FASCÍCULOS DE JORNALISMO - COMPREENDER A PROFISSÃO
Jornalismo & Educação Conhecimento, escola, tarefa, ensino, aula, sabedoria, estudo, diálogo, informação, aprendizado... Você se preocupa com a educação? Então, entre neste fascículo. Venha conhecer os detalhes da imprensa que cobre esta área: a opinião de importantes profissionais, a história de grandes veículos e as tendências do mercado de trabalho para futuros jornalistas
Apresentação | Caro leitor
Expediente
A lousa e a informação
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O fascículo Educação apresenta aos estudantes de jornalismo de uma visão mais aprofundada desta área de cobertura da imprensa. É uma área que aborda um dos temas centrais para o desenvolvimento de qualquer nação. Você vai conhecer a experiência de alguns profissionais, a rotina de veículos que são referência na área e o contexto histórico de algumas importantes publicações. Outro ponto interessante que servirá de apoio para um conhecimento mais palpável é a chance de visualizar sugestões para ler, navegar, ver e ouvir. Os profissionais que foram consultados para as reportagens e para a entrevista pingue-pongue prestam serviços para os veículos mais conhecidos do Brasil. Você sabe como os jornalistas se informam? Qual a atual situação do jornalismo de educação? Quais são os maiores desafios? Quais são os veículos que transmitem as principais informações da sala de aula, vestibular e escola em geral? Você pode ter respostas para essas perguntas no decorrer das próximas páginas. Desejamos uma boa leitura!
Seção | Depoimento “Linguagem de fácil entendimento” “Meu nome é Fernanda Francelina de Sousa e sou professora da rede estadual de Ensino Fundamental. Sou apaixonada pela minha profissão. Gosto de estar sempre antenada e atualizada sobre o assunto, além de conhecer o que outros professores estão trabalhando para que eu possa analisar a possibilidade de adotar uma metodologia semelhante com meus alunos. Para ensinar é sempre importante também estar aprendendo novas técnicas para entender o que há de novo. Leio com uma frequência maior a revista Nova Escola, da Editora Abril. A escola onde trabalho é assinante dessa revista e ela está sempre à disposição na sala dos professores. Leio todos os meses as novas edições. Sinto-me bem informada pelas reportagens e matérias que leio. Embora eu não tenha como avaliar jornalisticamente, por não ser do ramo, considero a linguagem de fácil entendimento para os professores e para mim isso é muito importante, porque facilita e não distancia o professor do conteúdo. Se eu tivesse que apresentar alguma sugestão, eu sugeriria a apresentação de mais planos de aula com dicas específicas para desenvolver determinadas atividades em sala de aula. Às vezes, o texto apresentado vem sem orientação completa sobre questões que podem eventualmente aparecer no meio da atividade e isso atrapalha o andamento do processo que vem sendo trabalhado com o aluno. Outra coisa que acho que mereceria uma atenção maior é que deveriam destacar jornalistas especializados para tratar sobre esse tema. Às vezes, quando leio algumas coisas, fica claro que o jornalista estava despreparado para escrever sobre aquele determinado tipo de matéria.” Depoimento apurado pelo repórter Gilmar Junior
2 | DOIS PONTOS
Chanceler Alzira Altenfelder Silva Mesquita Reitor José Reinaldo Altenfelder Silva Mesquita Pró-reitor de Graduação Luis Antônio Baffile Leoni Pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Alberto Mesquita Filho Pró-reitoria de Extensão Lílian Brando G. Mesquita Diretor da Faculdade de LACCE Rosário Antonio D’Agostino Coordenação do Curso de Jornalismo Anderson Fazoli
Dois Pontos é um projeto experimental dos alunos de jornalismo (3ACSNJO e 3MCSNJO), desenvolvido na disciplina Jornalismo Impresso, em 2013. Orientação e Coordenação editorial Profa. Jaqueline Lemos (MTB 657/GO) Revisão Prof. Daniel Paulo de Souza Diagramação Alexandre Ofélio (MTB 62748/SP) Redação Editor assistente Gilmar Junior (RA 201105501) Repórteres Ana Cláudia Spedaletti (RA 201010049) Fernando Francisco (RA 201107681) Thiago Nascimento (RA 201110499)
Capa Produção e foto: equipe de redação
Pingue-Pongue | Denise Pellegrini
“Faz a diferença na vida do leitor”
Com uma vasta experiência na cobertura de educação, Denise Pellegrini fala sobre a importância do jornalista se preparar para atuar em uma área fundamental para o crescimento de uma nação
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Por Fernando Francisco
la se formou em jornalismo pela Universidade Metodista de São Paulo. O envolvimento com a editoria de educação surgiu quase por acaso e, mesmo assim, hoje é redatora-chefe de uma das principais publicações do ramo, a revista Nova Escola. Aqui, no fascículo Dois Pontos, Denise Pellegrini explica que, para lidar com esse tema, é necessário muito cuidado, planejamento da equipe e empenho do jornalista. Entre outras coisas, deixa claro que para trabalhar com a cobertura de educação é preciso que o repórter também goste de estudar.
