FASCÍCULOS DE JORNALISMO - COMPREENDER A PROFISSÃO
Jornalismo & Política Poder, decisão, eleição, cidadão, cidadania, responsabilidade, participação, informação, mudança, Brasília... Você compreende a política? Então, entre neste fascículo. Venha conhecer os detalhes da imprensa que cobre esta área: a opinião de importantes profissionais, a história de grandes veículos e as tendências do mercado de trabalho para futuros jornalistas
Apresentação | Caro leitor
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Expediente
De olho na transformação social fascículo Política apresenta aos estudantes de jornalismo um panorama desta que é conhecida como uma das mais nobres e complexas áreas da profissão. A política está presente em todos os segmentos do jornalismo, tornando este um campo amplo de discussões durante o curso. Além disso, quando o profissional compreende as informações e suas dimensões, o conteúdo se torna uma ferramenta que possibilita a transformação social. Nesta edição trazemos um dos personagens históricos mais importantes para a construção do jornalismo político no Brasil: o colunista Carlos Castelo Branco. Fugimos do tradicional e mostramos a rotina de uma redação diferente dos grandes veículos comunicacionais. Ao mesmo tempo, apresentamos uma entrevista com um renomado jornalista de um tradicional jornal diário com sede em São Paulo. Dicas e exigências sobre o mercado de trabalho, e sugestões de programas, sites e livros para quem quer se aprofundar no assunto também estão disponíveis nesta edição. Sinta-se convidado a entrar em um mundo complexo e essencial para sua profissão.
Seção | Depoimento “Caminho para grandes mudanças” “Sou Caio Martins e tenho 23 anos. Em 2012 me formei no curso de Gestão de Políticas Públicas na USP. Trabalho em um programa de incentivo do governo, a Fábrica de Cultura. O gosto pela política começou desde pequeno. Depois de me deparar com a Constituição Federal no Ensino Médio, percebi que, além de fundamental, a política pode ser um caminho para grandes mudanças. Hoje o meu gosto pela política se sustenta principalmente pela luta por uma maior participação social. Costumava ler revistas e jornais, como Estadão, Veja, Istoé, Época, Folha e Agora. Quando entrei para a faculdade, tive contato com outras publicações, como a Carta Capital, Le Monde Diplomatique, Fórum e Caros Amigos. Hoje, com o dinamismo da internet, acompanho notícias online em portais, como o G1, Terra e UOL. Acredito que a cobertura política se mostra cada vez mais decadente. Apesar dos avanços tecnológicos, a mídia e os veículos de comunicação relatam apenas os acontecimentos sem se aprofundar em discussões e debates a que expõem diferentes lados. A política é tratada a partir da persuasão e não da conscientização e da reflexão, como deveria ser. Uma possibilidade que poderia ser explorada é a demonstração de casos de sucesso pelo Brasil, não políticas que vemos nas propagandas dos governos, mas ações que deram certo em lugares considerados desconhecidos pela sociedade de massa, e que poderiam se transformar em palco para mudanças nos grandes centros urbanos. Para que o tema política se torne mais conhecido, publicações nos moldes da revista Superinteressante poderiam circular mais pelo país. Deste modo, aqueles que desconhecem a história ou termos básicos da política do país obteriam mais conhecimento. Fato é que o jornalismo, desde que existe, pode ser considerado uma ferramenta de apoio para grandes mudanças se utilizado de forma coerente.” Depoimento apurado pela repórter Raquel Fagundes
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Chanceler Alzira Altenfelder Silva Mesquita Reitor José Reinaldo Altenfelder Silva Mesquita Pró-reitor de Graduação Luis Antônio Baffile Leoni Pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Alberto Mesquita Filho Pró-reitoria de Extensão Lílian Brando G. Mesquita Diretor da Faculdade de LACCE Rosário Antonio D’Agostino Coordenação do Curso de Jornalismo Anderson Fazoli
