FASCÍCULOS DE JORNALISMO - COMPREENDER A PROFISSÃO
Jornalismo & Viagem Destino, aventura, hotel, turismo, guia, bagagem, passagem, informação, passaporte, férias... Você se interessa por viagem? Então, entre neste fascículo. Venha conhecer os detalhes da imprensa que cobre esta área: a opinião de importantes profissionais, a história de grandes veículos e as tendências do mercado de trabalho para futuros jornalistas
Apresentação | Caro leitor
Expediente
Hora de embarcar!
O
fascículo Viagem apresenta aos estudantes de jornalismo um diversificado segmento que consiste em desvendar os pontos turísticos ao redor do mundo, através de textos especializados na área. O comum seria que os profissionais fossem até os destinos para melhores apurações, porém os altos custos para os veículos têm deixado o jornalista, muitas vezes, com um trabalho restrito à pesquisa por internet e telefone. O repórter deste setor precisa expor ao leitor as melhores condições de transporte, hotelaria, entretenimento e infraestrutura. Deve ter um olhar crítico para atrair a atenção do turista a visitar os locais. Para ser correspondente internacional, é necessário que o profissional seja fluente em outras línguas. Neste fascículo serão apresentadas dicas do que ler, ouvir, assistir e pesquisar sobre o assunto, a rotina em uma redação de jornalismo turístico, como é ser repórter nesse ramo, as tendência para o mercado de trabalho, entre outros assuntos relevantes.
Seção | Depoimento “Coisas novas para aprender e descobrir”
Chanceler Alzira Altenfelder Silva Mesquita Reitor José Reinaldo Altenfelder Silva Mesquita Pró-reitor de Graduação Luis Antônio Baffile Leoni Pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Alberto Mesquita Filho Pró-reitoria de Extensão Lílian Brando G. Mesquita Diretor da Faculdade de LACCE Rosário Antonio D’Agostino Coordenação do Curso de Jornalismo Anderson Fazoli
Dois Pontos é um projeto experimental dos alunos de jornalismo (3ACSNJO e 3MCSNJO), desenvolvido na disciplina Jornalismo Impresso, em 2013. Orientação e Coordenação editorial Profa. Jaqueline Lemos (MTB 657/GO)
“Meu nome é Andressa Bianchi Semolini de Amorim Leal. O turismo tem seus atrativos iniciais pela diversidade cultural, étnica e religiosa distribuída no mundo, criando oportunidades para cada turista ter a sua percepção particular do belo e inspirador encontrado em cada local. Amo o tema, pois quando falamos de turismo automaticamente ele nos remete à história, que nos lembra de cultura, tradição e patrimônio. E o patrimônio é o que nos foi deixado como herança dos povos antepassados, uma recordação de seus grandes feitos. É um tema sobre o qual sempre teremos coisas novas para aprender e descobrir. Geralmente, quem é apaixonado por turismo é curioso e sempre está apto a adquirir novos conhecimentos. Costumo sempre estar de olho no site do Ministério do Turismo, no Jornal do Turismo, site do Panrotas, entre outros. Além disso, possuo assinatura da revista Viagem e Turismo, da editora Abril. O assunto é bem expansivo, temas e oportunidades não faltam. Sempre existirá algo para falar, escrever ou relatar, por exemplo, gastronomia de uma região, hospedagem, centros culturais, monumentos históricos, experiências boas ou ruins dos turistas, meios de transporte, eventos e serviços em geral. Um assunto que desde o ano passado tem se falado bastante e temos refletido é sobre a Copa de 2014. Isso tem nos preocupado bastante devido à falta de infraestrutura do país para receber turistas. Acredito que esse tema deveria ser mais abordado pelas mídias e divulgado com clareza aos cidadãos e turistas. As melhorias deveriam ter sido providenciadas anteriormente, logo quando o país foi escolhido para sediar o evento. Agora falta pouco tempo e estamos em contagem regressiva, mas podemos ainda ter algo a contribuir para que não seja um total desastre, e acredito que as mídias podem ajudar e muito.”
Revisão Prof. Daniel Paulo de Souza
Depoimento apurado pela repórter Débora Folego
Capa Bigstockphoto
2 | DOIS PONTOS
Diagramação Alexandre Ofélio (MTB 62748/SP) Redação Editora assistente Débora Folego (RA: 201113004) Repórteres Ana Paula Ferreira (RA: 201107607) Ana Carolina Machado (RA: 201113198) Gabriela Dias (RA: 201102202) Juliana Gomes (RA: 200912632)
Pingue-Pongue | Luciana Siqueira
“Permanecemos ligados ao que acontece pelo mundo” Fazer cobertura de turismo é trabalhoso, mas quem é que não gosta de falar sobre viagens?
