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MACEIÓ - ALAGOAS

ANO XVI - Nº 842 - 09 A 15 DE OUTUBRO DE 2015

Ministro João Nogueira envia juiz federal para ouvir testemunhas e suspeitos do atentado de 2009 que teria como alvo o juiz Marcelo Tadeu

STJ INVESTIGA TRAMA PARA MATAR JUIZ INQUÉRITO DA PF REFORÇA TESE DE QUE ADVOGADO FOI EXECUTADO NO LUGAR DO JUIZ MARCELO TADEU P/10

PACOTE FISCAL DE RENAN FILHO ATINGE MAIS OS RICOS P/7

LAVENÈRE DEFENDE DILMA E DIZ QUE IMPEACHMENT É GOLPE P/13

FUTURO DE DILMA ESTÁ NAS MÃOS DO SENADOR RENAN CALHEIROS

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2 - extra - MACEIÓ, ALAGOAS - 09 A 15 DE OUTUBRO DE 2015

COLUNASURURU

Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados (Millôr Fernandes)

DA REDAÇÃO

O poder de Renan

A

Cabeça de caranguejo Alagoas perdeu a chance de ter um segundo ministro no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Seu nome: Paulo Roberto de Oliveira Lima, ministro do TRF5, que desistiu da disputa ao saber que seria vetado pelo ministro do STJ Humberto Martins, também alagoano. O presidente do STJ, Francisco Falcão, lamentou o fato e ainda alfinetou Martins ao classificar Paulo Roberto de Oliveira Lima como “jurista consagrado e alagoano de boa cepa”.

Esperteza O presidente da Câmara Municipal de Marechal Deodoro, vereador Abelardo Leopoldino, corre o risco perder o mandado por ter transferido seu domicílio eleitoral para Coqueiro Seco. Diz o dito popular que quando a esperteza é grande demais pode comer o esperto. Se a moda pega...

É por esta e outras que se diz que os alagoanos agem como caranguejos: quando um vai subir o outro puxa para baixo. Não raro, os dois acabam na lama.

Infidelidade

Em Santana do Ipanema a disputa pela prefeitura deverá ocorrer entre Isnaldo Bulhões (pai), Marcos Ferreira, Édson Magalhães e o atual prefeito Mário Silva, que vai tentar a reeleição. Mas nenhum deles tem a força política do Dr. Gustavo (Gustavo Pontes de Miranda), conceituado médico ortopedista adorado não apenas na cidade, mas por toda a comunidade sertaneja. Mesmo afastado da política partidária, o apoio do Dr. Gsutavo será decisivo para qualquer dos candidatos em disputa.

Outro político que também pode ser cassado é o ex-prefeito Cícero Almeida, que abandonou o PRTB, partido pelo qual se elegeu deputado federal na última eleição. Agora, o partido quer o mandato de volta, e se for cassado, Almeida estará impedido de disputar a prefeitura de Maceió.

Perdido em Brasília Desde que chegou à Câmara Federal, Cícero Almeida tem sido um deputado zero à esquerda. Nunca apresentou um projeto sequer, nem fez qualquer pronunciamento. Ele só pensa em voltar à Prefeitura de Maceió. Anda mais perdido que cachorro que caiu da mudança.

Novela

Fórum Nacional de Segurança Pública apresentou mais um relatório da violência no Brasil. O que não é novidade: Alagoas lidera o ranking da tragédia. O mapa da violência revela que a cada grupo de 100 mil habitantes 66 pessoas são executadas.

O afastamento do prefeito de São Luiz do Quitunde, Eraldo Pedro, virou uma novela. Os desembargadores pediram vistas inúmeras vezes e a população já anda descrente com a Justiça alagoana. O placar até aqui está 6x2 pelo afastamento. A burocracia vem tornando a vida dos moradores um verdadeiro inferno: faltam medicamentos, médicos e salários em dia e a cidade está suja e esburacada. A lista de aberrações não para de crescer.

O

o rejeitar as contas de 2014 do governo, o TCU abriu caminho para instalação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Mas até lá a caminhada é longa e tudo pode acontecer, até mesmo nada. No comando do barco estará o senador Renan Calheiros, que pode engavetar ou adiar a apreciação das contas por tempo indefinido. Até lá, salve-se quem puder.

ACIDENTE EM BRASÍLIA

Violência

Dono dos votos

Novo point O histórico bairro de Jaraguá ganhou nessa sexta-feira um novo ponto de encontro na noite maceioense. Chama-se Rex Bar, com música ao vivo à base de jazz e blues, sem esquecer a boa e velha MPB. No comando do negócio está o experiente Lipo.

Família unida Em Rio Largo, o prefeito Toni-nho Lins não pode disputar a reeleição, mas vai tentar emplacar a esposa, Isabele Lins, na Prefeitura de Messias. Ele ainda pretende eleger o filho, Toninho Lins Filho, vereador por Satuba. Já a cadeira de Toninho será disputada por 8 candidatos: Marcelo Victor, Gilberto Gonçalves, Marcos Vieira, Pedro Vitor, Vânia Paiva, Dra. Elisa, Kátia Born e Dra. Fátima.

No páreo

1

O deputado Cícero Almeida migrou para o PSD de Marx Beltrão. O ex-prefeito deixou o PRTB botando fogo pelas ventas e disse que não abre mão de ser candidato a prefeito de Maceió. O PRTB, por sua vez, disse, através do seu presidente nacional, Levy Fidelix, que em 90 dias a cadeira de deputado federal de Almeida será do PRTB. A história promete desdobramentos.

2

Quem também está de olho na disputa da Prefeitura de Maceió em 2016 é o deputado federal João Henrique Caldas (Solidariedade). JHC foi o parlamentar mais votado do último pleito. O PSB parece que se animou com o nome de JHC e promete colocar nomes à disposição para uma possí-vel composição. O comunicador GG Sampaio que deixou o PMDB e foi para o PSB pode fazer dupla com JHC.

Fora do PT

Eleição na OAB

A eterna candidata Patrícia Sampaio – que não dá um dia de serviço no TC – deixou o Partido dos Trabalhadores e foi para o PDT de Ronaldo Lessa. O ex-governador abriga mais uma Taturana na sigla que comanda.

A advogada Fernanda Marinela sai na frente e formaliza sua candidatura à presidência da OAB-AL tendo como vice Ednaldo Maiorano. Pela oposição, o nome mais forte é do advogado Fernando Falcão. As inscrições vão até o dia 19 deste mês.

EDITORA NOVO EXTRA LTDA - CNPJ: 04246456/0001-97 Av. Aspirante Alberto Melo da Costa - Ed. Wall Street Empresarial Center, 796, sala 26 - Poço - MACEIÓ - AL - CEP: 57.000-580

EDITOR: Fernando Araújo CHEFE DE REPORTAGEM: Vera Alves

CONSELHO EDITORIAL

Luiz Carnaúba (presidente), Mendes de Barros, Maurício Moreira e José Arnaldo Lisboa

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ARTE Fábio Alberto - 9351.9882 REDAÇÃO - DISK DENÚNCIA 3317.7248 - 9.9982.0322

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Vieira & Gonzalez As colunas e artigos assinados não expressam necessariamente a opinião deste jornal


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- MACEIÓ, ALAGOAS - 09 A 15 DE OUTUBRO DE 2015 -

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JORGEOLIVEIRA arapiraca@yahoo.com

Siga-me: @jorgearapiraca

Dilma confronta as instituições Rio - Um filme antigo passou pela minha cabeça quando três integrantes do governo Dilma convocaram a imprensa para coagir o Tribunal de Contas da União. Em 1969, em outro momento da história do país, os personagens vestiam fardas. Assumiram o governo quando o presidente Arthur da Costa Silva sofreu uma trombose no exercício da presidência. A junta militar iria fazer a transição para o ditador de plantão Emílio Garrastazu Médici. O trio de militares que ocupou o governo no dia 31 de agosto daquele ano manteve o Congresso fechado e instituiu a prisão perpétua e a pena de morte como forma dos militares se perpetuarem no poder. Ficaram conhecidos, depois, como os “três patetas”: almirante Augusto Hamann Rademaker Grunewald, general do Exército Aurélio de Lira Tavarese o brigadeiro Márcio de Sousa e Melo. Quarenta e cinco anos depois seria difícil imaginar que uma cena parecida voltasse a ocorrer com civis e com o país em pleno gozo das liberdades democráticas. Pois bem, esta semana lá estavam sentados à mesa os ministros Luis Inácio Adams (Advocacia-Geral da União),da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o do Planejamento, Nelson Barbosa afrontando a legislação brasileira. Pediam o afastamento do ministro do TCU Augusto Nardes, relator das contas da Dilma de 2014. Perderam feio, quando o tribunal rejeitou por unanimidade as contas, depois de ignorar solenemente o pedido do trio governista para suspender o relator jogando mais lenha na fogueira da crise política. Os três ministros convocaram uma coletiva de imprensa para dizer que pediriam o afastamento de Nardes, acusando-o de revelar seu voto antes do julgamento do processo. Ele teria, segundo esses três senhores, antecipado o seu voto no julgamento das ilegalidades da presidente Dilma, quando ela usou bancos públicos para gastar com programas sociais e outros projetos de governo que iriam garantir a sua reeleição, ferindo a Lei de Responsabilidade Fiscal. Com o país com as contas desarrumadas, um governo à deriva, a economia em frangalhos e algumas instituições envolvidas em maracutaias diversas desde que o PT assumiu a presidência, hoje os brasileiros assistem perplexos um confronto entre os poderes estimulado pelo próprio governo. O governo da Dilma está criando situações delicadas contra as instituições constituídas do país, levando-as a uma crise sem precedente na nossa história. Impondo-se à força no poder, sem o apoio da população, com rejeição recorde, a Dilma incentiva seus auxiliares ao confronto, mesmo sabendo que isso pode gerar um clima de insegurança política colocando em risco a democracia brasileira, conquistada a duras penas pelos brasileiros.

Imposição É triste observar que essa esquerda demagógica, populista e corrupta adota práticas iguais às do regime militar que fechava o Congresso e os tribunais para impor a vontade dos ditadores. Confrontava as leis e pressionava juízes e políticos para manter o status-quodo regime a todo custo, mesmo sem o apoio popular. Há semelhanças, sim, entre os dois métodos de governar. Quando o Lula ameaça convocar o “Exercito Vermelho” do Stédeli para impedir as manifestações de ruas e as centrais sindicais, sob seu comando, para se contraporem aos movimentos contra a Dilma, mostra a sua fragilidade ideológica e o seu descaso com a democracia para quem até hoje se auto-intitula ativista da resistência, mas que não respeita o estado de direito apostando no quanto pior melhor. Quer, pela força, amedrontar o Judiciário e o Legislativo, o mesmo que faziam os milicos quando “prendiam e arrebentavam” aqueles que discordavam dos seus métodos políticos.

Reacionários O PT, que nasceu de um movimento dos trabalhadores brasileiros, mas foi ideologicamente lapidado pelos intelectuais de esquerda e pela igreja progressista, perdeu a identidade. Muitos dos ideólogos fugiram do partido, atacando-o de corrupto e até de direita, e a igreja já não compartilha dos mesmos ideais que comungava quando da sua criação. A ética deu lugar aos interesses corporativos, e a honestidade, infelizmente, à corrupção. E o povo, cansado dessa desordem política, certamente terá dificuldade em distinguir esse PT reacionário, raivoso e intolerante, dos militares que até pouco tempo ocupavam o poder utilizando-se das mesmas práticas desses líderes petistas reacionários.

Dilma desiste A Dilma perdeu seu principal conselheiro. Como não manda mais em nada abriu mão de Aloizio Mercadante e entregou de vez o comando do país ao Lula que, finalmente, agora, ocupa todos os espaços no Palácio do Planalto, e ao PMDB fisiológico do Eduardo Cunha. Mercadante foi rifado porque – imagine! – não deixou que o pessoal do Lula loteasse o país, ocupando ainda mais cargos no governo. Também pesou contra ele os repetidos “nãos” aos parlamentares que iam em procissão ao seu gabinete a procura de liberação de emendas com a justificativa de que o dinheiro seria para obras sociais em suas bases.

Perdeu feio Lula temia uma provável candidatura de Mercadante à sucessão da Dilma. Ele sabe que o cargo do companheiro seria um trampolim à presidência, a exemplo do que aconteceu com a Dilma, que virou presidente quando a economia estava estabilizada. Dilma, mais uma vez, perdeu feio, muito feio. Deu uma demonstração ao país de que não manda e nem decide nada mais no governo. Para manter as aparências, ainda conseguiu realocar o seu “Príncipe Encantado” no Ministério da Educação, sua antiga caserna.

Fisiológicos O imbróglio da presidente não tem fim, como também não tem fim a sede do PMDB por cargos. Quando os brasileiros pensavam que o partido do saudoso Ulysses Guimarães iria apresentar ao país uma saída para a crise, eis que alguns fisiológicos do partido aparecem com uma lista de nomes para ocupar os cargos vazios do governo. A proposta para dividir a responsabilidade na administração partiu de quem? Dele, do próprio Lula, que prefere entregar os anéis a perder os dedos. E, mais uma vez, os peemedebistas assumem o ônus desse governo desgastado, corrupto e incompetente em troca de alguns carguinhos que lá na frente vão ter que abrir

mão com a progressão da crise.

As boquinhas

O que ocorre com o PMDB tem semelhança com o PT. Muitos peemedebistas históricos perderam a eleição e estão desempregados. Acostumados a se servirem da máquina pública, lutam com unhas e dentes para se manterem no poder. Muitos deles dão plantão dia e noite no Palácio do Jaburu, casa do vice-presidente Michel Temer, de olho nas boquinhas que ele oferece ao partido. Ou seja: quem pensava que o PMDB estaria fora do fisiologismo quebrou a cara. A cúpula do partido só vai desgrudar do governo quando não tiver mais gordura para queimar.

Indignação E, nós, o que devemos fazer? Precisamos alimentar um movimento, usando todos os meios de comunicação, para demonstrar a nossa indignação. Não é possível que um partido como o PMDB,que lutou pela redemocratização, que reorganizou o país na Assembleia Nacional Constituinte, que viu muitos de seus militantes serem degolados pela repressão, numa hora como essa desonre os brasileiros. Prefira acomodar seus militantes desempregados, sem votos, a convocar a sociedade para uma reflexão, um projeto que unifique o país em torno de uma saída para a crise.

Na contramão O partido está indo na contramão da história. A última pesquisa mostra que a Dilma não tem o apoio da população, mas ela insiste em dividir o poder, mesmo com uma rejeição astronômica de 70%. Mesmo assim, a cúpula do PMDB quer mantê-la na presidência como uma figura decorativa, mesmo sabendo das suas fragilidades. A partir de agora, é obrigação dos peemedebistas encontrar uma solução para a crise sob ameaça de acompanhar a Dilma à sepultura.

Boi de piranha Se depender de Eduardo Cunha, agora mais enrolado na Lava Jato, e seus filhotes peemedebistas do Rio, o PMDB vai carregar nas costas a crise do PT. É assim que os petistas, liderados por Lula, agem. Quando a coisa desanda, eles procuram um boi de piranha para ser devorado. E a travessia do rio, com esse boi na frente, agora será do PMDB. E o sonho de chegar à presidência com candidato próprio em 2018certamente vai ficar mais longe. É o instinto,


4 - extra - MACEIÓ, ALAGOAS - 09 A 15 DE OUTUBRO DE 2015 Freio

GABRIELMOUSINHO

Dificilmente a Câmara Municipal de Maceió vai querer aumentar o número de parlamentares para a próxima legislatura. Mas tem que decidir, para evitar que a Justiça entre numa seara que é obrigação do legislativo. Aumentar o número de vereadores não é bom para os atuais e muito menos para a imagem da Câmara, que irá estourar o seu orçamento em tempo de crise.

gabrielmousinho@bol.com.br

Maquiavel das Alagoas

Gasolina vai subir

O

governador Renan Filho parece ter lido Maquiavel, o Príncipe, obra que sempre atraiu a classe política e que serviu de parâmetro para muitas administrações pelo mundo afora. Ele de uma só vez sapecou impostos nas costas dos alagoanos e, em contrapartida, fez uma festa ao comemorar a redução de assassinatos no Estado e anunciar que em breve irá convocar a reserva técnica da Polícia Militar como havia prometido. Jovem, mas de vasta experiência, o que deve ter aprendido com o pai, Renan Filho vai navegando nos impactos das informações do governo e afirma que este pequeno sacrifício dos alagoanos será compensado futuramente. O que o governador não gosta de falar é que os empresários reagem, embora de maneira muita acanhada, do arrocho fiscal, da quebradeira de empresas e da contenção de novas contratações principalmente nesta época do ano. Maquivel diz, na sua obra, que o mal tem ser feito de uma só vez, caso aqui de mais impostos e, o bem, aos poucos. Renan parece não estar muito preocupado com a saúde financeira de pequenas empresas atoladas em dificuldades. Quer promover o superavit do Estado, independentemente de quem possa sofrer mais ou sofrer menos. Esta política de aumentar impostos é própria daqueles que não encontram alternativas e parecem desconhecer o tamanho do Estado, inchado, ineficiente. O pior de tudo isso é que a conta sempre é paga pelos contribuintes, embora ninguém possa prever até quando essa situação poderá perdurar no país. A corda já esticou até onde pôde. Apertar mais, e é o que está acontecendo, pode causar revolta na população. O que é um grande perigo para um Estado pobre como o nosso.

