/2022 instituiu a cobrança dos custos de distribuição de energia para quem gera a própria energia solar por meio do sistema on grid, que é aquele conectado à rede de distribuição de energia. Antes, quem instalava painéis fotovoltaicos em casa ficava isento dessa parte da tarifa, o que contribuía para um retorno mais rápido do investimento. A taxa, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), representa em média 28% da tarifação da conta de energia. A cobrança será feita ao consumidor da seguinte forma: quem instalar a partir do dia 6 de janeiro de 2023, irá pagar 15% do custo total da tarifa de distribuição; em 2024 passará a pagar 30%; em 2025, o valor sobe para 45%; em 2026, 60%; em 2027 sobe para 75%; em 2028 a cobrança será de 90% do valor total da taxa; e, em 2029 o valor passa a ser total. Tendo em vista que um siste-
Número de imóveis com painéis solares tem aumentado em todo País ma de painéis fotovoltaicos tem uma vida útil de 25 a 30 anos, isso significa que ainda é possível manter as regras antigas por quase toda a vida do equipamento. Outro motivo para os interessados apressarem a instalação, é o risco da falta de equipamentos nos últimos meses do ano devido ao possível aumento da demanda. “Por causa da covid, da guerra na Ucrânia e o aumento no valor
do transporte marítimo, o valor das matérias primas para produção dos equipamentos cresceu e a tendência é que até o final do ano os valores aumentem ainda mais para a instalação. Atualmente cada placa instalada e homologada custa em média de R$ 2 mil a R$ 2.500 e isso pode aumentar 30% até o final do ano”, explica Afonso Alcântara, engenheiro especialista em energia solar e coordenador do Instituto
Nacional de Energias Limpas (INEL) em Alagoas. “Se comparar o ano passado com os sete primeiros meses deste ano, a quantidade de novos pedidos na empresa onde trabalho cresceu 150%. A nossa projeção é que agora no segundo semestre a procura seja ainda maior do que nos primeiros meses e o que de fato preocupa não é a falta de cliente e sim a de material com a proximidade de dezembro”, conta. Hoje, quem tem seu sistema fotovoltaico e gera mais energia do que consome, lança o excedente para que a concessionária redistribua. Isso acontece por meio da própria rede da concessionária e não há nenhuma taxa por esse serviço. Isso não quer dizer, no entanto, que a adoção de energia solar em casa perdeu a atratividade. O marco legal também estabelece que quem já tinha instalado o sistema em casa antes da sua publicação ou quem o instalar dentro de um prazo de 12 meses (até 5 de janeiro) a partir da publicação da Lei 14.300 continua isento da cobrança até 2045. “Eu acredito que nos primeiros meses teremos um impacto negativo das pessoas criarem uma restrição por acharem que vão pagar mais, mas continuará valendo muito a pena e isso vai influenciar apenas no tempo de retorno do investimento, que vai passar de 3 a 4 anos para 4,5 a 5 anos”, explica Alcântara. A Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar) projeta um recorde neste ano, com a capacidade instalada dobrando, podendo chegar a quase 25 GW médios nos tetos de prédios e casas, isto é, um volume que representa quase o dobro de duas usinas de Itaipu, a maior usina do Brasil, com 14 GW de capacidade. Na última semana, a entidade informou que a energia solar se tornou a terceira maior na matriz energética brasileira, com 8,1%, ultrapassando o gás natural. Agora está apenas atrás da geração hídrica e eólica.
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COVID
Novas faixas de vacinação tentam aumentar número de imunizados em Maceió
FOTOS DE ARQUIVO/SECOM
Jovens e crianças estão no foco da imunização na capital ASSESSORIA
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ospitais seguem cheios na capital alagoana com pessoas não vacinadas ou com o ciclo vacinal incompleto. Para evitar a piora deste quadro, a Prefeitura de Maceió ampliou as faixas etárias de vacinação. Pessoas com 18 anos e mais, com 25 anos e mais e crianças de 3 a 4 anos imunocomprometidas estão sendo imunizadas. A secretária municipal de Saúde conclama a população para seguir se vacinando. “Queremos vacinar a maior quantidade de pessoas possível. Não podemos dar trégua. É de grande importância esse avanço. Sobretudo as crianças nesta faixa de idade. Mãe e pai, vacinem seus filhos porque a covid está aí e vamos avançar ainda mais”, conclamou Célia Fernandes. A aplicação da 4ª dose da vacina contra a covid-19 para a população na faixa etária dos 18 anos e mais, 25 anos ou mais e crianças imunocomprometidas de 3 e 4 anos de idade começou essa semana e todos podem procurar uma das Unidades de Saúde que aplicam a vacina nos três pontos fixos da capital. Eles estão na área interna do Maceió Shopping (Mangabeiras), Carajás Home Center (Tabuleiro do Martins) e Pátio Shopping (Cidade Universi-
tária). A vacina pode ser aplicada nas pessoas que têm mais de quatro meses (120 dias) de intervalo da dose de reforço (3ª dose) e que tomaram o primeiro esquema vacinal com os imunizantes da Coronavac, Astrazeneca e Pfizer. Já para quem tomou a vacina da Janssen, as pessoas de 18 a 24 anos estão aptas a receber dois reforços (o primeiro, dois meses após a dose D e o segundo quatro meses após o primeiro reforço) e pessoas acima de 25 anos, além da dose única, podem receber mais três outras doses, a primeira dois meses após a dose D, a segunda após quatro meses do primeiro reforço e a terceira após quatro meses do segundo reforço. Profissionais de saúde a partir dos 18 anos também estão aptos a receber a dose única e mais três reforços, respeitando o intervalo entre elas. Segundo a gerente de Imunização de Maceió, Eunice Amorim, Maceió tem buscado realizar um trabalho para alcançar a máxima cobertura vacinal da população. “Temos três pontos fixos e as Unidades de Saúde que vacinam contra a covid-19 para que
a população possa garantir sua imunização. Lembrando que é preciso apresentar um documento de identificação com foto e cartão de vacinação”, disse. Já a imunização de crianças imunocomprometidas de 3 e 4 anos de idade a recomendação é a aplicação da vacina Coronavac. Inicialmente, o imunizante será destinado apenas para crianças
imunocomprometidas entre 3 e 4 anos de idade. Em seguida serão as faixas etárias de 4 e depois 3 anos de idade. Neste sábado (30), o Município realiza uma maratona de vacinação em algumas unidades de saúde, nos pontos dos shoppings e na Carajás. No domingo (31), a maratona acontece nos dois shoppings e na Carajás do Tabuleiro.
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SAÚDE
Santa Casa de Maceió otimiza dispensação de medicamentos Farmacêuticos clínicos participam de todas as etapas até que o remédio chegue aos pacientes nas unidades do complexo hospitalar
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caminho que um medicamento para alívio de uma simples dor de cabeça ou das reações de uma quimioterapia percorre é o mesmo até chegar aos pacientes atendidos na Santa Casa de Maceió. Quem cuida de todo o processo é a equipe de Farmácia, responsável pela seleção, padronização e dispensação dos medicamentos para as farmácias satélites do Complexo hospitalar. De acordo com a gestora do Serviço de Farmácia do hospital alagoano, Lizete Vitorino, o trabalho é complexo e exige capacitação constante dos profissionais envolvidos no processo. “Participamos de várias comissões como a de padronização, farmácia e terapêutica, e de controle de infecção hospitalar, onde abordamos vários aspectos relacionados aos controles de qualidade necessários para a unificação até a aprovação dos materiais e medicamentos que serão utilizados no hospital”, explicou. Com profissionais distribuídos nas unidades da Santa Casa de Maceió, os farmacêuticos e toda área administrativa trabalham para que os produtos cheguem às farmácias satélites de acordo com as necessidades de cada unidade de atendimento, a exemplo do Pronto Atendimento 24h e do Centro Cirúrgico. “Nas farmácias satélites fazemos o atendimento das prescrições médicas, atendimentos de kits e OPME em blocos cirúrgicos,
Avaliação clínica dos pacientes
Lizete Vitorino, gestora do Serviço de Farmácia da Santa Casa de Maceió e atendimento em emergência e ambulatório, conforme a necessidade de cada serviço. Temos áreas de manipulação, como na oncologia e na nutrição parenteral, e de fracionamento de soluções orais, onde fazemos o preparo indivi-
dualizado de medicamentos para esses pacientes”, explicou Lizete. Cada prescrição médica é avaliada pela equipe antes que as medicações sejam disponibilizadas aos balconistas. Nessas prescrições são avaliados aspec-
tos referentes a interação medicamentosa, controle de protocolos relacionados (TEV, Antimicrobiano, e de Alergias), além de vários cuidados relacionados ao medicamento. Todos os aspectos referentes à diluição, preparação e administração de medicamentos de alta vigilância são avaliados previamente para que os balconistas possam fazer as dispensações em cada farmácia satélite. Logo após a dispensação, esses medicamentos são preparados e administrados pela equipe de enfermagem nos pacientes. “É uma grande satisfação podermos trabalhar todo um elenco de atividades relacionadas a atuação dos farmacêuticos dentro do ambiente hospitalar. O papel do farmacêutico clínico foi ganhando cada vez mais espaço na Santa Casa de Maceió, e, junto com a equipe médica, pode auxiliar no melhor resultado para pacientes em todos os graus de tratamento”, finaliza gestora do Serviço de Farmácia, Lizete Vitorino.
