Blog de Papel # 7

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NESTA EDIÇÃO: As dificuldades de quem vota pela primeira vez Descubra como os acontecimentos políticos dos últimos cinco anos afetam os jovens.

Lei pune atos libidinosos no transporte público Nova lei de importunação sexual vai facilitar o processo de investigação e punição.

Reabertura da orla muda paisagem da Capital Reformado, cartão-postal de Porto Alegre é ponto de encontro para passeios, aluguel de bike e exercícios.

Protagonismo LGBT movimenta cena literária

Personagens LGBT na literatura geram um debate sobre a existência de segmento literário próprio.

Número 07 / Outubro de 2018


Editorial Decisões aceleradas, desafios e surpresas há tempos fazem parte da prática jornalística, que se caracteriza pela mudança e pela necessidade de inovar. O Blog de Papel nasceu em 2011, no início do curso de Jornalismo da ESPM, em um cenário veloz e exigente. Ao longo dos últimos anos, o jornal cresceu, com ideias provocativas que surgiram em sala de aula, capitaneadas por estudantes que queriam aprender mais e fazer diferente, como protagonistas. Acompanhar essas turmas como professora e orientadora foi sempre um prazer e um privilégio. O momento atual é novamente de crescimento e inovação. Esta edição do Blog de Papel, a de número 7, segue o impulso de provocar, movimentar, mudar, mas agora em plataforma digital. Os textos dos nove talentosos repórteres reúnem histórias de áreas variadas, compondo uma edição diversa e com conteúdo consistente, voltado ao interesse público. Algumas provocações desta edição refletem o espírito inquieto que deve marcar esta profissão tão dinâmica quanto fundamental para a sociedade: quais são as principais propostas da área de segurança dos candidatos ao governo do estado? Os desafios de quem vota pela primeira vez em um cenário conturbado e tenso. Existe uma literatura LGBT? Como a nova lei da importunação sexual muda a realidade das mulheres no transporte público. São alguns exemplos do que o leitor encontra nesta edição, exemplos de bom jornalismo.

Ângela Ravazzolo

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Os desafios de quem vota pela primeira vez Ana Luísa Ribeiro

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A segurança pública para os candidatos a governador do Rio Grande do Sul

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Edson Haetinger

Uma nova Orla Pietro Meinhart

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Nesta Edição:

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Vulneráveis: a violência contra a mulher no transporte público Bárbara Bitencourt

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A tecnologia sustentável é diamante para investidores Luis Filipe Günther

Os livros fora do armário: uma literatura LGBT (?) Luis Henrique Cunha

O mundo virtual e a política de privacidade Alice Germansen

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Mudanças sociais e reflexos na moda genderless Victoria Thomaz

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Quando a mente entra em campo Vitória Nascimento

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Política Os desafios de quem vota pela primeira vez Ana Luísa Ribeiro

Eleições: a palavra mais falada do ano. Quem irá assumir a presidência ou os governos dos estados? São perguntas que se propagam nos ambientes de convívio, direta ou indiretamente. O cenário político atual não ajuda a juventude que vota pela primeira vez em 2018 a ter uma tomada de decisão tranquila. Um exemplo é o questionário online aplicado em 107 jovens nas redes sociais para compor esta reportagem: os entrevistados deveriam classificar o cenário político em excelente, bom, regular e péssimo. Na análise, o total de votos entre regular e péssimo somou 97,5% das respostas. Danielle Iriart de Oliveira tem 17 anos e está cursando o segundo ano do ensino médio. Ela é membro de atividades de liderança nos seus meios de convívio, como coordenações de grupos de jovens católicos, e se diz decepcionada com a situação em que vive. “O que mais me deixa inconsolada é saber que as pessoas estão saindo do país, fazendo ‘textões’ nas redes sociais e não estão mais vendo potencial no que a gente tem. Elas simplesmente desacreditaram do Brasil. Além da crise econômica e política, a gente vive uma crise moral, onde todos são individualistas e todos têm menor pensamento crítico. Porque nosso cenário político é reflexo da nossa sociedade e do que pensamos, então, é nossa responsabilidade”. Ela optou por não votar nestas eleições.

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Danielle Iriart de Oliveira. Autora: Ana Luísa Ribeiro

JoãoVitor Rebelatto. Autora: Ana Luísa Ribeiro

Clique aqui e entenda o cenário político brasileiro atual.

João Vitor Rebelatto tem 17 anos, é estudante e vai votar pela primeira vez nestas eleições. Na visão dele, o contexto atual é complicado. “Para quem vota, a primeira vez é díficil, é bem conturbado, porque cada um tem uma ideia diferente. Cada dia tem um escândalo novo na televisão”. Desde as Jornadas de Junho, em 2013, o cenário político brasileiro intensificou a confusão. A incerteza reina e dá espaço para o descontentamento. Pesquisa feita no início de agosto deste ano pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) indica uma queda no número de jovens votantes e aponta que 59,6% dos jovens de 18 a 20 anos possuem título de eleitor e votaram na última eleição. Contudo, outra pesquisa realizada pelo mesmo órgão comprova que o número de eleitores cresceu nos últimos quatro anos, mas a quantidade de jovens com título e idade para votar caiu em 14%. Segundo a antropóloga Patrícia Kunrath, os jovens que viveram todos os acontecimentos desde 2013, passando por eventos como impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e início da Operação Lava-Jato, podem ter um desapontamento na hora de votar. “Muita gente se desiludiu com a política institucional a partir daquele momento. Porque o que fez essa virada, e fez todos irem para a rua, foi a pauta da corrupção, e isso ficou muito atrelado a essa política institucional. Tanto que nas manifestações era possível ver pessoas se declarando apartidárias”. Exemplo disto foram as eleições de 2016, quando Nelson Marchezan, candidato eleito a Prefeito de Porto Alegre, venceu com 402.165, equivalente a 60,5% dos votos válidos. Por outro lado, os votos nulos (109.693), brancos (46.537) e abstenções (227.521) somaram 433.751 votos, número


superior em 31.586 de votos recebidos pelo prefeito. “Permeia na população toda esse tom de desesperança. Que não tem jeito, que não vai ser nessas eleições que as coisas vão mudar”, afirma a psicóloga Juliana Miranda. Ela acredita que exista, no âmbito comportamental, a descrença na capacidade da política de ser um agente de mudança na vida da população. E isso pode ser observado em João Vitor. “O que vai acontecer? Não tem mais solução esse problema. Parece que não temos mais o que fazer. Talvez possa existir algo, mas eu não sei o que é. Está muito complicado”. A pesquisa realizada para esta reportagem nas redes sociais, com 107 respostas, tinha o objetivo de atingir jovens a ptos a votar para expressar a opinião desta amostra sobre o cenário político atual e as eleições. Entre as perguntas, uma delas questionava “como você classificaria o cenário político brasileiro”. Nenhum marcou a opção excelente, 1,2% acredita ser bom e regular, 28% afirma ser ruim e 69,5% classificou como péssimo.

Gráfico referente à avaliação dos jovens votantes pela primeira vez sobre o cenário político brasileiro atual questionário aplicado nas redes sociais.

