Fascículo 26 jornalismo&veículos

Page 1

FASCÍCULOS DE JORNALISMO - COMPREENDER A PROFISSÃO

Jornalismo & Veículos Adrenalina, emoção, paixão, agilidade, volante, precisão, velocidade, informação, motor, retrovisor... Você curte o mundo dos veículos? Então, entre neste fascículo. Venha conhecer os detalhes da imprensa que cobre esta área: a opinião de importantes profissionais, a história de grandes veículos e as tendências do mercado de trabalho para futuros jornalistas


Apresentação | Caro leitor

Expediente

Com o pé no acelerador!

O

fascículo Veículos apresenta aos estudantes de jornalismo a mídia que cobre o pulsante mundo sobre rodas. É necessário compreender que veículos envolvem diversos fatores: de economia até politica, não se restringindo apenas à cobertura de lançamentos e eventos automotivos. Estar ligado ao que acontece ao seu redor é primordial para qualquer jornalista, independente da sua área de atuação. Visitamos as redações do Jornal do Carro, Quatro Rodas e da revista Auto Esporte, as publicações mais importantes do segmento no país. Durante a apuração, entendemos que para ingressar no ramo não basta gostar de carros, é necessário ser um bom jornalista e apurar as informações com o mesmo rigor de um profissional que cobre os bastidores da política, por exemplo.

Chanceler Alzira Altenfelder Silva Mesquita Reitor José Reinaldo Altenfelder Silva Mesquita Pró-reitor de Graduação Luis Antônio Baffile Leoni Pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Alberto Mesquita Filho Pró-reitoria de Extensão Lílian Brando G. Mesquita Diretor da Faculdade de LACCE Rosário Antonio D’Agostino Coordenação do Curso de Jornalismo Anderson Fazoli

Seção | Depoimento “Abordagem ruim, fraca e padronizada” “Meu nome é Daniel Folego, tenho 42 anos, trabalho na minha empresa de peças automotivas para veículos tunados e modificados. Por isso, me mantenho informado sobre tudo o que envolve o universo automotivo. Preciso me manter atento e atualizado sobre as novidades da área. Para isso, leio as revistas Race Master, Full Power, Auto Magazine e Quatro Rodas, as quais sou assinante há 15 anos, para saber o que está na moda e depois repassar para a loja, nas vendas e mercadorias. Nas horas vagas, gosto de correr nos parques da cidade, e nem falo de carros porque esse é meu trabalho, já me envolvo com isso o dia inteiro, não é tema para os momentos de lazer. Apesar de trabalhar com carros, prefiro motos, pois gosto da emoção, de velocidade. Mas o jornalismo dessa área deixa a desejar. Afirmo com convicção que é uma abordagem ruim, fraca e padronizada. É sempre o mesmo discurso, traz sempre a mesma conversa. Nos últimos 15 anos li tudo dessas revistas, e as matérias são sempre do mesmo jeito, com aquele relato de “meu pai tinha um carro de tal jeito, sempre tive vontade de ter um igual, cresci e adulto bem sucedido comprei um carro turbo, kit nitro e vou deixar para o meu filho e blábláblá”, nada inovador. Já sugeri às revistas diversas vezes que modificassem seu formato, no princípio aceitaram, mas logo voltaram para o mesmo papo de sempre. Acho que poderiam cobrir mais fatos políticos, colocar as reclamações dos pilotos em pauta, entrevistar preparadores de carro, pressionar a Federação, dar um enfoque jornalístico mesmo, de pesquisa, de apuração, não priorizar a velha conversa de entrevistar o cara do carro tunado e só. Deveriam trazer visões diferentes das coisas, mas ficam no básico.” Depoimento apurado pela repórter Bárbara Soares