Não cola O secretário George Santoro tenta justificar o injustificável, ao mandar um pacote de impostos que começarão a vigorar a partir do próximo ano. Ele diz que tem que cobrir um rombo de 200 milhões de reais no orçamento de 2016 e que a conta será paga pelos mais ricos. Será? Entre as medidas de arrocho fiscal estão o reajuste do ICMS, que vai ter 1% a mais para o tal de Fecoep, o aumento de ICMS para serviços de telecomunicações, que será sobretaxado de 25% para 28%, além de impostos para outros setores da economia. Ah, e ainda tem o reajuste do ICMS da gasolina de 25% para 27%. Tudo isso reflete na cesta básica da população.

Convencer quem? Santoro parece que está de brincadeira, quando afirmou que ele e o secretário de Planejamento, Chistian Teixeira, iriam para a Assembleia Legislativa tentar convencer os deputados a aprovarem o pacotão. Para uma Assembleia submissa, o governo pode mandar qualquer coisa que será aprovada.

Mesmo que o secretário George Santoro diga que a coisa não vai atingir a classe mais sacrificada, a perspectiva do reajuste na gasolina é chegar a 4 reais o litro até o final do ano. Tudo isso pelo aumento do ICMS e da CIDE, imposto de garganta abaixo para a população. Em certas ocasiões, seria muito melhor que Santoro ficasse calado. Afinal de contas, ele não é daqui nem veio pra ficar.

2016 será pior Quem pensar que o próximo ano será melhor é bom ir se prevenindo. Com o pacotão do governo estadual e o pacotaço do governo federal, a situação só tende mesmo a piorar num ano de eleições.

Lei seca? Mesmo com as dificuldades na área econômica que atingem principalmente a população de baixa renda, o dinheiro vai vadiar nas eleições do próximo ano. Alguém duvida?

Encurtando mandato A legislação eleitoral com a minirreforma política estabelece regras que parecem não estar sendo muito bem compreendidas por políticos profissionais. O deputado Givaldo Carimbão, por exemplo, quer sair candidato no próximo ano a prefeito de Delmiro Gouveia, mas deve ficar sabendo que terá de abdicar dois anos de mandato como federal e, se eleito, não poderá se candidatar mais a prefeito do município. Na mesma situação está o deputado Cícero Almeida, que pretende retornar à Prefeitura de Maceió.

Só pensa naquilo Esta situação parece não preocupar Givaldo Carimbão, que estava disposto a sair candidato a prefeito de municípios mais importantes de Alagoas. Ele tentou São Miguel dos Campos, União dos Palmares, Santana do Ipanema e não encontrou brechas. Acertou agora em Delmiro Gouveia, com negócios políticos com Lula Cabeleira.

Experiência de Nonô

Alto lá

O prefeito Rui Palmeira apostou na experiência do ex-vice governador José Thomaz Nonô para tocar a pasta da Saúde do município. É um desafio, mas Nonô tem dado mostras de competência por onde tem passado. Além do mais, o prefeito começa a reforçar seu time para o embate político do próximo ano.

Até agora ninguém sabe o que realmente provocou o afastamento do governador Renan Filho por dez dias e a assunção do vice Luciano Barbosa, que andava meio afastado do Palácio. Dizem que Luciano assumiria o governo para nomear o deputado Olavo Calheiros como conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. Para quem conhece Luciano, sabe que ele não se submeteria a um vexame desses.

Fechado

Arrumação

O prefeito Rui Palmeira vai caminhando devagar, com cuidado, observando o panorama político com precaução. Começou a se mexer meses atrás. Agora, fechou acordo com o Democratas, de Thomas Nonô, além de manter firme a parceria do PSDB dele com o PP do senador Benedito de Lira. Outros partidos também poderão chegar nos próximos meses.

A arrumação política em Delmiro Gouveia já está consolidada. O atual prefeito Lula Cabeleira vai apoiar Givaldo Carimbão para ser seu sucessor e indicará o vice na chapa do deputado. Amigos de Lula confidenciam que o prefeito já está cansado de tanta traição na política alagoana e especialmente naquela região do sertão. Ninguém sabe qual a certeza dele jogar tudo na candidatura de Carimbão.

Preferência

O deputado Inácio Loiola e sua sobrinha Mellina Freitas deverão disputar, respectivamente, as prefeituras de Marechal Deodoro e de Piranhas. Eles negam, mas as composições de bastidores indicam este quadro político. Um dos melhores quadros da Assembleia, Inácio Loiola, com esta decisão, vai abdicar de mais dois anos de mandato na Casa de Tavares Bastos.

O deputado Cícero Almeida não deverá ter o apoio do PMDB nas próximas eleições, esperança que ele ainda mantém. Quem deverá entrar em uma composição é Mozart Amaral, que já foi seu secretário de Infraestrutura na Prefeitura de Maceió. Os caciques do PMDB olham desconfiados para Almeida.

A vez do PDT Quem poderá formar no time de partidos de Rui Palmeira é o PDT. Conversas de bastidores apontam o deputado federal Ronaldo Lessa como um admirador do prefeito de Maceió, que não quer nem ouvir em falar agora de candidatura majoritária.

Dobradinha

Oportunidade perdida Bem que o Ministério Público e a Justiça Eleitoral perderam uma grande oportunidade de observar a eleição de integrantes de Conselheiros Tutelares. A farra de apoio explícito de vereadores e deputados foi grande. Era como se estivéssemos disputando uma eleição para prefeito, governador ou senador. Os políticos usaram de tudo durante a campanha, desde trio elétrico para eleger aqueles que futuramente serão seus cabos eleitorais. Com quais recursos, bem, aí é outra história.


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MASSA FALIDA

Justiça prepara venda de aeronave de João Lyra

Juiz nomeia sindicalista como representante dos trabalhadores no Comitê de Credores Bimotor de JL é um Carajá, como este da foto, fabricado em 1985; tido como sucata, no ano passado ele foi avaliado em R$ 300 mil JOSÉ FERNANDO MARTINS Especial para o EXTRA

A

s mudanças na Massa Falida da Laginha Agroindustrial,do empresário e ex-deputado federal João Lyra, continuam. Após o advogado Luiz Henrique da Silva Cunha deixar o cargo de gestor judicial para se tornar o administrador da massa, agora é a vez do Comitê de Credores sofrer alteração. Quem deve assumir como relator do comitê que representa os ex-funcionários do grupo é o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Açúcar no Estado de Alagoas (STIA/AL), Jackson de Lima. A ordem do juiz de Coruripe, Kleber Borba, foi publicada nos autos do processo no dia 2 deste mês.. Com cerca de 10 mil trabalhadores na lista de espe-

ra para receberem salários e direitos, o processo da Laginha ainda tem o desafio de quitar todas as dívidas com bancos e fornecedores. Para isso, é necessário correr contra o tempo e a depredação do patrimônio para angariar R$ 2 bilhões com a venda das cinco usinas do grupo, sendo três localizadas em Alagoas e duas em Minas Gerais. A usina Uruba, de Atalaia, foi a primeira a ser arrendada e voltará a moer safra da cana em novembro. Quem assumiu o empreendimento foi a Cooperativa da Cooperativa dos Produtores Rurais do Vale de Satuba (Coopervales), que arrendou a unidade e vai administrar a moagem. Enquanto isso, trabalhadores aguardam algum retorno financeiro dos vencimentos pendentes. Em entrevista ao EXTRA, eagora integrante do Comitê de

Credores, Limaafirmou que lutará pelo direito dos funcionários, e que parte desses serão recolocados no mercado de trabalho com o arrendamento daUruba. Para garantir a moagem de 700 mil toneladas de cana nesta safra, a previsão é que cerca de 1.500 postos de trabalho sejam gerados inicialmente, com expectativa que esse número ultrapasse os 3 mil. “A intenção é dar prioridade àqueles que já trabalharam para o grupo.A volta da Uruba pode dar um novo fôlego à cultura da cana que passa por uma crise não só em Alagoas, mas em todo o país. O aumento da gasolina pode reaquecer a produção de etanol no estado favorecendo o setor sucroalcooleiro”, analisou. Desde o pedido de falência em 2008 já passaram pelo processo juízes, admi-

nistradores e outros gestores que sempre prometiam o andamento da burocracia falimentar. Na edição da semana passada, o EXTRA abordou a “dança da cadeira” do último administrador judicial, João Daniel Marques Fernandes, que ficou no cargo apenas 45 dias e foi destituído por decisão do juiz Kleber Borba. O ex-gestor recorreu à justiça para voltar à atividade. Na ação, ele alegou que a decisão do juiz foi “unilateral, desmotivada e açodada”. O interesse de gerir a Massa Falida de João Lyra seria os salários expressivos. Cada gestor, por exemplo, ganha R$ 50 mil por mês mais gratificação trimestral que pode chegar a R$ 200 mil. Já os advogados têm o céu como limite em termos de honorários.No caso do presidente do STIA/AL, Jackson de Lima, a

indicação para fazer parte do comitê partiu dele mesmo. “Trata-se de petição do presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Açúcar no Estado de Alagoas, o Sr. Jackson de Lima Neto, o qual requer a sua nomeação para o cargo de relator do Comitê de Credores Classe ‘1’”, destacou Borba nos autos do processo. Ao semanário, o sindicalista confirmou que foi contatado pelo atual administrador para sugerir um nome para o comitê. “Dei meu nome para não atrasar o processo e irei defender os trabalhadores nessa missão tão importante”, disse Lima. QUESTÕES ADMINISTRATIVAS O administrador judicial da Massa Falida, Luiz Henrique da Silva Cunha, pediu a autorização para a venda antecipada e direta do bimotor Carajá da Embraer PT -RVT. Frabricado em 1985 e avaliado em R$ 300 mil, ele está sem funcionar desde dezembro de 2011. Conforme os argumentos processuais, o bem carece de conserto e manutenção, que são excessivamente dispendiosos, e a massa não dispõe de recursos necessários para tal finalidade. O juiz Kleber Borba acatou o pedido e justificou nos autos que, por ser um procedimento demorado, a venda da aeronave será realizada sem leilão. Cunha também requereu ao magistrado a autorização para a venda antecipada da cana-de-açúcar da massa falida, plantada nas regiões Nordeste e Sudeste e a prorrogação do prazo para a prestação de contas referente ao mês de agosto, argumentando não ter havido o fornecimento do extrato bancário do referido mês da conta corrente da massa falida pela instituição financeira bancária.


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MACEIÓ, ALAGOAS - 09 A 15 DE OUTUBRO DE 2015 - 7

TEMPO DE CRISE

Renan Filho faz ajuste fiscal “para ricos” Deputados reclamam do tamanho da fatura no que se refere ao imposto sobre heranças e adiam decisão ODILON RIOS Especial para o EXTRA

O

governo conseguiu aprovar, com maioria, na Assembleia Legislativa, o ajuste fiscal “para aqueles que podem pagar”; o deputado Rodrigo Cunha (PSDB) desmente: “É para todos pagarem”. Assim foi a tramitação do plano de aumentos nos tributos da era Renan Filho (PMDB). Mas, o que prevaleceu foi o poder do chefe do Executivo. A exceção foi uma das medidas que atinge o bolso dos próprios parlamentares, o reajuste de 2,5% para 8% no Imposto sobre Causa Mortis e Transmissão de Bens (ITCD). Os parlamentares querem a metade: 4%. Seis mil doações estão pendentes. A matéria será analisada separadamente. A alíquota do ICMS hoje em 25% - cai para 23% para o álcool. Já a gasolina terá aumento de 2% (27% para 29%). Em novembro, os usineiros recomeçam a pagar débitos antigos com os cofres do Estado e as usinas tentam se adequar ao cenário de crise. “89% da frota do Estado

é flex, ou seja, os carros abastecem tanto álcool como gasolina. A gasolina não fica mais cara, terá o mesmo patamar de outros estados”, disse o secretário da Fazenda, George Santoro. “Estamos preservando 100 mil empregos do setor sucroalcooleiro”, acrescenta. IMPOSTOS O plano quer arrecadar R$ 140 milhões/ano em impostos. Envolve aumento nos tributos em itens considerados supérfluos, explica o secretário: “Estamos adequando essa carga tributária com o restante do país, só Governador Renan Filho aumenta impostos para enfrentar crise isso, nada de muito sofisticado ou maior nestes pacotes”, disse, pouco antes de entrar cigarro. “Estamos pegando impostos iria atingir todos no gabinete do presidente produtos que não são essen- os produtos e a resposta que da Assembleia, Luiz Dantas ciais. Nada que não é essen- tive é que sim. Tudo vai au(PMDB), e explicar aos de- cial está sendo aumentado. mentar. Não adianta dizer putados como vai funcionar o Cesta básica não tem au- que é um aumento apenas para itens supérfluos ou de pacote. Ou os pacotes, como mento”, afirma. “Alagoas não pode tribu- luxo”. chama. “Se o governo está apreParte das medidas in- tar menos alguns produtos cluem isenções a mototaxis- que outros estados. Temos sentando um projeto para a tas e transportadores alter- que tributar igual”, disse o crise, cadê o prazo final? Fui surpreendido também ao sanativos. “Reconhecemos a secretário. O deputado Rodrigo ber que o governo não possui situação de quem não pode pagar e colocando tributa- Cunha, que assistiu à expo- nenhum estudo sobre o valor ção de quem pode pagar”. Na sição de Santoro, criticou as que se pretende arrecadar, ou seja, estão aumentando os lista, aumentam os tributos: medidas do governo: “Perguntei diretamente impostos, mas não se sabe o joias, algumas bebidas alcoólicas (entre elas a cachaça), ao secretário se o pacote de quanto esse pacote vai gerar

de arrecadação”, questionava o deputado antes da votação do pacote. MAIS CORTES Apesar de não adiantar, o secretário do Gabinete Civil, Fábio Farias, admitiu que o governo tem novos estudos para cortar ainda mais “na carne”, ou seja, na administração, para fazer cumprir o ajuste fiscal. “Se houver necessidade de mais cortes será feito. Isso está sendo estudado”, disse. O EXTRA perguntou onde estão as “gorduras” do Estado, aquilo que poderia ser cortado. O secretário desviou: “O Estado está enxuto. Temos 17 secretarias, reduzimos 30% dos cargos comissionados. Mas, o ajuste se impõe à necessidade”, disse. Internamente, o temor do governo é o atraso nos salários dos servidores ou os pagamentos parcelados. Sergipe paga os vencimentos dos servidores em fatias. Projeção interna na administração Renan Filho é que os salários dos servidores sejam pagos em parcelas a partir de fevereiro. O governo nega este diagnóstico, mas não afasta os riscos. HISTÓRICO Este é o terceiro conjunto de medidas apresentadas pelo Governo Renan Filho, sob o argumento de ajustar o orçamento e fazer a máquina pública responder mais rápido aos atrasos nos repasses de recursos federais ou frustração de receita ou cortes de recursos. O Fundo de Participação dos Estados (FPE) deve receber menos R$ 60 milhões até dezembro. O Sistema Único de Saúde registraria transferência federal em R$ 264 milhões. Mas terá menos R$ 23 milhões até o fim do ano. Nos seis primeiros meses do ano, o governo economizou R$ 20 milhões em pregões.


