Fascículo 21 jornalismo&futebol

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FASCÍCULOS DE JORNALISMO - COMPREENDER A PROFISSÃO

Jornalismo & Futebol Estádio, torcida, jogador, camisa, time, craque, juiz, bandeirinha, informação, técnico... Você é apaixonado por futebol? Então, entre neste fascículo. Venha conhecer os detalhes da imprensa que cobre esta área: a opinião de importantes profissionais, a história de grandes veículos e as tendências do mercado de trabalho para futuros jornalistas


Apresentação | Caro leitor

Expediente

A paixão de um país

O

fascículo Futebol apresenta aos estudantes de jornalismo o fascinante mundo da cobertura jornalística do esporte mais popular do Brasil. Muito mais que uma paixão nacional, o futebol mexe com o cotidiano de milhões de pessoas. É um assunto que sempre gera interesse, debates, polêmicas. É um assunto que vai além dos dois tempos de 45 minutos, vai além do campo e da torcida. Os leitores encontram diversas opções para acompanhar melhor seu time, seja pela internet, jornal ou revista. Há dezenas de equipe de profissionais que dedicam seu melhor para levar informação de qualidade aos torcedores. Para compreender melhor esta área de atuação, visitamos as redações de alguns veículos impressos e acompanhamos como é o trabalho de um repórter de campo, como funciona a rotina de um jornal. Aqui você também encontrará a história de uma das revistas de maior credibilidade na área. Além de matérias sobre as tendências para quem quer trabalhar no meio, o mercado futebolístico e outras dicas.

Chanceler Alzira Altenfelder Silva Mesquita Reitor José Reinaldo Altenfelder Silva Mesquita Pró-reitor de Graduação Luis Antônio Baffile Leoni Pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Alberto Mesquita Filho Pró-reitoria de Extensão Lílian Brando G. Mesquita Diretor da Faculdade de LACCE Rosário Antonio D’Agostino Coordenação do Curso de Jornalismo Anderson Fazoli

Seção | Depoimento “Mais profissionais experientes em campo”

Dois Pontos é um projeto experimental dos alunos de jornalismo (3ACSNJO e 3MCSNJO), desenvolvido na disciplina Jornalismo Impresso, em 2013. Orientação e Coordenação editorial Profa. Jaqueline Lemos (MTB 657/GO)

“Meu nome é José Carlos Lopes, tenho 55 anos, sou Gerente Administrador. Sempre gostei muito de ler sobre futebol, seja qual for a plataforma em que a notícia é oferecida. Sou leitor do Estadão em geral, mas sempre procuro dar uma olhada com mais atenção no caderno de esportes para estar por dentro das notícias. Os programas esportivos na televisão são consideravelmente bons, mas não são meus preferidos devido a falta de foco. O tema, por diversas vezes, é desviado de seu cerne e vagueia muito pelos merchandisings e objetivos próprios das emissoras. Por isso sou leitor assíduo e gosto muito da revista Placar, que, apesar de ter também suas propagandas e visões próprias, você consegue selecionar o que lê. Leio tudo que estiver relacionado ao esporte: novos treinadores, novos talentos, resultados de partidas, janelas de transferência de jogadores e até um pouco de suas vidas pessoais (risos). Ainda me lembro quando a Placar era semanal, em meados de 1990. Eu não assinava, apenas comprava algumas. Meu pai me dava, mas o conteúdo não tinha a qualidade de hoje. A impressão que eu tinha é que tudo era feito com muita pressa. Hoje posso ver que o conteúdo atual é muito bom e supre bem o que eu busco. Atualmente, acho o jornalismo da área muito bom e acredito que a tecnologia tem colaborado bastante para isso. Rápida transmissão de dados, alta tecnologia de comunicação, maior qualidade nas entregas de áudio e vídeo, entre outros. A única coisa que eu diria - visando a melhoria do ramo - seria colocar mais profissionais experientes em campo, gente de idade mesmo! Não que os novatos sejam ruins, mas acho que nenhuma faculdade supera a faculdade da vida, a experiência vivida! Por isso digo: um corpo que possui um olho que já viu muita coisa, dispõe de uma boca que tem para falar (ou mãos para escrever).” Depoimento apurado pelo repórter Moisés Canton