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DE VOLTA AO PÓ
Cremação
ARQUIVO PESSOAL
é cada vez mais comum no Brasil
Maior parte das crenças e religiões aprova o procedimento
Padre Siloel ARQUIVO PESSOAL
Sandra de Macedo, espírita
MARIA SALÉSIA sallesiaramos18@gmail.com
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uando um familiar ou amigo próximo falece, a dor e a tristeza se confundem e cada um dos que ficam lida com o luto de maneira diferente. Nessa hora, respeitar os rituais de despedida é importante para acalmar os corações enlutados. Dependendo da fé religiosa, das crenças e valores de cada família, se opta de forma diferente na hora de decidir pelo destino do corpo do ente querido, sepultamento ou cremação, método cada vez mais comum no Brasil. Diferente do que se pensa, cremar não é pecado – pelo menos não para maioria das religiões. Um diferencial da cremação é que as cinzas podem ser espalhadas pelo mar, rios e lagos, nas montanhas ou onde se deseje. Há ainda outras possi-
bilidades para as famílias que escolhem a cremação para eternizar as memórias do ente querido, como transformar as cinzas em cristais ou em diamantes. E o que dizer de guardar e levar as cinzas juntinho de si através de um pingente ou uma pulseira. Vale, ainda, usar as cinzas para o plantio de uma árvore. Vale ressaltar que embora o tema ainda cause estranheza para alguns, que veem a prática como tabu, a maioria das religiões não proíbe a cremação do corpo. O hinduísmo, por exemplo, é a religião mais favorável, já que acredita que o fogo é purificador. Adventistas, budistas, Christian Science, hare krishnas, católicos, evangélicos, espíritas e umbandistas também permitem a opção. Em alguns casos há ressalvas, como esperar 72 horas para o ritual e onde as cinzas devem descansar. Já no judaísmo, no islamismo e candomblé, a crema-
ção geralmente não é aceita, pois seus seguidores acreditam que o retorno do corpo à terra completa o ciclo da vida. A cremação é um procedimento regulamentado no Brasil pela Lei 6.015/73, que estabelece alguns critérios para que seja autorizada. O Japão é o país com mais adeptos da cremação, em torno de 98%. Em seguida vem o Canadá, depois Estados Unidos, França e Inglaterra cremando entre 70% e 80% de seus mortos. A igreja católica já chegou a proibir a cremação para seus fiéis. Somente em 1963 mudou seu posicionamento, por entender que a cremação do cadáver não atinge a alma e não impede a onipotência de ressuscitar o corpo. Porém, em 2016, o Vaticano proibiu a conservação das cinzas do morto em casa, para evitar que elas se tornem lembranças comemorativas. Segundo o
padre Siloel de Souza, da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário, em Inhapi, Sertão de Alagoas, pode-se cremar, desde que as cinzas sejam guardadas. “Nada de pegar as cinzas e jogar em rios, mar. Crema, pega as cinzas e guarda. Em alguns lugares já existem cemitérios de cinzas ou para sepultar as cinzas”, explicou o padre. Pastor da Igreja Batista Nacional, Avanil Correia recorreu a publicação de site de sua congregação para falar sobre o tema. Segundo ele, não existe na Sagrada Escritura textos que proíbam diretamente a prática da cremação dos mortos ou que incentive a execução dessa prática. “A Escritura nos diz que viemos do pó e ao pó retornaremos (Gn 3.19). Diante dessa afirmação, muitos questionam se seria pecado ou não um cristão ser cremado ao morrer. Apesar dos judeus e cristãos primitivos evitarem essa prática, vejo isso mais como uma questão cultural de um determinado povo ou civilização. Não vejo como um pecado, pois pecado é a quebra de uma lei de Deus e eu não vejo nada na Bíblia que nos ordene com precisão a enterrar nossos mortos ou a cremá-los. Não vejo a cremação como um pecado”, afirmou. Sandra de Macedo é espírita e diz que a recomendação de cremação é que se aguarde três dias para que haja desligamento completo do perispírito. “O espiritismo não é contrário à cremação, não há rituais próprios e nem recomendação própria para o destino das cinzas. O território brasileiro é muito extenso e se usa o sepultamento em cemitérios desde tempos remotos. A prática de muitas religiões justifica a não propagação das ideias a respeito do assunto”, afirmou. A mãe da professora Ana Luiza faleceu ano passado em decorrência da covid-19. Como tinha manifestado o desejo de ser cremada, a família atendeu ao pedido. Além do que, como a pandemia não permitia velório, por conta do risco de contágio da doença, a cremação foi a melhor alternativa. “Fizemos um ritual simples e intimista. Minha mãe era do mar, amava a praia, e jogar seus restos mortais na água nos deu um sentimento de pureza, leveza, renovação. Enquanto as cinzas se perdiam na imensidão azul do mar, a ideia era de infinito, de liberdade”, relembra saudosista. A cremação ainda é pouco difundida no Brasil e é cercada de mitos. No entanto, trata-se de uma técnica que visa reduzir um corpo a cinzas através da queima do cadáver, o que oferece menos risco ambiental que o sepultamento do corpo em covas. Legalmente, em caso de morte violenta, a pessoa não poderia ser cremada. Isso porque, em caso de reabertura da investigação, por meio de exumação, é preciso ter acesso ao corpo para realizar laudos adicionais. A exceção é quando há uma autorização judicial para isso.
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MERCADO DO LUTO
Construir crematório no Brasil é negócio rentável MARIA SALÉSIA sallesiaramos18@gmail.com O aumento da procura pela cremação entre os brasileiros tem feito com que donos e empresários do segmento funerário e até outros investidores optem cada vez mais pela construção de crematórios. A aceitação popular, a praticidade e o custo do serviço têm contribuído para esta tendência que aumentou com a pandemia da covid-19. Estimativas do mercado apontam que a construção e instalação de um crematório pode custar 70% menos do que um cemitério. Em Alagoas, o serviço de crematório teve início em outubro de 2021. Segundo a arquiteta e urbanista Adriane Lupetti Mendes Marques, investidora e administradora do Memorial Jardim da Vida, em Santana de Parnaíba (SP), as pessoas ainda não se acostumaram com a ideia de trocar o jazigo do cemitério por uma árvore, mas garante que está vendendo muitos planos preventivos, em que os clientes pagam à vista ou em até 10 vezes para garantir. Segundo ela, normalmente este investimento é feito por famílias que já têm algum parente doente ou em estado terminal. A empresária aponta números que indicam que cremar é mais barato que enterrar, porque não exige a compra de um jazigo (cerca de R$ 30 mil, em média para seis gavetas em São Paulo), nem taxa de manutenção (R$ 12.500 em média a cada 10 anos). Além do que evita que a família tenha o desgaste de fazer a exumação que em média custa R$ 1.200. “A cremação é um processo simples e individual, que a família paga uma única vez e com baixo custo. O destino das cinzas é de escolha da família, que pode guardá-las no columbário, em casa, plantar uma árvore no Jardim da Vida ou aspergir onde desejar”, diz. Adriane Lupetti argumenta que a cremação é alternativa também em relação aos terrenos, que estão cada vez mais escassos e muito caros perto das cidades, além de ser o método de menor impacto ambiental, de menor desgaste emocional e, muitas vezes, mais econômico. “A partir do momento que você tem um espaço diferente para conectar-se com os seus antepassados, como o columbário ou uma árvore plantada com as cinzas, você perde o medo de cremar, porque você tem uma ponte, um lugar que seja para orar ou para conversar”, comparou a investidora. No Jardim da Vida a história do falecido importa, garante ela. A família passa por uma entrevista, onde o cerimonial prepara um texto em homenagem. Durante a despedida, um
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ARQUIVO PESSOAL
Memorial Jardim da Vida-SP telão exibe fotos e mensagens de condolências enviadas por um aplicativo próprio e uma câmera de transmissão ao vivo conecta aqueles que não puderam comparecer presencialmente. Além da estrutura para a cremação, o espaço fornece modelos de urnas feitas a mão por um ceramista e uma versão biodegradável que pode ser enterrada ou jogada no mar, onde se dissolve aos poucos. E um florista cuida dos arranjos. Essa versão humanizada custa a partir de R$ 5.600 e pode chegar a R$ 24 mil, dependendo dos pedidos do cliente, que tem até a opção de contratar a apresentação de um pianista ou violinista por R$ 450. O grande gramado do memorial fica reservado a um
Adriane Lupetti administra um crematório em São Paulo dos serviços mais especiais, cobrado à parte: a plantação de uma muda de árvore junto com as cinzas da pessoa falecida. O ritual de cremação segue alguns critérios. Quando a família chega para a cerimônia, tudo está no seu devido ligar, a urna ornamen-
tada, arranjos florais na sala e som ambiente. Após a homenagem a urna desce e permanece na câmara fria por 24 horas como é previsto por lei. Vale ressaltar que a cremação é um processo executado em um forno de alta tecnologia controlado por computador e 2 filtros, portanto, não gera fumaça ou cheiro. Dentro do forno entra somente um corpo por vez e o processo dura em média 2 horas. Outra observação é que marcapassos devem ser retirados antes porque podem danificar o refratário do forno internamente durante o processo de cremação. Diferente do sepultamento, na cerimônia de cremação a família não assiste ao procedimento. Embora a maioria das religiões aceite a cremação, a adesão ainda é pequena. Para Adriane Lupetti, é algo cultural, as pessoas nessa hora “perdem o chão” e não sabem o que fazer. Ligam o piloto automático e sepultam no jazigo da família que normalmente é pago por um dos familiares. “Se não houvesse um jazigo disponível logo lembrariam de cremar. Mas as gerações com 40 anos ou menos já optam em sua maioria pela cremação”, afirmou a empreendedora.
Primeiro crematório de Alagoas completa 9 meses com boa adesão O primeiro crematório de Alagoas foi inaugurado em outubro de 2021 e no mês de julho foi realizada a 100ª cremação. Localizado no cemitério Memorial Parque Maceió, no bairro do Benedito Bentes, ele iniciou a atividade de cremação em meio a pandemia de covid-19, porém poucos foram os casos de óbitos relacionados a essa causa. Segundo Aline Barreto, diretora Operacional, nos primeiros meses de inauguração, é natural que haja uma procura maior. Hoje, disse, nove meses após o início, estão numa curva estável de procura. “O que percebemos é que a necessidade por parte da população de uma solução funerária com um ciclo mais curto e custos reduzidos, ultrapassou as questões culturais”, diz. Os custos do serviço variam. Apenas a cremação custa R$ 3 mil, porém há uma cesta de serviços que pode ser agregada ao rito de despedida de acordo com a missão da empresa, oferecer com toda dignidade e respeito a despedida que o ente querido merece. O procedimento tem duração média de 2 horas e as cinzas entregues
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Crematório do Memorial Parque Maceió
até o 7º dia na Sala de Entrega de Memórias. No ritual, o ente querido pode ser velado normalmente, da mesma forma que é feito em casos de sepultamento. Após o velório, todos os familiares e amigos se encaminham até a Sala de Despedida para o rito final, onde é feita a última homenagem, com recursos audiovisuais e chuva de pétalas de rosas. A família pode optar pelo destino das cinzas que melhor lhe convier, seja sepultando essas cinzas em jazigo tradicional ou guardan-
do as cinzas em lóculo paisagístico apropriado que chamam de columbário. Também é possível dividir essas cinzas em pequenas urnas cinerárias para que cada familiar possa dar o destino que desejar. Algumas pessoas espargem em alto mar, em florestas ou guardam na residência. Quem precisar do serviço e não tiver plano funerário que faça cobertura, a cremação pode ser adquirida de forma isolada, onde o cliente tem a possibilidade maior de parcelamento, ou de forma imediata, quando já ocorreu o óbito.