Dois Pontos é um projeto experimental dos alunos de jornalismo (3ACSNJO e 3MCSNJO), desenvolvido na disciplina Jornalismo Impresso, em 2013. Orientação e Coordenação editorial Profa. Jaqueline Lemos (MTB 657/GO) Revisão Prof. Daniel Paulo de Souza Diagramação Alexandre Ofélio (MTB 62748/SP) Redação Editora assistente Paula Costa (RA: 20111873) Repórteres Jéssica Peixoto (RA: 201114238) Paulus Fogacci (RA: 201115564) Phillip Silva (RA: 201113004) Raquel Fagundes (RA: 201104621) Vinicius Araujo (RA: 201114074) Capa Produção e foto: equipe de redação
Pingue-Pongue | Pedro Venceslau
“Quem sabe mais, vai mais longe”
Com pouco mais de uma década de formado, Pedro Venceslau, hoje repórter no jornal O Estado de S. Paulo, fala da importância do estudo na cobertura de política
G Por Paula Costa
raduado em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em 2001, Pedro Venceslau iniciou sua carreira no já extinto jornal Noticias Populares, como estagiário em esportes, uma área diferente da qual atua hoje. Cobriu a reestruturação do Timor Leste e uma das posses de Hugo Chávez, na Venezuela. O interesse pela política veio de berço, já que seu pai foi militante político nos anos 1980. Ele conta nesta entrevista ao fascículo Dois Pontos como é ser um jornalista político atualmente, as dificuldades e dicas para quem quer seguir carreira neste campo.
Dois Pontos: Como começou a sua relação com o jornalismo? Pedro Venceslau: Minha relação com o jornalismo começou muito cedo, em casa. Meu pai, Paulo de Tarso Venceslau, foi um dos fundadores do PT nos anos 80 e participou do sequestro do embaixador americano, Charles Elbrick. Então cresci em um ambiente muito ligado a política. Isso despertou meu interesse pelo jornalismo.
Oficial, e saber usar bem a Lei de Acesso à Informação. Nosso papel é também fiscalizar o poder público, o universo partidário e escancarar os bastidores.
Dois Pontos: Existe muita dificuldade em relacionar a visão pessoal sobre a política do papel como repórter? Como você lidou com isso? Pedro Venceslau: Penso que o jornalista de política deve se preservar, mas não necessaDois Pontos: Como foi o inicio da carreira? riamente precisa abrir mão de suas posições Pedro Venceslau: O começo foi no ano 2000, e ideais sobre direita e esquerda. Trata-se de no jornal Notícias Populares cobrindo espor- um bom debate. tes. Durou alguns meses e logo fui para a revista Imprensa. Comecei como repórter e Dois Pontos: Como é o mercado de trabaacabei como editor executivo. Trabalhei lá de lho para o jornalista político? 2000 até 2003, quando a revista quase fechou Pedro Venceslau: O mercado está passando e saí em um passaralho. Assumi então a co- por um processo difícil, de muitos cortes em municação da UNE (União Nacional dos Es- todas as áreas. A internet mudou tudo muitudantes), da Ubes (União Brasileira dos Es- to rapidamente, mas a lógica comercial não tudantes Secundaristas) e a edição da revista seguiu esse ritmo. Na política, há sempre um Movimento. Voltei para a Imprensa em 2005, aquecimento nos anos eleitorais. Abrem-se quando ela se reergueu. Assumi então a edi- janelas nessa época, especialmente se a eleição executiva. Sai de lá em 2008 e fui para o ção for pulverizada. Estadão, onde fiquei até 2010 trabalhando na coluna da Sonia Racy. Na sequencia fui ser Dois Pontos: Qual o seu conselho para colunista de política do jornal Brasil Econô- os estudantes interessados no jornalismico, onde fiquei até esse ano. Hoje estou de mo político? Pedro Venceslau: Primeiramente: estuvolta ao Estadão, cobrindo política. de política. Leia o noticiário diariamente Dois Pontos: O que o jornalista desta área com atenção, as coisas nessa área acontecem em um ritmo vertiginoso. É um merprecisa conhecer? Pedro Venceslau: Ele precisa entender de cado extremamente competitivo. Quem política. E isso passa por estudar as cons- sabe mais, vai mais longe. Não basta ter truções históricas das alianças e desavenças acesso, é preciso saber quais as perguntas partidárias, os processos internos e o contexto. É preciso ler muito – e sempre – sobre essa ciranda que, muitas vezes, é esquizofrênica. A maior dificuldade é separar o joio do trigo e perceber que são muitos os interesses em disputa. Muitos políticos tentam manipular a imprensa em nome de seus projetos de poder. É preciso construir relações sólidas e ter uma agenda forte, também saber pesquisar em canais como o Diário