Revisão Prof. Daniel Paulo de Souza Diagramação Alexandre Ofélio (MTB 62748/SP) Redação Editora assistente Jeniffer Barros (RA 201107370) Repórteres Cristian Zucatelli (RA 201105591) Lucas Donini (RA 201100381) Moisés Canton (RA 200911077) Roberto Gozzi (RA 201114554) Vinicius Fidelis (RA 201104051) Capa

Tratong/Shutterstock 2 | DOIS PONTOS

Pingue-Pongue | Luiz Roberto Serrano Ceará

“É preciso analisar o que ocorre fora de campo”

Quando adolescente, ele sonhava ser músico. Hoje, Luiz Ceará comanda o microfone nos gramados dos estádios

Por Roberto Gozzi

L

uiz Roberto Serrano Ceará tem 63 anos, nasceu na cidade de Campinas no interior de São Paulo. Apaixonado por música desde garoto, foi baterista de cabelos longos de uma banda de rock. Ao final da adolescência escolheu cursar jornalismo. Talentoso, logo após a formatura foi trabalhar na Rádio Cultura e posteriormente na EPTV, empresa afiliada à Rede Globo em sua cidade natal. Em 10 anos seguiu para a matriz da emissora carioca, onde permaneceu por cerca de quatro anos. Ao longo da carreira passou pelas principais emissoras de TV do país: Globo, SBT, Band e agora Rede TV.

Dois Pontos: O que é preciso para falar de futebol? Luiz Ceará: Ser um estudioso, mas não só de futebol, hoje para falar de futebol você precisa saber de legislação, política, economia, não é fácil. Todo mundo fala de futebol, mas não são profissionais, é preciso analisar o que ocorre fora de campo.

na Copa do Mundo dos Estados Unidos fui o único repórter a conseguir entrar no gramado com microfone, pois o SBT tinha me conseguido uma credencial de fotógrafo. Em 1995 participei da cobertura da final da Copa do Brasil entre Corinthians e Grêmio, tivemos a maior audiência da emissora, até hoje, quase 60 pontos no Ibope. O país parou para ver o jogo. Ao lado de Antonio Dois Pontos: Você tem 42 anos de carreira, Petrin, fui um dos repórteres do jogo. Mas, viveu muito o futebol. Como começou? cinco anos depois, infelizmente o esporte Luiz Ceará: Comecei no jornalismo musical foi retirado da pauta da emissora. Foi quanna Rádio Cultura, quando fui trabalhar na do retornei à Band. EPTV paralelamente comecei a escrever sobre futebol para o jornal Correio Popular, de Dois Pontos: No SBT você cobriu três coCampinas. Fiquei trabalhando por lá durante pas do mundo e três olimpíadas. Foi sua oito anos. Nesse tempo cobri o Campeonato melhor fase? Paulista, mais precisamente os jogos da Pon- Luiz Ceará: Sim. Em 2000 quando sai de te Preta e Guarani. O que me deu uma gran- lá fui para a Band, mas não como repórde base para o que viria depois. ter principal, fiquei fora das copas de 2002 e 2006 e das olimpíadas de 2000, 2004 e Dois Pontos: Como foi a transição da EPTV 2008. Ainda cobri a copa de 2010, mas em para a Rede Globo? 2012 me desliguei da emissora, fui assumir Luiz Ceará: Apesar de o padrão ser o mesmo, é o comando da jornada esportiva da Rádio muito diferente. Em Campinas eu era reconhe- Metropolitana, de campinas. Neste ano fui cido regionalmente e no Rio era visto por todo convidado para trabalhar em um prograo País. Fiquei lá por quatro anos trabalhando ma esportivo na Rede TV, ao lado de Silvio apenas com jornalismo cotidiano, deixei o fu- Luiz, e Juarez Soares. tebol por um tempo. Recebi uma proposta do grupo Bandeirantes, em 1984, e aceitei. Fui tra- Dois Pontos: Qual conselho você dá a um balhar em São Paulo e adorei, na Band fazia jovem que quer ser jornalista de campo? jornalismo cotidiano também. Fiquei por mais Luiz Ceará: Acompanhar campeonatos de seis anos. Foi quando o SBT investiu no esporte menores expressões, de preferência amadoe contratou muita gente boa. Recebi uma liga- res, pois é lá que se aprende. E estudar muição do diretor geral de jornalismo da emissora que me oferece algo novo, iria ser o principal repórter de esporte do grupo. Eu disse que não tinha tanta experiência e que não trabalhava com esporte há muito tempo, mas aceitei e fui trabalhar com eles. Dois Pontos: No SBT você despontou no cenário nacional com muito destaque por causa do futebol. Como foi? Luiz Ceará: Logo no primeiro ano fui cobrir a copa de 1990, foi incrível. Em 1994,

