FASCÍCULOS DE JORNALISMO - COMPREENDER A PROFISSÃO
Jornalismo & Saúde Qualidade de vida, medicina, nutrição, equilíbrio, bem-estar, hábitos, mudança, alimentação, informação, orientação... Você se preocupa com a saúde? Então, entre neste fascículo. Venha conhecer os detalhes da imprensa que cobre esta área: a opinião de importantes profissionais, a história de grandes veículos e as tendências do mercado de trabalho para futuros jornalistas
Apresentação | Caro leitor
Expediente
A informação vital
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fascículo Saúde apresenta aos estudantes de jornalismo como analisar a abordagem jornalística do tema saúde e bem-estar nos veículos impressos. Atualmente, existem diversas revistas que tratam do assunto, por exemplo, Viva Saúde, Saúde é Vital, Crescer, Pais & Filhos, sendo cada uma responsável por abranger pautas ligadas a nutrição, família, medicina, comportamento, doenças, alimentação e outros. Aqui será possível encontrar informações sobre a rotina em um veículo, a história de um clássico existente há anos, entrevista com editores da área, sugestões de outros meios, como rádio, televisão e web sites para manter-se conectado, além de como está o mercado editorial para este segmento. Nosso objetivo é que os interessados possam conhecer esta área de atuação e saber como são feitas as reportagens, o processo de apuração e o contato com as fontes de informação, já que a técnica de coleta de dados deve ser rigorosa para que nenhuma informação seja publicada com erro e possa prejudicar o leitor.
Seção | Depoimento Orientar, não banalizar “Meu nome é Lílian Kuhn Pereira, tenho 26 anos e sou fonoaudióloga. Tenho o hábito de ler revistas voltadas para saúde e bem-estar das pessoas porque elas complementam meu trabalho. A cada dia métodos e equipamentos se renovam e acredito que seja necessário me manter atualizada para aprimorar meu conhecimento nessa área, e em outras, a cada dia. Leio as revistas Crescer e Pais & Filhos todos os meses e, como leitora, gosto das reportagens em geral. São bem fundamentadas, muitas vezes em experiências dos próprios jornalistas – como em testes de novos produtos ou procedimentos –, tem opinião e orientação de especialistas em determinados assunto e isso me agrada. É interessante para o leitor se informar sobre um problema que, às vezes, ele tem e não sabe e passa a se atentar para isso a partir da leitura de uma matéria jornalística. Agora, não é certo é a forma banalizada e simplificada que tratam a saúde das pessoas, na maioria dos casos. Muitas revistas e jornais publicam matérias com dicas e sugestões relacionadas à saúde – sobre emagrecimento, na maior parte das vezes –, e não orientam o leitor que tudo deve ser feito com acompanhamento de uma nutricionista, nesse caso. Eu li uma matéria da revista Crescer na qual ela orientava as mães em como melhorarem a dicção de seus filhos. Não digo que os exercícios propostos no texto sejam totalmente descartáveis, entretanto, o tratamento que resolveu o problema de uma criança, não vai resolver o problema de todos os filhos de leitores. O jornalismo tem o poder de formar opinião e não deve, de forma supérflua, tratar algo que talvez não seja tão simples. A cobertura jornalística se aperfeiçoaria se em vez de matérias incentivando o leitor a fazer procedimentos e métodos – de diversas patologias – em casa, frisasse que, de qualquer modo, o melhor é um acompanhamento médico.” Depoimento apurado pela repórter Gabriela Oliveira 2 | DOIS PONTOS
Chanceler Alzira Altenfelder Silva Mesquita Reitor José Reinaldo Altenfelder Silva Mesquita Pró-reitor de Graduação Luis Antônio Baffile Leoni Pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Alberto Mesquita Filho Pró-reitoria de Extensão Lílian Brando G. Mesquita Diretor da Faculdade de LACCE Rosário Antonio D’Agostino Coordenação do Curso de Jornalismo Anderson Fazoli
Dois Pontos é um projeto experimental dos alunos de jornalismo (3ACSNJO e 3MCSNJO), desenvolvido na disciplina Jornalismo Impresso, em 2013. Orientação e Coordenação editorial Profa. Jaqueline Lemos (MTB 657/GO) Revisão Prof. Daniel Paulo de Souza Diagramação Alexandre Ofélio (MTB 62748/SP) Redação Editora assistente Mayara Aguiar (RA 201102194) Repórteres Aline Aparecida de Araujo (RA 201108399) Caroline Paula de Sá Costa (RA 201115357) Gabriela Oliveira Souza (RA 201103135) Henrique R. Alves (RA 201113180) Thainan Gomes Bitti (RA 201114957) Capa Produção e foto: equipe de redação