Arquivo pessoal
Pedro Venceslau analisa a importância do jornalismo político
certas na hora certa e sempre ter em mente uma (ou mais) teses para trabalhar em cima. Pode-se confirmá-las ou derrubá-las, mas o fato de ter em mente um cenário a ser estudado facilita na hora de abordar as fontes. Se, por exemplo, sabe-se que o PSB está deixando o governo, isso pode levar a vários desdobramentos. Nessa hora, é bom olhar para frente, mas também no retrovisor.
“É preciso ler muito – e sempre – sobre essa ciranda que, muitas vezes, é esquizofrênica. A maior dificuldade é separar o joio do trigo” DOIS PONTOS | 3
Reportagem | História
Reportagem | Rotina
Importante, influente e temido
De esquerda e engajado!
Por Phillip Silva
Por Vinicius Araujo
Carlos Castello Branco foi um dos mais relevantes jornalistas político do Brasil. Sua coluna publicada diariamente durante décadas no Jornal do Brasil analisa os bastidores do poder
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ido, temido e respeitado por políticos. Tudo começou com a renúncia do vigésimo segundo presidente da república, Jânio Quadros em 25 de agosto de 1961, seu então Secretário de Imprensa, Carlos Castello Branco se viu obrigado a deixar o cargo e logo após aceitou trabalhar no Jornal do Brasil (JB). Formado em direito, nunca exerceu a profissão. Esbanjava amores pelo jornalismo e foi nessa carreira que seguiu o quanto pôde. Após seu breve momento como Secretário de Imprensa, fez amigos e se tornou um dos grandes conhecedores dos bastidores da política nacional. Esse foi o estopim para se tornar um dos maiores e mais emblemáticos colunistas de política. Entrou de uma vez por todas para o grupo seleto de jornalistas que fizeram a diferença com a Coluna do Castello no Jornal do Brasil, que retratava de uma maneira clara e transparente seu profundo conhecimento na área. As colunas foram publicadas até o fim de sua vida. Ao longo dos 30 anos de existência e das 7.446 publicações, Castelinho, como era conhecido, narrou os mais diferentes cenários da política nacional e internacional da época, chegando a passar até mesmo pelo período sombrio que foi a Ditadura Militar (1964/1985). Com muito jogo de cintura defendeu o direito à informação, chegando a ser preso apenas uma vez e interrogado no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) durante o seu mandato como presiLuciana Castello Branco – Reprodução do site Carlos Castello Branco (Acervo)
Carlos Castello Branco em 1990, quando já era um consagrado nome do jornalismo político no País 4 | DOIS PONTOS
dente do Sindicato dos Jornalistas no Distrito Federal, o qual cumpriu até o fim em 1981. “Quando conheci, eu não fazia ideia do que era uma coluna, eu percebi um recorte no meio das coisas de um amigo e peguei pra ler, foi incrível, era a coluna com o nome de A anistia e o Terrorismo, lembro que fiquei empolgada e talvez esse momento tenha me inspirado a trabalhar com o que trabalho hoje”, relata Alice Cardoso, jornalista na Assessoria de Imprensa da Subprefeitura Itaquera. As colunas carregam explicitamente uma opinião forte do colunista que a escreve, são sempre assinadas e são consideradas uma das formas mais inteligentes de expor um modo de pensar. Elas sempre são baseadas no conhecimento empírico, como no caso do Castelinho, visto que suas publicações só foram possíveis graças ao seu vasto conhecimento sobre o cenário político nacional. As colunas