Dois Pontos: Como foi o processo de escolha da editoria de educação para exercer o jornalismo? Denise Pellegrini: Acho que aconteceu um pouco por acaso. Trabalhei por sete anos na assessoria de imprensa da Unesp [Universidade do Estado de São Paulo]. Lá fazia reportagens sobre os cursos da faculdade e também sobre as pesquisas dos professores. Em seguida trabalhei na assessoria de comunicação da Secretária de Educação do Estado de São Paulo. Fazia um jornal para professores que falava sobre questões didáticas e sobre os programas da Secretaria que os docentes precisavam seguir nas escolas. Cheguei à Nova Escola como editora, passei a ser editora especial e depois me tornei redatora-chefe. É uma área na qual o jornalismo faz a diferença na vida do leitor, porque educação é o que faz diferença para o País. Dois Pontos: Qual a responsabilidade de trabalhar com um tema que influencia o dia a dia nas salas de aula? Denise Pellegrini: Temos uma responsabilidade muito grande, uma vez que chegamos a 97% das escolas. Procuramos dar ao professor as informações mais relevantes e atualizadas que existem na didática de cada disciplina. O coração da revista é a seção chamada “Sala de Aula”, a parte que damos mais ênfase na publicação, pois são reportagens sobre atividades feitas em classe para todas as disciplinas. É um negócio muito bem pensado e feito com cuidado. Temos na equipe uma coordenação pedagógica e tudo que é planejado passa por ela. Além disso, temos consultores de cada área, que passam muitas coisas ao repórter para que a reportagem seja produzida. É tudo muito cuidadoso porque sabemos que, se está na revista, os professores irão achar que é bom e se inspirar nela. Dois Pontos: Qual o perfil do jornalista que deseja trabalhar nessa editoria? Denise Pellegrini: Para trabalhar com edu-
Fernando Francisco
cação tem que gostar de estudar, de ler muito e escarafunchar as coisas, porque, se não, o texto sai com furos. O consultor e a coordenação irão dar muitas coisas para ler. Serão muitos livros, artigos e o jornalista terá de falar com muita gente. Então, para entrevistar e não falar besteira, ele tem que estar muito bem preparado. Temos repórteres e estagiários que já trabalhavam em projetos ligados à educação, mas também temos gente que veio da Contigo!, por exemplo. Não tinha nada a ver com a editoria, mas aos poucos pega o jeito e acaba ficando bastante tempo aqui. Quem trabalha na nossa redação acaba entendendo muito da coisa, porque a cada reportagem o jornalista estuda muito.
Dois Pontos:Com o enxugamento das redações e o impresso ameaçado, você acha que ainda há espaço para este tipo de publicação? Denise Pellegrini: O tema educação está ganhando muito espaço, pois o País está investindo nisso e as pessoas estão olhando com Denise Pellegrini avalia que os mais cuidado para o assunto. Acredito que a temas de educação ganham cada vez revista de papel perdure por um bom tempo, mais importância na imprensa apesar de a internet ter interferido um pouco. Nossa tiragem é de 700 mil exemplares por mês, ou seja, ainda temos muitos leitores. Ela está nas bancas, vende assinaturas mensais e são digital, para ser lida no tablet ou no comtambém pacotes de assinaturas para escolas. putador. Estamos também no mundo virtual Fora isso, desde março de 2013, temos a ver- e não só no papel.