Gustavo Gozzi

Luiz Ceará tem mais de 40 anos de experiência no jornalismo

to, não apenas ver o time de coração, mas ver o rival e todos os jogos possíveis, tentar enxergar o futebol com profissionalismo e não com paixão, é ai que muita gente se confunde e acaba perdendo espaço, por ter certa ignorância.

“Para falar de futebol você precisa saber de legislação, política, economia... Não é fácil” DOIS PONTOS | 3


Reportagem | História

Reportagem | Rotina

A revista que é 100% futebol

A informação no ritmo do jogo

A Placar nasceu em meio ao clima de Copa de Mundo e reuniu o talento do jornalismo brasileiro. Ao longo de décadas, várias transformações aconteceram. Mas uma paixão permaneceu: a bola

Por Jeniffer Barros

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Por Jeniffer Barros

edição n° 1 da Placar chegou às bancas em 20 de março de 1970 com Pelé na capa. Idealizada alguns anos antes por Cláudio de Souza, foi fundada por Victor Civita, da Editora Abril. Com a Copa do Mundo de 1970 e a implantação da Loteria Esportiva, a Abril decidiu que era o momento para lançar uma revista dedicada a uma das maiores paixões dos brasileiros. A publicação vinha com uma equipe respeitável de jornalistas vencedores de prêmios Esso e estrelas da época que trabalhavam na extinta revista Realidade. No início dos anos 70, o futebol era um tema sem espaço aprofundado nos veículos impressos. “A Placar unificou as informações sobre futebol no Brasil, funcionando como uma rede que levava aos torcedores notícias de times que antes eles não conheciam e se tornou a principal fonte de conhecimento sobre futebol”, conta Marcos Sergio Silva, editor da revista. A Placar investia em brindes e pôsteres de ídolos como Sócrates e Zico. Quatro anos depois, ela passa por sua primeira grande reformulação, se torna a “Placar outros esportes” e ganha uma segunda redação. Permanece

Jornalismo investigativo é um dos pilares da Placar dessa forma até 1988. Um ano depois, volta ao nome original e circula até duas semanas após a Copa do Mundo de 90. “A revista sofreu com a perda da Seleção, pois, sempre que o país sofre uma decepção na Copa, o setor perde junto”, conta o editor. A Placar é substituída por “A semana em ação” que, para Marcos, “foi uma aposta que não deu certo”. Em suas 31 edições trazia notícias sobre esportes, mulheres nuas e lazer. Em 1994, o Brasil vence o tetracampeonato e a Placar volta a circular com o slogan “Futebol, sexo e rock’n roll”. O formato passa a ser de 27,5cm x 35,8cm e os jornalistas são substituídos, com exceção a Manoel Coelho e Paulo Vinicius Coelho. “Em janeiro de 1997, ela passa a ter uma temática mais séria, com reportagens investigativas”, completa Marcos Sergio. A Placar permanece sem mudanças até 2001, passando a sair semanalmente até 2002. De fevereiro a junho de 2002 são lançados especiais. Durante a Copa do Mundo

