HORIZONTE
Rafael Borgognoni
7 PRINCÍPIOS
Vicentinos apoiam necessitados
10 ÍNDICE
População idosa soma 18 milhões no Brasil ESPECIAL
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FUNÇÃO FAMILIAR
Asilo São Vicente de Paulo depende de doações para dar continuidade aos atendimentos; custos mensais superam R$ 100 mil
14 SOLIDARIEDADE
Fundação Isis Bruder atende 600 pessoas por mês
HORIZONTE
produção dos alunos de Jornalismo da Faculdade Maringá editor-chefe: Tiago Mathias direção fotográfica: Aluísio Stuani ensaio fotográfico: Yasmin Victorino conceito gráfico: Tiago Mathias, Aluísio Stuani, Laressa Santos apoio: Nicolle Dias
Aluísio Stuani
SAÚDE
Entidade oferece hospedagem, alimentação e orientações jurídicas para pessoas acometidas pelo câncer. Assistência é fundamental para o tratamento
Rede Feminina acolhe pacientes e familiares Tiago Mathias
A
poio para o tratamento dos doentes e conforto para os familiares. Esta é a rotina na casa de apoio da Rede Feminina de Combate ao Câncer (RFCC). Em Maringá, a entidade acolhe semanalmente cerca de 20 pessoas, entre acometidos pela doença e acompanhantes, que residem em municípios vizinhos. Mantida por doações e grupo voluntariado, a Rede Feminina – como é conhecida – atende, desde 1983, usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) que estejam em situação de vulnera4
bilidade social. De acordo com a organização, os chamados tratamentos fora de domicílio (TFD) demandam frequência diária às clínicas e hospitais de oncologia de Maringá. “Nosso trabalho vai além. Diante da condição da maioria dos pacientes, a hospedagem seria insuficiente para amenizar o tratamento”, avalia a coordenadora de projetos para a unidade maringaense, Janaína Mantovani. “Temos uma equipe multidisciplinar que, em muitos casos, desenvolve um papel que deveria ser do Estado”, afirma. Se necessário, o grupo disponibiliza acompanhamento familiar e orientações jurídicas para
a viabilização de direitos ou benefícios. Trabalho que, segundo o médico oncologista José Octávio Haggi, também pode auxiliar na condução psicológica dos doentes. “É comum que parte dos acometidos, principalmente os que não possuem condições financeiras favoráveis ao que a doença exige, enfrente problemas de nível psicológico durante o tratamento. Projetos com estas características são fundamentais para a aceitação da doença como realidade”. Em 2004, Edith Dias lutou contra o câncer de mama sem precisar de suportes emocionais. Hoje, porém, a coordenadora de cultura do município diz compreender a necessidade daqueles que não aceitam o diagnóstico. “Tratase de algo maior que personalidade. É questão de nos colocarmos no lugar do outro. Analisando a vulnerabilidade e, ainda mais, a situação de não conhecer ninguém aqui em Maringá, eu imagino o que estas pessoas sofrem”. Como outros mais de 100 maringaenses, Edith é voluntária das campanhas da Rede Feminina, que promove bazares beneficentes para angariar recursos. “Temos de custear todos os atendimentos, incluindo transporte e refeição dos assistidos. O apoio da população, portanto, é sempre muito bem-vindo”, garante Mantovani.
