Gente que Inspira - Histórias de transformação

Page 1

1


Texto Jornalístico - ESPM

Sobre a obra: A presente obra é disponibilizada com o objetivo de oferecer conteúdo para uso em atividades acadêmicas de ensino, pesquisa e extensão, bem como uma leitura com o fim exclusivo de encontrar esperança em tempos de ódio nas redes sociais e de pandemia. O e-book tem caráter acadêmico e experimental. É expressamente proibida e totalmente repudiável a venda, aluguel, ou qualquer uso comercial deste material.

Sobre nós: A turma de Texto Jornalístico 2020/1 da Escola Superior de Propaganda e Marketing de Porto Alegre apostou no livro-reportagem em formato e-book, com complementação de conteúdo em áudio e vídeo, por acreditar que as fronteiras podem ser expandidas, que a experiência pode ser compartilhada e que existem histórias à espera de repórteres. Queremos reverberar a empatia através de linhas, imagens e sons.

SUPERVISÃO DOCENTE PROJETO GRÁFICO EDITORIAL Leandro Olegário REVISÃO Cassiano de Fraga Taffarel Leonardo Schraiber Colato Natália Valduga Rafaela capitão da Silva REPORTAGEM Cassiano de Fraga Taffarel, Gabriel Hess Prisco, João Pedro Amaral Dumke, Júlia cabreira Brust, Leonardo Schraiber Colato, Luana Fernanda Goppinger, Luiza Bicca Schirmer, Marcos Alexandre Barcelos Corrêa, Marieta de Oliveira Noronha, Natália Valduga e Rafaela Capitão da Silva.

Copyright © 2020 by ESPM POA Todos os direitos reservados.


Gente que Inspira: Histórias de transformação


Texto Jornalístico - ESPM

Gente que inspira : histórias de transformação / Cassiano Taffarel ... [et al.]. - Porto Alegre : ESPM POA, 2020. 29 p. : il. Obra elaborada pelos estudantes da disciplina de Texto Jornalístico do curso de Jornalismo da ESPM. Orientador: Leandro Olegário 1. Reportagem. 2. Entrevista (Jornalismo). 3. Texto Jornalístico. 4. Jornalismo. 5. Trabalho voluntário. I. Olegário, Leandro. II. Taffarel, Cassiano. III. Escola Superior de Propaganda e Marketing. IV. Título. CDU 070

Biblioteca ESPM POA


Gente que Inspira: Histórias de transformação

Gente que Inspira – Histórias de transformação é um livro-reportagem na versão digital dedicado a todos aqueles que acreditam no poder da solidariedade. Para quem ama conhecer histórias de vida, servirá como inspiração. Para quem não consegue enxergar um futuro - ou um presente melhor, cada página servirá como pequenas doses de esperança. Dedicamos esta obra a toda essa gente que inspira, motiva e transforma. Cada linha escrita foi pensada para que gente, como a gente, pudesse sentir as emoções a partir de cada história contada.


Texto Jornalístico - ESPM

“Porque se chamava homem Também se chamavam sonhos E sonhos não envelhecem [...]” (Clube da Esquina II - Lô Borges / Márcio Borges / Milton Nascimento)


Gente que Inspira: Histórias de transformação

Sumário

Apresentação*

8

Contágio do bem: a DJ gaúcha que promove ações sociais

10

A psicologia do voluntariado

13

Trabalho Voluntário: A carreira pós-carreira

17

Voluntariado, uma missão de vida

20

Negócio do Bem: A moeda que gera esperança

23

O time Inspirado

26


Apresentação* O semestre estava desenhado e o cronograma da disciplina apresentado à turma. Quarta semana de aula, ainda nem conhecíamos a Pirâmide Invertida... e tudo mudou. A pandemia da Covid-19 impôs o fim das atividades presenciais e a migração para o ambiente virtual. Trabalhar a disciplina de Texto Jornalístico para alunos de primeiro semestre à distância foi um desafio em mão dupla: para o professor e para os estudantes. Ao longo de quase 30 encontros virtuais, ocorridos nas segundas e nas quartas pela manhã, descobrimos doses de resiliência que nem mesmo sabíamos que existiam dentro de cada um de nós. Também vimos brotar um amor aos jornalismos – sim, no plural, porque acreditamos em diferentes caminhos e possibilidades para a profissão partindo da ética e da responsabilidade social. A mudança de rotina, de ares e de planos fez com que surgisse este e-book. Do limão a limonada mais especial que podíamos fazer – cada um na sua casa. Do seu jeito, no seu espaço, no seu tempo. De pijama ou não. Com café e álcool gel por perto ou não. Com conexão de banda larga ou não. Mas todos unidos pela mesma vontade de sair às ruas em busca de histórias. Como não foi possível, os futuros jornalistas garimparam, através da Internet, pessoas que desconhecem a existência do adjetivo acomodado e fazem uso da inconformidade permanente para transformar vidas ao redor. Sim, aprendemos neste semestre que cabe ao jornalismo informar sobre os acontecimentos do mundo, seja ele do tamanho que for, com doses de desconfiança e curiosidade. E, ainda, que isso não significa noticiar somente aquilo que o público considera ruim, trágico ou negativo. Sobretudo cabe a profissão informar o que as pessoas precisam saber. E aí, também, estão exemplos de superação e de solidariedade. Tudo isso temperado com o sabor de estreia. É a primeira turma de Texto Jornalístico, pois a disciplina integra a nova matriz do curso de Jornalismo. É a primeira vez dos alunos no front. É o primeiro livro-reportagem. É um fruto e um legado que ficam. Gente que Inspira – Histórias de Transformação busca ser um mosaico de reportagens que apresentam a esperança – em forma de pessoas e suas ações – de um mundo menos desigual, mais fraterno. Cinco narrativas construídas com dedicação, espanto e vontade, porque iniciar uma graduação em meio a uma pandemia é, no mínimo, desafiador. Ver a primeira entrevista realizada virar reportagem é, no mínimo, emocionante. Unir essas histórias em um e-book é, no mínimo, ousadia. Ainda bem que desde o início sabíamos que éramos um time inspirado e que venceríamos nossos próprios medos e obstáculos. À distância ninguém esteve sozinho no percurso. Todos descobrimos o que havia para além da Pirâmide Invertida: coragem para aprender e desaprender. Para descobrir que mesmo em tempos de distanciamento social o repórter continua guiado pela empatia ou, como metaforicamente aprendemos em aula, continua calçando os sapatos do entrevistado. *Por Leandro Olegário, professor da disciplina de Texto Jornalístico 2020/1 – ESPM POA.