2 | DOIS PONTOS

Dois Pontos é um projeto experimental dos alunos de jornalismo (3ACSNJO e 3MCSNJO), desenvolvido na disciplina Jornalismo Impresso, em 2013. Orientação e Coordenação editorial Profa. Jaqueline Lemos (MTB 657/GO) Revisão Prof. Daniel Paulo de Souza Diagramação Alexandre Ofélio (MTB 62748/SP) Redação Editora assistente Karen Bezerra (RA: 201110386) Repórteres Amanda Beatrice (RA: 201110416) Bárbara Soares (RA: 201110081) Davi Vieira (RA: 201110105) Capa AL FreeImages

Pingue-Pongue | Marcus Vinícius Gasques

“Os leitores buscam a exatidão” Com décadas de experiência na cobertura do setor automotivo, jornalista fala sobre os desafios de escrever para um segmento no qual a expectativa do público-alvo mistura paixão e rigor

C Por Amanda Beatrice

om 54 anos de idade, Marcus Vinicius Gasques é um renomado jornalista do mundo automotivo, segmento no qual atua há mais de 20 anos. Formado em 1979, pela Faculdade Cásper Líbero, ele assumiu o cargo de Diretor de Redação da Revista Autoesporte, da Editora Globo, em março de 2000. Colunista na Rede CBN, Gasques trabalhou anteriormente n’O Estado de S. Paulo e no Jornal da Tarde. É autor de quatro livros sobre montanhismo (entre eles Montanha em fúria, pela Editora Globo) e dois livros infantis (um deles é Carros e Companhia – Almanaques da Turma do Sítio, pela Globo Livros).

Divulgação

Dois pontos: Escrever para a setor automotivo foi sua primeira opção? Marcus Vinícius Gasques: Não. Foi uma opção que surgiu. Eu comecei com reportagens gerais no Jornal da Tarde, onde havia um espaço semanal para falar de carros e manutenção. Aos poucos eu fui orientado pelos profissionais que já escreviam há mais tempo e em 1982 surgiu o suplemento Jornal do Carro, no Jornal da Tarde, no qual trabalhei até 2000. Foi uma transição natural.

Marcus Vinícius Gasques: É trabalhoso, pois nós lidamos com uma indústria muito poderosa financeiramente. Quase sempre levamos o carro para a pista e realizamos testes nos veículos para analisar as questões técnicas e obter as informações que os consumidores desejam. As publicações acabam por ser muito importantes, pois as reações do público e da imprensa afetam diretamente o setor automobilístico. É claro que eles não ficam felizes quando fazemos alguma crítica, mas isso é que dá credibilidade e autonomia Dois pontos: Quais os principais desafios da revista. para trabalhar com essa área? Marcus Vinícius Gasques: Por ser bem seg- Dois pontos: Não tem como falar da inmentado, não atende um público muito am- dústria automotiva sem associar ao merplo. É um leitor extremamente apaixonado, cado de tecnologia. Atualmente como que busca saber de tudo o quanto antes. En- você vê esse segmento comparado ao inítão, o maior desafio do jornalista é se manter cio da sua carreira? sempre atualizado e antecipar as informações Marcus Vinícius Gasques: Há pelo menos da indústria e seus lançamentos, além de ser seis anos o mercado automobilístico no Bramuito preciso. Por se tratar de um investi- sil só cresce. Já vi fases diferentes, o mercado mento, trabalhamos com dados técnicos e os brasileiro já foi muito menor do que é hoje. leitores buscam a exatidão para não errar no A cadeia da indústria automobilística emmomento da escolha, por exemplo. prega muitas pessoas e gera muita riqueza. Esse mercado estagnou no hemisfério norte. Dois pontos: Você escreveu quatro livros Onde a população já está motorizada, o mersobre montanhismo. De que forma a prá- cado não cresce como há alguns anos. Por tica desse esporte acrescenta em seu tra- este motivo, a Europa do Leste, Brasil e Amébalho com um público que é apaixonado rica Latina têm um potencial de crescimento por carros? relativamente grande. A distribuição de renMarcus Vinícius Gasques: Para a profissão da e o acesso dos consumidores a financiade jornalista a gente acaba sendo um escritor mentos, também contribui para a expansão pautado. É preciso ter sensibilidade ao co- do setor. locar as informações no papel, então a vida pessoal e tudo aquilo que está ligado à rotina traz um reflexo no trabalho. Estar à frente de uma redação, uma revista mensal, no site, nas versões mobile e no boletim na CBN, não é diferente da experiência de se subir uma montanha. É necessário todo um planejamento e logística.