Pingue-Pongue | Adriana Toledo
“Um dos maiores perigos na medicina é publicar verdades absolutas” Lidar com a vida e a saúde das pessoas é sempre complexo. Por isso, a cobertura jornalística na área exige um cuidado especial do profissional da imprensa
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Por Henrique Rodrigues ormada em 2005, Adriana Toledo chegou ao cargo de editora na revista Crescer, da editora Globo, em abril de 2013. Durante sua vida profissional trabalhou nas revistas Nova Escola, Men’s health e Saúde é Vital. Nesta última ficou por oito anos. No site bebe.com.br cobria a área de medicina, obstetrícia e pediatria. Com a carreira voltada à cobertura de temas da saúde e de bem-estar, ela procurou se especializar em cursos diversos ministrados em grandes hospitais de São Paulo. Ela conversa com o fascículo Dois Pontos sobre as características mais relevantes do trabalho neste segmento.
Dois Pontos: Qual o público alvo da revista Crescer? Adriana Toledo: Em dezembro de 2013 completamos 20 anos de existência. Ela é voltada as mães de crianças de zero a 8 anos, além de grávidas que possuem interesse em saber sobre saúde, educação, cultura e comportamento.
Henrique Rodrigues
Dois Pontos: Como você avalia a situação da revista impressa com a área digital? Adriana Toledo: Os assuntos mais quentes publicamos no site, já que demandam pouco tempo para serem produzidos. Os conteúdos mais extensos e analíticos passam para a revista, apesar de os extras digitais trazerem também um complemento das reportagens Dois Pontos: Como começou seu interesse do impresso. A reunião de pauta dos dois sepela área da saúde e bem-estar? tores acontece em conjunto. Adriana Toledo: Comecei como estagiária na revista Saúde é Vital. Lá trabalhei nas Dois Pontos: Na sua carreira, qual matéria editorias de fitness, nutrição e no âmbito demandou mais tempo para produzir? da medicina, as extensões de cardiologia e Adriana Toledo: Em uma reportagem sobre oncologia. Procurei estudar, fazer cursos células tronco eu não conseguia entender de jornalismo cientifico para entender e me como se jogava açúcar na célula e ela produaprofundar. É uma área que exige conheci- zia insulina. Então eu fiquei no laboratório mento, pois os assuntos são sérios e não dá e acompanhei um pesquisador da Unifesp para cometer erros e divulgar uma informa- [Universidade Federal de São Paulo]. Conção equivocada. segui transmitir para o leitor uma noção do que é isso, mas exatamente como eles induDois Pontos: Como é feita a apuração das zem é muito complexo. informações para a revista? Adriana Toledo: A pesquisa é feita em base Dois Pontos: Quais cuidados são necessáAdriana Toledo fala sobre sua de dados americanos e artigos científicos para rios para cobrir o campo da saúde? formação e os desafios na cobertura traduzir a informação técnica para o leitor. Adriana Toledo: Um dos maiores perigos jornalística de saúde Consultamos sempre The New York Times, na medicina é publicar verdades absolutas Folha Equilíbrio, Agência USP de Notícias, como, por exemplo, colocar um alimento Fapesp, Fio Cruz, British Journal of medicine como vilão ou como mocinho, já que é pree a OMS (Organização Mundial de Saúde). ciso haver bom senso, saber distinguir para instituições idôneas, refletir sobre os dados e separar esses estudos das fontes de informa- ter um conhecimento prévio do assunto para Dois Pontos: Quais as principais fontes de ção. É importante, principalmente, buscar fazer a pergunta certa para a fonte. informação na área? Adriana Toledo: Hospitais de notabilidade que são considerados de qualidade, como o Albert Einstein, Sírio Libanês, Hospital das Clínicas, Hospital do Coração, Samaritano. Os infantis Sabará e o Pequeno Príncipe, no Paraná, e o Pro-Matre como maternidade. Além deles as universidades federais e estaduais são as instituições de preferência, em que o especialista vem para confirmar dados, opinar, contextualizar sobre o tema e, com isso, dar credibilidade às matérias.