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SAÚDE MENTAL
n arnaldosanttos.psicologo@gmail.com
É um período de descobertas e também de conflitos internos intensos: sociais, sexuais, familiares. É um período doloroso porque é cobrado por responsabilidades, escolares, sociais, familiares... E principalmente porque tem muitas, muitas incertezas.
O que fazer?
Todos “adoeceram”; ninguém escapou
Q
ual é o período mais conturbado de uma pessoa? Será numa doença incurável? Será perder bens materiais? Será uma separação amorosa? Será perder um familiar? Será perder uma perna ou um braço? Será ...? Será ...? Essas perdas ou essas situações podem fazer a pessoa sentir dor profunda ou sofrimento intenso; mas nada é comparado com o ‘adoecer’ na fase, principalmente, da puberdade. A palavra adolescente ou adolescência tem origem no latim, [addolescere / adolescente] e significa sofrer. Tem também o significado de crescer, paradoxalmente. Portanto, é um crescimento doloroso que precisa ser reconhecido, principalmente, pelos pais para amenizar a situação. Isso não é fácil, porque os adolescentes enfrentam os pais e acham que sabem de tudo e que os pais não sabem de nada. Ou seja, nessa fase, apesar dos adolescentes terem “rebeldias sem causa”, na verdade eles têm muitas causas, sim, de serem rebeldes, porque as causas são inconscientes. Eles não conseguem perceber a mudança que estão ocorrendo. É uma fase dolorosa, de sofrimento, de descobertas (positivas também) e também de frustrações.
Ufa!
Quem eu sou? O que vou fazer da minha vida? Quem são meus amigos/as de verdade? Meus pais não me entendem. Não sou mais um bebê. O que o mundo quer de mim? Eu não sei o que fazer da minha vida. Meus pais me cobram muito para eu ser educado. Os professores fazem muitas provas e trabalhos escolares ... ufa! Todos esses questionamentos podem passar pela cabeça dos adolescentes, além das mudanças corporais reais. Os meninos começam a ter voz grave; as meninas menstruam, têm outra dor (cólica). A sexualidade está à flor da pele. Todos eles querem ser compreendidos, querem ser populares. Querem ser respeitados. São? Na casa dos pais? Na escola com os amigo/as? Na família com o/as irmão/ãs, primos e primas ... ? A dor é intensa porque eram ‘paparicados’ e agora são cobrados: - Você agora é uma mocinha e precisa tomar cuidado. - Você agora é um rapaz e tem que ter responsabilidade. E assim por diante.
Incertezas
Pois é, a fase da adolescência, de sofrimento e paradoxalmente de crescimento, é a fase mais conturbada de uma pessoa e ninguém, ninguém escapa ou escapou. Além disso tem o bullying na escola, às vezes na própria família, hoje mais sofisticado.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define adolescência como o período da vida que começa aos 10 anos e termina aos 19 anos completos. A adolescência é dividida em três fases: pré-adolescência – dos 10 aos 14 anos; adolescência – dos 15 aos 19 anos completos e juventude – dos 15 aos 24 anos. Nenhum período é tão conturbado como o da adolescência. E o que fazer? Se a fase da adolescência é dolorosa, imagina ter que ficar em casa, sem ter a convivência com os amigos, sem poder ir na praia, ao cinema, jogar bola, conversar com /os/as amigas, enfim. É uma verdadeira panela de pressão. E essa panela de pressão está sendo aberta agora, depois da pandemia. As consequências ainda estão sendo processadas em pesquisa e tentando entender a cabeça dos adolescentes que estão sofrendo, e muito. Pesquisas indicam que as redes sociais, em vez de ajudar, prejudicam. Há sinais de que a onipresença das redes sociais (e o consequente isolamento), falta de convivência em grupos, relações parentais e crises mundiais estão ‘contribuindo’ para surgimento das angústias que os adolescentes estão vivenciando com mais intensidade. E não são só os adolescentes, os adultos também estão adoecendo silenciosamente com o crescimento de transtornos mentais, especialmente depressão e ansiedade. O mundo está mudando, quase tudo. De acordo com as pesquisas, o Brasil tem o mais alto índice de ansiosos no mundo. A pandemia intensificou o problema devido o isolamento social compulsório, além do empobrecimento da população. O sofrimento maior é dos adolescentes e por isso mais acolhimento da família e também dos professores.
Depressão
De acordo com a OMS, em pesquisa recente, um em cada sete jovens entre 10 e 19 anos tem algum transtorno mental e o suicídio é a
quarta principal causa de mortes entre 15 e 19 anos. No Brasil, segundo uma pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP), uma em cada quatro pessoas de até 19 anos apresentou ansiedade e depressão durante a pandemia a níveis clínicos, ou seja, precisou de especialistas.
Redes sociais
Nenhum adolescente quer ficar fora das redes sociais, mas elas são consideradas como um vício igual ao álcool. A situação da saúde mental dos adolescentes está piorando a cada dia, especialmente das meninas, que são ‘induzidas’ pelas redes sociais a terem um corpo perfeito, serem populares, terem riqueza, enfim. E o que fazer?
Escutar e escutar
Tirar o foco dos adolescentes da fantasia, vista por eles, nas redes sociais, para a realidade. Com bastante calma. Limitar o tempo de ficar nas redes sociais, não drasticamente. Incentivar e instigar que os sonhos deles sejam concretizados, como ter uma profissão, estudar para ter um outro idioma, aprender a tocar um instrumento musical, a fazer uma atividade física (importante). Incentivar que eles aprendam a apreciar a natureza. É dizer que se pode, sim, ficar triste e que não é nada demais. Que a tristeza não é algo definitivo na vida deles. Não os julgar, afirmando que estão errados, e sim escuta-los quanto tempo for necessário para entender o sofrimento que estão vivenciando. Fazê-los falar. E o mais importante: dar atenção, escutar, escutar e escutar, sem qualquer tipo de julgamento.
Psicoterapia
Entrar num processo psicoterápico vai ajudar bastante o adolescente a ter as respostas das incertezas que sempre apresenta, o que pode reduzir os conflitos vivenciados.
Arnaldo Santtos é Psicólogo Clínico - CRP-15/4.132. Celular: +55 (82) 9.9351-5851 Consultório: Rua José de Alencar, 129, Farol (Atrás da Casa da Indústria), Maceió-Alagoas. Atendimento também on-line, autorizado pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP). Email: arnaldosanttos.psicologo@gmail.com arnaldosanttos@gmail.com
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PEDRO OLIVEIRA
n pedrojornalista@uol.com.br
PARA REFLETIR - Encontrou-se, em boa política, o segredo de fazer morrer de fome aqueles que, cultivando a terra, fazem viver os outros. (Voltaire)
O crime de ser mulher “Nós só conseguiremos alcançar a fraternidade, a solidariedade e a igualdade de oportunidades, quando nós, mulheres, deixarmos de andar atrás dos homens, para juntas com os homens, nos tornarmos protagonistas da história da humanidade”. A frase é da senadora Simone Tebet, pronunciada no plenário do Senado Federal. Simone é mulher, mãe, professora universitária, com uma grande visibilidade política e pré-candidata a presidente da República. O machismo impiedoso aflorou dentro do seu próprio partido (MDB) com uma ala buscando impedir sua candidatura. Simone confrontou a política num país onde os donos do poder sustentam um sistema de dominação patriarcal. A mulher parece estar sempre fora do lugar quando o assunto é política. Foi assim com Dilma Rousseff, Marina Silva, Heloisa Helena, Manuela D’Ávila e tantas outras. O Brasil é um dos países menos igualitários do mundo quando o assunto é mulher na política.
Lessa é o melhor vice
Ronaldo Lessa é um político com história de relevantes pautas positivas. Foi vereador, prefeito, deputado estadual e um governador que implantou avanços significativos na administração pública, além de ter prestigiado muito a valorização do servidor público. Por sua coragem e determinação teve confrontos com setores equivocados do Ministério Público e da Magistratura “caolha”, que lhe impuseram injustas derrotas, atrapalhando muito sua vitoriosa trajetória retilínea. Voltou à cena política como candidato a vice-prefeito de Maceió e o seu nome ajudou muito na eleição de JHC, que cometeu o erro de não o prestigiar na gestão da capital, perdendo sua experiência e seus valiosos aconselhamentos. Agora, na formação e composição dos indicados para a eleição majoritária, não foi ouvido e muito menos o seu nome foi considerado, mas desdenhado pelas principais lideranças de suas supostas alianças. Magoado, com toda razão, procurou e encontrou novos caminhos.Com muitas ofertas de acolhimento topou ser candidato a vice-governador ao lado de Paulo Dantas, o protagonista nas pesquisas da preferência do voto. Creio que se a situação hoje é boa para o governador candidato à reeleição, vai melhorar muito na agregação com Ronaldo Lessa. Eleito governador, Paulo Dantas não terá ao seu lado uma figura decorativa, mas o aconselhamento da experiência e a colaboração de um político leal, com história honrada e que conhece bem os problemas de Alagoas. Entre todos, Ronaldo Lessa é o melhor vice.
SINDJUS.DF
Aras blindando Bolsonaro
Como era de se esperar, o procurador-geral da República, Augusto Aras, ao pedir o arquivamento de sete das dez proposições de indiciamento contra o presidente da República propostas pela CPI da Covid, deixa em aberto apenas três ações de crime, inclusive beneficiando alguns de seus aliados. A decisão equivocada de Aras deixou vários senadores irritados e já há a proposição de convocar o PGR para depor no Senado e explicar seus atos que livram Bolsonaro de crimes cometidos durante a pandemia.
O crime compensa
O ministro alagoano Humberto Martins, presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), restabeleceu os direitos políticos do ex-governador do Rio Anthony Garotinho, que foi condenado pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em 2018, por supostamente ter participado de esquema de desvio de R$ 234,4 milhões de recursos da Secretaria de Saúde. Também em outra sentença “caolha” restabeleceu os direitos políticos do ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda, preso por improbidade administrativa. Ambos serão candidatos nas próximas eleições e com muito dinheiro pra gastar. Aqui o crime compensa.
Somos os piores
Nos números da Justiça Eleitoral nós alagoanos somos, vergonhosamente, os campeões do analfabetismo no país, com um percentual de 10,52%, quando a média nacional é de 4,07%. Aproximadamente 244.677 eleitores no estado não sabem ler e escrever. Esses números contrariam muito as comemorações do ex-secretário de Educação, Rafael Brito (o tio Rafa) – candidato a deputado –, de que a Educação avançou em sua gestão. Avançou sim, mas não tanto.