envia um repórter e um fotógrafo e lança uma edição a cada jogo da Seleção. Como o Brasil venceu o Pentacampeonato, foram seis edições e um especial sobre a vitória. Com o Campeonato Brasileiro passando a ser por pontos corridos em 2003, a Placar volta a ter demanda e passa a ser mensal a partir de 2004. Atualmente, a revista é totalmente dedicada ao futebol. “O jornalismo investigativo é um dos pilares do novo projeto editorial que estreou em 2013. A ideia é reforçar pautas como o dossiê sobre abuso sexual nas categorias de base (publicado em abril). O principal desafio é trabalhar informações exclusivas em reportagens mais aprofundadas que não dependam do tempo para manter sua relevância”, explica o repórter Breiller Pires. Na avaliação do repórter, a Placar já deu um grande salto ao adaptar e disponibilizar a edição para tablets. “O futuro do jornalismo passa pelo digital e é o caminho para a manutenção da espécie”, completa. O próximo passo da direção é aprimorar a cobertura para a internet. A Copa do Mundo que acontecerá no Brasil em 2014 será um gancho para essa guinada.

DICA DE LEITURA Reprodução

Edição n° 1 com Pelé na capa, em março de 1970 4 | DOIS PONTOS

O LANCE! conquistou os leitores brasileiros focando na cobertura exclusiva de esportes, em especial de futebol. Com duas redações, uma no Rio de Janeiro e outra em São Paulo, os jornalistas trabalham em sintonia. Conheça o cotidiano da redação paulistana do jornal!

Reprodução

Edição de julho/2012, destacando a participação do Brasil nas Olipíadas

jornal LANCE! é o 15° jornal de maior circulação do país, de acordo com dados divulgados pela Associação Nacional de Jornais e tem uma média de circulação de 80 mil exemplares (dados de 2012). Com periodicidade diária, é um jornal totalmente dedicado ao esporte, com maior destaque para o futebol, mas também cobre vôlei, basquete e futsal. É veiculado prioritariamente no Rio de Janeiro e em São Paulo. As duas redações trabalham em sintonia na produção de conteúdos. Rafael Bullara é editor em São Paulo e responsável pelo núcleo do São Paulo Futebol Clube. “São quatro núcleos de acordo com os times (Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos), cada um com um editor e quatro repórteres. Há um editor-chefe e um repórter para o LANCE! TV, além da equipe de arte e os fotógrafos”, esclarece sobre a divisão de trabalho na redação. A rotina muda de acordo com o dia. Quando não acontece jogo, as equipes do Rio e São Paulo fazem uma reunião de pauta logo pela manhã por meio de videoconferência. Nela fazem um rascunho do espelho das duas edições. Após isso, editores se reúnem com seus respectivos repórteres em busca das matérias e começam a planejar a diagramação com a equipe da arte. Em dias de jogos, o editor assiste à partida do time de seu núcleo na redação. E, neste

caso, a reunião de pauta não acontece no dia seguinte, uma vez que a equipe entra mais tarde. Porém, a comunicação Rio-São Paulo é feita e as duas redações trabalham sempe em sintonia. O editor destaca a importância disso. “A videoconferência é a parte principal da rotina de trabalho, pois é o momento em que se define um espelho para o jornal, para o LANCE!TV e para as redes sociais. O importante é ter o espelho que funciona como uma espinha dorsal, logo pela manhã”. A cobertura dos jogos é feita pelo editorchefe (responsável por fechar a capa), o editor do núcleo do time que está em campo e o repórter escalado para o plantão. Em dias de clássicos (como São Paulo x Santos) e com jogo paralelo do Corinthians, por exemplo, praticamente toda a equipe permanece na redação. Os jornalistas produzem os textos enquanto assistem ao jogo pela televisão e ao término só realizam os ajustes finais. O fechamento da capa e matérias acontece até, no máximo, 20 minutos após o final da partida. Questionado sobre as dificuldades das afinidades pessoais de cada repórter com um