“O especialista vem para confirmar dados, opinar, contextualizar sobre o tema e, com isso, dar credibilidade às matérias”
DOIS PONTOS | 3
Reportagem | História
Reportagem | Rotina
Informação inteligente
Uma delicada relação
Há mais de 45 anos a revista Pais & Filhos procura abordar temas fundamentais da vida em família
Equipe da revista Saúde, da editora Abril, mostra como é o cotidiano em uma redação que zela pela qualidade de vida do leitor
Por Mayara Aguiar
Por Aline Araújo
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undada no Rio de Janeiro, Pais & Filhos nasceu para atender as necessidades da família moderna brasileira. A primeira publicação ocorreu em setembro de 1968, pela Editora Bloch, cujos donos eram Adolpho Bloch, Oscar Sigelmann e Pedro Jack Kapeller. Na época, o mercado não dispunha de um periódico que tratasse de questões familiares. A única referência era o livro do pediatra Rinaldo De Lamare, intitulado A Vida do Bebê, com várias edições publicadas pela própria Bloch. A revista foi a primeira do segmento no Brasil, pois falava diretamente com os pais e os ensinava a lidar com os primeiros anos de seus filhos. Tinha como fontes profissionais em obstetrícia, ginecologia, neurologia, pedagogia, teologia, psicologia, cirurgia plástica e psiquiatria. A edição de estreia trouxe como manchete “Como falar de sexo com as crianças”. Foram 132 páginas com reportagens que retratavam, por exemplo, o primeiro amor e a influência da moda adulta nas vestimentas das crianças. O lançamento incluiu também diversas fotografias e publicidades. “A Bloch era uma editora de muito prestígio. Qualquer publicação que ela lançasse teria apoio dos melhores anunciantes”, explica Moacir Japiassu, ex-redator-chefe da revista e atual colunista do portal Comunique-se. Reprodução
Em setembro de 1968 a Pais & Filhos chegava às bancas brasileiras 4 | DOIS PONTOS
Reprodução
Edição especial de aniversário comemora os 45 anos da revista, em setembro de 2013
Para a escolha das matérias, recebia fotos da revista alemã Eltern, com a qual mantinha um acordo editorial. Então, José Itamar de Freitas, ex-diretor, olhava cada imagem e, em seguida, inventava um título e criava a ideia da reportagem. “Logo começávamos a trabalhar o tema, escolher o repórter e discutir os ângulos a serem abordados”, conta Japiassu. Em 2000, a editora faliu e deixou de publicar seus títulos, sendo que em 2002 eles foram leiloados, e o empresário gaúcho Marcos Dvoskin, atual presidente e editor, comprou os direitos da Pais & Filhos, que ficou sem ser publicada por três anos. Em 2003, foi relançada em São Paulo, pela Editora Manchete. A partir de então, o espaço foi crescendo e expandindo a produção dos conteúdos, tendo como diretora editorial a Mônica Figueiredo. Em 2004, disponibilizou em seu site a revista aberta aos internautas gratuitamente. Anos depois, inaugurou um aplicativo no Ipad e também dois para Iphone, o Gravidez Semana a Semana e o Amamentação. “Praticamente todos os temas que entram no impresso possuem um extra para o digital. Geralmente são imagens, vídeos ou sons. Algo para haver interação com o leitor”, diz Mariana Setubal, atual editora-chefe da revista. O público-alvo da publicação são as grávidas e pais de crianças de até 12 anos. Portanto, existem temas