Q Por Débora Folego
uando entrou no jornalismo ela se apaixonou pelo mundo dos impressos. Luciana Siqueira estudou em uma faculdade no Ipiranga, em São Paulo, bairro no qual morou a vida toda. Teve experiências em pequenas publicações de agências publicitárias. Chegou a ser editora da revista Corpo & Plástica. Porém, quando surgiu a oportunidade de trabalhar em uma editora totalmente especializada em revistas, não pensou duas vezes em largar tudo e voltar a ser repórter na Editora OnLine, onde há cinco anos está no núcleo de turismo.
Dois Pontos: Como é a revista na qual você trabalha? Luciana Siqueira: Nossa revista tem um molde diferente das convencionais, não possuímos anúncios, o foco é a venda em banca. São guias turísticos, que além das matérias têm informações complementares, como de hotéis, restaurantes, compras, vida noturna, com os valores que provavelmente os turistas encontrarão. Cada guia é de um lugar específico. Temos também os mapas, esses não contêm textos, apenas o mapa na parte frontal e os serviços no verso.
ca. Tem todo o trabalho de coleta de dados novos, por exemplo, ver se o hotel ainda existe, se o nome ainda é o mesmo, se os valores para a época que iremos lançar a revista será parecido, atualizar telefones.
Dois Pontos:Como é produzir o texto de turismo? Luciana Siqueira: Existe um padrão para seguir, pelo menos na Editora OnLine, primeiro é feito um panorama geral da região e do que os viajantes irão encontrar no destino. Apontamos os principais pontos turísticos, a vida diurna e a noturna, situando o leitor no Dois Pontos: Como é cobrir a área de via- lugar a ser visitado. gens e turismo? Luciana Siqueira: É bem trabalhoso. Pesqui- Dois Pontos: Mesmo sem ter viajado até o samos na internet, acompanhamos noticiá- destino é possível fazer essas matérias? rios, permanecemos ligados ao que acontece Luciana Siqueira: Esse é o “xis” da questão! pelo mundo. Além das mídias, ficamos por Anualmente renovamos as revistas, o novo dentro dessas notícias indo atrás das feiras de guia é lançado quando o antigo já saiu das hotéis e destinos. Mantemos também conta- bancas. É nesse momento que a pesquisa e to com o Ministério do Turismo, para saber apuração entram com tudo. Então, colocadas novidades. mos um enfoque diferenciado. Por exemplo, se nesse ano falamos da Torre Eiffel no guia Dois Pontos: De que maneira são definidos de Paris, ano que vem vamos evidenciar o os destinos? Museu do Louvre. Destacando também se Luciana Siqueira: Procuramos nos antecipar existem novidades. observando os destinos que serão tendência. Também existem aqueles lugares consa- Dois Pontos:Qual a principal característigrados, que são os que os brasileiros viajam ca da cobertura nessa área? mais. Para isso, consultamos o Ministério do Luciana Siqueira: É um segmento muito Turismo em busca de dados nacionais e in- caro de se fazer sempre in loco. Quando é a ternacionais. Como, por exemplo, quantos primeira vez que se fala do lugar, é imporbrasileiros foram para Miami durante o ano tante visitar, mas após isso a atualização sai de 2013? Sabendo esse dado, podemos esta- mais em conta. Então, é aceitável que seja belecer uma média para identificar a época em que o destino é mais visitado, com isso preparamos a edição para ser lançada pelo menos um mês e meio antes para o público consumir o guia e aproveitar na viagem. Dois Pontos: Com quanto tempo de antecedência vocês preparam uma publicação? Luciana Siqueira: Mais ou menos quatro meses antes até o momento de chegar à ban-
Débora Folego
A repórter Luciana Siqueira fala sobre a importância da pesquisa na área de viagens e turismo
feita pesquisa. Acredito que nas revistas convencionais eles fazem desse mesmo jeito. Aqui optamos por fazer assim: recebemos releases, falamos com pessoas do local e que já visitaram após nossa primeira apuração. Por isso, a pesquisa é extremamente essencial e funciona.