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“A geração Z, que está o tempo todo mergulhada em informação, não conhece uma maneira de viver sem ser essa: estar conectado. E isso pode ser bom. Mas quando ela se torna em excesso, superficial e enviesada, pode gerar um consumo inconsciente e se tornam os leitores de manchetes. Isso ajuda a fomentar o desinteresse e insatisfação com o que vivemos”, afirma Juliana. Para ela, não há como dizer qual será o comportamento dos jovens na hora do voto, pois cada um existe em sua individualidade e tem seus motivos pessoais para sua tomada de decisão. “Tem fatores coletivos que vão influenciar na tomada de decisão, mas também existem os pessoais. Isso é resultado de uma bagagem, valores e coisas subjetivas da vida de cada um e isso, muitas vezes, é chave para determinar em quem vão votar”. De acordo com Danielle, o voto dos jovens simboliza o futuro. “A gente sempre fala que é o futuro e vai mudar o mundo, mas é difícil. Na prática, é mil vezes mais perto do impossível. Mas acredito que o que devemos fazer e propagar agora é, aos poucos, introduzir a questão de acreditar. Fazer com que as pessoas sejam menos individualistas e comecem a acreditar no coletivo. O nosso país precisa acreditar mais nesse coletivo e que ele impulsiona as coisas, porque hoje todos são individualistas. Temos a mania de achar que, por mais pobreza que possa existir, se temos como fazer as nossas coisas, estamos satisfeitos”.

A estante de Danielle. Autora: Ana Luísa Ribeiro


Segurança Vulneráveis: a violência contra a mulher no transporte público Bárbara Bitencourt

Autora: Bárbara Bitencourt

A pior escolha da vítima é ficar isolada na violência. Andar na rua, usar transporte público e realizar outras atividades são, na maioria das vezes, desafios para as mulheres que se sentem vulneráveis na sociedade atual. Ser vítima não é uma escolha, mas reagir contra o assédio é. A aprovação recente de uma lei sobre assédio em lugares públicos deve facilitar a punição. A delegada Tatiana Bastos, da Delegacia Especializada no Atendimento da Mulher de Porto Alegre (DEAM), 00 06

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Autora: Bárbara Bitencourt

afirma que a melhor atitude para se tomar durante um assédio em qualquer transporte público é reagir e dar conhecimento sobre o que está acontecendo a outras pessoas. “Imediatamente, a vítima deve procurar ajuda. Se for necessário, ela deve gritar para que o agressor seja contido o mais rápido possível.” Tatiana também salienta a importância da denúncia, independente do tempo que o assédio tenha ocorrido. “É importante ter esse diagnóstico para a polícia buscar responsabilidade criminal dos agressores".

Autora: Bárbara Bitencourt

“Eu estava em pé no ônibus lotado, estava cercada por homens, e um desses estava se mexendo mais do que o necessário, pegando e tirando a mochila dele do chão. Nesse movimento, ele passava a mão na minha perna. Eu tive que segurar muito o choro e não quis dizer nada por vergonha de ser exagero ou coisa da minha cabeça”.

Eduarda, estudante,19 anos


De acordo com dados apurados até julho de 2018 pela Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul, os fatos de violência contra a mulher são alarmantes. Confira a tabela:

18.830 ameaças

11.082

lesões corporais

120

feminicídios tentados

892

estupros

41

feminicídios consumados

Como a lei defende a mulher

No dia 24 de setembro, foi aprovada a lei que abrange o assédio sexual em locais públicos. Até então, não existia um tipo penal que defendesse a mulher contra violência sexual e moral em transporte público, esses atos libidinosos eram considerados contravenções penais. A partir de agora, será possível mensurar apenas as violências que ocorrem no trem ou no ônibus, o que facilita n investigação. Essas agressões, físicas e morais, se encaixavam em duas contravenções: a perturbação da tranquilidade ou importunação ofensiva ao pudor, que têm penas muito baixas, ou seja, não eram proporcionais à gravidade dessas condutas. Quando a violência se torna uma grave ameaça e ocorre um constrangimen07

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to físico, existe o delito de estupro, no qual a pena pode A lei 13.718/2018 protege diretamente as mulheres chegar até 10 anos. em lugares públicos, em situações vulneráveis de filma Veja a tabela e confira como a lei defendia a seguran- gens ou fotos e no aumento do delito de estupro. A pena ça e como será a partir de agora: para as novas condutas criminosas, intituladas como Importunação Sexual e Divulgação de Cena, é de um a cinco antes anos, dependendo do caso. Segundo a delegada Tatiana, a lei preencheu lacunas na questão de segurança da mulher PERTURBAÇÃO DA TRANQUILIDADE dentro da sociedade. “Essa nova tipificação legal era extreMolestar alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte mamente necessária. Nós tínhamos um hiato legislativo ou por motivo reprovável. em relação a várias condutas libidinosas nas quais não IMPORTUNAÇÃO OFENSIVA AO PUDOR havia violência física, não podendo enquadrar no delito de estupro e as considerando como apenas contravenção pePraticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público. nal.” Tatiana afirma sobre a importância da nova lei para DELITO DE ESTUPRO que a mulher se sinta segura na hora de denunciar. “Agora, temos um tipo penal que descreve exatamente essas conArt. 213 Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, dutas e que traz uma pena e um tratamento penal propora ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso. cional e adequada a gravida desses acontecimentos”.

agora

IMPORTUNAÇÃO SEXUAL Assediar alguém de forma sexual no transporte, na rua ou qualquer outro local DIVULGAÇÃO DE CENA Divulgar cena de sexo, nudez ou pornografia sem consentimento da vítima DELITO DE ESTUPRO Se for cometido contra vulnerável menor de 14 anos, a pena é de 8 a 15 anos.

Não tem hora

Não existe um horário para o ataque. A maioria das pessoas imagina que aconteça mais à noite, pelo fato de os transportes públicos estarem mais vazios. Porém, os incontáveis casos ocorrem em diferentes partes do dia. É mportante estar atenta e ser cautelosa na hora de escolher um lugar dentro do transporte. É vital prestar atenção às pessoas e tomar atitudes, como ficar próxima de mulheres, para amenizar o sentimento de insegurança. A delegada Tatiana afirma que muitas mulheres sentem-se envergonhadas pelo ocorrido. “Não há nada que a mulher faça que justifique a violência".


A delegada Tatiana ressalta a importância da denúncia, independentemente do dia, com um prazo de até seis meses. “Se durante o assédio a vítima não conseguir reagir, ela deve procurar uma delegacia quando se sentir preparada para falar, pois assim os casos de assédio vão sendo registrados com mais frequência, podendo auxiliar e criar incentivos sobre isso.”

Campanhas nos transportes Autora: Bárbara Bitencourt

Como ocorre o processo de denúncia legenda para a foto Lorem ipusm est ipsum lorem est sci. autor: fulano de tal. Autora: Bárbara Bitencourt

Hoje, ao voltar do trabalho pra casa, fui molestada no trem. Um indivíduo do sexo masculino se sentiu no direito de tirar sua genitália das calças e roçar na minha bunda. [...] Talvez a minha calça estivesse justa demais, afinal, quem eu acho que sou pra usar a calça que eu quero?. Não, o trem não estava lotado, já eram 20h. [...] Apesar de saber que eu não tive culpa, só consigo sentir vergonha de mim. “ Milena, estudante, 20 anos.

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A partir do momento que a vítima decide denunciar a agressão, a responsabilidade passa a ser da polícia para tomar as providências necessárias. A delegada Tatiana explica como o processo acontece e o que a vítima pode fazer para ajudar na investigação”. Quando tu chega numa delegacia de polícia, nós vamos identificar quem é essa pessoa. É por isso que num primeiro momento, quando está acontecendo aquele crime, é importante dar conhecimento, seja para o cobrador ou aos passageiros, para que ele já seja identificado naquele momento, para facilitar o processo." A delegada também ressalta a importância de procurar uma delegacia especializada, nestes casos, a DEAM, justamente pela preocupação e foco maior com causas relacionadas a isso.