“É tudo muito cuidadoso porque sabemos que, se está na revista, os professores irão achar que é bom e se inspirar nela”
DOIS PONTOS | 3
Reportagem | História
Reportagem | Rotina
Destaque para a ação do professor
Por dentro da educação
Publicação da editora Segmento completa 16 anos e mantém-se como uma das mais prestigiadas e premiadas na área de educação
Por Thiago Nascimento
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Reprodução
Refletir sobre as dimensões da educação e o lugar que cabe à escola e ao ensino formal, com destaque para a ação do professor e o lugar que ele ocupa no imaginário social”. Essa é a missão da revista Educação, publicação mensal da Editora Segmento voltada a profissionais da área de ensino da rede pública e privada. Criada em 1997 pelo jornalista e professor Marco Antônio Araújo, a revista traz informações sobre comportamento, alfabetização, cidadania, pedagogia, metodologia de ensino e cultura e é composta pelas editorias de Educação Infantil, Ensino Fundamental, Infraestrutura Educacional, Gestão, Carreira, Formação Docente, Políticas Públicas e Educação no Mundo.
A revista Educação procura pautar debates relevantes para a sociedade como a inclusão na escola, o papel da avaliação, métodos de ensino entre outros. 4 | DOIS PONTOS
A Nova Escola compartilha experiências em sala de aula para inspirar professores de todo o Brasil. Há quase 30 anos em circulação, a revista tem uma rotina tranquila, mas sempre pautada pelo rigor na apuração
Por Ana Cláudia Dias Marco dirigiu a Educação por cinco anos. Após sua saída, Carolina Costa assumiu como editora e manteve-se no cargo até 2005. Outros jornalistas consagrados como Gilberto Dimenstein (criador do site Catraca Livre), Sérgio Rizzo, Beatriz Rey e Rubem Barros também comandaram a publicação, que hoje tem Juliana Holanda como editora-chefe e o próprio Rubem como diretor editorial. Em seus 16 anos de existência, a revista notabilizou-se por abordar temas polêmicos e profundos e “pauta-se por questionamentos baseados em eixos temáticos de alta pertinência para aqueles que vivem o cotidiano escolar como conhecimento e suas didáticas; leitura e letramento linguístico, matemático e pedagógico; gestão e infraestrutura; tendências e experiências em sistemas educacionais do mundo; sociedade, diversidade e escolarização; história e filosofia da educação”, conforme Editorial publicado em seu site. A Educação possui tiragem mensal de 30 mil exemplares, 30% distribuído a assinantes, 56% através de mailing dirigido e 14% em bancas de jornal. O público da revista é constituído por professores, diretores e mantenedores educacionais, sendo 70% mulheres e 30% homens. Os dados estão disponibilizados pela Segmento em seu site. Importantes prêmios foram cedidos à publicação como o Grande Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo (do Instituto Ayrton Senna), Jornalista Amigo da Criança Abrinq (Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos), Prêmio Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial), Menção Honrosa no Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos, Prêmio de Direitos Humanos de Jornalismo (concedido pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos e Ordem dos Advogados do Brasil do Rio Grande do Sul – OAB/RS), entre outros. “Acompanho a Educação desde o seu início por ser referência na área e promover uma reflexão crítica sobre práticas e políticas educacionais. A colaboração de reconhecidos profissionais e os importantes prêmios recebidos são prova da qualidade e credibilidade da publicação”, afirma a jornalista e assessora de comunicação atuante na área, Andreza Nascimento. Ela também destaca o papel da publicação na luta pelos direitos humanos. “A revista é única no mercado, pois além de levar informação relevante para educadores a fim de aumentar sua bagagem, compromete-se com a defesa dos direitos da criança e da juventude, o que é de extrema relevância”, conclui Andreza.