recorrentes, como a escolha da escola e do médico, mas sempre com novas pesquisas para diferenciar dos textos de outras edições. A redação trabalha tópicos ligados à saúde, alimentação, bemestar e comportamento. “Muitas pautas vêm da nossa história pessoal. Com isso, a gente imagina como a mãe vai reagir e lidar com certos assuntos”, relata Mariana. Assim como acontecia em 1968, a versão atual da revista também detém os direitos dos conteúdos de um impresso estrangeiro. Com mais de 2,2 milhões de exemplares vendidos por mês, a norte-americana Parents fornece matérias que podem ser traduzidas e também disponibiliza fotografias. Atualmente, além da publicação mensal, existem outras especiais. A Pais & Filhos Casa, lançada anualmente. A Pais & Filhos Moda que é publicada duas vezes por ano, além do Anuário Pais & Filhos e da Pais & Filhos Grávida. Todas saem em edições impressas, mas se expandem nas plataformas virtuais.
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s assuntos relacionados à saúde e ao bem-estar têm ganhado cada vez mais notoriedade, ao passo que as pessoas têm se preocupado com o estilo de vida que levam. Basta observarmos a grande diversidade de programas de televisão, revistas e livros voltados a esse nicho. A revista Saúde (o nome completo da publicação é Saúde é Vital), da editora Abril, tem como enfoque a saúde e trabalha com pautas através de periódicos científicos, assim estão sempre atualizados com informações da área, tanto nacionais como internacionais. Como são assuntos que têm grande impacto na vida das pessoas, não se pode ficar levando experiências pessoais em consideração na hora de escrever uma reportagem. Afinal, o que vale para um indivíduo pode não servir para outro. “O juiz mais consagrado é a ciência, temos muito contato com os profissionais de saúde, vamos atrás das tendências recebemos artigos via assessoria de imprensa. Então, nós fazemos algumas reuniões para definir o que vai entrar em cada seção, a diretora da redação faz a divisão de quem ficará responsável sobre o quê”, explica Diogo Sponchiato, editor da revista. A equipe da revista é formada pela diretora de redação Lúcia Helena de Oliveira, diretor de arte Robson Quinafélix; os três editores que são Theo Ruprecht, que cuida das matérias de atividade física, Thaís Manarini editora–assistente fica com a parte de nutrição, Diogo Sponchiato e o repórter André Biernach cuidam das matérias de medicina, o revisor Ronaldo Barbosa da Silva. A equipe tem ainda duas estagiárias que prestam atendimento ao leitor por meio de e-mails, telefones e cartas e eventualmente fazem reportagens. A área de diagramação da revista tem quatro profissionais. É uma equipe bem enxuta, padrão da editora Abril. Entretanto, a revista é responsável pela edição de muitos materiais complementares, como livros, campanhas e prêmios. Assim, geralmente contam com a ajuda de reforços como freelas e colaboradores fixos. No trabalho de apuração, cada jornalista faz um levantamento de quem serão as fontes para matéria. E nessa coleta de dados são levados em conta tanto os autores da pesquisa, quanto os profissionais mais habilitados a comentar sobre o assunto. “Nesse processo ouvimos todas as fontes e o jornalista elabora a matéria. Depois