NÚMERO
31.240
casos de neoplasias (cânceres) foram registrados no Paraná em 2012 Fonte: Instituto Nacional do Câncer (INCA)
CAUSAS As causas de câncer são variadas, externas ou internas ao organismo, estando ambas inter-relacionadas. As causas externas relacionam-se ao meio ambiente e aos hábitos ou costumes próprios de um ambiente social e cultural. As causas internas são, na maioria das vezes, geneticamente pré-determinadas, estão ligadas à capacidade do organismo de se defender das agressões externas. Esses fatores causais podem interagir de várias formas, aumentando a probabilidade de transformações malignas nas células normais. De todos os casos, 80% a 90% dos cânceres estão associados a fatores ambientais. Alguns deles são bem conhecidos: o cigarro pode causar câncer de pulmão, a exposição excessiva ao sol pode causar câncer de pele, e alguns vírus podem causar leucemia. Outros estão em estudo, como alguns componentes dos alimentos que ingerimos, e muitos são ainda completamente desconhecidos. O surgimento da doença depende da intensidade e duração da exposição das células aos agentes causadores de câncer, como a quantidade de cigarros fumados por dia e o tempo de vício, por exemplo. 5
Yasmin Victorino
Rafael Borgognoni
RECUPERAR PARA A VIDA
U
m movimento da Igreja Católica voltado a recuperação da autoestima social e evolução econômica dos atendidos. Em Maringá, são mais de 20 destes grupos, chamados Vicentinos. As conferências atuam de maneira decisiva na vida orçamentária, familiar e religiosa dos assistidos. Ronaldo Alves, coordenador do movimento em Maringá, diz que o objetivo é a recuperação total dos atendidos. “Não só no âmbito religioso, seja a religião qual for, nosso trabalho visa a recuperação total dos valores da família e, claro, prestamos orientações na parte financeira, que pesa muito”. Somente no grupo do coordenador, na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, na Vila São Domingos, três famílias são assistidas. As particularidades encontradas desafiam os vicentinos. Distribuição de cestas básicas, batismo de membros, inserção na religião, regularização do casamento e auxílio jurídico na concessão de programas assistenciais do governo são algumas das ações desenvolvidas. “Sabemos que, em cada lugar, vamos encontrar um tipo de
Luis Henrique de Sá
Conferências Vicentinas são responsáveis por trabalhos sociais desenvolvidos com os necessitados problema. Então, temos de ficar atentos e preparados”, ressalta Alves. Para que o processo de recuperação seja iniciado, porém, os grupos realizam um longo levantamento socioeconômico. Reuniões e elaboração de projetos voltados de acordo com a real necessidade das famílias integram esta etapa. Trabalho fundamental para o aposentado João Nobrega, 68, um dos assistidos pelo movimento. “No começo fiquei desconfiado, mas aos poucos percebi o
lindo trabalho deste povo. Me ajudaram financeiramente e, ainda mais, espiritualmente. Depois da ajuda, melhoramos como família aqui em casa”, avalia. “Este é o nosso lema. Vamos aos pobres e reconhecemos os irmãos necessitados, vemos nele o próprio Cristo. Com humildade, colhemos bons resultados, contribuindo na recuperação dos princípios e cooperando na diminuição da desigualdade social”, completa o coordenador. 7
FUNÇÃO FAMILIAR
ASILO SÃO VICENTE DE PAULO Asilo depende de doações para dar continuidade aos atendimentos; custos mensais superam R$ 100 mil Valdemir Barbosa
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m Maringá, há 29 anos o Asilo São Vicente de Paulo se dedica ao bem -estar da pessoa idosa. Fundado pelos Vicentinos em 11 de fevereiro de 1984, nasceu com a intenção de recolher pessoas da rua e abrigá-las, se tornado abrigo anos mais tarde. Com capacidade atual para 92 internos, outros idosos aguardam por uma vaga.
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A procura aumentou e com o número reduzido de leitos, a entidade não consegue acolher a todos. A faixa etária dos velhinhos que vivem no asilo varia entre 54 e 85 anos. Dona Estela Pereira, 106, é exceção. Assim como ela, outros idosos dependem do local porque não têm para onde ir. Segundo a coordenadora de projetos, Lucimara Moreno, o distanciamento de parentes e familiares é a principal causa de procura pelo internato. “Existem casos em que os familiares dizem que os velhinhos vão fazer um tratamento, internam em um abrigo e nunca mais retornam. Há casos de 15 anos em que a família não mantém contato. Apenas dez por cento, aliás, recebem visitas. Cada um tem uma história e o sentimento em relação aos familiares é de saudade constante”.