O Sindimetrô, Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Metroviários e Conexas do RS, realizam diversas campanhas para esclarecer alguns fatos que, tecnicamente, seriam óbvios. Uma das principais foi lançada no dia 5 de setembro de 2017, intitulada como O Transporte é público, o corpo da Mulher não. Na sua justificativa, o Sindimetrô relata que a cada 11 minutos no Brasil, uma mulher é estuprada. E, de acordo com especialistas, o número pode ser maior já que estima-se que mais de meio milhão de mulheres, por ano, tenham sofrido algum tipo de violação sexual. De acordo com o levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a proporção desse valor seria de quase um abuso por minuto.


Política A segurança pública para os candidatos ao governo do RS Edson Haetinger

Diante de um cenário complexo no que se refere à segurança pública, com diversos problemas, como déficit de efetivo policial e de vagas no sistema prisional, candidatos apresentaram propostas para tentar conquistar os eleitores.

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Sistema carcerário

Outro ponto fundamental para entender o momento atual do Estado é a situação do sistema carcerário. Em 2010, o A escalada da violência nas cidades mil habitantes em 2017, no RS. Contudo, brasileiras tem feito com que o tema da se- mesmo com esse aumento de mais de 57% RS tinha 21.077 vagas no sistema prisional, enquanto que em 2017 o número de vagas gurança pública seja uma das pautas mais na taxa, o Estado se manteve abaixo da passou para 21.642. No mesmo período importantes dos candidatos desta eleição. média nacional, que foi de 30,8 mvi/100 em que o Estado ofertou mais 565 vagas, No Estado do Rio Grande do Sul, não é mil habitantes em 2017. o número de presos aumentou em 2.485, diferente, e não é para menos. Segundo o Associada ao aumento da criminaliAnuário Brasileiro de Segurança pública de dade no Rio Grande do Sul está a diminui- passando de 31.383 para 33.868. Para efeito de comparação, a razão de vagas/presos 2011, que analisa os números do ano anção do efetivo policial. Em 2010, o estado terior, o Brasil fechou o ano de 2010, pridispunha, segundo o Anuário Brasileiro de em 2010 era de 1,5 e em 2017 passou para meiro ano da década, com 37.880 Mortes Segurança Pública, de 32.027 policiais, en- 1,6. Entretanto, entre 2010 e 2017, entraViolentas Intencionais (MVI) – apenas três tre militares e civis. Em 2016, esse número ram 4,39 presos para cada vaga do sistema prisional do RS. Segundo dados da Susepe ocorrências são classificadas como mortes despencou para 22.100 policiais, também (Superintendência de Serviços Penitenciviolentas intencionais: homicídio doloso, entre militares e civis. ários), a reincidência ao sistema prisional quando há intenção de matar; latrocínio, Entretanto, à medida que o efetivo no Estado chega a 70,9%. roubo seguido de morte; e lesão corporal policial diminuiu, os gastos com policiaPara Fábio Heinen, chefe do deparseguida de morte. Em 2017, esse número mento aumentaram 106%, passando de R$ saltou para 63.895 mortes, também segun- 156 milhões em 2010 para R$ 322 milhões tamento de planejamento da Susepe, uma do o Anuário Brasileiro de Segurança Púem 2017. Mas não foi só o investimento em série de fatores sociais, econômicos, criminais e jurídicos contribui tanto para o blica. policiamento que aumentou, no mesmo No Rio Grande do Sul, em compaperíodo o investimento geral em segurança número de prisões quanto para o elevado ração com o mesmo período, houve 1.813 pública no Estado passou de R$ 2,6 bilhões índice de reincidência, e completa: “Por exemplo, temos presos que ingressaram e 3.022 mortes intencionais violentas, em para R$ 3,8 bilhões. Mesmo com esse aumais de uma dezena de vezes na Cadeia 2010 e 2017, respectivamente. Esse aumen- mento significativo nos investimentos, o Pública de Porto Alegre, em 2018, no ento no número de mortes fez com que a taxa Rio Grande do Sul passou da 5ª para a 6ª tanto, em nenhuma dessas vezes ele foi de mortalidade saltasse de 16,95 mvi/100 posição no ranking de estados que mais condenado definitivamente”. mil habitantes em 2010 para 26,7 mvi/100 investiram em segurança pública.


Para diminuição do déficit de vagas nas casas prisionais não há outra forma se não a geração de novas vagas, segundo Heinen, entretanto, o custo da construção de um novo presídio é o maior entrave. “Para gerar mais 13 mil vagas, o custo é de aproximadamente R$ 1 bilhão. Todos sabemos da crise econômica e financeira tanto do Estado quanto da União e das dificuldades em disponibilizar tal montante”, explica. Na tentativa de diminuir a superlotação dos presídios, a Susepe tem optado por utilizar a tornozeleira eletrônica como “alternativa eficiente e eficaz, sem o custo de geração de novas vagas e com maior possibilidade de controle e inclusão social”, completa Heinen.

As propostas Os cinco pilares dos candidato foram retirados dos planos de governo de Eduardo Leite e José Ivo Sartori. As propostas diferenciais, para efetivo policial e sistema carcerário foram informadas pelas assessorias de imprensa de cada candidato e comparadas com os planos de governo de cada um. Os temas foram escolhidos por apresentarem déficits ao longo dos anos. Confira cada proposta clicando na imagem abaixo.

Diante desse cenário, apresentaram-se, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), oito candidatos ao posto de Governador do Estado do Rio Grande do Sul nas eleições de 2018, dos quais José Ivo Sartori (MDB), candidato a reeleição, e Eduardo Leite (PSDB) foram para o segundo turno. Para compreender as propostas de cada candidato sobre o tema segurança pública, este levantamento analisou as propostas apresentadas nos planos de governos de cada candidato, além de obter, por meio da assessoria de imprensa de cada um, as principais propostas para a pasta. Confira as propostas de cada candidato clicando na imagem ao lado. 00 10

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Fotos de divulgação

Os candidatos


Economia Tecnologia sustentável é diamante para investidores Luís Filipe Günther

Imagine você como um investidor da Bolsa de Valores de São Paulo. Em uma ocasião, o seu corretor de confiança lhe oferece duas cartelas: a carteira A, que valorizou 185% em 12 anos, e a B, que nos primeiros seis meses de 2018 se mostrou ociosa e duvidosa. Sem dúvidas a primeira opção seria mais atrativa, a não ser que goste de perder dinheiro. E se descobrisse que essa escolha seria o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) e não o tradicional Índice Bovespa (Ibovespa)? Tratado ainda como um embrião por uma parte dos investidores da Bolsa, o ISE seria vetado. Porém, essa visão sobre o índice está cada vez mais ultrapassada. Mesmo com menos representatividade, aproximadamente 41% do número de ações, o setor cresceu 40% quando comparado ao mesmo período em 2017. No fechamento do último ano, a carteira teve um acumulado de R$ 1,28 trilhão. Gustavo de Moraes, professor do mestrado em economia da PUCRS, diz que “É um índice bastante restritivo, pois precisa de uma série de critérios. Por ser restritivo, agrega valor. Acredito que 41% é um valor razoável.” Questionado sobre como o investidor pode confiar que a carteira agregará valor à ação adquirida, Moraes explica que a confiança depositada sobre o ISE varia conforme o tempo, como o Ibovespa. Apesar de estar em alta, ele segue o momento econômico do país. 11