são publicadas com regularidade, algumas semanais, outras diárias ,como era o caso dos textos de Castello Branco no JB. “Sou arquiteto e paisagista da prefeitura desde o ano de 1971. Lembro bem da maioria dos vereadores, deputados que eu tinha contato na época acompanharem as colunas e terem receio do que era comentado nelas. Dá para imaginar o prestígio que o Castello tinha para fazer isso com quem atuava tão longe”, explica Guilherme Henrique de Paula e Silva, Subprefeito de Itaquera. Sua primeira coluna assinada sobre o assunto que dominaria sua vida, a política, se chamava Diário de um Repórter, que foi publicada entre 1950 e 1961 pelo Diário Carioca. Castello Branco exerceu o jornalismo, que de fato era uma de suas grandes paixões, até o final de sua vida, mas também foi um membro influente da Academia Brasileira de Letras, 6º ocupante da cadeira 34. Castello faleceu aos 72 anos em 1º de junho de 1993, deixando centenas de seguidores órfãos do seu olhar aguçado. DICA DE SITE Toda a produção jornalística feita para a Coluna do Castello está disponível no endereço: carloscastellobranco.com.br No site você pode acessar os mais de 7 mil textos escritos por Castello no JB, além de outras informações sobre a trajetória do jornalista, imagens, correspondências, entrevistas, depoimentos de pessoas que conviveram com ele. Um espaço privilegiado para mergulhar na história do jornalismo e da política.
O jornalista Nilton Viana, editor do Brasil de Fato, conta como funciona o cotidiano da redação do jornal focado na política, que tem em sua equipe uma rede de jornalistas, articulistas e intelectuais
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jornal Brasil de Fato foi criado em 2003, com lançamento durante a realização do Fórum Social Mundial de Porto Alegre. Tem como principal objetivo publicar questões voltadas à cidadania, enfatizando as mobilizações populares e assuntos de interesse dos trabalhadores. Tanto em suas pautas quanto nas narrativas, o jornal traz a noticia para o sentido popular, aproximando a realidade dos fatos ao leitor que pretende atingir. O jornal, de 16 páginas no formato standard, tem uma tiragem de 50 mil exemplares/semanal. Seus correspondentes estão em Brasília, Curitiba, Paraná, Fortaleza, Venezuela, Paraguai e Honduras. A publicação, que também veicula assuntos da política internacional, em especial da América Latina, conta também com uma ampla rede de colaboradores. São professores, estudantes, fotógrafos, entre outros, e muitos deles, funcionários de grandes veículos comunicacionais do país, usam pseudônimos para contribuir a partir do ponto de vista esquerdista. “Uma vez que nosso veículo tem um interesse especifico, os jornalistas farão as coberturas de acordo com essa concepção política. Nós estamos do lado do povo, da classe operária, defesa dos direitos humanos e socialistas. Nosso perfil será sempre o trabalhador contra o patrão”, justifica o jornalista Nilton Viana. Entretanto, o editor chefe do noticiário não isenta a esquerda de avaliação. “Não damos voz à direita porque ela já é ouvida nas ‘consideradas’ grandes mídias. Apesar disso, é imprescindível que, em caso de erro da esquerda, a crítica seja muito mais dura e contundente do que é feita com a direita”, afirma. Além dos diversos colaboradores nas demais capitais do país, na sede – em São Paulo – trabalham dois editores, dois diagramadores e cinco jornalistas que elaboram simultaneamente conteúdo para o impresso e o portal na internet. Além da rádio agência NPcom, que produz material para rádios comunitárias no Brasil. Apesar de serem produzidos pela mesma equipe, existem alguns cuidados para manter as diferenças e atingir o objetivo de ambas as plataformas. O site ocasiona rapidez na disseminação da informação e nele é dada vazão às noticias urgentes e de resposta imediata. A versão impressa possui conteúdo aprofundado, analítico e com maior carga ideológica sobre os fatos.