“Apontamos os principais pontos turísticos, a vida diurna e a noturna, situando o leitor no lugar a ser visitado” DOIS PONTOS | 3
Reportagem | História
Reportagem | Rotina
Os cenários do turismo
Páginas de puro glamour
Por Ana Paula Ferreira
Por Juliana Gomes
Há mais de meio século, a Hotelnews faz circular informações importantes do turismo e da hotelaria. A revista é focada no público-leitor que trabalha na área
C
om mais de 376 edições publicadas, a revista Hotelnews se consolidou no mercado, mantendo o entrosamento entre as empresas de segmentos turísticos e hoteleiras, tendo a preocupação de contextualizar esse cenário mundial através da importância da hospitalidade para o amadurecimento desse setor no Brasil. Criada através de um projeto ousado em 1960 no Rio de Janeiro por Magdala Castro empresaria, publicitária e jornalista autodidata, contou com a parceria de Ziraldo que na época já era um artista talentoso, porém pouco reconhecido. Através deste pontapé inicial tornou-se uma das protagonistas da história do turismo e hotelaria no Brasil. “Sempre trabalhei com turismo, decidi atuar na área de publicidade turística e abri uma agência, foi aí que entrei em contato com a rede hoteleira e não saí mais. Inicialmente planejei toda campanha publicitaria do lançamento do Hotel Trocadero e depois que lançamos a primeira edição da revista Othonews, que depois se transformou na Hotelnews”, relata a Magnala Castro, hoje com 89 anos. Contando com a ajuda do jornalista Normando Lopes, que passou a ser seu sócio, mudaram o nome da Aero Publicidade
Reprodução / Arquivo da Revista Hotelnews
Capa comemorativa dos 50 anos da revista Hotelnews em 2009 4 | DOIS PONTOS
para Norma Editora e juntos começaram a editar a nova revista segmentada. Foi através da publicação do primeiro exemplar que eles começaram realmente a atuar no jornalismo. Naquela época não existia publicação voltada exclusivamente para turismo, e a revista causou impacto no setor, além de trazer criticas. Uma matéria que marcou a atuação da revista no meio turístico foi feita em Portugal. Magdala e sua equipe jornalística foram convidadas pelo departamento turístico de Lisboa e ficaram no país durante 15 dias. Ao longo de mais de 50 anos, a revista passou por várias mudanças - editoriais e gráficas - até a configuração atual, que divide a estrutura editorial em oito editorias e seis seções. Foi a partir de 1992, que a direção ficou sob o comando de Rosa Maria Castro, que ao acompanhar a evolução do mercado editorial e do design gráfico, reestruturou totalmente a revista. O logotipo foi atualizado, novas editorias foram criadas, algumas seções mudaram o layout, além de modificar a qualidade do papel e o padrão no qual as revistas são impressas. Em 1993, a empresa, que ficava no Rio de Janeiro, foi transferida para São Paulo. A revista se estabeleceu na capital paulista e colaborou com seus editoriais para a criação do Ministério do Turismo e a reestruturação da Embratur (Empresa Brasileira de Turismo), a realização do 1° Fórum Mundial Reprodução / Arquivo da Revista Hotelnews de Turismo para a Paz e Desenvolvimento Sustentável e o processo de segmentação da hotelaria instalada no Brasil. Esta revista é um marco na história deste seguimento no Brasil. Mesmo com dificuldades e crescimento controlado, conquistou seu espaço com impacto e criatividade. Conforme Fátima Gatoeiro, editora da Hotelnews,”o jornalista que trabalha com turismo tem que ser dinâmico e gostar de viajar, claro. Mas é importante não ingressar no setor pensando apenas nas viagens. A cobertura exigirá do jornalista uma compreensão macro de uma atividade que impacta mais de cinquenta segmentos da economia. A carreira exigirá disponibilidade para conciliar a rotina do trabalho com as pessoais”. Ou seja, é preciso gostar do seguimento turístico para trabalhar nessa área, o perfil do jornalista tem que ser multitarefa e estar preparado para organizar bem o seu tempo alternado Edição de novembro/dezembro 2013 da entre a redação e as viagens. revista. Atualmente a publicação pode ser acessada também na versão digitalw
O turismo de luxo é o foco da Top Destinos. Uma revista jovem que apresenta os lugares mais badalados e refinados do mundo para seus leitores
U
m ambiente bem iluminado, pequeno e cheio de personalidade. É assim a redação da revista Top Destinos, no décimo primeiro andar de um edifício no Itaim Bibi, zona sul de São Paulo. Há sete anos no mercado, e ainda a única publicação voltada ao turismo de luxo, o foco é apresentar os roteiros mais badalados do mundo: hotéis, pontos turísticos, restaurantes; tudo com um toque requintado. O trabalho de planejamento de uma edição da Top Destinos vai além da escolha de pautas. A parte mais importante da seleção das reportagens é se ela possui imagem ou não. Quem conta esse processo é a repórter Camila Lara. “Se a matéria não tiver foto, ela não pode ser publicada. A fotografia é parte fundamental de uma revista de turismo, é através dela que o leitor se interessa ou não pelo lugar. Nós usamos imagens grandes e coloridas, que quase sempre vazam as margens da página, por isso elas têm que ter qualidade”, afirma. A maior parte do trabalho é feita dentro da redação, porém há um bom espaço para os freelas. No caso de fotos e reportagens, a revista possui colaboradores que vendem o material de algum roteiro que tenham feito ou é oferecido um convite de viagem, que resultará em material exclusivo para a Top Destinos.