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esde setembro de 1985 a Nova Escola faz parte da vida de milhares de professores brasileiros. Criada pela Fundação Victor Civita (FVC), do Grupo Abril, a revista é a maior em circulação mensal no Brasil. De acordo com os dados do Instituto Verificador de Circulação (IVC), a circulação média mensal da Nova Escola foi de 408 mil exemplares, entre janeiro e agosto de 2012. No total são publicadas 10 edições da revista por ano, pois nos meses de férias escolares (janeiro/fevereiro e junho/julho) ela torna-se bimestral. Para conhecer um pouco da rotina da publicação, a reportagem do fascículo Dois Pontos foi até à redação da revista. Uma das editoras, Ana Ligia Scachetti, explica como é a rotina de trabalho, que geralmente começa por volta das 10h da manhã. Chegando à redação, a primeira coisa a ser feita é checar os e-mails e cuidar dos assuntos mais cotidianos. As reuniões de pauta acontecem a cada dois meses, para discutir e escolher as pautas para as edições que estão em planejamento. Todos os editores, repórteres e estagiários participam dando sugestões. Assim que as pautas são indicadas, vão para uma planilha que é dividida por seções, isso é para um controle da redação. Essa forma de organização é para facilitar no andamento da revista. O arquivo com essas informações fica em uma rede com acesso para todos, assim podem ver o que cada um está fazendo e se alguém está com mais trabalho que o outro. Beatriz Vichessi uma das editoras da revista disse que no começo tiveram problemas para se adaptar com esse tipo de organização, mas admitiu que essa foi a melhor coisa a ser feita. “Deu super certo”, comemora. Após a reunião geral, a equipe de chefia (Diretora de Redação, Redatora-chefe, Diretora de Arte, Coordenadora Pedagógica e as editoras) inicia o trabalho de coordenação editorial. As pautas selecionadas são validadas pela Coordenadora Pedagógica Regina Scarpa. Ela tem a missão de verificar a coerência do tema. Ao mesmo tempo, a equipe define como serão produzidas as fotos. A partir da autorização da chefia, todas as pautas são colocadas em prática. Os repórteres já começam a correr em busca de personagens e a agendar as entrevistas. As entrevistas são feitas por telefone ou pessoalmente dependendo do caso e do tipo da abordagem que precisam. Nesse
meio tempo, o pessoal da arte já começa a preparar o layout das matérias. Quando o texto estiver pronto ele é aplicado na pagina e passado para a revisora. No final, editora e diretora fazem a última checagem de cada uma das páginas elaboradas. Depois de tudo checado e aprovado, o material segue para a impressão. De acordo com as editoras, o objetivo da Nova Escola é contribuir para a melhoria do trabalho dos professores dentro da sala de aula. Todo mês, ela traz experiências reais e os conteúdos mais relevantes, tanto de educação infantil, ensino fundamental, ensino médio, gestão escolar e políticas públicas. Umas das principais seções da revista é “Sala de Aula”, que apresenta reportagens com propostas de projetos para serem implementados por professores nas turmas com as quais trabalham, geralmente ilustradas com
casos de educadores que foram bem sucedidos em projetos similares. Outra seção de destaque é “Fala, mestre”, que traz entrevistas de fôlego com personalidades importantes da educação (docentes, pesquisadores e figuras públicas). Anualmente são publicadas edições especiais da revista. Uma delas destaca o Prêmio Victor Civita Educador Nota 10, com as histórias dos vencedores do prêmio. Criado em 1998, é a principal iniciativa da Fundação Victor Civita para a valorização do trabalho docente e a disseminação de práticas educativas de sucesso. São escolhidos 50 finalistas sendo que só 10 são vencedores, professores ou gestores, que, além dos outros prêmios, receberam 15 mil reais em dinheiro e participaram da festa de gala realizada em São Paulo.