8


Crédito: arquivo pessoal

Conheça a seguir a história da DJ Fô Machado, que movimentou as redes sociais no período de isolamento social com a campanha Quarentena Solidária. Nesta reportagem, Fô relata detalhes sobre a sua experiência com a campanha e ainda conta uma curiosidade emocionante sobre a sua vida. Reportagem de Leonardo Colato, Luana Goppinger e Rafaela Capitão

9


Texto Jornalístico - ESPM

Contágio do bem: a DJ gaúcha que promove ações sociais Um pulmão, o coração localizado mais próximo ao lado direito do peito e muitas histórias de solidariedade para contar. Essa é Anna Paula Rosa Machado, popularmente conhecida como "Fô Machado", que atua desde 2015 como produtora de eventos e DJ no Rio Grande do Sul. Fô já foi atração em muitos eventos regionais importantes, tais como o Planeta Atlântida e o Baile Astral. Em 2019, em parceria com seus amigos Rafael Maria e Eduardo Maria, ela criou a Tchamba, uma produtora de eventos da cidade de Taquari, distante cerca de 100 quilômetros de Porto Alegre. Além de ser uma grande influência entre os jovens gaúchos, Fô também utiliza seu reconhecimento para promover ações sociais. Neste período de isolamento social causado pela pandemia da Covid-19, seus trabalhos de entretenimento ficaram comprometidos. Mesmo assim, Fô não deixou de pensar em seu público e nas famílias de Taquari que se encontram em emergência. A produtora e seus dois sócios, então, juntaram-se ao Leonardo Martins, fundador da Point Produções, outra produtora de eventos da cidade de Taquari, e iniciaram a campanha Quarentena Solidária. A campanha teve como objetivo arrecadar fundos para Lívia Teles, uma menina que aos 4 meses foi diagnosticada com Atrofia Muscular Espinhal (AME) tipo 1. Lívia precisa tomar um remédio que custa mais de nove milhões de reais, a Zolgensma, antes de completar 2 anos de idade. Além de ajudar a pequena Lívia, a campanha também arrecadou alimentos que seriam doados para as famílias de Taquari. Ao comprar a rifa online ou doar dois ou mais quilos de alimentos, os participantes concorriam a uma camisa dos jogadores Peglow, Jean Pyerre, Wendell e Patrick, da dupla Gre-Nal. “Nós desejamos devolver para a população de Taquari um pouco de tudo que ela já nos proveu”, conta Fô. A Quarentena Solidária, iniciada em 16 de abril de 2020, arrecadou, em sua fase inicial 50 quilos de alimentos e mil reais. Mas as doações não pararam por aí. Fô e sua equipe queriam mais. Então, promoveram, depois dos sorteios das camisas da rifa, uma gincana online para a população da cidade, no Vale do Taquari. Em uma das tarefas, eles conseguiram arrecadar quase uma tonelada de alimentos. “Sou uma pessoa privilegiada e muito grata a todos que comparecem aos eventos promovidos pela Tchamba, interagem nas redes sociais e apoiam o meu trabalho. Acredito que, se unirmos forças, mais pessoas conseguiremos ajudar”. Ao longo de sua vida, Fô sempre se mostrou engajada com ações sociais. Sua primeira experiência com o voluntariado foi no asilo Padre Cacique de Porto Alegre, em 2008, onde escutava as histórias dos moradores do local. Em 2012, juntamente com seu bloco de carnaval, a produtora realizou uma campanha de doações de brinquedos que perdurou por mais três anos após a primeira iniciativa. A DJ ainda ajudou por alguns meses uma casa que abriga mulheres vítimas do abuso físico, transexuais e homossexuais. Através de suas redes sociais, a produtora divulga as ações que participa e acredita. Fô enfatiza que “O poder da internet é muito forte, principalmente quando utilizado para fazer o bem. Existe uma cadeia positiva: você publica nas redes sociais que está fazendo algo positivo e, automaticamente, influencia as pessoas a fazer algo de bom também. Cada um, do seu jeito, nas suas condições, consegue plantar essa sementinha do bem. Muitas pessoas não aceitam ajuda por medo de serem expostas

10


Gente que Inspira: Histórias de transformação

Mas afinal, por que “Fô”? Anna sempre foi considerada muito especial pelos seus colegas do Ensino Médio por ter nascido com o coração mais próximo ao lado direito do peito e apenas um pulmão. Para transmitir seu carinho por ela, um de seus colegas a apelidou de “Forever”, que significa “para sempre” em inglês, pois, segundo ele, devido à condição de Anna, ela viveria para sempre. Outra colega dela, que tinha o hábito de falar o diminutivo das palavras, quando ouviu o apelido, abreviou-o para “Fô”. Anna Paula Rosa Machado, então, transformou-se em “Fô”, um apelido ficou marcado em sua vida. Inclua o voluntariado no seu dia a dia Fô dá uma dica para quem deseja incluir o voluntariado em seu cotidiano: “Pense qual causa você deseja ajudar, com qual grupo você se identifica. Não é preciso estar inserido em um grupo para ajudá-lo, basta apenas se identificar, acreditar e ter foco na causa. Para quem não sabe por onde começar ou como ajudar, pode entrar em contato com a prefeitura que eles conseguem indicar ações bacanas para quem deseja ser voluntário”.