8 - extra - MACEIÓ, ALAGOAS - 09 A 15 DE OUTUBRO DE 2015

DRIBLANDO A CRISE

Rui Palmeira investe na estima da classe média e vai para a rua Prefeito quer se comparar a pai de família: orçamento apertado mas cumprindo obrigações ODILON RIOS ESPECIAL PARA O EXTRA

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prefeito Rui Palmeira (PSDB) fez as pazes com as ruas em Maceió. Pôs os sapatos no asfalto em clima de campanha. As eleições serão em 2 de outubro do próximo ano. E os dias são contados a cada passo, medidos a cada declaração ou foto. Os cofres do município precisaram sentir os efeitos da crise financeira nacional e a frustração de receita para desgrudar o prefeito do conforto do gabinete e fazê-lo cumprir uma agenda com até três compromissos públicos. Sem a performance do antecessor, Cícero Almeida, e com todos os partidos políticos em crise e sem representantes que possam atrapalhá-lo na disputa pelo segundo mandato, Rui anda em um terreno praticamente sem obstáculos, mesmo

De olho na reeleição, Rui Palmeira vai às ruas e procura agradar a todos os setores da classe média

subindo as ladeiras da íngreme comunidade de Piabas, no bairro do Jacintinho, ou os degraus cobertos por tapete sempre aspirado do Tribunal de Justiça para solenidades. Em 2012, venceu o exgovernador Ronaldo Lessa (PDT) porque o principal opositor era a Justiça. Foi a eleição do WO. Em 2015, Lessa e Rui mantêm contatos frequentes, trocam figurinhas por telefone, têm encontros pessoalmente em Brasília. Será outro WO? “O Rui Palmeira é uma pessoa séria. Pode estar tendo suas dificuldades, ou não correspondendo ao que ele mesmo gostaria de estar perante a opinião pública, mas não há defeito no Rui que macule o fato de que eu posso estar ao lado dele. Eu não faço política com meu fígado”, disse um recauchutado Ronaldo Lessa, em agosto, agora mais “cerebral”. Agora, quem poderia enfrentá-lo nas urnas é o hoje apagado deputado federal Cícero Almeida. Mas, as incertezas dentro do PRTB aumentam as chances de ele continuar como está: cupincha do presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros (PMDB) que, ao contrário, quer vê-lo longe do cenário local.


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DRIBLANDO A CRISE

ETERNO RETORNO A classe média - principal preocupação de Rui, por terem os formadores de opinião- não está mais às turras com o tucano. A popularidade desabou durante a desocupação da favela de Jaraguá e a indefinição sobre o futuro das famílias. Mas, nas últimas semanas, a briga do prefeito com a Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal) parece ter animado as hostes palmeiristas. Rui foi à Justiça contra a companhia pelo despejo de esgoto nas praias de Maceió - onde, aliás, moram as classes média e alta da capital. Obrigou o governador Renan Filho (PMDB) a sair da

zona de conforto em relação ao futuro da Casal: ele pediu de volta da Assembleia Legislativa - onde estava desde o final do ano passado - o projeto que abre o capital social da empresa. Na prática, a privatização da estatal. E levou Renan a uma promessa digna de ser lembrada: fazer o esgotamento de 100% de Maceió até o fim do governo. “O prefeito vai onde estão os pais de família. E mostra que se eles estão sem dinheiro para cumprir as principais obrigações, a prefeitura também está”, analisa o vice, Marcelo Palmeira (PP). “Mas, os pais de família cortam recursos para fazerem a casa funcionar. É a

mesma coisa com o prefeito. Os salários não estão atrasados e são pagos em dia. Em outros estados há atraso. Veja Sergipe e Rio Grande do Sul. E veja que mesmo com todos os problemas todos os bairros de Maceió têm uma obra”, analisa Marcelo. O vice também vai para a rua. O objetivo do prefeito é evitar o aumento das especulações sobre a troca de Marcelo por um nome do PMDB, já que Renan e Rui estão em constantes conversas sobre uma união política em 2016. TODOS OS BAIRROS Rui não descobriu a roda. Investiu em um recurso simples: “A conquista tem de ser

para todas as classes e em todos os bairros. O prefeito encarou algo difícil: fechar posto de saúde e escola para reforma. Político não quer isso. E foi feito. O resultado vem melhorando”, disse o vice Marcelo. “Claro, falta muito para ser conquistado”. Um dos resultados está nas redes sociais. No Facebook, na última terça (6), a assessoria do prefeito postou uma foto do avô, Rui, e do pai, Guilherme, ambos com carreira política em Alagoas. Dos seis comentários, um foi negativo. Dias antes, o apelo emocional foi maior: uma foto da filha no colo dele, em frente ao mar de Pajuçara. Dos 24

comentários, nenhum negativo. Um selfie ao lado da mulher e da filha com jangadas do projeto Velas Artes? 68 comentários. Todos com elogios falando em “família”, “união”, “amor”. Ao falar da crise, as críticas vão mais para serviços públicos: ruas não asfaltadas, buracos. Nada de especulação imobiliária, ciclovias. Mesmo os críticos ao prefeito acabam silenciados pelas defesas nas redes sociais. E não são assessores. Porém, ainda falta um ano para as eleições. E em um ano, vendo os principais acontecimentos do país, muita coisa pode mudar para melhor. Ou pior.


10 - extra - MACEIÓ, ALAGOAS - 09 A 15 DE OUTUBRO DE 2015 MORTE DE ADVOGADO

STJ assume investigação sobre trama contra juiz Inquérito da PF reforça tese de que o alvo do crime ocorrido em 2009 seria o juiz Marcelo Tadeu VERA ALVES veralvess@gmail.com

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Superior Tribunal de Justiça (STJ) enviou a Alagoas esta semana um juiz federal para ouvir testemunhas e possíveis implicados no assassinato do advogado Nudson Harley Mares de Freitas, crime ocorrido a 3 de julho de 2009 na Avenida João Davino, em Mangabeiras. Natural de Minas Gerais, ele estava há apenas 15 dias em Alagoas a serviço da empresa Qualitec, contratada pela Construtora OAS, e teria sido morto por engano. O verdadeiro alvo dos assassinos seria o juiz Marcelo Tadeu Lemos de Oliveira. Seis anos depois, o caso volta à tona depois de investigações conduzidas pela Polícia Federal a pedido da Procuradoria Geral da República e foi parar no STJ devido à citação do nome do desembargador Washington Luiz Damasceno Freitas, irmão do ex-prefeito de Olho d’Água do Casado, Wellington Damasceno Freitas, o Xepa. Xepa foi um dos ouvidos nas oitivas realizadas na última ter-

ça-feira pelo juiz federal Márcio Flávio Mafra Leal. Integrante do Tribunal Regional Federal da Primeira Região (TRF-1), ele atua como juiz instrutor do gabinete do ministro do STJ João Otávio de Noronha, relator do processo que tramita na corte superior de Justiça. Na quarta, 7, foi a vez de Marcelo Tadeu ser ouvido em audiência pelo juiz Flávio Mafra. Os depoimentos aconteceram na sede da Justiça Federal em Maceió a portas fechadas. Procurado pelo EXTRA, o magistrado confirmou ter sido ouvido, mas afirmou que não poderia entrar em detalhes já que o processo corre em segredo de Justiça. Marcelo Tadeu contou apenas ter ido a Belo Horizonte prestar solidariedade à família de Nudson Harley Freitas que, embora fosse advogado, estava atuando como técnico de solo pela Qualitec e a serviço da OAS. Ele tinha 46 anos e estava em um orelhão quando foi alvejado a tiros por dois elementos que fugiram em uma motocicleta. A poucos metros estava o magistrado, que havia acabado

Ministro João Otávio de Noronha, do STJ, manda apurar possível trama para matar o juiz Marcelo Tadeu

de sair de uma farmácia. Semelhanças físicas, mesma idade e mesmo tipo de roupa, além de outras “coincidências”, levaram o magistrado a suspeitar, pouco depois do crime, que seria ele o alvo dos tiros deflagrados de uma pistola ponto 40. As suspeitas que tomaram as manchetes da imprensa local na época terminaram sendo descartadas pela Polícia Civil após um inquérito classificado como confuso e inconcluso. A origem da arma – saiu de um depósito do Tribunal de Justiça que naquele período funcionava nas dependências do 59º Batalhão de Infantaria Motorizado e era prova de crime em outros processos –, falhas do Instituto de Criminalística, que inicialmente disse que os projéteis advinham de uma pistola 357, e pressões durante a fase judicial acabaram alimentando

ainda mais as suspeitas. Levado ao conhecimento do Conselho Nacional de Justiça, o homicídio terminou sendo alvo de novas investigações por parte da Polícia Federal, cujo inquérito foi remetido ao STJ, onde o processo tramita sob segredo de Justiça. Também procurada pelo EXTRA, a PF em Alagoas confirmou as investigações, mas assinalou não poder fornecer os detalhes por conta do sigilo judicial. DECISÕES POLÊMICAS Aos 52 anos, o juiz Marcelo Tadeu tem um histórico de decisões que foram manchete na imprensa local tanto como titular da 4ª Vara Cível da Capital como da Vara de Execuções Penais e como juiz eleitoral que teriam contrariado interesses políticos e econômicos. As mais polêmicas são as rela-

cionadas à prisão de integrantes da Gangue Fardada – grupo de militares acusado de extermínio e liderado pelo ex-tenentecoronel Manoel Cavalcante –, ao assassinato do tributarista Silvio Vianna (apontou o ex-deputado João Lyra como provável mandante do crime) e à anulação de 12 mil títulos de eleitor na região do Sertão e cassação do mandato do prefeito eleito no município de Olho d’Água do Casado em 2012, Wellington Damasceno Freitas, o Xepa. Denúncias de arbitrariedades por parte de membros do Judiciário levadas por ele ao conhecimento do CNJ em 2007 também fizeram aumentar o coro dos descontentes com o magistrado que, no caso do atentado que resultou na morte do advogado mineiro, afirma querer apenas ver esclarecida a verdade dos fatos.


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POLÍTICA

Marcelo Lavenère diz que não existe motivo jurídico para Dilma ser cassada Autor do pedido de impeachment de Fernando Collor de Mello defende permanência da presidente

DA REDAÇÃO

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urante entrevista à Folha Online o advogado Marcelo Lavenère, um dos dois autores do pedido de impeachment de Fernando Collor de Mello, compara as condições daquele ato, em 1992, com a atual situação da presidente Dilma Rousseff. Há 23 anos o ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil entregava ao então presidente da Câmara, Ibsen Pinheiro, o pedido de impeachment que resultou no afastamento definitivo de Collor. Atualmente há mais de 10 pedidos de impeachment contra Dilma Rousseff nas mãos do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB/RJ). Lavenère não acredita na fundamentação legal de nenhum deles. “Como acompanhei de perto o impeachment do presidente Collor e estou acompanhando agora o episódio que ocorre em relação à presidenta Dilma, posso afirmar que as circunstâncias e o ambiente em que um e outro se dão são absolutamente diferentes. Naquele momento o presidente Collor estava sendo acusado pessoalmente de ter praticado atos ilícitos fraudatórios da confiança do voto durante o mandato para o qual ele tinha sido eleito. Neste momento atual, a presidenta Dilma Rousseff não está sendo apontada como tendo feito nenhum ato que pudesse justificar o impeachment”. Lavenère ainda alerta para possibilidade de golpe e ava-

lia que a atual movimentação de impeachment é política. “O processo de impeachment é um misto de processo jurídico com processo político. Se levarmos em conta exclusivamente o seu aspecto político, ou seja, a vontade de determinados segmentos de representantes políticos quererem exercer o impedimento ou a ruptura do mandato de uma presidente que foi regularmente eleita, então corremos o risco, sim, de haver isto que eu chamo um golpe, porque o processo de impeachment não é somente um processo político, ele é um processo jurídico”. A deliberação final na Câmara pela admissibilidade ou não da abertura de um processo de impeachment é uma votação no Plenário da Câmara. Votam os 513 deputados apreciando o parecer que venha ou de uma Comissão Parlamentar de Inquérito ou da Comissão de Constituição e Justiça. Se votada a admissibilidade do impeachment e for acolhida essa admissibilidade, abre-se o processo do impeachment já não mais na Câmara Federal, porém corre no Senado da República, é o tribunal que vai julgar o processo sob a presidência do presidente da Suprema Corte. Admitida a admissibilidade do recurso e instaurado o processo no Senado, a Constituição prevê que a presidente se afaste do exercício do cargo, se for o caso. Ela continua sendo presidente da República, mas quem exerce o cargo é o vice -presidente da República. Se

Marcelo Lavènere defende o governo petista e diz que o caso de Dilma é diferente do de Collor em 1992

“Os grandes veículos da imprensa brasileira atendem aos interesses das elites econômicas e tomam partido muito claro de oposição ao atual Governo, que tem raízes em convicções políticas afeiçoadas aos interesses populares, aos interesses do povo mais pobre”. MARCELO LAVENÈRE AADVOGADO

o impeachment vier a ser negado, o presidente volta para o exercício do cargo; se for aprovado, uma das consequências é a perda do cargo, a cassação do mandato. Por fim, Marcelo Lavenère criticou a mídia: “Os grandes veículos da imprensa brasileira atendem aos interesses das elites econômicas e tomam o partido muito claro de oposição ao atual governo, que tem raízes em convicções políticas afeiçoadas aos interesses populares, aos interesses do povo mais pobre. O grande conglomerado de televisão e os principais jornais desenvolvem sabidamente uma campanha de desqualificação do governo atendendo aos seus anunciantes e atendendo aos

interesses que esses grandes veículos representam. Como esses grandes veículos de comunicação, tendo um partido tomado, têm uma opção de veicular as teses da oposição política ao governo, isso cria, sim, no espírito do povo brasileiro, uma má informação, uma informação deformada, desviada, que é lamentável que possa existir num país como a democracia brasileira”. Em tempo: A entrevista foi concedida antes de o Tribunal de Contas da União recomendar ao Congresso a rejeição das contas do governo de 2014. As irregularidades apontadas pelo TCU somam R$ 106 bilhões, sendo R$ 40 bilhões referentes às chamadas “pedaladas fiscais”.