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Todo ano, são selecionadas novas empresas para ingressar na nova modalidade. Em 2018, foram ofertadas 33 ações de 30 entidades, reunindo 15 setores diferentes do mercado financeiro. Na opinião do professor, se mais em-presas participassem dessa carteira, tornaria a carteira menos atrativa para empresas. O especialista acrescenta que a modalidade também não é tão chamativa, tendo em vista que as entidades teriam que “mudar suas estruturas para se adaptar às exigências da carteira”. O benefício de estar presente na carteira não agrega valor monetário, mas influencia a imagem da empresa perante os compradores, diz o professor. “Atualmente ela agrega à empresa de duas formas: primeiro ponto, você como empresa tem como lançar produtos específicos. Um exemplo seria o plástico verde, ou a compra de direitos de emissão de carbono pela gol linhas aéreas.” A carteira começou a se destacar a partir de 2013, quando já chamava a atenção por causa do seu alto rendimento. Com apenas nove anos de idade, já oscilava menos do que o Ibovespa – que começava a sofrer constantes variações na valorização das suas ações. “Ajudou bastante, pois apesar da crise que as instituições passavam, ela sustentou com uma volatilidade menor que outros índices”, explica o especialista.

O tempo foi determinante para que a adoção de políticas sustentáveis em grandes corporações passasse a ser necessária . Proposta pelo governo sueco, a Conferência de Estocolmo reuniu cientistas para debater os efeitos da poluição no planeta. O encontro reuniu 113 países e foi muito importante para o desenvolvimento da Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano criada pela ONU, publicado pela organização um dia após a abertura do evento. Desde então, outros 12 eventos foram feitos com o intuito de reduzir o nível de poluição e introduzir, consequentemente, regras para o setor industrial. José Junior de Oliveira, mestre em Economia Aplicada, explica: “Os protocolos de Kyoto e o Acordo de Paris, assim como Estocolmo, chamam a atenção de que as empresas devem se preocupar com sustentabilidade socioambiental e os investidores estão cada vez mais rigorosos para selecionar negócios que se preocupem com isso”. O especialista destaca que o capitalismo sustentável, em tese, é aquele no qual estão inseridas empresas que produzam de maneira eficiente consciente. “A tendência é que empresas que tenham essas características despertem mais interesse dos investidores e, consequentemente, suas ações vão se valorizar na bolsa.”


Pietro Meinhart “Um lugar para relaxar.” Foi assim que André Abreu, 24 anos, descreveu a nova Orla do Guaíba. Desde que foi reaberto ao público, o local tornou-se um novo espaço de convívio e lazer em Porto Alegre. Seja para caminhar, correr, tomar um chimarrão ou apreciar o Guaíba, o espaço, antes pouco utilizado, desperta o interesse em porto-alegrenses e turistas. Durante quase três anos, quem passava pela avenida Edvaldo Pereira Paiva se deparava com um cenário de obras. Tapumes, aços e montes de areia dividiam a paisagem com o pôr-do-sol. A obra, que começou em outubro de 2015, deveria ter ficado pronta em abril de 2017, mas foi inaugurada somente em junho de 2018. Porém, não foram só os prazos que mudaram. Também houve alteração nos custos. Inicialmente orçada em R$ 60 milhões, acabou custando R$ 71 milhões aos cofres da prefeitura, valor este que será pago por meio de um longo financiamento com o Banco de Desenvolvimento da América Latina. O trecho de 1,3 quilômetro, que vai da Usina do Gasômetro até a Rótula das Cuias, foi idealizado pelo arquiteto Jaime Lerner. Lerner é conhecido internacionalmente pela sua atuação como urbanista, foi prefeito de Curitiba por três vezes e governador do Paraná por duas vezes.

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Avenida Edvaldo Pereira Paiva vista de cima. Autor: Pietro Meinhart.

Cidade A nova orla


Motoristas convivem nova orla. Autor: Pietro Meinhart.

Segundo ele, ao recuperar uma área degradada, o senso de pertencimento da população aumenta e demonstra o cuidado da cidade por seu patrimônio e habitantes. O grande movimento após a conclusão da obra atesta o depoimento de Lerner. Segundo a prefeitura, em média, circulam 50 mil pessoas por fim de semana no local. Porém, essa multidão que toma conta da Orla do Guaíba traz à tona uma série de debates. Uma dessas discussões é o aglomeramento excessivo de pessoas no local. Segundo o Doutor em Planejamento Urbano e Regional da UFRGS, Eber Marzulo, esse comportamento é resultado da carência de espaços públicos de qualidade na capital. O cientista social enfatiza que a nova Orla é uma novidade boa para a cidade, mas que traz, no seu in00 13

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terior, algumas más notícias. “A pior notícia é que não se tem muitos lugares do tipo, com algum grau de segurança, melhor distribuídos. O que tornaria esse fluxo menor e menos concentrado.” Eber enfatiza uma desqualificação das áreas públicas nas periferias, tanto na capital quanto na região metropolitana, o que resulta em um número grande de pessoas vindas de outras regiões para Porto Alegre.

O turista

“Eu não sou daqui.” Foi a primeira frase que André Abreu disse quando o abordamos. O jovem Paulista veio pela primeira vez para Porto Alegre. Ele, que trabalha com moda, aproveitou as horas livres entre uma

reunião e outra para visitar a Orla. “Acho que ficou muito bacana essa proposta de aproveitar o rio. Me senti bem, me dá paz andar por aqui.” André comenta que São Paulo possui muitos lugares de lazer, mas lamenta que nenhum deles seja próximo ao rio. Ele ressalta que, diferentemente do Guaíba, o rio Tietê e o Pinheiros estão imundos. “Só tem cara de água mesmo”.

Amor a segunda vista

Adriana Silva, moradora de Porto Alegre, visitou a Orla do Guaíba, pela primeira vez, há cinco anos. Naquela época, se decepcionou com o local. Segundo ela, faltava algo de interessante para fazer. “Depois não tive mais vontade de vir.”


Ao retornar, depois da reforma, se surpreendeu. “Viemos hoje pela primeira vez, fiquei muito encantada com toda essa nova estrutura.” Ela e o marido, que resolveram aproveitar o sol e o pouco movimento do feriado de 7 de setembro para caminhar, ressaltam a carência de espaços públicos de qualidade na cidade. “Porto Alegre tem uma população muito grande. Pra esse lado não tinha muita opção, só o shopping.”

A orla recém reformada. Autor: Pietro Meinhart.

A frequentadora assídua

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Desde 1969 morando em Porto Alegre, Roneti Cardoso nunca teve o hábito de frequentar a Orla do Guaíba. Mas isso mudou nos últimos meses. Com a reforma da Orla, a moradora do bairro Menino Deus começou a caminhar todos os dias com uma amiga no local. “Porto Alegre tinha que ter esse espaço. Meu medo é que comecem a deixar lixo, fazer pichação. Mas eu espero que conservem, né.” Roneti é otimista. Ela tem esperança de, um dia, ver a capital com mais lugares públicos de qualidade para o lazer. E, assim, poder fazer novas caminhadas. “Eu acho que o Cais do Porto é outro lugar promissor. Você vai a Buenos Aires, por exemplo, e tem aquele porto lindo, com restaurantes. Eu sou muito a favor de ter bastante vitalidade na beira do rio.”

Os doces de Francisco

Há 20 anos, o trabalho de Francisco de Oliveira é adoçar a vida das pessoas. Seja criança, jovem ou adulto, o algodão-doce faz sucesso onde quer que esteja.