Confira o depoimento dos repórteres – Making Of

Ouça o podcast com outras informações

11


Texto Jornalístico - ESPM

Crédito: arquivo pessoal

Conheça a seguir a história de Michele Nunes D'Ávila, psicóloga que dedica a sua profissão à empática missão de cuidar do próximo através do projeto Sou Solidário. Promovendo o voluntariado tanto em comunidades carentes locais quanto em áreas distantes, Michele impacta diretamente a vida daqueles que auxilia. Reportagem de Cassiano Taffarel e Natália Valduga

12


Gente que Inspira: Histórias de transformação

A psicologia do voluntariado Formada em Psicologia, Michele Nunes D'Ávila, 32, dedica a sua vida a campanhas de voluntariado e projetos sociais. Mestra em Psicologia Social e Institucional pela UFRGS em 2016, ela é a atual coordenadora do Projeto de Voluntariado Lassalista Sou Solidário em diferentes regiões do país. Michele conta que optou pela psicologia sem mesmo conhecer o significado da profissão. “Eu sigo não fazendo ideia do que é. É disso que eu gosto, desse ‘não saber’”. Ela afirma que nunca foi interessada pela atuação clínica, sendo uma mulher apaixonada pela história das pessoas e suas percepções de mundo. E foi assim que acabou trabalhando com jovens, idosos, mulheres presidiárias e comunidades em situação de risco. A escolha pela psicologia na área da assistência social se deu naturalmente. “Acho que foi um pouco de feeling e os caminhos foram meio que acontecendo”, reitera a entrevistada. Michele sempre pensou que o consultório poderia limitá-la, por isso tinha o desejo de vivenciar a profissão por um meio mais “corporal”, conhecendo espaços e pessoas. É preciso sair da ilha para ver a ilha, como diria José Saramago A história entre Michele e Moçambique, no sul da África, começou cedo, quando a então psicóloga ainda era criança e, ao ver uma reportagem do Fantástico sobre o país, teve seu interesse despertado. “Pensei ‘nossa, quero ir ver como é isso!’”. Ela diz que a experiência foi responsável por impulsionar a sua caminhada profissional. Tem essa missão como um divisor de águas de sua carreira, sendo um choque importante. “Gosto muito da frase do José Saramago (escritor português 1922-2010, vencedor do Nobel de Literatura em 1998) que diz: “é preciso sair da ilha para ver a ilha”, acho que foi um pouco disso que aconteceu”, relatou. Ao participar de sua primeira missão na região, aos 23 anos, Michele soube que era o que gostaria de exercer. “Quando eu fui para lá, eu olhei para a experiência e disse: ‘é isso que eu quero fazer, é nisso que eu quero trabalhar’”. Marcada pelos momentos que passou lá, é possível notar a dificuldade de ir embora e deixar esses laços construídos para trás. Ao final do seu mês de missão no país, a entrevistada relata situações emocionantes. “Foi horrível ir embora, porque as ‘crianças chegavam em mim e - eu fiquei lá um mês - e eles diziam assim: ‘tu mudou a minha vida’, e eu dizia ‘que mudou a tua vida, quem sou eu pra mudar a vida de alguém?’, sabe? E, na verdade, eu que tive a vida mudada por eles”. Mulher, psicóloga e profissional na área de assistência social, Michele sente a desvalorização na pele Para a assistente social, nunca houve uma ambição material, o sucesso de sua profissão está vinculado às experiências e ao desejo em realizar aquilo que gosta, por isso, se mostra centrada quanto a impossibilidade de um alto salário atuando na assistência social. “Tento levar isso com um pouco de bom humor, porque, senão, eu já não trabalharia mais onde eu trabalho”. A psicóloga diz refletir sobre o lugar de privilégio que ocupa na sociedade e como isso afeta sua percepção de mundo. “Eu reflito sobre o lugar que estou na sociedade, de poder trabalhar com o que eu gosto, ter um salário mediano e acesso a alguns bens que