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HISTÓRIA DE ALAGO-

Jaraguá e a praça em que os leões venceram um general EDBERTO TICIANELI Jornalista

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uando o tenente coronel português Sebastião Francisco de Mello e Povoas desembarcou em Jaraguá no ano de 1818, a região portuária era ainda um arruado apartado de Maceió. Nos anos seguintes, vários investimentos seriam realizados na Vila de Maceió, principalmente os voltados para as atividades do porto com a instalação das repartições fiscais e a defesa da área de atracação e de construção de barcos. Em 1820, ao mesmo tempo em que são instaladas as baterias reais de São João e São Pedro, Jaraguá também recebe investimentos da Igreja Católica com o início da construção de uma capela em homenagem a Nossa Senhora Mãe do Povo. O local escolhido foi o final do arruado, próximo aos casebres de palhas dos pescadores do começo da Pajuçara. A exemplo de outras obras iniciadas nesse período, que evoluíam lentamente por falta de recursos, a simples capela só foi concluída em 1º de agosto

de 1827,no mesmo ano em que foi criada a freguesia. Localizada onde hoje é a Praça Bom Jesus dos Navegantes, a capela, seguindo a tradição da época, teve uma área à sua frente naturalmente reservada para as festas religiosas. O crescimento das atividades portuárias de Jaraguá e o consequente desenvolvimento da Vila de Maceió levam segmentos econômicos de Alagoas a discutirem a mudança da capital de Alagoas (então Marechal Deodoro) para Maceió, fato que só aconteceria em 1939, após muita disputa política. Maiores investimentos em Jaraguá só voltariam a acontecer a partir de 1865, quando o engenheiro Carlos de Mornay projetou a Ponte de Embarque para uma área próxima da Praia da Avenida. Entretanto, em 1868, quando a obra mal tinha começado, o então governador Graciliano Arestides convenceu a empresa construtora a mudar a sua localização. “O local destinado para esta obra não me pareceu o mais apropriado. Em conferência com o superintendente Hugh Wilson fiz ver

isto e exigi que declarasse se podia ser em frente do largo da Matriz, que por mais espaçoso e mais próximo ao recife, onde o mar é menos encapelado, mais comodidade oferece aos passageiros”. A mudança foi aceita pela empresa construtora e a ponte foi inaugurada no novo local em 1870. Com a capela e a Ponte de Embarque, o local passou a ser mais valorizado e atraiu a construção do Consulado Provincial. Em 1868, o presidente da província José Bento Figueiredo Júnior considerava um desperdício do dinheiro público pagar aluguel de 60$000 rs (reis) para se ter instalado o Consulado Provincial. “Melhor fora construir um edifício próprio nas proporções indispensáveis”. Em 1870, o presidente José Bento Figueiredo Júnior inaugura o consulado projetado pelo engenheiro Carlos Mornayce autoriza a construção de um jardim no Largo da Capela, justificando que “além do pequeno jardim do Palacete, não havia outro ponto que servisse de refrigério e recreio à população”. No relatório à Assem-

bleia, o presidente informa que o jardim ficará em frente ao edifício do consulado e que será fechado com muro, gradeamento e portão de ferro. “O viajante, ao saltar, ficará agradavelmente impressionado, deparando com uma praça de estilo moderno, tendo em frente um elegante chafariz, no centro bancos, canteiros e arborização, e sobre pilares do muro lampiões que mais tarde podem ser iluminados a gás carbônico”. Assim surgiu o Jardim do Jaraguá, ocupando a área onde hoje se situa a Praça Dois Leões. Preocupado em guardar simetria entre as obras da Ponte de Embarque, consulado e a praça, José Bento Júnior observou que a construção de entrada da Ponte de Embarque, que ficava em um dos lados do consulado, exigia uma obra semelhante do outro lado. Ele preocupou-se em dar utilidade para a obra: serviria para acomodar o corpo da guarda do consulado. Prova da importância que adquiriu o entorno da praça foi a iniciativa do presidente da província que conseguiu com a Companhia Bahiana que os tri-

Prédio da Recebedoria, antigo Consulado

Praça Dois Leões em meados do século X oficialmente era Praça General Lavenère W

lhos de ferro, que ligavam Jaraguá ao Trapiche, fossem prolongados até a nova Ponte de Embarque. Mas, como nem tudo são flores, mesmo nas praças, em 1872 o então presidente da província, Silvino Elvídio Carneiro da Cunha, apresenta relatório sobre o ano anterior e informa que encontrou o Jardim de Jaraguá abandonado e que mandou fazer reparos. “Será um recreio muito agradável que terá no futuro a população de Jaraguá. Já que tão avultada despesa se fez com esta obra, que muito concorrerá para o aformoseamento do porto, cumpre que o governo não


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ado Provincial, nos anos 1940

ulo XX, quando ère Wanderley

Consulado Provincial no início do século XX

A praça após reforma de 1905 e antes de 1918

abandone-a, e ao contrário lhe dê todo possível aperfeiçoamento”. Em 1876, foi a vez da construção do consulado também receber críticas. O presidente João Thomé da Silva informou à Assembleia que a cobertura do edifício precisava de reparos por causa das goteiras. “Conviria antes reconstruí -la, em vista da má construção que recebeu”. Outro investimento importante realizado em Jaraguá, que também afetou a praça, foi calçamento da Rua da Alfândega, concluído em 1877, no governo do presidente Pedro Antonio da Costa Moreira.

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Nesta época, o Jardim do Jaraguá era aberto ao público com horário de visitação determinado pela intendência: de segunda à sábado, das 15:00 às 18:00 horas, e aos domingos, das 6:00 da manhã às 18:00 horas. Esse horário também era adotado pelo jardim da Praça D. Pedro II, no Centro de Maceió. No dia 15 de janeiro de 1888 tem início a construção da atual igreja matriz de Jaraguá, que passou a ocupar a área dos fundos da Capela. Com o recuo a igreja deixou de ter a fachada alinhada com a atual Rua Barão de Jaraguá, mas ganhou a Praça Bom

E aqui em 1982, ainda com um bar construído nos anos 1950

Jesus dos Navegantes. A nova Matriz só foi entregue aos fiéis em 29 de abril de 1923. Em 1905, o Jardim de Jaraguá está destruído, como relata o Intendente, Manoel Sampaio Marques, ao autorizar a sua demolição para a construção da Praça Wanderley de Mendonça em homenagem ao engenheiro civil José de Barros Wanderley de Mendonça, que foi intendente de Maceió (1901 a 1903), secretário de Estado e de-

putado federal. “Realmente o que ali ostentava o nome de jardim não passava de um local destinado ao agazalho dos animais vagabundos daquelle bairro. Foi, pois, meu primeiro cuidado reforma-lo, como dezejava, emprestando-lhe um aspecto que bem dissesse com o nosso adiantamento moral e progresso material”, explica Sampaio Marques. O projeto da praça fica a encargo de Rosalvo Ri-

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beiro, recém-chegado de Paris. É esta reforma que traz da Europa as estátuas decorativas, entre elas o leão e o tigre que seria promovido a leão. Com a imponente presença da realeza animal, não demorou e a vontade popular se fez valer e a praça passou a ser conhecida como a dos dois leões. Um dos equipamentos mais importantes da praça, a Recebedoria, é ampliada em 1918 e recebe um segundo pavimento. A reforma do prédio foi acompanhada pelo arquiteto José Diniz da Silva. Em 1922, como parte das comemorações do centenário da independência do Brasil, a Praça Dois Leões ganha um obelisco. Por força do Decreto nº 33 de 29 de setembro de 1936, a praça passa a se denominar General Lavenère Wanderley, em homenagem ao militar alagoano morto na Paraíba durante a Revolução de 1930. De nada adiantou o decreto. Teimosamente, os dois leões foram se impondo regiamente como donos do local e jogaram no esquecimento o intendente e o general. Para oficializar o que a vontade popular já tinha definido, o vereador Enio Lins, em 1990, fez aprovar lei regularizando vários nomes de ruas e praças da capital. Assim, a Lei nº 3998 de 7 de agosto de 1990 definiu de uma vez por todas que a praça é dos Dois Leões, mesmo que um deles seja um tigre.

Fontes: Memórias de Minha Rua, Félix Lima Júnior, 1981; Irmandades, Félix Lima Júnior, 1970; Maceió, Craveiro Costa, 1981; “Jardim público do Jaraguá”, porta de entrada de Maceió no século XIX e XX. Josemary Omena Passos Ferrare e Tharcila Maria Soares Leão, 2014; site da Câmara Municipal de Maceió; e reportagem de Rivângela Gomes, “Maceió em preto e branco: a história da cidade revelada em fotografias”, de 23 de março de 2013. G1, Alagoas.


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EDUCAÇÃO

MVC E Prefeitura de São Miguel dos Campos inauguram creches Escola infantil do Programa Próinfância em Alagoas atenderá até 240 crianças

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MVC, empresa brasileira líder no desenvolvimento de soluções em plásticos de engenharia e pertencente às Empresas Artecola e à Marcopolo, inaugurou no dia 28 de setembro último, uma nova creche do programa Próinfância na cidade de São Miguel dos Campos, Alagoas. A Escola de Educação Infantil deverá, no primeiro momento, atender 79 crianças e faz parte das 50 novas unidades que serão entregues em diversas cidades do Brasil até o final deste ano. Segundo Gilmar Lima, diretor-geral da MVC, apesar dos atrasos nos repasses de verbas do governo federal para os municípios em todo o Brasil e outros entraves que continuam causando transtornos e demora na conclusão das obras, a empresa segue o seu cronograma de ação e deverá construir, em todo o Brasil, outras unidades até o final deste ano. “A MVC não parou e mantém o seu compromisso de colaborar para que mais crianças brasileiras tenham acesso a creches. A empresa concluiu a obra em São Miguel dos Campos com recursos próprios, pois o município, assim como diversos outros, nos quais a companhia já finalizou as escolas, tem débitos em aberto. Também o repasse

de recursos do governo continua atrasado, o que dificulta o cumprimento do cronograma estabelecido e vem causando transtornos para as comunidades e enormes dificuldades para a nossa empresa”, enfatiza Lima. A nova creche do programa Próinfância foi construída com o revolucionário sistema Wall System e vai atender 120 crianças em cada período, divididos em dois turnos. Com área construída de 1.058 m², possui em sua composição arquitetônica oito salas de aula (bloco pedagógico), bloco administrativo, bloco de serviços, multiuso e pátio coberto. Fazem parte do Programa PROINFÂNCIA - Programa Nacional de Reestruturação e Aparelhagem da Rede Escolar Pública de Educação Infantil, criado pelo governo federal (MEC e FNDE) e que integra o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). “A MVC fez a entrega de seis novas escolas em setembro. Em outubro, serão outras cinco. Em novembro, 10 unidades e, em dezembro, mais 15 escolas. Até março de 2016 serão 100 unidades entregues, se houver melhora nos repasses do governo e pagamento por parte dos municípios. Outras 250 unidades deverão ser concluídas até final de agosto do ano que vem”,

Modernas instalações da nova creche construída pela MVC em parceria com a Prefeitura de São Migual

revela Gilmar Lima. SEGURO E CONFIÁVEL Desde 2004, a MVC já construiu, pelo sistema Wall System, cerca de 250 mil metros quadrados de conjuntos de escolas, casas, creches e edificações de usos diversos no Brasil e no exterior, em países como Angola, Moçambique, Paraguai, Uruguai e Venezuela, entre outros. Em vez dos materiais tradicionais, são construídas com o sistema Wall System, composto de estrutura de perfil pultrudado (compósito reforçado com fibra de vidro de alto desempenho), painel sanduíche de lâminas em compósitos reforçados (similar ao utilizado em aviões,

trailers e barcos, entre outros) e núcleo especial, que garante o desempenho térmico, acústico e resistência a fogo. As características do sistema construtivo Wall System da MVC proporcionam sensíveis ganhos no tempo na construção da creche, padrão de acabamento de elevada qualidade e maior durabilidade e vida útil. Além disso, podem ser totalmente acessíveis, desenvolvidas especialmente para portadores de deficiência. Entre as vantagens em relação ao processo tradicional, o sistema oferece maior velocidade de construção, durabilidade, resistência, flexibilidade, conforto térmico e acústico, obra limpa e des-

perdício zero. O sistema construtivo foi homologado sob a norma NBR 15.575/2013, que define os requisitos de desempenho da construção no Brasil, obtendo classificação superior na maioria dos parâmetros avaliados. SOBRE A MVC A MVC é reconhecida internacionalmente como empresa inovadora e de grande capacidade de aplicação de avançados processos e materiais no segmento de plásticos de engenharia. Desenvolve produtos com soluções completas e personalizadas para os mercados automotivo, transporte, agronegócio, energia eólica e de construção civil.


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PEDROOLIVEIRA pedrojornalista@uol.com.br

Contas rejeitadas: o começo do fim?

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governo sabia que a rejeição das contas pelo TCU iria significar o início efetivo e oficial do processo que buscará impiedosamente o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Trabalhou o quanto foi possível para reverter o quadro desfavorável, usando emissários poderosos a exemplo de Lula, Renan Ca-lheiros e vários de seus ministros e aliados para “convencer” os integrantes do Tribunal de Contas da União. Em um último ato de desespero tentou impedir o julgamento através de uma ação descabida no Supremo Tribunal Federal, que também não aceitou os argumentos frágeis do “socorro do afogado”. Na quarta-feira, num ato de independência e coragem, os ministros do TCU votaram unanimemente pela rejeição das contas da presidente Dilma. A decisão representa uma grande derrota para a presidente, pois será usada por oposicionistas na tentativa de iniciar um processo de impeachment no Congresso. No entanto, não há consenso entre juristas sobre se a rejeição das contas é suficiente para fundamentar um pedido de cassação de seu mandato. Por 8 votos a zero, a unanimidade dos ministros entendeu que o governo cometeu irregularidades na gestão das contas federais, melhorando artificialmente o resultado do Orçamento do ano passado e evitando assim cortes de gastos em ano eleitoral. No julgamento, o relator do caso, mi-nistro Augusto Nardes, disse que, somadas, as operações irregulares praticadas pelo governo melhoraram artificialmente as contas públicas de 2014 em R$ 106 bilhões. Ele criticou o governo por falta de transparência e disse que suas ações caracterizaram “um cenário de desgover-nança fiscal”. Foi a primeira vez que o TCU recomendou a rejeição das contas federais desde 1937, ano em que Getúlio Vargas deu o golpe do Estado Novo. Nos últimos anos, o TCU vinha aprovando as contas do Go-verno Dilma com ressalvas. No lado de fora do prédio do Tribunal de Contas, que fica perto do Congresso Nacional, manifestantes soltaram fogos de artifício para comemorar a decisão.

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Para refletir: “A decisão do TCU confirma o estelionato eleitoral. Fica caracterizado o abuso de poder político e econômico, além do crime de responsabilidade. O Congresso Nacional falará pela Nação”. (Senador Cassio Cunha Lima)

E agora como fica?

Quem cai primeiro?

Piauí ensinando ao Brasil

O parecer do TCU é apenas uma recomendação ao Congresso -- são os parlamentares que decidirão em votação no Senado e na Câmara se rejeitam ou não as contas de 2014. Mas não está claro ainda como se dará essa avaliação pelos parlamentares. O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, colocou em votação no início de agosto as contas de alguns anos dos governos Collor, FHC e Lula que até então não haviam sido analisadas. Ele quis apreciar as contas dos outros governos para deixar o caminho livre para a votação das contas de 2014 da administração Dilma. No entanto, a senadora Rose de Freitas (PMDB-ES), presidente da Comissão Mista de Orçamento do Congresso, ingressou com um mandado de segurança contra o julgamento da Câmara no STF, sob o argumento de que a votação deveria ser feita em sessão conjunta com o Senado. O ministro Luís Roberto Barroso decidiu que as sessões já realizadas não deveriam ser anuladas, mas concordou com a senadora que as contas deveriam ser julgadas em conjunto. Sua decisão constou como uma recomendação, pois o caso ainda tem que ser julgado pelo plenário para que haja uma decisão final. No momento ele está sob análise do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, (o homem do governo) que deve se manifestar sobre o tema. Essa definição é importante porque quem pauta sessões conjuntas da Câmara e do Senado é o presidente do Senado, Renan Calheiros, que hoje é mais “amigável” com o governo do que Cunha -- opositor declarado a Dilma. (Com informações da Folha de São Paulo e G1).

O banco Julius Baer informou às autoridades suíças que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e seus familiares figuram como beneficiários finais de contas secretas onde estão depositados US$ 2,4 milhões (R$ 9,3 milhões). O dinheiro está bloqueado. Segundo informações fornecidas pelo banco às autoridades suíças, os beneficiários finais são o próprio Cunha, sua mulher, a jornalista Cláudia Cordeiro Cruz, e uma das filhas do deputado. Ainda não está claro se era o próprio deputado quem movimentava as contas ou se isso ocorria por meio de procuradores. Um numeroso grupo de deputados já se articula para tirar Eduardo Cunha da presidência e até mesmo cassar o seu mandato. Quem cai primeiro? Dilma ou Cunha?

O pequeno e antes subdesenvolvido estado do Piauí ao longo dos anos soube crescer e dá lições ao país e aos “grandes”. Tem um perfil de educação modelo (premiado nacionalmente), o turismo é um dos mais destacados por suas riquezas naturais e na comunicação sai à frente dos gigantes na área de jornal, rádio e televisão. O Sistema Meio Norte de Comunicação tem inclusive uma emissora de televisão independente sem vínculos com redes nacionais, com uma programação totalmente local e regional, alcançando os maiores índices de audiência, inclusive alcançando estados vizinhos. O sistema Meio Norte tem em sua direção a competência de um alagoano vencedor, o jornalista José Osmando Araújo. É também no Piauí o exemplo para o Brasil na redução de acidentes no trânsito com o envolvimento do Detran/PI em campanhas sistemáticas envolvendo a comunidade, escolas e órgãos de comunicação. No primeiro semestre deste ano foi registrado uma queda de 48 por cento no total de acidentes de trânsito. No mesmo período na capital do estado o percentual foi de 70 por cento. Tudo efeito da campanha educativa “ Viva! Não mate! Nem morra”. Podem e devem comemorar.

