Edição 2021

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extra MACEIÓ - ALAGOAS

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1998 - 2018

ANO XX - Nº 1021 - 17 A 23 DE MAIO DE 2019 - R$ 4,00

CASO MARTHA MOREIRA

Perícia confirma suicídio da esposa do promotor Sidrack Nascimento Silêncio envolve o caso e família quer respostas para algumas perguntas que incomodam: por que o marido fugiu do local? Como a pistola do promotor chegou às mãos da vítima? Martha teria deflagrado mais de um tiro? 7

GOLPE DA BITITINGA

Usina enganou centenas de trabalhadores

Conluio envolve sócios, políticos e advogados trabalhistas n MP do Trabalho investiga a fraude e denuncia culpados n Indenização de R$ 130 milhões será decidida pela Justiça n

CARTÓRIOS CNJ DIVULGA LISTA DOS JUÍZES PARA CONCURSO DE ALAGOAS Comissão é composta por seis magistrados, dois registradores e dois notários, todos de São Paulo. 8

11 a 13 BRUNO FERNANDES

ASSEMBLEIA

Bancada de oposição não preocupa governador Deputados Bruno Toledo e Davi Maia dizem representar a “nova política”, mas a falta de projetos deixa Renan Filho praticamente sem opositores no Legislativo estadual. 6 e 7

RANKING DA MISÉRIA ALAGOAS É O 2º ESTADO COM MAIS POBRES NO PAÍS Com 49% de sua população vivendo na linha de miséria, estado só “perde” para o Maranhão. 15 a 17


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COLUNA SURURU DA REDAÇÃO

“Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados” (Millôr Fernandes)

Predadores vorazes 1

- Após destruir a Mata Atlântica e seus recursos hídricos, e fincar os pilares da pobreza em Alagoas, a indústria açucareira vive seus estertores administrando processos de falência, fraudes trabalhistas e golpes contra plantadores de cana, bancos e demais fornecedores.

2 1998 - 2018

EDITORA NOVO EXTRA LTDA CNPJ: 04246456/0001-97

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EDITOR: Fernando Araújo CHEFE DE REDAÇÃO: Vera Alves CONSELHO EDITORIAL

Luiz Carnaúba (presidente), Mendes de Barros, Maurício Moreira e José Arnaldo Lisboa

SERVIÇOS JURÍDICOS Rodrigo Medeiros

ARTE Fábio Alberto - 98711-8478 REDAÇÃO - DISK DENÚNCIA 3317.7245 - 99982.0322 IMPRESSÃO Jornal do Commercio E-mail: contato@novoextra.com.br

As colunas e artigos assinados não expressam necessariamente a opinião deste jornal

MACEIÓ, ALAGOAS - 17 A 23 DE MAIO DE 2019

- A derrocada do setor começou três décadas atrás com a falência do Pró-álcool, a extinção do IAA e o fim do dinheiro fácil garantido pelos bancos oficiais. Com o fim desse modelo ineficiente, as usinas entraram em crise, dando início à quebradeira do setor e selando o empobrecimento do estado.

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- Das 26 usinas que transformaram Alagoas no maior produtor de açúcar e álcool do país, restam, no máximo, 10 unidades em operação, mas só meia dúzia sobreviverá. Em muito dos casos as usinas quebraram, mas os usineiros vão muito bem, obrigado, alguns deles morando na Europa.

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- O caso da Bititinga é um exemplo da ação predatória do setor açucareiro e das consequências nefastas para o estado. Só agora, quase 30 anos depois, fica-se sabendo que a falência da usina foi usada por um grupo de usurpadores que se uniram em conluio para enganar centenas de trabalhadores e demais credores da massa falida. (Veja reportagem nas páginas 11 12 e 13).

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- Outro episódio que denigre o setor é o pedido de falência coletiva de 10 empresas associadas feito pela cooperativa dos usineiros para escapar das execuções de dívidas. Um dos bancos credores acusou a cooperativa de formação de quadrilha e chegou a pedir a prisão de seus diretores.

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- Após mais de um século de exploração dos recursos naturais e espoliação dos trabalhadores, a indústria do açúcar deixa como legado maldito a marca da terra arrasada e um estado condenado à pobreza e à miséria.

Caixa preta

Em meio à guerra de informações (não seria desinformações?) em torno da Braskem, há uma pergunta que não quer calar. Qual a participação real da mineradora na receita de ICMS de Alagoas? Ninguém sabe e nem a empresa nem o governo divulgam, o que levanta a suspeita de que os números divulgados por aí escondem uma realidade que não interessa vir a público.

Sigilo total

Não se pode negar a importância econômica da Braskem para a economia de Alagoas. Afinal, a mineradora consome 95% de todo o gás natural produzido no estado e injeta R$ 150 milhões no faturamento da Chesf. Mas isso não justifica o sigilo da Sefaz sobre a arrecadação de ICMS da mineradora.

Falso brilhante

O Sindicato do Fisco de Alagoas (Sindifisco) está levantando o histórico fiscal da Braskem para mostrar que a mineradora não tem toda essa importância econômica que se propala. Seja na geração de empregos, seja no recolhimento de impostos, a Braskem está muito aquém do que pregam o governo do Estado e os políticos por ela financiados.

Só balela

Os números desmentem a balela de que a Braskem responde por 20% da receita tributária de Alagoas. A coluna apurou que no mês de janeiro deste ano a Sefaz arrecadou R$ 415 milhões de ICMS. Já a participação da mineradora foi de pouco mais de R$ 1 milhão, o que representa 0,2% da receita total.

Empresa danosa

E mais: nenhuma receita tributária, por maior que seja, compensará os danos ambientais, materiais e morais causados à população de Maceió pela mineradora. Desde sua instalação, há 40 anos, a cidade convive com a expectativa de uma tragédia anunciada, tamanho é o potencial de risco da empresa.

Fora da lei

Vale lembrar que após 16 anos recolhendo uma merreca de ICMS, a Braskem até hoje não cumpriu as exigências legais para receber incentivos fiscais do Estado. Entre elas, dobrar o número de empregos e aumentar o recolhimento tributário. De real mesmo só a contribuição da empresa no aumento da dívida pública de Alagoas.

Nem aí

A Braskem já avisou que não aceitará tão fácil o resultado do relatório do Serviço Geológico do Brasil que culpa a mineradora pela desgraça de três bairros de Maceió. Fernando Musa, CEO da empresa, avisou que a suspensão das atividades da Braskem em Maceió não vai mudar a rotina da mineradora. Pode muito bem importar sal-gema de outros países, como já faz há tempo. Lembrou que a extração desse mineral em Maceió representa só 3% das operações da Braskem mundo afora.

Tô indo embora

Como é do conhecimento público, a Odebrecht, sócia majoritária da Braskem, está negociando a venda de seu braço químico para a holandesa LyondellBasell. Quando isto acontecer, a mineradora dará adeus a Maceió, deixando para trás só os estragos de suas atividades predatórias. O que seria a redenção econômica do estado só produziu frustrações e desgraça e ainda pode acabar em tragédia.

Acredite se quiser

A convite de Ronaldo Lessa, secretário de Agricultura, um grupo de empresários portugueses está em Alagoas para estudar a viabilidade de produzir vinho no estado com água irrigada do Canal do Sertão. Quando era governador Lessa foi tomar vinho em Lisboa e voltou anunciando a construção de uma fábrica de aviões em Alagoas por empresários portugueses.

Jogo vendido

Na ganância de faturar alguns trocados a mais, o presidente do CSA, Rafael Tenório, vendeu o mando de campo para o jogo contra o Flamengo, dia 12 de junho, em Brasília. Ao justificar a decisão, o cartola disse apenas que o negócio seria bom para o clube. Os torcedores reclamaram e ele afastou-se do cargo por 90 dias, sem maiores explicações. Sequer informou o valor da negociata, que segundo rumores, seria de R$ 1,5 milhão para o clube alagoano. Não revelou o nome do empresário que comprou o mando de campo, nem a projeção de renda do jogo contra o Flamengo. Privados de assistirem ao jogo em Brasília, os torcedores azulinos sentem-se traídos pelo presidente do clube, que só pensou em faturar alguns caraminguás. Entre a pequena chance de vencer em casa e a quase certeza de perder fora, o cartola não pensou duas vezes.


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Xô, Bolsonaro Cascais, Portugal – Imagine um presidente reacionário, fã de torturadores, homofóbico, racista e machista. Imaginou? Pois bem, agora imagine uma primeira dama negra, bissexual, mãe de dois filhos, poetisa e engajada nas causas das minorias e dos direitos humanos. Imaginou? Pois bem, foi esse encontro que o prefeito de Nova Iorque quis evitar ao recusar o convite para o jantar que iria homenagear o capitão Bolsonaro na sua cidade. Bill de Blasio, o prefeito, preferiu desestimular a visita do capitão a NY a ter que apresentar Chirlane McCraysua, sua mulher, negra, ao capitão no jantar. Antes da preparação da viagem, Bolsonaro suspendeu uma publicidade do Banco do Brasil porque não lhe agradava os jovens negros, os trans e os descolados que apareciam descontraídos no anúncio. Certamente se fosse brasileira, Chirlane também estaria espantada com a decisão do seu presidente de suspender a propaganda, pois a peça contrariava as suas ideias e, segundo ele, feria os bons costumes. Atitudes como essas – autoritárias e preconceituosa - é que certamente levaram centenas de intelectuais, políticos e defensores dos direitos humanos de Nova Iorque, liderados pelo senador democrata Brad Hoylman, a se movimentarem nos EUA para impedir a presença

Na praia

Ao saber da rebeldia de Blasio e da má vontade em recebê-lo, o capitão bradou: “Receberei a homenagem até na praia”. A valentia durou pouco. Aconselhado por auxiliares mais ponderados, Bolsonaro preferiu acautelar-se a realizar uma viagem que só traria dissabores. Os arroubos de Bolsonaro mereceram outros comentários humilhante do prefeito:

Valentão?

“Jair Bolsonaro aprendeu da maneira mais difícil que os novaiorquinos não fecham os olhos para a opressão. Nós chamamos atenção para sua intolerância. Ele fugiu. Nenhuma surpresa —valentões não aguentam um soco. Já vai tarde, Jair Bolsonaro. Seu ódio não é bem-vindo aqui”.

Confronto

Ao cancelar o evento o capitão evita assim um confronto entre as suas posições retrógradas e o que o mundo pensa sobre as garantias individuais, o livre pensamento, a liberdade de expressão, de imprensa, LGBT e direitos humanos. Bolsonaro sai de cena e o novaiorquino celebra a liberdade contra o preconceito.

do capitão na cidade mais cosmopolita e descolada do mundo, que defende e respeita os direitos individuais independente de cor, raça e credo como nenhuma outra no mundo. No Twitter, o senador comemorou: “Vitória. Nós enfrentamos o presidente homofóbico do Brasil Jair Bolsonaro e vencemos”. Ser recebido por Trump não deu ao capitão salvo conduto para outros estados norte-americanos. E os brasileiros assistem, sobressaltados, uma cena que jamais imaginariam: um presidente brasileiro desistir de receber uma homenagem com medo de ser hostilizado pelo povo de uma cidade cujo prefeito o declarou persona non grata. Ao saber que Bolsonaro seria homenageado pela Câmara do Comércio Brasil-Estados Unidos, apoiado por bancos como Itaú, Santander, HSBC e o próprio Banco do Brasil, o prefeito de NY acendeu o sinal de alerta, certamente orientado por sua mulher. Ao chamar Bolsonaro de “perigoso” para futuras gerações, ele, como chefe do município, desestimulou outros apoios. Assim, a direção do Museu de História Natural desistiu de ceder suas instalações para o convescote que custaria 30 mil dólares por pessoa.

Preconceito

Blasio não usa a cor da sua mulher como objeto de propaganda. Não precisa dela como “papagaio de pirata” em solenidades públicas para disfarçar o racismo. Casou-se com McCraysua, com quem tem dois filhos, e hoje administra uma das cidades mais importantes do planeta, dividindo com ela as tarefas que colocam NY hoje como a mais plural de todas as metrópoles.

Recepção

O capitão fez bem em não desembarcar em Nova Iorque. Não iria gostar do que o senador Brad Hoylman e o ativista James Green, brasilianista, escritor, um professor universitário, preparavam para recepcioná-lo. Fica a lição de que a sociedade reage às truculências ideológicas e não querem se contaminar com ideias reacionárias. E recrimina governantes fascistas e autoritários.

Isolado

O capitão, agora, corre o risco de ficar isolado do mundo, pois governantes de outros países terão receio de chamá-lo para qualquer evento depois da rebeldia em Nova Iorque. Aliás, até a própria direita não simpatiza muito com as suas ideias, como observou o presidente do Chile Sebastián Piñera ao recebê-lo no seu país: “São declarações tremendamente infelizes. Não compartilho muito com que Bolsonaro diz sobre o tema (o apoio do Bolsonaro às ditaduras da América Latina)”.

Fascista

Na verdade, ser de direita, conservador, é uma opção política que deve ser respeitada quando se vive numa democracia. Não necessariamente um governo de direita precisa defender a tortura, estimular a violência, ser homofóbico e racista. Este, tem outro nome: nazifascista.

JORGE OLIVEIRA arapiraca@yahoo.com Siga-me: @jorgearapiraca

Dúvidas

Numa entrevista que deu ao Estadão esta semana, Flávio não conseguiu explicar a compra e a venda de dois apartamentos (quitinetes) em Copacabana que lhe proporcionaram um lucro de mais de 1000% em menos de um ano. Com a quebra do sigilo bancário, a justiça, enfim, pode fazer a ligação entre Flávio e o Queiroz, que extorquia os salários dos funcionários da Assembleia e depositava em dinheiro vivo na conta do chefe para quem prestava serviço.

Ovada

O próprio capitão reconhece que não era bem-vindo em Nova Iorque ao dizer que estava sendo esperado com ovada na cara, depois que seus agentes descobriram que uma multidão iria esperá-lo na porta do hotel contratado para sediar o encontro com empresários brasileiros e norte-americanos.

Esforço

No Brasil, o capitão se esforça para evitar que o filho, Flávio, seja chamado para depor na Comissão de Ética do Senado, depois que os procuradores do Rio de Janeiro pediram a quebra do seu sigilo bancário e do miliciano Queiroz que prestava serviço para ele na Câmara Legislativa.

Negativa

Flávio – que se diz inocente das acusações – já tentou diversas vezes bloquear o processo que responde na PGR/Rio alegando imunidade parlamentar. Mas tanto o STF como STJ negaram os pedidos e mantiveram o processo nas mãos dos procuradores do Rio. O pai, na defesa do filho, diz que a justiça quer transformar o caso em um processo político para atingir o seu mandato. Conversa fiada. O Lula usou os mesmos argumentos quando seus filhos foram acusados de enriquecimento ilícito.


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A grande batalha

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e alguém estiver pensando que a Braskem vai entregar os pontos com relação à suposta culpabilidade evidenciada pelo laudo do Serviço Geológico do Brasil, pode perder as esperanças. A empresa está contratando outras empresas de renome internacional e que vão, sem sombra de dúvidas, questionar os laudos oficiais que responsabilizaram a Braskem pelo afundamento parcial do bairro do Pinheiro. A guerra, agora, será iniciada e não será fácil arrancar dinheiro da Braskem mesmo com as evidências reveladas por técnicos gabaritados e especialistas no assunto.

Culpa no cartório

Os vereadores ensaiaram pedir a prisão de diretores da Braskem, mas deviam ter aproveitado para pedir também para todos os diretores do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas, que passaram décadas indiferentes sobre a extração do sal-gema. Se um tem culpa, as autoridades têm mais. Questão de lógica.

Mágica

Defender que a Braskem opere em área que não seja habitada em Maceió, só sendo milagre. Pois é isso mesmo que o governador Renan Filho está defendendo. É bom lembrar que as perfurações no bairro do Mutange atingiram até o Pinheiro e qual a área nessa região que não é habitada, já que a maior jazida reside justamente nos locais atingidos?

O governo sabe

Dizer que não sabe o impacto financeiro no Estado com a paralisação da Braskem é coisa pra boi dormir. As contas são fáceis de fazer. O que importa, neste momento, além das indenizações à população, é impedir que a Braskem continue operando sem saber o que está ocorrendo por baixo da terra.

A Justiça, como todos já previam, será o ponto final da disputa de quem está certo ou de quem está errado. Na verdade, muitos pontos ainda faltam ser esclarecidos e isso a empresa por certo irá questionar. O que ela quer mesmo é economizar nas indenizações, independentemente se isso irá agradar ou não aos moradores. Filhote da Odebrecht, a Braskem aposta que esta grande demanda será revertida e que não será a única responsável pela situação do bairro do Pinheiro. Se quiser dividir a responsabilidade, é bom que diga logo quem também contribuiu para os efeitos geológicos na região.

Precipitação

Ao fazer a defesa da Braskem anunciando que a empresa pode e deve continuar fazendo a extração do sal-gema com garantias plena de segurança, o governador Renan Filho ainda acredita em um milagre. Nem a ciência, pelo menos por enquanto, pode garantir isso. A provável perda de arrecadação tem tirado o sono dos que convivem no Palácio República dos Palmares.

Impasse

A disposição do secretário do Gabinete Civil, Fábio Farias, arrefeceu nos últimos dias ao manter os primeiros contatos com deputados insatisfeitos. Sem poder avançar o sinal, ou seja, prometer um pouco mais daquilo que o governador Renan Filho estabeleceu, Farias analisa que a situação de um apoio fechado realmente não é boa. A maioria dos deputados quer mais alguma coisa para fechar apoio com o governo, mas não está encontrando brechas, o que dificulta o relacionamento político com o Palácio dos Martírios.

Sem firmeza

O governador Renan Filho jogou para a plateia sobre as operações da Braskem, mas no fundo quer mesmo que elas continuem. Alegou o desemprego de milhares de pessoas e reforçou sua tese de que a Braskem poderia operar com segurança total. Quem garante isso? Se for pelos moradores da região a empresa já pode ir arrumando suas malas. O governador diz que está preocupado com a segurança das famílias e naturalmente sobre a arrecadação de impostos da Braskem.