13


Texto Jornalístico - ESPM

muitas pessoas não têm, mas eu tenho lucidez do quão ridículo é a questão da remuneração. Por vezes, me sinto bastante desmotivada; tem dias e dias”. Além disso, Michele vê com clareza que lhe falta espaço devido ao seu gênero. “A gente tem esse alerta sempre ali, aceso. Eu tento sempre, na medida do possível, me posicionar com relação a isso e não me calar”, afirma a entrevistada ao relatar a disparidade visível entre homens e mulheres no mercado em que atua. Ela acredita que possuiria mais visibilidade no cenário e seria ouvida de outra maneira caso fosse do sexo masculino. “As pessoas passam muita dificuldade. Isso é inegável, isso está posto” Viver entre dois mundos tornou-se uma rotina costumeira. Devido a realidade de quem lida com círculos sociais tão antagônicos, isto é, o exercício da profissão com as pessoas de baixa renda nas periferias, mas também numa rede privada de educação onde a mensalidade ultrapassa dois salários mínimos em alguns lugares do país. O desconforto causado pela desigualdade é evidente na fala da entrevistada. “Eu digo que o buraco negro é aqui, sabe? Você entra de uma dimensão para outra, de uma galáxia para outra, aqui, numa questão de 100 quilômetros ou nem isso”, desabafa. Situações como a ausência de saneamento básico são comuns no cotidiano das comunidades. As linguagens entre o público de classe média-alta e os jovens de baixa renda são distintas e fazem parte de dois mundos que realmente não se conversam. Ao descrever essas diferenças, é possível notar quão dolorosa é a situação para ela: “Entramos em casas de famílias com muito dinheiro e aí você anda um pouco e vai para uma outra que as pessoas não tem o que comer, de abrir armário e dizer que não tem o que comer. Isso é comum nas periferias”. No dialeto moçambicano, “pobreza” é mais do que a falta de dinheiro Em nossa sociedade, o conceito de pobre está diretamente ligado à falta de bens e recursos financeiros, mas, para a entrevistada, o aprendizado foi outro. Ela diz ter sido ensinada que a pobreza não é só dinheiro e que, na verdade, vai muito além disso. Como exemplo, ela cita a solidão que percebe na classe alta e ainda faz referência ao significado de pobreza em um dialeto moçambicano. “Existe um dialeto moçambicano, que não há a palavra ‘pobre’ e sim a palavra ‘órfão’, que quer dizer a mesma coisa, que pobre é aquele que não tem laços, que não tem amigos, não tem família e eu tenho isso muito para mim quanto concepção de pobreza. Vejo essa pobreza muito mais em quem tem dinheiro do que em quem é da comunidade”, diz ela. Michele revela que aprendeu a revisitar esse conceito de pobreza e se questionar sobre “quais eram suas próprias pobrezas”. Os desafios da Missão Ribeirinha O projeto da Missão Ribeirinha foi realizado em Manaus (AM) em 2019, sendo o primeiro organizado por Michele na região e representou um marco importante. Segundo ela, houve muito aprendizado sobre a questão ambiental por sua parte, principalmente por notar as diferenças entre a realidade de onde vive hoje e a que encontrou. “Aprendi muito e me dei conta de que vivo em uma casa comum e sobre o quanto a gente não nota a questão

14


Gente que Inspira: Histórias de transformação

ambiental, e eu falo por mim. Aqui eu noto quão interessante é estar na região ribeirinha. Percebo que na minha casa tem água, tem chuveiro e do quão diferente isso é para as pessoas. Situações como tomar banho no rio durante o dia, pois à noite tem jacaré ou de mães que perderam filhos para um jacaré, coisa que não aconteceria no Sul”, relata. Michele afirma que gosta de falar sobre missões por serem projetos desafiadores. Durante sua ação na região ribeirinha, a psicóloga trabalhou por duas semanas com 18 pessoas e ninguém se conhecia. A entrevistada fala com orgulho pelo que realizou, dos aprendizados e das conquistas que trouxe consigo. “Me orgulho de ter conseguido conduzir e ter sido uma missão linda, de poder ouvir os voluntários falarem ‘essa missão mudou minha vida’ e de saber que eu fui importante nesse processo de possibilitar uma experiência marcante na vida dessas pessoas”, avalia. “A gente está sempre em uma constante reinvenção da nossa prática de trabalho”, diz Michele sobre a pandemia Quando falado sobre pandemia, Michele conta que tem sido um processo desafiador e limitante. Segundo ela, tem sido complicado manter as ações sem estar na presença das pessoas. Os projetos idealizados pela psicóloga envolviam presença física nos locais, mas diante do novo coronavírus isso mudou. Para ela, é importante que os voluntários estabeleçam uma relação com a comunidade, mesmo que, atualmente, não seja possível o contato direto. Contudo, os projetos vêm sendo executados baseados na questão emergencial, como alimentação. Ações de arrecadação de mantimentos e materiais permaneceram também. Foi desenvolvido um sistema próprio para a entrega desses mantimentos, onde os voluntários podem conversar, com todos os cuidados necessários, ver como estão essas famílias, como estão se organizando e quais são as suas perspectivas. Além disso, a ação nomeada ‘Ligações Solidárias’, realizada na cidade de Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, foi planejada visando os idosos em situação de vulnerabilidade. Os voluntários realizam as ligações para conversar, criar um vínculo e, a partir disso, serem capazes de identificar algum caso mais grave. “Foi a maneira que a gente encontrou de poder conversar com as pessoas e se fazer presente, mesmo que à distância. Estamos falando de uma população que já vivenciava o isolamento social, que são os idosos. Às vezes passam semanas sem conversar com ninguém e agora eles têm o voluntário, que vai ligar, vai indicar uma receita de bolo, vão conversar sobre vários assuntos”.