O objetivo da Nova Escola é contribuir para a melhoria do trabalho dos professores
Reprodução
Capa da Nova Escola, edição de maio/2013
Reprodução
Capa da Nova Escola, edição de junho-julho/2010 DOIS PONTOS | 5
Reportagem | Olhar Crítico
Reportagem | Mercado de Trabalho
Inclusão digital no envelhecimento
Uma área restrita
Pesquisa mostra a importância e a mudança de qualidade de vida da terceira idade, quando há o contato com o mundo da informática
Por Ana Claudia Dias
Por Gilmar Junior
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internet é um território vasto de possibilidades de aprendizado na terceira idade e é também um instrumento importante para estabelecer autonomia e novas relações. Essas são algumas das conclusões de Vitória Kachar, psicóloga e pedagoga pela Unisantos, também mestre e doutora em Educação pela PUC/SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Envelhecimento e perspectivas de inclusão digital é o título de um artigo de sua autoria publicado na Revista Kairós Gerontologia, em novembro/2010. De acordo com a pesquisadora, a imagem da velhice de maneira generalizada tem sido associada aos aspectos negativos, tanto pela população de um modo geral, como pelos próprios idosos em particular. Concebemos a possibilidade de viver mais e atingir a longevidade, abarcando também o horizonte de realização pessoal, profissional e familiar na inserção social atual. Vitória Kachar tem mais de vinte anos atuando na formação de professores e nos vários níveis com relação às Mídias e Tecnologias na Educação. Atuou como professora, coordenadora e editora do Jornal Maturidades, Universidade Aberta a Maturidade, da PUC/SP. Sua pesquisa é focada na área de envelhecimento e perspectiva de inclusão digital, voltado para pessoas com 45 anos ou mais. Jota Martins
O computador e o vasto mundo da internet pode melhorar a qualidade de vida na terceira idade 6 | DOIS PONTOS
A cobertura de temas na área de educação tem pouco espaço na imprensa. Menos de uma centena de jornalistas são especializados nesse segmento
A pesquisadora mostra a perspectiva de inclusão digital com base nos dados extraídos do CETIC (Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e Comunicação), obtidos em 2009, em domicílios brasileiros. A interpretação dos dados possibilitou identificar a necessidade da inclusão digital e a demanda por cursos e programas para a população, favorecendo a atualização e a inserção social. Segundo a pesquisa, a geração mais nova tem intimidade e atração pelos artefatos tecnológicos, assimila facilmente as mudanças, pois já convive com eles desde pequena, explorando brinquedos eletrônicos ou brincando com o celular dos pais. Porém, a geração mais velha, de origem anterior à disseminação do universo digital e da internet, não consegue acolher e extrair tranquilamente os benefícios dessas evoluções na mesma assimilação dos jovens e seguem um ritmo mais lento para aprender a manipular os mecanismos de funcionamento desses artefatos. Vitória começou a ministrar aulas para a turma de introdução à informática e percebeu que houve mudanças significativas e um interesse muito grande ao mesmo tempo. Tudo aquilo estava repercutindo na vida deles, que mostravam entusiasmo e vontade de aprender. Na época, seus alunos tinham entre 50 a 80 anos, sendo 90 % do sexo feminino. Vitória afirma que, com o tempo, percebeu que tinha construído uma estratégia específica para ensinar seus alunos e aprendeu sobre as questões educacionais em envelhecimento. “As salas ficaram cheias e os alunos levavam o exercício feito em sala de aula para a casa, acabavam pegando o computador emprestado dos filhos e dos maridos, eles mesmos passavam um feedback e contavam sobre os avanços que estavam tendo. O acesso à internet naquela época era muito raro ainda e mesmo assim á procura para entrar nesse mundo digital era grande”, conta. “Eles tinham um brilho nos olhos”, lembra. Uma reflexão mais aprofundada sobre a experiência foi transformada em livro. Vitória publicou Terceira idade e Informática: Aprender Revelando Potencialidades (Editora Cortez, 2003), que conta um pouco sobre a pesquisa e o projeto de educação. A obra foi publicada pela Editora Cortez em 2003. Atualmente a pesquisadora atua também como Pedagoga e Especialista de EAD do IEC (Instituto de Educação e Ciências), no Hospital Oswaldo Cruz.