é passado para um dos editores verificarem se falta algo, faz-se um arranjo de texto, a matéria passa para a editora de redação fazer a leitura para pegar eventuais desajustes, e por fim, a arte deixa certo o layout, com a imagem. E, assim, a matéria está pronta para ser publicada”, explica Thaís Manarini, editora-assistente. “A revista conta com uma área de inteligência, que faz uma pesquisa para se saber o quão o leitor está satisfeito com aquilo que ele está recebendo. E nessa pesquisa a Saúde é muito bem avaliada, os leitores leem do começo ao fim e gostam do que está lá”, pontua Diogo. O foco da revista é que o leitor ad-
quira hábitos de vida saudáveis para que seja possível prevenir doenças, e assim prolongar a expectativa de vida e isso de maneira simples. Assim, o jornalista não pode dar informações equivocadas e nem ser sensacionalista. A Saúde completou 30 anos em outubro de 2013 e é uma das publicações mais antigas da editora Abril. Desde os anos 2000 a revista tem experimentado um crescimento constante. “Temos uma tiragem com cerca de 265 mil exemplares por mês. A partir disso, se faz um cálculo que cada revista passe pelos olhos de três pessoas. Então projeta-se que a gente tenha quase oitocentos mil leitores”, afirma Diogo.
O foco da revista é que o leitor adquira hábitos de vida saudáveis Diogo Sponchiato
Painel com uma seleção de algumas das capas da revista Diogo Sponchiato
Parte da equipe da redação da revista Saúde DOIS PONTOS | 5
Reportagem | Olhar Crítico
Reportagem | Mercado de Trabalho
O ideal de saúde como bem de consumo
Um novo horizonte de possibilidades
Pesquisadora do Rio de Janeiro analisa mensagens de revistas brasileiras para debater as representações do conceito contemporâneo de bem-estar
A busca por mais qualidade de vida e a maior longevidade da população impulsionam o consumo de informações sobre saúde
Por Thainan Bitti
Por Caroline Costa
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ão é apenas na televisão que existem as propagandas que exibem os corpos esculturais das mulheres intituladas como “modelos saúde”. A persuasão vai além de gravações reais e passam a ser vistas em outdoors, revistas, entre outras mídias, como o rádio, que, mesmo sem imagem, consegue transmitir facilmente a definição de “corpo perfeito”. O artigo A mulher saudável – representações midiáticas do ideal contemporâneo, de Marina Frid, foi apresentado no Congresso da Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação), realizado em 2012, em Fortaleza. Foram analisadas três publicações voltadas para o público feminino, as revistas Cláudia, Nova e Boa Forma, edições de junho de 2011 a maio de 2012. Conforme esclarece a pesquisadora no artigo, a escolha das revistas ocorreu principalmente pela “sua ampla circulação, pois estão entre as principais produções editoriais segmentadas para mulheres no mercado brasileiro. Vale mencionar que cada uma segue uma linha diferente de conteúdo, sendo as duas primeiras de temas mais variados, enquanto a última dedicada especialmente aos cuidados com o corpo.” O artigo apresenta dados preliminares da dissertação de mestrado em Comunicação Social (defendida na PUC/RJ em 2013), cujo título é A invenção do bem-estar: mídia, consumo e a saúde contemporânea, sob orientação do professor Everardo Pereira Guimarães Rocha.