PÍLULAS DO PEDRO Eleição em Alagoas está mais enrolada que carretel. A cada dia surgem lances diferentes e inesperados. Governador Paulo Dantas tem gasto muita sola de sapato e vai mantendo protagonismo e se distanciando dos demais candidatos.
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“Bora” começar a “despiorar”?
ELIAS FRAGOSO n Economista
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o início dos anos 1970, o então governador do Estado declarou à imprensa local que Alagoas havia eliminado o analfabetismo através do famigerado Mobral o então programa do governo federal criado para erradicar o analfabetismo do país. O censo de 1980 – de forma chocante – desmentia o governador: Alagoas tinha nada menos que 54,3% da sua população com mais de 10 anos em situação de analfabetismo! Éramos o estado com o maior número de analfabetos do país! Perdíamos até para os territórios das bandas da região
Norte do país. Lembro-me que, recémformado na busca de colocação no mercado, o quão era frustrante ver nos jornais do Sudeste anúncios de empregos para de nível superior, desde que os profissionais não fossem egressos das universidades de Alagoas, Sergipe e Maranhão. Era. Atualmente não se vê mais, até porque a lei proibiu discriminações de qualquer tipo. Mas a “censura subterrânea” continua. Afinal lá fora nós somos os números que estão sendo apresentados neste artigo... Em 2019, meio século depois da falaciosa declaração governamental dos anos 1970, Alagoas continua no último lugar de analfabetismo dentre os estados! Além de ter outros 75% de semialfabetizados... Essa é a real. Enquanto isso, o que se vê são “analistas” enunciarem em prosa e verso os “progressos” (sic!) da educação pública alagoana em relatórios chapa branca recheados de dados e números mentirosos que
tentam – mas não conseguem – esconder a tragédia que é a educação pública nesse estado. Do nível infantil ao universitário. A educação pública de Alagoas chegou a tal ponto que demanda uma conflagração pública contra o que vem sendo feito contra o futuro dos nossos filhos e netos. Chega de paliativos. Enquanto o maior e mais grave problema do setor: a baixa qualidade do professor, não for enfrentado, nada acontece. E daqui a 50 anos continuaremos na rabeira da educação do país. O leitor atento deve ter notado a semelhança com análises feitas nesse espaço a respeito da tragédia do meio século de exploração do sal-gema de Maceió. Não é coincidência. Esse estado vivencia há dezenas de anos uma completa ausência de gestores públicos qualificados (com raríssimas exceções). Houve até alguns poucos bem intencionados. Mas de boas intenções...
Resultado: Alagoas vive há muito tempo em profunda depressão econômica, sem projetos e propostas de saídas para o seu subdesenvolvimento atávico. O reacionarismo local impede mudanças na pauta conservadora que só afunda o estado. Temos à frente mais uma eleição majoritária, sem perspectivas de nada mudar nada em relação a perspectivas atuais sobre o futuro sombrio de Alagoas. Até quando vamos continuar a marchar para o fundo do fundo do poço econômico? Uma virada na educação é caminho certo para pavimentar a rota de longo prazo para o crescimento. Temos, mesmo aqui, exemplos que podem ser seguidos. São grãos de areia no meio de um deserto de baixíssima qualidade. Mas estão aí para provar que é possível... A mudança em Alagoas demanda urgente mudança na qualidade da sua educação. Não investir adequadamente em educação é “matar” o futuro de Alagoas!
Até quando vamos continuar a marchar para o fundo do fundo do poço econômico? Uma virada na educação é caminho certo para pavimentar a rota de longo prazo para o crescimento. Temos, mesmo aqui, exemplos que podem ser seguidos.
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Estupidezes eleitorais
CLÁUDIO VIEIRA
n Advogado e escritor
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refiro o uso plural, conceitualmente mais aproximado ao sentido do termo. A estupidez quase nunca vem só, e quase sempre gera outras. É o caso das eleitorais. A política é pródiga em asneiras, asnices, besteiras, babaquices. Não sou contrário à política. Ninguém com um mínimo de inteligência o será, pois o ser humano é por natureza político, convivente da cidade (pólis), estando certo o
filósofo Aristóteles. Sou apenas crítico da práxis política, no caso, brasileira, embora asneiradas de políticos deve haver em todas as nações. Não será estúpido o sujeito que mente, engana, apresentase como o mais republicano dos nacionais e o mais democrático e, após, sendo eleito, mete os pés pelas mãos, locupleta-se de bens públicos, esquece e desdenha de suas promessas eleitorais e em novos pleitos volta a enganar a população? Nesse caso específico a idiotia não é só do candidato, mas também de quem o mantém pelo voto na crista da onda. Não é, porém, das estupidezes dos políticos (raríssimas as exceções) que pretendo falar hoje. Mas dos eleitores que, ao contrário dos instintos dos burros, as alimárias, topam várias vezes na mesma pedra. Partidarismos extremos sempre houve, aqui e alhures. Guerras, internas ou externas,
já foram gestadas no sectarismo cego e acirrado, inclusive aqui no Brasil. Todavia, desde o surgimento do petismo, e agora do bolsonarismo, a intolerância política se fortaleceu, ao ponto de, mesmo em uma democracia como a nossa, as facções se digladiem, agridam-se, rompam-se amizades que até agora pareciam perenes, e mesmo parentes bem próximos apartemse em inimizades talvez infinitas enquanto durarem, ou para sempre. O sectarismo brasileiro de hoje não é mais estimulado pelo “eles e nós” lulista, mas pelo Bem e Mal do bolsonarismo, sendo o Bem, naturalmente, os partidários de Bolsonaro, e o Mal todos os demais que não rezarem pela cartilha do mestre deles. A eleição tornouse então uma cruzada maniqueísta, para gáudio dos principais candidatos que, iguais a palhaços, jogam gasolina no
fogo que consome o circo, para usarmos metáfora muito comum, com as minhas escusas aos profissionais do riso. Lá em cima disse eu da qualidade da alimária que, por instinto, não topa na mesma pedra. O ser humano, porém, dotado de inteligência, e tão vaidoso por possuí-la, vai de encontro, por várias vezes, aos mesmos seixos do mesmo caminho. Ninguém percebe que a intolerância, a marca de Bolsonaro e do lulismo, gerou monstruosidades no mundo? Nazismo, fascismo, stalinismo, e tantos outros -ismos, já fizeram bastante mal à humanidade, mas bolsonaristas, cegos pelos discursos zangados do seu chefe e pelo uso indevido das mídias sociais, intransigentes não aceitam a oposição às suas ideias. Os petistas em passado recente não ficavam muito atrás. Estamos bem servidos de políticos!
O sectarismo brasileiro de hoje não é mais estimulado pelo “eles e nós” lulista, mas pelo Bem e Mal do bolsonarismo, sendo o Bem, naturalmente, os partidários de Bolsonaro, e o Mal todos os demais que não rezarem pela cartilha do mestre deles.
Lembranças dos que se foram...
ALARI ROMARIZ TORRES n Aposentada da Assembleia Legislativa
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Ficar velho nos dá a chance de ver os amigos irem embora e ficar na fila sem saber quando será chamado por Deus. Na turma de militares de meu marido, os oitentões estão falecendo. Neste ano de 2022 foram vários, mas o mais próximo de nós foi Nilo, casado com a Hyla, residente em Fortaleza. Amigo querido, acolheu meu filho João no período em que estudou em Resende – RJ. Foi ele quem comunicou ao cadete Romariz que o tio Abrahão havia falecido em Maceió. São lembranças tristes a nos acompanhar sempre. Conhecíamos um casal que vivia muito bem e que, como nós, perdeu um filho. Andavam
juntos, eram excêntricos, mas eram apaixonados um pelo outro. O Petrúcio Dragão faleceu e a Telma foi logo depois; creio que em menos de um ano. Deus está cuidando deles! Tivemos a honra de ser aluna do “velho” Instituto de Educação, na Rua Barão de Alagoas e no Farol. Nossos professores eram catedráticos, defendiam tese no concurso público antes de lecionar. Grande maioria deles já faleceu. Mas de alguns me recordo com muito orgulho. Hilarina Paes, professora de matemática, da 3ª e 4ª séries do ginásio, equivalentes aos atuais 8º e 9º anos; competente, honesta e exigente. Na mesma área, fui aluna do professor Benedito Morais nos três anos do científico (atual curso médio); excelente mestre, duro com os alunos, mas suave nas provas: se a resposta das questões não fosse um número exato, a resolução estava errada. Todos dois já se foram! Em outras matérias também tive a honra de ser aluna de Teonilo Gama, Dorotéia Carneiro, Padre Teófanes, Milton Gonçalves e outros. A maioria já está em outro plano! Uma grande perda na minha vida foi minha amiga Elaine Passos Tenório. Casamos bem perto
uma da outra, tivemos quatro filhos e amamos nossos maridos. Mulher dinâmica, inteligente e suave. Ainda hoje me lembro de nossos papos. Abordávamos todos os assuntos com seriedade e eu tinha na “Laine” uma excelente conselheira. Deve estar num bom lugar! Na família, minha maior perda foi meu pai João Romariz. Homem que viveu à frente de seu tempo; tinha uma bela visão do futuro e, ainda hoje, seus conselhos ressoam em meus ouvidos. De meu lado e do lado de meu marido perdemos vários familiares, alguns precocemente. Quando acontece a ida de um parente querido, nossas estruturas se abalam e precisamos de muita fé para recuperar a sanidade mental. De todos eles ficam lembranças boas ou ruins, mas sempre fica algo. Meu pai teve um grande amigo que foi professor primário e deputado estadual por Penedo. Fatos marcantes aconteceram entre os dois. Meu pai foi primeiro, Bonifácio Bezerra foi depois. No entanto os filhos de ambos foram marcados por bons exemplos. Quando faleceu meu tio
José Romariz que morava em Brasília, vi meu pai passar a noite chorando, numa cadeira de balanço. Eram muito unidos e sofreram bastante desde a tenra infância. Difícil esquecer os dois! Estou tentando passar para meus leitores a falta de preparo que temos para lidar com a morte. Para onde vamos? Quem nos acolherá? Haverá vida após? O mais importante é lembrar das pessoas queridas pelo legado que deixaram. Foi uma boa pessoa, criou bem seus filhos, ajudou o próximo quando teve oportunidade? Se fosse falar em políticos falecidos, gostaria de lembrar Getúlio Vargas, Ulisses Guimarães, Mário Guimarães (ex -presidente da Assembleia Legislativa de Alagoas) e alguns poucos. Mas amigos, não queiram estar no lugar de uma mãe que perdeu um filho. Não há dor maior, não há pranto mais sufocante, não há senão uma grande vontade de ir com ele. Infelizmente, a mãe tem outros filhos, tem marido e por causa deles precisa continuar vivendo. Meu indelével respeito aos que se foram.