Francisco vende em torno de 15 a 20 doces por dia, um total de R$ 600 reais no final do mês. Porém, conta que não está fácil trabalhar. Ele, que sempre fez suas vendas no Parque Farroupilha e adotou a Orla do Guaíba recentemente como seu novo ponto de venda, sofre com a fiscalização excessiva.

Francisco vende algodão-doce de segunda a sexta na Orla. Autor: Pietro Meinhart. “Eu tô vindo dia de semana aqui na Orla porque lá na Redenção está fraco o movimento. Aqui tá melhor. Só que tem um detalhe, a prefeitura está meio que apertando, né. Não querem deixar o cara trabalhar.” 00 15

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A fiscalização que Francisco queixa-se é referente às 11 normas para a utilização da área, definidas pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente e da Sustentabilidade (Smams), que estabelece “a proibição de vendedores, ambulantes, camelôs ou qualquer outra prática de comércio.” Apesar disso, o vendedor tem esperanças. “Ficou muito bonito aqui, viu? Vou ver se eu consigo autorização para trabalhar.”

Dicas da Orla:

Do interior à capital

• Leve sua bicicleta ou patins. Com a nova ciclovia, é possível se exercitar e aproveitar a vista do Guaíba.

Frederico Westphalen é um município do interior gaúcho. Há 500 km de Porto Alegre e com em torno de 30 mil habitantes, a cidade pertence à microrregião do Médio Alto Uruguai. E foi de lá que Darci Marques veio. O construtor civil chegou à capital gaúcha desempregado, e em busca de novas oportunidades. Deixou para trás família, amigos e a namorada. “Cheguei ontem em Porto Alegre. Queria achar o Guaíba, mas só consegui encontrar hoje.” Darci procura emprego como pintor ou servente de pedreiro. Além disso, possui um curso que o habilita para trabalhar como segurança. Ele, que espera encontrar algum trabalho nos próximos dias, fez do Guaíba o seu porto-seguro. “Aqui é um lugar para espairecer a cabeça, colocar os pensamentos em dia e pensar sobre a vida.” Ao final da conversa, ele pegou sua mala e sua mochila, ambas colocadas no chão na hora da entrevista, e saiu rumo ao seu novo futuro.

• Para quem não gosta de muito movimento, o ideal é ir durante a semana. Aos sábados e domingos uma multidão toma conta do local.

• Caso preferir, você pode alugar uma bicicleta do Bike Poa. O plano diário sai por R$ 8 reais. • Outro serviço disponível no local são os passeios de barco. Os preços do Cisne Branco, um dos mais famosos, são a partir de R$ 35 reais. • É possível também aproveitar sem gastar nada. O extenso gramado da Orla, por exemplo, é ideal para um piquenique ao ar livre. • Além das dicas a cima, a nova Orla é ideal para caminhar, reunir os amigos, tomar um bom chimarrão, passear com o animal de estimação e, é claro, apreciar o pôr-do-sol no Guaíba.


Cultura Os livros fora do armário: uma literatura LGBT (?) Luis Henrique Cunha

Samir buscou na literatura o incentivo necessário para assumir sua sexualidade. Não encontrou muitas obras com protagonistas gays. Muito menos em romances históricos. Uma jovem Carol vibrou ao ler as obras de Caio Fernando Abreu. Sentiu-se representada. Hoje, Samir Machado e Carol Bensimon escrevem livros com temáticas LGBT. Suas obras podem ser encontradas em prateleiras nomeadas “Literatura LGBT”. “Literatura LGBT é produzida por LGBTs e ou cria espaços LGBTs. É assim que eu penso”, diz a escritora Natalia Polesso, de Bento Gonçalves. Com 37 anos, ela conta com três livros publicados. Sua obra de contos “Amora” lhe rendeu o Prêmio Jabuti na categoria Contos e Crônicas, em 2016. A gaúcha se orgulha do espaço que obras voltadas ao público LGBT estão tomando. “É importante retratar vivências lésbicas. Dar a elas protagonismo. Acho que escrevemos com nosso corpo inteiro, nosso corpo no mundo, nosso corpo que vive nossas experiências.” “É fundamental que o pessoal LGBT possa chegar a obras LGBT”, afirma Carol Bensimon. A gaúcha de 36 anos lançou, em 2013, “Todos Nós Adorávamos Caubóis”,

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romance com protagonistas lésbicas. Para ela, a rotulação de uma obra como literatura LGBT se dá muito mais pelo sistema literário do que pelo escritor. “Fico muito feliz quando meus livros figuram em uma lista do tipo ‘romances com personagens lésbicas’, mas, quando escrevo, eu não penso ‘estou escrevendo um romance lésbico’”. Samir Machado acredita que essa discussão envolve uma questão mercadológica: “Esse tipo de classificação de gênero literário é, no fundo, só uma discussão em torno de qual prateleira tu vai guardar o livro”. Para o doutorando em literatura comparada pela Universidade Federal Fluminense Helder Maia, há, de fato, uma literatura LGBT. “Se pensarmos a literatura como um sistema, a literatura LGBT tem um mercado, autores, público e críticos dedicados a ela”. Em contraponto, Samir questiona o fato de se existir uma literatura LGBT, mas o mesmo não ocorrer com obras voltadas ao público heterossexual. “Não se escuta falar em literatura hetero. O que há é o interesse do público por histórias que mostram experiências de vida mais diversas do que a literatura mainstream vem abordando”, afirma o escritor.


Weingartner Jr. é quadrinista. Apaixonado por histórias em quadrinhos desde criança, o gaúcho percebeu a carência de personagens LGBT. Há cinco anos, resolveu escrever histórias protagonizadas por homossexuais: “Eu frequentava muitos eventos destinados a admiradores de super-heróis e não encontrava muito material voltado ao público LGBT, não me sentia representado. Resolvi contar histórias para mim e para LGBTs”. Hoje, o foco do quadrinista está em literatura homoerótica. “Via muitos quadrinhos abusando do nudismo feminino. Resolvi adicionar erotismo explícito nas minhas histórias”, conta. Sobre produzir literatura LGBT, ele se diz muito cauteloso: “É preciso tomar muito cuidado. Quero que todos se sintam inclusos. Tento não esquecer nenhuma letrinha da sigla. Coloco personagens gays, lésbicas, trans...”. Para Helder, não há problema em buscar alcançar uma parcela maior de leitores, mas é preciso cautela, principalmente na literatura escrita por gays. “É preciso descentralizar a hegemonia das homossexualidades masculinas, uma vez que as questões colocadas pela literatura Reprodução de “District”, de J.R. Weingartner Jr.

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lésbica, pela literatura trans, são diferentes das questões gays. Além disso, é preciso dizer também que, muitas vezes, a literatura gay é misógina e transfóbica”. Samir lembra que muitos livros com personagens LGBT não são classificados como literatura LGBT: “Moby Dick é um livro centrado no relacionamento entre dois homens, mas não é uma obra que a gente pense quando falamos em literatura LGBT”. Para Weingartner Jr., ainda há a necessidade de se ter uma classificação para obras com temáticas LGBT. “No momento, ainda é necessário deixar claro que este livro traz protagonistas LGBTs. O nosso público precisa disso. Ele precisa se encontrar de alguma maneira”, diz. Entretanto, Bensimon afirma que a criação de uma literatura LGBT não obriga LGBTs a consumirem apenas esse cânone: “Eu posso criar muita empatia lendo livros com personagens homens, heteros, ou então de outras nacionalidades. Acho importante que a gente, porque pertence a uma minoria, seja ela qual for, não perca a capacidade de sentir empatia por outras pessoas que não são do nosso grupo”.