Marcus Vinícius Gasques conta sua trajetória até chegar à redação da Autoesporte

“As publicações acabam por ser muito importantes, pois as reações do público e da imprensa afetam diretamente o setor automobilístico”

Dois pontos: Como lidar com os interesses ao escrever sobre automóveis?

DOIS PONTOS | 3


Reportagem | Clássico

Reportagem | Rotina

No podium da informação

Jornalismo em alta velocidade

Por Bárbara Soares

Por Davi Vieira

Referência para qualquer amante do mundo sobre rodas, o Jornal do Carro é leitura obrigatória para quem quer se manter informado sobre as tendências do mercado de veículos

Quem trabalha na redação do Jornal do Carro são pessoas realmente apaixonadas por carro e bons jornalistas”. É assim que Tião Oliveira, editor-chefe do Jornal do Carro desde 2008, define sua equipe. Em 1966 era uma coluna que tratava do mercado de automóveis e aparecia quase sempre na parte de economia do Jornal da Tarde. Aos poucos, ganhou autonomia para circular entre as páginas até virar um suplemento tabloide, formato que mantem até hoje. As 16 páginas viram referência em tendências e mercado de veículos. A ideia inicial não se sabe de quem foi, mas acredita-se que Mino Carta é seu principal idealizador, apesar de haver até quatro nomes como “pai” do Jornal. “Quando o filho faz sucesso e é famoso, tem um monte de pais”, explica Tião.

O editor defende a teoria de que o caderno foi criado por uma equipe em agosto de 1982, como suplemento quinzenal. Surgiu por necessidade do mercado, que na época não tinha o auxílio da internet para realizar cotações de preços e tabelas de carros usados, mas precisava disso. A equipe era formada por algo entre seis e 10 pessoas, incluindo fotógrafos, repórteres e diagramador exclusivo. Hoje são 10 para o impresso e o site. No ano seguinte, devido ao sucesso, tornou-se semanal e ganhou prêmios. Com a movimentação do mercado e a necessidade de adaptar-se às novas tendências, ganhou uma edição também aos sábados em 1984. “Buscamos acompanhar as tendências de mercado, que é nosso foco principal. O suplemento encolhe ou diminui de acordo com as necessidades. As variações e mudan-

ças acontecem conforme o mercado exige”, diz o editor-chefe. A credibilidade adquirida pelo Jornal do Carro se deu através das tabelas e principalmente de seu conteúdo editorial. A prática de bom jornalismo, aliada à ausência de sensacionalismo, apuração bem feita e trabalho de qualidade são seus principais diferenciais. Tião diz não haver concorrentes no setor de jornais à altura do tabloide. “Aqui em São Paulo não considero nenhum outro caderno de automóveis como concorrente. Levo em conta as revistas. Somos fonte. No caminho que vamos, o jornalismo automobilístico vai junto”, finaliza. O editor-chefe comenta que o Jornal do Carro é o mais respeitado e o mais forte do Brasil. Tem pautas próprias que acabam pautando emissoras de TV e revistas. “A influência que exerce é grande, suas criticas causam preocupações em empresas automobilísticas”, explica. Atualmente integra outras formas de mídia, com site em atualização constante. Tem programação de rádio e um boletim diário, além do Programa Jornal do Carro. Há ainda uma pequena participação na TV Estadão veiculada na internet. De acordo com Tião, são mídias complementares que não se conflitam. É dinâmico e aborda várias linguagens com suas particularidades. ”Do ponto de vista de experiência profissional é muito enriquecedora porque você tem a oportunidade de trabalhar em mídias diferentes”, diz. Com o fim do Jornal da Tarde, no final de outubro de 2012, o suplemento foi incorpoReprodução rado ao Estadão. O Jornal do Carro foi o único produto do antigo jornal que sobreviveu. A incorporação do suplemento faz a circulação do Estadão crescer 25 mil exemplares. Seus leitores são homens entre 30 e 40 anos pertencentes às classes B+ e A. Há uma preocupação em tentar atingir mais mulheres, mas o editor diz que no segmento de veículos isso é complicado. “É um ramo com uma linguagem masculina. Não encontramos forma de abordá-las, de falar pra mulher sobre automóvel. Essa é a maior dificuldade, pois não é o assunto que interessa muito a elas”, explica. Tião traz em sua bagagem muita experiência, pois está no suplemento há 15 anos. “Tenho um ‘zilhão’ de histórias aqui dentro! Engraçadas, curiosas, mas não publicáveis. Capa do Jornal do Carro, uma das edições É muita bobagem, acho que ficaria mal pra de outubro de 2013, com o suplemento mim! (risos)”, finaliza. incorporado ao Estadão