Pior a emenda

Se depender do pedido do governador Renan Filho para que Bolsonaro não corte o orçamento das universidades federais, a instituição está atrapalhada. Renan é literalmente opositor do governo federal e não tem cacife suficiente para convencer o presidente de que o corte de verbas deve ser revisto.

GABRIEL MOUSINHO n gabrielmousinho@bol.com.br

Participação negativa

Passou quase despercebida a presença do senador Rodrigo Cunha no episódio dos bairros do Pinheiro, Mutange e Bebedouro. Na leitura do laudo técnico do Serviço Geológico do Brasil, Cunha limitou-se a fazer uma pergunta primária no encontro e ficou nisso mesmo. Era melhor nem ter ido participar da reunião.

Sinal

O senador Rodrigo Cunha, pelo seu comportamento, está longe de ser convencido a disputar a Prefeitura de Maceió. Não tem feito por onde e tem se escondido da população atingida pelos problemas na região. Demonstra que não tem nem um pouco de vontade de disputar novas eleições. Por isso é bom o PSDB ir pensando em outra alternativa.

Recado aos juízes

O ministro Nefi Cordeiro, do Superior Tribunal de Justiça, foi duro ao analisar o pedido de relaxamento de prisão do ex-presidente Michel Temer e do coronel Lima. Ele disse no seu voto, que “juiz não enfrenta crimes, juiz não é agente de segurança pública, não é controlador da moralidade social ou dos destinos políticos da nação. Juiz criminal deve conduzir processos pela lei e Constituição, com imparcialidade, e somente ao final do processo, sopesando adequadamente as provas, reconhecer a culpa ou declarar a absolvição. Cabem as garantias processuais a qualquer réu, rico ou pobre, influente ou desconhecido”, disse o magistrado.

A Gazeta sumiu

A mudança da rádio Gazeta AM para FM não somou pontos para o ouvinte. A emissora perdeu audiência, sumiu praticamente com o nome Gazeta – agora é 98,3 FM - e está muito longe de alcançar novamente a liderança no estado. Afora o programa de Rogério Costa e a resenha esportiva das 17 horas com os craques do timaço, o restante da programação é um zero à esquerda. Mudou pra pior.

Atrasada

A secretária de Esportes, Cláudia Petuba, deve analisar previamente o que dizer nas entrevistas à imprensa. Na TV a secretária disse dias atrás que até o final do ano o Estádio Rei Pelé estará apto para corrigir as deficiências da nossa principal praça de esportes. É quando tem terminado os jogos pelo campeonato brasileiro. Pode?

Decisão do CSA 1

A decisão da diretoria do CSA em vender o mando de campo para o Flamengo no próximo dia 12 de junho tem lá as suas justificativas. O clube precisa de investimentos e a grana de R$ 1,2 milhão é bem maior do que três ou quatro jogos com grandes equipes no Estádio Rei Pelé. Com esse dinheiro dá para contratar mais jogadores e o clube fazer um bom papel na série A.

Decisão do CSA 2

Além do mais o estádio parece que está encolhendo, os 17 mil lugares agora viraram apenas 15 mil, insuficientes para atender à grande torcida, tanto do próprio CSA como do Flamengo pelo campeonato brasileiro.

Decisão do CSA 3

O torcedor azulino tem também suas razões, mas é bom refletir o esforço que a direção tem feito para manter o clube numa posição de destaque no futebol nacional. O esforço é extremo e o presidente Rafael Tenório é o grande benfeitor do CSA sair da série D para a série A. Quem fez isso com o clube? Rafael Tenório. Quem levou o CSA a essas conquistas? Rafael Tenório. Quem banca tudo? Rafael Tenório. A torcida precisa entender isso. Afinal de contas, será apenas em uma ou duas partidas que o mando de campo será vendido, assim como fazem as grandes equipes do Sudeste e do Sul.


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ASSEMBLEIA

Bruno e Davi: a oposição que faz o governo rir Deputados representam a “nova política”, mas não têm projetos nem preocupam Renan Filho

ODILON RIOS Especial para o EXTRA

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ois deputados estaduais formam a bancada de oposição ao governador Renan Filho (MDB) na Assembleia Legislativa: Bruno Toledo (PROS) e Davi Maia (DEM). Ambos agregam aos seus discursos conhecidos jargões do presidente Jair Bolsonaro, do qual são eleitores: usam bastante as redes sociais, buscam polêmicas em questões miúdas e quase sempre não sustentam seriedade em seus discursos ou ações. O histórico dos projetos de lei de ambos mostra isso: em 5 anos como deputado estadual, Bruno Toledo coleciona 12 projetos de lei. Maioria é distribuindo títulos de utilidade pública a entidades ou de cidadão honorário. Já Davi Maia, em 5 meses como parlamentar, apresentou apenas um projeto de lei ordinária: distribuição de um título de cidadão honorário. Embalados na disputa eleitoral como jovens da “nova política”, Bruno e Davi apenas endossam a leva do senso comum que defende o fim dos parlamentos, por eles consumirem muito dinheiro e com pouco (ou nenhum) impacto social.

BRUNO E SEUS 2 PROJETOS Apenas 2 projetos de lei de Bruno têm relevância. Mesmo assim, são absurdos: o que impede a adoção exclusiva de “linhas ideológicas na seleção de professores na rede pública de ensino”, baseado na “doutrinação ideológica ou político-partidária no ambiente escolar”, casos denunciados “em diversas instâncias”. Além da pobreza linguística do projeto, Bruno não mostra nenhum núme-

“Não há dado que vincule a prática de vandalismo em estádio ao consumo de álcool. Ao contrário, maior parte desses episódios costuma ocorrer fora da arena esportiva. Em Pernambuco, por exemplo, nos três anos em que as bebidas foram proibidas, o número de casos de violência aumentou” DAVI MAIA (DEM)

Bruno Toledo e Davi Maia se dizem oposicionistas mas atuações não têm impacto sobre o governo ro em Alagoas das denúncias “em diversas instâncias”. O projeto está parado na Comissão de Constituição, Justiça e Redação, aguardando parecer desde 2015. O outro é o projeto que regulamenta o comércio e o consumo de bebidas alcoólicas em estádios e arenas esportivas no estado. Esta semana, Bruno Toledo tentou, mas não conseguiu, que a Assembleia aprovasse seu projeto. A matéria foi retirada de pauta porque é considerada inconstitucional pelo Tribunal de Justiça: em março do ano passado, o TJ entendeu, por unanimidade, que a lei promulgada pela Câmara de Vereadores de Maceió (em setembro de 2017) é de competência da União. Além disso, o governador já havia vetado uma lei aprovada pela Assembleia - e com o mesmo tema. Renan Filho

entendeu que o álcool pode se associar à violência dentro dos estádios, gerando as imagens que rodam o mundo mostrando o massacre entre torcidas. No Ceará, por exemplo, na semana passada, os deputados aprovaram uma lei que garante a venda de bebidas dentro dos estádios e arenas esportivas. Porém, não em dias de clássico. Daí Bruno Toledo tenta ignorar as discussões passadas para que o projeto de lei, mais uma vez, passe no voto entre os deputados, desperdiçando tempo e dinheiro público, e endossado por Davi Maia, relator do projeto na Casa. “Não há dado que vincule a prática de vandalismo em estádio ao consumo de álcool. Ao contrário, maior parte desses episódios costuma ocorrer fora da arena esportiva. Em Pernambuco, por exemplo, nos três anos em que as bebi-

das foram proibidas, o número de casos de violência aumentou. Nós, da Assembleia, precisamos garantir o direito do torcedor” disse Maia. É uma meia verdade. Davi se refere a uma pesquisa da Universidade Federal de Pernambuco que, de fato, constatou a não redução da violência nos estádios entre os anos de 2009 e 2015, quando existia a proibição da venda de bebidas alcoólicas. O resultado foi divulgado ano passado. Mas a redução da violência não existiu, aponta a pesquisa, provavelmente porque do lado de fora os bares seguiam comercializando as bebidas. O que o pesquisador Maurício Murad defende é a proibição da venda de bebidas seguindo o protocolo europeu: 5 a 6 km de raio no entorno do estádio. O deputado do DEM omitiu esta parte.


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Conservadores ou “conversadores”

O

s dois deputados sustentam que são “conservadores”, mas o dia a dia na Casa de Tavares Bastos - uma das referências no país no liberalismo e no conservadorismo - mostra que os dois deputados sabem muito pouco da realidade nas ruas alagoanas e são mais “conversadores”. Ambos são descendentes

de uma elite ainda de trejeitos imperiais: Bruno Toledo é de linhame de usineiros e donos de engenho, com participação na política na cidade de Cajueiro. Completa 36 anos no dia 23 de maio, entrou na política para garantir a cota da família na Assembleia, acumula R$ 1,1 milhão em imóveis, segundo prestação de contas apresen-

tada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Já Davi Maia tem 32 anos, R$ 414 mil em bens declarados à Justiça Eleitoral e é filho do prefeito de Quebrangulo, Marcelo Lima (MDB), pendurado por uma liminar no cargo: é acusado de contratar pessoal fora das condições legais. Enquanto a situação se

arrasta, o filho Davi segue febril nas redes sociais. Gravou vídeo de 15 segundos e, ao estilo Enéas - o icônico candidato presidencial - comparou uma fábrica da Honda inaugurada em São Paulo com o Canal do Sertão - a segunda maior obra hídrica do país (atrás da transposição do Rio São Francisco). Disse que “ninguém viu

os empregos” gerados pelo Canal do Sertão; na fábrica da Honda, foram 2 mil. A diferença entre as duas, resumiu Davi Maia: “gestão”. A série de mancadas da dupla Bruno-Davi na Assembleia promete continuar arrancando boas gargalhadas na sede oficial do governo, o Palácio República dos Palmares.

CASO MARTHA MOREIRA

Laudo confirma suicídio da mulher de promotor

Informação é extraoficial mas fontes garantem que perícia descarta a possibilidade de homicídio; polícia nada revela sobre investigação DA REDAÇÃO

O laudo sobre a morte da pastora Martha Moreira, esposa do promotor Sidrack Nascimento, ainda não foi divulgado, mas fontes informaram ao jornal EXTRA que a perícia descartou a possibilidade de homicídio, hipótese aventada pela família e por amigos da vítima. Martha Moreira teria se matado com um tiro de pistola na cabeça após desentendimento com o marido em sua residência, no condomínio Alamedas do Horto. Mas a família quer ver escalarecidos alguns fatos que envolveram a tragédia. Entre as dúvidas estão a fuga do promotor após a morte da esposa e a relação do casal com as igrejas e outros negócios comandados por Sidrack Nascimento. A família tmbém quer saber como a arma, de proprie-

dade do promotor, chegou às mãos da esposa, e se a vítima teria deflagrado dois tiros antes de se matar. Vale lembrar que na véspera da tragédia Martha Moreira esteve no prédio do Ministério Público para tomar satisfação com o promotor. Ela foi contida pelos seguranças do MP, e estava armada com a mesma pistola que a matou. No contato que manteve com o EXTRA no dia seguinte à morte da esposa, o promotor garantiu não ter havido briga entre o casal. Mas não explicou se teria ou não tentado evitar a tragédia. Martha Moreira era irmã da promotora de Justiça Fernanda Moreira e filha do promotor aposentado Arlindo Lopes de Almeida, além de esposa de promotor, o que fez silenciar o Ministério o Público do Estado e a Associação dos Promotores

de Alagoas, que até agora não se manifestaram. No MP e na Ampal o silêncio é total e ninguém quer falar sobre o caso. A família, mesmo inconformada, também optou pelo silêncio. INQUÉRITO O delegado Eduardo Mero já ouviu testemunhas, mas também nada revela sobre a tragédia. Além das oitivas, Mero também realizou investigações de rua. A primeira rodada de depoimentos aconteceu na segunda-feira, 13, cinco dias depois da morte de Martha. Segundo o delegado, os depoimentos foram importantes para elucidação do caso. Mero foi designado na última sexta-feira, 10, em caráter especial, para a investigação. Sidrack Nascimento foi ouvido no mesmo dia da morte da esposa pela equipe plantonista

Martha era casada há 19 anos com Sidrack Nascimento

e, por isso, não voltou a prestar esclarecimentos às autoridades. “Se for necessário ouvi-lo após a conclusão dos depoimentos, o integrante do Ministério Público será chamado a depor”, informou o delegado. Na semana passada, Nascimento deu sua versão sobre a morte da esposa ao EXTRA. Afirmou que Martha, com quem era casado há 19 anos, atirou na própria cabeça no jardim da

residência. “Eu estava cerca de um metro e meio dela”, descreveu. Declarou também que realizou exame residuográfico nas mãos para comprovar que, em nenhum momento, esteve com a arma nas mãos. “Não estávamos em crise e não brigamos antes da morte dela”, afirmou Nascimento, que foi proibido pela família dela de comparecer ao velório e sepultamento.


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CARTÓRIOS

Magistrados de SP vão coordenar concurso

CNJ identificou casos de nepotismo envolvendo desembargadores de Alagoas JOSÉ FERNANDO MARTINS josefernandomartins@gmail.com

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concurso dos cartórios em Alagoas será realizado sob a supervisão de um time de magistrados paulistas. Após identificar casos de nepotismo e desembargadores do Judiciário alagoano se declarem suspeitos de integrar a comissão realizadora do certame, o Pleno do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou a indicação dos nomes que irão compor a comissão de concurso para a outorga de delegações de notas e registros no estado. Os conselheiros acompanharam, por unanimidade, o voto do ministro Aloysio Corrêa da Veiga, corregedor Nacional de Justiça substituto, que ratificou as designações feitas pelo desembargador Marcelo Martins Berthe, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), presidente da banca. A votação aconteceu no dia 7 deste mês. O suplente do presidente da comissão de concurso será o desembargador Luís Paulo Aliende Ribeiro, do TJ-SP. Os juízes de direito serão: Marcelo Benacchio, titular da 2ª Vara de Registros Públicos da comarca de São Paulo; Renata Mota Maciel Madeira Dezem, titular II da 25ª Vara Cível da comarca de São Paulo; Ricardo Felício Scaff, titular da 1ª Vara Cível da comarca de Guarulhos de São Paulo

e José Gomes Jardim Neto, juiz de direito auxiliar de São Paulo (suplente). O cargo de registrador na comissão terá o oficial Flauzilino Araújo dos Santos, 1º registrador de imóveis da comarca de São Paulo. Sérgio Jacomino, 5ª registrador de imóveis de São Paulo será o suplente. E como notários: o tabelião José Carlos Alves, 1ª Tabelião de Protestos da Capital do Estado de São Paulo e o tabelião José Roberto Ferreira Gouvêa, 8º Tabelião de Protestos da Capital do Estado de São Paulo (suplente).

CHEQUES

Adiado desde 2014, a aplicação das provas do concurso dos cartórios deixou de ser uma novela e virou um seriado norte-americano com diversas temporadas. Durante inspeção do CNJ no TJ de Alagoas, o ministro Aloysio Corrêa da Veiga, corregedor Nacional de Justiça substituto, garantiu que o certame será realizado ainda este ano.

CURRÍCULOS O presidente da comissão de concurso, Marcelo Martins Berthe, trabalhou na elaboração das Resoluções 80 e 81 do CNJ, que regulamentam os concursos públicos dos serviços extrajudiciais no país e presidiu a Comissão do 9º Concurso de Provas e Títulos para Outorga de Delegações de Notas e Registros do Estado de São Paulo. Já o suplente do presidente, Luís Paulo Aliende Ribeiro, é coordenador da Diretoria de Execução de Precatórios (Depre – TJ-SP) e doutor em Direito do Estado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo com a tese “A Regulação da Função Notarial e de Registro”. Foi juiz auxiliar da Corregedoria da Justiça de São Paulo, integrando a “Equipe do Extrajudicial” e por várias vezes convocado pela Corregedoria Nacional de Justiça – CNJ para inspeções e atuações voltadas às atividades extrajudiciais. REALIZAÇÃO Adiado desde 2014, a aplicação das provas do concurso dos cartórios deixou de ser uma novela e virou um seriado norte-americano com diversas temporadas. No entanto, no mês de março, durante inspeção do CNJ no Tribunal de Justiça de Alagoas, o ministro Aloysio Corrêa da Veiga, corregedor Nacional de Justiça subs-

Luís Paulo Aliende: especialista em atividades extrajudiciais

Desembargador do TJ-SP Marcelo Berthe é presidente da comissão tituto, garantiu ao EXTRA que o certame será realizado ainda neste ano. “Nossa pretensão é realizar o concurso público para os cartórios o quanto antes, que também é um anseio do TJ de Alagoas para regularizar essa demanda de uma vez por todas. O CNJ está atento, inclusive estamos esperando começar a deflagração do concurso”, disse. Quanto à denúncia de nepotismo no Judiciário, Aloysio Corrêa da Veiga destacou que a origem do pedido de providências foi uma declaração de impedimento

e suspeição dos desembargadores para a realização do certame. Isso porque, segundo o conselheiro, pessoas com ligações aos magistrados vão querer participar do processo seletivo. “Até mesmo um servidor de um gabinete de desembargador impede o magistrado de participar na organização do concurso. Isso é do próprio rigor da lei. E com relação ao aspecto do pedido de providências é no sentido de nós proporcionarmos uma solução para ser realizado o certame”, finalizou.