Ministro ameaçado de morte O ministro Augusto Nardes, relator das contas rejeitadas, declarou em plenárioque foi ameaçado de morte nos meses em que ele atuou como relator das contas de 2014 do governo da presidente Dilma Rousseff (PT). “Hoje eu entendo porque o Joaquim Barbosa se aposentou”, disse Nardes, que narrou que sua assessoria recebeu diversos telefonemas com ameaças de morte e que, por isso, ele passou a ser acompanhado por seguranças do TCU. “A minha assessoria recebeu telefonemas muito contundentes. [Diziam] vamos acabar contigo”, disse Nardes. O ministro afirmou que também recebeu ameaças por e-mail que estão sendo investigadas.

Um senhor reforço O prefeito Rui Palmeira não esperou chegar janeiro para começar “dar a volta por cima” e buscar a renovação de seu mandato. Já há alguns meses sua administração começou a ganhar as ruas e a cidade começa a mudar “o corpo e a alma”. O maceioense começa a ter uma visão mais positiva e as esperanças renascem apesar do grande desgaste de praticamente três anos de avaliação negativa. Rui começa a mexer também em sua equipe considerada fraca e amadora em vários setores. Convocou para comandar a Secretaria de Saúde um nome respeitado, acreditado e competente. Promotor de Justiça aposentado, exsecretário da Fazenda, com uma gestão revolucionária no governo do pai do prefeito, Guilherme Palmeira, deputado federal em várias legislaturas, desempenhando um mandato honrado, ficando entre os mais destacados parlamentares do Brasil em muitas avaliações, vice-governador austero e atuante (se tivesse sido mais ouvido o governo não teria cometido tantas desacertos). José Thomaz da Silva Nonô chega para dar um jeito na saúde municipal, sempre caótica. E com certeza vai dar jeito. O prefeito precisa ouvi-lo em muitas outras questões. Com certeza vai acertar mais .

Academia e cidadania Os adeptos do esporte agora têm mais um motivo para se exercitar na orla. Já os sedentários ganharam uma boa razão para se movimentar ao ar livre com vista para o belo mar de Jatiúca, que agora conta com a “Academia Maceió”. O aparelhamento esportivo é dotado de 20 equipamentos. O prefeito Rui Palmeira, feliz ao entregar o importante empreendimento à população, destacou: “Temos buscado dotar a cidade de equipamentos onde for possível chegar. A prefeitura tem tido o cuidado de revitalizar, construir e conta com o apoio da população para zelar por esses espaços para que façam bom uso, mas também cuidem dessas áreas que são dos maceioenses. Se a população abraçar, será muito mais fácil manter”. Mais um gol do competente e empreendedor secretário Antônio Moura, uma grande revelação da equipe de Rui Palmeira.


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ARTIGOS

Conto do vigário CLÁUDIO VIEIRA Advogado e escritor, membro da Academia Maceioense de Letras

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antiga expressão que serve de título e que deu origem ao nada airoso adjetivo vigarista, sempre me deixou curioso quanto à sua origem. Já o significado é claro: impingir alguma fraude, enganar alguém etc., indicando todas alguma atitude negativa de alguém. Desta feita busquei no Google a origem da expressão. Há várias referências; apesar do prosaico das demais, a que me agrada é aquela atribuída

ao poeta português Fernando Pessoa (1888-1935): um tal de Manuel Peres Vigário aproveitava-se da ganância alheia para trapacear. A expressão voltou-me à mente, agora nesse momento de crise política, econômica, ética e moral porque passa o Brasil. Remete-me à reeleição da presidente Dilma, hoje vulgarizada como estelionato eleitoral, especial conto do vigário impingido ao cidadão brasileiro. Passados esses nove meses de (des)governo, constato que várias outras trapaças foram protagonizadas, ora pela petista, ora pelo petismo, ora por outros partidos, e inegavelmente por um número cada vez maior de políticos, sendo nisto indiferentes se situação e oposição, esquerda e direita, nem uma nem outra, e assim “la nave va”. As

mais recentes são a tão ruminada reforma ministerial e os cortes nas despesas públicas. Quem ainda esperava ver, nessas ações do governo, algo do mea culpa pelo descalabro da governança, e na sequência uma mudança profunda na estrutura governista e, mais do que isso, na mentalidade política, frustrou-se, constatando agora que a “reforma” fora apenas um “toma-lá-dá-cá” que visa a sobrevida da presidente no cargo. Dita reforma serviu também para demonstrar que os partidos políticos da base governista, que em suposta crise moral ameaçavam repudiar a governante, apenas almejavam a chantagem por mais poder. Como em política não há santos, preparemo-nos para concluir que a oposição é apenas outro conto do vigário, uma

cruel piada de quem só almeja o poder pelo poder. Não menos enganoso é o tal “corte na própria carne”, o propalado e festejado por antecipação corte na despesa pública. Com tantos tubarões famintos a morderem nacos do poder, como se pode acreditar que dito corte foi realmente profundo? Cadê os números da patranha? Como pretender a penalização dos cidadãos com novos tributos, quando a tal reforma tem jeito de patuscada? Certamente há quem pense que estou sendo niilista, apressado negativista. Penso, porém, socorrer as minhas considerações na crise de confiança no governo e nos políticos de todos os matizes, cavada pelos próprios. Com eles, o conto do vigá-

Por isso, temos que ecoar as palavras já ditas pelo presidente do Conselho Federal da OAB, Marcus Vinícius Furtado Coelho: “A presidente Dilma deve desculpas à Nação”. Como podemos contribuir para mitigar essa tragédia? Uma importante medida para evitar essa realidade foi tomada pela OAB ao impetrar ação direta de inconstitucionalidade contra a doação empresarial de campanha eleitoral. A vitória na OAB no Supremo foi uma vitória da sociedade, pois agora será cada vez mais difícil às grandes corporações o uso do financiamento eleitoral para acessar fatias do poder estatal. A OAB, mais recentemente, também passou a apoiar o projeto de lei que visa a impedir aos ocupantes de cargos comissionados que façam doações a partidos e candidatos no período eleitoral com os chamados “dízimos”. A medida está de acordo com o caminho de diminuir a influência do poder econômico e político nas disputas eleitorais e de evitar a tomada do estado por partidos políticos.

Mas isso não é suficiente, pois é apenas um lado da questão. A atenção constante da sociedade civil organizada contra o arbítrio estatal e o excesso de poder dos agentes públicos é essencial à manutenção de uma democracia saudável. A profissionalização do funcionalismo público, o controle dos atos administrativos e a criação de mecanismos de gestão modernos e transparentes é uma bandeira de luta a ser levantada por toda sociedade e, especialmente, por seus representantes na sociedade civil. A OAB deve funcionar como um desses representantes da sociedade no controle e na vigilância do poder público. Impetrando ações judiciais, promovendo audiências públicas e contribuindo para propor políticas públicas condizentes com uma sociedade baseada na honestidade e na boa-fé. Somente atuando em conjunto e fomentando a participação política do cidadão é que podemos, unidos, avançar e mudar essa realidade para sairmos da crise que, antes de ser uma crise política, é também uma crise moral.

A crise do sistema político FERNANDA MARINELA Advogada

V

ivemos tempos muito difíceis. As acusações de corrupção no aparelho estatal brasileiro se somam ao desprezo completo pela responsabilidade fiscal, um dos pilares do crescimento econômico e da melhoria da qualidade de vida do brasileiro nos últimos anos. O governo federal ultrapassa as fronteiras do juridicamente razoável e escancara a má gestão das contas públicas. Evidentemente, nossa cultura patrimonialista e nossa formação como povo explicam um pouco dessa mazela que assola nosso sistema político. Mas não basta colocar a culpa no nosso passado e esquecer nosso presente. O estado brasileiro é grande, lento e agora, como se não bastasse, o governo volta ao tempo das obscuridades fiscais, típica dos nossos temidos anos oitenta.

Nenhuma dessas razões institucionais alivia a culpa da chefe de governo pelo agravamento desse cenário tipicamente brasileiro. Nenhuma das reformas modernizadoras foi efetuada pelo Governo Dilma, que não só manteve as deficiências institucionais brasileiras, como as incrementou. Por pura cegueira ideológica, o Governo Dilma incrementou os poderes discricionários e as aventuras contábeis em detrimento da transparência e da eficiência, em claro desrespeito à Constituição. O mesmo viés obscurantista transformou as estatais em verdadeiros antros de corrupção e endividamento. Afora a ineficiência essencial do modelo estatista de gestão dos bens econômicos, o total aparelhamento das empresas estatais pelo governo federal fez surgir as oportunidades ideais para que o ambiente público fosse usado como moeda de troca daqueles que querem se perpetuar no poder. É o velho conhecido “criar dificuldades para vender facilidades” ganhando características de institucionalização e sistematização nunca antes vistas no Brasil.


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ARTIGOS

A fome e a vontade de comer JORGE MORAIS Jornalista

D

itado antigo, mas que se encaixa perfeitamente na política brasileira. O grande exemplo está sendo dado, agora, com a votação das reformas encaminhadas ao Congresso Nacional e alguns vetos da presidenta Dilma Rousseff, que faltam ser derrubados ou não pelos deputados e senadores, em Brasília. Quase uma semana útil, para nada: os deputados, insatisfeitos, não comparecem ao plenário. E que insatisfação é essa? Na reforma da Dilma, alguns ministérios e secretarias foram extintos e os partidos que saíram perdendo com as mudanças, mesmo se dizendo da base aliada da presidenta, não aceitam que as mudanças

só beneficiem ao PMDB, partido do vice -presidente da República, Michel Temer, e do senador Renan Calheiros, autor de muitas dessas novas medidas. Por causa disso, apenas por isso, PP, PRTB, PR e alguns outros partidos estão boicotando as sessões na Câmara dos Deputados, que, sem quórum, não tem votação; não tem mudanças; não tem redução de despesas; não tem exoneração; não tem nomeação; enfim, não tem nada. Fica tudo parado e o governo não governa. O senador Renan Calheiros chegou a dizer que a Câmara dos Deputados está de brincadeira. Quando digo que é a fome e a vontade de comer, não é nenhum exagero. Se eles estivessem preocupados mesmo com a crise brasileira, estariam no plenário discutindo e votando o que eles entendem como certo ou errado. Mas, não. Fechados em seus luxuosos gabinetes, estão à espera de um “acordão”, ou seja, na linha do “é dando que se recebe” para aprovar os projetos de mudanças que, dizem, vãoi salvar o Brasil.

Por isso, pergunto: você acha que essas reformas e derrubadas de vetos vão salvar o Brasil? Acho que não. O buraco administrativo da Dilma Rousseff é tão grande que a minha expectativa é de um ano próximo com um quadro muito pior. Pior em todos os sentidos: educação, saúde, desemprego, inflação, desaceleração geral no crescimento, mesmo que não seja nenhum expert no assunto. No entanto, minha bola de cristal está no bolso. Eu, como milhares de brasileiros, já estamos sentindo na pele desde o ano passado. Hoje, ganho os mesmos salários, até um pouquinho mais, no entanto, o dinheiro não dá para mais nada. Faço as mesmas compras, o mesmo lazer, ando pelos mesmos lugares, não comprei nada, nem gastei diferente do tradicional, do trivial, mas ando reclamando muito. Assim, como muita gente que conheço. Fruto de quê? Dos preços dos alimentos que estão pela “hora da morte”, dos combustíveis, da energia, consequentemente, da comida, roupa,

calçados, escolas, condomínios, aluguéis, dados de presentes pelo governo federal, que foi mentiroso na campanha, em 2014, dizendo que estava tudo uma maravilha, quando não estava, e agora quer que a gente sofra com os muitos impostos já existentes, e os novos que estão para chegar, como a volta da CPMF, disfarçada com outro nome, mas com os mesmos objetivos, e as mudanças nos procedimentos da Previdência Social, no achatamento do salário e outras coisas mais. E o pior: o dinheiro sumiu, mas o governo e o Congresso Nacional criaram novas obrigações para empresas e patrões, como, agora, para os empregados domésticos. Pergunto mais uma vez: se o dinheiro sumiu, os compromissos e obrigações aumentaram, como vão ser assumidos e pagos? Para o governo, os senadores e os deputados federais essa fórmula é mágica e possível: roubando, como muitos deles já fizeram ao longo dos anos. Como eles têm a fórmula de só receber, fica fácil de criar problemas para os outros.

Acho engraçado que a economia cai nos braços do povo: cortes salariais, desemprego, impostos crescendo, a bolsa-família encolhendo, salários divididos. Ouvi esta semana o secretário da Fazenda de nosso Estado (um moço que veio de fora para fazer mágicas) dizer que ia aumentar a arrecadação, chamando servidores para cobrar impostos devidos. Aleluia! Alguém se lembrou de incrementar a receita e não diminuir as despesas. No Rio Grande do Sul, o governador parcelou os salários, mas já vi nos jornais que vai aumentar o valor recebido por ele e pelos secretários de Estado. Muito inteligente o moço gaúcho! Em Satuba, o prefeito jogou a toalha e declarou falência. Não acompanho tal caso, mas sempre pode haver saída nas crises. E no Legislativo alagoano a cantiga é a mesma: paga salário dobrado a mais de 600 comissionados e quer economizar na folha de ativos e inativos. Um deputado disse: “Pago mais aos aposentados do que ao imposto de renda”. Ele não deve saber que o valor

a ser pago ao Estado vem dos descontos nos salários dos deputados, comissionados, ativos e inativos. Algum assessor mais lúcido explique tal fato ao patrão. E a crise continua! A Dilma para não cair, fez uma ridícula reforma ministerial. Trocou ministros: colocou um comunista no Ministério da Defesa, o chefe da Casa Civil, o Ravengar da presidenta, foi para o Ministério da Educação e premiou o PMDB do Renan com 8 (oito) ministérios. Mais uma festa! Entretanto a ressaca foi maior. Desagradou a outros políticos e continua tudo como antes no Quartel de Abrantes! O ministro da Saúde quer a CPMF no débito e no crédito. Explicou miseravelmente sua ideia e acirrou ainda mais os ânimos exaltados. A emenda foi pior que o soneto: nossa presidenta mudou os casacos, ficou mais loira, mais nervosa, demitiu ministros pelo telefone, perdeu seu conselheiro, desagradou a vários partidos. É uma verdadeira valsa de cadeiras. Quem vai dançar com quem? E a crise continua...

Vamos dançar uma valsa ALARI ROMARIZ TORRES Aposentada da Assembleia Legislativa

O

Brasil está em crise, dizem políticos, economistas e autoridades governamentais. Começou então um festival de medidas com o objetivo de cobrir os buracos dos cofres públicos. Voltemos a 2014, ano de eleições! O que vimos foi um derrame de dinheiro pelos políticos. Campanhas caríssimas. Programas de rádio e TV prometendo ao povo uma infinidade de benesses. A presidenta percorreu o Brasil todo, de avião é claro, dizendo aos eleitores pobres que ia aumentar os programas sociais e investir em melhorias para o país crescer mais. Até então não se falava em crise. Em Alagoas, os redutos políticos eram comprados por parlamentares que já se encontravam no poder. O Legislativo era protagonista de grandes escândalos. Os mandatos eletivos passavam de pai para filho. Uma verdadeira festa!

As eleições passaram, os mais “ricos” foram vitoriosos, algumas exceções ocorreram e passamos a pensar 2015. Assumem novos eleitos: o Congresso Nacional recebeu deputados e senadores. O Legislativo alagoano renovou muito pouco. O jovem governador, moço inteligente, falante, ocupou o Palácio dos Martírios amparado pelo pai e pela presidenta. Tudo muito bom, tudo muito bonito, até que os cofres foram abertos e o rombo apareceu. E veio a crise... Os mais sabidos já percebiam que a nação não ia bem, mas os políticos esconderam o fato durante o período eleitoral. E os mais pobres votaram na Dilma, esperançosos nas promessas da amiga do Lula. Meus amigos, foi uma ducha de água fria na chaleira fervente! Inacreditável: a Dilma aparecia linda e loira na TV, com casacos maravilhosos dizendo ao povo que seu segundo governo seria melhor do que o primeiro. Por aqui, o jovem governador ficou apreensivo: o pai, presidente do Senado, ensaiou uma briga com a Dilma e a fonte secou.