A prática de bom jornalismo, aliada à ausência de sensacionalismo, apuração bem feita e trabalho de qualidade são seus principais diferenciais

Reprodução

Capa do Jornal do Carro, uma das edições de outubro de 2012, quando ele ainda era suplemento do Jornal da Tarde 4 | DOIS PONTOS

O ambiente é descontraído, mas o trabalho é sério! Gostar de carros não é obrigatório, mas amar uma boa apuração é essencial

N

a parede há uma foto do cantor sul coreano Psy, e, em uma baia, um cabide pendurado. Na televisão nada de corrida, e o programa do dia é o duelo entre Milan e Barcelona, jogo válido pela Champions League, mas o som é abafado por conversas paralelas, é claro, sobre carros. Assim é a redação da Quatro Rodas, a principal revista do segmento no país. A equipe de texto é composta por um editor chefe, um redator chefe, três editores, uma repórter e um estagiário, e a turma é quieta. Todos estão compenetrados em seus computadores com grandes fones de ouvido para o barulho não atrapalhar na hora de escrever. Coisas de jornalista. Na tela do computador sempre há algo relacionado a carros, se não é um texto, é um site ou papel de parede. A concentração é necessária, afinal, a publicação prende-se aos pequenos detalhes porque são eles que tornam a Quatro Rodas referência no assunto no Brasil. “É muito gratificante quando recebemos um e-mail elogiando uma pequena foto que saiu lá no final da edição. Ela parece que é de banco de imagens, porém, tivemos muito trabalho para produzi-la”, explica o redator chefe da Quatro Rodas, Zeca Chaves.

Embora seja uma revista mensal, engana-se quem acredita que esse tempo deixa a equipe mais relaxada. O processo de produção começa com a reunião de pauta, que acontece sempre depois do fechamento da edição anterior. Todos têm o direito e o dever de participar das discussões e nem sempre uma ideia rende uma matéria, mas pode ser aproveitada como nota ou tornar-se uma reportagem posteriormente. A apuração é feita de acordo com a demanda, dependendo do tamanho do texto e da complexidade da apuração, mas geralmente dura de uma a duas semanas. É raro um texto ser escrito na parte da manhã e entregue logo na parte da tarde para o fechamento da edição. Jornalismo de automóveis é baseado, sobretudo, nos detalhes e, por isso, a apuração deve abordar os pormenores do carro. O trabalho não se restringe apenas a redação, ele também é levado para casa. Os test-drives quando não são feitos na pista de testes utilizados pela publicação em Limeira, são feitos no dia a dia nas ruas do bairro onde os repórteres moram. Eles podem ficar até cinco dias com os carros, para analisar como o veículo se comporta em subidas, descidas, pistas irregulares, entre outros. É comum que outros profissionais levem o carro