“Nós recebemos muitos convites de assessoria de imprensa. Nesse caso, o repórter faz a viagem, segue o roteiro proposto, volta e vê o que a viagem rendeu. Por exemplo, uma matéria somente sobre o destino, ou sobre a gastronomia do lugar, um hotel. Eu discuto as opções com o repórter e planejamos a matéria que será publicada”, diz Nathália Hein, editora da Top Destinos. Os layouts são feitos pela diretora de arte, que inicia a montagem das matérias com as reportagens e fotos que entrarão naquela edição. “Se o repórter termina o texto antes da finalização dos layouts, informamos a quantidade de caracteres à diretora de arte. Ela pode tanto montar a matéria e informar com quantos toques ela ficou, para o repórter adequar sua reportagem ao modelo, quanto o layout pode ser feito baseado no tamanho da reportagem”, explica Camila Lara. As matérias montadas são encaminhadas à editora, que faz suas mudanças e envia para revisão. Com o material corrigido, são feitos os olhos e legendas, seguidos da impressão e montagem do boneco – feito numa pasta, exatamente da forma como a revista ficará. “Essa prévia da edição vai para a gráfica pela
primeira vez e ela nos envia uma prova da revista, só que em papel sulfite colado um no outro. Lemos tudo novamente, verificamos se há algum erro a ser corrigido e reenviamos à gráfica para impressão. Depois a Top Destinos irá para as bancas”, informa Nathália. A sessão Em Casa se destaca por ser a única matéria com destino nacional da publicação. “Matérias de Brasil são sempre as mais complicadas de se fazer, pois não há muitas fotos de divulgação. Temos sempre que comprar de um fotógrafo ou montar uma viagem para fotografar o lugar, porque o Ministério do Turismo ou não têm fotos ou são de baixa qualidade”, diz Camila. Algumas edições da Top Destinos têm um item a mais: o Luxury Guide, um guia de uma cidade específica, que não é, necessariamente, a mesma da capa. Dentro há um mapa dos pontos turísticos do local, os melhores hotéis, restaurantes e lugares para fazer compras. O guia é destinado, principalmente, a quem revisita aquela área. Ao contrário da primeira vez – quando procuram pontos mais conhecidos –, elas buscam coisas diferentes, e o material não envelhece.
A fotografia é parte fundamental de uma revista de turismo Juliana Gomes
Detalhe da redação da revista Top Destinos
Reprodução
Capa da revista Top Destinos, edição de agosto/2013 DOIS PONTOS | 5
Reportagem | Olhar Crítico
Reportagem | Mercado de Trabalho
Desenvolvimento impulsiona publicações de turismo
Existe jornalismo turístico?