Confira o depoimento dos repórteres – Making Of

Ouça o podcast com outras informações

15


Texto Jornalístico - ESPM

Crédito: arquivo pessoal

Conheça a seguir a história de Nelma Odete Wagner Gallo, aposentada que realiza trabalho voluntário para a Liga Feminina de Combate ao Câncer (Liga/RS) há 11 anos e que atua como presidente da entidade desde 2015. Durante toda a sua vida, Nelma enxergou o trabalho não como obrigação, mas como uma ferramenta valiosa para contribuir com a sociedade. Reportagem de Júlia Brust e Marieta Noronha

16


Gente que Inspira: Histórias de transformação

Trabalho Voluntário: A carreira pós-carreira Até 2009 Nelma Odete Wagner Gallo tinha trabalhado bastante. Formada em Direito, já atuou como agente administrativa e secretária da Superintendência da Receita Federal de Porto Alegre (1978-1986), oficial escrevente secretária de juiz no Fórum Central de Porto Alegre (1987-2001). E, também, foi chefe de gabinete e assessora na 11ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (2001-2006). De fato, Nelma sempre buscou se manter ocupada com o trabalho – além da tarefa de equilibrar a carreira com a família. Em 2002, teve seu primeiro contato com a Liga Feminina de Combate ao Câncer, Liga/RS. Contudo, devido aos seus compromissos profissionais, Nelma não pôde aceitar o convite para participar como voluntária. Apenas depois ter se aposentado, em 2009, é que teve a oportunidade de conhecer verdadeiramente o trabalho voluntário, o que faz com total amor e dedicação na Liga/RS. Hoje, ela é presidente da entidade e coordenadora de todas 87 ligas regionais. Muito trabalho, compromissos, responsabilidades – é com essas palavras que resume sua experiência até então, tendo exercido previamente as funções de tesoureira e de secretáriageral. Quando questionada sobre como se sentiu ao assumir a presidência em 2015, Nelma diz, em seu tom naturalmente formal e eloquente: “Orgulho pela confiança em mim depositada pelas demais voluntárias e Conselho Deliberativo, ao ser desafiada a presidir uma entidade tão longeva, respeitada e com muita credibilidade junto a população gaúcha.” Ter sido indicada e eleita ao cargo da presidência três vezes é justamente o que ela cita como os momentos de maior orgulho na trajetória na Liga/RS. Nelma que em janeiro de 2021 completará seis anos como presidente. Outro momento de destaque foi o recebimento da Medalha do Mérito Farroupilha, distinção máxima do Parlamento Gaúcho, como reconhecimento de sua trajetória em prol da sociedade sul rio-grandense, em agosto de 2019. No entanto, Nelma não aceita receber os aplausos sozinha. Sempre lembra do quanto o resto da equipe é igualmente fundamental. Disse que “recebia a homenagem em nome de todas as voluntárias da Liga Feminina de Combate ao Câncer no RS, que ao longo de muitos anos dedicaram e dedicam seu tempo aos mais necessitados”. São diversas as modalidades de trabalho voluntário realizado pela Liga-RS, – uma entidade civil, sem fins lucrativos, existente há 66 anos, que tem por finalidade assistir o doente carente portador de câncer, conscientizar e educar a população. A gestão de uma instituição filantrópica como essa apresenta uma série de desafios. Para Nelma, o maior deles tem sido obter recursos da sociedade, já que a Liga-RS não recebe dinheiro público. A verba para manutenção das atividades é advinda dos eventos sociais e doações recebidas. No entanto, o sucesso da Liga-RS é eminente. Nelma poderia passar horas citando os inúmeros momentos de felicidade e conquistas durante a primeira década de trabalho na entidade: “Foram momentos felizes quando visitei parte das Ligas Regionais para conhecer de perto a realidade de cada uma; realizar o 60º Baile da Glamour Girl; o 50º Encontro Estadual com as Ligas Regionais para troca de experiências; representar a Liga/RS nos Congressos Nacionais da Rede Feminina de Combate ao Câncer; participar das comemorações dos 50 anos de existência do Hospital Santa Rita; reconhecimento formal, em várias oportunidades

17


Texto Jornalístico - ESPM

por parte da Irmandade Santa Casa de Misericórdia da importância do apoio e da parceria da entidade no atendimento aos doentes carentes”. E a que se deve tudo isso? Nelma não demora a responder: “Sem dúvida, à dedicação e ao comprometimento dos voluntários com a causa, assim como a lisura e transparência de suas ações e cumprimento da sua finalidade.” O impacto da pandemia no trabalho voluntário Com o surgimento da pandemia, a Liga/RS tem enfrentado novos desafios. Para os voluntários tem sido frustrante não poder atender de forma plena seus assistidos, assim como lidar com a suspensão de atividades de prevenção. “É um trabalho muito importante o que a gente faz, e a gente se viu privado de fazer esse trabalho”, diz Nelma. “A gente está fazendo o que pode e de alguma forma o paciente está sendo atendido. Atendendo parcialmente, tentando se adequar ao novo momento e fazendo o que é possível, observando os protocolos e as recomendações das autoridades.” A Liga/RS continua entregando todo o material de higiene, valores para passagens, e autorizações para compra de medicamentos às assistentes sociais dos hospitais que, após avaliação das necessidades, disponibilizam ao paciente e a sua família. Mesmo que de forma indireta o trabalho continua sendo feito. Sobre o futuro, Nelma entende que aos poucos as conjunturas retornarão ao habitual, porém os ensinamentos deste período deverão ser levados adiante com a Liga/RS. Ou seja, cada vez mais é necessário educar a população para que tenhamos cuidados básicos com a saúde. Ela ressalta que na velocidade adequada, e com suas devidas adaptações, as atividades exercidas pela instituição retornarão. Hoje, ao andar pelos corredores dos hospitais, Nelma consegue manter uma visão otimista: “Circulando pelo hospital e vendo todo mundo se cuidando, vendo os funcionários trabalhando, isso me deixa um pouco mais à vontade.” É notório perceber a alegria dela ao ver as pessoas desenvolvendo suas atividades. Neles, ao que parece, Nelma vê o seu reflexo.