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REPERCUSSÃO NACIONAL

Caso Pinheiro estará ao lado das tragédias da Boate Kiss e Brumadinho Afundamento de bairros é incluído em Observatório do CNJ e CNMP

JOSÉ FERNANDO MARTINS Com Assessoria

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drama do bairro do Pinheiro, em Maceió, agora faz parte dos casos de alta complexidade que hoje são acompanhados pelo Observatório Nacional sobre Questões Ambientais, Econômicas e Sociais de Alta Complexidade, Grande Impacto e Repercussão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). A inclusão aconteceu na noite de terça-feira, 14, em reunião, na sede da Procuradoria-geral da República (PGR), em Brasília. A decisão foi tomada na 6ª reunião do Observatório Nacional, após apresentação da procuradora da República Raquel Teixeira, do Ministério Público Federal em Alagoas (MPF-AL), que demonstrou a gravidade e relevância do caso, que segundo ela, demanda atenção e urgência de todo o Sistema Nacional de Justiça, seja na via judicial ou extrajudicial. O “Caso Pinheiro” en-

volve risco a cerca de 20 mil imóveis nos bairros do Pinheiro, Mutange e Bebedouro. Destaca-se, também, por ser o único, entre os casos em acompanhamento pelo Observatório Nacional que busca prevenção de eventual tragédia, diferentemente das tragédias da Boate Kiss, em Santa Maria (RS), e de Mariana, Brumadinho e Unaí, em Minas Gerais. Com imagens e dados técnicos coletados pela atuação do grupo de trabalho do MPF-AL, a procuradora apresentou os danos verificados em imóveis, ruas e diversas estruturas dos bairros. Raquel Teixeira também revelou aos membros que a atuação preventiva pode proteger efetivamente cerca de 42 mil pessoas, que poderiam ser atingidas – direta ou indiretamente. Ainda participaram do encontro as procuradoras da República Cinara Bueno, Niedja Kaspary e Roberta Bomfim, que na reunião do Observatório Nacional, destacaram o relatório parcial da Companhia de Pesqui-

Observatório Nacional analisou na terça-feira riscos que envolvem moradores de três bairros de Maceió sa de Recursos Minerais (CPRM), que apontou a exploração mineral de sal-gema pela Braskem como causadora dos problemas. Para a conselheira do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) Maria Tereza Uille, o intuito do Observatório é contribuir com um plano de gestão de risco no bairro Pinheiro. “O caso de Pinheiro já está sendo avaliado por várias autoridades. Nossa intenção é trazer a questão do bairro para o Observa-

DANOS

Procuradora Raquel Teixeira apresentou os danos verificados em imóveis, ruas e estruturas do bairro e revelou que a atuação preventiva pode proteger efetivamente 42 mil pessoas.

tório e contribuir com um plano de gestão de risco”, explicou. O Observatório Nacional tem caráter oficial, nacional e permanente, com atribuição de “promover integração institucional, elaborar estudos e propor medidas concretas de aperfeiçoamento do sistema nacional de justiça, nas vias extrajudicial e judicial, para o enfrentar situações concretas de alta complexidade, grande impacto e elevada repercussão ambiental, econômica e social”.

RECUPERAÇÃO DE VIAS A Braskem iniciou nesta quinta-feira, 16, o plano de obras de recuperação do pavimento de ruas danificadas por conta de trincas no bairro do Pinheiro. O plano prevê também a substituição da rede de drenagem pluvial nos locais. A ação está prevista no Acordo de Cooperação Técni-

ca firmado entre a petroquímica, o Município de Maceió, Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-AL), Ministérios Públicos Federal (MPF), Estadual (MPE) e do Trabalho (MPT). O objetivo da iniciativa conduzida pela Braskem, causadora da instabilidade do solo da região, é garantir a segurança e a trafegabilidade nas vias, além de reduzir o risco de infiltrações de água no solo do bairro através das trincas. Os trechos das vias públicas e as soluções construtivas para cada área foram definidos com o Município de Maceió com base no mapa de feições elaborado pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM). As atividades da empresa contratada pela Braskem tiveram início na Alameda São Benedito, onde fica o Conjunto Divaldo Suruagy, e contam com o apoio da Defesa Civil, além de outros órgãos municipais como a SMTT, que fará o controle do trânsito local.


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RISCO AO MEIO AMBIENTE

Jurista requer urgência no pedido de bloqueio de R$ 23 milhões da Braskem Richard Manso diz que laudo da CPRM traz provas robustas da culpabilidade da mineradora MARIA SALÉSIA sallesia@hotmail.com

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jurista Richard Wagner Medeiros Cavalcanti Manso requereu no último dia 10 tutela de urgência na ação popular em que pede o bloqueio de R$ 23 milhões das contas da Braskem e da Odebrecht. A solicitação é para garantir reparos dos danos causados pela mineradora nos bairros do Pinheiro, Mutange e Bebedouro, em Maceió. O pedido na ação original tinha sido negado pelo juiz Antônio Emanuel Dória, da 14ª Vara Civil da Capital, porque o magistrado entendeu que não poderia apressar uma situação que não estava totalmente resolvida. Porém, na mesma decisão, Dória não descartou a possibilidade de “as pessoas jurídicas demandadas serem responsáveis pela situação de calamidade pública em que se encontram os bairros” citados. Como o laudo conclusivo do CPRMP (Serviço Geológico do Brasil) apontou a Braskem como causadora do problema, Manso argumenta que peticionou neste sentido. “Os mesmos objetos da principal (ação) são consubstanciados nessa também”, explicou. O jurista sustentou sua petição nos documentos que apontam a mineradora como responsável pelo problema. Por conta disso, assegurou que “não mais existem indícios de possibilidade de a Braskem ter

provocado vazios no subsolo após retirada de sal-gema em grandes profundidades, existe sim, a certeza, haja vista o resultado apresentado pela CPRM”. Assim, considerando que o magistrado deixou para apreciar as medidas liminares requeridas após a apresentação do laudo técnico “acerca do caso em exame, deixando também, a análise sobre o pleito de inversão do ônus da prova para esse tempo, exsurge a necessidade da concessão da tutela de urgência em razão das provas que já demonstram a culpabilidade dos réus nos danos causados ao meio ambiente”, diz trecho da ação. No documento, além de apontar a culpabilidade da Braskem responsável pelo fator gerador de lesão ao meio ambiente devido as atividades realizadas nas áreas afetadas, o jurista aponta que o Município de Maceió também tem que ser responsabilizado devido a inoperância em fiscalizar essas atividades. Manso pede pressa na decisão por entender que como se trata de direito ambiental, o fator tempo é primordial para sua proteção. Assim, os mecanismos de tutela de urgência são necessários para proteção preventiva e efetiva do meio ambiente. “É importante considerar que necessitam de uma tutela preventiva para serem efetivamente tuteladas, evitando a repetição

ou a contaminação de um ilícito, isto é, em um provimento jurisdicional que não busque apenas o ressarcimento do dano, mas a sua prevenção”, diz parte do documento. Diante das evidências, diz Manso, é pedido que a Justiça determine que os responsáveis pela degradação cessem suas atividades de mineração em Maceió até que apresentem projeto apto e assegure proteção ao meio ambiente, a vida humana e animal das regiões em que operam suas atividades, além de conceder deferimento dos pleitos liminares requeridos na petição inicial da ação popular. Outro argumento do jurista é que seja determinado que a Braskem e Odebrecht apresentem nesta ação os laudos de estudos prévios para o exercício de suas atividades de mineração e de impacto ambiental em Maceió, a partir de sua instalação e atividades, entre outros. Vale ressaltar que a ação inicial proposta por Richard Manso é anterior à do Ministério Público Estadual e Defensoria Pública (nº 080028562.2019.8.02.0001) que tem como objetivo a reparação de danos materiais para fins coletivos em amparar os moradores das regiões afetadas e não a de reparação do meio ambiente e fins de proteção à natureza humana e animal, objeto da proposta pelo jurista Richard Manso.

Jurista Richard Manso diz que ação deve ter prioridade

LAUDO

No dia 8 deste mês, a CPRM apresentou laudo que aponta a Braskem como responsável pelas rachaduras, fissuras e afundamento do solo nos bairros do Pinheiro, Bebedouro e Mutange, na capital alagoana. Na ocasião, os técnicos do Serviço Geológico do Brasil revelaram que a empresa tinha entregue documentos sobre as atividades de mineração que não correspondiam com a realidade. A Braskem, por sua vez, emitiu nota informando que especialistas analisam o laudo emitido pela CPRM e que desde o início dos eventos ocorridos no bairro do Pinheiro tem colaborado com as autoridades. Vale ressaltar que o problema começou no ano passado, quando diversos imóveis da região apresentaram rachaduras, além de afundamentos em moradias e vias públicas. Porém, os fenômenos se intensificaram após as fortes chuvas de verão, ocorridas em 15 de fevereiro de 2018, e o abalo sísmico no dia 3 de março do mesmo ano. Desde aquela data muitos

eventos têm acontecidos nas áreas afetadas e a corrida pela solução tem tirado o sono dos moradores da região. O mapeamento atualizado das regiões de risco localizadas nos bairros do Pinheiro, Mutange, Bebedouro e Bom Parto deve ser divulgado ainda nesta semana, conforme informou através de nota a Prefeitura de Maceió, na quarta-feira, 15, ao EXTRA. Segundo o documento, técnicos da Defesa Civil Nacional e da Defesa Civil de Maceió estão atualizando o mapeamento de risco da região, com base nas informações técnicas elaboradas pelo Serviço Geológico do Brasil. No entanto, aponta que Mapa de Risco é diferente do Mapa de Feições. Este último é resultado dos levantamentos técnicos realizados por pesquisadores da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) e que delimita a área afetada pelo fenômeno, com identificação dos locais onde foram observadas mais ou menos evidências. Já o Mapa de Riscos é elaborado pela Defesa Civil de Maceió e faz parte do Plano de Contingência para o casos de evacuação.


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GOLPE DA BITITINGA

Usina fraudou execução de sentenças da Justiça do Trabalho Esquema de sócios, políticos, advogados trabalhistas e cartórios prejudicou cerca de 400 trabalhadores VERA ALVES veralvess@gmail.com

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ma ação civil pública de autoria do Ministério Público do Trabalho em Alagoas pode ser a luz no fim do túnel para centenas de ex-trabalhadores da falida Usina Bititinga S/A, alguns há quase 30 anos esperando pelo pagamento de indenizações trabalhistas. A ACP 0000316-87.2019 tramita na 3ª Vara do Trabalho de Maceió e tem como fundamento os quase seis anos de uma minuciosa investigação que confirmou a participação de sócios da usina, políticos, advogados trabalhistas e tabeliães de cartórios num esquema de dilapidação dos bens, fraude na execução de sentenças e enriquecimento ilícito. A ação civil pública visa ressarcir cerca de 400 trabalhadores, a maioria analfabetos, que durante anos trabalharam na sede da usina e em suas propriedades localizadas em Maceió e nos municípios de Flexeiras, Murici e União dos Palmares. Somente no caso dos trabalhadores, os danos são avaliados pelo MPT em R$ 40 milhões – valores de indenizações que não foram pagas e atualizados até 2015. O MPT passou a investigar o caso por meio de inquérito civil em 2013, após denúncia da 1ª Vara do Trabalho de União dos Palmares, segundo a qual constatou-se a dilapidação do patrimônio da Bititinga por meio de adjudicações irregulares em dezenas de processos. Tais adjudicações – ato judicial pelo qual o bem da empresa era repassado ao trabalhador

como pagamento do que lhe era devido – foram efetuadas em vários casos sem que o trabalhador dela fosse informado. Em outros, o trabalhador não conseguia se apossar do imóvel por já estar ocupado por pessoas influentes. Em todos os casos, nenhum trabalhador recebeu o que de fato tinha direito. Houve situações até de ameaça e principalmente pressão psicológica para obrigar os trabalhadores a repassarem o bem a políticos por quantias irrisórias. Outros sequer receberam qualquer valor. Todos os processos judiciais em que se verificou a existência de atos fraudulentos foram ajuizados nos anos de 1990 e 1991, após a usina demitir os trabalhadores sem o pagamento das verbas rescisórias, já demonstrando seu estado de insolvência. As condenações judiciais datam dos anos de 1991 e 1992. De acordo com a denúncia do MPT, o esquema engendrado teve a participação efetiva do advogado da Bititinga, Paulo

PATRIMÔNIO

Em dezembro de 1992 e até o encerramento de suas atividades, em 1995, a usina teve como sócio majoritário Alexandre de Coimbra Pinto, apontado como principal responsável pela dilapidação do patrimônio da Bititinga.

Juiz Edson Francoso marcou nova audiência para o mês de julho Jacinto do Nascimento, ele próprio arrendatário de fazendas da usina pelas quais nunca pagou. Contou para isto com a ajuda direta do advogado trabalhista Tércio Rodrigues da Silva e do à época também advogado José Marcelo Vieira, hoje vice-presidente do Tribunal Regional do Trabalho em Alagoas e que defendia os interesses de Olavo Calheiros Filho, um dos maiores beneficiários do esquema. Olavo Calheiros, deputado estadual, teria adquirido ao menos cinco fazendas da Bititinga adjudicadas a trabalhadores, enquanto Arthur Lira, à época deputado estadual e hoje federal, adquiriu uma fazenda. O relatório da investigação

que embasa a ação civil popular também levanta suspeitas sobre duas serventias extrajudiciais, o cartório do 1º Ofício de Notas e Registro de Imóveis de Murici, que tinha como tabeliã Maria de Lourdes Ferreira Moura (já falecida) e o 1º Tabelionato de Notas e Protestos de Maceió, cujo tabelião, Celso Sarmento Pontes de Miranda, adquiriu em março de 2000 a Fazenda São Pedro do Trapiche que fora adjudicada a um grupo de trabalhadores. Em novembro de 2005, ele teria vendido a fazenda a um integrante da família Omena: Rodrigo Omena Lopes de Farias e sua esposa, Mariana Pontes de Miranda Lopes de Farias. Depoimentos em juízo dos

trabalhadores e da advogada Cleunice Vicente de Lima, que ao assumir a causa de alguns dos trabalhadores em substituição a Tércio Rodrigues descobriu as irregularidades, revelam que a tabeliã de Murici foi responsável pelos registros da maior parte dos imóveis em nome dos trabalhadores, embora em alguns casos estes jamais tenham comparecido ao cartório do município. De acordo com estes depoimentos, Maria de Lourdes se negava a entregar a documentação solicitada por eles ou pela advogada que terminou por abandonar as causas após ameaças à sua integridade. Fundada pela família Omena na década de 1950, a Bititinga teve seu controle transferido em 1991, quando já enfrentava dificuldades financeiras e era alvo de dezenas de ações trabalhistas, para o ex-deputado federal cearense e ex-ministro Ricardo Fiúza (falecido em 2005). Em dezembro de 1992 e até o encerramento de suas atividades, em 1995, teve como sócio majoritário Alexandre de Coimbra Pinto, apontado pelo MPT como principal responsável pela dilapidação do patrimônio da usina. A ação impetrada pelo MPT teve uma primeira audiência no dia 9 deste mês, tendo ficado definido pelo juiz Edson Francoso nova audiência no dia 25 de julho próximo. Por meio de despacho em abril, Francoso indeferiu o pedido de imediata penhora e indisponibilidade de bens dos réus sob argumento de necessidade de mais tempo para produção de provas e defesa dos acusados.


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Advogados Paulo Jacinto e Tercio Rodrigues seriam mentores do esquema; Emilio Maya de Omena também responde por fraude

OS RÉUS E AS ACUSAÇÕES ALEXANDRE JOSÉ COIMBRA PINTO Sendo um dos ex-sócios da Usina Bititinga S/A, realizou diversos atos arbitrários com as propriedades da mesma. Durante sua gestão, conforme decisão de desconsideração da personalidade jurídica, iniciou-se um processo de dilapidação dos bens da Usina Bititinga S/A.

ESPÓLIO DE RICARDO FERREIRA FIÚZA/ INVENTARIANTE ILSE CHAVES FIUZA

Sendo um dos ex-sócios da Usina, dispôs de bens da mesma, por meio de Assembleia Geral, quando esta já se mostrava insolvente.

EMILIO ELIZEU MAYA DE OMENA, IONE LAGES DE OMENA E MARIA DA GLORIA DUARTE OMENA

Obtiveram a partir de uma “cisão” quando da retirada da sociedade empresária, 1230 hectares de terra como parte da negociação para a transferência da sociedade à família Fiuza. Ao tempo da cisão a empresa já contava com significativo passivo trabalhista. Tais atos foram praticados em fraude à execução, sendo tais réus já responsabilizados pelos créditos trabalhistas, em razão da desconsi-

deração da personalidade jurídica da empresa já reconhecida pelo Poder Judiciário trabalhista.

ARTHUR CESAR PEREIRA DE LIRA

Adquiriu, com vício de consentimento, de reclamantes trabalhistas a Fazenda Estreito (246 hectares).

OLAVO CALHEIROS FILHO

Adquiriu de reclamantes trabalhistas a Fazenda Capoeirão (350 hectares), a Fazenda Boa Vista (500 hectares), Fazenda Nova (275,4 hectares), Fazenda Serra Azul (142,2 hectares) e a Fazenda Santo Aleixo (590,0 hectares), todas localizadas em Murici e declaradas à Receita Federal. Os diversos depoimentos de trabalhadores rurais lesados comprovam a posse ilegal das fazendas adjudicadas pelos trabalhadores, além do impedimento de estes tomarem posse das terras adjudicadas, tendo agido através não só do advogado Tercio Rodrigues, como do advogado José Marcelo Vieira de Araújo, para compelir os trabalhadores a lhe venderem as terras por preço vil e mediante fraude e ameaça.

TÉRCIO RODRIGUES DA SILVA

O advogado é um dos principais mentores das fraudes perpetradas contra os trabalhadores. Segundo

os depoimentos dos trabalhadores, o advogado deixou de prestar as devidas informações sobre o andamento processual, atuou contra os interesses dos trabalhadores a quem deveria defender, coagindo-os moralmente a vender as propriedades adjudicadas. Teria falsificado documento ou contribuído para o crime de falsidade ideológica ao apresentar pessoa diversa para assinar documentos em nome do verdadeiro reclamante. Teve participação ativa nas adjudicações viciadas, eis que realizadas sem o conhecimento do cliente, e em seguida engendrado todos os seus esforços para que os trabalhadores vendessem a propriedade por preço vil, ao invés de buscar a efetiva imissão na posse dos bens adjudicados.