Estou tentando passar para meus leitores a falta de preparo que temos para lidar com a morte. Para onde vamos? Quem nos acolherá? Haverá vida após? O mais importante é lembrar das pessoas queridas pelo legado que deixaram. Foi uma boa pessoa, criou bem seus filhos, ajudou o próximo quando teve oportunidade?
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Os humanos
MAGELA PIRAUÁ n Escritor.
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uiz Gama, um dos quatro maiores abolicionistas, ao lado de Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e André Rebouças, em um de seus escritos afirmou: “Em nós, até a cor é um defeito, um vício imperdoável de origem, o estigma de um crime.” Acabo de ler o último livro da trilogia de Laurentino Gomes, Escravidão. Trata o assunto da Independência à Lei Aurea. Livro duro, sofrido, realista. Nos leva à desumana realidade de tema tão cruel. O autor, em minuciosa
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pesquisa, em livro de 536 páginas, nos exibe, dentro de um realismo inquietante, um Império chefiado por um homem culto, D. Pedro II, refém da oligarquia rural, permitindo, por omissão, os grilhões, as chibatadas, o tráfico do homem negro, tão somente pela cor da pele. Eram os seres humanos arrancados de sua mãe África, colocados, seminus, presos a argolas de ferro em embarcações insalubres e trazidos, como mercadorias, para serem negociados em diversos locais do Brasil. O mais terrível, também, que aqui eram separados de suas próprias famílias e vendidos como mercadorias. Muitos morriam na travessia e eram jogados no mar. O livro, bem documentado e pesquisado, como foram os outros, nos inquieta, nos faz doer, nos faz refletir de um passado, ainda tão recente, onde o Brasil, durante três séculos e meio, usou da chibata e dos grilhões para o enriquecimento de poucos, criando, à custa de muito suor e sofri-
mento, através do trabalho escravo, uma cumplicidade inominável entre a Monarquia e os senhores rurais, concedendo-lhes honrarias e benesses. Mesmo assim, o ser humano de ontem, explorando o semelhante, aprisionando-o, escravizando-o, chicoteando-o, continua, nos tempos atuais, segundo o modelo vigente, ficando muito a desejar no trato com os afrodescendentes. Segundo Laurentino “.....a população afrodescendente brasileira foi abandonada à própria sorte, marginalizada, explorada sob formas disfarçadas de trabalho forçado e mal remunerado.....Sem acesso à moradia, educação, saúde, renda e condições dignas de vida.” O ser humano, em sua ganância por poder e dinheiro, é capaz de condutas as mais inomináveis. O ser humano, por outro lado, também é capaz de gestos os mais inconcebíveis de generosidade e altruísmo. A história também registra.
As paixões os conduzem, refiro-me aos humanos, aos gestos da grandeza ou de hediondez. A passionalidade, intrínseca ao humano, nos revela para o bem ou mal. O sofrer humano parece um fim em si mesmo. A escravidão hoje é moderna, com o forte teor discriminatório. O poderio econômico dita as regras. As guerras, hoje ainda tão em uso, afirmam o poderio das nações. O ser humano, em que pese tanta tecnologia, tanto avanço científico, tanta produção de produtos, nunca sofreu tanto, quer do ponto de vista material, quer do ponto de vista psíquico. Quando será, pergunto, que a humanidade encontrará paz? Quando será que o Brasil será socialmente justo? Quando será que o ser humano deixará de discriminar o outro? Quando será? Por enquanto a religião e a arte nos aliviam de tanta dor. A religião pelo transcendental. A arte pela compreensão do estético.
As paixões os conduzem, refiro-me aos humanos, aos gestos da grandeza ou de hediondez. A passionalidade, intrínseca ao humano, nos revela para o bem ou mal.
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BAIRROS AFUNDANDO
Moradores do Flexal contestam Defesa Civil e Serviço Geológico Nota técnica que isenta Braskem de responsabilidade por rachaduras foi elaborada sem inspeção local BRUNO FERNANDES bruno-fs@outlook.com
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omo emitiram uma nota técnica sem vistoria recente in loco? O que vai acontecer com as casas? O que estaria causando essas rachaduras se não as atividades da Braskem em bairros vizinhos? São esses os questionamentos que os moradores do Flexal de Baixo e Flexal de Cima, no Bebedouro, atingidos por rachaduras em suas residências, fazem aos órgãos públicos responsáveis pelos estudos de afundamento do solo em Maceió e que aparentemente, segundo eles, pouco estão interessados em responder. Com aproximadamente 800 famílias morando na região, mais de 60 casas passaram a apresentar rachaduras ainda em 2020 e logo os moradores deduziram serem provocadas pelo mesmo motivo que afetou os bairros vizinhos – Pinheiro, Farol, Mutange e Bom Parto: a mineração da Braskem que durou décadas. Um estudo contratado junto ao engenheiro Lucas Mattar confirmou o problema, mas tanto a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) / Serviço Geológico do Brasil, quanto a Defesa Civil Nacional e a Municipal negam haver qualquer relação. “As etapas de monitoramento de campo continuam sendo ferramentas de suma importância para o acompanhamento da área em questão, onde a caracterização e interpretação dos danos no local não mostram evidências que possam estar associados ao fenômeno que atingiu outros bairros afetados pelo processo de mineração”, diz a nota técnica conjunta emitida pelos órgãos a pedido do Ministério Público Federal, mas sem explicar quais seriam as causas das rachaduras nos imóveis do Flexal de Cima e do Flexal de Baixo. O EXTRA procurou os órgãos públicos e questionou: se não foi a atividade da Braskem, o que estaria provocando as rachaduras, o que pode acontecer com as casas danificadas com e sem um projeto de reurbanização e como a vistoria foi realizada já que, segundo os moradores, não foram realizadas visitas técnicas nem estudos com equipamentos, a exemplo do que aconteceu nos demais bairros. Por e-mail, a CPRM se limitou a responder que a Defesa Civil estaria concentrando as informações. Esta, por sua vez, não respondeu aos questionamentos. Para Maurício Sarmento, líder co-
Laudo independente confirma rachaduras nos imóveis das comunidades munitário do Flexal, a nota conjunta elaborada pelos órgãos técnicos não tem nenhum valor para os moradores que estão convictos de que precisam sair do local e para isso precisam da assistência negada pela Braskem, já que não foi comprovada responsabilidade da empresa na região até o momento. “Não foram realizadas perícias in loco, então não tem validade nenhuma para gente. Ele tem valor científico zero para a gente. A CPRM não veio aqui fazer estudos científicos, os equipamentos que utilizam nas outras regiões não chegaram nem perto daqui”, detalha o morador do bairro. O EXTRA também questionou a Defesa Civil sobre a data da última visita in loco para avaliação da região, mas também não obteve resposta. Ainda segundo Maurício, “mesmo com essa nota emitida, os moradores têm posição formada pela realocação da comunidade, pois a região não oferece mais condição digna para nenhum morador. O que a gente perdeu vai além de qualquer urbanização que seja feita por qualquer um que seja”. Pelo cronograma da Defensoria Pública Estadual, que também integra a Força Tarefa – grupo que envolve órgãos de controle do Estado, incluindo Ministério Público Estadual e Federal –, apenas na semana passada foi solicitado que a CPRM realizasse uma avaliação presencial. Essa avaliação está programada para ser realizada apenas na próxima semana, reforçando o fato de que a nota foi emitida sem uma vistoria técnica recente. “A Defensoria Pública do Estado pediu, ainda, que o órgão realize, em até cinco dias, uma perícia e vistoria técnica na região, e elabore laudo
apontando se existe afundamento na área e se os imóveis podem sofrer danos estruturais. Vale ressaltar que os relatórios da Defesa Civil do Estado e um relatório independente feito por engenheiros apontam para a necessidade de realocação. Com uma nova inspeção da CPRM, a Defensoria Pública espera que o imbróglio seja solucionado o mais rápido possível, para que os moradores tenham seus direitos respeitados e possam encontrar lares seguros para recomeçar suas vidas”, cobrou o órgão. Além de não saber o que está acontecendo, os moradores têm sofrido com o chamado ilhamento socioeconômico, já atestado pela Defesa Civil de Maceió em parecer técnico encaminhado à Força Tarefa. Para resolver o problema, foi sugerida a reurbanização do bairro, já que a responsabilidade pelas rachaduras não foi apontada até o momento pelos órgãos competentes. As negociações, no entanto, foram interrompidas em abril até que se tivesse uma definição se seria ou não seguro continuar na região. “Não temos como exigir que a empresa se comprometa com a realocação das pessoas nem podemos obrigar os moradores a deixar a região por meio da Justiça, como aconteceu no Pinheiro, pois não temos argumento jurídico que enfatize o risco dessas pessoas. No caso dos Flexais, como os laudos não indicam perigo por causa do fenômeno, a gente não tem como exigir uma realocação”, explica o promotor de Justiça Jorge Dória, titular da Promotoria de Urbanismo do Ministério Público Estadual. Ainda segundo o promotor, com base nos laudos atuais, uma das soluções possíveis para a região seria de
fato “a reurbanização do local com projetos urbanísticos de mobilidade urbana”, com instalação de alguns serviços concentrados apenas na pequena região, além do pagamento de um valor referente a danos morais por estarem isolados, no valor de aproximadamente R$ 80 mil. “Isolamento social não é uma tese forte para obrigar os moradores a saírem e obrigar a Braskem a pagar indenização. Tivemos reuniões com diversos especialistas em direito e foi constatado que não seria uma tese forte. já que a Braskem não causou o perigo de morte, mas causou o isolamento social na região, podemos entrar em acordo com a empresa para que ela ao menos banque a reurbanização da região”, conclui o promotor. O acordo para que a região seja reurbanizada, no entanto, não tem data para acontecer pois depende de diversos fatores, entre eles novas reuniões com moradores, a empresa e órgãos públicos, além de novos estudos que ainda estão no prazo solicitado pela Defensoria Pública Estadual, por exemplo. Até lá, os moradores continuam com as mesmas dúvidas do começo dos problemas: O que está acontecendo?