Confira o depoimento dos repórteres – Making Of

Ouça o podcast com outras informações

18


Gente que Inspira: Histórias de transformação

Crédito: arquivo pessoal

Conheça a seguir a história de Márcia Helena Tischler, ex-presidente da Casa da Amizade e atual presidente da Liga Feminina de Combate ao Câncer, ambas as instituições situadas em Cachoeira do Sul, no Rio Grande do Sul. Contando com mais de 100 voluntárias, a Liga ajuda a comunidade há mais de 43 anos. Reportagem de João Pedro Dumke e Gabriel Prisco

19


Texto Jornalístico - ESPM

Voluntariado, uma missão de vida Márcia Helena Ritzel Tischler, 58 anos, é formada em educação artística. Começou no voluntariado ainda criança, influenciada pela sua avó, que prestava serviços beneficentes para uma comunidade com 12 famílias em Cachoeira do Sul, cidade distante aproximadamente de 160 quilômetros de Porto Alegre. Somando mais de 30 anos de trabalho voluntário e atualmente na presidência da Liga Feminina de Combate ao Câncer de Cachoeira do Sul, Márcia começou a trabalhar na instituição após ter três familiares que sofreram com esta doença. Após isso, percebeu o quão difícil pode ser esse enfrentamento. Assim, decidiu que era hora de entrar para a Liga e atuar ativamente na instituição, que tem perto de 90 voluntárias. Mesmo passando por um período de afastamento da organização por problemas pessoais, ela sempre cooperou como pôde, tornando-se assim a presidente da instituição após cerca de 15 anos atuando na área social. Como presidente da instituição, Márcia trabalha diariamente para auxiliar pacientes que enfrentam câncer e os seus acompanhantes. A Liga possui um trabalho importante auxiliando em média 90 pacientes a conseguirem os remédios que precisam para o seu tratamento de maneira gratuita, além de terem acesso a cestas básicas em alguns supermercados de Cachoeira do Sul. Ainda no mandato de Márcia, que começou em março de 2019, e estende-se neste ano, foi realizada uma reforma interna na sede da Liga em Cachoeira do Sul, gerando mais conforto para as pessoas atendidas. Segunda ela, “A sede estava praticamente caindo e, agora, dá um prazer muito grande de estar na sede reformulada, pela felicidade do paciente de chegar e pensar nossa que lugar lindo pra gente vir, esse conforto que a gente dá é maravilhoso, saber que ele está bem acomodado”. A Liga também auxiliou com doações para uma melhora do setor de oncologia do Hospital de Caridade e Beneficência, principal hospital da cidade, com impacto direto no tratamento para os pacientes com câncer que buscam o tratamento pelo SUS na região. A pandemia mudou a rotina e o anonimato como regra A pandemia de Covid-19 afetou o trabalho da Liga. Isso porque muito da arrecadação da instituição é feita em festas e jantares. Devido aos protocolos de proteção ao novo coronavírus, os eventos presenciais não estão acontecendo e não há previsão de retorno. Um jeito de superar isso é a realização de uma rifa beneficente, na qual os prêmios foram arrecadados na comunidade e de empresas apoiadoras da Liga. O valor arrecadado será convertido para novas ações da Liga, que segue disponibilizando medicamentos e cestas básicas para quem precisa em Cachoeira do Sul. Ao ser perguntada sobre qual mensagem deixaria aos futuros voluntários, ela destacou o anonimato. Citou que sua vó desde quando ela era pequena sempre trabalhou de modo anônimo. “Porque é assim que funciona o voluntariado, ele é feito para ajudar o próximo, não para ser reconhecido”. Segundo ela, “Não se pode pensar que o trabalho voluntário não tem compromisso, tem que entrar de coração. Não pensar que você vai fazer um trabalho voluntário para sair no jornal”.

20


Gente que Inspira: Histórias de transformação

Histórias que não saem da memória Durante a entrevista, ela ressaltou duas histórias marcantes no voluntariado. A primeira foi quando ela ainda trabalhava na Casa da Amizade, que foca em ações para grupo de famílias ou hospitais, sem foco em pessoas específicas. Diferentemente dos trabalhos usuais, ela contou: “Fui procurada por uma mãe de trigêmeos recém nascidos e fizemos uma campanha para arrecadar berços, carrinhos e enxoval”. Já a segunda é a de uma senhora que veio com o marido doente. Enquanto ele era atendido na sala da frente, a senhora ficou conversando com as voluntárias. Após o término do tratamento do marido, a senhora afirmou que queria passar o dia inteiro ali. Márcia observou que “várias vezes os acompanhantes são os que mais precisam, o acompanhante sofre tanto quanto o paciente e muitas vezes ele é esquecido. Então, isso dá uma satisfação de a gente estar ajudando alguém, não só de forma financeira, mas dando aquele carinho, conforto e abraço que agora não estamos podendo dar. Mas para mim, o melhor de tudo do trabalho voluntário é este retorno de eles terem o mesmo carinho que nós temos por eles”.

Confira o depoimento dos repórteres – Making Of

Ouça o podcast com outras informações

21


Texto Jornalístico - ESPM

Crédito: arquivo pessoal

Conheça a seguir a história de Daniella Cordeiro, engenheira civil e cofundadora da startup social Moeda do Bem. Lançado no final de 2019, o projeto já arrecadou 145 mil reais em doações durante a pandemia e mais de 15 toneladas de alimentos já foram distribuídos para membros da comunidade do Morro da Cruz, em Porto Alegre. Reportagem de Luiza Schirmer e Marcos Corrêa