para comparar as informações. Se um jornalista tem mais afinidade com um veículo, por exemplo, um Porshe, é provável que ele faça a análise do automóvel. Saber dirigir e ter carta de motorista não são obrigações para trabalhar na Quatro Rodas. O procedimento é como o de qualquer grande veículo de comunicação, o importante é o texto, porém, paixão é um grande diferencial. “Todos os que trabalham aqui têm paixão pelo que fazem e já pensaram, assim como eu, que trabalhar na revista seria um sonho distante”, afirma Zeca Chaves. O ambiente é tranquilo, o espaço da redação é grande, as mesas são amplas e, como não podia faltar, há uma máquina de café, muito frequentada por sinal. A relação entre os colaboradores é bem cordial, o que deixa o trabalho mais gostoso de se fazer. O prédio oferece tudo, há restaurantes, farmácias, praça de convivência, bancos e um refeitório, que proporcionam mais tranquilidade durante a hora do almoço, já que não é necessário sair do edifício para resolver alguns problemas. “Não há como não se apaixonar por tudo o que envolve esse segmento de jornalismo. Ele é fascinante, motivador e cada detalhe que pensamos é para proporcionar o melhor para o leitor. Não apenas trabalhamos como amamos o que fazemos”, diz Zeca.

Davi Vieira

Reprodução

Reconhecida por seus bons textos e minucioso processo de apuração, a redação da Quatro Rodas trabalha concentrada

Capa da Quatro Rodas, edição de novembro/2013 DOIS PONTOS | 5


Reportagem | Olhar Crítico

Reportagem | Mercado de Trabalho

Só para meninos?

Motorista de primeira viagem

Dissertação de mestrado debate as “representações de masculinidade” nas páginas da revista Quatro Rodas

Por Karen Bezerra

Por Karen Bezerra

A

professora de ensino fundamental Adriza Figliuzzi cursava pós-graduação em educação e necessitava de um assunto para sua dissertação de mestrado. O tema escolhido foi Homens sobre Rodas: representações de masculinidade nas páginas da revista Quatro Rodas. O trabalho foi defendido em 2008 na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, na Faculdade de Educação, sob orientação do professor Fernando Seffner. A linha de pesquisa do estudo foi decidida antes mesmo do início do curso. “O tema das masculinidades surgiu quando comecei a fazer

As questões evidenciadas nas revistas analisadas tiram proveito de assuntos cotidianos e enfatizam o regime da heteronormatividade

Reprodução

disciplinas ainda como ouvinte. Eu queria algo que estivesse relacionado ao gênero e à sexualidade, e me inscrevi num seminário que discutia estes enfoques com ênfase nas masculinidades. Numa aula comentaram sobre as revistas de automóveis, como eu tinha coleção em casa trouxe para a sala e o tema foi se desdobrando e se tornando interessante”, explica a professora. Depois de definida a linha de pesquisa, o próximo passo foi decidir qual objeto seria usado para a pesquisa. Adriza conta que analisou diversas opções antes de chegar na Quatro Rodas. “Peguei diferentes revistas que estavam circulando e comecei a ler e observar as possibilidades, semelhanças, diferenças, chamadas de reportagem, editorial e algumas propagandas. Minha visão foi simplesmente de pesquisadora, meu olhar, em nenhum momento, foi de analisar aspectos técnicos de como foi estruturada a revista”, completa. A decisão por um veículo segmentado se deu em razão do tema, que buscava uma identidade de “coisas de menino”, como futebol e carros. A partir daí, surgiu a opção pela Quatro Rodas. “Toda a revista tem um currículo, uma intenção pedagógica. Depois, a percepção de que a revista aborda os assuntos cotidianos, que trazem possibilidades de se pensar na construção de padrões e comportamentos esperados tanto para o masculino como para o feminino”, conclui Adriza.