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VIDA DE CACHORRO

Morador de rua cuida de cães em canteiro de avenida em Maceió Gilberto, que aparenta ter problema mental, vive com os animais há 17 anos MARIA SALÉSIA sallesia@hotmail.com

L

uquinha, João, Paulinho, Matheus, Priscila, Paula, entre outros, são alguns dos 16 cachorros que o morador de rua Gilberto cuida há quase 17 anos como se fossem sua família. Tem ainda o Gilberto, um vira-lata de pelo amarelo que ele apresenta como seu xará. O dono da cachorrada passa o dia no canteiro da Avenida Durval de Góes Monteiro, na parte alta de Maceió, com os animais amarrados aos troncos das árvores. À noite, ou quando chove, eles se recolhem debaixo de uma marquise de loja, que aponta como sua casa e dos “meninos”. A cena afetuosa é um atrativo à parte. É impossível passar pelas imediações do retorno de quadra após o cemitério Parque das Flores e não observar a imagem. Gilberto fica quase sempre sentado em um balde ao lado dos cães que latem em coro se algum estranho se aproxima de seu dono. Arisco, ele se mostra arredio quando alguém tenta puxar conversa e vai logo avisando que não larga seus amigos por dinheiro algum. Dizem que até um pitbull já fez parte do grupo, mas ficou por pouco tempo. O canil a céu aberto chama a atenção das pessoas. Cada cão tem um vasilhame com água limpa e comida. Aparentemente mostram-se saudáveis e fe-

lizes. Para manter os amigos, ele disse que trabalha ali (no sinal), mas um funcionário de uma empresa próxima ao local disse que ele varre a vala e as pessoas ajudam na manutenção dos animais. Gilberto reclama que muitas pessoas param no local mas não o ajudam. “Querem apenas atormentar ou pegar meus cachorros”. Alheio ao que acontece ao seu redor, em outro momento da abordagem mostrou uma pasta com alguns papéis e disse que era com documentos, mas guardou em seguida sem dar chance para ver o conteúdo. Não permitiu saber idade, sobrenome e outros dados pessoais. Na verdade, o morador de rua acolhe os cães que a sociedade descarta. Alguns são animais abandonados por seus donos. A coisa é tão escandalosa que certa vez uma mulher desceu de seu carrão e entregou um animal para Gilberto. Foi o que relatou um trabalhador das proximidades. A amizade entre Gilberto e os cães depende do tempo de convivência. Ele afirmou com orgulho que protege os amigos e eles cuidam dele também. “Não deixo eles por nada desse mundo. Para onde eu for eles vão junto e ninguém tente tirá-los de mim”, avisou, ao acrescentar que não falta nada para os animais, principalmente carinho. “Não é, meus filhos?”, perguntou olhando para a bicharada. A ligação entre eles é tanta

Gilberto mostra com orgulho os cães que se tornaram sua família

do envolvimento emocional de Gilberto com os cães e garantiu que os animais não serão retirados dele. Só se estivessem ameaçando a saúde pública, e não é o caso. Ela sugeriu manter contato com órgãos ligados à saúde pública que lidam com pessoas em situação de rua para saber se Gilberto tem algum acompanhamento. “Aqueles animais são a vida dele. O caso envolve outras instâncias que possam cuidar dos animais e do dono”, disse, ao afirmar que o órgão está à disposição se for necessário alguma intervenção. A FAMÍLIA

que Gilberto afirmou que se tiver que deixar de comer para dar a eles não tem problema. O morador de rua disse ainda que recebe proposta de pessoas que querem acolher seus animais de estimação, mas nenhum está à venda, não tem preço. “Para tirar eles daqui tem que me levar junto”. E falou do sonho de ir viver em São Paulo, que lá não seria morador de rua, mas adiantou que quem quiser ajudar na realização desse sonho tem que abraçar também seus

“bichinhos”. “Vão junto”, completou. O jornal EXTRA entrou em contato com o Centro de Zoonose de Maceió para saber se tem conhecimento do caso. A informação foi que houve inspeção no local e que nenhum animal apresentava sinal de maus tratos. Além do que qualquer animal de rua não é público alvo do Centro e sim o que apresentar suspeita de zoonose. A coordenadora Fernanda Araújo disse ter conhecimento

Gilberto herdou o nome do pai. É filho de seu Gilberto, um carreteiro. e de uma costureira que não revelou o nome. Ficou órfão de mãe aos 17 anos e disse que o pai a maltratava muito e aos irmãos também. Por isso, não gostava dele. O morador de rua vivia com a família no Flexal de Baixo, em Bebedouro, com mais três irmãos. Mas sempre gostou de morar na rua. A pessoa que nos ajudou a se aproximar de Gilberto disse que trabalhou com o pai dele e que era uma pessoa rude com a família. Lembrou ainda que o carreteiro sempre falava desse filho desajustado e de outro que foi assassinado por fazer coisas erradas. “Pode chegar no Flexal e perguntar quem era seu Gilberto, todo mundo conhecia. Agora da mãe não lembro o nome porque minha convivência era mais com seu Gilberto”, relembrou, ao acrescentar que ele ficou mais abandonado com a morte dos pais.


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PORDENTRODOESPORTE JOÃO DE DEUS jdcpsobrinho@hotmail.com

Galo: novo desafio

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RB, após a vitória da terça-feira no Trapichão sobre o Santa Cruz (3x2) somou três pontos. Tem agora 43, na classificação se manteve em 11º e chance de 47,7% para se manter na Série B 2016. Neste sábado pega o Luverdence (MT) que tem 44 pontos e joga em casa.

Eliminatórias

Figa

Ministro otimista

Nesta fase de abertura do mundial não surpreenderá o Brasil não pegar adversários fracos. Além do Chile terá pela frente Venezuela, Argentina e o Uruguai contando com o retorno de Luís Soares, estrela do time. Ele se recupera de contusão e pode ser escalado contra o Brasil.

Henrique Eduardo Alves, ministro do Turismo: “Essa medida pode impactar de forma positiva a economia de nosso país”. Lembrou que na Copa, uma experiência semelhante para viajantes com ingressos, resultou no incremento de mais de 60% nos gastos dos turistas no período.

Brasil x Chile fizeram na quinta-feira jogo de abertura da fase de classificaçãopara os jogos da Copa do Mundo de 2018, na Rússia. Foi como era esperado,clássico bem disputado e dia 19 tem jogo da volta no Brasil.Contusões forçaram Dunga a substituir jogadores de última hora.

Rodada deste fim de semana transmite tensão nas torcidas e classificação não sustenta “já ganhou” das torcidas dos clubes na linha de frente, principalmente o Corinthians. Independente de série, o Corinthians tem a vantagem na pontuação em queda, mas são disputados mais de 20 pontos e vencedores levam três.

Do histórico

Classificação

A seleção brasileira, nas classificatórias da Copa do Mundo, começa com histórico de nunca ter sido eliminada nesta fase. Ao contrário, é tetra e merecedor ainda de atenção é o fato de que até antes desta fase eliminatória tinha registro de 199 gols marcados.

Prioridade total Dunga, nas preleções antes dos jogos conversa com os jogadores buscando conscientizá-los de que as partidas agora são eliminatórias. Transfere motivação se espelhando o Brasil como único que disputou todas as Copas do Mundo e naturalmente o tetra. A fase disponibiliza 4 vagas, a classificação é de pontos corridos e 10 países participantes.

Campeonato Sub-17

Haja nervos

Na Série A, até a 29ª rodada, classificação confirmou o Corinthians, com 60 pontos, seguindo o líder e na cola Atlético-MG (2º), 53 pontos; Grêmio (3º), 51; e o Palmeiras (4º), 45. Esses ainda capazes de surpreender e com chances menores o Santos (5º); São Paulo (6º), Flamengo (7º) e o Internacional (8º ).

Ano olímpico O deputado federal Alex Manente define as Olímpiadas como oportunas para “fazermos um teste em um momento em que o Brasil receberá um grande número de turistas”. É segundo ele, também uma oportunidade para “aproveitar a valorização do dólar que, para o turismo, pode ser positiva”.

Clubes do campeonato alagoano de Futebol Sub-17 já em andamento são: Grupo Al: CSA, Sete de Setembro, Desportivo Aliança, Arapiraca, Flamengo e ALFA; Grupo B: CRB, Dínamo, Zumbi, São Miguel, Internacional e Pajuçara; e, Grupo C: Santa Cruz, Vila Rica, Ponte Preta, Coruripe, Penedense, Comercial e Miguelense.

Ótima fase Léo Baptistão, atacante brasileiro do Villarreal, passa por bom momento no futebol espanhol. Foi dele o gol da vitória (1x0) sobre tchecos do Viktoria Plzen na quinta-feira passada, pela segunda rodada da Liga Europa. Desde os 16 anos jogando, ele confirma: “Estou vivendo bom momento na carreira”.

Entrada livre Projeto de lei 2016, dos deputados Alex Manente e Carlos Eduardo Cadoca, foi aprovado na Câmara Federal. Da proposta: dispensar de visto os estrangeiros que ingressarem ao Brasil até setembro de 2016, época de realização dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016. Mas terá ainda que ser votado no Senado para só então vigorar.

Evento-teste No sábado passado (3) houve um desafio de BMX em Deodoro (RJ), considerado teste da modalidade para os Jogos Olímpicos de 2016 e 96 atletas de 30 países inscritos. Foi motivação a inauguração de uma pista recém-construída no Parque Radical, onde se concentrarão os esportes de aventuras das Olímpiadas.

Mas só tem feras “Todos os principais competidores do mundo estarão aqui. E eles vão precisar de todas as suas habilidades, pois a pista que montamos é a maior da história do esporte nos Jogos Olímpicos e é extremamente técnica”. Comentário foi de Jorge Vasquez, líder de competição do ciclismo BMX do Comitê Rio 2016.


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S.O.S.ALAGOAS CUNHA PINTO

Vale a esperança?

Sem ofensa mas...

É

O PSDB é insistente no nome do senador Aécio Neves como pré-candidato à Presidência da República em 2018. Sendo confirmado será o terceiro round e no caso de não dar certo tem José Serra como reserva ou haverá terceira opção? No estado os tucanos silenciam.

prática ainda no Estado a enxurrada de eleitores levados para tirar o título de eleitor e votar de cabresto em 2018? Ou o cidadão começa a aprender a lição da importância do voto para ter os direitos de cidadania assegurados? Ou o momento que o País passa merece ser perpetuado?

Ciclo de oficinas A Petrobras instalou em Coruripe uma oficina de Empreendedorismo Social, Cooperativismo e Economia Solidária. Trata-se de programa já inserido na Agenda 21 e da proposta fortalecer a autonomia dos fóruns comunitários já instalados na primeira parte do programa.

Voto facultativo O governo não deveria fazer uma pesquisa para sentir a posição do povo sobre o voto facultativo? É proposta comum em conversas e como razão a desconfiança nos resultados das urnas que acusam de habitualmente favorecerem a candidatos de campanhas mais caras.

Precatórios Subsecretaria de Precatórios do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5) vai atender, a partir do dia 13, quem tenha a receber complemento de precatórios de 2014, suspensos em face de mudança da Taxa Referencial pelo índice Nacional de Preços ao Consumidor. Quem tem direito deve procurar as instituições financeiras onde entregou as declarações.

Reativada Da diretoria da Asplana e a ver o retorno da Usina Uruba às atividades e moagem a ser iniciada ainda este mês: “Renova as esperanças dos produtores e fornecedores de cana-de-açúcar de Alagoas e representa o marco da retomada do setor sucroenergético do Estado”. A usina tem sede em Atalaia.

Renovação Dilma Rousseff tem uma “batata quente nas mãos”: a pressão de parlamentares no Congresso pregando a demissão do ministro Levy, da Fazenda, e a ver conversas em Brasília sobre até quando ela resiste. Expectativa favorável fica por conta das mudanças feitas recentemente.

Vaidade feminina Uma pesquisa recente revela que as mulheres, hoje, lideram o ranking da preocupação com o visual. Consta do levantamento a informação de serem elas quem mais frequentam salão de beleza com presença de ao menos uma vez por semana e as maceioenses no bloco.

Empreendedores Foi bem recebida, fim da semana passado, no Maceió Shopping, um grupo de onze jovens empreenderes de Maceió, Arapiraca e Penedo expondo e vendendo os seus produtos. Eles participaram da Exposição de Microempreendedores.

Maioria estudante Os jovens empreendedores são ligados ao Programa Miniempresa da Junior Achievement em Alagoas (JAAL). Expuseram capas, bolsas, acessórios para celular, bijuterias e artesanato. Foram aproximadamente 200 empresários, a maioria estudantes do ensino médio.

Haja desabafos Dilma Rousseff, com mandato até 2018, deixa dúvida sobre crescimento do país e a ver uma proposta anunciada com certa insistência, para breve, de mais dor no bolso do contribuinte. Entre os mais indignados são comuns os impropérios ao PT e extensivos aos partidos coligados.

Até que enfim! O Rede Sustentabilidade, enfim, está regularizado após um bom tempo encalhado na burocracia do Tribunal Superior Eleitoral. Mas hoje, paralelo à boa noticia, fica o suspense sobre o futuro da vereadora Heloísa Helena: é candidata à reeleição ou arrisca voar mais alto?

Novo modelo Projeto de Desenvolvimento Integrado (PDI) apresentado em Sergipe, no começo da semana, oferece proposta para elevar os índices socioeconômicos na região do São Francisco, mas só no trecho do estado. Mas é modelo de reforma agrária iniciada em Pernambuco e que, por enquanto, parece que passa longe de Alagoas.

Fim de prazo De Flávio Peixoto, presidente do Sindicato dos Jornalistas em Alagoas sobre o Prêmio Braskem de Jornalismo: “É um prêmio que valoriza os futuros colegas de mercado e dá conhecimento sobre os trabalhos produzidos nas faculdades. Prestigia também os jornalistas nas rádios e assessorias”. Premiação acontece no dia 27 de novembro.

Prevenção O Comando de Operações Especiais (COE), no Rio de Janeiro, prevê em mais de 1,5 milhão o contingente de visitantes na cidade durante a realização do Rio 2016. Ainda da previsão: cerca de 45% do movimento deverá ser de turistas nacionais e só 18% de estrangeiros.


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MEIOAMBIENTE ambiente@novoextra.com.br

Óleo de peixe A Petrobras anunciou que vai produzir biocombustível através do óleo extraído de vísceras de peixes e que a produção vai beneficiar inicialmente 300 produtores familiares e garantir a compra de 15 toneladas de resíduos e gordura de peixe por mês. A produção será feita pela Petrobras Biocombustíveis na Usina de Quixadá, no Ceará.

Etanol + batata-doce

Desova de tartarugas

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ilhares de turistas foram à praia de Ostional, na Costa Rica, para ver a desova das tartarugas há duas semanas. Mas a desova das tartarugas no litoral é um fenômeno extremamente delicado e qualquer intervenção no processo arruína o ciclo reprodutivo. As praias onde ocorre a desova precisam ser isoladas: sem redes de pesca, sem iluminação excessiva, sem trânsito de veículos e nem lixo. Os turistas lotaram a praia, fizeram ‘selfies’ e colocaram seus filhos para montar nos cascos, assustando as tartarugas. A maioria deu meia volta e retornou ao mar sem completar a desova.

Fezes de pandas Pesquisadores belgas estão examinando as fezes de pandas gigantes para tentar entender como eles conseguem digerir bambus rígidos e na esperança de encontrar pistas para desenvolver novas gerações de biocombustíveis. Os resultados do estudo podem apontar meios novos e mais baratos para produzir a segunda geração de biocombustíveis de plantas e biomassas não destinadas ao consumo.

Combustível feito de mel O apicultor Luiz Jordans Ramalho Alves, de Vitória da Conquista (BA), desenvolveu o combustível etanol do próprio carro a partir do mel de abelha. Cerca de 50 a 100 quilos que seriam de descarte entram em fermentação por 5 a 15 dias, após isso, ocorre a primeira destilação do álcool onde o álcool alimentício é retirado e a sobra (30%) vai para a produção do álcool combustível, numa segunda destilação. A produção de combustível de mel está em 50 litros por semana e ele consegue economizar ao menos R$ 117,50 durante a semana.

A Universidade Federal do Tocantins (UFT) inaugurou em Palmas, no final de setembro, uma usina de etanol produzido a partir de batata-doce. O projeto, que é um convênio da universidade com a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), nasceu da pesquisa do professor Márcio Antônio da Silveira há 12 anos, e contou com investimento inicial de R$ 20 mil, feito pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A usina vai produzir até 3.000 litros de etanol diariamente e também glucose, álcool em gel e ração animal.