PAULO JACINTO DO NASCIMENTO

Paulo Jacinto do Nascimento era o advogado da Bititinga e foi beneficiado pelo arrendamento de várias fazendas da usina, das quais tomou posse e não destinou os frutos do arrendamento para o pagamento da dívida. De acordo com o Ministério Público do Trabalho, além de ser verdadeiro sucessor trabalhista e assim responsável pelo pagamento dos créditos trabalhistas devidos, através dos procedimentos ardilosos exaustivamente narrados

e comprovados logrou adquirir dos trabalhadores que adjudicaram as diversas fazendas as respectivas terras por preço vil e mediante coação moral e ameaças. Adquiriu de reclamantes trabalhistas a Fazenda Gitituba (800 hectares), em Messias, Fazenda Águas Belas (162 hectares), em Flexeiras, e a Fazenda Triunfo, também em Flexeiras (500 hectares), declaradas à Receita Federal.

ANA VERUSKA MARIA DE CERQUEIRA CALHEIROS

Esposa de Olavo Calheiros Filho, adquiriu de reclamantes trabalhistas a Fazenda Poço Dantas (482 hectares) e a Fazenda Santo Aleixo (581 hectares), mediante procedimentos fraudulentos e com vício de consentimento, conforme depoimentos.

REGINA MARGARIDA GUEDES NOGUEIRA GOMES DE BARROS:

Adquiriu de Talvanes de Albuquerque, em 9 de janeiro de 1996, que adquiriu da Usina Bititinga S/A, em 16 de agosto de 1993, por compra e venda, a Fazenda Capoeirão (hoje denominada Fazenda Vila d’Água). Há litígio entre ela e Arthur Cesar Pereira de Lira sobre a propriedade do imóvel, uma vez que há sobreposição entre a Fazenda Capoeirão e a Fazenda Estreito.


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O QUE PEDE O MPT - A condenação solidária dos réus ao pagamento de indenização, a ser arbitrada pelo juízo, no valor não inferior a R$ 50 milhões, decorrentes dos danos morais difusos e coletivos, valor este corrigido monetariamente e com juros até o efetivo recolhimento, nos termos da Súmula 439 do TST, em favor de instituições de utilidade pública a serem indicadas oportunamente, que atendam ao interesse público ou social e não tenham finalidade lucrativa, ou ao FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador - A condenação genérica e solidária dos réus ao pagamento de indenização pelo dano moral sofrido pelos trabalhadores, individualmente considerados, no valor equivalente ao dobro do crédito reconhecido e não pago, devidamente atualizado, sendo que a liquidação da indenização do dano moral individual, devida a cada trabalhador, será realizada quando da fase de liquidação e/ou execução de sentença. Segundo a 1ª Vara do Trabalho de União dos Palmares, os créditos dos trabalhadores perfazem o valor de R$ 40.021.378,17, atualizados até 31 de maio de 2015, totalizando R$ 80.042.756,34 - A indisponibilidade dos imóveis que pertenciam à usina e foram alvo de adjudicações fraudulentas ou com vício de consentimento e dos distribuídos entre os sócios quando a situação da Bititinga já era de insolvência

- Que Olavo Calheiros Filho e Paulo Jacinto do Nascimento sejam reconhecidos como devedores trabalhistas, já que possuíam contratos de arrendamento anteriores às causas

IMÓVEIS SOB SUSPEITA 1) Fazenda São Bernardo 2) Fazenda Flor do Bosque 3) Fazenda Capoeirão (Fazenda Vila d´Água) 4) Fazenda Boa Vista 5) Fazenda Estreito 6) Fazenda Duas Barras 7) Fazenda Bananeiras 8) Fazenda Poço Dantas 9) Fazenda Santo Aleixo 10) Fazenda Vitória 11) Fazenda Sítio Lagoa 12) Fazenda Triunfo 13) Fazenda Águas Belas 14) Fazenda Fortaleza 15) Fazenda São Pedro do Trapiche 16) Fazenda São Pedro do Trapiche II 17) Fazenda Prazeres 18) Fazenda Serra Verde

Segundo MPT, Arthur Lira adquiriu mediante intimidação a Fazenda Estreito, adjudicada por trabalhadores rurais


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DECADÊNCIA

Sucata da Triunfo vai a leilão Usina chegou a gerar 3.200 empregos em período de safra JOSÉ FERNANDO MARTINS josefernandomartins@gmail.com

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ais uma usina de Alagoas acabou reduzida a sucata. A decadência da vez envolve a Triunfo Agroindustrial SA, que foi fundada em 1959 pelo ex-prefeito de Atalaia e ex-deputado estadual José Tenório. O empreendimento, localizado no município de Boca da Mata, chegou a ser considerado sinônimo de empreendedorismo em Alagoas, uma vez que foi a primeira usina da Região Nordeste a produzir açúcar orgânico. Com leilão marcado para o final deste mês, a atual situação da Triunfo é bem diferente do seu passado ilustre. Depredada pela ação do tempo, o leilão, na verdade, será um “desmanche” a partir da venda de maquinários, estruturas metálicas corroídas, tanques, sacos de cal e veículos, como tratores e reboques. Para se ter uma ideia das condições dos materiais, uma das cláusulas do edital do leilão deixa claro que “os bens serão leiloados no estado em que se encontram, não cabendo nenhuma reclamação por parte dos licitantes após a arrematação”. A Triunfo Agroindustrial entrou com pedido de recuperação judicial em outubro de 2015. Conforme nota da empresa divulgada na época, o motivo da recuperação judicial foi a “crise econômica que castiga o Brasil e muito especialmente o setor, somada às dificuldades causadas pelas recorrentes secas que fizeram reduzir drasticamente a produtividade dos canaviais nos últimos anos”. Ainda em outubro de 2015, a usina decidiu ficar de fora da moagem da safra daquele ano e deixou de operar o parque industrial no ci-

Usina Guaxuma terá novo leilão

clo 16/17. A expectativa era que a fábrica voltasse a funcionar em até dois anos, o que não aconteceu. Com a medida, vieram as demissões. A unidade sucroalcooleira empregava cerca de 3.200 trabalhadores em período de safra. O caso tramita na 1ª Vara Cível da Capital - Foro de Maceió, sob os cuidados do magistrado Ivan Vasconcelos Brito Junior. O processo é de número 072504424.2015.8.02.0001. Entre os credores estão: Banco do Nordeste do Brasil S/A, Gerdau Aços Longos, a Associação dos Plantadores de Cana de Alagoas (Asplana), Banco Daycoval S/A, Tim Celular e Brasil Telecom Comunicacao Multimidia Ltda. SERVIÇO O leilão está marcado para os dias 28, 29, 30 e 31 de maio, a par-

tir das 10h. O local será a própria usina, situada na Vila Triunfo, na zona rural de Boca da Mata. A empresa responsável será a Portal dos Leilões e terá como leiloeiro oficial Isaldo Sobral e Silva. O leilão será realizado de forma presencial e on-line. Na página da Usina Triunfo no Facebook é possível acompanhar as lamentações de funcionários. “É triste ver essa situação. Os donos deixaram a usina em mãos erradas. Era muito chefinho sem saber trabalhar lá dentro”, comentou um. “Foi a Usina Triunfo que me deu a oportunidade do meu primeiro emprego, isso há mais de trinta anos. Fiz o teste e passei para trabalhar no Laboratório de Análises de Cana. Eu amo essa usina como também a cidade de Boca da Mata”, relembrou uma ex-funcionária.

Parque industrial de usina foi depredado pela ação do tempo

Quanto ao leilão da Usina Guaxuma, situada em Coruripe, da Massa Falida da Laginha, que engloba as empresas do ex-deputado federal João Lyra, um requerimento formulado pelo Banco Múltiplo S.A informou à Justiça de Alagoas que o edital de leilão englobou bens móveis que integram o seu parque industrial que são objeto do pedido de Ação de Restituição cuja apelação encontra-se pendente de julgamento. Sendo assim, a instituição financeira pediu a exclusão dos referidos bens do edital. O valor da ação é de R$ 7.030.391,81. Segundo os autos do processo, “o desembargador Relator manifestou-se no sentido da manutenção do edital e do próprio leilão, mas concedeu a tutela de urgência para reservar o valor correspondente aos bens objeto do pedido de restituição, em caso de leilão positivo, até que seja julgado o mérito da apelação”. Foi determinado que seja cumprida a decisão em sede de tutela de urgência, dando-se continuidade ao leilão de bens da Usina Guaxuma, todavia, procedendo o administrador judicial à reserva do valor equivalente aos bens móveis que são objeto do pedido de restituição (parque industrial) até o julgamento da apelação. A data de retomada do leilão ainda não foi definida.


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extra BRUNO FERNANDES

POBREZA

Alagoas tem segunda maior parcela de pobres do País Metade da população no Nordeste vive em condições miseráveis AGÊNCIA NOSSA

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uem visita os lençóis maranhenses e contempla a paisagem exuberante ao longo de um dos estados mais belos do Brasil não compreende por que mais da metade de sua população vive na pobreza. O Maranhão é o estado com maior percentual de pobres no Brasil e no último ano pesquisado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a fatia cresceu ainda mais: de 52,4% para 54,1%. Alagoas aparece em segundo lugar no ranking com 49% da sua população vivendo em condições de pobreza. No Nordeste a pobreza já atinge 44,8% da população — mais de 25 milhões de pessoas. Pela linha definida pelo Banco Mundial – e usada pelo IBGE — são considerados pobres aqueles que vivem com até US$ 5,50 por dia, o equivalente a R$ 406 por mês, segundo a cotação do período analisado. Para a condição de extrema pobreza, o teto é US$ 1,90. A vida da empregada doméstica Rosemeire Souza ilustra bem o que dizem esses indicadores. Ela recebia apenas um quinto do salário mínimo pelo trabalho diário de 8h às 13h. Sem marido, mas com a renda complementada pelo Bolsa Família, Rosemeire conseguiu manter a alimentação durante a infância dos filhos

mais novos, o que não foi possível garantir antes para os demais. Antes do programa social, ela teve que doar os três primeiros filhos, porque o salário precário no Maranhão não garante alimentação de uma família sem ajuda extra. A renda média de quem trabalha no Maranhão é a menor do País, seguida do Piauí. No Nordeste, o rendimento médio equivale a apenas 69% do valor alcançado pela média nacional. E a desigualdade, que aumenta a cada ano, fica escancarada neste indicador: o trabalhador maranhense recebe em média menos de um terço do que ganha um empregado em Brasília.

Maior desigualdade na Bahia Na Bahia, a desigualdade na renda do trabalho entre ricos e pobres é a maior capturada pelo IBGE. Considerando a medida dos 10% mais ricos versus os 40% mais pobres segundo a renda do trabalho, o maior hiato acontece na Bahia. Os baianos no topo da pirâmide detêm cerca de 18 vezes mais renda que os 40% mais pobres. No Brasil, os 10% mais ricos possuem 12,4 vezes mais que aqueles que compõem a

base da pirâmide social. Do começo dos anos 2000 até 2015 houve redução da desigualdade da renda do trabalho no Brasil, movimento atribuído à política de valorização do salário mínimo. Já nos anos seguintes, “devido à redução dos aumentos reais de salário mínimo, à persistência da deterioração dos indicadores do mercado de trabalho e ao aumento da proporção de trabalhadores por conta própria e sem carteira de trabalho, os quais recebem remunerações inferiores”, a desigualdade cresceu aceleradamente, mostra o IBGE na Síntese de Indicadores Sociais de 2018. A Bahia tinha cerca de 6,9 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza em 2017 — 44,8% da população. Ainda que não seja o estado com a maior fatia de população pobre, é o que precisa de mais recursos para contornar o problema porque é o mais populoso em relação aos outros estados com níveis críticos de pobreza. O número de pobres cresceu na maioria dos estados brasileiros, num total de dois milhões segundo a pesquisa do IBGE, de 2018. No País, quase 55 milhões vivem abaixo da linha de pobreza. Houve aumento em todas as regiões, menos no Norte do País, onde estados como Amazonas, Acre e Rondônia ficaram na contramão da tendência segundo a última fotografia do IBGE.

Pobreza é mais acentuada no Sertão de Alagoas


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ENTREVISTA/MARCELO NERI

Meta da ONU nã Saída é “unir o País em agenda econômica e social consistente”, diz especialista SABRINA LORENZI Agência Nossa

“Vale do Silício” catarinense concentra empresas que ajudam a elevar indicadores sociais do estado

POBREZA

“Vale do Silício” ajuda Santa Catarina a reduzir pobreza

Santa Catarina tem reduzido o número de pobres, na contramão da triste realidade brasileira. A gerente de Experiência de Pessoas, Thuany Schutz, está a pleno vapor na contratação de desenvolvedores, programadores, especialistas em marketing, atendimento ao cliente e área comercial. A empresa onde trabalha fornece tecnologia para apoiar estratégias em pontos de venda da Loreal, Unilever, Danone, Motorola, Seara, Samsung, entre outras companhias. Procura gente qualificada para preencher 50 vagas com salários de R$ 2,6 mil a R$ 12 mil. A Involves é uma das empresas que integram o chamado “Vale do Silício Catarinense”. É possível encontrar ali startups, grandes empresas, gestoras de fundos de investimento, aceleradoras, incubadoras, entre outros atores necessários para a formação de ecossistemas de inovação. Localizado em São Francisco, na Califórnia, o Vale do Silício original é uma região conhecida por abrigar os maiores e mais importantes polos de tecnologia e inovação do mundo, berço de empresas

como Google e Facebook. A concentração de polos de inovação fortemente geradores de emprego é um dos motivos que fazem de Santa Catarina modelo em indicadores sociais no Brasil. Além de bons resultados em educação e saúde, o

estado possui a menor fatia da população abaixo da linha de pobreza, devido à geração de emprego e renda. Santa Catarina reduziu em quase 10% a pobreza. Cerca de 8,5% da população está abaixo da linha de pobreza.

A onda de imigração de venezuelanos que provoca forte impacto social em Roraima já aparece nos indicadores oficiais de pobreza. Foi o segundo estado brasileiro onde o percentual de pobres mais cresceu. Cerca de 30 mil pessoas passaram a viver abaixo da linha de pobreza em Roraima, muitas delas nas ruas de várias cidades, principalmente na capital, Boa Vista, e Pacaraima, porta de entrada de imigrantes da Venezuela. A parcela da população pobre passou de 31,4% para 36,1%, num aumento de 20%. Pelo menos 1,5 mil pessoas moram nas ruas e praças da cidade, segundo levantamento da Organização Internacional para Imigrações (OIM), braço da ONU para o tema. Das 154

mil pessoas que cruzaram a fronteira por Roraima de 2015 a meados do ano passado, 75,5 mil ficaram no Brasil. Apesar do fechamento da fronteira neste ano, imigrantes continuam cruzando a fronteira em busca de uma realidade melhor. A Venezuela enfrenta grave crise política e econômica, com restrições no fornecimento de energia e alimentos. Entre os estados que mais receberam imigrantes venezuelanos, São Paulo também exibe más notícias. Foi onde a pobreza mais cresceu no Brasil, reflexo direto da deterioração da qualidade dos postos de trabalho. O estado que mais emprega também é o que mais sente as sequelas dessas mudanças, avaliam pesquisadores.

Imigração impacta indicador de pobreza

D

os maiores retrocessos que o Brasil enfrenta, o crescimento acelerado da miséria e da desigualdade pegou de surpresa mesmo os mais pessimistas. O país que tirou mais de 30 milhões de pessoas da pobreza em dez anos e se tornou referência em políticas de combate à fome de repente jogou de volta na miséria 6,3 milhões – praticamente um Paraguai. As sequelas da recessão que devastou o mercado de trabalho e interrompeu o ciclo de redução da miséria não dão sinais de trégua. A menos que governo e sociedade civil se esforcem para redistribuir renda, o quadro social será de estagnação na melhor das hipóteses, alerta Marcelo Neri, diretor da FGV Social, braço da Fundação Getúlio Vargas para esta área. Em 2030, quando vence o prazo para o cumprimento da primeira meta de desenvolvimento sustentável — erradicar a pobreza extrema –, o Brasil deve no máximo retornar ao patamar de antes da crise, projeta Neri. Foi quando o Brasil conseguiu sair do mapa da fome. Na ocasião o País superou com folga a meta do milênio que era reduzir a pobreza à metade num prazo de 25 anos. A implementação do Bolsa-Família para milhões de famílias acelerou esta tarefa no começo do milênio e inspirou outros países a fazerem o mesmo. Mas do final de 2014 a 2017, os indicadores dispararam, seja qual for o critério adotado para a definição de pobreza. Está em condições de extrema pobreza quem ganha até US$ 1,90 por dia segundo a linha do Banco Mundial. Em pesquisa recente sobre o tema, a FGV Social calculou linha de pobreza de R$ 233 por

mês. Por esta definição, pobres no Brasil cresce três anos de crise. Em 20 sadores estimam estab indicador – nada bom pa eleitoral, que historicam resultados positivos. Com a substituição d assinada por bicos, cresc gente de trabalhadores s aos mecanismos de prot que estão relacionados à ção, como salário mínimo tadoria. Se nada for feito, a ção de renda, que já cres último trimestre de 201 rar, continuará aumenta mento do índice de Gini, a concentração de riqu num ritmo acelerado não de 1989. Neri, por outro lado, existe saída. É preciso o para a questão econômic do soluções para o equilí como para o social. “Hoj está dividido em dois pol uma coisa excluísse a ou tudo pode virar a favor s um choque de confiança n E para isso vai ser prec

BICOS

Com a substituição d carteira assinada por bicos, cresce o contin te de trabalhadores s acesso aos mecanism proteção social que e relacionados à forma ção, como salário mín e aposentadoria.