As duas redações (Rio e São Paulo) trabalham em sintonia na produção de conteúdos Rafael Bullara

Um minucioso trabalho de apuração das melhores histórias dos bastidores da revista Placar pode ser lido na obra Onde o esporte se reinventa, de Bruno Chiarioni e Márcio Kroehn, publicado pela Primavera Editorial, 2010.

determinado time e o trabalho, Bullara responde: “Torcer por algum time e trabalhar no núcleo de outro não influencia. Dentro de cada núcleo há pessoas que torcem pela mesma agremiação que fazem a cobertura, como há quem torce por outro. O profissionalismo vem em primeiro lugar.”, afirma. O jornal tem um canal direto com seus leitores, em especial os estudantes de Comunicação Social. Anualmente acontece o programa Craque do Futuro, que seleciona universitários para colaborar durante seis meses cobrindo futebol, vôlei, basquete ou futsal em sua cidade. As matérias são enviadas diariamente por e-mail para serem editadas e posteriormente publicadas. A estudante de jornalismo Claudia Barbosa, esteve entre os selecionados no ano passado e conta como a experiência a motivou. “Foi muito importante, pois foi o início de tudo e confirmei que quero realmente trabalhar com jornalismo esportivo. Escolhi cobrir o Santo André. e o São Caetano e ambos foram interessantes. Deixei o clubismo de lado quando escolhi essa profissão”, conclui a palmeirense.

Redação do jornal Lance! em São Paulo

Reprodução

Capa do jornal Lance!, uma das edições publicadas em 2010 DOIS PONTOS | 5


Reportagem | Olhar Crítico

Reportagem | Mercado de Trabalho

A mídia em campo

Jornalista camisa 10!

Os meios de comunicação foram peças fundamentais que influenciaram e muito a seleção brasileira

Por Lucas Donini

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imprensa contribui para a construção da identidade de uma seleção de futebol? De acordo com a pesquisa A Mídia e a Reconstrução da Identidade da Seleção Brasileira pós- Dunga, sim. Este foi esse tema que Lyana Thédiga de Miranda apresentou durante o Congresso da Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação), realizado em 2012, em Fortaleza. Lyana é jornalista, publicitária e fez mestrado pela Universidade Federal de Santa Catarina. O artigo apresentado tem como coautores mais dois pesquisadores: Angelo Bruggemann, graduado em Educação Física, e o professor Giovani de Lorenzi. A pesquisa aconteceu através do acompanhamento de portais e notícias, jornais, blogs e revistas durante agosto de 2010 a dezembro de 2011, era pós-Dunga e início da era Mano Menezes. De acordo com a pesquisadora, para dar o pontapé inicial no trabalho, foram pesquisadas variadas matérias nos principais portais de notícias, referentes à seleção brasileira e à influência da mídia em diversos casos. Num total de 425 matérias, apenas 294 se enquadravam no tema proposto. Segundo o resumo do artigo, “a derrota da seleção brasileira na Copa do Mundo FIFA/2010, marcada pelas hostilidades entre a mídia e o treinador Dunga, implicou a criação de um projeto de reconstrução da identidade visando à Copa de 2014 no Brasil, projeto esse que contou com a participação da própria mídia brasileira, ora como incentivadora, ora como crítica. Esse texto retrata, em três atos midiáticos, esse processo de renovação da imagem da seleção: a primeira convocação de Mano Menezes; a Copa América e o Mundial sub20; os amistosos da seleção em 2011.” Lyana comenta sobre as maiores dificuldades do trabalho realizado: “A maior difi-

6 | DOIS PONTOS

No jornalismo esportivo, além da paixão, se especializar e dominar ferramentas tecnológicas são alternativas para se destacar