A rotina de produção é muito diferente de outros jornais a começar pela periodicidade semanal e o perfil opinativo que, propiciam maior tempo de apuração e aprofundamento nas discussões sugeridas. Na quinta são decididas as pautas e na terça a noite é feito o fechamento da edição. Nesse intervalo ocorrem várias reuniões para discutir o andamento da construção das matérias, pautas são substituídas por assuntos de maior importância. Ás vezes, quando as trocas acontecem no dia do fechamento, é preciso correr para trabalhar bem na discussão em torno do tema. Em maio de 2013 começou a circular no Rio de Janeiro a primeira edição regional do jornal e em setembro foi a vez de Belo Horizonte ganhar sua próprias tiragens. As capitais onde anteriormente existiam apenas correspondentes, agora com uma pequena equipe composta por um
fotógrafo, um estagiário e dois jornalistas, sendo um deles coordenador, produzem o seu próprio conteúdo. Nilton também é responsável pelo fechamento da edição do Rio, que acontece toda quinta-feira. A equipe carioca produz seu próprio conteúdo e os processos de diagramação e edição acontecem em São Paulo. Para os mineiros, o editor envia o conteúdo de política nacional e internacional, previamente concluído, que é inserido às demais matérias e finalizado lá mesmo. À frente do jornal desde sua fundação, Nilton remete os dez anos de sucesso aos profissionais envolvidos. “Aqui não acreditamos em imparcialidade e não trabalhamos com divisão de editorias. Nosso foco é o trabalhador, assim como somos. Na redação compartilhamos informações e mantemos a cumplicidade da equipe, ajudando e produzindo no que for necessário”, conclui o editor.
Tem como principal objetivo publicar questões voltadas à cidadania
Reprodução
Capa do Brasil de Fato, uma das edições de junho/2011
Reprodução
Capa de uma edição especial do Brasil de Fato sobre energia (maio/2013) DOIS PONTOS | 5
Reportagem | Olhar Crítico
Reportagem | Mercado de Trabalho
O essencial não deve ser invisível aos olhos
Aprimorar é solução para um futuro brilhante
Pesquisa discute o elo entre a política e o jornalismo desde a colonização e os rastros que permanecem até hoje
Universidades apostam em cursos de extensão em jornalismo político para preparar novos profissionais
Por Jéssica Peixoto
Por Paulus Fogacci
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ual é a essência da política no jornalismo? Qual da trajetória do jornalismo político no país? Estas são algumas das perguntas que moveram a pesquisa da jornalista Cibele Buoro, formada pela PUC- Campinas com pós-graduação em Comunicação e Ciência Política. A dissertação de Cibele é Jornalismo Político no Brasil: sua trajetória, orientada pelo professor Dr. José Marques de Melo, defendida em 2010, na Universidade Metodista de São Paulo. Em seu trabalho, a jornalista aprofunda o tema e cita consagrados clássicos da sociologia e da literatura: Antonio Candido, Caio Prado Junior, Celso Furtado, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Sílvio Romero. Eles registraram os rumos que as áreas polí-
tica, social e econômica do Brasil seguiram desde a chegada dos português ao país. Cibele retrata condições dessa fase inicial e que hoje ainda permanecem na atualidade, como a defesa de interesses políticos e econômicos particulares e com finalidade arbitrária, antidemocrática e privatista. Os primeiros trinta anos após a descoberta do Brasil foram de abandono, porém, a partir do momento em que, como forma de defesa, a Coroa Portuguesa vê como solução iniciar a exploração das terras brasileiras para que outros países não tomassem posse, se inicia o nascimento de características políticas que refletem até hoje a realidade organizacional do Estado e também da imprensa. Segundo a pesquisa, é a partir da cultura do cultivo do açúcar que se formam as consequências do modelo de colonização
Ao longo da dissertação, fica bem evidente a relação estreita entre o jornalismo e o poder no Brasil
Reprodução