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não deve ser cumprida, prevê FGV SAULO CRUZ

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efinição, o total de l cresceu 33% em e. Em 2018 pesquim estabilidade do a bom para um ano storicamente exibe vos. ituição da carteira os, cresce o continhadores sem acesso de proteção social onados à formalizao mínimo e aposen-

Então o que fazer? A polarização da sociedade brasileira gera um risco alto para todos os lados. O ganhador leva tudo e o perdedor não leva nada. Unir o país diminui incertezas, é um jogo ganha-ganha. A dificuldade da situação atual é a falta de confiança generalizada no outro e no governo. Mas tudo pode virar a favor se for dado um choque de confiança no sistema. E para isso vai ser preciso unir o país em uma agenda econômica e social consistente. O Plano Real fez isso, a carta aos brasileiros de 2002 também.

feito, a concentraue já cresce desde o e de 2014 sem paaumentando. O aude Gini, que mede de riqueza, segue rado não visto des-

ro lado, avalia que preciso olhar tanto econômica, buscano equilíbrio fiscal, ial. “Hoje o debate dois polos, como se sse a outra … Mas a favor se for dado nfiança no sistema. ser preciso unir o

uição da ada por o contingenadores sem canismos de al que estão à formalizaário mínimo ria.

brasileira e não apenas mais desigualdade. A distribuição de renda passa a ficar mais parecida com o formato do Pão de Açúcar (duas corcovas com um fosso no meio). Mas não é só renda ou riqueza, o pior é a fragmentação das ideias e a repulsa, lado a lado.

Neri diz que concentração de renda está aumentando e que é preciso privilegiar oportunidades às novas gerações país em uma agenda econômica e social consistente”. A seguir a entrevista da Agência Nossa com Marcelo Neri, um dos maiores especialistas em combate à pobreza do País. Agência Nossa: Qual a estimativa da FGV deste ano para o total de pobres no Brasil? Marcelo Neri: Projetar curto prazo no Brasil está mais difícil do que projetar o longo prazo. Preferimos olhar para o horizonte de 2030, prazo para o cumprimento dos objetivos do desenvolvimento sustentável da ONU cuja primeira meta é erradicar a pobreza. Até lá estimamos que se crescermos 2,5% ao ano e mantivermos a desigualdade parada, o Brasil voltará ao patamar de antes desta crise, em 2014, quando 8,38% da população estava na pobreza. Já tínhamos cumprido a meta do milênio em 2015. Nada-

mos e morremos na praia? De 1990 a 2015 reduzimos a pobreza em 75%, superando a meta do milênio que era então reduzir a pobreza à metade em 25 anos. Ou seja, depois de dobrar a meta do milênio, teríamos uma década e meia perdida em termos de combate à pobreza. Esta estimativa considera o aumento da desigualdade social nos últimos anos? Ou haverá trégua na desigualdade medida pelo índice de Gini? Sim, estamos considerando que a desigualdade será mantida. Essa projeção é até certo ponto otimista, considerando que a desigualdade avançou por três anos consecutivos — o que pode sugerir que entramos na fase ascendente de uma nova onda de desigualdade. Do final de 2015 até junho de 2018, o Índice de Gini de renda do trabalho habitual subiu a uma velocidade 50% maior do que

vinha caindo na época de queda da desigualdade brasileira, iniciada em 2001. Isso não acontecia desde 1989, o pico histórico da desigualdade brasileira. Agora, mesmo neste cenário concentrador, investimentos voltados aos mais pobres dos pobres pode ajudar a combater a pior forma de desigualdade associada a pobreza sem gerar stress fiscal. Já dispomos desta tecnologia pronta para ser operacionalizada. Qual plataforma? O Bolsa Família é um mecanismo muito barato de distribuição de renda e de melhora no crescimento pelo lado da demanda. Para cada real gasto no Bolsa Família, há um aumento de R$ 1,78 no PIB; no caso da Previdência o impacto é de R$ 0,52. Existe uma polarização da renda brasileira? Nossas estimativas mostram um aumento da polarização de renda

Quais seriam alternativas de combate à pobreza que o governo Bolsonaro poderia adotar? É preciso privilegiar a igualdade de oportunidades para os pobres e para as novas gerações. Uma reforma da previdência bem desenhada é capaz de fazer isso, a agenda de educação de qualidade incluindo educação financeira e em particular aspectos produtivos na base também. Empreendedorismo e regularização fundiária urbana também são agendas portadoras de futuro para quem ficou parado no século passado. Hoje o debate está apartado em dois polos: na questão econômica, das reformas, contenção de gastos e aumento de produtividade; e na questão social. Se o governo se concentrar somente no social muito provavelmente vai aumentar a pobreza. Mas também não pode deixar de olhar para o social, investindo em melhoras na produtividade na base da distribuição de renda e na equidade dos gastos fiscais. É preciso trilhar pelo caminho do meio contemplando os dois lados da moeda.


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Depressão e a melhor idade

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ara se chegar ao diagnóstico da depressão é necessário passar por uma série de etapas: anamnese com o paciente e a família, exame psiquiátrico (mais detalhado, se for necessário) e avaliação neurológica. Pode-se também buscar exames laboratoriais e de neuroimagem, além de exame clínico geral, quando a psicoterapia não tiver surtindo os efeitos necessários. A depressão tem causas desconhecidas, porém, fatores genéticos, psicológicos, ambientais e bioquímicos podem estar

envolvidos na sua origem e também na sua evolução. Especialmente em pacientes idosos, a depressão geralmente é acompanhada por queixas somáticas (no corpo), hipocondria, baixa autoestima, tendência autodepreciativa, alteração do sono e do apetite, ideação paranoide, sentimentos de inutilidade, além de pensamento recorrente de suicídio. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que o Brasil tenha 30 milhões de idosos em 2025. Poucas políticas públicas têm sido concretizadas, tanto a nível municipal, estadual como federal para acolher essa população que trabalhou a vida inteira para construir o país. É preciso mudar essa realidade.

Medicação e depressão

A medicação é uma das vertentes que podem ser utilizadas para amenizar o sofrimento psíquico, mas não é a principal. A psicoterapia, aliada a uma atividade física e a uma alimentação natural, pode reduzir, drasticamente os efeitos do sofrimento, contribuindo para reduzir, inclusive, o tempo de melhora do paciente. A depressão não tratada coloca em risco a vida dos pacientes, além de elevar o sofrimento e especialmente comprometer a saúde total da pessoa, tornando-a, inclusive, suscetível de desenvolver ideação suicida.

Origens da depressão

Embora a literatura indique que há, pelo menos, duas teorias sobre a origem da depressão, ou seja, a pessoa pode ter o DNA definido para o surgimento da doença; o transtorno pode também surgir a partir de ambientes estressores (família, trabalho), quando são contundentes e frequentes. Há especialistas da área da psiquiatria e da neuropsicologia que afirmam, categoricamente, que o gatilho para o surgimento da depressão esteja mais voltado para as questões externas do que internas. Ou seja, a história de vida e os estressores externos podem ser os disparadores do transtorno.

Sintomas da depressão

Ainda há muita dúvida quanto aos sinais e sintomas da depressão. Os relatos científicos confirmam que a pessoa pode apresentar: desinteresse, apatia (sem vontade para fazer nada) e tristeza profunda. Todos esses sintomas nem sempre estão associados a uma perda (de um objeto ou de uma pessoa – um amor por exemplo), eles podem se apresentar por uma circunstância numa fase específica da pessoa. Esses sintomas são interpretados, também, como melancolia ou angústia, devido as relações e situações que a pessoa é submetida no dia a dia, nas relações familiares, sociais e no trabalho e estão ligadas com a questão da contemporaneidade.

Tratamento da depressão

Nem sempre uma pessoa que apresenta um quadro ou sinais de depressão está, realmente, num processo depressivo, pode ser uma tristeza profunda, como por exemplo um luto. O tratamento da depressão ocorre, dependendo da gravidade emocional da pessoa, com medicamento (se for necessário), mas prioritariamente com psicoterapia, onde a pessoa pode verbalizar o que está sentindo e isso reduz o sofrimento psíquico causado, seja qual for a dor. Os trabalhos científicos têm demonstrado que os pacientes em tratamento diminuem, significativamente, o risco de suicídio, melhora o estado geral de humor e garante uma melhor qualidade de vida.

TPB

Origem da palavra. A palavra tem origem inglesa borderline e é uma palavra composta por mais outras duas: border, que significa borda, limite, margem, e line, que significa linha. A pessoa que apresenta os sintomas fica no limite entre a neurose (agravo de menor intensidade) e a psicose (quando a pessoa perde, totalmente, a noção de realidade). São pessoas que estão no limite de um processo psíquico intenso e que a qualquer momento podem passar a sofrer um outro transtorno, até mais grave do que o Borderline, como as esquizofrenias, ou seja, quando perde o controle total de sim mesmo, embora em muitos casos – de esquizofrenias- , apesar do transtorno e se tiver em tratamento a pessoa possa ter uma vida razoavelmente adequada. A autolesão (com tesouras, lâminas e facas) aparece em cerca de 80% dos casos em adultos. O surgimento do transtorno tem ligação com as dificuldades nos relacionamentos sociais, a impulsividade da pessoa, além dela, até, confrontar os comportamentos contra a lei.

Sintomas da TPB

Um dos principais sintomas é o esforço para evitar o abandono de alguém, sendo real ou imaginário. Apresenta relacionamento pessoal instável e intenso, principalmente desvalorização de si mesmo (baixa autoestima). Também pode apresentar

SAÚDE MENTAL

n arnaldosanttos.psicologo@gmail.com

Reinventar Na vida, a mudança, o movimento, a energia que se gasta para se chegar a um determinado lugar são fundamentais para ser feliz. É preciso mudar, se reinventar, todos os dias. (Arnaldo Santtos)

perturbação de identidade e instabilidade da própria imagem (não se vê no espelho, vê outra pessoa ou outra imagem). Pode apresentar também comportamentos como gastos excessivos (oniomania), sexo abundante, abuso de substâncias ilícitas, condução de veículo com imprudência e uma dieta compulsiva.

Sintomas da TPB II

Recorre sempre em comportamentos ou ameaças suicidas ou de autolesão. Sentimentos crônicos de vazio (de vida), instabilidade afetiva, ideações paranoides (alguém está seguindo), irritabilidade difusa (sem causa específica), estresse constante.

TPB e suicídio

O transtorno tem uma característica diferenciada, possui um comportamento suicida de repetição. Ou seja, pode tentar praticar o ato diversas vezes. Estima-se que cerca de três quartos das pessoas tentam o suicídio e cerca de 10% morrem em consequência do comportamento. A psicoterapia ajuda a pessoa a amenizar o sofrimento. Arnaldo Santtos é Psicólogo Clínico - CRP-15/4.132. Atendimento virtual pelo site: www.vittude.com. Consultório: Rua José de Alencar, 129, Farol (atrás da Casa da Indústria), Maceió-Alagoas. Atendimento também na CLÍNICA HUMANUS: Rua Íris Alagoense 603, Farol, Maceió-AL. (82) 3025 4445 / (82) 3025 0788 / 9.9351-5851 Email: arnaldosanttos@uol.com.br arnaldosanttos.psicologo@gmail.com.

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Não vai dar certo

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uando o petismo assumiu afinal o governo brasileiro, a maior preocupação de seus dirigentes foi não criar marolas na economia. Sabiam que se isso poderia entornar o caldo para o lado deles culminando até com sua defenestração do poder. O que terminou acontecendo 13 anos depois na gestão destrambelhada do poste que o lulismo havia plantado na presidência para continuar mandando e roubando. De lá para cá são quase 3 anos do país em crise. Primeiro porque se trocou uma quadrilha (a do PT) por outra (a do PMDB). Que no poder foi encalacrada nos seus primórdios pela fatal gravação do Joesley Batista nos porões do Palácio do Jaburu, residência do então “presidente” e, agora, com o inicio caótico do Governo Bolsonaro que dia a dia reduz as expectativas daqueles que o elegeram para evitar o retorno do PT e com esperança de um Brasil melhor.

Seu discurso ideológico vezo e radical, as idas e vindas de suas declarações estapafúrdias logo “consertadas” (não se desmente o presidente...) por ministros e assessores, o apoio aos filhos aloprados fanatizados por um “ideólogo” charlatão que os comanda, a ocupação diária do tempo com assuntos e situações que deveriam passar longe da missão do presidente da República, o despreparo basal (nos mesmos moldes do Lula) no tocante à liturgia do cargo e ao modo de se comportar perante outras nações (o servilismo aos EUA é vexaminoso), são alguns dos sinais de que a coisa não vai bem e tende a degringolar. Elas indicam fortemente um padrão. E se assim for, este país está perdendo mais uma vez a oportunidade de se modernizar, de avançar rumo ao desenvolvimento, de se posicionar como liderança no cenário regional e até mais importante que isso: iniciar um novo caminho que nos distanciasse do esquerdismo comunista que nos dominou

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ELIAS

(e atrasou) nas últimas 2 décadas. O liberalismo do capitão parece que era só para atrair votos na eleição. Falta um norte ao seu governo e sobram radicalismos juvenis e posturas inadequadas. Não que sejamos contrários à agenda moralizadora que deve acontecer, mas de modo mais sóbrio e menos aparvalhado. Os desastres vão se produzindo por todos os cantos. O quadro econômico de tão frágil traz no seu bojo riscos elevadíssimos, até porque não há mais gordura a ser queimada (o ministro Guedes acabou de afirmar no Congresso Nacional que chegamos ao fim do poço, que os próximos passos são o calote de dívidas e o não pagamento dos servidores). O desalento se espalha na seara econômica do país. Uma nova recessão (e, portanto redução da renda) seria trágica para os mais pobres e para as empresas. O aumento da taxa de desemprego é mau sinal.

Da memória e dos amigos

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a minha mente aparecia aquela grande casa com janelas para a rua e um gradeado fechando o resto do terreno enorme. A lateral da casa era um alpendre, que se estendia por quase toda profundidade, cheio de confortáveis cadeiras de vime onde sempre se viam pessoas que tanto eram idosos residentes, como hóspedes. Lembrava que era um hotel, mas o nome não me vinha. Pensei em Majestic, mas um outro nome ocupava minha lembrança, sem se mostrar. Perguntei ao amigo, contemporâneo e companheiro de andanças pelo nosso Centro da cidade, Ednardo Quintiliano, e nesse meio tempo aclarou-me:

Hotel Luso Brasileiro. Sem que lhe tivesse dito, Ednardo veio com a resposta que esperava, era de fato aquele, o hotel. Tinha ideia de sua localização, mas faltava a certeza. Imaginava ser onde hoje se ergue o edifício do Banco do Brasil, mas para confirmar apelei para quem sempre está pesquisando sobre nossa história, o jornalista e editor Edberto Ticianelli, que, muito gentilmente, me atendeu. Enviou-me um recorte do Jornal do Commércio do Recife, de uma quarta-feira, 13 de abril de 1938, onde vimos a correta localização. Senão vejamos: “o contrato de venda com reserva de domínio e posse foi quanto

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FRAGOSO n Economista

Que o setor privado (e agora o próprio governo) tem referendado ao revisar para baixo o ritmo de crescimento (era de 2,5% em janeiro e 135 dias depois já anda em 1%, segundo projeções do Banco Itaú). Outras estatísticas recentes indicam redução ou estagnação do investimento, da produção industrial e do consumo. As incertezas da política estão afetando a economia. E isso é muito, muito perigoso para todos. Caminhamos rapidamente para o imponderável. E não há no cenário político nenhum indicativo de que isso vá melhorar. Não é preciso ser visionário para ver que não vai dar certo.

O liberalismo do capitão parece que era só para atrair votos na eleição. Falta um norte ao seu governo e sobram radicalismos juvenis e posturas inadequadas.

JOSÉ MAURÍCIO

ao Hotel Luso Brasileiro, sito às ruas Senador Mendonça, 120 e Conselheiro Lourenço de Albuquerque, 75”. Ora, se estava ele neste número da Senador Mendonça, é exatamente onde hoje está erguido o Edf. do Banco do Brasil. E Edberto lembra que o Lyceu Alagoano era em frente e tinha o número 153. Lyceu que posteriormente abrigou o Forum e hoje uma repartição do Estado. Assim como o Luso Brasileiro deu lugar ao Banco do Brasil, a casa vizinha, de portas e muitas janelas, deu lugar ao Edf. Walmap. Era a casa do cônego Hélio Lessa Souza, que oficializava as cerimônias religiosas do Colégio

BRÊDA n Economista

Diocesano. Lembro, quando passava a pé, de sua casa até o colégio, quase no final de minha rua do Macena, e a garotada gritava: “Sua benção, padre”. E assim vou colocando aqui as lembranças que me vêm, enquanto a memória permite e os amigos ajudam.

Assim como o Luso Brasileiro deu lugar ao Banco do Brasil, a casa vizinha, de portas e muitas janelas, deu lugar ao Edf. Walmap. Era a casa do cônego Hélio Lessa Souza, que oficializava as cerimônias religiosas do Colégio Diocesano.


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A justiça como tema

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o artigo desta semana vou tratar de dois assuntos. Coincidentemente, os dois temas estão relacionados com a nossa justiça brasileira, que foram citadas, quase que diariamente, nos noticiários da nossa imprensa. No primeiro caso, me refiro à nova prisão decretada por um juiz carioca para o ex-presidente Michel Temer e seu amigo pessoal coronel Lima. Nova prisão, porque esse mesmo juiz já havia mandado para a cadeia esses dois senhores, em uma etapa da Operação Lava Jato, na denúncia de propina por eles recebida no caso das obras dos portos, em São Paulo. Depois de uma ação cinematográfica, e que ainda envolveu o senhor Moreira Franco, com direito a imagens aéreas, comboio de viaturas da Polícia Federal, emissoras de televisão transmitindo ao vivo, a justiça mandou que, poucos dias depois, os presos provisórios fossem mandados para casa, onde responderiam pelas denúncias em liberdade. Na oportunidade, o que se gastou com combustível, diárias e alimentação na ope-

ração, daria para sustentar muitas famílias que vivem na linha de pobreza, desempregados e sem dinheiro para comprar um pão. Pouco tempo depois, o mesmo juiz carioca, fanfarrão e que gosta de aparecer mais do que o processo, mandou prender, novamente, o ex-presidente e seu amigo. Dessa vez, os dois não precisaram ser levados para o Rio de Janeiro. Ficariam à disposição da justiça lá mesmo, em São Paulo. Como era de se esperar, os advogados entraram em ação e, mais uma vez, conseguiram a liberdade, concedida pelo Superior Tribunal de Justiça, para responderem ao processo da mesma forma que da vez anterior, ou seja, fora da cadeia, pois não representam nenhum perigo para o andamento das investigações e do processo. Primeira pergunta: se os recursos gastos com essas prisões saíssem do bolso do juiz Bretas, ele agiria da mesma forma? Segunda pergunta: a exemplo do ex-presidente Lula, que passou todo o processo livre e viajando o Brasil em campanha, por que com o Temer tem que ser diferente?