Como Marina escreve no artigo, “ao folhear as suas páginas [das revistas Cláudia e Nova] com o olhar atento, é surpreendente constatar como o conceito de saúde é ostensivamente explorado, sendo abordado como gancho para as matérias, conjugado a outros temas ou colocado implicitamente em demais assuntos discutidos. Surpreendente, porque, desprevenida, a leitora não imagina o quanto de representações, ideologias e imagens, traduzidas em informação, existe sobre as razões e os porquês de ser saudável ao ler uma única edição das revistas.” Ao mesmo tempo, “as capas da revista Boa Forma representam explicitamente este ideal de beleza, agora também questão de saúde, que é o emagrecimento. A noção de que mulheres estão sempre precisando perder “alguns quilinhos” se confirma nas dietas e sugestões impressas a cada mês, estipulando (exaustivamente) diferentes metas e prazos para a grande conquista.” Para Marina, falar sobre as revistas é algo que pode ajudar e muito na hora da finalização do projeto. “As revistas são mais propícias à análise, pois têm textos longos e variados que permitem uma reflexão mais profunda”, comenta. Quando se fala na busca da perfeição corporal, o primeiro pensamento que vem em mente é emagrecer. Ainda destacando um trecho do artigo, “atrizes, modelos e celebridades são sempre chamadas para revelar seus segredos para o corpo perfeito - aos 50 anos, com dois filhos, após a gravidez de gê-
meos”. Marina acredita que isso “motiva” as mulheres que leem e/ou assistem a reportagens deste gênero. “Penso que instintivamente as publicações norteiam as mulheres. Pois inconsequentemente elas passam a seguir as dicas como parte de um ritual”, comenta. São incontáveis os truques, dietas e recomendações para “tornear” a barriga, “afinar” a cintura, “secar” a gordura, “perder” alguns quilos e “desenhar” o corpo. E não é pura questão estética, pois emagrecer deve ser uma preocupação de saúde, conforme indicado em uma das revistas do artigo. Em meio a tantos afazeres e obrigações diárias, muitas são as mulheres que desistem de si fisicamente. Isso acontece pela falta de tempo ou, às vezes, de vontade. O problema é que isso pode acarretar doenças como a depressão. “Elas tentam e não conseguem chegar ao resultado esperado, isso faz com que elas se desmotivem demais e começam a fazer tudo ao contrário, como consumir produtos altamente calóricos”, diz Marina. Além de trabalhar, cuidar dos filhos, da casa, do marido e de todas as outras coisas, a mulher ainda arranja tempo para pensar na boa forma, muitas vezes, mal-sucedida. Isso porque optam por métodos impostos nas revistas e que nem sempre são confiáveis. Conforme aponta Marina, “a relação entre a saúde e os diferentes papéis da mulher forma um extenso inventário de regras de comportamentos e de consumos para se ‘ter’ a saúde, que, enfim, dão as diretrizes das nossas escolhas e práticas”, acrescenta a pesquisadora.
Reprodução
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As revistas Cláudia, Nova e Boa Forma são objeto de estudo da pesquisadora Marina Frid 6 | DOIS PONTOS
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Ser saudável nunca esteve tão na moda. Basta ver as blogueiras focadas no assunto bem estar e qualidade de vida que têm milhares de seguidoras. Sendo assim, acredito que o segmento crescerá não em revistas impressas, que estão diminuindo, mas em sites, blogs e portais focados no assunto”, afirma Daniela Filomeno, diretora de Comunicação e Conteúdo do Grupo Doria. Uma das publicações do grupo é a revista LIDE Saúde e Bem Estar, que circula desde 2012. É uma publicação anual que apresenta o panorama da saúde no Brasil, promove conceitos de bem-estar e qualidade de vida. A partir desta afirmação é possível perceber que o jornalismo focado em temas de saúde tem a possiblidade de crescer de forma ainda mais segmentada. Tanto para atender as necessidades dos profissionais de saúde – publicações para médicos, para fisioterapeutas etc –, como para atingir públicos muito específicos. Hoje, por exemplo, já é possível encontrar nas bancas revistas focadas exclusivamente em diabéticos. Assim como o médico – ou outro profissional de saúde –, que deve ter o hábito da leitura todos os dias, para se atualizar frequentemente, quem atua com a informação na saúde, tem a necessidade de se manter antenado com tudo que envolve novidades relacionadas ao assunto. Para quem estiver interessado em trabalhar no segmento de saúde e bem estar, ou para aquele que enxerga esta área como um sonho profissional, pode se preparar porque as exigências são muitas. De acordo com Daniela, o jornalista dessa área precisa ficar ligado nos acontecimentos para pensar em boas pautas. Ela explica que a sua equipe está sempre antenada. “Quais as descobertas, quais os temas mais discutidos, o que tem de novo para o bem-estar, quais técnicas estão sendo usadas em cirurgias, implantes etc. Acompanhamos os sites e publicações de agências e associações específicas (Conselho de Medicina, de Nutrição etc), e também revistas de bem-estar e cadernos de saúde dos jornais”, esclarece. Segundo a diretora de conteúdo, “a tendência é falar mais de prevenção e de como ter uma vida saudável no ritmo alucinante que vivemos. Mostrar alternativas de vida prazerosa e saudável mesmo para quem tem o tempo curto e vive em grandes metrópoles.” A tendência não é só para o mercado de revistas, é plausível, para os jornais também.