MPF tem dúvidas sobre impactos no Bom Parto Membros do Ministério Público Federal que acompanham o caso Pinheiro realizaram inspeção no bairro do Bom Parto na última semana, com o objetivo de acompanhar os impactos do fenômeno de afundamento do solo na região do entorno do mapa de linhas e ações prioritárias. Durante a visita também foram encontrados imóveis com forte desnível no piso, bem como com rachaduras no teto, em paredes e no chão, o que levou o MPF a oficiar a Defesa Civil Municipal para que informe se a região está incluída no perímetro de atuação do Comitê de Acompanhamento Técnico, bem como se coincide, de alguma forma, com a área que os relatórios apontam como suscetíveis à subsidência.
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ECONOMIAEM PAUTA MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL
Processos contra o INSS Segurados do Instituto Nacional do Seguro Social que ganharam ações na Justiça contra o órgão previdenciário vão receber, este mês, pouco mais de R$ 1,5 bilhão em RPVs (Requisições de Pequeno Valor). Serão contemplados com os repasses 99.395 segurados do INSS em 77.360 processos referentes a revisões de aposentadorias, auxílios-doença, pensões e outros tipos de benefícios previdenciários. Para saber se o seu nome consta na lista, é preciso consultar o site dos TRFs (tribunais regionais) responsáveis pela ação.
Perdendo dinheiro
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eixar o dinheiro do FGTS parado no banco fará o trabalhador perder poder de compra, que será corroído pelo avanço da alta de preços. Segundo a Caixa Econômica Federal, a estimativa de rentabilidade do FGTS em 2022 deve ficar em torno de 5,83%. A título de comparação, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) terminou o ano passado em 10,06%.
ARQUIVO AGÊNCIA BRASIL
n Bruno Fernandes – bruno-fs@outlook.com
Novidade para o entregador
ROVENA ROSA/AGÊNCIA BRASIL O iFood anunciou esta semana o lançamento de um serviço especializado de atendimento 24 horas para entregadores que sofreram algum tipo de acidente no trânsito. Além de cuidados médicos, a equipe especializada ajudará os trabalhadores a acionarem o seguro de acidentes pessoais. Segundo o app de entregas, o objetivo da nova ferramenta é “oferecer mais agilidade para que o entregador possa alertar a plataforma do que foi ocorrido e proceder com os processos de ajuda ao profissional”.
Menos benefícios
MARCELLO CASAL/AGÊNCIA BRASIL
Balanço do primeiro semestre de 2022 do Salariômetro, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) apontou que os trabalhadores brasileiros estão abrindo mão de benefícios, como plano de saúde, para garantir reajuste salarial. Dados da Fipe mostram que complementos como a Participação nos Lucros e Resultados, abonos por aposentadoria e assiduidade, plano odontológico e auxílio-creche saíram de boa parte dos acordos ou convenções coletivas fechadas este ano.
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RADAR LITERÁRIO O aedo Dirceu Lindoso POR CHARLES COOPER
Médico e escritor, autor de Poemas definitivos (– quase) e Azinhavre & Inox e Artefatos – Poemas de desordem, gaveta e confissão
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ada pode pôr em dúvida a presença do maragogiense Dirceu Lindoso no mundo cultural alagoano, e sua presença permeia uma existência. Nascido em Maragogi em 31 de julho de 1932, é dono de uma extensa obra multidisciplinar, que vai da história, passa pela antropologia e pela sociologia, e chega à prosa ficcional. Revolucionário, poliglota, professor, jornalista, advogado, também é um viajante do mundo – muito além de sua idílica Maragogi, respirou outros trópicos, cruzou perigosas fronteiras geográficas e, tendo ao fundo mares congelados, conversou com habilidade em outros idiomas. Transgressor dos establishments, foi quando jovem um professor de marxismo para outros jovens, e quando não deliberava suas ideias, calava para ler. Leu decerto uma imensidão de livros; descobriu em restritos arquivos documentos que abalariam certas verdades históricas totêmicas; não se furtou em fazer ruir esses totens. Dirceu Lindoso bem representa o homem engajado, produto característico do século XX, sábio sem a pernosticidade de outros que arrotam mediocridade, que fingem saber e nada sabem, e ficam no meio da jornada e são esquecidos merecidamente. Legitimamente, ele é um homem do tempo em que se exigia dos pensadores a confecção de um estado universal de direitos; a humanidade se propunha a estar com esses homens a fim de liberdade, dignidade, igualdade, trabalho, salário e felicidade. Avaliado como utopia, esse grande sonho foi sonhado com determinação física e espiritual. O último sonho da humanidade colocado a pique valeu morte, exílio, sentimentos de vencidos. Sua obra, de pesquisa histórica, que
Charles Coopert so, começaram a fazer frente ao poder militar provincial, que, tal a crônica histórica da época, tomava-os como malfeitores, criminosos e assaltantes de estradas.
busca trazer para o protagonismo as massas anônimas que incorporaram um movimento de retorno ao Brasil de Pedro I, confrontando-se com o governo regencial, inicialmente capitaneadas por latifundiários restauradores e absolutistas, tendo como alistados negros fugidos, homens brancos pobres e livres e índios reprimidos em um espaço que ia do norte de Alagoas ao sul de Pernambuco, denuncia a existência de uma guerra mal contada e pouco analisada, resultado das baixas cotações de açúcar e algodão naquele período. A disseminação da pobreza e o estreitamento de horizontes foram o estopim da revolta daqueles que, refugiados nos restos de mata e em pequenos núcleos habitacionais de difícil aces-
Aguardentes do mundo Estamos agora nos meses chuvosos, quando a volumosa água das tempestades se torna filetes líquidos que emanam desta terra mesopotâmica em vigorosos cursos que procuram a saída natural para o mar; são ricos de detritos biológicos vindos dos restos das matas que ainda não foram vencidos pelos homens e em correntezas chegam ao salgado oceano, turvando-o como um caldo de alimentos fermentados, alimentando camarões que alimentarão os peixes. Fermentada como uma cerveja, essa bebida mantém as ordenações da natureza, podendo-se nomeá-la selvagem cerveja. Em nome dessas aguardentes do mundo, o viajante Dirceu não se furtou a bebê-las; em todos os cantos do mundo, os sonhos são em suspensão como a poeira e a fumaça; estão sobre nós à espera que os pesquemos; ágeis, não se deixam adotar pelos tolos, talvez pelos loucos, os loucos eufóricos, os eufóricos bêbados; se as-
sim não acontece, voláteis se vão sem paradeiro aos confins de não se sabe onde. Abençoados por Baco, bebem em prol dos sonhos detidos, sonhos de fato brutos, mas só os temos nossos, os sonhos, na embriaguez da lucidez, pois somos dessa forma de espírito os mais ágeis caçadores. E por isso Dirceu Lindoso se adjetiva poeta d’As Cervejas Selvagens e outros poemas. Esta obra poética, não sei ao certo, deduzo, talvez seja de várias datas, de vários lugares, de outras horas; provável que nele se encerrem inspirações em díspares tempos, fermentações ingeridas em datas anti-horárias; mas em qualquer esquina de tempo, bem está nítido o multifacetado homem de tantas literaturas. O antropólogo, o historiador e o ficcionista não saem de cena nos versos d’As Cervejas, eles permanecem siameses ao mesmo homem, pois é um único homem que agora se responsabiliza poeta. O poeta Dirceu Lindoso, no poema-título deste livro que marca sua estreia na poesia, denuncia-se obediente leitor das Mitológicas, do mestre belga Claude Lévi-Strauss, desfiando as minúcias da confecção das cervejas selvagens com detalhes versificados. As Cervejas Selvagens e outros poemas seguem em uma cantoria que disfarça uma tristeza de herança, que consagra verdades, que oficializa um novo velho aedo. Este novo — ou antigo? — livro de Dirceu Lindoso não só desperta a curiosidade da plateia, como também, aos primeiros versos lidos, o leitor, até o mais contido, não se furtará a dizer: “Eu sabia”.
LANÇAMENTO
A Imprensa Oficial Graciliano Ramos e seus parceiros estão organizando um grande evento literário para o lançamento de dez obras inéditas assinadas por autores alagoanos, além de Cervejas Selvagens e outros poemas, de Dirceu Lindoso. O encontro será realizado neste segundo semestre de 2022. Acompanhe as novidades da gráfica e editora do Governo do Estado de Alagoas nas suas redes sociais ou pelo site: www. imprensaoficialal.com.br.
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FERNANDO CALMON
n JORNALISTA
Airbags externos protegem os vulneráveis no trânsito
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o último dia 25 de julho comemorou-se o Dia do Motorista. Para quem desconhece a origem da data, trata-se do dia de São Cristóvão, santo católico padroeiro dos motoristas, motociclistas e viajantes. No entanto, acidentes acontecem e grandes esforços têm sido direcionados nos últimos anos para aumentar a segurança ativa e passiva dos automóveis. Há uma preocupação adicional na proteção dos usuários mais vulneráveis no trânsito. Selecionei dois exemplos de tecnologias em desenvolvimento que podem ajudar a salvar vidas. Airbags externos já são aplicados em alguns automóveis com proteção parcial na junção do capô e para-brisa. Veículos autônomos continuam em testes e robô-táxis estão em estágios avançados. Furgões são monovolumes e com superfície frontal maior. Segundo a Organização Mundial de Saúde 50% dos acidentes fatais envolvem pedestres, ciclistas e motociclistas. Uma das empresas especialistas
em veículos autônomos é a americana Nuro, não tão conhecida, porém entre as mais avançadas. Seu modelo elétrico, um furgão desenvolvido para serviços de entregas urbanas, recebeu autorização do Departamento de Transportes dos EUA para testes em ruas. Autoliv, multinacional sueca especialista em segurança veicular, criou para a terceira geração do Nuro, ainda em desenvolvimento, um airbag externo que quando inflado cobre toda a frente do veículo, aumentado as chances de sobrevivência dos vulneráveis. Outro avanço recente foi apresentado pela alemã Messring. Um boneco articulado que replica um adulto masculino em tamanho, forma, articulação das pernas e sensores para os testes de segurança de frenagem emergencial automática até 60 km/h. O boneco pode ser programado para andar a três, cinco e oito km/h. Aceita receber sensores de radar, lidar, câmera, infravermelho e ultrassônicos simultaneamente. As pistas de testes podem se aproximar cada dez mais do mundo real.