Um mercado a ser explorado: De acordo com Helder Maia, a literatura LGBT ainda é muito recente, pós anos 2000. Contudo, possui um público fiel e em expansão. “Sim, há um mercado

para a literatura LGBT no Brasil. No entanto, ele é extremamente precário”, afirma Maia. Confira alguns livros com temática LGBT lançados por escritores gaúchos:

Homens Elegantes, de Samir Machado

Todos Nós Adorávamos Caubóis, de Carol Bensimon

Com uma rede de contrabando de livros eróticos de Londres para o Brasil, cabe a um soldado brasileiro investigar o caso. O jovem se deslumbra com os luxos e excessos da alta sociedade europeia. A aventura é ambientada no universo LGBT do século XVIII. Editora Rocco Preço: R$ 54,50

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Amora: Contos, de Natalia Polesso Amora traz contos sobre relações homossexuais entre mulheres. Retrata o descobrimento. Com ele, o medo, o estupor e o maravilhamento de novas experiências. O encontro consigo pode trazer desafios ou tornar impossível seguir sem transformação.

Em uma noite de inverno do hemisfério norte, duas amigas retomam contato após muitos anos e decidem se reencontrar em sua terra natal, em uma cidade do RS, no extremo sul do Brasil, para enfim realizarem uma viagem de carro há muito tempo planejada. Companhia das Letras Preço: R$ 44,90

Não Editora Preço: R$ 44,90


Cultura Mudanças sociais e reflexos na moda genderless Victoria Thomaz

A moda unissex, genderless, agênero ou sem gênero quebra barreiras sociais que ditam quais modelagens, tecidos, texturas, cores e formas são femininas e quais são masculinas. A moda sem gênero é um reflexo do momento que a sociedade está vivendo e do comportamento das pessoas. A mudança social que se reflete na moda. Segundo Patrícia Kunrath, mestre em Antropologia Social pela UFRGS e professora da ESPM em Porto Alegre, os ideais sociais sempre estiveram atrelados ao consumo. É aceito por muitos antropólogos e sociólogos que o consumo possui uma dimensão simbólica, ele não satisfaz somente necessidades básicas, mas também expressa identidades, pertencimento, hierarquia, status e poder. “Acredito que essa dimensão identitária não seja apenas um reflexo, estes podem influenciar também as identidades, levando as pessoas a questionarem paradigmas, como o gênero binário, por exemplo”, diz Patrícia. De acordo com a jornalista de moda Patrícia Parenza, sócia da Estação Filmes, do “OiPati” e da Grimm Produtora, “a tendência genderless não é só uma ma-

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nifestação de comportamento, como social e politica também, pois no momento em que podemos ser o que quisermos isso se reflete na moda”. Segundo a jornalista, o maior ganho da arte, em especial da moda, é conseguir nos diferenciar por aquilo que mostramos e vestimos, nos permite voltar a questionar quem somos e o que queremos usar, independente de qualquer categorização e gênero.

Design estratégico

Como pontuou o doutorando em design estratégico e professor da ESPM-Sul Antônio Rabadan: “Se formos avaliar de forma simplista duas camisetas brancas e por que elas têm que ser taxadas para homem ou para mulher, o fundamento sobre ajustes e numerações não traz subsídios para que isso se sustente atualmente”. As modelagens, cores e formas são responsáveis por valorizar atributos femininos ou masculinos, existem para servir o consumidor mas não para serem enquadradas em um rótulo rígido por gênero definitivo. ‘‘Começamos a perder as camadas superficiais e ficar mais próximos do que é o ser humano, ser quem quer quiser sem máscaras e democraticamente’’, diz Antônio.


Segundo Patrícia, isso de ser “feminino ou masculino” é algo que o comportamento contemporâneo não comporta mais, as pessoas querem ser mais híbridas, isso está acontecendo, e a moda vem registrar que podemos integrar as peças independem do gênero. “Vem pra trazer liberdade. No Brasil, a maior manifestação se fez através da música, através de artistas como Liniker, Johnny Hooker e tantos outros que vieram como artistas independentes”, diz Patrícia.

Estilista independente O gaúcho estudante de design visual e empreendedor na moda genderless Lucas Affonso, fundador e estilista da marca Urde, acredita que seu papel é sempre estar atento ao que está acontecendo em todo o mercado e buscar formas para que a marca consiga se adequar à realidade social. Esse é um dos maiores desafios do estilista, conseguir fazer com que a “tendência” não entre na coleção de uma forma que tire a identidade da marca. “Nós na Urde buscamos estar sempre longe dos meios de comunicação de massa para essas informações e sempre queremos encontrar onde está a raiz das coisas, para que assim possamos tomar partido e pegar referências”, diz Lucas. Os moletons, normalmente associados aos homens, são a peça consagrada da coleção Urde. Entre as peças da marca, essa é a que mais traz dicotomia rígida de gênero masculino, mas como criam peças

sem gênero definido sua última coleção vendeu 60% da venda total dos moletons para mulheres. “Quem entra no site pode ver que eu sempre busco fotos das peças com um modelo homem e uma mulher. Para mostrar que são feitas para ambos os gêneros, a Urde e eu, Lucas, não gosto de classificar. Se pudesse e ficasse legal, até tiraria as fotos em um boneco e um cabide para ninguém saber se é feito para homem ou mulher. Isso é tudo pensando no que os consumidores querem, uma moda em que ambos gêneros se identificam no streetwear”, comenta Lucas Affonso.

Lucas criou a Urde em um trabalho da ESPM-Sul. Autora: Victoria Thomaz. Autora: Victoria Thomaz.

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O mercado

Lucas está criando a Coleção Verão 2019. Autora: Victoria Thomaz.

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Para as marcas que querem investir nesse novo mercado, a dica da jornalista e consultora Patrícia Parenza é ficar atento a qualquer passo da sociedade e principalmente ao movimento artístico, em especial à música. A arte contemporânea, seja ela visual, gráfica, música, cinema, reflete as transformações comportamentais. Segundo Patrícia, se o designer estiver percebendo os movimentos e o que a arte está trazendo, isso se refletirá nas ruas logo depois, e a curiosidade do consumidor final, mesmo com gêneros definidos, gerará mais consumo devido a essa nova acolhida e novidade no mundo da moda. A orientação de marketing estratégico do professor Antônio Rabadan é: “não defender de forma ufanista e levantar bandeira do novo momento em que a sociedade está, apenas entender que lugar ocupa e atender as pessoas que se identificam sem desrespeitar, sem ser radical e com respeito”. A moda hoje está totalmente orgânica, ela não se faz só de passarela, ainda mais depois da internet e das redes sociais.

Marcas atuantes

Entre as marcas internacionais trabalhando genderless estão a Zara com a sua linha “Ungendered”, TILLYandWILLIAM, Rad Hourani e outras. Na década de 20, a Coco Chanel criou roupas para mulheres a partir das peças masculinas, consideradas apenas para homens. Jaden Smith, ator e cantor, também foi personagem da coleção feminina da Louis Vuitton vestindo uma saia. Nacionalmente, marcas como C&A, com a campanha “Dia dos Misturados”, a YouCom com a seção “Todo Mundo Pode Usar”, a marca paulista Cemfreio por Victor Apolinário, a marca carioca Beira por Livia Campos, entre outras, como Pangea, Matiz e Pair.