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Os jornais Gazeta do Rio de Janeiro e Correio Braziliense passaram a circular em 1808 e representam o início da imprensa brasileira 6 | DOIS PONTOS
ao jornalismo. Essa forma de monocultura estabeleceu a formação social alicerçada em um modelo patriarcal e se impôs em um núcleo político decisório no qual oferecia resistência à construção de uma imprensa livre e formadora de opinião no século XVII. Os primeiros passos com o jornalismo foram por meio de comunicados oficiais, utilizado como ferramenta para a família real marcar o território descoberto e afirmar o controle político nas mãos de Portugal, limitando nobres e oligarcas. A distribuição das terras entre os colonos era feita estrategicamente, a fim de posicionar economicamente e, assim, comprometer a formação política do Brasil. Ao longo da dissertação, fica bem evidente a relação estreita entre o jornalismo e o poder no Brasil. Uma referência é que somente em 1808 surgiram nossos primeiros jornais. A Gazeta do Rio de Janeiro, por exemplo, era um veículo oficial, e apenas registrava os passos e a presença da Coroa no país. Até mesmo as ditaduras vividas no Brasil e a censura aplicada aos veículos jornalísticos são medidas que evidenciam a essência da política no jornalismo. “Acredito que isso só mudará com uma melhor educação. Não ligar a TV aos domingos e boicotar todos os programas degradantes, assim como as novelas que incitam à violência e os maus hábitos e optar pela leitura de bons livros e jornais”, salienta a jornalista. Além disso, ela acredita que as universidades ainda não atingiram um nível qualificado e suficiente de ensino no quesito político, porém, é uma questão que tem raízes mais complexas, como a bagagem com que cada estudante chega ao ensino superior. “Como falta uma base sólida de teoria política nos ensinos fundamental e médio, quando chegam à universidade de jornalismo os estudantes encontram dificuldade em compreender o significado e a relevância do conhecimento da política para o exercício de sua profissão. Pois a política está em tudo: no esporte, na cultura, no meio ambiente, não apenas nos noticiários de política. Esse fato compromete o desempenho dos futuros jornalistas ao exercerem a profissão”, analisa. E para que se possa alcançar o objetivo maior do jornalismo, Cibele conclui que “quando o jornalista passa a compreender a dimensão política dos fatos, seu trabalho pode oferecer transformação social, essa que tanto buscamos”.
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estudante de jornalismo encontra logo no inicio de sua carreira o primeiro questionamento profissional: qual área seguir dentre as opções disponíveis no mercado de trabalho em comunicação social? Essa é a dúvida que assombra a maioria dos alunos, e que os faz buscarem alternativas que vão além da graduação. Atualmente, estima-se que mais de três mil jornalistas se formam por ano no Brasil. Segundo o portal Comunique-se, dos 1.126 profissionais ouvidos que já atuam na área jornalística, 11% têm entre 18 e 22 anos de idade. A pesquisa revela ainda que 30% dos entrevistados têm o jornalismo como profissão há mais de três anos. Os dados apontam também que do total, 55% atuam na mídia, 40% em assessorias e empresas de comunicação e apenas 5% no meio acadêmico. Diversas faculdades e universidades disponibilizam aos alunos cursos de extensão. De acordo com Alec Duarte, jornalista e professor, “a proposta de um curso de extensão é capacitar o estudante enquanto este ainda está cursando jornalismo, por isso se difere dos cursos de pós-graduação. E temos percebido que o novo jornalista prefere a internet, que é muito mais dinâmica para a política, pois não há limites físicos como ocorre no impresso”. Alec Duarte é ex-redator da Folha de S.Paulo e coordena um curso de extensão em jornalismo político na FAAP – Fundação Armando Alvares Penteado. Com a duração de pouco mais de dois meses, o curso procura aprofundar o tema e utilizar as mídias sociais como ferramenta e oferecer ao aluno a estrutura