Este é o questionamento do professor Marcelo Carmo Rodrigues, do departamento de turismo da Universidade Federal de Juiz de Fora
Crescimento econômico brasileiro faz ampliar o número de pessoas buscando informações especializadas em viagens
Por Ana Carolina Machado
Por Gabriela Dias
O
jornalismo turístico não é uma modalidade cheia de características ou regras. O profissional não tem um manual com informações do que um bom texto sobre turismo precisa oferecer ao seu leitor, ou com assuntos em que ele precisa se especializar. É claro que ser um conhecedor de história e apreciar a cultura de outros países e sociedades é importante, mas isso é tarefa de qualquer profissional do jornalismo não é mesmo? Obter o maior número de informações sobre diversos assuntos? Sendo assim, é difícil caracterizar um bom jornalismo turístico e se ele realmente existe. O artigo Para onde foi o “jornalismo turístico”? Análise de capas da revista Viagem & Turismo em 2007, escrito pelo professor do departamento de turismo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF),
A dedicação à pesquisa, à apuração e à qualidade do conteúdo é o que pode diferenciar as matérias Reprodução
Marcelo Carmo Rodrigues, já levantava questionamento sobre a existência dessa categoria no jornalismo. Ele analisou o conteúdo das 12 capas do ano de 2007 da revista Viagem & Turismo, publicação da Editora Abril, categorizando o seu conteúdo a partir dos critérios de valores de notícia utilizados por Nelson Traquina em seu livro Teorias do Jornalismo (Editora Insular). De acordo com a análise publicada no artigo, avaliando as matérias de capa da revista e outros textos, foi observado que as fotos ocupavam mais espaço que o texto redigido, existia uma aparente falta de atenção com o texto jornalístico, às vezes podendo chegar a um conteúdo quase literário, títulos sem preocupação com o tamanho e número de letras. A utilização de gírias e jargões populares também foram itens que compuseram a capa e o corpo das matérias. Passados cerca de seis da publicação do artigo, o fascículo Dois Pontos entrevistou o autor do texto. “Acredito que o certo seria usarmos a expressão jornalismo e turismo e não jornalismo turístico, já que por trás dos textos existe uma preocupação com a venda de um destino ou rota turística, há também uma priorização da imagem, porque vivemos em um tempo que ela é muito forte nas publicações, isso não que dizer que o conteúdo deixe a desejar, mas eles ficam no ‘be-a-bá’ parecendo com um caderno ou anotações de viagem. Estamos falando de um texto que não varia muito já que a preocupação é mercadológica, a revista ou o meio de comu-
nicação em geral quer abordar um tema que vai alavancar as vendas e não realizar novas descobertas”, afirma Marcelo. O artigo também ressalta que a existência da categoria “jornalismo turístico” ainda tem espaço para novas discussões: se existe, se é bem feito e como poderia ser realizado. Os estudos de Traquina auxiliam nesse raciocínio já que a maior parte dos valores-notícia estão presentes nos textos da revista Viagem & Turismo, só que com outros interesses e olhares. “Esse artigo foi feito há algum tempo e a minha percepção do que é jornalismo turístico se modificou ao decorrer desses últimos anos. Perguntei a um editor de TV se existia jornalismo turístico e ele me respondeu que, se para todas as modalidades jornalísticas o meio de comunicação tivesse que contratar um profissional específico, ficaria complicado. Eu concordo. O jornalismo conta com profissionais que se especializam em textos turísticos e dão as suas características a eles, mas falar que nós o possuímos essa categoria jornalística é complicado”, complementa Marcelo após seis anos da publicação de seu artigo. O profissional que deseja realizar textos sobre turismo não tem um caminho certo a ser seguido. Assim como outras editorias, a dedicação à pesquisa, à apuração e à qualidade do conteúdo é o que pode diferenciar as matérias, pois a existência do jornalismo turístico está mais para um ponto de vista do que para uma constatação.