Por Vinícius Fidelis culdade para a pesquisa foi analisar todos os dados coletados, haja vista que ao longo desse um ano e meio, muitos dados foram coletados, e necessitávamos organizá-los e categorizá-los”. O objetivo era analisar como a mídia influenciou numa mudança do elenco da Seleção Brasileira de Futebol, após o fracasso da Copa do Mundo de 2010 sob o comando do ex-jogador Dunga. Essa renovação tinha como objetivo principal trazer de volta aquela imagem de equipe vitoriosa e alegre e, principalmente, convencer que a imagem da amarelinha iria mudar. Nas décadas passadas, principalmente as de 50, 60 e 70, a seleção brasileira se via em uma ótima fase, com três títulos mundiais, diversos jogadores consagrados atuando e mostrando um bom futebol, fazendo que os torcedores ficassem bastante satisfeitos, mas uma questão sempre era levantada pela mídia, o porquê desse futebol pouco produtivo. De acordo com o artigo, a mídia era como se fosse uma ponte de informações entre a Seleção, a CBF e a população. O principal ponto a ser discutido e debatido é a grande influência que a mídia teve e continua tendo em relação a esses fatos citados a cima. Durante a apresentação do artigo, Lyana Thédiga, esclarece a forte parceria que existia entre a mídia (Rede Globo) e a CBF, tornando a poderosa emissora como digamos assim, quase a principal porta-voz da seleção, tendo quase uma prioridade de coberturas jornasliticas e entrevistas. O curioso era como os meios de comunicação usavam como estratégia as matérias publicadas sobre as atuações dentro de campo, ora criticando, ora elogiando. A estratégia dos meios de comunicação era tratar assim a seleção principal com o objetivo de manter o torcedor próximo das suas matérias, pois em um determinado momento a população começou a criticar os resultados obtidos pelo selecionado e os meios de comunicação não podiam se fazer de cegos e surdos. Com isso, produziram matérias que mostravam a indignação da população com a equipe e com a própria CBF. Porém, precisavam veicular matérias de apoio ao selecionado, mostrando as coisas boas, pois este é o seu produto e o que faz que esta mídia arrecade dinheiro. Com essa análise, percebe-se como a mídia em relação à renovação da imagem da seleção, influenciou tanto dentro ou fora de campo, conseguindo muitas vezes manipular a opinião pública.

C

om a realização da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016 no Brasil, o jornalismo esportivo tornou-se um dos mais promissores campos de trabalho da imprensa, o esporte passou a ter ainda mais foco de interesse da mídia. O aumento no número de publicações e da cobertura dos veículos sobre o tema mostra que o mercado estará cada vez mais aberto para receber aqueles que tenham conhecimento na área. Estudar e se preparar são os primeiros passos, ter interesse em se aprofundar na área não se limita apenas a “gostar de futebol”, mas entender que a cobertura jornalística nessa área é muito diferente do fato de ser aficionado pelo esporte ou por um time. No caso do torcedor, em primeiro lugar está a paixão, já para os jornalistas está a informação, que acima de tudo deve ser equilibrada e precisa. “Sempre fui apaixonado por futebol. Fui atleta e sou filho de um dos maiores narradores esportivos do Brasil, Luiz Noriega. Convivi com esporte e jornalismo desde que nasci. Sempre que posso faço cursos de atualização, como arbitragem de tênis, futebol, vôlei, jornalismo digital, é preciso estar atualizado”, afirma Mauricio Noriega, que ganhou o prêmio Ford/Aceesp de melhor comentarista esportivo por cinco vezes, em 2005, 2006, 2007, 2010 e 2011, que atualmente é apresentador no canal SporTV e comentarista do Bom Dia São Paulo, da TV Globo, desde 2006. Atualmente, o mercado para os jornalistas esportivos enfrenta novas dificuldades, além daquelas inerentes a um mercado concorrido e saturado. Cada vez mais ex-jogadores e técnicos de futebol ocupam vagas como comentaristas, apresentadores, deixando o mercado mais restrito aos profissionais que se preparam para atuar na área. “A profissão enfrenta mais cortes de vagas do que criação de empregos. Não é uma trajetória fácil, mas é um desafio que pode ser compensador no final. É necessário usar o talento e estar ‘armado’ para confrontar com a competitividade, através de uma graduação e exercício de outras línguas, e pelo que se desenha do mercado, o mandarim é um destaque”, acrescenta Milton Neves, jornalista e apresentador na Rede Bandeirantes. Para enfrentar esse mercado, um grande aliado é a internet. Através de redes sociais, blogs e vídeos podem-se fazer comentários, divulgar notícias, análises, assim como