Prazos para elétricos dividem fabricantes europeus Legisladores da União Europeia estabeleceram 2035 como data limite para que apenas veículos 100% elétricos possam ser comercializados nos 27 países do bloco. Essa decisão implicou diferentes reações dentro da Acea (sigla em francês para Associação dos Fabricantes Europeus de Automóveis). A posição da entidade apontou que seria melhor cumprir a primeira meta de redução de 50% de carros com motores a combustão interna, até 2030, para depois avaliar quando a substituição poderia ser total. Pouco depois a Stellantis avisou que se desligaria da Acea no fim deste ano. Alegou que trabalha com firmeza para reduzir os custos até 2030. O grupo acrescentou que pretende lançar 75 modelos elétricos nesta década. Ressalvou, porém, que “se estes veículos não ficarem mais baratos, o mercado entrará em colapso”. O presidente da empresa, Carlos Tavares, afirmou à publicação Automotive News Europe que a Stellantis cumprirá a decisão, porém acrescentou: “Os
formuladores de políticas parecem não se importar se teremos matéria-prima suficiente para sustentar a mudança”. Posição oposta tomou a Volvo que também pediu desfiliação da Acea no final de 2022. A fabricante sueca se comprometeu a ter uma gama de carros totalmente elétricos até 2030, à frente da proposta da União Europeia. Por isso discorda das outras associadas. Maior fabricante europeu, o Grupo VW destacou que a produção de baterias é desafio maior do que banir motores a combustão. No Japão, Toyota, Suzuki, Subaru e Daihatsu se associaram para pesquisar produção mais eficiente de bioetanol e sua utilização em automóveis. E nos EUA fabricantes, frente à escalada de custos, pediram a volta do subsídio federal para elétricos previsto apenas para as 200.000 primeiras unidades. O governo ainda negocia com o Legislativo. Mas alguns estados continuam com incentivos, em especial Califórnia e Washington.
ALTA RODA n TOYOTA YARIS, nas versões hatch (dois terços das vendas) e sedã, recebeu atualização estética apenas na dianteira e novas rodas nas versões 2023. Pontos altos dos dois modelos: acerto das suspensões em qualquer condição de carga, sete airbags e assoalho traseiro plano. Motor 1,5 L com 110 cv (E)/105 cv (G) vai bem no consumo de combustível, porém limita o desempenho. Câmbio CVT de 7 marchas, no modo Sport, melhora as respostas, ainda longe de empolgar frente a concorrentes diretos. Central multimídia de 7 pol. (Android Auto e Apple CarPlay) conecta apenas com fio. A favor, duas entradas USB atrás. n PARA quem viaja nas férias de julho a primeira providência, em geral, é fazer antes uma revisão no carro com troca de óleo do motor. Nem sempre há necessidade das duas operações simultaneamente. Correto é fazer as revisões preconizadas por tempo ou quilometragem e isso se aplica também ao óleo. Lucas Fiuza, da Tamco Lubrificantes, destaca “a importância de seguir viscosidade e aditivação recomendadas pelas fabricantes do veículo. Estas pedem para encurtar os prazos de troca no caso de uso intenso, o que significa situações de trânsito pesado”. Trajetos curtos e frequentes também são deletérios para o óleo.
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RESENHA ESPORTIVA Flamengo pressiona mas Athletico-PR segura empate no jogo de ida
ARTHUR FONTES arthurfontes425@gmail.com
ASCOM FLA
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primeiro jogo entre Flamengo e Athletico-PR pelas quartas de final da Copa do Brasil terminou sem gols. O rubro-negro carioca pressionou durante os 90 minutos, mas esbarrou na boa marcação do Furacão, que segurou o empate por 0 a 0 no Maracanã, no Rio de Janeiro. O reencontro será no próximo dia 17, na Arena da Baixada, em Curitiba, às 21h30. Em caso de novo empate, a decisão da vaga às semifinais será nos pênaltis. Foi um jogo de ataque contra defesa. Teve bola na trave, defensor salvando gol em cima da linha. Mas o domínio do Flamengo não foi suficiente para furar a defesa do Furacão.
BRUNO CORSINO/ACG
DERROTA FORA DE CASA IMPEDE CSA DE SAIR DA ZONA DE REBAIXAMENTO O CSA voltou a campo pela Série B na e foi superado pelo Criciúma por 2 a 1, no Heriberto Hulse. O placar foi dolorido ao time alagoano pelo simples fato de sair em vantagem mesmo fora de casa e não segurar o ímpeto do rival. Com o revés longe de Alagoas, o time de Alberto Valentim permaneceu dentro da zona de rebaixamento da Série B. Agora, o time está na 17ª colocação, com 20 pontos, um a menos que o Operário-PR, primeira equipe fora da zona de rebaixamento. Agora o principal foco da equipe maruja é fugir e se distanciar o quanto antes da zona da degola, já que o segundo turno já começou e a Série B chega perto da reta final.
CORINTHIANS SE COMPLICA NA COPA DO BRASIL O Corinthians foi até Goiânia encarar o AtléticoGO com um plano de jogo proposto pelo técnico Vítor Pereira que não funcionou em nenhum momento. Com três volantes e três atacantes, o time ficou sem criatividade, foi pressionado durante os primeiros 45 minutos e desceu para o intervalo com a derrota no placar. O treinador português tentou arrumar o time no intervalo, mandou seus meias para o jogo e nada surtiu efeito. Para piorar, o time levou o segundo gol aos 42 da segunda etapa – final de jogo, 2 a 0 para o Atlético-GO, que agora pode até perder por um gol de diferença no dia 17 de agosto, na Neo Química Arena, que avançará às semifinais da competição. Para avançar, o Corinthians precisará vencer o jogo de volta por dois gols de diferença para levar a disputa para as cobranças de pênalti.
LEILA REBATE CRÍTICAS E DIZ QUE VERÓN FOI NEGOCIADO ‘PELO VALOR DELE HOJE’
LUCAS SABINO/ASCOM CRICIÚMA
DIVULGAÇÃO
Negociado com o Porto na semana passada por R$ 57 milhões, o atacante Gabriel Verón teve seus direitos transferidos ao clube português “pelo valor dele hoje”, e não pelo potencial do jogador, disse na terça-feira, 26, a presidente do Palmeiras, Leila Pereira. A dirigente afirmou ainda que o negócio foi a melhor escolha tanto para o clube quanto para o atleta. Os valores envolvidos na transferência foram considerados baixos por uma parte da torcida do Palmeiras, uma vez que Gabriel Verón tem apenas 19 anos e, há menos de três, foi eleito o melhor jogador do Mundial Sub-17 com a seleção brasileira. Leila, porém, discorda da avaliação e considera o investimento feito pelo Porto justo. Mesmo sem citar nomes ou posição, a presidente do Palmeiras afirmou ainda que o clube pode trazer algum reforço na atual janela de transferências.
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ABCDOINTERIOR
n robertobaiabarros@hotmail.com
A condenação de Cunha
PELO INTERIOR
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econhecendo a existência de propaganda eleitoral negativa antecipada e a presença de fato sabidamente inverídico que atinge a integridade do processo eleitoral, a desembargadora eleitoral Maria Ester Fontan Cavalcanti Manso condenou o senador Rodrigo Cunha, candidato a governador de Alagoas pelo União Brasil, a pagamento de multa no valor de R$ 5 mil.
... Na última terça-feira, 26, a Prefeitura de Campo Alegre, no Agreste alagoano, empossou os membros do Conselho Municipal de Proteção e Defesa dos Animais.
Disseminou fake news
... Esse é o primeiro conselho com esse tipo de atuação instituído por um poder público municipal.
A desembargadora também determinou que Rodrigo Cunha retire a postagem onde há prática dos ilícitos reconhecidos (divulgação de informação falsa – fake News) publicados no Instagram. Em sua postagem no Instagram, Cunha teria promovido ataques contra Paulo Dantas e Renan Filho, de modo a se configurar propaganda eleitoral negativa.
Ação do MDB
A condenação do senador ocorreu no dia 17 de julho, mas só agora foi divulgada pelo TRE. Outra informação importante é que a ação foi movida pelo Diretório Estadual do Movimento Democrático Brasileiro de Alagoas (MDB).
Outro fake
O vice-presidente do PDT em Alagoas, Lailson Gomes, classificou como fake news a informação do senador Rodrigo em uma rádio de Palmeira dos Índios onde assegurou que o vice-prefeito de Maceió, Ronaldo Lessa, não iria deixar o grupo político para ser candidato a vice-governador de Paulo Dantas. Laison deixou claro que Ronaldo Lessa está alinhado com Paulo Dantas.
Rui em Arapiraca
Em mais uma visita a Arapiraca, o pré-candidato ao Governo de Alagoas Rui Palmeira conversou com a imprensa local e fez o balanço desse período de pré-campanha e relembrou a importância que seu pai, ex-governador de Alagoas, Guilherme Palmeira, tem para sua trajetória política. Ele participou do lançamento das pré-candidaturas de Tereza e Teca Nelma para o Congresso Nacional e a Casa de Tavares Bastos, respectivamente.
Saldo positivo
Durante a pré-campanha, Rui Palmeira tem visitado todo o estado para dialogar com lideranças políticas, agricultores, empresários, ambulantes para a construção de suas propostas que serão apresentadas no período de campanha. “O saldo é positivo. A gente tem ouvido as pessoas e ouvindo o agricultor, o empresário, o feirante, tudo é muito importante e aprendemos escutando. Acho que eu tenho essa virtude de saber ouvir. A gente sai aprendendo com essas aulas diárias com o povo alagoano. Esperamos acrescentar no nosso plano de governo algumas coisas que temos ouvido da própria população”.
Grande articulador
O senador Renan Calheiros foi o grande articulador político para a formação da chapa Paulo Dantas e Ronaldo Lessa para disputar o Governo de Alagoas. Habilidoso, Renan não mediu esforços para ter Lessa no grupo. O senador alagoano mantém um diálogo permanente com lideranças ligadas ao PDT de Ronaldo, não só em Alagoas como em todo país.
Entusiasmado com pesquisa
Ao receber o resultado da pesquisa eleitoral do Ibrape, encomendada pelo site Cada Minuto, Renan se mostrou entusiasmado, principalmente com o crescimento na disputa pela reeleição. Outro detalhe que o deixou ainda mais otimista foi o resultado da pesquisa estimulada com apoio: Dantas com apoio de Lula e Renan aparece com 40%; Collor com apoio de Bolsonaro e Cabo Bebeto, com 27%; e Rodrigo Cunha, com apoio de JHC e Arthur Lira, apenas 10%.