Tecnologia O mundo virtual e a política de privacidade Alice Germansen

Imagine uma amiga com quem você pode desabafar por horas e ela realmente escuta. Alguém lhe conhece tão bem que mostra sempre exatamente aquilo que você quer ver, ouvir ou ler. Vocês nunca brigam, ela nunca reclama e presta atenção em cada detalhe do que você conta. Essa amiga não é um ser humano, e ela se chama internet. A internet está tão presente no cotidiano que chega a ser uma extensão da vida real. E, como em um cérebro, tudo o que você vive lá dentro fica armazenado na memória. E o que acontece com esses dados guardados poucos realmente sabem. Mas essa informação está detalhada na política de privacidade - aqueles textos enormes que aparecem antes de você automaticamente clicar em concordo. No Brasil, foi sancionada uma lei de proteção de dados virtuais em agosto deste ano. A normativa número 13.709/18 substitui a antiga lei do Marco Civil da Internet e entra em vigor em 2019. O propósito da lei é dar aos usuários um maior poder no controle dos dados que estão na internet. “Os termos de uso e as regras de privacidade, segundo a nova lei, devem ser de fácil acesso ao usuário e com uma linguagem que todos possam entender. ”, explica André Moreira, advogado e sócio do escritório FMA - Feoli e Moreira Advogados, especialista em Direito Digital e Tecnologia, em Porto Alegre. 22

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Com o que você concorda

O que a nova lei prevê: A política de privacidade deve ser de fácil acesso ao usuário e com uma linguagem que todos possam entender. A empresa deve comprovar que está utilizando os dados requeridos apenas para fins descritos na politica de privacidade e aceito pelo usuário. Só podem ser coletados os dados essenciais e não excessivos em relação às finalidades descritas no contrato. Se não cumprirem as novas normas, as empresas estão sujeitas a pagar 2% do faturamento. * Fonte: LEI Nº 13.709, de 14 de agosto de 2018.

Ao se cadastrar em algum site, geralmente são solicitados dados pessoais do usuário. De acordo com Moreira, o dado pessoal é aquilo que identifica uma pessoa, como o seu nome, a localização, o CPF. Essas informações servem para tornar a pessoa identificável na rede. Por isso, o contrato de política de privacidade é a forma que sites, aplicativos ou outras plataformas online têm para tornar transparente sua relação com o consumidor. Ainda que não tenha lido ou tenha consciência do conteúdo, ao clicar no concordo, automaticamente cada linha escrita no documento é aceita. Neste documento, deve constar assuntos como: esclarecimento de quais dados são coletados, como utilizam as informações, se compartilham com terceiros, cookies, como protegem os dados. Com um conteúdo extenso e difícil de compreender, a leitura da política de privacidade muitas vezes é confusa. A nova lei, no capítulo 1, art. 6º, VI, afirma que os sites e aplicativos deverão garantir “informações claras, precisas e facilmente acessíveis” aos usuários. Além disso, ela garante o livre acesso gratuito ao usuário para solicitar as informações que a plataforma online possui dele, ou, se ele desejar, poderá solicitar a exclusão definitiva de todas as informações armazenadas.


Se o produto é de graça, você é o produto

Instagram

Spotify

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Facebook

Google

Empresas que disponibilizam seus serviços online de graça são monetizadas pela coleta e venda das informações pessoais do usuário para parceiros. Então, com esses dados, as páginas de vendas passam a conhecer o perfil do consumidor e, assim, os anúncios apresentados para cada pessoa, os amigos que aparecem na timeline, indicações de músicas ou livros, se tornam mais precisos. Por exemplo, quando o consumidor compra em uma e-commerce e loga no site, por meio do Facebook, os dados pessoais que estão na rede social são compartilhados com a loja online, e o que ele procurar na loja será compartilhado com o Facebook. Por isso, os sites de vendas sabem quais produtos podem chamar mais a atenção, mesmo sendo a primeira vez visitando a loja virtual. Essas informações são preciosas para as empresas, assim elas ganham com publicidade ou a venda dos dados. O sociólogo Vitor Alessandri, professor da ESPM e interessado em programação, fala sobre o perigo da utilização das informações: “O que considero mais grave é o fato de que quem nós somos acaba potencialmente transformado pelo modo como essas plataformas estão organizadas. Se por um lado promete conectar pessoas umas às outras, por outro lado esses algoritmos delimitam na prática os posts

de quem vejo, quais conteúdos de notícias aparecem para mim etc”, completa o sociólogo. Os sites e aplicativos afirmam que apenas coletam os dados necessários e somente os utilizam para melhorar o serviço e trazer conteúdo personalizado para você. Mas sabemos que não é apenas o necessário que elas coletam. O “Data Selfie” é uma ferramenta que analisa e mostra para o usuário aquilo que o Facebook sabe sobre ele. O que eles coletam variam entre a tendência política, a religião do usuário, ou a sexualidade da pessoa. Além de ferramentas como o “Data Selfie”, as redes sociais Google, Facebook e Instagram possibilitam aos usuários o acesso ou a exclusão dos dados armazenados nas plataformas. Para se proteger, sem deixar de usar os aplicativos ou acessar os sites, em primeiro lugar é muito importante sempre ler e entender o que está escrito nas políticas de privacidade. “Saber os direitos do usuário na utilização do servidor pode o proteger de futuros problemas judiciais, caso ele sofra algum”, explica Moreira. Evite se registrar com seu nome completo, caso não for necessário. Sempre cuide, principalmente nas redes sociais, aquilo que você quer manter privado. Às vezes, as informações podem estar automaticamente configuradas como públicas, sem você se dar conta.


Esporte Quando a mente entra em campo Vitória Nascimento

“Apita o árbitro! A decisão vai para os pênaltis”. É nesta hora que o coração do torcedor apaixonado por seu time quase solta do peito. Mas e os jogadores? Como lidam com estes momentos de tanta pressão? Não só as penalidades máximas, porém as competições precisam de mais do que condicionamento físico, mas, também, de habilidades psicológicas. Mesmo depois de episódios marcantes da seleção brasileira na Copa de 2014, como o tão criticado choro de Thiago Silva – então capitão do time –, o técnico Tite optou por não levar uma psicóloga para a Rússia este ano. E mais uma vez a torcida brasileira viu um jogador desabar em choro. O camisa 10 da seleção, Neymar Jr teve seu momento de desabafo em campo e nas redes sociais após a vitória sobre a Costa Rica. O preparo físico destes atletas é inegável, mas a pressão fez com que desabassem em momentos de tremenda responsabilidade. A psicóloga esportiva do departamento de formação do Grêmio, Fernanda Faggiani, acredita que um dos principais objetivos da psicologia nesta área é o autoconhecimento. “A gente ajuda os atletas a entenderem os seus comportamentos, melhorarem sua performance e regularem as emoções”. 24

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Segundo levantamento do site Esporte Interativo de abril de 2018, dos 20 clubes da série A do Campeonato Brasileiro, apenas seis têm um serviço de psicologia dedicado ao time profissional: América-MG, Atlético Paranaense, Cruzeiro, Flamengo, São Paulo e Vasco. A temática veio à tona novamente no último trimestre de 2017, quando o jogador Nilmar pediu afastamento do Santos depois de ser diagnosticado com depressão. Além dele, Thiago Ribeiro, Ronaldo Fenômeno e Cicinho são outros casos que se afastaram por questões de saúde. Matheus Bressanelli, mais conhecido como Bressan, atua como zagueiro do time principal do Grêmio e acredita que, por viver em um meio muito exposto à mídia, os jogadores precisam lidar com as críticas de uma forma natural. “A gente aprende desde cedo a lidar. Claro que logo no início a gente sofre mais, mas acaba ficando melhor”. Mais do que ter que lidar com a reprovação do torcedor, os atletas precisam se autoconhecer e é por meio deste conhecimento que eles adquirem o controle emocional necessário para a profissão. É isto que o psicólogo esportivo gaúcho Maurício Marques acredita que é o maior benefício para quem aposta no tratamento psicológico. O profissional doutor em Psicologia do Esporte pela UAB (Universitat Autònoma de Barcelona) explica que é “dentro desse autoconhecimento o atleta vai poder entender como ele funciona melhor em determinadas situações e como se preparar para isso, como antecipar algumas ques-

Matheus Bressanelli. Autora: Vitória Nascimento

“Sabemos que o torcedor vai viver com a emoção e reagir com emoção, com amor ao clube, e nós, como funcionários do clube, estamos sujeitos a ter que lidar com isso”, conta Bressan.