O jornalismo futebolítico traz opções para se diferenciar e possui uma linguagem própria o jornalista Flavio Padovani, o “Repórter Bandana”, como é conhecido, que usa o meio para veicular informações e matérias sobre seu time de coração, além de fazer parte de diversas colunas sobre esportes na web. “Comecei divulgando um vídeo com comentários indignados sobre meu time, o São Paulo, colocando minhas idéias, opiniões, dentro de um padrão jornalístico e muitas pessoas apoiaram. Logo divulguei mais vídeos no estádio, criei um blog e sempre atualizo com matérias, desempenho da equipe, de jogadores, assuntos internos e entrevistas”, comenta Padovani. O jornalismo futebolístico traz opções para se diferenciar e possui uma linguagem própria, em muitos casos, aliado entre o entretenimento e a informação, o jornalista que quer atuar no esporte precisa saber como não se deixar levar pela emoção, como redigir textos com agilidade e competência em tempo hábil para que logo após o evento ou jogo, já estejam disponíveis ao leitor, e ainda, como falar em público para transmitir a informação de maneira precisa.

Jota Martins

DOIS PONTOS | 7


Seção | Sugestões & Dicas

Para ler Placar

Lance!

Football

A revista é editada desde 1970. É uma das mais importantes publicações brasileiras sobre futebol, mas com pautas para além dos jogos.

Jornal impresso mais popular do gênero. É um dos maiores jornais do Brasil em circulação. Tem duas equipes de redação: no RJ e em SP.

É a primeira revista brasileira de luxo sobre o futebol. Traz perfis de personagens que marcaram a história do esporte e diversas outras reportagens.

Blog do PVC - espn.com. br/blogs/pauloviniciuscoelho Paulo Vinícius aborda o futebol com críticas, comparações, dicas e sempre trazendo à memória grandes ídolos do esporte.

Gazeta Esportiva gazetaesportiva.net

Mesa Redonda – TV Gazeta

Cartão Verde – TV Cultura Tem o formato de mesa-redonda. Já recebeu o Troféu da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) por melhor programa jornalístico.

Para navegar

Globo Esporte globoesporte.globo.com Traz um resumo de tudo o que aconteceu no esporte ao redor do mundo todo. Tabelas, crônicas e estatísticas fazem parte do conteúdo.

Conteúdo variado, mas focado no futebol. Os melhores acontecimentos são expostos através de vídeos, imagens e textos.

Para assistir

Loucos por futebol – ESPN Apresentado por Marcelo Duarte, tem como integrantes fixos os jornalistas PVC e Celso Unzelte. Fala sobre curiosidades e histórias do futebol.

Traz os assuntos mais importantes dos principais campeonatos no formado de debate esportivo. 1975.

Para ouvir Esporte de primeira – Transamérica FM Apresenta o resumo da rodada dos principais campeonatos e jogos, além de outras modalidades de esporte de forma mais sucinta. 8 | DOIS PONTOS

Estádio 97 – Rádio Energia FM Programa com formato humorístico, mas de conteúdo sério. Caracteriza-se pela discussão estilo “mesa de bar”.

Galera Gol – Transamérica FM Abordando temas esportivos com muito bom humor e irreverência. Foca no futebol, mas também destaca várias situações do meio esportivo.


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