acadêmica necessária. Isso ocorre também por parte dos leitores, que acessam mais as mídias digitais, indicando a recente tendência jornalística. Além disso, são realizadas oficinas e palestras dedicadas inteiramente ao jornalismo político. Na Universidade São Judas, um dos cursos de extensão relevante para a cobertura de política é o de “Jornalismo Investigativo”, elaborado e ministrado pelo professor Moacir Assunção. De acordo com o docente, o curso busca preparar o estudante para aprimorar o faro investigativo. “Abordamos a prática nas redações, analisamos casos concretos e apontamos métodos de apuração”, esclarece Moacir. Para o estudante é fundamental que haja no curso uma discussão sobre as práticas de reportagem, análise, investigação, apuração
dos fatos e a contextualização da matéria, a fim de fazer valer a objetividade jornalística no que diz respeito à cobertura política. Para o jornalista que já está formado, também há a opção de cursos de pós-graduação. O professor Alec afirma ainda que, em épocas de eleições, a procura por cursos, palestras e oficinas aumentam devido às novas oportunidades profissionais oferecidas no mercado de trabalho, e também pela repercussão que há na mídia e nos meios de comunicação. “Diante desse cenário, há a necessidade do estudante estar preparado para abordar política profundamente”, conclui Alec. A comunicação exige que haja não só transparência, mas também flexibilidade e pluralismo no texto, e isso deve se aplicar ao processo de apuração do jornalista, principalmente quando a política é o foco e tema da matéria. O jornalista Marcelo Moreira, atual editor chefe do RJTV segunda-edição, indica que o futuro jornalista deve se dedicar muito à leitura de artigos políticos e dominar boa parte da história daquilo que irá abordar e enfatiza a importância do modo como será pautado o discurso. “O estudante deve se preocupar com os diferentes tipos de abordagens, nos diferentes tipos de discurso, para que haja uma pluralidade política de fácil identificação do leitor, sem que pareça tendenciosa para determinado lado”, explica Moreira.
Jota Martins
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Seção | Sugestões & Dicas
Para ler Notícias do Planalto, de Mario Sergio Conti
Honoráveis Bandidos, de Palmério Dória
A obra mostra os bastidores da atuação e influência da mídia brasileira durante o governo de Fernando Collor.
Aborda os escândalos que envolveram a intimidade e rotina da família Sarney (PMDB), e outros casos de corrupção.
A esquerda que não teme dizer seu nome, de Vladimir Safatle Aborda os princípios que orientam o pensamento de esquerda e busca renová-los de acordo com o tempo-espaço.
Conversa Afiada conversaafiada.com.br
O Vermelho vermelho.org.br
O blog transmite informação política e expõe o jornalismo de Paulo Henrique Amorim.
Aborda temas políticos com relevância social através de um ponto de vista esquerdista.
Conversa Política – OTV
Entre Aspas – Globo News
Roda Viva – TV Cultura
Fala de acontecimentos da atualidade relacionados com o Legislativo e Executivo em bate-papos com personalidades do mundo da política.
Apresenta visões divergentes sobre diversos temas políticos e comportamentais, desde a cultura até questões jurídicas e sociais.
Apresenta entrevistas sobre temas relevantes para a sociedade. Em cada programa há um entrevistado diferente no centro do palco.
O mundo hoje – BBC Brasil e Eldorado AM
Blog do Kennedy CBN AM
Direto ao assunto - Jovem Pan FM
Traz os destaques internacionais de política e outros temas, em reportagens produzidas com o apoio da rede BBC.
Visando o debate público, análises e opiniões, apresenta uma linha editorial equilibrada e apartidária.
Coluna na qual José Nêumanne comenta temas relacionados à política e expõe sua opinião de forma clara.
Para navegar
Pragmatismo Político pragmatismopolitico. com.br O site aborda temas da política nacional e internacional. Analisa os temas da atualidade.
Para assistir
Para ouvir
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