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Terceira pergunta: o cidadão, pelo entendimento do Supremo Tribunal Federal, só vai preso depois de julgado em Segunda Instância, por que valia para o Lula e não vale para o Temer? Com as respostas os juristas brasileiros. O segundo tema está ligado ao laudo do Serviço de Geologia do Brasil, que concluiu pela culpabilidade da empresa Braskem - leia-se Odebrecht - como a principal responsável pelos graves problemas vividos pelos moradores dos bairros Pinheiro, Mutange e Bebedouro, em Maceió. Novamente, entra em ação a justiça e, dessa vez, a alagoana. Ao tempo em que as recomendações principais são de que os moradores precisam continuar deixando suas casas, fazendo recadastramento e recebendo ajuda moradia, todos querem saber quem vai pagar os prejuízos e quando o dinheiro será liberado. Em última análise, como principal responsável pelos problemas dos bairros, a Braskem, exploradora do sal-gema na região, é que está sendo cobrada por todos os prejuízos cau-

Os anjos e o demônio do sanatório

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o dia 11 de maio, sábado, íamos a Recife, eu, meu marido e minha neta. Logo depois de Messias, começou a chover muito forte. O carro derrapou e capotou. Graças a Deus saímos vivos, com pancadas e pequenos cortes. Começou, então, nossa luta para o atendimento de socorro. Logo, logo, apareceram pessoas do bem para nos ajudar: um caminhoneiro, um motoqueiro, uma senhora chamada Kelly, residente nas proximidades. Vendo que estávamos lúcidos e sem fraturas, acionaram a Polícia Rodoviária Federal e o Samu, que chegaram quase ao mesmo tempo. Os dois rapazes da PRF de União do Palmares, cujos nomes não guardei, foram competentes, ágeis, gentis e muito atenciosos. A dupla do Samu, da base de Rio Largo, era composta do socorrista Adriano e de uma moça chamada Adália. Prestaram os primeiros socorros, tiraram pressão e outras providências precavendo sequelas. Acharam que deveríamos ir a um hospital. Depois de verificarem nosso plano de saúde, o Fusex, gerido pelo Exército Brasileiro, ligaram para o médico de lá e fomos encaminhados para o Hospital Sanatório. Chegando ao lugar indicado, fomos atendidos por um médico

chamado Leandro Montenegro Ayres. Não nos olhou, não nos examinou, não nos tocou e nos encaminhou para o HGE, pois segundo declarou tudo no Sanatório é na base do “achismo”, sem condições para providenciar os exames necessários. Eu e meu marido, com a testa sangrando, e no meu caso, com muita dor de cabeça. Disse a ele: “Doutor, o senhor nem nos tocou!” Ao que ele bateu no meu ombro e replicou ironicamente: “Pronto, já toquei!” Vendo isso, com pressão alta, meu marido gritou: “Você nos respeite, não faça gozação”. E ele, o médico, bem tranquilo, respondeu: “Eu também quero ser respeitado”. E sumiu. Recusei-me ir ao HGE e voltamos para casa. Quem fez o curativo na minha testa foi Adália, do SAMU, apenas com soro fisiológico. Os atendentes do SAMU foram maravilhosos. Gostaria que a direção do Serviço Médico de Emergência parabenizasse os dois e colocasse um elogio na ficha funcional deles. Minha neta, Maria Teresa, apesar de ter só 19 anos, foi outra santinha na hora do acidente. Cuidou de mim e do avô, sempre pedindo calma e ligando para nossos familiares. Um ponto negativo do fatídico acidente foi a Condor, empresa responsá-

vel pela remoção do veículo avariado, indicada pela seguradora do Banco do Brasil. O motorista apossou-se de bens deixados pelas vítimas no automóvel sinistrado. Estava com meus óculos no rosto quando foi censurado por um parente nosso que chegou ao local. Deus coloca pessoas boas em nossa vida: a senhora Kelly ficou todo tempo conosco, ofereceu sua casa para descansarmos e quando saímos na ambulância, ela afirmava: “Fiquem tranquilos; só largo seu carro quando chegarem seus parentes”. Então gostaria de frisar com bem força os agradecimentos às pessoas que nos ajudaram e nos socorreram em momento tão difícil; nossos anjos: - Meu irmão José e minha cunhada Lineuza, que nos socorreram com tanto carinho. Os policiais da PRF, eficientes, competentes e atenciosos. Kelly, mensageira de Deus, nos proporcionou carinho e atenção. Eudson, da Carvalho Guinchos, irmão de meu genro, evitou o saque do carro e o removeu para Maceió. Mas, nessas horas aparecem os demônios e aí vai nossa queixa: - Aos saqueadores de beira de estrada, afastados do local pela enérgica ação dos policiais rodoviários. - Ao motorista da empresa de guinchos Condor, por suas atitudes alta-

21 JORGE

MORAES n Jornalista

sados, e não poderia ser diferente. Mas, pergunto: e as autoridades do estado e do município não vão ser responsabilizadas também? Só sei que, esta semana, a justiça alagoana, na pessoa do presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Tutmés Airan, cobrou da Braskem pressa e a disponibilidade dos recursos para as indenizações, entendendo, especialmente, o momento e a necessidade de continuar com a compreensão da empresa, para continuar operando no estado. Sensato, sem dúvida.

Pouco tempo depois, o mesmo juiz carioca, fanfarrão e que gosta de aparecer mais do que o processo, mandou prender, novamente, o ex-presidente e seu amigo. Dessa vez, os dois não precisaram ser levados para o Rio de Janeiro.

ALARI ROMARIZ

TORRES n Aposentada da Assembleia Legislativa

mente reprováveis. Reclamarei aos dirigentes da empresa. - Ao grande demônio, Dr. Leandro Montenegro Ayres, do Hospital Sanatório. Não prestou o mínimo atendimento. Sua principal característica foi a ironia dirigida aos pacientes. Indelicado, grosseiro e gozador nas menores perguntas que fazíamos. A diretoria do HS e do CRM devem se pronunciar sobre o ocorrido. Estou com 78 anos, machucada, fragilizada, dolorida, mas agradecida a Deus por estar viva. Aprendi que, nas horas difíceis, aparecem anjos e demônios, que nada é nosso, tudo é do Pai e que na vida apenas um lema existe: só por hoje. Mais uma vez lembro aos leitores: Deus existe, não duvidem!

Estou com 78 anos, machucada, fragilizada, dolorida, mas agradecida a Deus por estar viva. Aprendi que, nas horas difíceis, aparecem anjos e demônios, que nada é nosso, tudo é do Pai e que na vida apenas um lema existe: só por hoje.


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A voz e o deserto

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squeçam o Olavo de Carvalho das redes sociais, das lives desaforadas e muitas vezes destemperadas. Ali está o homem no sentido mais elementar e popular que damos ao ser humano. Ali está uma pessoa que tem sangue nas veias, um feixe de nervos um tanto já desgastados pelo tempo e, principalmente, alguém que, no que pese sua grande capacidade intelectual e cultural, é de carne e osso; alguém que, apesar de ter alcançado um conhecimento filosófico invejável, ainda tem a capacidade de se indignar; alguém que não mais depende de nossa burocracia estatal para sobreviver, mas que ainda tem sincera preocupação com os caminhos e destinos de seu País natal. Finalmente, ali está alguém que, detentor de um cabedal de conhecimento político e econômico extremamente profundo, tem acertado em cheio todos os prognósticos feitos em referidas áreas ao longo desses últimos vinte ou mais anos. Ali está alguém que há muito vem pregando e demonstrando que a rainha mídia está nua, que nosso governo é mero espectro de um antigo governo nacionalista autônomo e independente e que, hoje, segue apenas uma cruel cartilha globalista onde não mais existe a mais tênue marca de autonomia legislativa, de costumes morais consistentes ou de uma formação religiosa

sólida. Tem ele gritado e pregado no deserto, alertando para nos mostrar que aquilo onde os incautos sempre viram ser a marcha natural dos tempos, onde as distâncias praticamente desapareceram, onde os costumes e hábitos são compartilhados através das mais diversas formas de mídia na hora do jantar de qualquer família, desde o Japão até a mais recôndita taba da Amazônia é, na verdade, um grande plano de estupidificação mundial que objetiva a desnacionalização dos países e sua substituição por um governo globalista, sem rosto aparente, mas com um poder hipnotizante. Um Grande Irmão oculto, impossível de ser identificado e materializado. Portanto, inatingível por qualquer ação humana desencadeada por grupo ou possível segmento social politicamente isolado. Todos nós estamos pasmos e perplexos com o grande número de pessoas de todas as faixas etárias que vivem hoje sob forte depressão. Se as condições materiais de todos se encontram em níveis bem superiores aos dos anos cinquenta e sessenta, qual então a causa de tamanha desestruturação psicológica de tantos? Aumento contínuo da violência e outras tragédias tais? A resposta vem sendo dada pelos escritos de Olavo de Carvalho em suas obras de maior consistência, em seu curso online de filosofia e no breve pro-

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ISAAC SANDES

grama televisivo chamado Mídia sem Máscara que chegou a ter exibido um pequeno número de edições. Por esta razão é que, no início, pedi que esquecessem o Olavo do FaceBook, do Twitter ou mídias similares. Em sua obra Jardim das Aflições, Livro IV, capítulo 7 pgs 169 e seguintes, onde discorre sobre o Materialismo Espiritual, Olavo nos dá uma visão das origens e fundamentos do processo de desconstrução espiritual levado a efeito atualmente por essas danosas forças. Começa por demonstrar a histórica divinização do espaço ocorrida no seio das grandes tradições espirituais, desde os bantos, Yorubas e demais sociedades primitivas, as quais ao expulsarem o Deus único de suas tradições religiosas, passaram a uma prática religiosa precária onde, no lugar da divindade suprema desaparecida, passaram a cultuar deuses da natureza e seus antepassados. Segue daí até a divinização do mesmo espaço, agora, pela concepção matemática da natureza, começando com Nicolau de Cusa e culminando com Augusto Comte. À divinização do espaço, segue-se a divinização do tempo no Ocidente, a qual concede à história o mesmo culto e status divino que um dia fora dado aos antepassados e aos deuses da natureza. Surge aí o historicismo, onde a história é elevada à categoria de divindade. Sem maior aprofundamento, o que

S

bel prazer da maré maliciosa. Breves momentos de descontrole total no meio de um turbilhão em que o único pensamento é o medo. Com frequência, naquelas horas em que deitamos a cabeça no travesseiro e fazemos um balanço do dia e de nossas vidas, paramos para pensar nos problemas e preocupações, refletir quem somos e o nosso papel no mundo. E o principal: o que será de mim amanhã? Horas que costumam ser cruéis, lagartixas parecem passear no estômago enquanto bolas de pingue-pongue quicam dentro da cabeça. Isso sem falar do tapete que insiste em ficar roçando na língua. Uma primeira boa nova para quem já experimentou esta sensação: é normal! Todo mundo sente isso de vez em quando. A única diferença é a intensidade: uns sentem mais enquanto outros passam por esta experiência poucas vezes na vida. Mas o fato é que vez

DIAS n Promotor de Justiça

foi dito serve apenas para demonstrar que os dois movimentos acima expostos, segundo Olavo, foram, entre outras, as causas originárias da irreligiosidade moderna. Dita irreligiosidade, que tem alcançado maciçamente o pensamento ocidental atual, talvez seja uma das causas que nos tem levado a uma estupidificação intelectual, a um torpor espiritual que tem atingido nossos jovens ou sociedade em geral de uma forma alienante e quase nos tem levado à demência espiritual. O materialismo histórico, a fé cega na verdade científica, tudo isto tirou Deus do homem sem colocar nada em seu lugar. Daí sua fragilidade em aceitar imposições e imposturas que o envolvem num redemoinho de modismos, contradições e incertezas que, ao final, o deixam espiritualmente desamparado e frágil frente aos novos desafios que se apresentam.

Todos nós estamos pasmos e perplexos com o grande número de pessoas de todas as faixas etárias que vivem hoje sob forte depressão. Se as condições materiais de todos se encontram em níveis bem superiores aos dos anos cinquenta e sessenta, qual então a causa de tamanha desestruturação psicológica de tantos?

PAULO

Não deixe o mar te engolir

abe aquelas horas que sentimos como se a palma da mão do mundo se abatesse sobre as nossas cabeças? Nos sentimos pequenos e impotentes diante de nossos problemas e preocupações. Incapazes e sem soluções. Mentalmente levantamos as mãos, na vã tentativa de espalmar a voracidade do punho de ferro que nos esmaga de cima para baixo. É como se estivéssemos nus entre duas faixas de uma via movimentada. Sem saber se cobrimos nossas “vergonhas” ou se nos preocupamos em sair do meio da rua para não sermos atropelados e, neste dilema, ficamos simplesmente parados, sem ação. Congelados diante do medo e da sensação de pânico. Quem gosta de praia com onda, como eu, pode atestar que é uma sensação idêntica àquela que sentimos quando o mar nos pega desprevenidos e somos jogados de um lado a outro, ao

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NICHOLAS ou outra cada um de nós sente “o peso do mundo nas costas”. A parte ruim é que vai acontecer de novo! Faz parte do nosso ciclo de vida a alternância de momentos de tristeza e de felicidade, de preocupações e de alívio, de se sentir pequeno e depois grande diante dos fatos. O que mais importa não é o “quando” vai acontecer, mas sim “como” reagir diante de tais situações. Tem gente que costuma dizer que são essas horas que separam os homens dos meninos. Prefiro dizer que são as horas do EU, momentos em que a verdadeira personalidade aflora. Precisos momentos em que atingimos o ápice da euforia ou o fundo do poço. Momentos que definem quem somos. Nestas horas, costumo sempre me lembrar da frase célebre de Charlie Brown Jr. “Não deixe o mar te engolir”. Entenda que problemas são uma parte fundamental de nossas vidas e que sem

n Advogado e escritor

eles nós não daríamos valor aos bons momentos. Abrace seus problemas, aceite-os, faça deles seus parceiros de vida, desate os nós que você conseguir, não se desespere. Respire, feche os olhos e se acalme. Respire, feche os olhos e se acalme. Você ainda estará respirando amanhã, percebe? Então levante, dê o seu melhor (isso é o mais importante) e tente achar uma solução. Pior do que ter um problema ou vários deles, é se deixar levar. Não deixe o mar te engolir!

Tem gente que costuma dizer que são essas horas que separam os homens dos meninos. Prefiro dizer que são as horas do EU, momentos em que a verdadeira personalidade aflora.


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O paradoxo Bolsonaro

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Governo Bolsonaro parece único no contexto da política brasileira. Talvez não haja na política brasileira administração que tenha sido mais criadora de incongruências, ou de paradoxos que acabam por desvirtuá-la. Pode-se conceder a medalha de ouro ao Governo Jânio Quadros. Todavia, se pensarmos que Bolsonaro tem provocado tanto desconforto para a população, e prejuízos ao próprio governo, o “Homem da Vassoura” terá sido apenas uma figura folclórica. Ligo a televisão e os noticiosos informam-me sobre os movimentos de professores e estudantes contra o contingenciamento na educação. Não é um protesto qualquer. É o primeiro movimento realmente significativo contra um governo que mal iniciou. Ou melhor, em parcos cinco meses, o governo conseguiu reunir a reprovação de parcela significativa da so-

ciedade. A mídia tem realmente olhado com olhos críticos Bolsonaro, seus ministros e entorno, aí incluídos os filhos do presidente. O observador atento conclui, sem erro, que o próprio governo dá azo à acidez das críticas com seu alto nível de presepadas, inconstâncias, decisões que são negadas à primeira oposição, o que revela pouco pensar dos governantes e despreparo dos mesmos para a coisa pública e a política. Já se criticou o presidente por compor sua equipe com número significativo de militares, o que resultaria em inaptidão para a política. São, no entanto, os políticos quem têm revelado maior jogo de cintura, como por exemplo o vice-presidente Mourão, que vem contornando problemas – que não têm sido poucos - criados pelo presidente e seus filhos. O irreverente Olavo de Carvalho, que se diz filósofo, classificado por

CLÁUDIO jornalistas como escatológico, provoca a ira dos generais sob os aparentes aplausos de Jair Bolsonaro, e são esses oficiais que dão respostas inteligentes ao debochado teórico. Os ministros técnicos, escolhidos dentre profissionais respeitados, negligenciam a sensibilidade política, e estimulam o presidente ao mesmo equívoco, depois revisam suas decisões e propostas, ou levam o mandatário-maior a recuar das diatribes, das quais a mais recente é o denominado contingenciamento das verbas para a educação. A precipitação deixou a sensação de que os cortes de verbas do ensino é mera retaliação pela falta de apoio de professores e estudantes às políticas do governo, como se oposição não devesse existir mais entre nós. Premido pela significativa revolta do setor, diante das manifestações concorridas contra os atos desmiolados, o presidente sai-se afirmando que

VIEIRA

n Advogado e escritor, membro da Academia Maceioense de Letras

os cortes são necessários haja vista a necessidade de fazer caixa para o futuro, ao tempo em que afirma que o ensino brasileiro, desde a base às universidades, é falho e sem qualidade. Qualquer pessoa medianamente inteligente percebe o paradoxo – mais um – nas explicações governistas, pois se o ensino é de baixa qualidade necessita-se nele investir para torná-lo excelente, a curto ou a médio prazo, não lhe cortar recursos. Acompanho aquele cartaz visto entre os manifestantes: “Educação não é negócio”.