Reprodução

A revista Quatro Rodas foi objeto de uma pesquisa de mestrado no Rio Grande do Sul 6 | DOIS PONTOS

A área de veículos é acessível para qualquer estudante de jornalismo que tenha interesse no segmento. E ele não precisa entender sobre mecânica avançada, só a básica

A pesquisa levou dois anos e meio para ser concluída, Adriza selecionou 13 edições da revista Quatro Rodas do ano de 2006 para analisar a pluralidade dos discursos veiculados através da revista, que operaram dentro da sociedade, em que os conceitos de masculinidade, identidade e heterossexualidade são expostos. “Na medida em que escrevia e apresentava ao professor orientador, ora ele sinalizava que a construção teórica apresentada poderia ser dividida, transformando-se em mais de um capítulo e, em outras vezes, foi preciso dar conta de especificidades de determinados conceitos com os quais decidi trabalhar e que orientaram na produção da pesquisa”, conta Adriza. A dissertação tem como referênciais teóricos, contribuições dos Estudos Culturais e de Gênero, em aproximação com a perspectiva pós-estruturalista. De acordo com o resumo do trabalho, “as imagens, propagandas e reportagens escolhidas para a pesquisa, em alguma medida, destacaram-se por associarem de maneira mais oportuna as possíveis masculinidades engendradas nos itens e assuntos evidenciados para análise. As identidades de gênero e sexualidades presentes na mídia posicionaram-se como um dos vieses que possibilitaram tais escolhas.” A autora ainda escreve que “foi possível perceber que a revista Quatro Rodas dispõe da heterossexualidade como uma prática naturalizada, aquela que é considerada “normal”. As questões evidenciadas nas revistas analisadas tiram proveito de assuntos cotidianos e enfatizam o regime da heteronormatividade. A posição social do homem está relacionada ao tipo de carro que possui, bem como ao conhecimento que demonstra ter sobre os carros e o mundo automobilístico de maneira geral.” A dissertação tem seis capítulos e 179 páginas, incluindo os anexos. O texto discorre sobre casos cotidianos em que a masculinidade relacionada a carros é exposta, e faz relação com a revista e com teorias de pesquisadores do gênero e questionamentos da autora. O estudo usa situações do cotidiano e textos da revista para argumentar e expor as teses que apontam a masculinidade do veículo. Para Adriza, seu estudo fortalece o tema no meio educacional. “Os questionamentos que trouxeram as inquietações e me fizeram desenvolver a pesquisa são relacionadas às representações de masculinidades que estão sendo produzidas a partir da revista Quatro Rodas e o quanto de investimentos são feitos para demarcar a heterossexualidade”, esclarece.

O

mercado jornalístico passa por um momento de transformação muito importante. Com o acesso às tecnologias móveis, qualquer pessoa com um bom celular, se presenciar um fato, pode captar uma notícia e compartilhar com o mundo. Essa é uma tendência da geração Y e não há muito que fazer, o jeito é se adaptar. A mídia impressa tradicional se adequou às novas tecnologias e colocou na rede as versões on-line de seus veículos. No ramo automotivo existem diversas revistas especializadas na área, que além de informarem seus leitores sobre lançamentos também avaliam os carros. A seção de testes é essencial para os periódicos do ramo. O mercado de impressos da área parece promissor, é o que aponta o jornalista Sergio Berezovsky, diretor de redação da revista Quatro Rodas durante sete anos. “A julgar pelos investimentos que as marcas vêm fazendo no Brasil nos últimos tempos, é possível imaginar que haverá um aumento de demanda de jornalistas especializados no segmento automotivo. A tendência é que o assunto ganhe cada vez mais espaço na cobertura. E como consequência, vai necessitar mais gente dos dois lados, nos veículos de comunicação e nas empresas”, explica. Apesar de próspero, não existem novas revistas surgindo na área de veículos, já na internet os profissionais lançam material novo. Segundo Fernando Soares, editor do periódico on-line Jornalistas&Cia – Imprensa Automotiva, a rede é uma opção para continuar trabalhando. “Com salários mais altos, jornalistas mais experientes encontram dificuldade em encontrar trabalho nas principais redações e cada vez mais surgem blogs ou páginas pessoais tocadas por esses profissionais”, comenta. A área, como qualquer outra, é acessível para estudantes. Segundo Sergio, é fundamental que o futuro jornalista goste do assunto antes de tudo. “Quando se vê de longe, a impressão que as pessoas têm é de que o universo automotivo é restrito, técnico. Isso não é verdade. Trata-se de um mundo amplo, que exige uma boa dose de versatilidade do profissional. Vale a regra universal para o bom repórter de qualquer área: a questão é saber onde buscar a boa informação”, explica o jornalista. Fernando trabalha em um veículo dedicado à atuação da mídia especializada e conta que algumas habilidades são importantes. “Já