22


Gente que Inspira: Histórias de transformação

Negócio do Bem: A moeda que gera esperança Motos zuniam pelo asfalto, pedestres corriam pela calçada para alcançar o ônibus, crianças vendiam balas nas sinaleiras. Da janela do passageiro, Adriano Panazzolo admirava a monotonia urbana enquanto sofria uma reviravolta interna. O engenheiro civil de 54 anos retornava de um evento de inovação e tecnologia em São Paulo, onde grandes invenções e um futuro próspero para todos eram palavras de ordem. Ao regressar a Porto Alegre, no entanto, ele voltou à realidade. No trajeto para o aeroporto de Congonhas, Adriano viu pessoas que aparentavam estar em situação de rua há pouco tempo, devido à crise econômica. Foi então que vieram as perguntas: inovação para quem? Quem irá desfrutar desse futuro? “Ele queria entender como a inovação poderia incluir os excluídos, ao invés de afastálos ainda mais da sociedade”, conta Daniella Cordeiro, de 32 anos. Engenheira civil e colega de trabalho de Adriano, Daniella hoje é cofundadora da Moeda do Bem, uma startup cujo objetivo é oferecer ajuda financeira a projetos sociais por meio de doações. “Quando a gente tem uma ideia, não podemos guardar ela para nós mesmos e esperar para executá-la só quando tudo estiver ‘pronto’”, afirma. “Logo que o Adriano compartilhou essas inquietações comigo, nós já começamos a pensar em soluções”. Ela relembra que a ideia inicial era criar uma rede de voluntários, mas o projeto só se tornou mais concreto após um curso realizado pelo Founder Institute, no ano passado, em Porto Alegre. “Nós nem conseguimos nos formar no curso”, lembra Daniella entre risos, “mas nossa vontade era tão grande que nos recusamos a desistir”. Início conturbado A Moeda do Bem foi lançada oficialmente em outubro de 2019, e consiste numa plataforma digital para arrecadar doações em dinheiro, na qual a pessoa escolhe qual item ou ação deseja financiar. Daniella disse que o início foi difícil porque ela e Adriano estavam mais envolvidos com a empresa de engenharia onde trabalham, e a Moeda do Bem era vista como uma “prioridade secundária”. Além disso, não havia como botar o projeto em prática sem um parceiro que necessitasse de ajuda. O primeiro parceiro A resposta veio com a antropóloga Lúcia Scalco, amiga de Adriano e presidente da Associação Coletivo Autônomo Morro da Cruz. Ao ouvir sobre a Moeda do Bem, Lúcia logo se ofereceu para ser uma espécie de primeira “cobaia” da startup. Após várias idas à associação, Daniella e Adriano tiveram a ideia de criar um site. Inicialmente utilizaram uma plataforma já existente cedida pelo mentor do Founder Institute, que tinha como objetivo a compra de presentes de casamento. Depois de algumas modificações e personalizações, a Moeda do Bem estava pronta para começar a juntar doações. No primeiro momento foram arrecadados 7 mil reais, que foram inteiramente repassados para a Associação Coletivo Autônomo Morro da Cruz. A ONG utilizou os recursos para continuar com suas atividades

23


Texto Jornalístico - ESPM

voltadas às crianças e adolescentes da comunidade, como música, dança, artesanato, inglês, reforço escolar, entre outras. No entanto, com a chegada do novo coronavírus, várias mudanças aconteceram. Os Reflexos da Pandemia A nova realidade imposta pela pandemia fez com que a Moeda do Bem voltasse seu foco para o oferecimento de serviços emergenciais, ao invés da construção de uma rede de parcerias. A startup teve como objetivo, então, suprir as necessidades imediatas da comunidade do Morro da Cruz, como alimentação, medicamentos e produtos de higiene pessoal. A engenheira revela que foram criados links de inscrição no site da Moeda do Bem – os quais ficavam disponíveis por um tempo determinado –, destinados às pessoas que queriam receber algum tipo de ajuda. Contudo, a demanda aumentou tanto que não era possível deixálos abertos por muito tempo, pois não seria possível atender a todos os inscritos. Os benefícios eram distribuídos diariamente pela Associação Coletivo Autônomo Morro da Cruz na comunidade do Morro da Cruz em frente ao mercado Eleane, um dos pontos onde eram realizadas as compras. “Acredito que a pandemia aflorou o espírito de solidariedade entre as pessoas”, afirma Daniella. Afinal, como ela mesmo cita, “ninguém consegue fazer nada com fome”. Até agora, já foram mais de 145 mil reais arrecadados em doações. O projeto pretende continuar após a pandemia, porém com objetivo de ser um negócio social que gire a economia em uma rede para trazer benefícios a todos os envolvidos, visto que o objetivo da Moeda do Bem não é o assistencialismo. Como ajudar Para contribuir com a Moeda do Bem, basta acessar o site https://www.moedadobem.com.br/ e escolher para onde direcionar sua doação. Também é possível contatar a startup pelo email contato@moedadobem.com, seja para oferecer sugestões de parceria ou se tornar um voluntário. “Toda ajuda é bem-vinda, é só falar comigo”, ressalta Daniella. Embora a startup não esteja dando retorno financeiro aos sócios no momento, ela diz que o maior lucro é a sensação de fazer o bem. “Quem doa recebe muito mais do que aquele que está sendo ajudado. É uma ironia linda.” Quem é Daniella? “Desde muito cedo eu percebi que tinha uma condição privilegiada em relação a outras pessoas. É muito mais fácil fechar os olhos e fingir que está tudo bem, mas eu nunca quis fazer isso.” Apesar de trabalhar com engenharia, Daniella Cordeiro sempre se preocupou em explorar a parte humana das ciências exatas. Formada em Engenharia Civil pela PUCRS, a cofundadora da Moeda do Bem é pós-graduada em pedagogia da cooperação pela Universidade Paulista, e recentemente fundou – também junto a Adriano – o HUBITTAT, um laboratório de inovação aberto a empresas e instituições que busquem desenvolver soluções nas áreas de infraestrutura, mobilidade e sustentabilidade. Contudo, os números não são a única maneira de expressar solidariedade. A arte também é fundamental na vida de Daniella. “Um dos eventos que mais me marcou foi uma aula de dança que fui dar com um professor