Voo movido a óleo de cozinha A companhia aérea chinesa Hainan Airlines completou mês passado o primeiro voo comercial do país abastecido com um biocombustível feito à base de óleo de cozinha usado. O voo de Xangai para Pequim utilizou biocombustível fornecido pela companhia China National Aviation Fuel e pela gigante da energia Sinopec. O avião empregado, um Boeing 737, usou uma mistura 50% a 50% de querosene de aviação convencional e biocombustível feito de óleo de cozinha usado, coletado de restaurantes na China.

Bola de fogo no céu Moradores de várias cidades do Paraná dizem que viram uma bola de fogo cruzar o céu do estado na semana passada. O fenômeno foi avistado entre Arapongas e Guaíra. Em Palotina e Altônia, os bombeiros receberam vários relatos de moradores que disseram também ter visto a bola de fogo e ouviram um estrondo. Segundo eles, a bola de fogo se assemelhava a um meteoro.

Cratera Uma imensa cratera se formou numa área de camping na praia de Queensland na Austrália. O poço, de 150 metros de diâmetro e 3 metros de profundidade, engoliu um carro, uma van e barracas, mas não deixou vítimas ou desaparecidos. A cratera é resultado de um processo de erosão, em que uma capa de rocha sob o solo é dissolvida por águas ácidas. A água fica ácida porque, quando a chuva se infiltra no solo, ela absorve o dióxido de carbono e reage com vegetação em decomposição.


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ECONOMIA

Presidente do Sinduscon-AL alerta para crise na construção civil Alfredo Brêda diz que obras do Minha Casa Minha Vida podem parar no estado Assessoria

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s constantes atrasos por parte do governo federal no repasse para obras do programa Minha Casa Minha Vida têm provocado uma crise no setor da construção civil em todo o país. Mesmo após um acordo em que o governo se comprometeu a atualizar os pagamentos, o drama das empresas parece estar longe de acabar. Os repasses não foram regularizados e as construtoras já sentem a falta do pagamento para cumprir os compromissos com trabalhadores e fornecedores. Em Alagoas a situação já preocupa as entidades do setor. O presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Estado de Alagoas (Sinduscon-AL), Alfredo Brêda, falou que as construtoras que dependem das obras do programa de habitação popular vivem uma drama que tem refletido principalmente no atraso de obras e no aumento no número de demissões. “As construtoras não aguentam mais. Os atrasos já chegam a 90 dias e agora o governo anunciou que não irá mais cumprir o acordo, que não irá liberar o pagamento. Como ficam essas empresas? E as obras em andamento? É uma situação crítica como há muito tempo não se via no mercado da construção civil em Alagoas”, afirmou Alfredo Brêda. O presidente do Sinduscon-AL tem participado de importantes reuniões em Brasília através da

Conforme ele, isso significa que cerca de 2 milhões de pessoas vão perder sua fonte de sustento. “Se não perdêssemos os 500 mil empregos, daríamos contribuição à Previdência de R$ 4 bilhões”, estimou. Ele ressaltou ainda que os maus resultados do setor deverão provocar queda de 1% do Produto Interno Bruto (PIB). Para José Martins, o governo trabalha com o imediatismo, sendo que o setor apresenta resultados em longo prazo. Ele criticou o corte no orçamento federal destinado ao setor. De acordo com Martins, o orçamento básico da União deste ano prevê que apenas 2,5% dos recursos serão destinados a obras e investimentos. “O ajuste fiscal é feito com corte de investi-

Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), inclusive com agentes do governo, mas o clima não é de otimismo. Segundo Alfredo Brêda, o problema é notado em todo o país, mas o Nordeste tem sentido mais porque boa parte da construção civil depende mais de dinheiro público. “No caso das construtoras de Alagoas, a paralisação de obras de infraestrutura e os problemas do Minha Casa, Minha Vida jogaram o setor em uma forte crise. Aqui o peso das obras privadas para a construção é bem pequeno. O mercado é basicamente composto de obras públicas e do programa Minha Casa Minha Vida. As empresas não têm fôlego financeiro para suportar atrasos de pagamento”, ressalta Alfredo Brêda. Nesta quarta-feira,7 de outubro, uma reunião da Comissão Geral da Câmara dos Deputados discutiu em Brasília a crise nacional da construção civil. Proposta pelo Deputado Federal João Henrique Caldas (SD-AL), a reunião teve o objetivo de criar espaço de diálogo entre a sociedade civil, especialistas e autoridades governamentais para enfrentar o atual momento do setor. O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, estima que haverá 500 mil demissões este ano no setor. Ele participou de comissão geral no Plenário da Câmara dos Deputados para discutir a crise do setor da construção civil.

DEMISSÃO

Atraso de repasses inviabiliza obras, segundo Alfredo Brêda

mentos e aumento de tributos; os dois nos impactam e nos prejudicam”, salientou.

Um dos maiores dramas da crise no setor envolve o mercado de trabalho. Nos últimos dois anos o total de trabalhadores na construção civil em Alagoas caiu pela metade, de 36 mil para 18 mil. “A tendência é perdermos ainda mais postos de trabalho até o final do ano”, completou o presidente do Sinduscon-AL. Em Alagoas pelo menos três obras do programa Minha Casa Minha Vida estão paradas por causa do atraso no repasse por parte do governo federal. “O governo havia informado que iria priorizar as obras que tenham pelo menos 70% dos trabalhos concluídos, mas até agora isso não foi cumprido”, concluiu Alfredo Brêda.


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ALTARODA

FERNANDO CALMON fernando@calmon.jor.br

Oroch acertou o alvo

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á cerca de quatro anos, o executivo-chefe da aliança Renault-Nissan, Carlos Ghosn, afirmou em uma visita ao País que a filial brasileira da marca francesa não tinha planos para produzir uma picape com base na arquitetura do Duster/Logan/Sandero. Na realidade ele queria só despistar e, mais do que isso, esconder os planos para uma picape compacta de quatro portas no mercado nacional. No Brasil, a primeira picape derivada de um hatch, em 1978, baseou-se no Fiat 147. Nesses 37 anos, o segmento cresceu e se diversificou. Representa uma nada desprezível participação em torno de 5% das vendas de todos os veículos leves. A marca italiana investiu na diversificação: cabines estendida, dupla e dupla com três portas. A Renault, porém, oferece agora um produto ainda mais conveniente, de quatro portas. Fiat

pitstop

Strada de três portas, líder inconteste nessa “praia”, tem na Duster Oroch um concorrente de peso e ótima caçamba de 683 litros de volume. A Oroch dispõe de motores 1,6 L/115 cv e 2 L/148 cv e câmbio manual de 5 marchas e 6 marchas, respectivamente. A segunda versão tem peso em ordem de marcha 54 kg maior (1.346 kg contra 1.292 kg), mas a capacidade de carga declarada é a mesma, 650 kg, algo tecnicamente incoerente. No início de 2016 estarão disponíveis versões 4x4 e câmbio automático. Preços são bem competitivos: R$ 62.290 a R$ 72.490, em especial por ter uma porta extra e, de longe, a cabine mais espaçosa para pernas, cabeças e ombros de três pessoas no banco traseiro, em razão da distância entre-eixos 15,5 cm maior que o SUV Duster. Desenho da nova picape, em especial da seção traseira, é

RODA VIVA harmonioso com lanternas bem dimensionadas. O conjunto até agrada mais do que o próprio Duster, embora a terceira coluna merecesse linhas mais ousadas. Belos trabalhos de reforços e ajustes das suspensões independentes na frente e atrás se destacam na nova picape. O motor de menor cilindrada tem que lidar com 90 kg extras em relação ao utilitário esporte do qual deriva. Por isso, a versão de 2 litros é melhor e faz diferença sensível para quem pretende, de fato, utilizar o veículo na plenitude de espaço e de carga. Freios traseiros deveriam ser a disco e não a tambor, considerando as características de uso do veículo. Entre os acessórios há o batido kit de penduricalhos dentro do conceito “aventureiro” e recursos úteis como extensor de caçamba que serve de rampa para uma motocicleta, apre-

sentado pela primeira vez na Strada. Posição de guiar é boa, embora sem ajuste de distância do volante (apenas de altura com aquele sistema de “queda-livre”, nada suave ao regular). Assistência hidráulica da direção está bem calibrada, enquanto o comando do câmbio por cabo permitiu evolução nas trocas de marchas. Visibilidade do quadro de instrumentos melhorou em relação ao Sandero/Logan. Sistema multimídia com tela tátil de sete polegadas é completo e inclui navegador GPS pouco intuitivo ao programar ou alterar rotas. Duster Oroch, em resumo, é um produto que faltava no mercado brasileiro. Mais racional que as tradicionais e pesadas picapes médias e espaço interno bem superior às compactas. Atende trabalho e lazer a preço atraente.

EcoSport 1.6 ganha câmbio automático Modelo chega com nova configuração de motor e câmbio

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íder desde seu lançamento em 2003, o utilitário esportivo EcoSport viu seu reinado cair com a chegada dos concorrentes Honda HR-V e Jeep Renegade, além do Peugeot 2008, que passou a incomodar e o Duster, que já estava incomodando. A arma para o contra-ataque é o EcoSport novo, mas como ele ainda demora a chegar, a Ford lançou esta semana a versão 1.6 Powershift, para segurar as vendas. A principal novidade é o câmbio automatizado de seis marchas – disponível anteriormente só nas versões

2.0 – e o motor 1.6 TiVCT de duplo comando variável de 131 cv no lugar do 1.6 Sigma de 115cv. Segundo a montadora, o EcoSport 1.6 Powershift faz de 0 a 100 km/h em 11,8 segundos. Dados do Inmetro apontam consumo de 7,2 km/l na cidade e 8,3 km/l na estrada com etanol. Com gasolina, as marcas são de 10,2 km/l e 12,1 km/l, cidade e estrada, respectivamente. Além das mudanças mecânicas, o sistema multimídia foi atualizado e tem agora assistência de emergência, que

faz chamada para o Samu em caso de acidente, e o Applink, com acesso aos aplicativos de smartphones por comando de voz. Veja os preços e equipamentos de cada versão da EcoSport Powershift: SE Direct 1.6 Powershift (R$ 68.890): ar-condicionado, direção elétrica, vidros dianteiros elétricos, rodas de aço aro 15″, faróis de neblina, controles de estabilidade e tração, assistente de partida em rampas, piloto automático, espelhos retrovisores com pisca integrado, computador de bordo,

sistema multimídia Sync com Applink, bluetooth, USB, CD, assistência de emergência e comando de voz,My Key e volante multifuncional. SE 1.6 Powershift (R$ 71.900): acrescenta as de rodas de alumínio de 15 polegadas Freestyle 1.6 Powershift (R$ 76.900): vidros elétricos com abertura e fechamento global, sensor de estacionamento traseiro e acabamento da grade frontal, rodas e retrovisores com pintura na cor cinza.

ANFAVEA resolveu jogar a toalha sobre previsões nesse terrível ano de 2015. Em abril último a entidade estimava queda de vendas (mercado total) de 13% e menos 10% na produção, em relação a 2014. Agora, seus números apontam que vendas deverão cair 27% (para 2,54 milhões de unidades) e a produção, 23% (para 2,41 milhões de unidades). CENÁRIO só não é pior porque exportações reagem ao estímulo de desvalorização do real. Vendas externas de unidades montadas podem crescer 12% este ano sobre 2014. Antes se previa apenas mais 1% em referência ao ano passado. Mais preocupante: apesar de cortes na produção, estoques subiram de 52 para 53 dias. Isso abre boas oportunidades aos compradores. CONFORME essa coluna havia antecipado, Jaguar Land Rover só agora confirmou que o Range Rover Evoque (já atualizado) será o primeiro produto a sair de sua nova fábrica de Itatiaia (RJ), no início do segundo semestre de 2016. Virá, logo sem seguida, o novo Discovery Sport, de sete lugares. Jaguar XE continua nos planos para ser o terceiro produto do grupo inglês. PREÇO ficou mais alto – R$ 183.900 – em versão única de sete lugares, mas nova geração do Kia Sorento ganhou bastante no refinamento de linhas. Com 8 cm a mais de entre-eixos, os ocupantes têm mais espaço, ajudado pelo assoalho plano atrás. Motor V-6/270 cv e câmbio automático de seis marchas formam um conjunto silencioso e ágil para seus 4.78 m de comprimento. REAÇÃO da Ford à chegada do HR-V e do Renegade foi rápida ao reconhecer o avanço de preferência de câmbio automático nesse segmento. Agora o EcoSport oferece essa opção, em versão automatizada de dupla embreagem e seis marchas, também com motor de 1,6 L (potência aumentada para 131 cv e torque, para 16,1 kgfm). Preço parte de R$ 68.690.


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ARTIGO

A bagunça brasileira JOSÉ ARNALDO LISBOA MARTINS

jalm22@ig.com.br

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essa semana que se passou eu estava querendo ver e ouvir se algum programa de televisão estava com uma boa atração, coisa que já não acontece há anos, nas nossas televisões. Liguei a TV e me deparei com um novo programa da Xuxa, depois das 22 horas, já que ela foi jogada para as madrugadas, como fizeram com o Jô Soares e com outros apresentadores de “altas horas”. Ela estava entrevistando o cantor Leonardo e deixou que uma senhorita perguntasse “de que ele mais gostava, depois de fazer amor.” O cantor gaguejou e não respondeu à pergunta estranha

e imbecil, pois a nossa televisão está assim, sem assunto, sem inteligência e mais parecendo um cabaré de última categoria. É que a nossa televisão especializou-se em novelas banais, sem enredo, sem bons dramas e com muitas sacanagens. Seus imorais autores deturparam os beijos, fazendo com que eles aconteçam de dois em dois minutos, com motivo ou sem motivo, com tesão ou sem tesão e em qualquer lugar ou hora. As paixões entre seus personagens passaram a ser animalescas, com taras e cenas entre canibais. Até nisto, o Brasil regrediu !!! Na realidade, o Brasil está assim.....!!!!! Em Portugal uma “rapariga” é uma moça, jovem, donzela e pessoa de respeito. Já no Brasil uma “rapariga” é uma prostituta ou uma puta. Antes havia uma diferença nos nomes e nos significados, mas com o modernismo e com a liberação dos

costumes, o que vemos são jovens ou mocinhas fazendo as mesmas coisas que fazem as “raparigas”, pois uma pessoa tida como tal era uma mulher liberal, disponível para qualquer homem. Hoje, as jovens transam ou “ficam” com qualquer homem, seja ele amigo, primo, estranho, vizinho ou colega. Antes os dicionários falavam em virgindade, mas isso é coisa do passado, não importando mais a idade, a “família”, a educação, a religião ou o caráter. O gostar já não depende da família, seja o homem feio ou bonito. O divórcio hoje já é automático, rápido e sem burocracia. Estamos perdidos num mundo de drogas, de violência, de mentiras, de corrupção e sem leis. Nos últimos anos passamos a testemunhar falcatruas, desvios e domínios dos donos de quadrilhas. Eu gostaria muito que meus filhos, meus sobrinhos e meus netos

vissem o mundo por outro prisma, mas são os nossos dirigentes e políticos que teimam em não respeitar as leis, os costumes e a própria vergonha. Já não temos bons filmes, novelas, livros e boas notícias. Mesmo sendo otimista como eu sou, vejo que o mundo está indo para um precipício moral, já que alguns dos nossos dirigentes políticos preferiram a imoralidade nos nossos manuais de conduta. Os nossos domingos, antes com bons programas de televisão, se acabaram para dar lugar a apresentadores burros, repetitivos e teimosos. Estamos atolados numa lama fétida de impunidade e de imoralidade. Felizmente, ainda temos alguns pais e mães que orientam seus filhos e suas filhas, de modo que eles sigam pela trilha correta dos bons costumes, como acontecia em anos passados. São poucos, mas, ainda existem alguns pais e algumas mães.


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ABCDOINTERIOR robertobaiabarros@hotmail.com

Regularização de imóveis em Taquarana O programa de regularização fundiária do Poder Judiciário de Alagoas - o Moradia Legal II - chegou, na quinta-feira (8), ao município de Taquarana, no Agreste, para entregar 335 títulos de propriedades gratuitos a moradores com menor poder aquisitivo. Além do presidente do TJ, Washington Luiz, e do prefeito Bastinho Anacleto, diversas autoridades prestigiaram o evento.