O irreverente Olavo de Carvalho, que se diz filósofo, classificado por jornalistas como escatológico, provoca a ira dos generais sob os aparentes aplausos de Jair Bolsonaro, e são esses oficiais que dão respostas inteligentes ao debochado teórico.


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AGRICULTURA FAMILIAR

Pequenos produtores ameaçados de não terem o que plantar Atraso na aquisição de sementes prejudica mais de 30 mil em Alagoas

BRUNO FERNANDES bruno-fs@outlook.com

“A

agricultura familiar está passando por um dos piores momentos em Alagoas”, afirmam representantes da Associação do Semiárido de Alagoas (ASA). O atraso no processo de compra de sementes híbridas com cerca de R$ 6 milhões proveniente do Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza (Fecoep) ameaça deixar mais de 30 mil agricultores familiares de Alagoas sem ter o que plantar neste primeiro semestre de 2019. A aquisição foi aprovada na última semana pelo governador Renan Filho (MDB), porém, até que o processo licitatório de aquisição e distribuição seja concluído deve levar bastante tempo. Segundo Júlio César, assessor técnico da associação, “quando finalmente as sementes forem distribuídas, os agricultores não terão como trabalhar, devido ao período chuvoso que deve começar em junho”, explica. Ainda segundo ele, o governo sabe que não vai dar tempo de plantar e mesmo assim irá comprar. “O motivo, ninguém sabe”, diz. Além do atraso de quase três meses na aquisição de sementes este ano, outro problema enfrentado pelos pequenos produtores rurais é a preferência do governo estadual em adquirir sementes de grandes distribuidores, ao invés de investir no que é produzido no campo e que, segundo a associação, po-

deria ter evitado o atraso. “Estamos há muito tempo pleiteando junto ao governo um programa específico de apoio à produção de sementes do tipo Crioulas, que são adaptadas a nossa região, mas o Estado prefere comprar sementes híbridas, que não servem por muito tempo”, afirma Júlio César. Ainda segundo o representante, foram gastos aproximadamente R$ 12 milhões com esse tipo de semente nos últimos anos, mesmo as autoridades estaduais sabendo que ele não se reproduz. “O Estado poderia gastar bem menos se apoiasse os pequenos agricultores com a criação de programas para isso. Esse dinheiro que eventualmente sobrasse, eles poderiam investir em assistência técnica, mas o governo não tem atendido essa reivindicação”, explica. Com a produção local seria possível, além de evitar atrasos na safra, abastecer, atra-

METADE

Mesmo o valor de R$ 6 milhões sendo considerado relativamente alto, especialistas acreditam que seja o suficiente para atender apenas metade dos produtores que vinham sendo atendidos pelo Estado nos últimos anos.

Pequenos produtores temem proximidade das chuvas, o que impedirá plantio das sementes vés do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), escolas municipais com os produtos locais, mas também é algo que não é realizado pela maioria dos municípios, explica o técnico. Mesmo o valor de R$ 6 milhões sendo considerado relativamente alto, especialistas acreditam que seja o suficiente para atender apenas metade dos produtores que vinham sendo atendidos pelo Estado nos últimos anos. Durante reunião com representantes da Associação do Semiárido, foi prometido pelo secretário de Agricultura, Ronaldo Lessa, que aproximadamente 10% do valor do fundo aprovado para o programa de sementes será destinado para apoiar ações de estruturação

de bancos comunitários de sementes no semiárido estadual. Por enquanto, a destinação do dinheiro está apenas na promessa. O EXTRA entrou em contato com a Secretaria de Agricultura para saber se existe uma previsão de implantação do programa e qual o motivo da insistência na aquisição das sementes, mesmo sem tempo hábil para plantio. De acordo com a pasta, diversos produtores se dirigiram à Emater e Seagri solicitando, mesmo atemporal, o fornecimento das sementes, sendo que será comprada apenas a quantidade gerada pela demanda no cadastro individual da Emater, o que deve acontecer nos próximos dias. “O programa de sementes

crioulas está em fase de formatação junto aos movimentos sociais que representam os bancos de sementes e será apresentado em tempo aos conselheiros do Fecoep”, acrescentou a Seagri por meio de sua assessoria.

ENCONTRO No período de 29 a 31 deste mês de maio, a ASA realizará o Encontro Estadual de Sementes Crioulas em Igaci quando será discutido o descaso que vive a agricultura. Além de levantamento dos problemas enfrentados diariamente, serão dadas sugestões sobre como resolver e como o Estado poderá agir na solução das dificuldades enfrentadas pelos pequenos produtores.


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Novo app do Itaú

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Banco Itaú apresentou um novo aplicativo de pagamentos móveis para Android e iOS. Por meio de QR Code, o Iti permite receber e enviar dinheiro para qualquer pessoa ou estabelecimento comercial sem necessidade de ter conta bancária ou cartão de crédito. Com ele, é possível fazer transferências para qualquer pessoa da sua lista de contatos ou utilizando um código QR, de forma semelhante a aplicativos como o PicPay. O pagamento pode ser feito com cartão de crédito de qualquer banco, ou então com o saldo da conta do próprio app que pode ser recarregado por meio de boleto ou transferência bancária. O app estará disponível a partir do terceiro trimestre.

Antecipação do 13º

Ainda estamos em maio mas os trabalhadores com carteira assinada já podem antecipar o 13º nos cinco maiores bancos do país. O empréstimo é oferecido para os correntistas que recebem salário na instituição e é quitado quando o trabalhador recebe o benefício trabalhista, em dezembro. É possível emprestar até 100% do abono natalino com juros a partir de 1,79% ao mês. Mas será que vale a pena antecipar esse dinheiro? Ele não fará falta no final do ano? Embora o empréstimo tenha uma das menores taxas de juros do mercado, educadores afirmam que só vale a pena usar antecipação para quitar as dívidas com juros mais altos, como o rotativo do cartão de crédito ou o cheque especial, se o valor for suficiente para se livrar delas por completo.

Pagamento do Tesouro Direto Os bolsos de 122 mil investidores do Tesouro Direto ficaram mais cheios a partir desta semana. O governo pagou R$ 88 bilhões em títulos federais, sendo R$ 9 bilhões apenas para as pessoas físicas. Esse foi o maior vencimento da história do Tesouro, que abriu o mercado de dívida pública para o aplicador comum há 17 anos. Os títulos com vencimento programado para o investidor foram emitidos em janeiro de 2013 e estiveram à venda no site do Tesouro até fevereiro de 2017. Quem comprou os papéis em seu lançamento e permaneceu com eles até o fim teve a recomposição do que foi perdido com a inflação, acrescido de juros de 8,03% ao ano.

ECONOMIA EM PAUTA n Bruno Fernandes – n bruno-fs@outlook.com

Atenção investidores

O Brasil deve ter uma nova onda de IPOs (Oferta Inicial de Ações ou Initial Public Offering), segundo analistas, se a reforma da Previdência for aprovada e a economia voltar a crescer. A oferta inicial de ações é a porta de entrada das empresas no mercado financeiro e é motivo de disputa para muitos investidores. É quando elas vendem ações na Bolsa pela primeira vez, para um grupo de pessoas. Quem compra as ações se torna sócio ou acionista da empresa, que usa o dinheiro levantado para bancar seus projetos. Depois, as ações são listadas na Bolsa de Valores e os investidores iniciais podem vendê-las quando quiserem.


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NO PAÍS DAS ALAGOAS

Régis no Vale do Reginaldo Agosto de 2008. A campanha eleitoral para a sucessão na Prefeitura Municipal de Maceió-AL estava a todo vapor. A chapa apresentada pelo Palácio Floriano Peixoto, Solange Jurema (PSDB) para prefeita e Régis Cavalcante (PPS) para vice-prefeito, visitava o Vale do Reginaldo, bairro popular de Maceió. Régis, mais antigo na política, esbanjava popularidade, superando a sua companheira de chapa. Ao se aproximar de uma aglomeração de pessoas, foi surpreendido com algumas abordagens: - Eu conheço você pela internet, afirmou uma moça bonita, bastante simpática e bem vestida. Régis inflou os pulmões: - Conto com você nesta caminhada. Outra:

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TEMÓTEO

CORREIA n Ex-deputado estadual

- Oia, mulé, o coroa que quebrou o gaio na minha aposentadoria! Vige Maria! Eu devo tudo a esse coroa. Eliane, esposa de Régis, ao lado, cutucou-o: - Tá vendo que você não está como pensa! Régis, encabulado, com a vaidade arranhada, rebateu para a empolgada eleitora: - Deixa isso pra lá, minha amiga! - Não, meu véio, a você eu devo tudo, mesmo. É como se o sinhô fosse meu pai. E, dirigindo-se a uma colega, enfatizou: - Ou muié, que véio massa esse! Eliane ria, esbanjando satisfação.


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Como virar o jogo

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ntre as inúmeras frases de efeito criadas no mundo dos negócios está o termo BTR (De Volta à Corrida, na sigla em inglês). Esse termo se

aplica bem ao esforço recente da Peugeot em mudar sua imagem no Brasil. A marca teve algo em torno de 2,5% de participação de mercado e caiu para menos de 1%. Hoje, ronda 1,2% ou metade do que já representou. Este cenário coincidiu com dificuldades financeiras da matriz na França, agora lucrativa, depois do controle tripartite das ações entre família fundadora, governo francês e chinesa Dongfeng. A virada aqui começou pelo básico. Renovação de 70% das concessionárias, investimento em treinamento – em três anos se gastou mais que nos últimos 15 anos – e disponibilização de uma frota própria de 1.000 carros de reserva distribuída entre quase 100 pontos de venda. Ao mesmo tempo bateram na tecla: “Se o cliente não estiver satisfeito com o serviço ou atrasou a entrega, não paga”. Foi criado serviço de reboque para veículos de até oito anos de uso, em pane ou acidentado. Agora apresenta a primeira revitalização do SUV compacto 2008. Mudaram para-choque dianteiro, grade, capô, logotipo do leão estilizado saiu do capô para a grade, DRL e rodas. A inspiração estilística veio do 3008, importado da França, que passou a oferecer versão de entrada por competitivos R$ 139.990. No interior nova central multimídia, teto solar e ar-condicionado bizona. Os preços se mantiveram nominalmente iguais de R$ 69.990 a R$ 99.990, o que significa queda real de preços. A empresa espera aumento de 30% nas vendas do modelo. Faz, ainda, outro movimento ousado. Torna-se a primeira marca generalista no Brasil a aposentar totalmente a caixa manual. Tanto os motores de 1.600 cm³ de aspiração natural (118 cv/etanol) quanto o turbo (173 cv/etanol) só são oferecidos com câmbio automático de seis marchas. Desde o lançamento do 2008, em 2015, apesar dos vários desmentidos da Peugeot, essa coluna antecipou que o motor turbo seria acoplado ao câm-

FERNANDO CALMON n fernando@calmon.jor.br

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ALTA RODA n ENQUANTO as vendas de automóveis e ve FCA anuncia, na próxima semana, que terá motores turbo de três e quatro cilindros na sua gama Fiat e Jeep. Baseiam-se nos Firefly de 1 litro e de 1,33 litro para fabricação em Betim (MG). Serão motores sofisticados e disponíveis para 2020. O atual 1,75-litro de aspiração natural E-Torq (mais barato de produzir) continuará em linha ao menos até 2023 e também receberá atualizações. n PRIMEIRO carro elétrico da Jaguar, I-Pace, chega ao Brasil por R$ 437.000, incluídas revisões grátis nos cinco anos de garantia. Potência total de 400 cv (dois motores, um para cada eixo, tração 4x4) e nada menos de 69,6 kgfm lidam bem com o peso adicional das baterias de 90 kWh: acelera de 0 a 100 km/h em 4,8 s. Autonomia de 470 km, no ciclo WLTP, mais próximo da realidade.

bio automático. Não havia empecilho técnico ao analisar o carro. Provavelmente, existia estoque elevado, a ser escoado, da anterior e sofrível caixa automática de quatro marchas. Para ajudar na decisão, o mercado brasileiro deu uma forte guinada e foi deixando de lado as caixas manuais. A marca francesa afirma oferecer o único SUV automático abaixo de R$ 70.000 para o público PcD. O carro perde em espaço interno para seu irmão de arquitetura Citroën C4 Cactus e ganha no volume do porta-malas. No entanto, apresenta comportamento dinâmico um pouco melhor, em especial em arrancadas mais fortes com o motor turbo. Seu volante ligeiramente ovalado e de pequeno diâmetro permite experiência muito interessante, inclusive visão do quadro de instrumentos por cima da parte superior do aro.

n USO prático do I-Pace, nas condições brasileiras de subidas e descidas, não deve garantir tanta autonomia. Há apenas 200 carregadores públicos no País contra 40.000 postos de combustíveis. Mas a Jaguar criou um sistema de navegação inteligente, capaz de cruzar as informações da rota desejada com a autonomia disponível para viagens mais descontraídas.

n CHEVROLET Tracker Midnight, importado do México, segue a moda dos apliques pretos do logotipo às rodas. O desempenho do motor turbo (1,5 L, 153 cv) é o maior destaque deste SUV compacto. Suas dimensões limitam o espaço interno e o tamanho do porta-malas. Direção precisa, câmbio automático de seis marchas e suspensão bem acertada destacam-se. n PESQUISA feita na Alemanha pela Bosch revelou que há grande demanda para aplicativos de telefone celular substituírem as chaves tradicionais ao abrir/ fechar o carro e desbloquear/bloquear a ignição. Entre as vantagens estão menos possibilidades de extravio, mais pessoas compartilharem o carro e a segurança em caso de furtos graças ao bloqueio remoto. n EMPERRADA há mais de dois anos no Contran, a vinculação do licenciamento anual à comprovação de atendimento a um eventual recall pode se tornar obrigatória. Pelo menos esta é a proposta tramitando na Câmara dos Deputados, de autoria de Juninho do Pneu (DEM-RJ). Apenas 40% dos proprietários, no máximo, atende aos recalls, uma ameaça à segurança.


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ESQUIZOFRENIA

Pacientes ainda enfrentam preconceitos Doença caracterizada por alterações químicas no cérebro causa delírios e alucinações FLÁVIA VARGAS GHIURGHI

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m parceria com a Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Esquizofrenia (Abre) e o Programa de Esquizofrenia da Universidade Federal de São Paulo (Proesq), o Centro de Estudos Paulista de Psiquiatria (CEPP) promove, em 24 de maio, o Dia Mundial da Pessoa com Esquizofrenia. A data, que será celebrada pela segunda vez no Brasil e já fazia parte do calendário em diversos países, destaca o desafio de tratar a doença, buscando entender e discutir a redução das barreiras do estigma e criar oportunidades de superação. O lema da campanha deste ano é “Esperança Realista e Possibilidades na Vida com Esquizofrenia”, um convite à reflexão para as pessoas com esquizofrenia, seus familiares e os profissionais de saúde. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), 23 milhões de pessoas no mundo têm esquizofrenia. A falta de informação sobre o transtorno gera uma série de equívocos em relação ao comportamento dos pacientes, considerados por muitos como perigosos, violentos e inaptos para o convívio.

SINTOMAS E DIAGNÓSTICO

O diagnóstico da esquizofrenia pode vir logo depois do primeiro episódio psicótico, que inclui delírios (ideias que são incompatíveis com a realidade da pessoa), alucinações (em geral, auditivas, na forma de “ouvir vozes”), pensamento desorganizado e alterações de comportamento. Estes sintomas ocorrem essencialmente na fase aguda da doença (o “surto” psicótico). Uma vez tratados, eles diminuem ou desaparecem (o período de remissão), podendo a pessoa vir ou não a ter novos surtos. No período de remissão ficam mais perceptíveis outros sintomas, como apatia, falta de motivação e dificuldade para expressar emoções (as emoções ficam “apagadas”). A doença exige tratamento de longo prazo em 80-

90% dos casos. É o que explica o psiquiatra Mário Louzã, doutor pela Universidade de Würzburg, Alemanha, e coordenador do Programa de Esquizofrenia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo: “É necessário tratar o paciente imediatamente para evitar novas crises, pois, do contrário, a pessoa pode piorar nos surtos subsequentes”. Segundo o psiquiatra, o não-tratamento é prejudicial à estrutura cerebral. Os mecanismos de como a doença funciona e o porquê ainda não foram completamente desvendados, mas já se sabe que há relação com mais de um fator. “Sabemos que há todo um processo para chegar ao momento em que a doença aparece. Primeiro, existe uma base genética, que se soma a alguns fatores de risco: qualquer lesão no neurodesenvolvimento durante a gestação já deixa a estrutura cerebral vulnerável. Há ainda outros episódios de vida, como o uso de drogas na adolescência, quando o cérebro ainda está se ajustando”, afirma o especialista. Louzã explica que, durante as crises, o que ocorre é uma alteração química no cérebro, com o aumento do funcionamento do sistema dopaminérgico. Portanto, de modo geral, as medicações usadas têm como foco bloquear a dopamina, cuja hiperfunção já está mapeada como gatilho desse desequilibro. Porém, estuda-se ainda a presença de outras neurodisfunções envolvidas. É comum também que o paciente apresente comorbidades em paralelo à esquizofrenia. Depressão e tendência ao uso de drogas são as principais preocupações, mesmo quando o paciente está seguindo o tratamento – até porque o uso de drogas e álcool pode ser um gatilho para novas crises. Também pode ocorrer quadros de transtorno obsessivo compulsivo, transtornos de ansiedade e problemas de sono.