Como no jornal Zero Hora, de Porto Alegre. O caderno Vida, que aborda matérias de bem-estar e prevenção da saúde, evita tratar das pautas pelo viés somente negativo, ou seja, falar só de doenças. A perspectiva é ter um olhar mais preventivo. Esse tipo de abordagem só reforça a tese de que este setor só tem a prosperar ainda mais. “Creio que com o envelhecimento da população, como já apontaram dados do Censo do IBGE, a tendência é que cresça cada vez mais”, declara Maria Horn, editora do caderno Vida. Além disso, para ela, por essa razão, muitos leitores procuram por assuntos que envolvam esta temática. “Por isso, os periódicos desses segmentos estão cada vez mais seguindo nessa linha”, completa Horn. Para complementar o trabalho do jornalista, as redações também possuem banco de dados internacionais para facilitar a pesquisa de informações.
Jota Martins
DOIS PONTOS | 7
Seção | Sugestões & Dicas
Para ler Crescer
Pais & Filhos
Viva Saúde
Revista dirigida para mães desde a gravidez até a maioridade dos filhos. Reportagens sobre gestação, adolescência, educação e alimentação.
Revista para grávidas e pais de crianças até 12 anos. Retrata gravidez, família, amamentação, bebes, alfabetização, festa e moda.
Aborda temas relacionados à saúde, nutrição, família e bem estar. Curiosidades sobre animais de estimação e receitas também são pautados.
ABC da Saúde abcdasaude.com.br
Nutrição Prática e Saudável - nutricaopraticaesaudavel.com.br Sobre alimentação saudável. É moderado por Patricia Melendi em parceria com diversos profissionais e acadêmicos.
Para navegar
Blog da Saúde blog.saude.gov.br Página do Governo Federal com agenda de vacinação, programas do governo e dicas alimentares são publicadas diariamente no site.
Administrado por médicos de diversas áreas, o site foi desenvolvido para esclarecer as dúvidas do público.
Para assistir
Bem Estar - Rede Globo Fernando Rocha e Mariana Ferrão discutem temas que vão da cirurgia plástica à pediatria.
Nutrição e Saúde TV Gazeta Carolina Santos oferece dicas de alimentos no quadro Nutrição e Saúde no programa Todo Seu, apresentado por Ronnie Von.
Estilo e Saúde – Record News Apresentado por Amanda Françozo. Recebe especialistas para dar dicas de saúde, estética, moda, alimentação, comportamento e beleza.
Para ouvir Pensa Brasil Saúde – Band News FM
Web Rádio Saúde webradio.saude.gov.br
Os âncoras recebem o especialista em infectologia e mestre em Pediatria Edimilson Migowsk.
Noticia as suas ações do governo federal, como a Campanha Outubro Rosa. Os boletins são publicados no site da rádio.
8 | DOIS PONTOS
Saúde Feminina – USP FM Alexandre Faisal apresenta o programa Saúde Feminina com temas como gravidez, métodos anticoncepcionais, sexualidade, entre outros.