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último levantamento do World Economic Forum (Fórum Econômico Mundial) aponta que o Brasil ocupa a 88ª posição no ranking da educação. A posição não é nada favorável, visto que a lista tem 112 países avaliados. Esse é, talvez, um dos fatores que contribuem para que poucos jornalistas se interessem pela editoria de educação. Basicamente, o jornalismo especializado em educação é relativamente novo e apresenta um histórico de cerca de 40 anos. No Brasil, a revista Nova Escola, fundada em 1986, tem 27 anos de publicação mensal, já a revista Gestão Escolar, que tem periodicidade bimestral, surgiu apenas em 2009. Ambas as revistas são da Editora Abril que conta ainda com a Fundação Victor Civita que também é engajada em auxiliar professores, gestores e em políticas públicas. “No Brasil temos apenas cerca de 100 jornalistas especializados em educação. São poucas as opções que temos no impresso. Cadernos em jornais eram poucos e agora temos menos ainda”, relata o editor de sites da Nova Escola Online e da Gestão Escolar, Rodrigo Ratier. Há cinco anos Ratier está na área de educação e atualmente cursa o doutorado em sociologia da educação, na Universidade de São Paulo. Por meio de pesquisas e levantamentos, ele verificou a marca de apenas 100 profissionais especializados e atuantes na área no país. “Infelizmente, a internet não traz a mesma quantidade de vagas”, completa. Apesar de a área ter poucos profissionais, sabe-se mais rápido do que acontece neste segmento. A internet e até mesmo o Facebook e o Twitter podem servir como pauta para uma matéria. “Hoje é muito mais fácil acompanhar notícias de uma área de interesse específica. Seguimos páginas e pessoas com conteúdo relevante nessa área nas redes sociais, além de acompanhar as sessões especializadas de jornais e sites nacionais e internacionais. Outro ponto é que recebemos uma boa leva de releases diários, que nos informam sobre eventos e, obviamente, falamos e nos informamos com pessoas no nosso dia a dia”, explica a editora das revistas Educação e Educação Infantil da Editora Segmento, Juliana Holanda. A revista Educação tem uma tiragem de 30 mil exemplares mensalmente e desde maio de 1996 traz às bancas novas abordagens com o que há de novo na sala de
aula. Juliana conta que está há 15 anos no jornalismo e há seis na área educação. Antes de trabalhar na Editora Segmento, a jornalista realizou um documentário sobre educação básica nos países do Mercosul. Rodrigo Ratier disse que lecionar foi que o motivou a trabalhar nessa área e ainda, procurar o aprofundamento e especialização. Conforme afirma a jornalista editora, na prática, o conceito “jornalismo educacional” não existe como segmento em si, mas que profissionais se especializaram na cobertura ocupando as demandas de seus respectivos veículos pelos temas. Por conta disso, ser especializado no assunto é primordial. Mesmo atuante na área, Juliana conta que está cursando pós-graduação em primeira infância no Instituto Singularidades. “Além dos cursos de pós em Lato Sensu ou Strictu Sensu, outra saída seria cursar algumas matérias do curso de pedagogia”, dá a dica Rodrigo Ratier que tem 35 anos e está fazendo doutorado. Já sobre o curso de Educomunicação fornecido pela USP (Universidade de São Paulo), os entrevistados comentam que já tiveram experiência, entretanto eles têm opiniões divergentes. Ratier diz que cursou algumas matérias e que é uma proposta mais voltada para a comunicação. Para Juliana, o curso “parece uma área muito mais voltada para quem quer estar em sala de aula, do que para quem está no trabalho jornalístico”.
Jota Martins
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Seção | Sugestões & Dicas
Para ler Nova Escola
Educação
O Estado de S. Paulo
Revista mensal da Editora Abril com informações desde a educação infantil ao ensino médio. É editada há quase 30 anos.
Revista mensal da Editora Segmento, destinada aos profissionais da educação das redes pública e particular. Apresenta as tendências educacionais.
O caderno de educação de um dos principais jornais diários do Brasil, atualmente, é impresso semanalmente todas as terças-feiras.
Porvir porvir.org
Pil Network www.pil-network.com
A iniciativa do Inspirare identifica pautas e fontes e funciona como uma agência de notícias sobre a área de educação.
Rede de educadores de mais de 119 países reúne 4 milhões de membros que trocam ideias, experiências e projetos.
Sua Escola Nossa Escola tvescola.mec.gov.br
Globo Universidade – TV Globo
Nossa Língua – TV Cultura
Série de 17 programas, que apresentam novas ideias através da tecnologia no ambiente escolar.
O programa traz informações sobre o meio acadêmico e sobre inovações nas universidades do Brasil e do exterior.
O programa, sem deixar de valorizar a norma culta, também vai chamar atenção para outras variantes do português brasileiro.
Entrelinhas – Rádio Cultura FM
É bom saber – Rádio USP FM
Coluna da Rosely Sayão Band News FM
O programa apresenta a relação do repertório musical erudito com livros de autores clássicos e contemporâneos.
Para você, que tem sede de conhecimento, acompanhe este boletim que traz muitas curiosidades.
Programa sobre temáticas que orientam pais, educadores e toda a sociedade na formação dos filhos.
Para navegar
Observatório da Educação observatoriodaeducacao. org.br Traz informações com o objetivo de subsidiar os meios de comunicação e outros segmentos na promoção da educação como direito humano.
Para assistir
Para ouvir
8 | DOIS PONTOS