24


Gente que Inspira: Histórias de transformação

na Escola Chapéu do Sol”, relembra, “e, ao término da atividade, a gente decidiu organizar uma festa de Natal para as crianças”. Ela conta que pediu para os alunos escreverem cartas ao Papai Noel, enquanto eles se encarregaram das doações. “Nós distribuímos presentes para mais de 250 crianças no dia da festa. Foi uma experiência muito bonita”. Além da dança, Daniella também escreve poesias, pinta e desenha. Há alguns anos, ela relata que decidiu usar seus talentos para ajudar seu sobrinho, que foi diagnosticado com câncer. Noah, de cinco anos, hoje está curado, graças à ajuda da tia. “Foi uma época muito pesada, mas o desenho me curou de certa forma”.

Confira o depoimento dos repórteres – Making Of

Ouça o podcast com outras informações

25


Texto Jornalístico - ESPM

O time Inspirado A pandemia imprimiu que a rotina da sala de aula presencial fosse on-line. Foi via Zoom que as ideias surgiram e se transformaram em linhas, imagens e sons. Em cada telinha bate um coração apaixonado por jornalismo.

Turma de Texto Jornalístico 2020/1 – via Zoom

Conheça cada integrante do time Inspirado que realizou este trabalho: CASSIANO DE FRAGA TAFFAREL Apaixonado pela arte do entretenimento como forma de expressão. Acredita no poder de libertação que a verdade tem e, por isso, vê no jornalismo uma oportunidade de contar histórias, noticiar a revolução e salvar vidas. GABRIEL HESS PRISCO Escorpiano, apaixonado por futebol, futuro administrador e muito provavelmente futuro jornalista, com um interesse especial em trazer notícias e reportagens à população. Uma pessoa que acredita que a notícia transforma o mundo, e faz com que fiquemos livres para pensarmos da nossa maneira e não seguir um padrão. JOÃO PEDRO AMARAL DUMKE Gremista, apaixonado por esportes e extremamente eclético, enxerga no jornalismo a possibilidade de contar histórias e falar sobre o que gosta. Ainda não tem certeza de que rumo deseja tomar dentro dessa área.

26


Gente que Inspira: Histórias de transformação

JÚLIA CABREIRA BRUST Amante de gatos e chocolate. Sempre com um livro na bolsa. Seu sonho de infância era ter uma profissão para cada dia da semana, mas hoje só deseja encontrar na arte da escrita uma forma de aprender sobre o mundo e sobre si mesma. LEANDRO OLEGÁRIO Sagitariano, apaixonado por MPB e café, tem no jornalismo o desejo de mudar o mundo. Um otimista que acredita no poder da reportagem para contar histórias e na educação como transformação social. Não consegue se ver em outra profissão. LEONARDO SCHRAIBER COLATO Jornalista em construção, apaixonado por músicas que ninguém conhece e por escrever histórias que ninguém lê. Não aceita as coisas sem antes pesquisar e escolheu o jornalismo com desejo de transformar o mundo através da verdade, da imparcialidade e da crítica, beneficie a quem beneficiar, doa a quem doer. Acredita no poder da profissão de dar voz a quem não tem, levando sem medo a realidade para o grande público. LUANA FERNANDA GOPPINGER Virginiana, apaixonada por comunicação. Acredita no jornalismo como forma de revolucionar. Curiosa e cheia de perguntas sobre o mundo para descobrir. Falante e inquieta, vê na comunicação a chance de mudar o mundo ao seu redor. LUIZA BICCA SCHIRMER Viciada em games, fascinada por ficção científica e amante de hip hop. Escolheu o jornalismo por ser uma profissão que te permite entender todas as outras. Prefere ouvir a falar, e acha que para saber responder é preciso aprender a questionar. Acredita que cada pessoa nesse planeta tem uma reportagem dentro de si, uma história para contar e algo a nos ensinar. MARCOS ALEXANDRE BARCELOS CORRÊA Sagitariano, metido a churrasqueiro. Apaixonado por cachorros e rap nacional, sempre pensou em fazer diversas coisas na vida. Depois de conhecer o jornalismo o desejo ainda continua, mas não se vê mais sem ele. Sente no jornalismo um incrível sentimento de liberdade e uma importante ferramenta social capaz de transformar realidades.

27


Texto Jornalístico - ESPM

MARIETA DE OLIVEIRA NORONHA Do samba, da música, do Brasil e do mundo. Apaixonada pela vida e pelas pessoas, tagarela tentando colocar um pouquinho de arte por tudo onde passa. Gremista, otimista, artista e jornalista. NATÁLIA VALDUGA Desorientada em meio a tantos caminhos, mas procurando o correto. Apaixonada por histórias e pela comunicação, acredita que uma simples discussão é capaz de transformar o mundo. Procura no jornalismo um modo de transmitir informações e pensamentos para revolucionar realidades. RAFAELA CAPITÃO DA SILVA Ariana, apaixonada pela vida e pela família. Amante do jornalismo desde os nove anos de idade. Uma pessoa entre as outras sete bilhões, que acredita no poder da comunicação: ela transforma e salva vidas. O jornalismo é a profissão que faz seus olhos brilharem.

28


Gente que Inspira: Histórias de transformação

29


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.