Treino do Grêmio no Centro de Treinamento Presidente Luiz Carvalho. Autora: Vitória Nascimento

tões e também como não se estressar, se deixar abalar por situações incontroláveis”. O controle de ansiedade, o desempenho sob pressão, a concentração, a tomada de decisão e a capacidade de reação são algumas das principais habilidades que os psicólogos desenvolvem com os jogadores. Estas capacitações influenciam no desempenho visto em campo. Segundo a psicóloga Fernanda, “um atleta com o nível de ansiedade muito alto durante um jogo, por exemplo, pode obter sintomas fisiológicos, como musculatura enrijecida, obtendo menor naturalidade nos movimentos, o coração em ritmo 25

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acelerado, ocasionando em um menor nível de oxigênio, a pupila dilatada, fazendo com que eles percam um pouco do foco”. Bressan já foi muito julgado pelo torcedor gremista por suas atuações em campo, mas acabou mostrando um bom trabalho em momentos decisivos para o time. O zagueiro entrou em campo na semifinal da Copa do Brasil de 2017 e, também, na quartas de final e na decisão contra o Lanús na Libertadores, ajudando a trazer o tricampeonato para os gremistas no último ano. Além disso, está tendo participação ativa nas campanhas do Campeonato

Brasileiro e na Libertadores de 2018. “É claro que tem que estar bem fisicamente e tecnicamente, mas a parte psicológica tem grande influência. Ainda mais em grandes campeonatos, se tratando de jogos eliminatórios, como agora na Libertadores e como foi na Copa do Brasil, jogos em que um erro pode custar uma vaga numa decisão, uma vaga numa final”. Glaydson Marcelino Freire, ou só Glaydson, atuou como volante do Internacional entre 2009 e 2011, participando da campanha que trouxe o bicampeonato da Libertadores para o time. “A pressão existe e ela é muito grande


por parte da torcida, mas eu sempre soube lidar bem com isso. Sabia que se entrasse em campo e não desempenhasse um bom papel a pressão viria, e viria forte. Então sempre tentei me preparar, procurava meditar antes dos jogos, me concentrar nas jogadas que teríamos que fazer, no adversário que teríamos que enfrentar”, relata o ex-volante. Glaydson deixou a carreira no futebol depois de complicações cardíacas e, atualmente, é proprietário do salão de beleza Visualité Pedro Ivo. Nos esportes em grupo, além de saber como preparar a mente, é preciso saber lidar com o que os outros jogadores estão passando. Todos dentro do campo são importantes para o desempenho do time. “A gente se incentivava, se cobrava, procurava ajudar um ao outro, estender a mão um ao outro. Precisávamos de todo mundo bem, porque desse jeito as coisas aconteciam da melhor maneira”, conta Glaydson sobre o grupo do Inter. Maurício Marques explica que a personalidade dos atletas difere na forma como eles lidam com a pressão. “Alguns conseguem usar estados emocionais adversos para reagir de uma forma que o proteja daquilo, a gente chama de blindagem. Então, mesmo com o estado emocional negativo, pode se ter uma resposta positiva”, explica o profissional. Para ele, mais do que uma ajuda psicológica, o necessário para os atletas é um tratamento psicológico. “É preciso que haja uma cultura da psicologia nos clubes. Quando os atletas já trabalharam com psicólogos nas categorias de base e, depois disso, nas profissionais, se gera uma cultura”. 26

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“O atleta sabe quem é o psicólogo, no que ele pode auxiliar, assim a gente consegue procurar melhorias com eles, com os treinadores e com os outros membros da comissão técnica”, afirma Maurício Marques.

Eu não sinto a necessidade de estar toda semana entrando em contato, mas procuro, em média, duas vezes por mês. [...] até durante as competições, quando sinto que preciso conversar, chamo”.

E qual a diferença nos esportes individuais?

Em um jogo de futebol, o time entra em campo e todos são responsabilizados pelo desempenho do grupo, mesmo que em níveis diferentes. Mas, nos esportes individuais, cada atleta é responsável pelo seu rendimento e sabe que o que o aproxima ou afasta do objetivo é só ele mesmo. Marques pontua que, apesar do aspecto psicológico ter a mesma importância, a diferença das modalidades coletivas para as individuais é que “o atleta sabe que ali o desempenho dele pesa na sua performance, ainda que tenham esportes que são praticados diretamente contra alguém e esportes em que você disputa consigo mesmo”. O nadador do Grêmio Náutico União (GNU) Fernando Pontes, de 26 anos, é um dos grandes nomes do país nas piscinas. Em sua participação no 17º Mundial de Esportes Aquáticos, em 2017, Fernando ficou em 5º lugar na prova dos cinco quilômetros masculino, quebrando um recorde entre os brasileiros. Treinando desde muito novo, ele acredita que o serviço psicológico é fundamental para os atletas de alto rendimento.

Fernando Pontes, nadador do G.N. União. Autora : Vitória Nascimento

Segundo Maurício, os atletas que realmente se engajam no tratamento têm maiores chances de se destacar. “Principalmente porque no alto rendimento a margem de igualdade entre os atletas é muito próxima, então quem estiver melhor preparado psicologicamente consegue resolver melhor e alcançar seus objetivos”. Mas, mais do que isso, Fernando explica que, durante sua vida como atleta, ele foi se adaptando e encontrando o que era melhor. “Eu passei por diversos psicólogos e fui montando minha estratégia para conseguir utilizar deste recurso para dar meu melhor nas provas”.


Expediente O jornal BLOG DE PAPEL é uma

publicação semestral dos alunos do 4º semestre do curso de jornalismo da ESPM-Sul. Direção do curso de Jornalismo: professor Dr. Alessandro Souza e professora Dra. Rôsangela Florczak. Equipe da Edição Número 7 (Outubro de 2018): Alice Germansen, Ana Luisa Ribeiro, Bárbara Bitencourt, Edson Haetinger, Luis Henrique Cunha, Luis Filipe Günther , Pietro Meinhart, Victoria Thomaz, Vitória Nascimento. Coordenação Editorial: professora Dra. Ângela Ravazzolo. Coordenação do Design Editorial e Produção Gráfica: professor Marshal Becon Lauzer. Criação do nome do Jornal Blog de Papel desenvolvido por Micaela Ferreira e Richard Koubik e projeto gráfico por Eduardo Diniz e Marcos Mariante. ESPM-Sul – Rua Guilherme Schell, 350 e 268 – Santo Antônio – Porto Alegre – RS, 90640-040 – (51) 3218-1300.

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