Reprodução
Reprodução
Capas da revista Viagem & Turismo são analisadas por pesquisador 6 | DOIS PONTOS
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ventos esportivos e grandes investimentos internacionais aqueceram a moeda brasileira nos últimos anos. Não por menos, hoje o Brasil é um dos países mais fortes e estáveis no mundo. O ingresso cada vez maior de estudantes no ensino superior e a queda do desemprego também são sinais de uma economia promissora. Quase não se veem hoje reflexos da inflação descontrolada da década de 80. E, mesmo com a crise americana e a europeia atual, o bolso e a vida dos brasileiros não foram perceptivelmente atingidos, confirmando dados governamentais sobre o aumento da classe média e diminuição da miséria. “No Brasil, o setor primário da economia ainda é muito forte, mas ao analisar países como a Grécia, por exemplo, em que sua economia consiste essencialmente no mercado de turismo, observamos o quanto eles sofreram com a recente crise mundial, afinal de contas, em momentos difíceis quem irá viajar?”, questiona Arrarre Amoroso, matemático especialista nas áreas financeira e política. Segundo ele, em contrapartida, as mudanças culturais e econômicas deixaram para trás a ideia de que o turismo para os brasileiros se resumia a uma simples lua-de-mel. O desenvolvimento brasileiro impulsiona o jornalismo a explorar esse mercado que está diretamente relacionado ao lazer e à qualidade de vida. Atualmente, percebe-se no meio impresso uma “promoção do turismo”, oferecendo dicas de hotéis, gastronomia, pacotes, paisagens e apresentando aspectos positivos do local. A linguagem utilizada procura ser simples e ao mesmo tempo explicativa, porém sem aquela tonalidade de sedução muito comum em discursos publicitários. A tendência é que haja um aprofundamento, questionamentos e inovações. E através das palavras, fazer o leitor realmente “viajar” pelos locais citados, tendo informações suficientes para escolher o próximo destino de viagem. “O jornalista que pretende trabalhar com turismo deve primeiramente entender que não é somente viajando pelos lugares que ele irá fazer uma boa abordagem para o público leigo, é preciso se especializar e entender este setor como um mercado importante para a economia brasileira,” afirma o professor de marketing em turismo Shuy Wen Shin. Outro instrumento que também apresenta um grande poder atrativo nas reportagens é o uso de imagens. Locais limpos, paisagens
lindas e pessoas felizes fascinam o leitor, mas não se devem esquecer os aspectos que envolvem a tradição e a história do local. Uma ou duas imagens dentro de uma matéria é capaz de descrever uma determinada cidade e instigar o desejo de viajar no leitor. Segundo o professor, outro ponto frequentemente abordado, principalmente no mercado turístico brasileiro, é a preservação ambiental. “Desde que esse assunto ficou em alta, depois da virada do milênio, as viagens evidenciando ambientes naturais cresceram muito, juntamente com campanhas contra o desmatamento e desapropriação indígena”. O Brasil passa por uma nova fase no qual o turismo não é mais visto como antigamente, um passeio para ricos ou para um casal. Um aumento significativo desse setor jornalístico requer muita apuração assim como nas outras editorias, levando em consideração que uma viagem é um passeio escolhido e planejado a rigor, quase sempre com bastante antecedência. É neste ponto que o jornalista deve trabalhar o aprofundamento e a responsabilidade para que o público se sinta satisfeito, levando em consideração que esse lazer está também relacionado ao interesse público.
Jota Martins
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Seção | Sugestões & Dicas
Para ler 100 dicas para viajar melhor, de Ricardo Freire
As melhores viagens do mundo, Dorling Kindersley
Com bom humor, o autor incorpora às dicas os melhores lugares para se comer no Maranhão, Natal e Paris, por exemplo.
Da Publifolha, o livro que conta com doze destinos, um para cada mês do ano, ilustrados com fotos de tirar o fôlego.
Viagens para mãos de vaca maosdevaca.com O site dá dicas de pacotes e destinos mais baratos para todos os continentes e trabalham com a venda de guias.
Blog Rodei rodei.com.br
Destino Aventura – National Geographic Channel
Vai pra onde? – Multishow
50 por 1 – TV Record
Dois amigos embarcam em diversas jornadas diferentes para conhecer lugares exuberantes ao redor do mundo.
Apresentado por Bruno de Luca e está em sua oitava temporada. Apresenta com bom humor lugares do mundo inteiro.
“Um lugar não é para se ver, mas para se viver”, diz o apresentador Álvaro Garnero. O programa apresenta rotas turísticas e diversas informações.
Embarque na Viagem – Sul América RJ FM
Rádio Turismo turismo.gov.br
De Olho no Mundo – Rádio Estadão ESPN SP FM
A turismóloga Naira Amorelli, em edições diárias, aborda temas voltados ao turismo, lazer, entretenimento entre outros assuntos.
Rádio do Ministério do Turismo, com mini podcasts para dar notícias sobre o turismo brasileiro.
A apresentadora e os correspondentes internacionais dão dicas culturais e informam atualidades locais.
Viagem e Turismo É uma revista com conteúdo exclusivamente voltado ao turismo. Com dicas dos melhores roteiros, preços, hospedagem, entre outros.
Para navegar
Blog Vambora! vambora.com Oferece dicas de lugares e divide a viagem em categorias, o internauta pode ver em qual ele se enquadra e escolher o destino que mais combina com o seu estilo.
O jornalista Thiago Khorey, criador do blog, já viajou por mais de 30 países e descreve suas experiências em seus posts.
Para assistir
Para ouvir
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