... O Conselho foi instituído pela Lei Municipal 1.069/2022, aprovada no mês de abril.
Leal ao MDB
O secretário de Articulação Política de Arapiraca, José de Macedo Ferreira, disse que se sente honrado de ter sido lembrado para ser suplente do candidato ao Senado Renan Filho. Macedo sempre se destacou por ser leal ao MDB alagoano, que tem hoje como principal liderança o senador Renan Calheiros. “Sou do MDB e tenho orgulho de ter ajudado a fundar o partido em Arapiraca”, disse Macedo.
Escola Maçônica de Arapiraca
Em reunião ocorrida na tarde de quarta-feira, 27, com o venerável mestre Magno Luiz de Abreu e demais irmãos da Loja Maçônica Perfeita União, o prefeito Luciano Barbosa anunciou a reforma, ampliação e modernização de mais uma unidade de ensino em Arapiraca.
Ampliação e modernização
A Escola Maçônica de Arapiraca, localizada no bairro Novo Horizonte, tem 23 anos de atividades e receberá um moderno projeto arquitetônico para atender os 196 jovens do ensino fundamental. A reunião também contou com a presença da secretária municipal de Educação, professora Laura Souza, e do secretário municipal de Infraestrutura, engenheiro Roany Izidoro.
... A diretoria executiva da Agremiação Sportiva Arapiraquense (ASA) conseguiu na quarta-feira, 27, os alvarás de liberação dos acessos às arquibancadas Leste, as antigas metálicas. ... Junto aos engenheiros da Prefeitura de Arapiraca, Polícia Militar, administração do Estádio Municipal Coaracy da Mata Fonseca e da empresa responsável pelas obras no Fumeirão, o diretor Rogério Siqueira obteve o sinal positivo para o acesso direto dos torcedores às arquibancadas. ... O primeiro semestre de 2022 já está marcado pelo recorde de atendimentos no Serviço de Cirurgia Buco Maxilo Facial do Hospital Regional Nossa Senhora do Bom Conselho, em Arapiraca. Segundo Ricardo Watson, coordenador do setor, o número já ultrapassou 2 mil casos este ano, entre cirurgias e consultas. ... “Atribuímos a elevada demanda ao crescente número de acidentes, vindo em conjunto com a demanda reprimida de outras patologias que não foram tratadas em virtude das restrições da pandemia”, comentou Ricardo. ... O Senac Alagoas está oferecendo 107 vagas em cursos gratuitos, por meio do Programa Senac de Gratuidade (PSG), destinado a pessoas de baixa renda – cuja renda familiar mensal per capita não ultrapasse dois salários mínimos. ... Os cursos serão realizados de forma presencial em Maceió e Arapiraca. As inscrições já podem ser realizadas nas Unidades Arapiraca ou Poço, em Maceió. ... Aos nossos leitores desejamos um ótimo final de semana. Até a próxima edição!
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MEIO AMBIENTE Preservação
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Demência BURLE MARX
Sítio Roberto Burle Marx foi o local onde morou e fez experimentos o mais famoso dos paisagistas brasileiros. Trata-se de um Patrimônio Mundial da Unesco. Localizado em Barra de Guaratiba, na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, o sítio abriga uma coleção de mais de três mil e quinhentas espécies de plantas de regiões tropicais e semitropicais. Burle Marx comprou a propriedade em parceria com o irmão, Siegfried, em 1949 e fez dela um laboratório para conhecer o comportamento da flora brasileira, até então pouco valorizada nos projetos paisagísticos. A partir dessas experiências, ele criou o jardim tropical moderno, que representou “uma mudança de paradigma no paisagismo, uma grande contribuição para a humanidade”, explica a diretora do sítio, Claudia Storino. Boa parte das plantas que podem ser vistas no sítio hoje veio das excursões que Burle Marx fazia pelos diversos biomas brasileiros. O arquiteto e paisagista José Tabacow participou de várias delas, primeiro como estagiário e depois como sócio de Burle Marx. Ele relembra que a única situação que deixava o amigo irritado durante as viagens eram os flagrantes de destruição do meio ambiente. O auxiliar em preservação e defesa ambiental Sinval Pereira Filho, que começou a trabalhar no sítio aos 20 anos, ainda sob o comando de Burle Marx, conta que nessas expedições o paisagista chegou a descobrir cerca de 50 novas espécies, muitas batizadas com o seu nome, como o Orthophytum burle-marxii.
Vida em plástico
José Fernando Martins josefernandomartins@gmail.com
A poluição atmosférica pode causar demência e estar ligada ao declínio cognitivo das pessoas idosas, segundo os consultores científicos do Reino Unido. Esta conclusão foi apresentada num relatório do Comité sobre os Efeitos Médicos dos Poluentes Atmosféricos (COMEAP), na segunda-feira, 25, divulgado pela Agência de Segurança Sanitária do Reino Unido. O parecer do comité valoriza um número crescente de estudos que relacionam o ar sujo ao declínio cognitivo, visto que após ter revisto cerca de 70 estudos, concluiu que existe uma relação entre a exposição a poluentes do ar e “uma aceleração do declínio da função cognitiva, frequentemente associada ao envelhecimento, e ao risco de desenvolvimento da demência”. Até à data, a poluição do ar só tem estado, em grande parte, ligada ao impacto da saúde física nos pulmões, coração e outros órgãos. Como tal, o comité esclareceu que não pode precisar o número de pessoas cujo declínio mental estará relacionado com a poluição, devido à escassez de estudos que forneçam provas. O relatório identifica três mecanismos principais para a forma como a poluição do ar poderá estar a acelerar o declínio mental, sendo o principal o dano causado aos vasos sanguíneos, por minúsculas partículas, que pode afetar o fornecimento de sangue ao cérebro. GETTY_IMAGES
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Os plásticos estão cheios de aditivos, substâncias acrescentadas durante a confecção destes materiais que conferem diferentes propriedades. No entanto, essas substâncias acabam por se libertar facilmente do plástico e vão parar no meio ambiente, podendo ter efeitos tóxicos e desreguladores nos seres vivos. Um novo estudo analisou se as comunidades bacterianas existentes em lagos na Escandinávia conseguiriam alimentar-se e crescer a partir de compostos libertados de sacos de plásticos. Os resultados mostram que sim. As bactérias usam os compostos para se alimentarem e crescem mais depressa, de acordo com o artigo publicado na Nature Communications. “É quase como se a poluição proveniente do plástico aumentasse o apetite das bactérias”, diz Andrew Tanentzap, investigador da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e autor sênior do artigo. A disseminação do plástico no ambiente está generalizada e já se transformou num problema de saúde pública. A equipa de Andrew Tanentzap tem estudado o impacto do plástico em ambientes lacustres na Europa. Em 2021, os investigadores publicaram um artigo na revista PLOS Biology onde associavam a atividade humana existente à volta dos lagos com o aumento significativo de microplásticos nesses mesmos lagos.
Extinção
Um novo estudo publicado no periódico Frontiers in Ecology and the Environment aponta que a perda da biodiversidade está atin-gindo mais espécies do que se imaginava previamente. O estudo, realizado por um time internacional de pesquisadores, reuniu diversos dados geográficos e demográficos. O grupo coletou opiniões de milhares de especialistas, incluindo de grupos sub-representados na ciência da biodiversidade. A partir dos dados, observou-se um consenso de que a perda de biodiversidade global provavelmente limita o funcionamento da natureza e as contribuições que ela pode oferecer. Segundo o estudo, esses fatores estão ligados às mudanças climáticas, à poluição e às mudanças e exploração do uso da terra e do mar. A pesquisa sugere que mais espécies podem estar ameaçadas do que se pensava anteriormente: desde 1500, 30% das espécies foram ameaçadas de extinção ou levadas à extinção. Se as tendências atuais continuarem, isso pode aumentar para 37% até 2100.
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DE ALAGOAS
n Odilon Rios
O canto das destaladeiras de Arapiraca
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mundo do trabalho no cultivo do fumo em Arapiraca não é romântico, mas cansativo e prejudicial também à saúde das destaladeiras, as mulheres que selecionavam as folhas para enrolar o fumo. Mas existe beleza por detrás da tragédia deste tipo de resquício escravagista: “Bezouro preto do Amazona Dos encontro de marfim Eu num vô andá chorando, moreninha Por quem não chora por mim” Zezito Guedes, autor de Cantigas das Destaladeiras de Fumo de Arapiraca (Eduneal, 2021), registrou algumas delas. Parecem memórias distantes, talvez saudades nem vividas por quem as cantava: “Trabaei um ano P’ra gastá um dia P’ea andá de bonde Dentro da baía, lá no mar” Arapiraca não tem baía, mas a mística da poesia viaja de boca em boca, mistura criatividade e vivências nossas ou dos outros. Formam versos lindos da nossa cultura popular: “Eu tranquei na mão um riso Da tua boca mimosa Quando eu fui abrir a mão Tava toda cor de rosa” Ou atiçando os invejosos: “Quem tivé raiva de mim E num pudé se vingá Compre uma peça de corda Vá pro mato se enforcá” As tecelãs da ópera O Navio Fantasma, de Richard Wagner (1813-1883) também cantam entre os teares: “Meu querido está no mar Ele pensa em casa na pequena piedosa Minha boa rodinha, ruge e zumbe! Ah, se você desse vento, ele viria rápido!” A rodinha é a do tear que faz barulho. Mas nas destaladei-
Livro de Zezito Guedes ras a gente ouve melhor os rugidos dos fios na madeira que no compositor alemão: “Eu vi o teá rodando Teá rodando, teá rodá Eu vi o teá rodando Se balançando p’rá lá e p’rá cá...” O amor que está no mar e pensa naquela pequena que está em casa esperando por ele, nos diz Wagner. Nas destaladeiras o mar é tão grande que levou o escrito na areia: “Na areia escrevi teu nome Junto do mar infinito Veio uma onda e levou As letra que eu tinha escrito” “Os versos destas cantigas traduzem a cultura de um povo, seu modo de viver, suas relações sociais”, diz o professor Renildo Ribeiro-deSiqueira. O verso e a rima suavizam a desgraça por trás da cultura fumageira. Há poesia por detrás dos oprimidos e seus muitos opressores. Porém mesmo assim, mulheres e crianças juntas criam que “querendo bem de verdade/chora soluça e suspira”.
Destaladeiras do interior de Alagoas cantam enquanto trabalham
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