Rafael Borgognoni
Manoel José está há 21 anos no local. “Lembro que, quando cheguei aqui, eu estava muito triste. Senti que não tinha mais ninguém por mim. Depois de um tempo, a convivência com os colegas e funcionários me deu mais ânimo. Eles são como uma família para mim,” relata. A família descrita por Seu Manoel, porém, é desafiada com elevados custos de manutenção. O diretor administrativo, Humberto Bertoloci, conta que a receita mensal não cobre todas as despesas. O abrigo tem de receber doações para reforçar o orçamento. “A arrecadação chega a R$ 100 mil reais por mês, mas fica fal-
tando algo em torno de R$ 15 a R$ 20 mil para cobrir os gastos com alimentação, higiene, medicamentos e funcionários, que são remunerados pela instituição. Da aposentadoria dos internos, 70% destinase a manutenção da casa e 30% fica com eles. O idoso, hoje, tem um custo de R$ 1,3 mil”, afirma. Segundo Bertoloci, a entidade recebe o repasse de 27% do município e 3% do Governo Federal. “A realização de promoções tem sido uma boa alternativa para ajudar na receita. A população pode colaborar com doações de diversos tipos e, claro, aproveitar para visitar os idosos”.
Cresce o número de idosos A população brasileira envelhece em ritmo acelerado. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país tem 18 milhões de idosos, o que representa 12% da população total. O número está acima da média mundial e a projeção é que, em 2025, essa porcentagem salte para 13%. A pesquisa realizada no ano passado, através de síntese de indicadores sociais, revela que a preocupação com os velhinhos não deve ser apenas relacionada à aposentadoria. (Valéria Berti) 10
18 milhões é o número de idosos brasileiros
12% da população do país
HÁ 54 ANOS
Yasmin Victorino
ENTIDADE ATUA EM MANDAGUAÇU Laressa Santos
Com dificuldades financeiras e poucos funcionários, asilo atende idosos do município e região
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Asilo São Vicente de Paulo de Mandaguaçu foi fundando em 12 de janeiro de 1959, por vicentinos que, na época, perceberam a falta de uma instituição que cuidasse dos idosos abandonados pelas famílias na cidade e região. Ao longo desses 54 anos atuando em Mandagua-
çu, a entidade já atendeu centenas de velhinhos que encontraram naquele espaço um novo lar para recomeçar a vida. O trabalho voluntário realizado no asilo é feito em parceria com a paróquia local. Ao longo do ano são realizados eventos como confraternizações, cafés da tarde, missas para os idosos e visitas realizadas pelos seminaristas. Para o vice-presidente do asilo, Nelson Barbosa, qual11
Yasmin Victorino
Falta dinheiro
290 mil gastos somados em 2012
281 mil receita integral para o mesmo ano
70% das aposentadorias ficam com o asilo
quer pessoa que queira promover alguma atividade no local deve, antes de tudo, entrar em contato com a direção. “Precisamos ser informados de qualquer atividade proposta porque a grande maioria dos nossos idosos apresenta algum problema de saúde e, dependendo do horário ou se for oferecido algum alimento, não podemos permitir”, afirma. Mesmo com o número pequeno de funcionários – 10 pessoas -, o asilo consegue cuidar dos atuais 22 assistidos. Segundo Barbosa, a
De acordo com o presidente do asilo, José Vitório Palma, 62, o trabalho só é possível por conta das doações e dos recursos recebidos do governo municipal e federal. “Se não fossem as doações que recebemos, seria impossível atender os senhores e senhoras no asilo”, destaca. Além das doações, o asilo retém 70% do valor total do benefício que os idosos recebem do governo para complementar os gastos da entidade. Em 2012, a receita anual foi de aproximadamente R$ 281 mil. Os gastos, porém, ultrapassam a casa dos R$ 290 mil.
maioria dos idosos foram abandonados pelas próprias famílias. “Dos 22 idosos, oito recebem cuidados especiais porque são totalmente dependentes das enfermeiras”, conta o vice-presidente. É o caso de Maria Scabelo, 86, que mora no asilo há três anos. “Ninguém vem me ver mais. Parece que me esqueceram aqui”, relata. Ela foi entregue pela família, que mora em Iguatemi (a 4 km de Mandaguaçu) e é a mais velha de todos os internos do Asilo São Vicente de Paulo.