PERSONALIZAÇÃO

Existem diretrizes básicas de

Louzã explica que uso de drogas e álcool atuam como gatilho para as crises

uso da medicação para o tratamento da esquizofrenia. Porém, o olhar do profissional de saúde para o paciente busca sempre a individualização. Alguns pacientes se dão melhor com um ou outro medicamento e, por vezes, pode ser necessário fazer ajustes de dose ou mesmo da forma farmacêutica. “Quando o paciente tem muita resistência a utilizar corretamente a medicação oral, aumenta o risco de recaídas e temos uma piora do quadro geral do paciente. Então, não é incomum fazer substituições até mesmo por formas injetáveis de longa duração dos antipsicóticos”, exemplifica o psiquiatra. Antes dessa medida, tenta-se trabalhar com o paciente – e a família – abordagens psicoterápicas e psicoeducacionais. O médico explica que elas são importantes para despertar no paciente a importância da persistência no uso do medicamento. São muitos os motivos para o abandono do tratamento. Um deles é próprio da condição: “a pessoa não tem um senso crítico satisfatório sobre a doença, não se percebe como doente e, portanto, não vê motivo para se

tratar”, pontua Louzã. Outro fator para a descontinuidade são os efeitos colaterais das medicações.

OPÇÕES TERAPÊUTICAS

Os antipsicóticos são divididos entre primeira e segunda geração. Os primeiros foram desenvolvidos até por volta dos anos 1970, enquanto os mais modernos vieram a partir da década de 1990. Eles se diferenciam principalmente pelos efeitos colaterais que provocam. Os de primeira geração apresentam os chamados efeitos extrapiramidais, que geram uma reação similar à doença de Parkinson: ao bloquear o sistema dopaminérgico, o medicamento provoca tremor, rigidez física, hipersalivação e dificuldade para caminhar (marcha em bloco). Já os de segunda geração reduziram significativamente esses incômodos, mas trouxeram como possível efeito colateral o ganho de peso, acompanhado de aumento do colesterol e triglicérides. “Se o paciente se dá bem com um medicamento de segunda ge-

ração, em geral, preferimos acrescentar outro fármaco que controle o colesterol e orientamos para que ele pratique atividades físicas de forma complementar. Porém, se o efeito colateral é significativo e os resultados do tratamento estão pouco satisfatórios, a opção é tentar mudar de medicamento até encontrar o melhor ajuste”, afirma. De acordo com o médico, os fármacos de primeira geração são ainda prescritos com frequência, mas, caso se apresentem como opção, podem ser prescritos junto a medicamentos específicos, caso o paciente desenvolva sintomas extrapiramidais. “No Brasil, usamos o biperideno, que não provoca interações importantes”, diz. O tratamento da esquizofrenia envolve sempre uma abordagem multiprofissional. O objetivo é ajudar o paciente a voltar, na medida do possível, à vida normal. Para isso, o trabalho com a família é fundamental. Muitas vezes a pessoa não tem a remissão total da doença, mas ela e a família aprendem a lidar melhor com os fatores que desencadeiam as crises.

DESAFIOS A pessoa com esquizofrenia é vista como “perigosa”, “violenta”, “imprevisível”, “esquisita”. Esta visão distorcida gera a discriminação, reduzindo as chances de inserção social e profissional. Ela terá dificuldade em situações triviais, pois terá que superar barreiras criadas pelo preconceito. O elemento principal para mudar este cenário é a informação. Conhecer a doença, entender seus sintomas e saber como é feito o tratamento. Informações corretas, obtidas em fontes confiáveis, ajudam a compreender a pessoa com esquizofrenia e se contrapõem àquelas distorcidas e arraigadas no senso comum. É um longo trabalho, uma vez que é preciso mudar algo que vem de muitas décadas. No entanto, é fundamental para que a realidade se imponha sobre o preconceito.


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ABCDO INTERIOR

n robertobaiabarros@hotmail.com

Aprendizagem

Eleições em Arapiraca

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a corrida pela Prefeitura de Arapiraca está em ritmo acelerado. De um lado a oposição, que passou 20 anos no poder, ganha novo fôlego com a possibilidade de o vice-governador Luciano Barbosa entrar na disputa encabeçando a chapa. Essa decisão, no entanto, depende de um acordo com o deputado Ricardo Nezinho, que nas últimas eleições perdeu para o atual prefeito Rogério Teófilo por uma diferença de um pouco mais de 240 votos.

Célia Rocha

Do outro lado está o atual prefeito Rogério Teófilo que, de acordo com buchichos de bastidores, poderá ter como candidata a vice-prefeita em sua chapa rumo à reeleição a ex-prefeita Célia Rocha.

Pessoa de olho

Mas o balaio de gato na disputa pelo Poder Executivo na segunda cidade mais importante de Alagoas se transformou em um verdadeiro nó com a pretensão do deputado federal Severino Pessoa de lançar nomes para compor uma chapa de oposição alternativa, com a indicação do nome do seu irmão, empresário Celso Pessoa, ou a sua esposa Fabiana Pessoa, que é a atual vice-prefeita de Arapiraca.

Novos nomes

Pelo sim, pelo não, novos nomes poderão surgir no atual cenário político, principalmente com o aval do senador Rodrigo Cunha que está com os pés em Brasília, mas não desgruda os olhos de duas cidades importantes: Arapiraca e Maceió. É aguardar para ver como esse nó de marinheiro será desatado.

Deficit de atenção

O secretário Municipal de Saúde, Thiago Cavalcante, acompanhado do prefeito Cavalcante inaugurou, esta semana, o projeto de alfabetização de crianças e adolescentes com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), em Traipu.

Equipe do CAPS

De acordo com Thiago Cavalcante, o projeto foi desenvolvido pelo CAPS Filhos De Davi por intermédio do médico psiquiatra Dr. Denis Xavier e da coordenadora do CAPS, Helcerlita Santos. O projeto foi idealizado para funcionar de forma multiprofissional e envolve a equipe do CAPS, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação.

O TDAH é uma das causas de dificuldade de aprendizado de natureza neurobiológica mais comum durante a infância e a adolescência. Ocorre em 6% a 10% das crianças e pode acarretar sérios prejuízos no rendimento escolar e na capacidade de se apropriar da aprendizagem adequada da leitura, escrita e matemática.

Parceria com a Caixa

Na segunda-feira, 12, o prefeito Rogério Teófilo recebeu em seu gabinete, no Centro Administrativo Municipal, o novo superintendente regional da Caixa, Rodolfo Augusto, além de secretários municipais. Na oportunidade, o chefe do poder Executivo arapiraquense agradeceu ao ex-superintendente pela parceria que sempre teve com o município e afirmou que o trabalho continuará.

Obras em andamento

“É importante que vocês saibam que podem contar com nossa equipe no acompanhamento técnico das obras que estão sendo realizadas e que temos uma equipe que trabalha muito por Arapiraca. Quero agradecer esta parceria técnica que só traz benefícios para a nossa cidade”, destacou Teófilo.

Vai continuar

Em Arapiraca são quatro agências e dois postos de atendimento da Caixa. O superintendente da Caixa, Rodolfo Augusto, assegurou que a parceria vai continuar. “Arapiraca tem um grande potencial, tanto na parte do comércio, quanto no relacionamento com os clientes. O que pudermos fazer para mais obras acontecerem e mais desenvolvimento para o município, pode contar conosco”, garantiu o superintendente.

PELO INTERIOR ... Ruas do centro comercial de Arapiraca foram tomadas na quarta-feira, 15, por estudantes, professores e funcionários das instituições de ensino público instaladas na capital do Agreste alagoano. ... A manifestação é uma resposta às medidas do Governo Bolsonaro contra as universidades e institutos federais, centros de ensino e pesquisa que sofreram cortes no orçamento. ... Com faixas, cartazes e apitos, os participantes do protesto foram às ruas para mostrar resistência e repudiar as medidas que podem inviabilizar o funcionamento da Universidade Federal de Alagoas e do Instituto Federal de Alagoas, assim como das demais unidades de ensino público, bancado com dinheiro do contribuinte, no restante do País. ... O ato realizado em nível nacional também recebeu adesão em outras cidades alagoanas, além da capital Maceió, principalmente nos municípios beneficiados com o investimento em educação de nível superior e técnico promovido pelo ex-presidente Lula, entre elas Penedo, Delmiro Gouveia e Palmeira dos Índios. ... Um suposto mototaxista foi preso suspeito de roubar aparelhos celulares na região do bairro Olho d’Água dos Cazuzinhas, na quarta-feira (15), em Arapiraca. (Com 7Segundos). ... Ele e outro homem teriam roubado três aparelhos ao mesmo tempo de um grupo de pessoas, de acordo com o 3° Batalhão de Polícia Militar (BPM). ... Lucas Gabriel Barbosa da Silva, de 18 anos, foi levado à Central de Polícia Civil, no bairro Baixão. O outro suspeito não foi localizado pela polícia. ... Segundo os policiais, ele confessou o crime após uma das vítimas fornecer detalhes sobre o assalto. Lucas Gabriel foi preso quando a polícia encontrou dois dos celulares roubados durante uma abordagem de rotina. ... Uma importante parceria para a geração de empregos no município arapiraquense foi renovada na manhã de terça-feira (14). A Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo continua apoiando a AeC como forma de potencializar a economia local. ... A equipe técnica da pasta se reuniu com os representantes da empresa, quando foi anunciada a geração de mais 20 vagas de emprego para a população. ... A secretária Zélia Azevedo falou sobre o encontro proveitoso que teve com os analistas de recrutamento e seleção. ... Um excelente final de semana para os nossos leitores. Até a próxima edição!


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127 ANOS DE HISTÓRIA São Luís do Quitunde celebra emancipação política com progresso e desenvolvimento

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cidade de São Luís do Quitunde prospera em desenvolvimento. Em comemoração aos 127 anos de emancipação política, celebrado ontem (16), foram inauguradas diversas obras no âmbito da saúde, educação e infraestrutura noa quarta, 15. A prefeita Fernanda Cavalcante afirmou se sentir orgulhosa em fazer parte da história da cidade e comentou os avanços que o município da região Norte de Alagoas vem obtendo nos últimos três anos. “Graças ao trabalho que realizamos temos muito o que comemorar, e muitos avanços que podem ser percebidos, feitos para o nosso povo. A saúde e a educação em dia, a assistência social trabalhando bastante. Tudo isto culmina para a obtenção de resultados e muito progresso”, afirmou a jovem gestora. Entre as conquistas em prol do povo quitundense, a educação da região ganha força e conta agora com três escolas totalmente reformadas e ampliadas. Duas ficam localizadas na zona rural, na Fazenda Camurim e na Fazenda Adubeira, e outra na cidade. Até o esporte local teve novas implementações com a inauguração de quadras poliesportivas no Conjunto Santo Inácio e na Escola Maria do Carmo. A gestora acredita que a educação pode mudar o futuro da cidade.

Para contribuir com as melhorias na saúde pública do município, duas novas ambulâncias foram entregues. A educação também ganhou um novo veículo para os trabalhos de campo. Na infraestrutura foram inauguradas praças, pavimentação de ruas e a nova sede da Guarda Municipal. O governador Renan Filho esteve presente para celebrar o aniversário da cidade e destacou o bom desempenho da gestão municipal, principalmente na área educacional. “É muito bom ver São Luís do Quitunde ressurgir e elevar a autoestima de seu povo. Essa é uma das cidades mais importantes da Região Norte e ela andando bem ajuda toda Alagoas a avançar”, afirmou. O vice-prefeito Benedito Salazar, a deputada estadual Flávia Cavalcante, secretários, vereadores e lideranças políticas da região também marcaram presença no evento. Para finalizar o dia de comemorações, a cantora gospel Aline Barros e o grupo Ministério Presença e Glória fizeram uma grande apresentação para na quarta-feira,15, e na quinta-feira, 16, a festa foi comandada por Xandy Avião, Banda Arreio de Ouro e Edson Razek.

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TRAUMA

Agricultor passa 9 meses preso por homicídio que não cometeu Confissão à polícia sequer tinha relação com exame cadavérico SOFIA SEPRENY s.sepreny@gmail.com

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osé Roberto da Silva está solto porque ele foi inocentado, nada consta contra ele. Graças a Deus e à Defensoria Pública que conseguiu provar sua inocência, depois de tanta humilhação. Eu agradeço novamente a Deus e ao doutor André, porque se não fosse por ele meu filho continuaria preso, mesmo que inocente. Não tenho condições de pagar um advogado particular”. O relato é da mãe de um agricultor que ficou na cadeia durante quase nove meses no presídio do Agreste, em Girau do Ponciano, após ter sido acusado de assassinar um outro agricultor na cidade de Feira Grande. Maria do Carmo Silva relatou ao EXTRA todo o temor e a angústia que passou para provar a inocência do filho, José Roberto Silva, 30. Ele era agricultor e até então nunca havia precisado pisar os pés em uma delegacia, até que chegaram ao nome dele e o acusaram de ser o autor de um homicídio na região. Preso em 26 de agosto de 2018, José ficou na Central de Polícia de Arapiraca, foi trans-

ferido para Casa de Custódia, onde ficou até o dia 27 de dezembro, e depois foi encaminhado para o presídio do Agreste onde esteve até ser inocentado. De acordo com o defensor público André Chaub Lima, Zé Roberto foi acusado de ter cometido um crime de homicídio em setembro de 2013 na zona rural de Feira Grande, mas até 2018 o nome dele não havia sido mencionado. “O estranho é que até maio de 2018, esse inquérito sequer tinha sido comunicado ao Fórum e até então a polícia só tinha ouvido três testemunhas e nenhuma delas tinha informado o nome dele como suspeito do assassinato.

Agora eu só espero que ele consiga esquecer tudo que passou. Que mantenha-se positivo, com bons pensamentos, para poder seguir a vida” MARIA DO CARMO

Mãe de José Roberto

Mas aí milagrosamente o nome dele aparece no inquérito confessando o crime”. Segundo ele, o problema é que o interrogatório em que Roberto aparece confessando o crime apareceu de repente, sendo que ele nem conhecia a vítima. “O mais surpreendente não é só o fato de que misteriosamente isto aparece no inquérito, e sim que a polícia não esclarece de que forma teria chegado ao nome de José Roberto”. Chaub relata ainda que para completar o “espanto”, ao confessar o assassinato, o agricultor informou ter dado quatro tiros na vítima, quando na verdade ela recebeu e morreu com um tiro só. “A polícia sequer teve o cuidado de observar que a confissão não tinha relação com o exame cadavérico”. O delegado Thiago Prado foi o último responsável pelo caso.

O resultado das diversas falhas foi o indiciamento do acusado, o descuido do Ministério Público Estadual, que também sem observar estas incongruências o denunciou e o juiz responsável, que também sem analisar essas discrepâncias mandou prender José Roberto. “Mas as incongruências não param por aí. No tal interrogatório de confissão, ele afirma que teria matado a vítima porque ele era parceiro de crimes dele e que a mesma estaria passando-o para trás na divisão dos lucros do crime de roubo. Mas mesmo assim, em um ano a polícia não conseguiu encontrar uma só vítima desses supostos crimes, ou provas de que eles o praticavam”, questionou o defensor. Em audiência judicial, José Roberto afirmou que somente assumiu a culpabilidade do

crime por pressão policial e que, segundo ele, chegou a ser agredido. Na sentença, o juiz da Vara do Único Ofício de Feira Grande, Elielson dos Santos Pereira, observou que “a confissão extrajudicial não pode ser usada, isoladamente, para justificar uma condenação, pois deve vir acompanhada de outras provas”. No dia 7 deste mês ele teve sua liberdade concedida e voltou para a família. Sua mãe relatou que ele prefere não se manifestar sobre o ocorrido e informou que o filho está muito abalado, que foi tudo de repente e pegou todos de surpresa. “Quero agora apenas que a sociedade em peso de Feira Grande e dos sítios vizinhos saibam que ele é inocente. O sofrimento foi grande, a humilhação foi demais. Não precisamos de mais sofrimento”. Ela contou ainda que até seus pais, senhores de 70 anos foram taxados na região como avós de bandidos. “Nunca passamos por isso e tivemos que passar por essa dor tão grande. Agora eu só espero que ele consiga esquecer tudo que passou. Que mantenha-se positivo, com bons pensamentos, para poder seguir a vida. Disse a ele quando estava preso que a partir do momento que ele saísse deveria sair de cabeça erguida. Vida nova”, finalizou dona Maria.


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TURISMO

REDUÇÃO DE ICMS DO QUEROSENE ESTIMULA SETOR EM ALAGOAS Secretário Rafael Brito afirma que medida visa fortalecer malha aérea Visando o desenvolvimento, a geração de novos empregos e fomentar o turismo, o secretário de Estado do Desenvolvimento Econômico e Turismo, Rafael Brito, anunciou a redução do tributo de ICMS do querosene para aviação no estado. Ele lembra que o mercado da malha aérea é extremamente restrito e um dos grandes competidores acaba de sair do mercado, causando certa desestruturação no segmento e a necessidade de fortalecimento. “Mesmo diante dessa crise que assola o país todo, com encarecimento de passagens e encurtamento da malha, buscamos alternativas com companhias aéreas e operadoras que são parceiras comerciais de nosso estado, e agora temos, em fase de finalização, o desconto do ICMS do QAV (Querosene de Aviação)” De acordo com o secretário, até 2015 a taxa de ICMS era de 17%, em 2016 foi reduzida para 12%. Agora, a redução será de 12% para 8% ou 6%, a depender do número de voos que a companhia aérea incrementar no estado. O decreto está em processo de finalização na Secretaria da Fazenda e em breve vai ser assinado oficialmente. “Quanto maior o número de voos, maior será o desconto do ICMS, impactando positivamente no crescimento do turismo em Alagoas”, afirma Rafael Brito. São diversos os fatores que mantêm o turismo atrativo no estado, entre eles o valor de passagens aéreas, a praticidade de se chegar até o local e condições favoráveis economicamente. Com a saída da empresa Avianca, uma das detentoras dos voos diretos para a capital alagoana, a Sedetur teve que traçar estratégias para contribuir com a vinda de turistas para Alagoas. Apesar da saída da empresa já foram anunciados outros nove novos voos de outras companhias aéreas a partir de julho. De acordo com o secretário, o governo está trabalhando para reverter a situação dos altos preços de passagens e tenta retomar o trecho Maceió-Salvador.


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