há algum tempo que o inglês deixou de ser diferencial, carteira de motorista também é mais do que necessário, até por conta dos testes com carros. Essa é uma área que até aceita quem ainda não domina o texto jornalístico, mas é implacável com quem não conhece nada sobre carro. O estudante não precisa necessariamente saber desmontar e montar um motor, mas conhecer um pouco da história e estar antenado com o mercado automobilístico é fundamental”, aponta o editor. Existem cursos para quem quer se aprimorar no ramo, tudo depende da demanda e interesse. Cursos de pilotagem e workshops de técnicas de direção são algumas opções destinadas à formação técnica de um jornalista, além das dezenas de salões de exposição voltados para o segmento, simpósios e congressos que sempre trazem novidades para área. O caminho para o ramo de veículos é aberto a todos os estudantes. Apesar do carro não ser acessível a todas as classes sociais, o mercado jornalístico é. “Não é preciso ter uma Ferrari para escrever sobre ela. Acredito no esforço e na vontade. Como profissional da área há alguns bons anos, tive a felicidade de ver novos talentos surgirem independentemente te da sua classe social. Aliás, arrisco dizer, com perdão do trocadilho, que a área de carros tem muita mobilidade, em todos os sentidos”, defende Sergio.

Jota Martins

DOIS PONTOS | 7


Seção | Sugestões & Dicas

Para ler Jornal do Carro

Auto Esporte

Quatro Rodas

É a primeira opção de leitura de todo apaixonado pelo tema. Teve inicio como um suplemento do Jornal da Tarde e hoje está no Estadão.

A revista traz aos apaixonados por veículos as novidades, análises e testes dos lançamentos nacionais e internacionais.

Lançada em 1960, foi a primeira revista do país destinada a veículos. É leitura obrigatória para quem quer trabalhar com o tema ou gosta da área.

Contagiros contagiros.com.br Informa sobre o que acontece no mercado de veículos e motos. Nasceu da paixão de pessoas que se interessam pelo universo dos motores.

Icarros icarros.com.br/noticias/ index.jsp O site traz notícias e análises de veículos. Conta com acervo de vídeos que mostram dicas para ajudar os motoristas.

Loucos por Carro – History Channel

Top Gear – History Channel

Aborda a história de pessoas que compram carros ou motos clássicos e fazem uma reforma geral. Estrelado por Danny Konder.

É uma série da BBC. Cheia de ação e adrenalina, traz um olhar nada convencional da arte de dirigir.

Motorcast blogmotor.net/motorcast

CarStuff carstuffshow.com

Realizado pelo “Blog Motor” traz informações com bom humor aos ouvintes. Para ouvir no seu computador ou celular.

É um arquivo de áudio digital que relata emocionantes histórias e descobertas automotivas de Scott Benjamin e Ben Bowlin.

Rádio SulAmérica Trânsito FM Com a programação focada no trânsito da região metropolitana de São Paulo, presta serviço para o ouvinte se locomover melhor.

Para navegar

Dirigindo blogs.jornaldaparaiba. com.br/dirigindo Maurício Melo testa carros e divide a experiência com os leitores Dá dicas de manutenção e consertos para o dia-a-dia.

Para assistir

Vrum – SBT Apresentado por Emilio Camanzi e Estefânia Farias. Traz novidades, testes de carros, opiniões de proprietários.

Para ouvir

8 | DOIS PONTOS


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.