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Rafael Borgognoni
SOLIDARIEDADE
ISIS BRUDER
atende mais de 600 pessoas
Movida pela solidariedade, fundação completa 12 anos em Maringá; crianças, adolescentes e adultos em vulnerabilidade social são atendidos
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Nicolle Dias
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om o objetivo de promover a inclusão social, a Fundação Isis Bruder foi criada em Maringá em julho de 2001, através de uma Assembleia Extraordinária em que um grupo de pessoas desejava organizar uma instituição que englobasse três iniciativas: proteção social básica, preventiva e inclusiva. De acordo com a gestora da fundação, Terezinha Sezini, a maioria das famílias que chegam à instituição são encaminhadas pelos centros de assistência social. “Essas famílias são cadastradas pelos assistentes sociais e são atendidas
em algum dos nossos projetos. Aqui, as crianças e adolescentes têm acesso às oficinas, mas, também nos preocupamos com o futuro e encaminhamos para o mercado de trabalho,” explica a gestora. Sem fins lucrativos, a entidade atende mais de 600 pessoas, em três unidades: Casa Maternal – Unidade Vó Tita, Projeto Renovo e Projeto Champagnat. A Casa Maternal, sede da instituição, atende 250 crianças e adolescentes com idades entre 1 e 14 anos, oferecendo educação pré-escolar e contra turno. Já o projeto Renovo, destinado a adultos, atua com oficinas de artesanato para aumentar a renda das famílias e o Digitan-
do o Futuro, que visa prepará -las com aulas de informática. No bairro Champagnat, oficinas de futebol e atendimento odontológico para as crianças estão entre os serviços oferecidos. Inserção Eliane Gomes, mãe de um aluno atendido pela Fundação, tem toda a família inserida nos projetos. “Comecei levando minha filha à unidade Vó Tita. Depois, passei a participar do projeto Mãos à Arte, fazendo artesanato. Hoje meu marido faz parte do Digitando o Futuro e, graças a Deus, está no mercado de trabalho devido a fundação,” conta a dona de casa.
“As famílias chegam destruídas. Nós fazemos além do cuidado educacional, o amparo que essas famílias precisam. Damos carinho, atenção e dedicamos nosso trabalho em prol delas. Os avanços são fantásticos”, diz emocionada a orientadora social Silvana Oliveira. A entidade também promove palestras, encontros, acampamentos, além de buscar ensinar valores e princípios, éticos e cristãos, já que a mantenedora oficial é a Igreja Presbiteriana de Maringá. De acordo com a gestora, a fundação também tem parceria com a Prefeitura de Maringá e recebe apoio de doações da população.
Doações Interessados em ajudar a Fundação Isis Bruder podem efetuar depósitos no Banco do Brasil, através dos dados: Agência: 3522 e Conta corrente: 107057-6, após contato com o financeiro da entidade pelo telefone: (44) 3026-1517.
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Yasmin Victorino
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Um projeto dos alunos do 5º e 6º semestre do curso de Jornalismo da Faculdade Maringá
Yasmin Victorino
A impressão que eu tenho é de não ter envelhecido, embora eu esteja instalada na velhice. O tempo é irrealizável. Provisoriamente, o tempo parou pra mim. Provisoriamente. Mas eu não ignoro as ameaças que o futuro encerra. Como também não ignoro que é o meu passado que define a minha abertura para o futuro. O meu passado é a referência que me projeta e que eu tento ultrapassar. Portanto, ao meu passado eu devo meu saber e a minha
ignorância, as minhas necessidades, as minhas relações, a minha cultura e o meu corpo. Que espaço meu passado deixa para minha liberdade hoje? Não sou escrava dele. O que eu sempre quis foi comunicar da maneira mais direta o sabor da minha vida. Unicamente o sabor da minha vida. Acho que consegui fazê-lo. Não desejei, nem desejo nada mais que viver sem tempos mortos. Simone de Beauvoir
filósofa existencialista, feminista francesa e escritora