Iniciativa do TJ A iniciativa da Presidência do Tribunal de Justiça e da Corregedoria-Geral da Justiça conta com a parceria da Associação dos Notários e Registradores de Alagoas (Anoreg-AL) e das prefeituras municipais e vem promovendo a cidadania nos municípios alagoanos.

Municípios Mais de 60 municípios do Estado participam do Moradia Legal II. Poço das Trincheiras e Marechal Deodoro já receberam o programa, onde foram entregues cerca de 700 registros de imóveis. A escritura pública proporcionará inúmeros benefícios aos contemplados pelo programa, entre eles, a possibilidade de adquirir financiamentos para a reforma dos imóveis. O evento foi realizado na Quadra Esportiva Professora Maria Lúcia da Silva, localizado na Av. Senador Rui Palmeira, s/n, Centro, de Taquarana.

Acidente Aéreo

Destaque

O delegado Manoel Acácio Júnior confirmou nesta quarta-feira que irá a Recife solicitar ao Serviço Regional de Investigação Prevenção de Acidentes Aéreos II (Seripa) informações e um laudo parcial sobre a queda do helicóptero da Secretaria de Segurança Pública em Maceió. O inquérito instaurado poderá ser prorrogado.

Luciano Barbosa enalteceu as atitudes adotadas pelo governador Renan Filho, de cortar gastos no início da gestão, e agradeceu ao apoio do presidente do Congresso, o senador alagoano Renan Calheiros, pela liberação a várias emendas em benefício do Estado.

Desabamento em Palmeira

Repasses à Uneal

Uma loja de móveis, na Rua José e Maria Passos, em Palmeira dos Índios desabou, na quarta-feira (7). A estrutura ruiu depois de um estrondo no local. As informações do Corpo de Bombeiros são de que a loja ficou totalmente destruída. O principal prejuízo foi em relação às mercadorias.

Ex-prefeitos O governador em exercício, Luciano Barbosa, almoçou na quinta-feira, 8, no Palácio do Governo, com os ex-prefeitos de Arapiraca. Entre eles Severino Barbosa Leão, José Alexandre, Agripino Alexandre e José Barbosa de Oliveira. De acordo com assessoria de Barbosa, no encontro foram discutidos os interesses da segunda cidade do Estado. Na quarta-feira, 7, o governador em exercício concedeu entrevista coletiva à imprensa, quando conversou sobre temas pertinentes à cidade e, também, a política do município.

Vota em Célia Rocha O ex-prefeito arapiraquense, vice-governador e secretário de Estado da Educação garantiu que não é candidato a prefeito do município e assumiu voto à reeleição da atual prefeita Célia Rocha.

A autonomia financeira da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal) está sendo fortalecida pelo governo alagoano, com o aumento do repasse de recursos para custeio da instituição pública de ensino superior.

Mais verba Na manhã da quarta-feira, 7, o governador em exercício, Luciano Barbosa, assinou decreto para ampliação de R$ 252 mil para R$ 300 mil por mês da verba de custeio da universidade. O documento foi assinado na presença do chefe de Gabinete da Reitoria, professor Odilon Máximo, que representou o reitor Jairo Campos da Costa.

Lideranças O ato de assinatura foi realizado na sede da Governadoria do Agreste, em Arapiraca, e contou com a presença da prefeita Célia Rocha, do vice-prefeito Yale Fernandes, de vereadores, prefeitos e de outras lideranças políticas e empresariais de cidades do Agreste.

PELO INTERIOR ... Há seis dias no cargo, o governador em exercício Luciano Barbosa visitou, na quarta-feira (7), o município de Arapiraca, onde despachou com a prefeita Célia Rocha, autoridades, empresários e lideranças políticas e comunitárias de toda a região. ... É a primeira vez na história dos 91 anos de Arapiraca que um ex-prefeito assume o cargo de governador de Alagoas e prestigia o município. ... A agenda de compromisso teve início às 8h30, na sede da Governadoria do Agreste, onde foi realizada uma coletiva com a im-prensa local. ... Além do governador em exercício Luciano Barbosa e da prefeita Célia Rocha, também estiveram presentes o vice-prefeito Yale Fernandes; o superintendente de Interiorização do Governo de Alagoas, Josenildo de Souza; secretários de Estado da Agricultura, Álvaro Vasconcelos; de Transportes, Mozart Amaral; de Recursos Hídricos e Meio Ambiente, Alexandre Ayres; de Comunicação, jornalista Ênio Lins, bem como o superintendente da Conab em Alagoas, Eliseu Rêgo, prefeitos, vereadores e lideranças políticas e empresariais. ... Na coletiva com a imprensa, Luciano disse que era motivo de satisfação e orgulho retornar a Arapiraca exercendo temporariamente o cargo de governador de Alagoas. ... Durante a entrevista coletiva com os repórteres, Luciano Barbosa falou de investimentos nas áreas de educação, saúde, segurança pública e obras de infraestrutura, a exemplo da chegada do gasoduto para Arapiraca, o novo distrito industrial, as obras de duplicação da Rodovia AL-110, construção e reforma de escolas e do novo aeroporto, entre outras obras em parceria com a gestão da prefeita Célia Rocha. ... O deputado estadual Isnaldo Bulhões fez uma visita ao diretor-presidente do Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (Iteral), Jaime Silva, na sede do órgão em Jaraguá. Na ocasião, Bulhões destacou o trabalho de Silva à frente do Instituto. ... “Agir com eficiência tem sido um grande desafio para quem está no setor público e o Iteral tem conseguido cumprir sua função. Apesar de todos os entraves, é visível o empenho e a resolutividade de Jaime Silva ao lidar com os movimentos sociais e também com as questões da reforma agrária. Eu ouço elogios de toda a parte e fico muito feliz”, afirmou Isnaldo Bulhões. ... Até o próximo dia 14 deste mês, de forma gratuita, estarão abertas as inscrições para dois cursos em Construção Civil na cidade de Arapiraca.


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REPÓRTERECONÔMICO JAIR PIMENTEL - jornalista.jairpimentel@gmail.com

NO PAÍSdasALAGOAS TEMÓTEO CORREIA - Ex-deputado estadual

Fique de olho Ao fazer suas compras e se dirigir ao caixa para o pagamento, atente sempre para o visor e o preço da etiqueta. Se constatar que foi registrado um valor maior do que o que você realmente constatou, proteste e exija o preço que se encontra no produto. Também leve uma lista de compras e só compre mesmo o que foi anotado, jamais comprando por impulso, mesmo sendo promoção.

Presentes O Dia da Criança será comemorado na segunda-feira, feriado nacional em louvor à padroeira Nossa Senhora de Aparecida. É tradição comprar presentes. O comércio investe muito nesse dia, oferecendo uma grande variedade de brinquedos e preços dos mais diversos. Aproveite o feriadão e vá às compras, mas comprando à vista. Nada de cartão de crédito parcelado.

Os juros

Cuidado com as promoções!

J

á estamos nos aproximando do final de ano, quando tradicionalmente o comércio investe em promoções tentando vender todo o estoque preparado exatamente para essa época. Nunca compre na primeira parada, visite todas as lojas do produto que realmente quer comprar, para só depois se decidir, com a certeza de que fez uma boa economia. Qualquer dinheiro economizado é um bom negócio. Já serve para juntar e comprar outra mercadoria. Se você vem seguindo corretamente seu orçamento desde janeiro, parabéns! Vai chegar ao final do ano e fechar o balanço superavitário, ou seja, com lucro, que é a reserva financeira mensal que fez numa caderneta de poupança ou fundo de renda fixa. O importante é saber viver de acordo com o que ganha, sem comprar por impulso, pagar as contas em dia e mais ainda não utilizar o cartão de crédito parcelado.

O Sistema Financeiro da Habitação vem aumentando recentemente os juros cobrados no financiamento para aquisição da casa própria, além de emprestar apenas a metade do valor da venda. Mais dificuldade para a classe média, que ainda enfrenta os juros de empréstimos diversos. Dica: compre um terreno e vá construíndo a casa de seus sonhos lentamente, do jeito que você quer sem necessidade de se endividar durante 30 anos.

Dólar É o melhor investimento do ano. E vale para quem não quer pagar impostos no mercado financeiro. Mais: não tem retorno. E só se valoriza cada vez mais diante do real. Você fica com o dinheiro em casa e ele vai rendendo diariamente. A caderneta de poupança, que é isenta de imposto, rende cerca de meio ponto percentual ao mês. Pense nisso!

Os ossos do ofício Setembro de 2006. A chácara do ex-deputado Gilberto Gonçalves (GG), em Rio Largo, estava repleta e fervilhava de eleitores para saborear um suculento café da manhã, oferecido pelo anfitrião para mais de duzentas pessoas. GG fez um veemente discurso com forte apelo emocional para, em seguida, servir o café que foi um sucesso. Dia seguinte, uma amiga e eleitora fiel, residente no bairro de São Miguel - Rio Largo-AL, procurou-o para uma inconfidência: um segredo narrado por uma colega sobre um ocorrido que ela desaprovara muito. Disse-lhe o que ela contara: - Olha amiga, tomei ontem um café da manhã na casa do nosso deputado GG, mas, melhor do que o café, foi a marca que eu deixei lá, mulher. Só de pensar me arrepio. - Que marca foi que tu deixou lá, neguinha? - Depois do café, deu-me uma dorzinha na barriga, fui ao banheiro. Lá, obrei. E com a minha obra escrevi nos azulejos da parede: - Te amo GG. O meu voto é seu! Do jeito que ele é, deve ter ficado uma fera! Após relatar-me essa inusitada história com detalhes, GG esbugalhou os olhos que me fuzilavam e em tom interrogativo, sentenciou: - Isso é ramo de gente, Temóteo? - Isso é ramo?


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CRÔNICA

Os olhos de Deus FERNANDO TENÓRIO* fernandoatn@hotmail.com PRIMEIRO ATO: O ROUBO DO SORVETE As pessoas já se escondiam em suas casas, pois uma garoa fina começava a cair e o relógio já marcava quase dez horas da noite, quando desci do ônibus na Rua Barata Ribeiro. Fui andando em direção ao meu antigo prédio sem ser importunado pela imagem de ninguém. Vi que uma mulher varria a sorveteria, enquanto outra empilhava os bancos. Senti que em breve o local com o melhor sorvete de Copacabana fecharia e resolvi comprar uma amarena de que gosto tanto, mesmo que a noite chuvosa fosse quase um impedimento. Saí de lá depois de perceber a cara feia da atendente destinada ao último cliente, mas sem dar a mínima para isso. Atravessei o cruzamento que me levaria à Rua Santa Clara de maneira preguiçosa e distraída, com o sorvete quase intacto. Sem esperar, senti um impacto na mão direita e vi um vulto correndo. Demorei a perceber que tive o meu sorvete – e somente o sorvete – roubado. SEGUNDO ATO: O VULTO GANHA ROSTO Cheguei ao meu prédio com a sensação de impotência e compartilhei o ocorrido com Reginaldo, o porteiro. Ele serenamente disse: - É maluco que mora aqui na rua chamado Natanael. Você deve ter visto já quem é, mas não deve lembrar. O coitado só faz isso quando está com fome. Perdoe o bichinho! Aquele mendigo é pinel! Aquela frase de Reginaldo tirou um pouco da minha impotência e da responsabilidade do vulto que acabara de me tomar o sorvete. Agora o gatuno era alguém com fome que atacou ferozmente minha sobremesa e que só podia saciar a única coisa que tinha em si. No dia seguinte, acordei logo cedinho e a troca de porteiros ainda nem havia ocorrido. Passei pela portaria e Reginaldo falou: - O ladrão de sorvetes está dormindo na marquise aí do lado. Antes de ir ao trabalho, olhei a figura atira-

da no chão com curiosidade, medo e espanto. Ele estava entregue ao sono dos justos, sem nenhum sobressalto, tão entregue ao mundo que parecia saber tudo sobre o todo que o cercava. O vulto agora ganhava contorno: a barba grande, a poeira dos intermináveis dias sem banho entranhava a pele mulata queimada pelo sol, a roupa preta, o sapato preto e face serena de quem espera muito da vida. TERCEIRO ATO: O CONTATO VITAL Sempre via Natanael depois do incidente que nos uniu. Ele sempre esteve ali, mas meu preconceito salpicado com pressa não me deixava ver. O medo transformou-o numa figura imensa que eu podia ver ao longe, sentindo a presença no ar. O tempo passou e o homem que havia me roubado já havia virado novamente sombra. Porém, ao receber meus familiares no último fim de semana de agosto, percebi, quando estávamos lanchando próximos a minha casa, os olhos famintos de Natanael voltados ao sanduíche que minha irmã comia. Agi mais rápido e falei: - Você quer um? Ele arregalou os olhos e assustado respondeu: - Sim. O homem se atirou ali na comida como se não houvesse o amanhã. Não havia bondade no meu ato. Não havia uma caridade genuína. O que eu desejava era evitar um susto para os meus, e assim reduzir os danos com a atitude. Quando eu estava indo embora, uma voz familiar disse: - Aí...Eu também tenho um negócio aqui para te dar na moral. É bom, de primeira! De dentro da mochila, Natanael puxou vários jornais, revistas, roupas e lá no fundo, escondida como um tesouro, encontrou uma garrafa pequena de cachaça com mel. Disparou: - Só um golinho, hein? Quebra o frio, vá por mim! Vi naquele simples presente muita coisa. Sabe-se lá o motivo, acabamos nos aproximando, se é que podemos chamar assim, e o homem sempre me acompanhava até meu apartamento pedindo algo e chamando para “beber uma gelada qualquer dia”, dizendo que um dia Deus iria me retribuir aqueles lanches subvencionados. QUARTO ATO: ZONA SUL X ZONA NORTE No dia vinte de setembro, saindo do Cine Joia,

após ver “Que horas ela volta?”, fui informado pelos transeuntes: - Não pode sair agora. A galera da zona sul resolveu quebrar esses “bandidozinhos” da zona norte. Quando saí, vi um cenário de guerra. A Avenida Nossa Senhora de Copacabana estava em polvorosa, com um trânsito imenso. Ouvi “bem feito!” aqui e “agora eles estão vendo o que é bom...” ali. O medo dominava no meu regresso ao lar, mas logo vi Natanael e não consegui passar sem falar nada. Ele estava encostado num carro vermelho, vendo tudo. Eu alertei: - Vá para outro lugar, rapaz. Aqui está perigoso! - Não há perigo para mim. Eu sou os olhos de Deus! Ele já viu tudo: os brancos batendo nos pretos. - Vá para outro lugar! - Vou não! Deus precisa ver isso. Preciso entregar para Ele o mundo em ordem! Fui para casa pensando. Pensei nas questões que uniam Natanael tão firmemente ao criador, mas logo tangenciei para a pergunta: e se Deus visse o mundo pelos olhos do mendigo, como seria? Deus nos olharia curioso e receberia de volta o desprezo, a comida negada, a escola fechada, a casa que não existe, o pontapé dado pelo dono de boteco, a indiferença por parte da beata, o meu medo. Deus nos olharia curioso e receberia de volta uma reprimenda da Polícia Militar por não ter dinheiro no bolso para ir à praia, levaria um baculejo dentro dos ônibus lotados que vão até a zona norte, apanharia de quem defende a violência como forma de aprendizado, seria amarrado no poste, queimado em pontos de ônibus, assaltado enquanto ia ver o pôr do sol no Arpoador, veria as mulheres buscando seus direitos e sendo reprimidas, assediadas e estupradas. Deus nos olharia com preguiça ao saber que renegamos tantos por não serem exatamente como queremos. Ao ver pelos olhos de Natanael, Deus deve fechar os Seus, envergonhado e arrependido, para não ver a quantidade de besteira que andamos fazendo por aqui, enquanto clamamos por Ele. *Médico formado pela Ufal, é alagoano de Maribondo e tem 26 anos. Residente em Psiquiatria no Hospital Philip-pe Pinel, no Rio de Janeiro, é autor do livro A Responsabilidade dos Olhos, lançado pela Editora Viva em 2014.


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- MACEIÓ, ALAGOAS - 09 A 15 DE OUTUBRO DE 2015


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